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Construtivismo e a escola Bauhaus

O construtivismo
Comentário: Para o construtivismo, a pintura e a escultura são pensadas como
construções - e não como representações -, guardando proximidade com a arquitetura
em termos de materiais, procedimentos e objetivos. O termo construtivismo liga-se
diretamente ao movimento de vanguarda russa e a um artigo do crítico N. Punin, de
1913, sobre os relevos tridimensionais de Vladimir Evgrafovic Tatlin (1885 - 1953). A
consideração das especificidades do construtivismo russo não deve apagar os elos com
outros movimentos de caráter construtivo na arte, que ocorrem no primeiro decênio do
século XX, por exemplo, o grupo de artistas expressionistas reunidos em torno de
Wasilli Kandinsky (1866 - 1914) no Der Blaue Reiter [O Cavaleiro Azul], em 1911, na
Alemanha; o De Stijl [O Estilo], criado em 1917, que agrupa Piet Mondrian (1872 -
1944), Theo van Doesburg (1883 - 1931) e outros artistas holandeses ao redor das
pesquisas abstratas; e o suprematismo, fundado em 1915 por Kazimir Malevich (1878 -
1935), também na Rússia. Isso sem esquecer os pressupostos construtivos que se fazem
presentes, de diferentes modos, no cubismo, no dadaísmo e no futurismo italiano.

A ideologia revolucionária e libertária que impregna as vanguardas em geral, adquire


feições concretas na Rússia, diante da revolução de 1917. A nova sociedade projetada
no contexto revolucionário mobiliza os artistas em torno de uma arte nova, que se
coloca a serviço da revolução e de produções concretas para a vida do povo. Afinal, a
produção artística deveria ser funcional e informativa. Realizações dessa proposta
podem ser encontradas nos projetos de Aleksandr Aleksandrovic Vesnin (1883 - 1959)
para o Palácio do Trabalho e para o jornal Pravda e, sobretudo, no Monumento à
Terceira Internacional, de Tatlin, exposto em 1920, mas nunca executado - seria
erguido no centro de Moscou. De ferro e vidro, a gigantesca espiral giraria sobre si
mesma, concebida para ser também uma antena de transmissão radiofônica, é descrita
pelo artista como "união de formas puramente plásticas (pintura, escultura e
arquitetura) para um propósito utilitário".

A obra de Alexander Rodchenko (1891 - 1956) é outro exemplo de atualização do


programa construtivista e produtivista russo. Das pesquisas iniciais, em estreito diálogo
com as pinturas abstratas e geométricas de Malevich, o artista passa às construções
tridimensionais por influência de Tatlin, encontrando posteriormente na fotografia um
meio privilegiado de expressão e registro pictórico da nova Rússia. Sua perspectiva
fotográfica original influencia de perto o cinema de Sergei Eisenstein (1898 - 1948).

As discussões sobre a função social da arte provocam fraturas no interior do


construtivismo russo. Os irmãos Antoine Pevsner (1886 - 1962) e Naum Gabo (1890 -
1977), signatários do Manifesto Realista de 1920, recusam um programa social e
aplicado da arte - lembrando as críticas de Gabo ao monumento de Tatlin - em defesa
de uma morfologia geométrica em consonância com a teoria suprematista de Malevich.
Suas pesquisas inclinam-se na direção da arte abstrata, do diálogo cerrado entre arte e
ciência e do uso de materiais industriais, como o vidro e o plástico. Em 1922, quando o
regime soviético começa a manifestar seu desagrado com a pauta construtivista,
Pevsner e Gabo deixam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Na
década seguinte, a defesa oficial de uma estética "realista" e "socialista" representa o
golpe último nas pesquisas de tipo formal dos construtivistas. O exílio dos artistas
contribui para a disseminação dos ideais estéticos da vanguarda russa que vão impactar
a Bauhaus na Alemanha, o De Stijl, nos Países Baixos, e o grupo Abstraction-Création
[Abstração-Criação], na França. Gabo será um dos editores do manifesto construtivista
inglês Circle, de 1937.

Não são pequenas as influências do construtivismo na América Latina, em geral, e no


Brasil, em particular, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Marcas
da vanguarda russa podem ser observadas no movimento concreto de São Paulo, Grupo
Ruptura, e no Rio de Janeiro, Grupo Frente. A ruptura neoconcreta estabelecida com o
manifesto de 1959 - que reúne Amilcar de Castro (1920 - 2002), Ferreira Gullar (1930),
Franz Weissmann (1911 - 2005), Lygia Clark (1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004),
Reynaldo Jardim (1926) e Theon Spanudis (1915) - não afasta as influências do
construtivismo russo, sobretudo na vertente inaugurada por Pevsner.

Veja nas
Enciclopédias das artes Visuais

Gullar, Ferreira (1930)

Bauhaus

O conceito nasce da associação entre arte, artesanato e indústria está no coração da


experiência da Bauhaus,
fundada em 1919. Ao ideal do artista-artesão defendido por Walter Adolf Gropius
(1883 -
1969) desde a criação da escola, soma-se a defesa da complementaridade das diferentes
artes sob a égide do design e da arquitetura. O espírito que orienta o programa ancora-
se na
idéia de que o aprendizado, e o objetivo, da arte liga-se ao fazer artístico, o que evoca
uma
herança medieval de reintegração das artes e ofícios.

. A proposta de Gropius para a Bauhaus


relaciona-se à formação de novas gerações de artistas de acordo com um ideal de
sociedade
democrática, onde não há hierarquias mas somente funções complementares. Com a
mudança da escola para Dessau em 1925, a relação entre arte e indústria se fortalece e
consolidam-se as marcas características do "estilo bauhaus" expressas na série de
objetos
confeccionados - mobiliário, tapeçaria, luminárias etc. - como as cadeiras e mesas em
aço
tubular criadas por Marcel Breuer (1902 - 1981) e Ludwig Mies van der Rohe (1886 -
1969), produzidas em larga escala pela Standard Möbel de Berlim e pela Thonet. As
afinidades da Bauhaus com as vanguardas em geral e com o construtivismo russo em
particular revelam-se pela ligação entre projeto estético e político, que vem
acompanhada
da idéia de que a arte deve ser funcional. A pintura e a escultura, segundo os princípios
construtivos, são pensadas como construções, guardando proximidade com a
arquitetura em
termos de materiais, procedimentos e objetivos. Realizações do programa social e
aplicado
do construtivismo russo podem ser encontradas nos projetos de Aleksandr
Aleksandrovich
Vesnin (1883 - 1959) para o Palácio do Trabalho e para o jornal Pravda e, sobretudo,
no
Monumento à Terceira Internacional de Vladimir Tatlin (1885 - 1956), exposto em
1920, que seria erguido no centro de Moscou, mas nunca executado.
Na década de 1920, as artes aplicadas encontram abrigo no estilo art deco. Recoloca-se
o
nexo entre arte e indústria tendo a decoração como elemento mediador na esteira das
propostas art nouveau. O "estilo anos 20" dialoga de perto com o art nouveau,
retomando a
mesma tradição da arte aplicada inglesa. Só que as soluções, nesse caso, indicam a
preferência pelas linhas retas e estilizadas, formas geométricas e design abstrato, em
consonância com as vanguardas do começo do século XX. O estilo art deco apresenta-
se de
início como luxuoso, empregando materiais caros como jade, laca e marfim. Entre
outros, os vestidos "abstratos" de Sonia Delaunay-Terk (1885 - 1979), os vasos de René
Lalique (1860 - 1945), as padronagens de Erté (1892 - 1990). A partir de 1934, o estilo
dialoga mais diretamente com a produção industrial, com os materiais e formas
passíveis de
reprodução em massa. Se as fortes afinidades entre arte e indústria e entre arte e
artesanato
remetem às experiências imediatamente anteriores da Bauhaus, a ênfase primeira na
individualidade e no artesanato refinado colocam o art deco nas antípodas do ideal
estético
e político do programa da escola de Gropius, que se orienta no sentido da formação de
novas
gerações de artistas de acordo com um ideal de sociedade civilizada e democrática.
No Brasil, as artes aplicadas têm lugar no interior do modernismo de 1922 com os
trabalhos
- pinturas, tapeçarias e objetos - de John Graz (1891 - 1980) e dos irmãos Regina Graz
(1897 - 1973) e Antonio Gomide (1895 - 1967). No interior do grupo concreto paulista,
na
década de 1950, o nome de Geraldo de Barros (1923 - 1998) se destaca pela sua
proximidade com o desenho industrial e com a criação visual, sobretudo a partir de
1954,
quando funda a cooperativa Unilabor e a Hobjeto móveis, dedicadas à produção de
móveis.
A Form-inform, também criada por ele, destina-se à criação de marcas e logotipos.
Fontes de Pesquisa
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos
contemporâneos.
Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti; prefácio Rodrigo Naves. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992. xxiv, 709 p., il. color.

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