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Performance

Definição
Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse
sentido, a performance liga-se ao happening (os dois termos aparecem em diversas
ocasiões como sinônimos), sendo que neste o espectador participa da cena proposta pelo
artista, enquanto na performance, de modo geral, não há participação do público. A
performance deve ser compreendida a partir dos desenvolvimentos da arte pop, do
minimalismo e da arte conceitual, que tomam a cena artística nas décadas de 1960 e 1970.
A arte contemporânea, põe em cheque os enquadramentos sociais e artísticos do
modernismo, abrindo-se a experiências culturais díspares. Nesse contexto, instalações,
happenings e performances são amplamente realizados, sinalizando um certo espírito das
novas orientações da arte: as tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo, à
natureza e à realidade urbana. Cada vez mais as obras articulam diferentes modalidades de
arte - dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. - desafiando as classificações
habituais e colocando em questão a própria definição de arte. As relações entre arte e vida
cotidiana, assim como o rompimento das barreiras entre arte e não-arte constituem
preocupações centrais para a performance (e para parte considerável das vertentes
contemporâneas, por exemplo arte ambiente, arte pública, arte processual, arte conceitual,
land art, etc.), o que permite flagrar sua filiação às experiências realizadas pelos surrealistas
e sobretudo pelos dadaístas.
As performances conhecem inflexões distintas no interior do grupo Fluxus. As exibições
organizadas por Georges Maciunas (1931-1978), entre 1961 e 1963, dão uma projeção
inédita a essa nova forma de arte. Os experimentos de Nam June Paik (1932), assim como
os de John Cage (1912-1992) - por exemplo, Theather Piece # 1, 1952 -, que associam
performance, música, vídeo e televisão, estão comprometidos com a exploração de sons e
ruídos tirados do cotidiano, desenhando claramente o projeto do Fluxus de romper as
barreiras entre arte/não-arte. O nome de Joseph Beuys (1921-1986) liga-se também ao
grupo e à realização de performances - nome que ele recusava, preferindo o termo "ação" -
que se particularizam pelas conexões que estabelecem com um universo mitológico,
mágico e espiritual.
Trabalhos muito diferentes entre si, realizados entre 1960 e 1970, aparecem descritos como
performances, o que chama a atenção para as dificuldades de delimitar os contornos
específicos dessa modalidade de arte. Por exemplo, em contexto anglo-saxão, Gilbert &
George (Gilbert Proesch, 1943, e George Passmore, 1942) conferem novo caráter às
performances utilizando-se do conceito de escultura viva e da fotografia que pretende
rivalizar com a pintura. Uma ênfase maior no aspecto ritualístico da performance é o
objetivo das intervenções do grupo de Viena, o Actionismus, que reúne Rudolf
Schwarzkogler (1941-1969), Günther Brüs (1938), Herman Nitsch (1938) e outros. Um
diálogo mais decidido entre performance e a body art pode ser observado em trabalhos de
Bruce Nauman (1941), Schwarzkogler e Vito Acconci (1940). As performances de Acconci
são emblemáticas dessa junção: em Trappings (1971), por exemplo, o artista leva horas
vestindo o seu pênis com roupas de bonecas e conversando com ele. Em Seedbed (1970),
masturba-se ininterruptamente.
No Brasil, Flávio de Carvalho (1899-1973), foi um pioneiro nas performances a partir de
meados dos anos de 1950 (por exemplo a relatada no livro Experiência nº 2). O Grupo Rex,
criado em São Paulo por Wesley Duke Lee (1931-2010), Nelson Leirner (1932), Carlos
Fajardo (1941), José Resende (1945), Frederico Nasser (1945), entre outros, realiza uma
série de happenings, por exemplo, o concebido por Wesley Duke Lee, em 1963 no João
Sebastião Bar (alguns críticos apontam parentescos entre o Grupo Rex e o movimento
Fluxus). A produção de Hélio Oiticica (1937-1980) dos anos de 1960 - por exemplo os
Parangolé - guardam relação com a performance, por sua ênfase na execução e no
"comportamento-corpo", como define o artista. Nos anos 1970, chama a atenção as
propostas de Hudinilson Jr. (1957). Na década seguinte, devemos mencionar as Eletro
performances, espetáculos multimídia concebidos por Guto Lacaz (1948).

Fontes de Pesquisa
ARCHER, Michael. Art since 1960. London, Thames and  Hudson, 1997, 224 p.il. p&b. color.

CHALVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. 2.ed. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. 584 p.

SANDLER, Irving. Art of the postmodern era: from the late 1960's to the early 1990's. New York:
Icon, 1996. 636 p., il. p&b.

VETTESE, Angela. Capire l'Arte contemporanea, dal 1945 ad oggi. Torino: Umberto Allemandi & C.,
1996, 327 p.il. p&b. color.

Instalação
Definição
O termo instalação é incorporado ao vocabulário das artes visuais na década de 1960, designando
assemblage ou ambiente construído em espaços de galerias e museus. As dificuldades de definir os
contornos específicos de uma instalação datam de seu início e talvez permaneçam até hoje. Quais
os limites que permitem distinguir com clareza a arte ambiental, a assemblage, certos trabalhos
minimalistas e a instalações? As ambigüidades que apresentam desde a origem não podem ser
esquecidas, tampouco devem afastar o esforço de pensar as particularidades dessa modalidade de
produção artística que lança a obra no espaço, com o auxílio de materiais muito variados, na
tentativa de construir um certo ambiente ou cena, cujo movimento é dado pela relação entre
objetos, construções, o ponto de vista e o corpo do observador. Para a apreensão da obra é preciso
percorrê-la, passar entre suas dobras e aberturas, ou simplesmente caminhar pelas veredas e
trilhas que ela constrói por meio da disposição das peças, cores e objetos.
Anúncios iniciais do que  é designado como instalação podem ser localizados nas obras
Merz, 1919, de Kurt Schwitters (1887 - 1948), e em duas obras que Marcel Duchamp (1887
- 1968) realiza para as exposições surrealistas de 1938 e 1942, em Nova York. Na primeira,
ele cobre o teto da sala com sacos de carvão, incorporando uma dimensão do espaço - o
teto - normalmente descartada pelos trabalhos de arte (1.200 sacos de carvão). Na
segunda, ele fecha uma sala com cordas, definindo, com sua intervenção, um ambiente
particular Milhas de Barbantes. Em 1926, Piet Mondrian (1872 - 1944) projeta o Salão de
Madame B, em Dresden, executado apenas em 1970, após a sua morte. Ao revestir o
cômodo inteiro com suas cores características, o artista explora a relação da obra com o
espaço, inserindo o espectador no interior do trabalho, o que é preocupação central das
instalações posteriores.
No programa minimalista é possível localizar também um prenúncio do que viria a ser
nomeado como instalação. As esculturas saem dos pedestais e ganham o solo, ocupando,
vez por outra, todo o espaço da galeria. Os objetos dispostos no espaço, na relação que
estabelecem entre si e o observador, constroem novas áreas espaciais, evidenciando
aspectos arquitetônicos. Por exemplo, nas placas retangulares que Carl Andre (1935)
organiza no chão da galeria Steel Magnesium Plain, 1969, na fileira de tijolos que corta o
espaço, Lever, 1966, ou nas pedras que, ao ar livre, compõem o Stone Field Sculpure, 1977.
As obras de Robert Morris (1931) caminham em direção semelhante: a escultura fixa-se no
espaço real do mundo. Só que agora a ênfase é dada mais fortemente à percepção,
pensada como experiência ou atividade que ajuda a produzir a realidade descoberta. Isso é
testado, seja nos módulos hexagonais e em "L", de fiberglass, arranjados segundo posições
invertidas, que o artista produz entre 1965 e 1967, seja no "tapete"' feito de restos de
materiais díspares, como asfalto, alumínio, chumbo, feltro, cobre, sobras de barbantes etc.,
de 1968. Dan Flavin (1933 - 1996), combina lâmpadas fluorescentes com base
no tamanhos, formato, cor e intensidade de luz, criando ambiências arquitetônicas
particulares.
Ainda no interior do programa minimalista, é possível lembrar os labirintos de alumínio que
Sol LeWitt (1928 - 2007) constrói no interior da galeria, Series A, de 1967, e os blocos
criados com encaixe de peças de aço pintado, que Robert  Smithson (1938 - 1973) dispõe
em fileiras horizontais, em Alogon # 2  e Installation, ambas de 1966. Se alguns trabalhos
são nomeados expressamente pelos artistas e/ou críticos como instalações, outros, ainda
que não recebam o rótulo, podem ser aproximados do gênero. É possível pensar, por
exemplo, nas cenas construídas por George Segal (1924 - 2000), suas esculturas de gesso
que integram cenários específicos e configuram espécies de mise-en-scène,
paradoxalmente, realistas e abstratas como A Família, 1963 ou O Metrô, 1968. No interior
da arte povera, alguns trabalhos se aproximam da idéia de instalação, por exemplo, os iglus
de Mario Merz (1925), Giap Iglo, 1968, e Double Igloo, 1979.
Nas décadas de 1980 e 1990, a voga da instalação leva ao uso e abuso desse gênero de arte
em todo o mundo, o que torna impossível a tarefa de mapear a produção recente. Da nova
leva de artistas que investe na produção de instalações, é possível destacar a obra da norte-
americana Jessica Stockholder (1959) pelas soluções originais. Suas instalações tematizam
de algum modo a própria idéia de construção, lembram "canteiros de obras" ou "ambientes
em reforma". Os andaimes, fiações soltas, tijolos, cavaletes de madeira etc. estão à mostra,
recusando a idéia de finalização, e as cores vibrantes que tomam a cena permitem
recuperar a pintura e a ideia de acabamento.
Um olhar sobre a produção brasileira coloca o observador, mais uma vez, diante das
ambigüidades que acompanham a designação de instalação. Artistas de distintas
procedências experimentam o gênero, mais ou menos declaradamente. Podem ser
destacados, nos anos de 1960, alguns trabalhos de Lygia Pape (1927-2004) - o Ovo e o
Divisor, por exemplo -, além das teias, ninhos e penetráveis realizados por Hélio Oiticica
(1937-1980). Ensaiam ainda instalações, José Resende (1945), trabalho sem título, 1982,
com borracha, tubo e compressor de ar; Tunga (1952),  Lagarte III, 1989; Mira Schendel
(1919-1988), com Ondas Paradas de Probabilidade, na 10ª Bienal Internacional de São
Pauo, em 1969 e Nuno Ramos (1960, com 111, 1992. Pode-se mencionar ainda os nomes
de Cildo Meireles (1948), Carlos Fajardo (1941) e Antonio Manuel (1947).
Fontes de Pesquisa
BATTCOCK, Gregory (ed.). Minimal Art. A critical anthology. New York: E. P. Dutton, 1968.
KAPROW, Allan. Assemblage, environement & happenings. New York: Harry N. Abrams, Inc.,
Publishers, s.d., 341 p.
MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO. AGUILAR, Nelson (org.), SASSOUN, Suzanna (coord.). Arte
contemporânea. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso.
São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
STOCKHOLDER, Jessica. Jessica Stockholder, instalações - 1983-1991. Rotterdam: Witte de With
Center for Contemporary Art, Chicago: The Reinassance Society at the University of Chicago, 1991.

Body Art

Arte do Corpo
Definição
A body art, ou arte do corpo, designa uma vertente da arte contemporânea que toma o
corpo como meio de expressão e/ou matéria para a realização dos trabalhos, associando-se
freqüentemente a happening e performance. Não se trata de produzir novas
representações sobre o corpo - encontráveis no decorrer de toda a história da arte -, mas
de tomar o corpo do artista como suporte para realizar intervenções, de modo geral,
associadas à violência, à dor e ao esforço físico. Pode ser citado, por exemplo, entre muitos
outros, o Rubbing Piece (1970), encenado em Nova York, por Vito Acconci (1940), em que o
artista esfrega o próprio braço até produzir uma ferida. O sangue, o suor, o esperma, a
saliva e outros fluidos corpóreos mobilizados nos trabalhos interpelam a materialidade do
corpo, que se apresenta como suporte para cenas e gestos que tomam por vezes a forma
de rituais e sacrifícios. Tatuagens, ferimentos, atos repetidos, deformações, escarificações,
travestimentos são feitos ora em local privado (e divulgados por meio de filmes ou
fotografias), ora em público, o que indica o caráter freqüentemente teatral da arte do
corpo. Bruce Nauman (1941) exprime o espírito motivador dos trabalhos, quando afirma,
em 1970: "Quero usar o meu corpo como material e manipulá-lo".

As experiências realizadas pela body art devem ser compreendidas como uma vertente da
arte contemporânea em oposição a um mercado internacionalizado e técnico e relacionado
a novos atores sociais (negros, mulheres, homossexuais e outros). A partir da década de
1960, sobretudo com o advento da arte pop e do minimalismo, são questionados os
enquadramentos sociais e artísticos da arte moderna, tornando-se impossível, desde então,
pensar a arte apenas com categorias como pintura ou escultura. As novas orientações
artísticas, apesar de distintas, partilham um espírito comum - são, cada qual a seu modo,
tentativas de dirigir a arte às coisas do mundo, à natureza, à realidade urbana e ao mundo
da tecnologia. As obras articulam diferentes linguagens - dança, música, pintura, teatro,
escultura, literatura, desafiando as classificações habituais, e colocam em questão o caráter
das representações artísticas e a própria definição de arte. As relações entre arte e vida
cotidiana, o rompimento das barreiras entre arte e não arte e a importância decisiva do
espectador como parte integrante do trabalho constituem pontos centrais para parte
considerável das vertentes contemporâneas: ambiente, arte pública, arte processual, arte
conceitual, earthwork.
A body art filia-se a uma subjetividade romântica, que coloca o acento no artista: sua
personalidade, biografia e ato criador. Retoma também as experiências pioneiras dos
surrealistas e dadaístas de uso do corpo do artista como matéria da obra. Reedita certas
práticas utilizadas por sociedades "primitivas", como pinturas corporais, tatuagens e
inscrições diversas sobre o corpo. O teatro dos anos 1960 - o Teatro Nô japonês, o Teatro da
Crueldade, de Antonin Artaud (1896-1948), o Living Theatre, fundado por Julian Beck e
Judith Malina, em 1947, o Teatro Pobre de Grotowsky (1933), além da performance -
constitui outra fonte de inspiração para a body art. A revalorização do behaviorismo nos
Estados Unidos, e das teorias que se detêm sobre o comportamento, assim como o impacto
causado pelo movimento Fluxus e pela obra de Joseph Beuys (1921-1986), entre as décadas
de 1960 e 1970, devem ser considerados para a compreensão do contexto de surgimento
da body art.

Alusões à corporeidade e à sensualidade se fazem presentes nas obras pós-minimalismo de


Eva Hesse (1936-1970), que dão ênfase a materiais de modo geral não rígidos. O corpo
sugerido em diversas de suas obras - Hang Up (1965-1966), e Ishtar (1965), por exemplo,
assume o primeiro plano no interior da body art, quando sensualidade e erotismo são
descartados pela exposição crua de órgãos e atos sexuais. As performances de Acconci são
emblemáticas. Em Trappings (1971), o artista leva horas vestindo seu pênis com roupas de
bonecas e conversando com ele. "Trata-se de dividir-me em dois", afirma Acconci,
"tornando o meu pênis um ser separado, outra pessoa." Denis Oppenheim (1938) submete
o corpo com base em outras experiências. Sun Burn (1970), por exemplo, consiste na
imagem do artista exposto ao sol coberto com um livro, em cuja capa lê-se: "Tacties". Air
Pressures (1971), joga com as deformações impostas ao corpo quando exposto à forte
corrente de ar comprimido. Chris Burden (1946) corta-se com caco de vidro em Transfixed.
Na Europa, há uma vertente sadomasoquista do movimento entre artistas como Rebecca
Horn (1944), Gina Pane (1939-1990), o grupo de Viena, o Actionismus, que reúne Arnulf
Rainer (1929), Hermann Nitsch (1938), Günter Brus (1938) e Rudolf Schwarzkogler (1940-
1969). Este, suicida-se, aos 29 anos, diante do público, numa performance. Queimaduras,
sodomizações, ferimentos e, no limite, a morte tomam a cena principal nessa linhagem da
body art. No Brasil, parece difícil localizar trabalhos e artistas que se acomodem com
tranqüilidade sob o rótulo. De qualquer modo, é possível lembrar as obras de Lygia Clark
(1920-1988),  que se debruçam sobre experiências sensoriais e táteis, como A Casa É o
Corpo (1968), e alguns trabalhos de Antonio Manuel (1947) e Hudinilson Jr. (1957)
ARCHER, Michael. Art Since 1960. Londres: Thames and Hudson, 1997. 224 p., il. color., p&b.
(World of art).
SANDLER, Irving. Art of the postmodern era: from the late 1960's to the early 1990's. New York:
Icon, 1996. 636 p., il. p&b.
VETTESE, Angela. Capire l'Arte contemporanea, dal 1945 ad oggi. Torino: Umberto Allemandi & C.,
1996, 327 p.il. p&b. color.

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