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A arquitetura moderna
Fig.5. Casa Milá (1905-1910 de Gaudí, Barcelona. Fig.6. Escadaria da Casa Milá.
Nos Estados Unidos, os trabalhos de Louis Sullivan (1850-1924) apontavam
para uma nova direção, de tal forma que ele pode ser considerado o pai da
moderna arquitetura americana. Apesar de ter utilizado uma ornamentação muito
próxima do Art Nouveau europeu, foi Sullivan quem propôs o princípio
fundamental da arquitetura segundo o qual "a forma segue a função". Assim, para
ele, os edifícios devem ser projetados de tal forma que realizem uma perfeita
adequação do espaço à função a que se destina.
Essa visão prática da arquitetura proposta por Sullivan teve grande aceitação
nos Estados Unidos. Aí vários projetos seus foram executados, principalmente
para os prédios de escritório e conjuntos comerciais das grandes cidades
americanas.
A arquitetura do século XX
O movimento Art Nouveau que, no final do século XIX teve o mérito de romper
com as formas tradicionais de construção, muito cedo se transformou num estilo
com excessos ornamentais e foi superado por uma nova tendência arquitetônica
denominada racionalismo. Mais tarde, a Bauhaus, a arquitetura orgânica e a
planta livre de Le Corbusier deram novos rumos à arquitetura deste século.
A arquitetura racionalista
Na Europa, a obra de Adolf Loos (1870-1933), por exemplo, pode ser
considerada representante dessa nova tendência. A Casa da Michaelerplatz
(fig.7), construída em Viena (Áustria), concretiza perfeitamente a intenção de
negar toda ornamentação e de tornar evidente a praticidade e a destinação social
do edifício.
Na América, essa concepção racionalista toma forma nos modernos arranha-
céus, criação típica dos Estados Unidos, que posteriormente se espalha por todas
as grandes metrópoles do século XX.
Essas construções, muito altas, tornaram-se possíveis graças a um progresso
técnico: a estrutura dos edifícios passou a ser feita em ferro e, consequentemente,
as paredes laterais perderam a função de sustentar o teto.
Fig.7. Casa de Michaelerplatz (1910), de Adolf Loos. Viena.
O início da era dos arranha-céus pode ser situado em 1932, com o edifício
PSFS, de William Lescaze e George Howe, na Filadélfia. Mas são os arranha-
céus projetados vinte anos mais tarde por Mies Van der Rohe, Skidmore, Owings
e Merrill que melhor exemplificam esse tipo de construção, pois têm um aspecto
totalmente novo que em nada lembram o que já fora feito anteriormente.
Mies Van der Rohe, famoso por seus edifícios de Chicago projetados como
altos prismas revestidos de vidro, também realizou obras de linhas horizontais e
de pouca altura como a Galeria do Século XX, construída entre 1962 e 1968, em
Berlim.
Walter Gropius e a Bauhaus
Com o arquiteto alemão Walter Gropius (1883-1969) têm início novos tempos
para a arquitetura moderna, principalmente por causa da sua iniciativa em criar a
escola Bauhaus, em 1919, na cidade alemã de Weimar. Esta escola foi um
verdadeiro centro irradiador de novas ideias no campo da arquitetura, do
urbanismo, da estética industrial e do próprio ensino da arte.
Para Gropius, nas escolas de arte não deveria existir uma rígida separação
entre as chamadas "belas-artes" e as "artes decorativas", ou seja, as que
produziam objetos para a vida diária. Ao contrário, defendia a existência de uma
única arte, a arte do século XX, que se caracterizaria por sua utilidade social.
Segundo o crítico Michel Ragon, o objetivo da Bauhaus era "reunir pintura,
escultura, arquitetura, desenho industrial, numa mesma ação; reconciliar as artes
e os ofícios, as artes e a técnica".
Em síntese, a Bauhaus propunha a integração da arte na indústria. Gropius
entendia que a arte devia superar a fase artesanal e servir-se dos meios de
produção industrial para ser uma atividade adequada ao modo de vida do século
XX.
O programa de ensino da Bauhaus possuía um acentuado caráter prático, cujo
objetivo era levar os alunos a dominar as possibilidades de materiais como a
pedra, a madeira, o metal, a argila, o vidro e as tintas. Essa aprendizagem era
complementada por noções de previsão de custo e orçamento de uma obra.
Apesar disso, não se descuidava do estudo convencional da natureza, da
geometria, do desenho, dos volumes e das cores.
Desse modo, era evidente que havia na escola a intenção de dar uma
formação completa para os alunos. Mas seu objetivo maior era adquirir uma
respeitabilidade que lhe permitisse influir no trabalho dos desenhistas que criavam
os modelos dos objetos da vida cotidiana industrializados no país.
Em 1926, a escola mudou-se para Dessau e aí continuou a existir como um
centro de artes e ofícios, cuja atenção especial estava voltada para os projetos
que poderiam ser produzidos pelas indústrias (fig.8).
Fig.8. Peça de mobiliário projetada pela Peça de mobiliário projetada pela
Bauhaus. (Marcel Breuer) Bauhaus. (Marcel Breuer)
Desde o início a Bauhaus contou com a colaboração de diversos artistas
plásticos. Mas em 1926 reuniu-se, ao lado de Gropius, um grupo de mestres
famosos, como Moholy-Nagy, Breuer, Kandinsky, Paul Klee e Schlemmer.
Apesar de ter existido durante tempos difíceis - de 1919, quando foi fundada,
até 1933, quando foi dissolvida - e passado por três sedes em três diferentes
cidades alemãs (Weimar, Dessau e Berlim), o espírito criativo e inovador da
Bauhaus permaneceu atuante. Parece que as palavras de Gropius afirmando que
"a Bauhaus não pretende criar um estilo, mas fomentar um processo em contínua
evolução" ainda hoje encontram eco nos projetos elaborados nos ateliês de
desenho industrial do mundo todo.
Frank Lloyd Wright e a arquitetura orgânica
Fig.10. Vista parcial da Vila Savoy, de Le Corbusier. Observa-se o uso de pilotis e a integração do ambiente
interno com a natureza por meio de amplas paredes de vidro. Poissy, França.
Jardineiro francês descobre material que revoluciona a arte de construir
O concreto armado, que provocou uma grande revolução na arte de construir, foi
descoberto por acaso, em 1868, por Monier, um jardineiro francês que, em busca de
um material mais resistente para a execução de seus vasos, passou a combinar
cimento e ferro. Utilizado na construção esse material permitiu aos arquitetos
projetarem edifícios com as formas mais arrojadas que a história já registrou. Estudos
desenvolvidos a respeito do concreto armado revelaram suas enormes possibilidades.
A maior vantagem está na resistência que apresenta, resultante da combinação dos
dois materiais empregados: o concreto - uma mistura de cimento, água, areia e pedra
– suporta de forma notável o esforço de compressão; o ferro, por sua vez, é
extremamente resistente à distensão.
Assim, a técnica do concreto armado consiste em projetar peças adequadas a cada
situação, de modo racional e econômico. Se as peças fossem fabricadas totalmente
em ferro, os problemas poderiam estar resolvidos, mas de forma muito dispendiosa, já
que o ferro é multo caro; se elas fossem só de concreto não suportariam grandes
forças, principalmente as de tração.
O concreto armado, graças a sua flexibilidade, solidez e resistência, possibilitou formas
de construção perseguidas pelos arquitetos desde a Antiguidade: os arcos puderam
ser projetados com vãos Imensos, as abóbadas adquiriram proporções fantásticas e
os tetos planos alcançaram dimensões enormes, sem que fosse necessária uma única
coluna de sustentação.
Um exemplo disso é o Museu de Arte de São Paulo (fig.11), da arquiteta Lina Bo Bardi.
O vão entre as quatro colunas que sustentam o prédio chega a ter 80 metros.
Fig.11. Museu de Arte de São Paulo.
A construção separada do solo por meio de pilotis, o jardim passando por baixo
da casa e o sistema de janelas horizontais são as características mais marcantes
da arquitetura de Le Corbusier.
É importante assinalar que construções desse tipo só se tornaram possíveis
por causa da invenção do concreto armado.
Mas foi em 1954, quando trabalhou na realização do projeto para a construção
da nova capital do Punjab, que Le Corbusier teve oportunidade de apresentar suas
propostas para uma nova linguagem arquitetônica e urbanística. Uma cidade
moderna, segundo Le Corbusier, deve integrar perfeitamente sua arquitetura e
sua urbanização. Assim, os espaços devem ser claramente definidos e, por isso,
propõe a separação dos centros residenciais dos setores administrativos e
políticos, a reunião das áreas de lazer em um vale e o traçado de grandes artérias
retilíneas para o tráfego, de tal forma que não apresente os problemas das
metrópoles que crescem desordenadamente.
Essas ideias de Le Corbusier exerceram forte influência na arquitetura
moderna brasileira, principalmente nos projetos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer
para a construção de Brasília. Mas, no Brasil, o uso dos materiais locais, as
soluções encontradas por nossos arquitetos e a experiência arquitetônica
armazenada desde o barroco, principalmente o mineiro, deu à nova arquitetura
brasileira uma plasticidade vigorosa e desconhecida dos europeus, como veremos
quando tratarmos especificamente de nosso país.
Atualmente, a arquitetura desenvolve-se em muitas direções que procuram
refletir de algum modo as feições das sociedades contemporâneas. Entre os
arquitetos mais recentes estão os japoneses Arata Isozati, Kenzo Tange e Noriaki
Kurokawa, este último criador do Pavilhão Takara (fig.12) e do Pavilhão Toshiba
IHI, ambos para a Expo 1970, em Osaka.
Além desses arquitetos, é importante mencionar ainda Richard Rogers e
Renzo Piano, idealizadores do Centro Pompidou, em Paris; Jörn Utzon, criador do
Teatro da Ópera de Sidney, na Austrália (fig.13); e Charles Moore, que fez o
projeto Piazza d'Itália, para New Orléans, nos Estados Unidos, (fig.14)
Fig.12. Pavilhão Takara, de Noriaki Kurokawa. Este pavilhão concebido por Kurokawa para a Expo 1970, de
Osaka, é composto por elementos pré-fabricados.
Fig.12. Pavilhão Takara, de Noriaki Kurokawa. Este pavilhão concebido por Kurokawa para a Expo 1970, de
Osaka, é composto por elementos pré-fabricados.
Fig.13. Teatro da ópera de Sidney (1965), de Jörn Utzon.
Fig.13. Teatro da ópera de Sidney (1965), de Jörn Utzon
(Fig.14). Piazza d'Itália, de Charles Moore, New Orléans, nos Estados Unidos.
Um milagre do concreto armado: prédios acima do solo e sem paredes
O concreto armado possibilitou a construção de lajes extensas e planas,
assentadas sobre um número reduzido de pilares Com Isso, a aparência dos
edifícios sofreu profundas alterações.
A primeira delas foi o surgimento dos pilotis - conjunto de pilares que
sustentam o prédio, deixando-o elevado em relação ao solo e permitindo a
utilização da área do terreno em que foi construído.
Outra grande mudança foi o surgimento de estruturas totalmente
independentes das paredes. Com isso, as paredes deixaram de ter a função
de apoiar e sustentar a construção. Elas são agora destinadas apenas à
proteção contra a chuva, o vento e o sol e à divisão dos ambientes, pois a
estrutura do prédio é formada por lajes apoiadas em colunas.
As lajes puderam também ser aumentadas além dos pilares de
sustentação, que passaram a ficar no interior das construções e não mais
encaixados nas paredes externas (fig.15). Isso possibilitou aos arquitetos
abandonarem as fachadas de alvenaria de tijolos com pequenas aberturas
para as janelas, e empregarem um material muito mais leve e frágil: o vidro
(fig.16).
Fig.15. Esquema de um prédio com colunas independentes
(Fig.16). O edifício-sede da Procuradoria-Geral da República foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, A
obra estava prevista no projeto original do urbanista Lúcio Costa desde a fundação de Brasília, em 1960, mas
só foi iniciada em 1996 e inaugurada em 2002. O complexo tem uma área total de 71.873,73m².
As tendências da escultura moderna
Fig.18. O Beijo (1908), de Brancusi. Altura: 58 cm. Museu Fig.19. O Beijo (1901-1904), de Rodin. Altura = 180 cm.
de Arte, Filadélfia Tate Gallery, Londres.
A superfície de suas obras em mármore ou metal recebia primoroso
polimento, de modo a refletir os efeitos luminosos, que acabavam
despertando sensações táteis no observador. Com isso, os trabalhos de
Brancusi superam a tradicional concepção de que a escultura é uma arte
que se destina apenas à visão (fig.20).
É preciso lembrar também que uma das características gerais da
escultura moderna foi a pesquisa de novos materiais, do espaço, da
transparência, da abstração, do movimento, da luz e da cor.
Desses elementos, chama-nos a atenção o valor plástico adquirido pelo
espaço na escultura. Isso foi conseguido por meio de aberturas na massa
escultórica. Essa inovação foi realmente revolucionária, pois a escultura -
que tem por objeto a criação de volumes - incorporou nela própria o vazio,
que é exatamente o oposto do volume. E o mais interessante é que esses
espaços passaram a ter a mesma função expressiva das superfícies
maciças (fig.21/21.1).
Fig.20. Princesse X, de Brancusi. Fig.21. Forma Interna e Externa Fig.21.1. Melancolia. Albert György.
Museu Nacional de Arte Moderna, (1950), de Henri Moore. Margens do lago de Genebra. Suíça.
Paris Offentliche Kunstsammlung,
Basiléia