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SIMULADO de Linguagem e Literatura para o ENEN 2019, 3º ano A – Org. Profa. Elizabeth Mendonça

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo ao meu amor serei atento


Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto E assim, quando mais tarde me procure
Que mesmo em face do maior encanto Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Dele se encante mais meu pensamento. Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Quero vivê-lo em cada vão momento Eu possa me dizer do amor (que tive):
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Que não seja imortal, posto que é chama
E rir meu riso e derramar meu pranto Mas que seja infinito enquanto dure.
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.

1. A palavra mesmo pode assumir diferentes significados, de acordo com a sua função na frase. Assinale a alternativa em que o sentido
de mesmo equivale ao que se verifica no 3º. verso da 1ª. estrofe do poema de Vinícius de Moraes.
(A) “Pai, para onde fores, / irei também trilhando as mesmas ruas...” (Augusto dos Anjos)
(B) “Agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é modesta, com a exterior, que é ruidosa.” (Machado de
Assis)
(C) “Havia o mal, profundo e persistente, para o qual o remédio não surtiu efeito, mesmo em doses variáveis.” (Raimundo Faoro)
(D) “Mas, olhe cá, Mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?” (Machado de Assis)
(E) “Vamos de qualquer maneira, mas vamos mesmo.” (Aurélio)

2. Observando as falas das personagens, analise o emprego do pronome SE e o sentido que adquire no contexto. No contexto da
narrativa, é correto afirmar que o pronome SE,
(A) em I, indica reflexividade e equivale a “a si mesmas”.
(B) em II, indica reciprocidade e equivale a “a si mesma”.
(C) em III, indica reciprocidade e equivale a “umas às outras”.
(D) em I e III, indica reciprocidade e equivale a “umas às outras”.
(E) em II e III, indica reflexividade e equivale a “a si mesma ” e "a si mesmas", respectivamente.

3.Diante da visão de um prédio com uma placa indicando SAPATARIA PAPALIA, um jovem deparou com a dúvida: como pronunciar a
palavra PAPALIA? Levado o problema à sala de aula, a discussão girou em torno da utilidade de conhecer as regras de acentuação e,
especialmente, do auxílio que elas podem dar à correta pronúncia de palavras. Após discutirem pronúncia, regras de acentuação e
escrita, três alunos apresentaram as seguintes conclusões a respeito da palavra PAPALIA:
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a palavra seria paroxítona terminada em ditongo crescente.
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALÍA, pois “i” e “a” estariam formando hiato.
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALIA, pois não haveria razão para o uso de acento gráfico.
A conclusão está correta apenas em:
(A) I (B) II (C) III (D) I e II (E) I e III

4. Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos:
“Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; falo somente do que falo: a vida seca, áspera e clara do sertão; falo
somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na míngua. Falo somente para quem falo: para os que
precisam ser alertados para a situação da miséria no Nordeste.”
Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário,
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(A) a linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores.
(B) a linguagem do texto não deve ter relação com o tema, e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja lido.
(C) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e a perspectiva pessoal da perspectiva do leitor.
(D) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor deve ser o delator do fato social para todos os leitores.
(E) a linguagem está além do tema, e o fato social deve ser a proposta do escritor para convencer o leitor.

5. Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam
entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:
I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
II. Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)
III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por
(A) reiteração de imagens.
(B) oposição de ideias.
(C) falta de criatividade.
(D) negação dos versos.
(E) ausência de recursos.

6. Viam-se de cima as casas acavaladas umas pelas outras, formando ruas, contornando praças. As chaminés principiavam a fumar;
deslizavam as carrocinhas multicores dos padeiros; as vacas de leite caminhavam com o seu passo vagaroso, parando à porta dos
fregueses, tilintando o chocalho; os quiosques vendiam café a homens de jaqueta e chapéu desabado; cruzavam se na rua os libertinos
retardios com os operários que se levantavam para a obrigação; ouvia-se o ruído estalado dos carros de água , o rodar monótono dos
bondes.
(AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. São Paulo: Martins, 1973)
O trecho, retirado de romance escrito em 1884, descreve o cotidiano de uma cidade, no seguinte contexto:
(A) a convivência entre elementos de uma economia agrária e os de uma economia industrial indicam o início da industrialização no
Brasil, no século XIX.
(B) desde o século XVIII, a principal atividade da economia brasileira era industrial, como se observa no cotidiano descrito.
(C) apesar de a industrialização ter-se iniciado no século XIX, ela continuou a ser uma atividade pouco desenvolvida no Brasil.
(D) apesar da industrialização, muitos operários levantavam cedo, porque iam diariamente para o campo desenvolver atividades rurais.
(E) a vida urbana, caracterizada pelo cotidiano apresentado no texto, ignora a industrialização existente na época.

7. E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que
aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se
fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo
de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim,
que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos
recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)

O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu assim sobre a obra de Rubem Braga:
O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de homem, apanhado no essencial, narrativa direta e econômica. (...) É o poeta do real,
do palpável, que se vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e o remédio para ela.
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Em seu texto, Rubem Braga afirma que “este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos”.
Afirmação semelhante pode ser encontrada no texto de Carlos Drummond de Andrade, quando, ao analisar a obra de Braga, diz que ela
é
(A) uma narrativa direta e econômica.
(B) real, palpável.
(C) sentimento de realidade.
(D) seu expediente de homem.
(E) seu remédio.

8. Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre a sua relação com as
pequenas e grandes cidades.
Bicho urbano A natureza me assusta.
Se disser que prefiro morar em Pirapemas Com seus matos sombrios suas águas
ou em outra qualquer pequena cidade do país suas aves que são como aparições
estou mentindo me assusta quase tanto quanto
ainda que lá se possa de manhã esse abismo
lavar o rosto no orvalho de gases e de estrelas
e o pão preserve aquele branco aberto sob minha cabeça.
sabor de alvorada. (GULLAR, Ferreira. Toda poesia.)
.....................................................................
Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para
expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam
impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.
(A) "e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada."
(B) "ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho"
(C) "A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios suas águas"
(D) "suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto"
(E) "me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gases e de estrelas"

9. “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora
críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado ............................................................................................
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente Quero antes o lirismo dos loucos
protocolo e O lirismo dos bêbedos
[manifestações de apreço ao Sr. diretor. O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o O lirismo dos clowns de Shakespeare
[cunho vernáculo de um vocábulo — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Abaixo os puristas (BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:


(A) critica o lirismo louco do movimento modernista.
(B) critica todo e qualquer lirismo na literatura.
(C) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
(D) propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico.
(E) propõe a criação de um novo lirismo.

10. “Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...) movidos pelo presente mas estalando naquele cio racial que só as tradições maduram!
(...). Precisa-se gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e sobretudo,
oh! sobretudo bastante vergonha na cara! (...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no anúncio vistoso de cores desesperadas
pintado sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.” Mário de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas Cidades, 1972)
No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição de uma língua mais
autêntica, “brasileira”, ao expressar-se numa variante de linguagem popular identificada pela (o):
(A) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha.
(B) emprego da pontuação.
(C) repetição do adjetivo bastante.
(D) concordância empregada em Assim está escrito.
(E) escolha de construção do tipo precisa-se gentes.

11. O texto abaixo foi extraído de uma crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de um escravo.
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“Um dia começou a guerra do Paraguai e durou cinco anos, João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos e pelas vitórias.
Quando se decretou o ventre livre dos escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição completa, quem repicou foi João. Um dia
proclamou-se a República. João repicou por ela, repicaria pelo Império, se o Império retornasse.”
(MACHADO, Assis de. Crônica sobre a morte do escravo João, 1897)

A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João:


(A) por ser escravo tocava os sinos, às escondidas, quando ocorriam fatos ligados à Abolição.
(B) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império, visto que era escravo.
(C) tocou os sinos pela República, proclamada pelos abolicionistas que vieram libertá-lo.
(D) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes porque era costume fazê-lo.
(E) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando a volta da Princesa Isabel.

12. O texto que se refere a uma situação semelhante à que inspirou a charge é:

(A) Descansem o meu leito solitário duro campo, muito cerco, vária várzea.
Na floresta dos homens esquecida, (CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São
À sombra de uma cruz, e escrevam nela Paulo: Summums, 1978)
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.
(AZEVEDO, Álvares de. Poesias escolhidas. Rio de (D) Vou contar para vocês
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971) um caso que sucedeu
na Paraíba do Norte
(B) Essa cova em que estás com um homem que se chamava
Com palmos medida, Pedro João Boa-Morte,
é a conta menor lavrador de Chapadinha:
que tiraste em vida. talvez tenha morte boa
É de bom tamanho, porque vida ele não tinha.
Nem largo nem fundo,
É a parte que te cabe (GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:
deste latifúndio. Civilização Brasileira, 1983)
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e outros
poemas em voz alta. Rio de Janeiro: Sabiá, 1967) (E) Trago-te flores, – restos arrancados
Da terra que nos viu passar
(C) Medir é a medida E ora mortos nos deixa e separados.
mede (ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de
A terra, medo do homem, a lavra; Janeiro: Nova Aguillar, 1986)
lavra

Epígrafe*
Murmúrio de água na clepsidra** gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante***
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...
Homem, que fazes tu? Para que tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
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Procuremos somente a Beleza, que a vida


É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia portuguesa)
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.
(**) Clepsidra: relógio de água.
(***) Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.
13. A imagem contida em “lentas gotas de som” (verso 2) é retomada na segunda estrofe por meio da expressão:
(A) tanta ameaça. (D) sombra que passa.
(B) som de bronze. (E) somente a Beleza.
(C) punhado de areia.

14. Neste poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a
(A) infantilidade do ser humano. (D) inutilidade do trabalho.
(B) destruição da natureza. (E) brevidade da vida.
(C) exaltação da violência.

A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (...) andava léguas e léguas a pé, de
engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma
memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (...) Havia sempre
rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus
descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O
seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
(José Lins do Rego. Menino de engenho)
15. A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem:
(A) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco”.
(B) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações”.
(C) “Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio”.
(D) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e Uma Noites”.
(E) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas”.

Pequenos tormentos da vida


De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos,
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem vai inventando
preguiçosamente uma história sem fim...Sem fim é a aula: e nada acontece,
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos um
avião entrasse por uma janela e saísse por outra!
(Mário Quintana. Poesias)
16. Na cena retratada no texto, o sentimento do tédio
(A) provoca que os meninos fiquem contando histórias.
(B) leva os alunos a simularem bocejos, em protesto contra a monotonia da aula.
(C) acaba estimulando a fantasia, criando a expectativa de algum imprevisto mágico.
(D) prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo a distração ou o exercício do pensamento.
(E) decorre da morosidade da aula, em contraste com o movimento acelerado das nuvens e das moscas.

17. Jean de Léry viveu na França na segunda metade do século XVI, época em que as chamadas guerras de religião opuseram católicos e
protestantes. No texto abaixo, ele relata o cerco da cidade de Sancerre por tropas católicas.
(…) desde que os canhões começaram a atirar sobre nós com maior frequência, tornou-se necessário que todos dormissem nas
casernas. Eu logo providenciei para mim um leito feito de um lençol atado pelas suas duas pontas e assim fiquei suspenso no ar, à
maneira dos selvagens americanos (entre os quais eu estive durante dez meses) o que foi imediatamente imitado por todos os
nossos soldados, de tal maneira que a caserna logo ficou cheia deles. Aqueles que dormiram assim puderam confirmar o quanto
esta maneira é apropriada tanto para evitar os vermes quanto para manter as roupas limpas (...).
Neste texto, Jean de Léry
(A) despreza a cultura e rejeita o patrimônio dos indígenas americanos.
(B) revela-se constrangido por ter de recorrer a um invento de “selvagens”.
(C) reconhece a superioridade das sociedades indígenas americanas com relação aos europeus.
(D) valoriza o patrimônio cultural dos indígenas americanos, adaptando-o às suas necessidades.
(E) valoriza os costumes dos indígenas americanos porque eles também eram perseguidos pelos católicos.
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18. O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos transcritos em:
A) “Pensem nas meninas (Ferreira Gullar)
Cegas inexatas (D) “Não sou nada.
Pensem nas mulheres Nunca serei nada.
Rotas alteradas.” Não posso querer ser nada.
(Vinícius de Moraes) À parte isso, tenho em mim todos os
sonhos do mundo.”
(B) “Somos muitos severinos (Fernando Pessoa)
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras (E) “Os inocentes do Leblon
suando-se muito em cima.” Não viram o navio entrar (...)
(João Cabral de Melo Neto) Os inocentes, definitivamente inocentes tudo
ignoravam,
(C) “O funcionário público mas a areia é quente, e há um óleo suave
não cabe no poema que eles passam pelas costas, e aquecem.”
com seu salário de fome (Carlos Drummond de Andrade)
sua vida fechada em arquivos.”

Torno a ver-vos, ó montes; o destino


Aqui me torna a pôr nestes outeiros, Se o bem desta choupana pode tanto,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Que chega a ter mais preço, e mais valia
Pelo traje da Corte, rico e fino. Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,

Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Aqui descanse a louca fantasia,
Os meus fiéis, meus doces companheiros, E o que até agora se tornava em pranto
Vendo correr os míseros vaqueiros Se converta em afetos de alegria.
Atrás de seu cansado desatino. Cláudio Manoel da Costa.

19. Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta
acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se
vestiu com traje “rico e fino”.
B) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a
civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
C) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em
realizar uma representação literária realista da vida nacional.
D) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica
paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
E) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na
última estrofe, à transformação do pranto em alegria.

20.Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor.
A “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v.1)
B “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v.5)
C “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v.6)
D “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v.7)
E “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v.11)
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São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois,
mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas
pensões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:
— Quantos são aqui?
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.
E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser. Querendo levar
todos, é favor... (...)
E outro:
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de
meu peito!
Rubem Braga. Para gostar de ler.

21. O fragmento acima, em que há referência a um fato sóciohistórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante do
gênero crônica ao:
A) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra.
B) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço.
C) contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e
revelando-os pouco a pouco.
D) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas
informadas.
E) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.

22. Os principais recursos utilizados para envolvimento e adesão do leitor à campanha institucional incluem
A o emprego de enumeração de itens e apresentação de títulos expressivos.
B o uso de orações subordinadas condicionais e temporais.
C o emprego de pronomes como “você” e “sua” e o uso do imperativo.
D a construção de figuras metafóricas e o uso de repetição.
E o fornecimento de número de telefone gratuito para contato.

23.O texto tem o objetivo de solucionar um problema social,


A) descrevendo a situação do país em relação à gripe suína.
B alertando a população para o risco de morte pela Influenza A.
C informando a população sobre a iminência de uma pandemia de Influenza A.
D orientando a população sobre os sintomas da gripe suína e procedimentos para evitar a contaminação.
E convocando toda a população para se submeter a exames de detecção da gripe suína.

Cárcere das almas Quando a alma entre grilhões as liberdades


Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Sonha e, sonhando, as imortalidades
Soluçando nas trevas, entre as grades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza. Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Tudo se veste de uma igual grandeza Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
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para abrir-vos as portas do Mistério?!


Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa)

24.Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de
Cruz e Sousa, são
A a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
B a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
C o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
D a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras.
E a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.

25. Tendo em vista a segunda fala do personagem entrevistado, constata-se que


A o entrevistado deseja convencer o jornalista a não publicar um livro.
B o principal objetivo do entrevistado é explicar o significado da palavra motivação.
C são utilizados diversos recursos da linguagem literária, tais como a metáfora e a metonímia.
D o entrevistado deseja informar de modo objetivo o jornalista sobre as etapas de produção de um livro.
E o principal objetivo do entrevistado é evidenciar seu sentimento com relação ao processo de produção de um livro.

26.Quanto às variantes linguísticas presentes no texto, a norma padrão da língua portuguesa é rigorosamente obedecida por meio
A do emprego do pronome demonstrativo “esse” em “Por que o senhor publicou esse livro?”.
B do emprego do pronome pessoal oblíquo em “Meu filho, um escritor publica um livro para parar de escrevê-lo!”.
C do emprego do pronome possessivo “sua” em “Qual foi sua maior motivação?”.
D do emprego do vocativo “Meu filho”, que confere à fala distanciamento do interlocutor.
E da necessária repetição do conectivo no último quadrinho.

Cuitelinho Lá tinha revolução,


Cheguei na bera do porto Enfrentei fortes bataia.
Onde as onda se espaia. A tua saudade corta
As garça dá meia volta, Como o aço de navaia.
Senta na bera da praia. O coração fica aflito,
E o cuitelinho não gosta Bate uma e outra faia.
Que o botão da rosa caia. E os oio se enche d´água
Quando eu vim da minha terra, Que até a vista se atrapaia.
Despedi da parentaia. Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó.
Eu entrei em Mato Grosso, BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São
Dei em terras paraguaia. Paulo: Parábola, 2004.
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27. Transmitida por gerações, a canção Cuitelinho manifesta aspectos culturais de um povo, nos quais se inclui sua forma de falar, além
de registrar um momento histórico. Depreende-se disso que a importância em preservar a produção cultural de uma nação consiste no
fato de que produções como a canção Cuitelinho evidenciam a
A recriação da realidade brasileira de forma ficcional.
B criação neológica na língua portuguesa.
C formação da identidade nacional por meio da tradição oral.
D incorreção da língua portuguesa que é falada por pessoas do interior do Brasil.
E padronização de palavras que variam regionalmente, mas possuem mesmo significado.

Canção do vento e da minha vida E a minha vida ficava


O vento varria as folhas, Cada vez mais cheia
O vento varria os frutos, De afetos e de mulheres.
O vento varria as flores... O vento varria os meses
E a minha vida ficava E varria os teus sorrisos...
Cada vez mais cheia O vento varria tudo!
De frutos, de flores, de folhas. E a minha vida ficava
[...] Cada vez mais cheia
O vento varria os sonhos De tudo.
E varria as amizades... BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José
O vento varria as mulheres... Aguilar, 1967

28.Predomina no texto a função da linguagem


A fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
B metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
C conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
D referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
E poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.

29.Na estruturação do texto, destaca-se


A a construção de oposições semânticas.
B a apresentação de ideias de forma objetiva.
C o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
D a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes.
E a inversão da ordem sintática das palavras.

Texto para as questões 30 e 31


Quando eu falo com vocês, procuro usar o código de vocês. A figura do índio no Brasil de hoje não pode ser aquela de 500 anos atrás, do
passado, que representa aquele primeiro contato. Da mesma forma que o Brasil de hoje não é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de
pessoas com diferentes sobrenomes. Vieram para cá asiáticos, europeus, africanos, e todo mundo quer ser brasileiro. A importante
pergunta que nós fazemos é: qual é o pedaço de índio que vocês têm? O seu cabelo? São seus olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome
da sua praça? Enfim, vocês devem ter um pedaço de índio dentro de vocês.
Para nós, o importante é que vocês olhem para a gente como seres humanos, como pessoas que nem precisam de paternalismos, nem
precisam ser tratadas com privilégios. Nós não queremos tomar o Brasil de vocês, nós queremos compartilhar esse Brasil com vocês.
TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e saberes locais. Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).
30. Os procedimentos argumentativos utilizados no texto permitem inferir que o ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o seu discurso,
pertence
A ao mesmo grupo social do falante/autor.
B a um grupo de brasileiros considerados como não índios.
C a um grupo étnico que representa a maioria europeia que vive no país.
D a um grupo formado por estrangeiros que falam português.
E a um grupo sociocultural formado por brasileiros naturalizados e imigrantes.

31. Na situação de comunicação da qual o texto foi retirado, a norma padrão da língua portuguesa é empregada com a finalidade de
A demonstrar a clareza e a complexidade da nossa língua materna.
B situar os dois lados da interlocução em posições simétricas.
C comprovar a importância da correção gramatical nos diálogos cotidianos.
D mostrar como as línguas indígenas foram incorporadas à língua portuguesa.
E ressaltar a importância do código linguístico que adotamos como língua nacional.
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32. Oximoro ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se
mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser
encontrada a referida figura de retórica é:
A “Dos dois contemplo A água do teu rio” (p. 93).
rigor e fixidez.
Passado e sentimento D “Ritualiza a matança
me contemplam” (p. 91). de quem só te deu vida.
E me deixa viver
B “De sol e lua nessa que morre” (p. 62).
De fogo e vento
Te enlaço” (p. 101). E “O bisturi e o verso.
Dois instrumentos
C “Areia, vou sorvendo entre as minhas mãos” (p. 95)

Textos para as questões 33 e 34


Texto I
[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo
em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que
reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive sequer o sopro necessário, e,
negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas
preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco — cedo ou tarde
tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada:
impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito,
seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de
ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].
NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Texto II
Raduan Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em 1978, fervilhante narrativa de um confronto verbal entre amantes, em que a
fúria das palavras cortantes se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil
que vivia sob o jugo da ditadura militar.
COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ

33. Considerando-se os textos apresentados e o contexto político e social no qual foi produzida a obra Um Copo de Cólera, verifica-se
que o narrador, ao dirigir-se à sua parceira, nessa novela, tece um discurso
A conformista, que procura defender as instituições nas quais repousava a autoridade do regime militar no Brasil, a saber: a Igreja, a
família e o Estado.
B pacifista, que procura defender os ideais libertários representativos da intelectualidade brasileira opositora à ditadura militar na
década de 70 do século passado.
C desmistificador, escrito em um discurso ágil e contundente, que critica os grandes princípios humanitários supostamente defendidos
por sua interlocutora.
D politizado, pois apela para o engajamento nas causas sociais e para a defesa dos direitos humanos como uma única forma de
salvamento para a humanidade.
E contraditório, ao acusar a sua interlocutora de compactuar com o regime repressor da ditadura militar, por meio da defesa de
instituições como a família e a Igreja.

34. Na novela Um Copo de Cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos da literatura produzida na década de
70 do século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”. Com
relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela, o texto I

A é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem e uma mulher em linguagem sóbria,
condizente com a seriedade da temática político-social do período da ditadura militar.
B articula o discurso dos interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem simples e objetiva, que busca
traduzir a situação de exclusão social do narrador.
C representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de
ponto de vista distanciado, os problemas da urbanização das grandes metrópoles brasileiras.
D evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de tom agressivo.
E traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da mulher moderna, às voltas
com a questão da priorização do trabalho em detrimento da vida familiar
e amorosa.
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L.J.C.
— 5 tiros?
— É.
— Brincando de pegador?
— É. O PM pensou que…
— Hoje?
— Cedinho.
COELHO, M. In: FREIRE, M. (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século

35. Os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. Nesse miniconto, as reticências foram
utilizadas para indicar
A uma fala hesitante.
B uma informação implícita.
C uma situação incoerente.
D a eliminação de uma ideia.
E a interrupção de uma ação.

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