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Contextualização

Adolfo Correia Rocha nasceu em São Martinho de Anta, no distrito de Vila


Real, a 12 de agosto de 1907. Estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra entre 1928 e 1933. Em 1928, publica a sua primeira obra em verso. Ao
terminar o seu curso, regressa à sua terra, onde exerce, depois, como clínico geral, em
Vila Nova de Miranda do Corvo. Já em 1934, publica uma obra já com o seu
pseudónimo Miguel Torga.

Representação do contemporâneo
• Compromisso ético com o seu tempo.
• Resistência à opressão política do salazarismo.
• Todos os recantos da paisagem, sobretudo portuguesa, são transmitidos por meio
de uma linguagem poética que os transforma num verdadeiro mosaico de cores e
sensações.
• O ambiente de mitos agrários e pastoris que (da sua origem aldeã transmontana)
remontam aos símbolos bíblicos*.

Tradição literária
• Herdeiro e renovador de uma memória onde se misturam escrita, arte e
pensamento.
• Diálogos com a herança de Camões e de Pessoa.
• Recolhe influências de outros poetas e correntes literárias diversas, mas constrói
uma personalidade literária inconfundível.
• Aborda as contradições, que decorrem da luta permanente com o mundo, com as
palavras e com Deus.

Figurações do poeta
• Vinculação à terra figurada como seio materno.
• Preocupação com o destino do país.
• Espírito inquieto e rebelde.
• Inconformismo perante a tragédia da condição humana.
• O poeta surge ora com pudor ora numa espécie de revelação.
• Ser em agonia ou homem revoltado, é efetivamente o retrato do poeta que é
desenhado nos seus poemas.
Arte poética
• A construção do poema faz-se com sofrimento.
• A espontaneidade da inspiração alia-se a um processo rigoroso de trabalho sobre
o poema.
• A matéria literária e o modo de expressão da poesia são indissociáveis.

Linguagem, estilo e estrutura


• Importância no rigor e na variedade da estrofe, do verso e da rima.
• Variedade de recursos expressivos.
• Oralidade e temporalidade.
• Uso de imagens irradiantes*: a semente, a seiva, a colheita, a água, a terra, o
vento, o pão, o parto, o pastoreio, Adão e Eva.

Principais temáticas abordadas


• As serras;
• As planícies;
• A terra;
• A Natureza;
• O Homem e a sua condição;
• Portugal.
O poeta considera-se um geófago, porque afirma precisar de “comer” a terra,
alimentar-se desta, precisando da sua presença física e da sua proximidade para se
retemperar e recuperar forças.
Em Torga, toda a representação do contemporâneo está associada à representação da
Natureza, ao amor pela terra e ao apego do poeta a ambas, onde encontra motivo de paz
e serenidade e se sente feliz.

O poema “A um negrilho” (página 190 do manual)


• Temática da Natureza.
• Glossário:
o “Redil de estrelas” – Espaço de proteção e conforto;
o “Luar maninho” – Lugar/espaço familiar.
• Divisão do poema:
o 1ª parte – 1ª estrofe – Tom declarativo e referência a uma 3ª pessoa:
O autor dedica o poema a um negrilho (uma árvore de grade porte. Este
negrilho é como a musa inspiradora do poeta, dos seus ramos brotam os
versos que depois, o poeta, transforma em poema. O poeta e o negrilho
têm uma relação de proximidade, amizade, cumplicidade. Tendo, o
negrilho, o papel de cúmplice do poeta, estando sempre a acompanhá-lo
ao longo do tempo (verso 5) e da sua vida, seja nos momentos bons
como nos momentos maus (verso 6), em todos os seus estados de alma.
o 2ª parte – 2ª estrofe – Tom emotivo e referência a uma 2ª pessoa:
Presença de exclamações que conferem um tom emotivo, transmitindo a
emoção do poeta. Presença de uma apóstrofe (“tu”) que demonstra o tom
exultativo do poeta. Está presente a referência a uma 2ª pessoa (o “tu”)
que mostra a proximidade e confiança entre o negrilho e o poeta. O
negrilho é personificado como um amigo e companheiro do poeta.
• A noite e a madrugada: A referência à noite e à madrugada faz analogia à
passagem do tempo.
• Intertextualidade: A temática da Natureza e a Natureza como confidente do
sujeito poético.
o Semelhanças com:
− As Cantigas de Amigo – Poesia trovadoresca;
− A Lírica de Camões.
o O aspeto inovador na poesia de Torga reside no facto da Natureza ser um
modelo a seguir e, também, a sua fonte e musa de inspiração.

O poema “Sísifo” (página 191 do manual)


• Mensagem de persistência, de nunca desistir e ser ambicioso (porque és
homem).
• Mesmo com os obstáculos, não desistas.
• Exortação à ação, ao não-conformismo:
o Não nos devemos conformar com as coisas, devemos lutar contra o
conformismo;
o Incentivo à procura da liberdade;
o Devemos lutar na concretização dos nossos sonhos.
• “Sísifo” como símbolo de recomeço, de não desistência, de persistência.
• Mensagem-chave em cada estrofe:
o 1ª estrofe – Incentivo a não desistir e a ser ambicioso;
o 2ª estrofe – Incentivo a nunca deixar de satisfazer a nossa vontade, os
nossos sonhos, apesar de muitas vezes eles serem meras ilusões.
• O uso dos verbos no imperativo confere um tom de incentivo e de exortação.
• O uso de reticências sugere uma ideia de continuidade, de um processo longo,
demorado e contínuo, reforçado pelo prefixo “re-(começa)”.
• A sonoridade confere ao poema a ideia de continuidade e um ritmo mais lento,
de modo a fazer encarar o recomeço como um processo calmo e tranquilo.
• Intertextualidade:
o Ricardo Reis
− Neste poema é transmitida uma ideia oposta à filosofia de vida de
Ricardo Reis.
− Este heterónimo defendia a busca de uma felicidade relativa e o
Carpe Diem, o viver o presente com autodisciplina e sem se
apegar às pessoas e às coisas.
− Ao contrário, em Torga, está presente o incentivo da exortação à
ação do combate e do inconformismo.
o “És homem, não te esqueças!” – Hino à condição humana:
o Mensagem de Fernando Pessoa
− Nos poemas “D. Sebastião” e “Quinto Império” é realçado que
ser descontente é ser homem, que os homens são loucura.
o Lusíadas de Camões
− No Canto I e no Canto V, há referência ao espírito de resistência
e de esforço de superação. No Canto I com a insegurança e
enfermidade da vida, e no Canto V com o verdadeiro dono da
glória.

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