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ATIVIDADES – LIVROS UFOP metáfora da paisagem do Sertão, que “entranha a alma”, e

espelha o fazer poético do autor pernambucano.


UFOP- 2008

10. Em A Educação pela Pedra, na dedicatória de João 3. (UFV) Leia com atenção as seguintes afirmações a
Cabral de Melo Neto a Manuel Bandeira, o poeta refere-se à respeito da obra A Educação pela Pedra, de João Cabral de
obra como “antilira” – uma alusão à sua poética de oposição Melo Neto:
à tradição lírica. Explique o termo “antilira” empregado pelo
autor, tendo como base argumentativa os aspectos temáticos
e formais do poema abaixo transcrito. I. Neste livro, o engenheiro-poeta extrai dos motivos
nordestinos e espanhóis a matéria bruta para a construção
A educação pela pedra dos versos pautados pela discursividade lógica da sintaxe,
despoetização e anti-musicalidade – recursos intensamente
Uma educação pela pedra: por lições; utilizados na literatura contemporânea.
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
II. A temática, principalmente centrada em motivos
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria nordestinos, é utilizada pelo autor como imitação do romance
ao que flui e a fluir, a ser maleada; social dos anos 30; daí a proposta de aprendizagem de uma
a de poética, sua carnadura concreta; poesia mais engajada e popular, em linguagem menos
a de economia, seu adensar-se compacta: complexa.
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la. III. No livro, como em grande parte da poesia da
Outra educação pela pedra: no Sertão
modernidade, são constantes os poemas metalingüísticos,
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar, expressivos da tentativa do poeta de apreender seu próprio
e, se lecionasse, não ensinaria nada; processo de construção poética, e extrair lições da realidade
lá não se aprende a pedra: lá a pedra, – sua e da própria linguagem.
uma pedra de nascença, entranha a alma.
(MELO NETO, J. C. de. A educação pela pedra. Rio de É CORRETO apenas o que se afirma em:
Janeiro: Alfaguara, 2008, p. 207)
(A) I. (B ) I e II.
1. (FDV) O poema que dá o título da obra A educação pela (C) I e III. (D ) II. (E ) III.
pedra apresenta tais características, com exceção de:
(A) reflexão metalingüística; 4. (UFSCAR) Esse poema consta na primeira parte de A
(B) elaboração formal; educação pela pedra, considerada pelo autor sua obra
(C) lirismo sem sentimentalismo; máxima. Depois de uma leitura atenta, responda.
(D) individualismo subjetivista; A) Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado de
(E) construção arquitetônica do verso. sua execução na boca do sertanejo?
B) A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro verso
2- Assinale a alternativa que NÃO traduz uma leitura possível da segunda estrofe? Justifique sua resposta.
do poema acima:
(A) O poeta apreende da pedra a própria vivência na vida RESPOSTAS:
agreste do Sertão: de austeridade, resistência silenciosa e A) O texto estabelece um contraste entre a palavra em si e a
sempre capaz de dar lições de vida e de poesia. sua execução na boca do sertanejo: no "idioma pedra", as
(B ) Os versos metalingüísticos revelam a própria poética palavras são ásperas, duras e ferem a boca, por isso o
cabralina: concreta, impessoal, concisa, embora sertanejo as pega com cuidado, confeitando-as. Daí, sua fala
profundamente social. enganar: as palavras duras do idioma soam doces em seu
(C) Ao partir do pressuposto de que a pedra é muda, e, modo de falar.
portanto, não ensina nada, o poeta suscita uma reflexão B) "Ela" se refere de imediato à passagem "glace / de uma
sobre a situação educacional precária no Nordeste. entonação lisa, de adocicada." No entanto, de um modo
(D ) O eu lírico também apreende da pedra os próprios geral, retoma a idéia de fala, mencionada no primeiro verso.
versos enxutos, num esforço de dissecação de quaisquer Ou seja, sob ela (a fala adocicada do sertanejo), existe a
sentimentalismos. língua/idioma de pedra.
(E ) No poema, de intensa economia verbal, a pedra faz-se
João Cabral: uma fala só lâmina 5- Assinale a alternativa incorreta em relação ao texto lido:
Suênio Campos de Lucena
a) O poeta João Cabral relutou bastante para conceder a
Não foi com muita alegria que o poeta João Cabral entrevista.
de Melo Neto me recebeu naquela quentíssima tarde de b) O entrevistador teve que ser persistente para conseguir
sábado carioca. No seu belo apartamento num antigo prédio entrevistar o poeta.
atapetado e com piso de mármore, na praia do Flamengo, ele c) As perguntas do entrevistador já eram do conhecimento
me recebeu de cabeça baixa, vacilante pela cegueira que o do poeta.
humilha e o desgasta. Fatigado, o poeta parecia meio d) O entrevistador desconfiava de que o poeta desejava dar
chateado por ter cedido aos meus insistentes pedidos de sua impressão sobre aspectos
entrevista. Foram três meses de ligações quase diárias, da Literatura e de sua própria vida.
seguidas sempre de um inflexível não. Em seguida, ao saber e) Um dos assuntos tratados foi a vinda de artistas
que seu entrevistador seria um paraibano, o poeta estrangeiros ao Brasil.
lentamente começou a se abrir, contando causos da infância,
reclamando das doenças que o enfraquecem e o deixam 6- As afirmações abaixo apresentam características e/ou
triste. De sonoros não, comecei a ouvir alguns talvez, até comportamentos do poeta João Cabral de Melo Neto e
chegar ao esperado sim. No fundo, eu sabia, o poeta queria podem ser comprovadas pelo texto, EXCETO:
falar, dar uma última palavra sobre questões sempre caras,
como a relação com os poetas da chamada Geração de 45, o a) João Cabral já não tem capacidade de ler e escrever
seu antecessor Carlos Drummond de Andrade e, sobretudo, b) sozinho.
compartilhar a dor por não poder mais ler e escrever sozinho. b) O poeta mostra-se sério, circunspecto, mais calado e
Fotos proibidas — o poeta é vaidoso — só tive o menos falante.
c) Melo Neto, já velho, cansado e vaidoso, evita expor-se
pequeno gravador como testemunha. A sala em que ficamos
publicamente.
estava abafadíssima — era verão em que se debatia a vinda d) O poeta mostra-se permanentemente intransigente e
do pop star Michael Jackson ao Brasil — , uma penumbra inflexível.
nos cobria e envolvia. Suas respostas foram dadas como as e) João Cabral é um homem reservado e avesso a
perguntas (previamente formuladas e aprovadas por ele), badalações na imprensa.
objetivas, diretas. O poeta não teme mais nada. Tivemos que
parar várias vezes, ele não ouvia bem. Sério, circunspecto, AUTO DA COMPADECIDA
mas extremamente cordial, falou sobre diplomacia, Clarice
Lispector, a gênese da poesia e o desejo de receber o Tanto em Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, como
em “O Burrinho
Prêmio Nobel.
Pedrês”, de Guimarães Rosa, os personagens inserem
Prestes a completar 77 anos de vida, ele não me outras narrativas à medida
pareceu nada feliz com a velhice, outra questão abordada. que a ação principal se desenvolve. Essas inserções
Como o argentino Jorge Luis Borges, Cabral amarga o fato possuem funções diferentes
de ter que dividir o indivisível — passara os últimos quatro em cada obra. Explique quais são as funções dessas
anos ouvindo a mulher, às vezes a empregada, ler para ele, e inserções no conto e na peça.
quando, muito raramente, sentia vontade de escrever era
obrigado a ditar. Isto o deixa muito triste: ”Passei a minha PARAÍSOS ARTIFICIAIS
vida toda lendo e agora...” Bem sabe o poeta, estes são atos
solitários, que prescindem de silêncio. O conto ”Os Sonetos Negros”, de Paraísos Artificiais, de
É isto que o faz reagir de forma cabisbaixa diante da Paulo Henriques Britto, narra a descoberta por uma jovem
vida. Lembrado do lugar que ocupa dentro da literatura, um pesquisadora de um segredo sobre a vida e a obra de
Matilde Fortes. Explique qual é esse segredo, por que ele foi
dos maiores expoentes vivos da poesia contemporânea, ri
mantido durante tanto tempo e os indícios que levaram à sua
seu riso fácil, humilde e espontâneo, algo certamente revelação. Explique, ainda, o dilema da narradora-
herdado do engenho, do mato, da infância dos sítios de personagem.
Pernambuco.
No final, pede-me notícias do Nordeste, jura nunca CAMPO GERAL
mais atender a qualquer entrevistador e fica no seu silêncio
penumbroso. Silêncio de que precisamos, afinal, para ler sua TEXTO 1
poesia. [...]
− Não, não... Não pode bater em Mamãe, não pode...
(Suplemento Literário – Secretaria Estadual de Cultura – Diante do pai, que se irava feito um fero,
Miguilim não pôde falar nada, tremia e soluçava; e
maio-1997)
correu para a mãe, que estava ajoelhada encostada na
mesa, as mãos tapando o rosto. Com ela se abraçou. E) Partindo de um cenário regional, a narrativa não exclui o
Mas dali já o arrancava o pai, batendo nele, bramando. universal, motivo pelo qual a infância de Miguilim não
[...] Quando pôde respirar, estava posto sentado no pode ser interpretada como exótica.
tamborete, de castigo.
[...] O Dito vinha, desfazendo de conta. Quando Considerando que as obras literárias da atualidade se
um estava de castigo, os outros não podiam falar com caracterizam pelo esforço de incorporação e de eventual
esse. Mas o Dito dizia tudo baixinho, e virado para outro estilização das regras lingüísticas populares, observe a
lado, se alguém visse não podiam exemplar por isso, linguagem de Guimarães Rosa, e de Paulo
conversando com Miguilim até que ele não estava. Leminski, no Texto , e julgue como verdadeira (V) ou falsa
− Vai chover. O vaqueiro Jê está dizendo que já (F) cada uma das seguintes afirmações:
vai dechover chuva brava, porque o tesoureiro, no I – Formas como "dali já arrancava o pai" (linha 6), "chuva
curral, está dando cada avanço, em cima das brava" (linha 15) e "dando cada avanço" (linha 16)
mariposas!... são exemplos de incorporações de regras lingüísticas
[...] Miguilim não respondia. De castigo, não tinha ordem de populares no texto de Guimarães Rosa.
dar resposta, só aos mais velhos. Sim II – O fragmento de “Campo geral” contém diversos exemplos
sorria para o Dito, quando ele olhava – só o rabo-doolho. de uso literário de expressões populares, como
O tesoureiro era um pássaro imponente de bonito, "tapando o rosto" (linha 5), "desfazendo de conta" (linha 9) e
pedrês cor-de-cinza, bem as duas penas compridas da "só o rabo-do-olho" (linhas 20-21).
cauda, pássaro com mais rompante do que os outros. III – O poema de Paulo Leminski não apresenta incorporação
Gostava de estar vendo aquilo no curral.[...] de formas populares; ao contrário, valoriza a chamada
(ROSA, João Guimarães. “Campo geral”. In: ____ . norma culta, por meio de expressões como "a mil" (verso 2);
Manuelzão e Miguilim. 11. "por um fio" (verso 4), e "pisando macio"
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, pp. 36 e 38.) (verso 7).
IV – O vocabulário utilizado por Paulo Leminski no poema
POR UM LINDÉSIMO DE SEGUNDO acima pertence ao mesmo universo social do personagem
tudo em mim Miguilim, no enredo de “Campo Geral”.
anda a mil V – O poema em duas estrofes, espacialmente assimétrico,
tudo assim explora uma instabilidade na relação entre um Eu e o
tudo por um fio Mundo, por meio de versos livres, aliterações em t e antítese
tudo feito entre “tudo” e “todas”.
tudo estivesse no cio A seqüência CORRETA de respostas, de cima para baixo, é
tudo pisando macio A) V V V F V
tudo psiu B) F V F V F
tudo em minha volta C) F F V V F
anda às tontas D) V F V F V
como se as coisas E) V V F F V
fossem todas
afinal de contas ENEM2002
(LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São Paulo: Miguilim
Brasiliense, 1987, p. 23.) .De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um
senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a
Em relação à novela “Campo Geral”, da qual o Texto V é um bênção. O
fragmento, é INCORRETO afirmar: homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos,
A) Seguindo a herança do modernismo brasileiro, mesmo corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
sendo narrada em terceira pessoa, a novela capta a . Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
sensibilidade infantil de Miguilim, produzindo uma . Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
identificação entre o narrador e o personagem. . E o seu irmão Dito é o dono daqui?
B) Predomina, na narrativa, o tempo psicológico, que parte . Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
da emoção, expectativas e impressões dos O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado,
personagens. manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:
C) Ultrapassando uma visão maniqueísta, o universo . Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que
patriarcal da narrativa, em que a violência do mais forte é que há, Miguilim?
predomina, convive com a fé, o amor e a amizade, fazendo Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para
emergir personagens esféricos. ele, por isso é que o encarava.
D) É uma narrativa em primeira pessoa, e o neologismo da . Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de
linguagem de Guimarães Rosa não se inspira na vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
linguagem popular, mas só no conhecimento que o autor tem . É Mãe, e os meninos...
da língua latina e grega.
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e
claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um
camarada.
O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim.
Depois perguntava a ele mesmo: .. .Miguilim, espia daí:
quantos dedos da
minha mão você está enxergando? E agora?.
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa,
apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O
fato de
o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência,
inclusive espacial, fica explicitado em:
(A) .O homem trouxe o cavalo cá bem junto..
(B) .Ele era de óculos, corado, alto (...).
(C) .O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...).
(D) .Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo
para ele, (...).
(E) .Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.

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