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QUESTÕES – LITERATURA Quando as ondas te carregaram

PROFA. MAÍRA CORDEIRO meus olhos, entre águas e areias,


cegaram como os das estátuas,
1) Biografia de Pasárgada a tudo quanto existe alheias.
Quando eu tinha meus 15 anos e traduzia na classe de Minhas mãos pararam sobre o ar
grego do D. Pedro II a Ciropédia fiquei encantado e endureceram junto ao vento,
com o nome dessa cidadezinha fundada por Ciro, o e perderam a cor que tinham
Antigo, nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar e a lembrança do movimento.
os verões. A minha imaginação de adolescente E o sorriso que eu te levava
começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante desprendeu-se e caiu de mim:
alguns anos em Pasárgada. Mais de vinte anos depois, e só talvez ele ainda viva
num momento de profundo desânimo, saltou-me do dentro destas águas sem fim.
subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra
pra Pasárgada!” Imediatamente senti que era a célula completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
de um poema. Peguei do lápis e do papel, mas o
poema não veio. Não pensei mais nisso. Uns cinco Na composição do poema, o tom elegíaco e solene
anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas mesmas manifesta uma concepção de lirismo fundada na
circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao A) contradição entre a vontade da espera pelo ser
correr da pena. Se há belezas em “Vou-me embora pra amado e o desejo de fuga.
Pasárgada!”, elas não passam de acidentes. Não B) expressão do desencanto diante da impossibilidade
construí o poema, ele construiu-se em mim, nos da realização amorosa.
recessos do subconsciente, utilizando as C) associação de imagens díspares indicativas de
reminiscências da infância — as histórias que Rosa, esperança no amor futuro.
minha ama-seca mulata, me contava, o sonho jamais D) recusa à aceitação da impermanência do
realizado de uma bicicleta etc. sentimento pela pessoa amada.
BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. São Paulo: E) consciência da inutilidade do amor em relação à
Global, 2012. inevitabilidade da morte.

O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a 3) As alegres meninas que passam na rua, com
respeito da criação de um de seus poemas mais suas pastas escolares, às vezes com seus namorados.
conhecidos. De acordo com esse depoimento, o fazer As alegres meninas que estão sempre rindo,
poético em “Vou-me embora pra Pasárgada!” comentando o besouro que entrou na classe e pousou
A) acontece de maneira progressiva, natural e pouco no vestido da professora; essas meninas; essas coisas
intencional. sem importância.
B) decorre de uma inspiração fulminante, num O uniforme as despersonaliza, mas o riso de
momento de extrema emoção. cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem
C) ratifica as informações do senso comum de que desafinado, riem sem motivo; riem.
Pasárgada é a representação de um lugar utópico. Hoje de manhã estavam sérias, era como se
D) resulta das mais fortes lembranças da juventude do nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem
poeta e de seu envolvimento com a literatura grega. importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícia
E) remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira do crime. O corpo da menina encontrado naquelas
marcado por desigualdades sociais e econômicas. condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo
que não deixa mais rir.
2) Canção As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se
No desequilíbrio dos mares, adultas de uma hora para outra; essas mulheres.
as proas giram sozinhas… ANDRADE, C. D. Essas meninas. Contos plausíveis.
Numa das naves que afundaram Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos No texto, há recorrência do emprego do artigo “as” e
sem desespero e sem desgosto, do pronome “essas”. No último parágrafo, esse recurso
e morri de infinitas mortes linguístico contribui para
guardando sempre o mesmo rosto. A) intensificar a ideia do súbito amadurecimento.
B) indicar a falta de identidade típica da adolescência. As vanguardas europeias trouxeram novas
C) organizar a sequência temporal dos fatos narrados. perspectivas para as artes plásticas brasileiras. Na
D) complementar a descrição do acontecimento obra O mamoeiro, a pintora Tarsila do Amaral
trágico. valoriza
E) expressar a banalidade dos assuntos tratados na A) a representação de trabalhadores do campo.
escola. B) as retas em detrimento dos círculos.
C) os padrões tradicionais nacionalistas.
4) Razão de ser D) a representação por formas geométricas.
Escrevo. E pronto. E) os padrões e objetos mecânicos.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto. 6) Qualquer que tivesse sido o seu trabalho
Ninguém tem nada com isso. anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e
Escrevo porque amanhece, passara pesadamente a ensinar no curso primário: era
E as estrelas lá no céu tudo o que sabíamos dele.
Lembram letras no papel, O professor era gordo, grande e silencioso, de
Quando o poema me anoitece. ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha
A aranha tece teias. ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos
O peixe beija e morde o que vê. sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz
Eu escrevo apenas. grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor,
Tem que ter por quê? mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada
LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. impaciência que ele tinha em nos ensinar e que,
São Paulo: Global, 2013. ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal
na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas,
Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia,
recorre a exemplificações com o propósito de vermelho:
representar a escrita como uma atividade que — Cale-se ou expulso a senhora da sala.
A) requer a criatividade do artista. Ferida, triunfante, eu respondia em desafio:
B) dispensa explicações racionais. pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me
C) independe da curiosidade do leitor. obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara
D) pressupõe a observação da natureza. doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem
E) decorre da livre associação de imagens. que de certo modo eu amava. Não o amava como a
mulher que eu seria um dia, amava-o como uma
05) criança que tenta desastradamente proteger um adulto,
com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um
homem forte de ombros tão curvos.
LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião
estrangeira. São Paulo: Ática, 1997.

Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a


sua própria estrutura composicional, que pode
apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se
o objetivo do autor. Nesse fragmento, a sequência
textual que caracteriza o gênero conto é a
A) expositiva, em que se apresentam as razões da
atitude provocativa da aluna.
B) injuntiva, em que se busca demonstrar uma ordem
C) descritiva, em que se constrói a imagem do
professor com base nos sentidos da narradora.
D) argumentativa, em que se defende a opinião da
enunciadora sobre o personagem-professor.
AMARAL, T. O mamoeiro, 1925, óleo sobre tela.
IEB/USP.
E) narrativa, em que se contam fatos ocorridos com o
professor e a aluna em certo tempo e lugar.

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