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Na Mão de Deus de Antero de Quental:

Introdução:

Olá, bom dia a todos! O poema que hoje vos irei apresentar é da autoria de Antero de Quental , intitulado por “Na
mão de Deus”. Começarei então a minha apresentação por fazer uma leitura expressiva do poema:

Leitura expressiva:

Na mão de Deus, na sua mão direita,


Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita


A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,


Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...


Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Tema e assunto:

O tema principal deste poema é a busca espiritual e a rendição do eu lírico à vontade divina. O assunto abordado
é a jornada do eu lírico em direção à paz interior e à libertação das ilusões e das paixões transitórias. O poema
retrata o coração do eu lírico descansando na mão de Deus, simbolizando a entrega e confiança na divindade. O
eu lírico desce a escada estreita do palácio encantado da Ilusão, abandonando as ilusões e os ideais efêmeros. As
flores mortais representam as vãs ilusões adornadas pela ignorância infantil, que são deixadas para trás. A
imagem da criança levada pela mãe em uma jornada sombria sugere a proteção e amparo divino durante a
travessia de obstáculos como selvas, mares e areias do deserto. A mãe, nesse contexto, simboliza a figura de
Deus. Em suma, o poema trata da busca pela transcendência, a renúncia às ilusões terrenas e a confiança na
orientação e proteção divina como caminho para a serenidade e a paz interior.

Análise estrofe a estrofe:

Vamos analisar cada verso separadamente:

1ºESTROFE:

● "Na mão de Deus, na sua mão direita": Essa imagem retrata a posição de descanso e segurança do
coração do eu lírico, simbolizando a confiança e entrega total à divindade. A referência à mão direita de
Deus enfatiza a importância e o poder atribuídos a essa relação.
● "Descansou afinal meu coração": Neste verso, o eu lírico expressa um alívio e uma tranquilidade
profunda ao encontrar descanso na mão de Deus. Sugere-se que todas as inquietações e aflições do
coração foram superadas por meio dessa entrega à divindade.
● "Do palácio encantado da Ilusão": Aqui, o poeta utiliza a metáfora do "palácio encantado da Ilusão" para
representar um mundo de ilusões e aparências que o eu lírico deixa para trás. Esse palácio simboliza o
domínio das ilusões e das expectativas mundanas que são transitórias e enganosas.
● "Desci a passo e passo a escada estreita": Essa imagem descreve o movimento descendente do eu lírico,
passo a passo, em direção à verdade e à realidade espiritual. A escada estreita simboliza a dificuldade e
o esforço necessários para se libertar das ilusões e encontrar a verdade.

2ºESTROFE:

1. "Como as flores mortais, com que se enfeita" - Nesse verso, é estabelecida uma comparação entre as
flores mortais, que são efêmeras e passageiras, e a ignorância infantil. As flores são frequentemente
utilizadas como símbolos de beleza e delicadeza, mas também são transitórias, assim como a ignorância
infantil. A ideia transmitida é que a ignorância é superficial e temporária, algo que pode ser adornado,
mas que não possui uma base sólida ou duradoura.
2. "A ignorância infantil, despojo vão" - Aqui, a ignorância infantil é caracterizada como um despojo vão, ou
seja, algo insignificante e sem valor real. O termo "infantil" sugere uma falta de conhecimento e
compreensão plena das coisas, e a palavra "despojo" ressalta a ideia de algo que é deixado para trás,
descartado.
3. "Depus do Ideal e da Paixão" - Nesse verso, o eu lírico afirma ter deixado para trás o Ideal e a Paixão. O
Ideal pode ser entendido como um objetivo elevado, uma aspiração ou uma busca por algo maior. A
Paixão, por sua vez, representa um estado de intensidade emocional. Ambos são elementos transitórios
e imperfeitos, que foram abandonados pelo eu lírico em sua jornada espiritual.
4. "A forma transitória e imperfeita" - Essa frase reforça a ideia de transitoriedade e imperfeição. A forma
refere-se a algo físico, tangível, que está sujeito a mudanças e imperfeições. O eu lírico reconhece que
essa forma, que pode representar tanto a aparência física quanto os aspectos passageiros da existência,
não é duradoura nem perfeita.

(É uma busca pela verdade e pela essência, deixando de lado as superficialidades e os aspectos efêmeros da
existência.)

3ºESTROFE:

1. "Como criança, em lôbrega jornada" - Nesse verso, é estabelecida uma comparação entre o eu lírico e
uma criança em uma jornada sombria, difícil ou cheia de obstáculos. A criança representa a
vulnerabilidade e a necessidade de proteção, enquanto a "lôbrega jornada" sugere um caminho obscuro
ou desafiador.
2. "Que a mãe leva ao colo agasalhada" - Aqui, a imagem da mãe levando a criança ao colo e a agasalhando
transmite um sentimento de proteção, conforto e cuidado. A mãe é símbolo de segurança e orientação,
alguém que guia e ampara.
3. "E atravessa, sorrindo vagamente" - Nesse verso, o eu lírico descreve a criança atravessando a jornada
com um sorriso vago, sugerindo um estado de tranquilidade e confiança apesar das dificuldades. O
sorriso vago pode ser interpretado como um sinal de serenidade e aceitação, mesmo em meio à
incerteza.

4ºESTROFE:

1. "Selvas, mares, areias do deserto..." - Essa frase enumera diferentes elementos da natureza: selvas,
mares e areias do deserto. Essas paisagens representam desafios e obstáculos que podem ser
encontrados ao longo da jornada espiritual. Selvas, mares e areias do deserto simbolizam a diversidade,
a imensidão e a dificuldade encontradas no caminho da busca espiritual.
2. "Dorme o teu sono, coração liberto" - Aqui, o eu lírico se dirige ao coração, convidando-o a dormir. Essa
imagem de sono sugere tranquilidade, descanso e paz. O coração liberto indica que o eu lírico alcançou
um estado de libertação das amarras e das preocupações terrenas, encontrando uma paz interior
profunda.
3. "Dorme na mão de Deus eternamente!" - Nessa última frase, o poeta faz uma afirmação final, chamando
o coração a dormir eternamente na mão de Deus. Essa imagem transmite a ideia de entrega completa e
confiança absoluta na divindade. O eu lírico reconhece que a verdadeira paz e segurança são
encontradas ao se entregar nas mãos divinas. É uma expressão de devoção e rendição total à vontade de
Deus.

CARACTERÍSTICAS DO AUTOR PRESENTES NESTE POEMA:


● Temática espiritual e religiosa: Antero de Quental foi um poeta profundamente interessado em questões
espirituais e religiosas, e essa temática está presente no poema. O eu lírico expressa uma entrega total
e confiança em Deus, buscando descanso e paz nas mãos divinas.
● Busca pela transcendência e renúncia às ilusões: O poema retrata a busca do eu lírico pela
transcendência, deixando para trás as ilusões e aparências efêmeras. Há uma renúncia às formas
transitórias e imperfeitas, em prol de uma busca por algo mais duradouro e verdadeiro.
● Imagens e metáforas expressivas: Antero de Quental utiliza uma linguagem poética rica em imagens e
metáforas para transmitir seus sentimentos e ideias. Por exemplo, as metáforas das flores mortais, da
escada estreita e da criança na jornada apresentam sua habilidade em criar imagens vívidas e
simbólicas.
● Contraste entre o transitório e o eterno: O poema explora a dicotomia entre o transitório e o eterno,
entre as ilusões terrenas e a segurança divina. Há uma busca por uma verdade mais profunda e
duradoura, encontrada na entrega ao poder e cuidado de Deus.

ANÁLISE FORMAL:

Quanto à análise formal deste soneto de Antero de Quental..

1. O poema, uma vez que é um soneto, divide-se em duas partes: 1ªparte (2 quadras) e 2ªparte (2
tercetos);
2. Pausas e ritmo: O poema apresenta uma pausa no final de cada verso, caracterizando uma estrutura
rítmica pausada e cadenciada. Essas pausas ajudam a marcar as unidades rítmicas e a enfatizar certas
palavras e ideias.
3. Estrofes: O poema é composto por quatro estrofes de diferentes tamanhos. A primeira estrofe possui
quatro versos, a segunda estrofe também possui quatro versos, a terceira estrofe possui três versos e a
última estrofe tem três versos. Essa estrutura de estrofes distintas contribui para a organização do
poema em diferentes momentos e ideias.
4. Versificação: O poema segue uma versificação regular. A maioria dos versos possui 10 sílabas poéticas,
caracterizando uma métrica decassílaba. Essa regularidade rítmica contribui para a musicalidade do
poema.
5. Versificação: O poema segue uma versificação regular. A maioria dos versos possui 10 sílabas poéticas,
caracterizando uma métrica decassílaba. Essa regularidade rítmica contribui para a musicalidade do
poema.

COMPARAÇÃO COM UMA OBRA DE ARTE:


O poema "Na Mão de Deus" de Antero de Quental pode ser comparado com a obra de arte "A Pietà" de
Michelangelo Buonarroti. "A Pietà" é uma escultura renascentista que retrata Maria segurando o corpo de Jesus
Cristo após a crucificação. A obra transmite uma sensação de serenidade, compaixão e rendição à vontade divina.
Esses elementos são semelhantes aos temas explorados no poema de Antero de Quental.Tanto no poema quanto
na escultura, há uma expressão de entrega e confiança nas mãos de Deus. Enquanto o eu lírico do poema
encontra descanso na mão direita de Deus, Maria segura o corpo inerte de Jesus com uma calma resignação.
Ambos os trabalhos transmitem a ideia de que, apesar das adversidades e sofrimentos do mundo, há uma força
superior que cuida e protege.A escada estreita mencionada no poema pode ser associada à cruz de Jesus na obra
de arte, representando a jornada árdua e desafiadora que precede a paz e a redenção. Tanto a escada quanto a
cruz simbolizam o caminho em direção à transcendência espiritual e à salvação.A imagem da mãe carregando
uma criança também está presente em ambas as obras. Enquanto no poema é mencionada uma criança sendo
conduzida pela mãe em uma jornada sombria, a escultura retrata a figura materna carregando o filho falecido em
seus braços. Essas imagens evocam a ideia de proteção, cuidado e amor maternal, reforçando a confiança na
providência divina.Tanto o poema de Antero de Quental quanto a escultura de Michelangelo abordam temas
universais como a fé, a entrega, o sofrimento e a redenção. Ambas as obras nos convidam a refletir sobre nossa
relação com o divino e a encontrar consolo e paz nas mãos de Deus, mesmo diante das adversidades da vida.

RECURSOS EXPRESSIVOS:

No poema apresentado, podemos identificar alguns recursos expressivos que contribuem para a construção do
significado. Aqui estão alguns deles:

1. Metáfora: A expressão "Descansou afinal meu coração" utiliza uma metáfora ao comparar o descanso do
coração com o ato de descansar na mão de Deus. Isso cria uma imagem de segurança e proteção divina.
2. Metonímia: O verso "Do palácio encantado da Ilusão" utiliza a metonímia ao substituir a palavra "ilusão"
pelo seu referente, o palácio encantado. Isso sugere que o coração do eu lírico deixou para trás o mundo
ilusório e transitório.
3. Hipérbole: A expressão "Despojo vão" utiliza uma hipérbole para enfatizar a insignificância e a
efemeridade dos adornos e das ilusões materiais, comparando-as a flores mortais.
4. Paralelismo: O verso "Como criança, em lôbrega jornada" estabelece um paralelismo entre a criança em
uma jornada sombria e o eu lírico em sua jornada espiritual. Isso reforça a ideia de busca,
transformação e proteção divina.
5. Personificação: A expressão "Selvas, mares, areias do deserto" personifica as paisagens naturais ao
atribuir-lhes a capacidade de atravessar, como se elas fossem obstáculos que a mãe leva a criança
agasalhada a superar. Isso enfatiza a travessia difícil e desafiadora da jornada.
6. Anáfora: A repetição da palavra "Dorme" nos dois últimos versos cria uma anáfora, reforçando a ideia de
paz, tranquilidade e descanso eterno na mão de Deus.

Esses recursos expressivos contribuem para transmitir os seguintes significados: a busca por um refúgio seguro
na mão de Deus, o abandono das ilusões e das formas transitórias, a passagem por uma jornada difícil e
desafiadora, e a finalidade de encontrar descanso e paz eternos na divindade.

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