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ADAPTAÇÃO ÉDIPO REI

Contexto Histórico:

Os anos 50 no Brasil sucederam diversos acontecimentos históricos, tanto a nível nacional


quanto mundial, como a Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo de Getúlio Vargas
(1937-1945) e a própria reeleição de Getúlio em 1950.

Desde o começo da década de 50 houve um aumento da população urbana, sendo que


24% da população rural migraram para as cidades. Nos anos 1950 cerca de 50% dos
brasileiros eram analfabetos, mesmo assim começou a ter um aumento em escala da
escolarização, sendo que na década subsequente o número de analfabetismo cai para
39%.

A imprensa brasileira passa por uma ocasião de liberdade, visto que os jornais não
dependiam mais tanto do Estado ou dos poderosos políticos como ocorria anteriormente.
Começaram a existir um número grande de jornais em circulação e assim começaram os
movimentos de jornalismo, como o jornalismo político, o jornalismo moderno e o jornalismo
popular.

Para a cultura do país o momento foi rico para a cultura, pois existia uma busca de sua
própria modernidade, com características originais. Sem fundar-se nos movimentos
vanguardistas da Europa, abrindo assim a um pensamento totalmente brasileiro,
tornando-se símbolo deste Brasil moderno, instituindo e se materializando muitos aspectos
reverenciáveis para a cultura brasileira, e que são relembrados e vigorantes até os tempos
contemporâneos.

Com a grande produção das indústrias brasileiras, ocorre um grande aglomerado de novas
tecnologias que invadiram as casas de classe médica brasileiras. As grandes novidades
estavam nos televisores, vitrolas de alta fidelidade entre outros eletrodomésticos que
aperfeiçoaram um retrato do estilo de vida norte-americano no Terceiro Mundo.

Este sentimento progressista presente na época cria uma aceleração para o crescimento do
moderno. Onde a modernidade poderia ser construída, por isso foram criadas uma nova
cidade com uma nova arquitetura, fazendo com que a modernidade não fosse apenas
sentida, mas também visualizada. Subsequente a esta necessidade, as bienais de São
Paulo começaram a mostrar o que acontecia de mais inovador nas artes plásticas e visuais.

O início da década também foi marcada pela realização da quarta Copa do Mundo da FIFA
realizada no Brasil, a primeira realizada após a Segunda Guerra Mundial, fator que foi
determinante para a escolha do Brasil como sede, já que boa parte da Europa se
encontrava em ruínas.

Toda a população brasileira se encontrava com uma expectativa altíssima em relação à


Copa, já que desde esta época, os brasileiros já eram apaixonados pelo futebol e queriam
ver a Seleção Brasileira, amplamente favorita, se sagrando campeã pela primeira vez e
conquistando este feito jogando em casa. Mas o que se viu na grande final foi o oposto.

Precisando apenas de um empate, o Brasil enfrenta o Uruguai no estádio do Maracanã.


Apesar do público oficial ser de 173.850 mil estima-se que mais de 200 mil pessoas foram
ao estádio, na esperança de ver o triunfo brasileiro. O brasil abre o placar com Friaça mas
leva a virada uruguaia com gols de Schiaffino e Ghiggia, deixando o Maracanã com seus
200 mil torcedores em um profundo silêncio. O que se viu após o apito decretando o fim da
partida foi um profundo luto. Uns culpavam o sentimento de “já ganhou”, instaurado antes
da grande final, outros culpavam o goleiro Barbosa, culpa que o perseguiu injustamente até
sua morte em 2000. Houve até mesmo quem culpasse a camisa branca da Seleção
brasileira, dizendo que ela trazia mau agouro a camisa foi trocada pela amarelo canarinho
que permanece até os dias atuais.

A sociedade brasileira ficou em estado de choque, com o desfecho dessa copa. Muitos
jornais pareciam não aceitar o fato de que a seleção tinha sido derrotada. Alguns dos
jogadores aposentaram-se. Outros que jogaram essa partida jamais foram considerados
para a Seleção.

MORRO DA MANGUEIRA - RIO DE JANEIRO | JULHO DE 1950

A escola de samba do morro da mangueira, depois da primeira grande vitória com a


composição de Édipo, acaba fazendo dele o presidente da Escola, que fez com que durante
vários anos ela sempre ganhasse as competições anuais, porém em certo momento a
escola é rebaixada e não consegue mais ganhar, deixando seus componentes e o bairro em
desalento. Édipo entra no barracão e vai para a sala de reunião para conversar com os três
componentes da ala de ritmistas que mediava à conversa com os moradores e participantes
da escola.

Julho era um momento decisivo para todas as escolas de samba que participavam dos
desfiles competitivos no carnaval carioca. A escolha do tema era o motivo principal, um bom
enredo para carnaval de 1951 era a chance de se recolocar entre as campeãs. Durante
várias horas de reunião eles chegam à conclusão que poderia ser algum trabalho, feito por
alguma escola rival descontente com anos de vitória ininterrupta, ele pede então para seu
cunhado Creonte consultar os búzios da mãe de santo mais velha do Rio de Janeiro sobre
que poderiam fazer para quebrar o trabalho feito ou entender o que estava acontecendo
com a escola.

Creonte chega à sala com a resposta da Mãe de santo, que diz só poder ajudar se caso
encontrassem o assassino de Laio. Creonte diz ter sido policiais e que como para pobre não
havia justiça o caso foi esquecido, Édipo pede para chamar a mãe de santo do bairro,
orientado por Corifeu que pensava que com uma ligação próxima a Laio, talvez ela tivesse
uma resposta sobre seu assassino.

Tristeza Pé no Chão/ Armando Fernandes(Mamão), Intérprete Clara Nunes:


https://www.youtube.com/watch?v=194coGg73P0
ÉDIPO

Creonte está chegando com a resposta dos búzios.


Entra CREONTE
ÉDIPO
O que dizia os búzios ?

CREONTE
Uma resposta favorável, pois acredito que mesmo as
coisas desagradáveis, se delas nos resulta algum
bem, tornam-se uma felicidade.

ÉDIPO
Ora essa, afinal, qual é a resposta?

CREONTE
Acredito que seja melhor conversarmos em
particular.

ÉDIPO
Fale para todos; sofrimento de todos me causa
maior
desgosto do que se fosse só meu.

CREONTE
Direi então o que ouvi da boca de Mãe velha,
precisamos purificar essa escola, existe nela uma
mancha que se mantém e pode agravar-se, não tendo
mais remédio.

ÉDIPO
Mas, por que devemos realizar essa purificação? De
que
mancha se trata?

CREONTE
É preciso expulsar e punir o culpado do
assassinato
que manchou nossa escola.

ÉDIPO
De que assassinato se refere os búzios?

CREONTE
Laio, o último presidente da escola, antes de
você.
(...)

CENÁRIO
BARRACÃO DA ESCOLA

Ao pensarmos na escola de samba e onde eles se concentravam, trazemos a imagem de


um barracão, onde é utilizado para a produção das roupas, e a decoração da alegoria, com
um espaço para ensaios. Pensamos em um lugar que ficasse próximo da comunidade, e
com a simplicidade das quadras. Alguns elementos presentes nesse cenário seria as
máquinas de costuras, e tecidos para que as costureiras fizessem todas as roupas, um
espaço para guardar os instrumentos.

Assim como as quadras, e barracões são carregados de memórias boas e grandes


recordações, buscamos retratar um espaço que construiu a história da comunidade e juntos
cresceram e foram evoluindo, imagens que trazem lembranças de primeiro ensaio, das
primeiras roupas e integrantes e até mesmo a primeira comemoração ao receber o prémio
graças a Édipo Rei com seu samba enredo.
SALA DE REUNIÃO

No escritório e sala de reunião, buscamos essa simplicidade com as cadeiras de madeiras,


e mesa com as gavetas, máquina de escrever, um telefone, um rádio, fotos de fundadores,
diretores, bandeiras da escola, alguns instrumentos e estantes para guardar os troféus
ganhos nas competições anteriores.
OBSERVAÇÃO: Sala com as fotos de diretores da escola, fundadores e talvez com troféus,
mas com a mesma montagem como está nessa foto.

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM


ÉDIPO
Tendo como base o samba dos anos 50 e sua fé e seguimento no candomblé,
suas vestimentas vão de camisa social com botões abertos para dentro de sua
calça também social, um fio de conta mais conhecido como “guia” em seu
pescoço e sapatos sociais também típicos daquela época.
Músico, preocupado com a vida familiar e com o rumo da Escola de Samba que preside.
Deixa seu cabelo natural, cortado com um estilo arredondado e o bigode que não pode
faltar, porque estava na moda. Um presidente sempre quer estar em alta e procura se
destacar com alguns detalhes como uma sobrancelha bem definida e lábios sempre com
um tom natural e cor ressaltada por ser bem cuidada, pois ele é vaidoso.

CREONTE

Creonte, levando em consideração que tenta sempre ser elegante como seu
amigo e companheiro Édipo, utiliza de um conjunto completo de terno listrado
com calça e sapatos também muito utilizado por grandes personalidades da
época que frequentavam os bailes e as rodas de samba das escolas. Sua fé
também não ficava para trás, utilizando em seu pulso um contra egum e um fio
de conta em seu pescoço.

Amigo e cunhado de Édipo sempre tenta seguir o mesmo, com cabelo bem cortado e um
chapéu palheta de sambista muito usado em lugares quentes como o Rio de Janeiro e
muito usado na década de 1950 e para manter se na moda um bigode mais grosso. Como
referência temos o ator brasileiro Grande Otelo, com seus tantos personagens carismáticos.

TRÊS RITMISTAS
Os ritmistas utilizam de camisas com botões e bolsos, calça sócias e jeans,
sapatos marrom e chapéus de sambistas.
Eles usam adereços como o chapéu panamá que é muito usado por trazer uma
versatilidade, dá para ser usado nas praias ou lugares mais urbanos e combina com o estilo
dos sambistas, esse chapéu foi popularizado entre os anos 20 e 60. E tem as boinas que
trazem um ar alternativo e combina facilmente com o estilo dos músicos. Com bigode e o
cabelo variando em topetes e fios curtos, repartido ao lado ou ralo e bem definido como o
da época.

CORIFEU
Utilizava de camisa de botões aberta por dentro de sua calça social, sapatos
sociais de brico branco, algo muito típico de sambistas, e também usava um
colar de ouro, óculos escuros, e algumas vezes, colocava em sua cabeça uma
boina para ir em rodas de samba

É um homem amigo de Édipo e Jocasta. Usa sempre um topete, um pouco bagunçado, um


penteado que era tendência na década de 50. Sem barba, pele sem maquiagem e um
óculos para disfarçar as olheiras de músico que fica muito tempo acordado.

Dona Taiwo, era a mãe de santo mais procurada da região, idosa e cega é acompanhada
até a sala de reunião do barracão da escola, questionada por Édipo, ela se nega a lhe dar
maiores informações, até ser colocada como charlatã e se vê obrigada a responder seus
questionamentos, afirmando ser ele o assassino de Laio, de quem era filho. Édipo se irrita e
diz ser um plano de Creonte para tirá-lo da presidência da escola, ele nega e diz ser tão
pertencente à diretoria quanto ele, o amigo dos dois Corifeu e os três ritmistas tentam
apaziguar a discussão e pedem para Édipo não acusar Creonte sem provas.

Entra DONA TAIWO, velha e cega, é guiada por um menino.

ÉDIPO
Dona Taiwo, você que conhece todas as coisas, tudo
o que se possa
averiguar, e o que deve permanecer sob mistério;
os signos do céu e os da terra... Embora não
enxergue, sabe do mal que a escola passa; e para
defendê-la, para salvá-la, só a senhora podemos
recorrer, conforme
deve saber, só sairemos desse flagelo que nos
maltrata quando descobrirmos quem matou Laio. Não
se recuse a revelar o que diz os búzios; salve a
nossa escola. Da senhora nós dependemos agora.
DONA TAIWO
Terrível coisa é a ciência, quando o saber se
torna inútil! Eu bem
assim pensava; mas creio que o esqueci, pois do
contrário não
teria consentido em vir até aqui.

ÉDIPO
Qual problema lhe aflige dona Taiwo?

DONA TAIWO
Quero voltar para minha casa. Se me atender,
melhor será para você, e para mim.

ÉDIPO
Suas palavras não são razoáveis, nem amistosas
para
a escola, sendo que a senhora se recusa a revelar
o que te pedimos.

DONA TAIWO
Para seu benefício, eu bem sei, teu desejo é
inoportuno. Logo, a
fim de não agir de forma imprudente…

ÉDIPO
Pelos oxirás! Não oculte a verdade!
Todos nós, todos nós, de joelhos, te pedimos!

DONA TAIWO
Você delira, sem dúvida! Eu causaria a minha
desgraça, e a
sua!

ÉDIPO
O que disse?!... Conhecendo a verdade, não dirá?
Por acaso
pensa em nos trair, causando a ruína desta escola?

DONA TAIWO
Jamais causarei tamanha dor a você, nem a mim! Por
que me
interroga em vão? De mim nada irá ouvir!

ÉDIPO
Continuará assim, inflexível?

ÉDIPO
Quem não se irritaria, com efeito, ouvindo suas
palavras, que
provam o quanto despreza esta escola!

DONA TAIWO
O que tem de acontecer, acontecerá, embora eu
guarde
silêncio!...

ÉDIPO
Se as coisas futuras fatalmente virão, você bem
pode
nos falar !

DONA TAIWO
Não direi mais nada!.

ÉDIPO
Pois bem! Mesmo irritado, como estou, não vou
deixar de falar o que
penso! Na minha opinião, você foi cúmplice no
crime, talvez tenhas sido o mandante, embora não o
tendo
cometido por suas mãos. Se não fosse cega, a você,
somente, eu
acusaria como autora do crime.

DONA TAIWO
Será verdade? a partir deste momento, não dirija a
palavra a ninguém, nem a mim, porque quem procura
é você mesmo!
(...)

Opinião/ Zé Keti:
ou
Barracão de Zinco/Luiz Antônio / Oldemar Magalhães,
Intérprete: Elizeth Cardoso:
https://www.youtube.com/watch?v=YaBzuPGqDXo

Sai dona Taiwo, entra Creonte


ÉDIPO
Foi você , ou não, quem me aconselhou a chamar
Dona Taiwo?
CREONTE
Sim; e mantenho minha opinião acerca dela.

ÉDIPO
Há quanto tempo Laio…

CREONTE
O que ela fez? Não entendo!...

ÉDIPO
...Desapareceu, vítima de um assassino?

CREONTE
Já faz muitos anos!

ÉDIPO
E já nesse tempo Dona Taiwo era mãe de santo?
CREONTE
Sim; ela já era, então, sábia e respeitada.

ÉDIPO
E, nessa época, disse ela alguma coisa a meu
respeito?

CREONTE
Nunca! pelo menos na minha presença.

ÉDIPO
Você investigou a fim de apurar o crime?

CREONTE
Fizemos, naturalmente, mas não descobrimos nada.

ÉDIPO
Como você explica, essa mulher tão sábia, não
tivesse dito o que disse hoje?

CREONTE
Não sei; e, quando desconheço uma coisa, prefiro
me calar!

ÉDIPO
Você não ignora, no entanto, e deve em plena
consciência confessar…
CREONTE
Que devo confessar? Tudo o que souber, direi!

ÉDIPO
...Que, se ela não estivesse de conluio contigo,
nunca viria dizer que
a morte de Laio foi crime cometido por mim.

CREONTE
Que ela disse, você sabe. Mas também eu tenho o
direito de
te fazer algumas perguntas.

ÉDIPO
Me interrogue ! Você não vai me convencer que sou
eu o assassino.

CREONTE
Ora vejamos: você casou com minha irmã?

ÉDIPO
É impossível responder que não a tal pergunta.

CREONTE
E partilha a presidência com ela?

ÉDIPO
Sim

CREONTE
E não serei eu igualmente parte da diretoria,
quase tanto como vocês?

ÉDIPO
Sim; e por isso mesmo é que me parece ser um
pérfido amigo.

O homem e o cão/Ataufo Alves:


https://www.youtube.com/watch?v=TCwuqG3e9N4

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM


DONA TAIWO

Por ser mãe de santo, Taiwo utilizava um vestido branco bem comum na religião
do candomblé, com um pano enrolado em sua cabeça e adereços como guias e
contra ogun.

É a Mãe de Santo, uma senhora idosa e cega. Ela é responsável pelo terreiro e é a pessoa
que fala com os orixás através do jogo de búzios. Usa pano de cabeça branco e com
amarrações elaboradas. E não usa maquiagem.

Jocasta é chamada para mediar o conflito, diz que o filho que teve com Laio estava morto e
que ele foi assassinado por policiais, sendo assim não tinha cabimento a história que dona
Taiwo havia contato, ela diz haver uma testemunha, mas que não conseguiu reconhecer
quem poderia ser, devido ao breu no dia do acontecido. Édipo pede para chamar a
testemunha, saem ele e Jocasta da sala deixando os três ritmistas ensaiando, enquanto
estão sozinhos eles narram os acontecimentos através de uma composição de samba.

Entra JOCASTA
JOCASTA
Por que você estão discutindo? Vocês não se
envergonham de discutir questões íntimas no
momento crucial para escola que está rebaixada
nesse momento? Volta para casa, Édipo;
e Você, Creonte,vai para sua.

CREONTE
Édipo, seu marido, minha irmã, me julga como
traidor .

ÉDIPO
É verdade. Acusei de conspirar contra mim.

CREONTE
Que eu morra se tiver cometido o que você me
acusa.

JOCASTA
Édipo acredite no que ele diz

TRÊS RITMISTAS
Acredite nele Édipo! Nós te pedimos!

ÉDIPO
Como,
(...)

JOCASTA
Me explique bem o que houve para que eu entenda

ÉDIPO
Ele presume que eu tenha matado Laio!
JOCASTA
Mas... ele descobriu isso, ou ouviu de alguém?

ÉDIPO
Ele insinuou isso a uma mãe de santo, uma simples
impostora, porquanto
ele próprio não afirma nada
.
JOCASTA
Não se preocupe, Laio foi assinado por policiais
em uma encruzilhada, próximo ao antigo campinho e
nosso filho foi chamado cedo ao Orun, a parteira
disse que se ele vivesse seria uma desgraça na
terra.
Momento de silêncio
ÉDIPO
Essa história que acabaste de contar, me perturba…

JOCASTA
Por que a perturbação sobre nosso passado?

ÉDIPO
E há quanto tempo isso aconteceu?

JOCASTA
A notícia aqui chegou pouco antes do dia que te
chamei para ala de compositores.

ÉDIPO
Meu Deus! Que quer fazer de mim?

JOCASTA
o que te impressiona tanto assim?

ÉDIPO
Não me pergunte nada, ainda. Como era Laio? Que
idade ele tinha?

JOCASTA
Era alto e corpulento; tinha cabelos crespos e
brancos.
Parecia um pouco contigo.

ÉDIPO
Pode ser que dona Taiwo tenha acertado, mas me
responde mais algumas perguntas.

JOCASTA
Também eu me sinto inquieta... mas responderei
às suas perguntas.

ÉDIPO
Alguém testemunhou o assassinato?

JOCASTA
Um morador aqui do bairro, ele morava próximo ao
antigo campinho.

ÉDIPO,
Ele ainda mora aqui no bairro ?

JOCASTA
Não. Se mudou depois do acontecido para outra
comunidade.

ÉDIPO
Acha que ele aceitaria conversar conosco?

JOCASTA
Creio que sim, mas por que chamá-lo?

ÉDIPO
Acredito que ele me dirá coisas que eu acho saber.

JOCASTA
Pois ele virá. Mas também eu tenho o direito de
saber, creio eu, o
que tanto te inquieta.

ÉDIPO
Não te recusarei essa revelação, visto que estou
reduzido a uma
última esperança. A quem poderia eu, com mais
confiança, fazer uma
confidência de tal natureza, na situação em que me
encontro?
Momento de silêncio
ÉDIPO
(Prosseguindo, em tom de confidência.)

Em uma festa com meus pais em São Paulo, um homem


começou a falar que eu não era seu filho, eles
ficaram furiosos. Decide consultar os búzios, que
me revelou que dormiria com minha própria mão e
mataria meu pai, com medo do que poderia
acontecer, vim para o Rio, o primeiro lugar que me
instalei foi próximo ao campinho. Em uma noite de
breu total acabei brigando com dois homens e um
deles estava armado, consegui tirar a arma dele e
em um surto, atirei nos dois. Se não era Laio,
quem era? Que eu
desapareça dentre os humanos antes que sobre mim
caia tamanha
vergonha!
(...)

JOCASTA
Ele nunca poderá provar que a morte de Laio foi
obra sua, visto que pelo búzios ele devia morrer
pelas mãos de meu filho; ora, esse filho infeliz
não poderia
ter ferido a Laio, porque morreu antes dele. Nesse
caso, eu não daria
mais nenhum valor aos búzios ! …

ÉDIPO
Tem razão. Mande, pois, chamar esse morador, por
favor.

(Saem ÉDIPO e JOCASTA)

Preciso me encontrar/Cadeia - Interprete Cartola:


https://www.youtube.com/watch?v=plOTKOJ32Os

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM

JOCASTA
Jocasta era muito vaidosa, utilizava uma camisa com botões junto de sua saia
rodada, costumava também utilizar muitos adereços como colar de pérolas e
brincos.

Uma mulher adulta com quase 50 anos de idade que se preocupa muito com sua beleza,
para ter uma aparência mais jovial usa maquiagem com delineado nos olhos e usa batom
destacando o desenho de seus lábios. Cabelos ondulados até o ombro, pois a tendência
nessa época era cabelos de comprimento médio. Sobrancelhas estilo curvado, sem as
pontas naturais e um recuo sobre a testa, com efeito para cima igual de uma asa. E joias
para chamar atenção e dar destaque a composição do rosto.

Mais tarde chega um antigo morador do bairro, seu Venceslau, que havia se mudado para
região do ABC em São Paulo e retorna ao Rio a pedido da mãe de Édipo para avisá-lo do
falecimento de seu pai. Jocasta o recebe no barracão e fica sabendo da notícia, Édipo
retorna ao barracão e questiona Jocasta sobre a visita que avisa o ocorrido, ele fica
atordoado e confuso, imagina que a morte de seu pai só poderia ser sua culpa se fosse por
meio do desgosto de tê-los abandonado, mas que ainda temia por sua mãe. Seu Venceslau
não entende a preocupação e o questiona sobre o que lhe foi revelado, Édipo explica as
leituras dos búzios que lhe foram feitas, o antigo morador lhe diz que sua preocupação não
se justifica, pois ela não é sua mãe de sangue.

Édipo fica incrédulo, e pede que seu Venceslau se justifique, ele então diz que uma criança
lhe foi entregue recém-nascida por um antigo conhecido e que ele entregou a criança ao
casal Maria e João, seus pais, que não podiam ter filhos de sangue, visto que Maria era
estéril. Édipo pede que ele lhe diga quem era o conhecido que havia lhe entregado a
criança, este lhe afirma ser seu Matias, Édipo questiona Jocasta se é o mesmo homem que
testemunhou a morte de Laio, ela minimiza o coincidência e atônita com a junção tão
perfeita dos fatos, pede para que ele esqueça a história, ele insiste, ela sai, temendo uma
revelação decide retornar à sua casa. Corifeu questiona a saída desesperada de Jocasta a
prevê dissabores por vir. O som do samba melancólico do ensaio dos três ritmistas
reverbera no espaço em silêncio do barracão.

(...)
SEU VENCESLAU
Teme a prática do incesto?

ÉDIPO
É o que me assusta!

SEU VENCESLAU
Sabe que sua preocupação não se justifica?

ÉDIPO
Como não? eles são meus pais …

SEU VENCESLAU
João nenhum parentesco de sangue tinha contigo!

ÉDIPO
Que ?!... João não era meu pai?

SEU VENCESLAU
Era tanto como eu; nem mais, nem menos!
É que ele não era teu pai, como eu não sou!

ÉDIPO
E por que me considerava, então, seu filho?

SEU VENCESLAU
Porque há muitos anos ele te recebeu, das minhas
mãos!
(...)
ÉDIPO
Você me recebeu de outra pessoas?

SEU VENCESLAU
foi um conhecido que te entregou para mim.

ÉDIPO
Quem é ele? Sabe me dizer ?

SEU VENCESLAU
Ele morava lá perto, seu Matias.

ÉDIPO
Alguém conhece esse morador?

TRÊS RITMISTAS
Provavelmente é um morador antigo que se mudou
para bairro ao lado; mas Jocasta é
quem pode certificar-te a respeito.

ÉDIPO
(A Jocasta.)Você acha que a testemunha que pedimos
para chamar é a mesmo morador que seu Venceslau se
refere?

JOCASTA
Ora essa não pense nisso; o que ele diz não tem
nenhuma importância
.
ÉDIPO
É impossível que com tais indícios eu não
descubra, afinal, a verdade sobre meu nascimento.

JOCASTA
Se tem amor a sua vida, abandona essa
preocupação. O que sei já é o bastante para me
torturar.
Eu te suplico! Não insistas nessa indagação!

ÉDIPO
Não vou desistir de descobrir toda verdade.

JOCASTA
É para o seu bem que te aconselho.

ÉDIPO
Acredito... mas esses seus conselhos não me
ajudam!
JOCASTA
Infeliz! Tomara que você nunca descubra quem és!

ÉDIPO
(Aos Coreutas.) Afinal, vai, ou não vai, alguém
procurar esse morador ?

JOCASTA
infeliz! Eis o único título que te posso dar; e
nunca
mais te tratarei de outra forma!

Sai JOCASTA. Momento de silêncio.

O mundo é um moinho/Cartola (1976):


https://www.youtube.com/watch?v=dvpk1wL_zC8

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM

SEU VENCESLAU
É um senhor com traços indígenas, possui cabelo liso, grisalho e com um
comprimento médio, sem barba e com marcas de expressão em sua face devido
a idade.

Seu Matias chega, e Édipo questiona seu Venceslau que confirma ser ele que lhe entregou
a criança, Corifeu reafirma ser um morador antigo, interrogado sobre o fato ele diz não se
lembrar do acontecido. Como fazia muitos anos do acontecido seu Venceslau tenta
lembrá-lo, nervoso ele se exalta com o antigo conhecido e irrita Édipo que o ameaça se ele
não contar a verdade. Ele então conta que a criança foi abandonada em um lugar deserto
para não ser encontrada e morrer ali, e que antes tivesse deixado-o para encerrar as
vicissitudes de sua vida. Édipo insiste e inquirido sobre quem foi a pessoa que abandonou
tal criança, e responder ter sido Laio, que soube por outros que eles inventaram que criança
foi chamada cedo ao Orun, exatamente para evitar perguntas sobre nascimento.

Entra seu Matias


ÉDIPO
Você lembra de ter visto este homem?

SEU MATIAS
De quem você está falando?

ÉDIPO
Deste aqui, Já o encontrou alguma vez?

SEU MATIAS
Não posso responder já... Não me lembro bem…

SEU VENCESLAU
Isso não me surpreende, senhor! Ele não se
recordar, mas eu vou
reavivar sua lembrança. Nos conhecemos do antigo
campinho onde jogávamos bola, não foi isto mesmo?

SEU MATIAS
Certo... Mas isso foi já há muito tempo!

SEU VENCESLAU
Vejamos agora: lembra de ter me entregue uma
criança que foi abandonada por ali?

SEU MATIAS
O que? Por que me pergunta isso?

SEU VENCESLAU
Eis aqui, meu amigo, aquele que era então um
recém-nascido!

SEU MATIAS
Desgraçado! Por que não cala a boca ?

ÉDIPO
Não se irrite, meu velho! São as suas palavras, e
não as
dele, que merecem a nossa indignação.

SEU MATIAS
Que mal fiz eu?

ÉDIPO
Não respondeu sobre o que ele acaba de dizer

SEU MATIAS
Ele fala sem saber, e perde seu tempo.

ÉDIPO
Pois se não responder por bem, responderá à força!

SEU MATIAS
Eu te suplico, - não faça mal a um velho!

ÉDIPO
Que um de vocês amarre suas as mãos às costas!

SEU MATIAS
Que desgraçado que eu sou! Por que me faz isso? O
que quer saber?

ÉDIPO
A criança de quem ele se refere, tu lhe
entregaste?

SEU MATIAS
Sim! Melhor fora que nesse dia que eu morresse!

ÉDIPO
Pois é o que te acontecerá hoje, se não confessar
a verdade!

SEU MATIAS
Mas... com mais certeza ainda, se eu disser a
verdade, estou perdido!

ÉDIPO
Suas respostas não são objetivas.

SEU MATIAS
Não! Eu te disse, que realmente eu lhe dei a
criança.

ÉDIPO
E de quem você a recebeu? Era sua? Foi entregue
por alguém?

SEU MATIAS
Não... Não era minha... Eu a encontrei ...

ÉDIPO
Onde ele nasceu?

SEU MATIAS
eu te peço, não me pergunte mais nada!

ÉDIPO
Você é um homem morto se eu tiver que repetir essa
pergunta!...

SEU MATIAS
Pois bem! Aquele menino nasceu aqui!

ÉDIPO
Aqui onde? Era filho de quem?

SEU MATIAS
Ai de mim! Isso é horrível de dizer!

ÉDIPO
E para mim será horrível ouvir! Fala, pois! Assim
é preciso!

SEU MATIAS
Era filho de Laio, que ele dizia ter falecido
pouco tempo depois de seu nascimento.

ÉDIPO
Ele o abandonou ?

SEU MATIAS
Sim.

ÉDIPO
E para quê?

SEU MATIAS
Para que deixasse morrer.

ÉDIPO
Um pai fez isso! Que desgraçado!

SEU MATIAS
Assim fez, temendo a realização de revelações
terríveis...

ÉDIPO
Que revelações?

SEU MATIAS
Aquele menino deveria matar seu pai, assim diziam…

ÉDIPO
E por que motivo resolveu entregá-lo a este velho?

SEU MATIAS
De pena dele, senhor! Pensei que este homem o
levasse para sua
terra, para uma cidade distante... Mas ele o
salvou da morte para
maior desgraça! Porque, se é você quem ele diz,
sabe que você é o
mais infeliz dos homens!

ÉDIPO
Ai de mim! Tudo está claro! luz, que eu te veja
pela
derradeira vez! Todos sabem: tudo me era
interdito: ser filho de
quem sou, casar-me com quem me casei e eu matei
aquele a
quem eu não poderia matar!

Desatinado, ÉDIPO corre para casa,


a cena fica vazia por algum tempo.

Um homem também chora/ Gonzaguinha:


https://www.youtube.com/watch?v=u5Avvw1UyXI

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM


SEU MATIAS

Um senhor que tem o cabelo branco e curto, sem barba. Ele tem rugas da idade
e olheiras profundas de uma vida de trabalho.

Édipo vai para sua casa desolado e o samba dos três ritmistas novamente ecoa no
barracão tão melancólico quanto o último, quase lamentoso. Ao chegar em casa ele e
encontra Jocasta morta, ela que não poderia mais viver carregando o infortúnio do incesto.
O rádio estava ligado anunciando o minutos finais da copa do mundo que acontecia próximo
dali. Ao se deparar com a cena, em desespero ele retira as órbitas dos olhos para não ser
testemunha de suas desgraças, exatamente quando o Juiz apita o final do jogo. Onde havia
seus olhos, o vazio e no espaço do pequeno quarto o chiado do rádio reverbera o silêncio
do Maracanã, o Brasil perde o jogo, parecia que as duzentas mil pessoas que estavam no
estádio assistiam a cena no quarto, o silêncio toma conta de tudo.

Entra às pressas uma moradora na sala do barracão da escola, avisando que Jocasta havia
tirado a própria vida, Corifeu questiona o que havia acontecido, eles contam que ela estava
fora de si, chamava por Laio e lastimava sua dupla e criminosa geração, Édipo entrou no
quarto encontrando ela suspensa por uma corda que a estrangulava, já sem vida e em
completa amargura Édipo arranca os próprios olhos, a história deixa todos no barracão
perplexos.

Uma moradora entra ofegante no barracão


MORADORA
Tenho uma coisa difícil de dizer, como de ouvir:
Jocasta está morta

CORIFEU
O que?! Como ela morreu?

MORADORA
Ela se matou, e mais doloroso eu poupei vocês, mas
preciso dizer como ela sofreu, ele entrou em casa
alucinada arrancando os cabelo em desespero.
Depois fechou a porta e começou a chamar por Laio
, recordando a imagem do filho que ela teve há
tantos anos, o filho
que estava condenado a matar o pai. Estava a
lamentar-se no seu leito, onde dizia ter uma dupla
e criminosa geração. Como ela morreu, não sei
dizer. Pois Édipo entrou aos gritos com tal fúria
que não pude observar nada da janela. Ele entrou
no quarto e vimos Jocasta suspensa pela corda que
a estrangulava, diante dessa visão horrível, ele
começou a gritar e chorar, desamarrou a corda que
a sustentava e o corpo caiu no chão. Depois disso
tudo, Édipo tirou um canivete do bolso e com a
ponta arranca das órbitas os olhos, gritando:
"Não quero mais ser testemunha de minhas
desgraças, nem de meus crimes! Na treva, agora,
não mais verei aqueles a quem nunca deveria ter
visto, nem reconheceria aqueles que não quero mais
reconhecer!" Gritou e continuou a lacerar suas
pálpebras, de cuja o sangue rolava até o queixo e
não em gotas, apenas, mas jorrando.

CENÁRIO
QUARTO DE ÉDIPO E JOCASTAS

Com a adaptação da (drama) de Édipo Rei, para a década de 50, buscamos em


filmes de época, capa de álbuns de cantores que fizeram sucesso no período, e
imagens nas histórias de cada escola samba, imagens de origens do samba e
das favelas do Rio de Janeiro.

Para o cenário do quarto de Édipo Rei, onde a trama irá desenrolar e revelar a
história, e inspirações para as composições do samba enredo, para a escola que
ele faz parte, pensamos nos seguintes em trazer um quarto simples, com poucos
objetos, com alguns buracos em sua casa, com uma estante e uma cama em
seu quarto. Buscamos inspiração do compositor e um dos maiores sambistas, o
Angenor de Oliveira ou Cartola como é conhecido por muitos, crescido no bairro
das laranjeiras e após uma crise financeira, fez com que ele mudasse para o
Morro da Mangueira, morador de comunidade Cartola ingressou e criou o samba
enredo da escola de samba Estação Primeira de Mangueira.

Usamos como referência o quarto de cartola, pois ele tem uma história bem
parecida com nosso personagem, e por mostrar a simplicidade de um morador
de comunidade como na imagem abaixo.
FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM
MORADORA
Uma mulher que mora na vizinhança. Tem os cabelos enrolados e curto. Usa uma
maquiagem bem leve e natural, mas usa um batom vermelho para dar uma realçada nos
lábios. Colocamos de referência a atriz, Ruth de Souza para representar um pouco as
mulheres negras daquela época, sendo brasileira e fazendo ótimos papéis

Édipo entra na sala ferido a lamentar-se, e começa uma conversa com Corifeu sobre seus
atos e as consequências deles, Corifeu não consegue sequer olhá-lo devido ao horror
causado pelas suas chagas, lhe afirma que preferia nunca ter lhe conhecido e argumenta se
não era preferível que morresse ao ficar cego. Creonte entra no barracão e diz a Édipo que
não lhe insultaria e julgaria, mas pede que ele não se exiba sem um manto, que se reserve
apenas ao âmbito familiar e lhe avisa que consultaria os búzios para entender qual seria a
melhor decisão a tomar sobre todas as circunstâncias.

Édipo lhe pede que sepulte Jocasta e o deixe em qualquer lugar abandonado para morrer,
como assim queriam seus pais biológicos e como último pedido que proteja suas filhas mais
que os meninos, pois elas sofrerão as consequências por serem filhas de quem são, ele
então escuta aos poucos o choro das crianças. Creonte pede que os moradores entrem
com as meninas Antígona e Ismênia, emocionado Édipo chora e as abraça lamuriando-se
as tragédias de sua vida, e suplica ao cunhado que não deixe suas filhas em desamparo,
todos saem sala em direção a casa. Corifeu anuncia a escola que Édipo deixava ali de ser
presidente da escola.

Entra ÉDIPO, ensangüentado, e com os olhos vazados

CORIFEU
Que sofrimento! É a coisa mais horrível que jamais
presenciei em minha vida, que loucura caiu sobre
ti? esmagando os males que ultrapassam a dor
humana? Não consigo se quer vê-lo

ÉDIPO
(Caminhando sem rumo certo.) Pobre de mim! Para
onde irei?
Para que lugar? Onde se fará ouvir a minha voz?
meu destino,
quando acabarás de uma vez?!...
Entra CREONTE
CREONTE
Não venho aqui para te insultar, Édipo, nem para
censurar teus erros. Mas em consideração ao povo
desta escola lhe peço que não se exiba sem um
manto e se restrinja ao convívio somente dos seu
familiares, somente neles haverá sentimento de
piedade para te ver e ouvir.

ÉDIPO
Em nome dos orixás! Contrariou minhas expectativas
e se mostra generoso comigo, o maior dos
criminosos, preciso conversar com você.

CREONTE
O que quer de mim?

ÉDIPO
Me manda para fora da cidade o mais rápido
possível! Para um
lugar onde ninguém me veja, nem possa dirigir a
palavra a nenhum ser
humano!

CREONTE
Eu já teria agido assim, mas decidi consultar os
búzios.

ÉDIPO
Mas a resposta é perfeitamente conhecida; é
urgente matar.

CREONTE
Sim; é o que se diz... mas na situação em que nos
achamos, é melhor
saber exatamente o que se deve fazer.

ÉDIPO
Resolveu, então, consultar os búzios por causa de
um miserável?

CREONTE
E desta vez você haverá de dar crédito à sua
resposta!

ÉDIPO
Pois bem: eu te peço agora que sepulte Jocasta,
sendo ela sua irmã terás piedade. Me leve para
morrer em algum lugar deserto, como assim queriam
meus pais. Quanto a meus filhos, Creonte, não se
preocupes com os rapazes; são homens, e, onde quer
que estejam,eles darão um jeito. Mas, de minhas
infelizes filhas, tão dignas de piedade, para
quem nunca foi posta a mesa sem que eu estivesse
ao lado, e que de minhas mãos recebiam sempre um
pouco do alimento que para mim se preparava, tem
pena delas, eu te peço, e consente que eu ainda as
acaricie com estas mãos, Tocando-lhes com as mãos,
eu acreditarei que as vejo, como no tempo em que
as via realmente...
Mas... o que estou dizendo? Consigo ouvir, o
choro de minhas
filhas!... Creonte, foi de pena de mim que mandou
chamar minhas
filhas?

CREONTE
Sim... fui eu que as mandei chamar; compreendi o
seu desejo,
e que tanto te preocupa.

Entram ANTÍGONA e ISMÊNIA, muito jovens, conduzidas por


uma moradora.
Elas se aproximavam do pai.
ÉDIPO
Ora! Creonte! Porque mandou trazê-las aqui , que
os
orixás te protejam, mais do que a mim! Onde vocês
estão, minhas
filhinhas? Venha até a estas mãos... fraternas!
Foram
elas que, como veem , privaram de luz os olhos,
antes tão brilhantes,
de vosso pai! Te peço Creonte não deixe que
estas meninas sejam obrigadas a vaguear,
mendigando; não consinta
que sua desgraça se agrave em conseqüência da
minha. E vocês, minhas filhas, se me puder
compreender, eu daria conselhos; procure sempre
ter uma existência
mais feliz do que a de vosso pai, onde quer que
possa viver!

CREONTE
Já chorou demais; volte para casa!

ÉDIPO
Sou forçado a te obedecer

CREONTE
Tudo aquilo que se faz a tempo, dá bom resultado.

(...)

CORIFEU
Ao povo dessa comunidade, Édipo que ajudou essa
escola outrora hoje não é mais o Presidente dela.
Com o poder que construiu aqui, quem não teria
inveja? Hoje sofre as desgraças por fugir do seu
destino. Assim, não consideremos feliz nenhum ser
humano, enquanto ele não tiver atingido, sem
sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua
vida.

Juízo Final/Nelson Cavaquinho: https://www.youtube.com/watch?v=lU8j7lj4RdU

FIGURINO | CABELO | MAQUIAGEM


ANTÍGONA

ISMÊNIA
As filhas de Édipo e Jocasta, são crianças então não há necessidade de maquiagem. O
cabelo é usado com penteados simples do dia a dia, como tranças ou maria chiquinha.

ÉDIPO

Para o Édipo uma maquiagem de efeito nos olhos que fazem parecer que foram
arrancados. É feito de forma simples, onde o maquiador coloca uma camada fina de pele
falsa ao redor dos olhos, depois preenche bem toda essa região dos olhos com maquiagem
preta e passa sangue falso ao redor deixando escorrer um pouco.

Descrição dos personagens


Três Ritmistas/Coro [homens negros de meia idade 45,48,50 anos, estatura mediana]
Presidente da escola/ Édipo [negro, 32 anos, magro, alto]
Esposa/Jocasta [negra, 48 anos, magra e baixa]
Cunhado/Creontes [negro, 40 anos, baixo]
Ex-presidente da escola /Laio - [Alto, Negro e Forte, 47 anos] * Não aparece
Dona Taiwo/Tirésias [negra, baixa, idosa]
Seu Matias /Servo [branco, baixo, idoso]
Seu Venceslau/Mensageiro [indígena, alto, idoso]
Amigo da Família e componente da escola/ Corifeu [branco, estatura mediana, 38 anos]
Moradora/Emissário
Antígona e Ismênia [Negras, 5 e 3 anos]

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