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Capítulo 25

A arquitetura e
a escutura
modernos
Os novos materiais produzidos pelas indústrias, como o ferro , o
vidro, o cimento e o alumínio, foram a principal contribuição para o
nascimento da arquitetura moderna, pois permitiram a criação de no-
vas formas arquitetônicas que, no período anterior à industrialização,
só podiam ser imaginadas.
Na escultura, o traço marcante são as formas abstratas e a inte-
gração entre espaço, movimento, luz e até mesmo som. Na verdade,
isso é um reflexo da tendência de síntese que caracteriza as artes e do
contato dos artistas com a realidade da era eletrônica e espacial que vi-
vemos atualmente.

A metadePodemos dizer que a arquitetura moderna teve início na segunda


do século XIX, quando apareceram as primeiras grandes cons-
arquitetura vas
truções com estrutura metálica, que constituíam formas totalmente no-
em relação ao que se fazia no passado. Como exemplo podemos in-
moderna posiçãoo Crystal
~
clicar Palace (fig. 25.1 ), projetado por Joseph Paxton para a Ex-
de Londres realizada em 1851, e a Torre Eif.fel (fig. 25.2), proje-
tada por A. G. Eiffel em 1889.
172 A arte no mundo ocidental

Fig. 25.1. Crystal Palau (1851), de Fig. 25.2. Torrt Eijfel (1889),
.Joseph Paxton . Londres. de Eiffcl. Paris.

O Art Nouveau na arquitetura:


a procura de novas formas
Como vimos anteriormente, o movimento Art Nouveau procurou
promover uma integração entre as chamadas artes aplicadas e a arqui-
tetura. Na arquitetura, mantendo a tendência decorativista que aplica-
ra nos objetos do cotidiano, o principal mérito desse movimento foi com-
preender que com o ferro e o vidro era possível criar formas novas.
Mas o Art Nouveau deu origem também a pesquisas em direçõe
diversas na arte de construir. Na Bélgica, por exemplo, Henri van de Vtl-
de (1863-1957) e Victor Horta (1861-1947) - dois arquitetos empenha-
dos em dar à arquitetura uma feição moderna, independente da reto-
mada de qualquer tendência já existente - desenvolveram trabalhos di-
ferentes.
Enquanto Van de V elde proje-
tou edifícios simples mas que não
eram imitação das formas preexisten-
tes, Victor Horta deu nova vitalida-
de para a arquitetura ao empregar
amplamente o ferro e o vidro em edi-
fícios que projetou para Bruxelas. Por
exemplo, usou o ferro em linhas sinuo-
sas e com clara intenção decorativis-
ta nas grades dos corrimãos de esca-
das, como a da casa da Rua Turim
e a do Hotel Solvay (fig. 25.3). Já no
Fig. 25.3. Interior projeto conhecido como Casa do Poi·o
da Casa Tassel, Victor Horta usou grandes vitrais e
de Victor Horta. ferro aparente na cobertura interna do
Bruxelas. edifício.
\ A arquitetura e o esculturo modernos 173

J
/

Fig. 25.4.
Entrada de uma
das estações do
rnetrô em Paris.
>rojeto dt' Hcctor
Cuimard.

Na França, o emprego do ferro e do vidro levou a um excessivo


floralismo decorativista, cujo exemplo mais claro são as conhecidas en-
tradas do metrô parisiense, projetadas por Hector Guimard ( 1867-1942),
um dos mais importantes arquitetos franceses ligados ao Art-Nouveau
(fig. 25.4).
Na Espanha, essa busca de novas formas que caracterizou a ar-
quitetura do final do século XIX e início do século XX ganhou um ca-
Fig. 25.5. Cas. ráter decorativista e fantasioso sem limites. Em Barcelona, a Casa Bat-
fzlá ( 1905-191 O) tló, a Casa Milá, o Parque Güell e a Igreja da Sagrada Família - obras do
de Gaudí arquiteto Antonio Gaudz' (1852-1926) - surpreendem pelo inusitado das
Barcelona formas e pela decoração (figs. 25.5 e 25.6).

Fig. 25.6.
E5cadaria da
Casa Milá, de
Gaudí.
Barcelona
174 A arte no mundo ocidental

Nos Estados Unidos, os trabalhos de Louis Sullivan ( 1850-1924) apon-


tavam para uma nova direção, de tal forma que ele pode ser considera-
do o pai da moderna arquitetura americana. Apesar de ter utilizado uma
ornamentação muito próxima do Art Nouveau europeu, foi Sullivan
quem propôs o princípio fundamental da arquitetura segundo o qual
"a forma segue a função". Assim, para ele, os edificios devem ser pro-
jetados de tal forma que realizem uma perfeita adequação do espaço à
função a que se destina.
Essa visão prática da arquitetura proposta por Sullivan teve gran-
de aceitação nos Estados Unidas. Aí vários proj~tos seus foram execu-
tados, principalmente para os prédios de escritório e conjuntos comer-
ciais das grandes cidades americanas.

A arquitetura do século XX
O movimento Art Nouveau que, no final do século XIX teve o
mérito de romper com as formas tradicionais de construção, muito ce-
do se transformou num estilo com excessos ornamentais e foi superado
por uma nova tendência arquitetônica denominada racionalismo. Mais
tarde, a Bauhaus, a arquitetura ôrganica e a planta livre de Le Corbu-
sier deram novos rumos à arquitetura deste século.

A arquitetura racionalista
Na Europa, a obra de Adolf Laos (1870-1933), por exemplo, pode
ser considerada representante dessa nova tendência. A Casa da Michae-
lerplatz (fig. 25. 7), construída em Viena, concretiza perfeitamente a in-
tenção de negar toda ornamentação e de tornar evidente a praticidade
e a destinação social do edificio.
Na América, essa concepção racionalista toma forma nos moder-
nos arranha-céus, criação típica dos Estados Unidos, que posteriormente
se espalha por todas as grandes metrópoles do século XX.
Fig. 25. 7. Casa da Essas construções, muito altas, tornaram-se possíveis graças a um
/Yfichaelerplatz progresso técnico: a estrutura dos edificios passou a ser feita em ferro.
( 1910), de Adolf e, conseqüentemente, as paredes laterais perderam a função de susten-
Loos. Viena tar o teto.
O início da era dos arranha-céus pode ser
situado em 1932, com o edifício PSF, de Wi.'·
liam Lescaze e George Howe, na Filadélfia. Ma.
são os arranha-céus projetados vinte anos ma1
tarde por Mies uan der Rohe, Skidmore, Owings 1
Merrill que melhor exemplificam esse tipo d ·
construção, pois têm um aspecto totalmente no-
vo que em nada lembram o que já fora feito an-
teriormente.
Mies van der Rohe, famoso por seus ed1-
ficios de Chicago projetados como altos prismas
revestidos de vidro, também realizou obras de
linhas horizontais e de pouca altura como a Ga-
leria do Século XX, construída entre 1962 e 1968,
em Berlim.
A arquitetura e a escultura modernas 177

O espaço não é mais pensado apenas em função de


Jardineiro fronc.. descobre sua praticidade, como era comum nos prédios de apar-
material que revoluclona a arte
de construir tamentos ou nos conjuntos comerciais criados pela arqui-
tetura funcional. A arquitetura orgânica deixou de lado
Oconcreto armado. que provo- o princípio "a forma segue a função" para seguir outro,
cou uma grande revoluçôo na ar· proposto por Wright: "a forma deve ser baseada no es-
te de construir. foi descoberto por paço em movimento''. Por isso, as construções orgâni-
ocaso. em 1868. por Monler. um jor· cas mais famosas são residências individuais, pois per-
dineiro francês que. em busca de
um material mais resistente poro a
mitiam ao arquiteto maior liberdade de criação, já que
execuçõo de seus vasos, passou o ele não precisava projetar uma série de espaços iguais,
combinar cimento e ferro. Utlllzodo como nos grandes arranha-céus, mas podia criar espa-
na construçõo esse material perml· ços desiguais harmônicos e de linhas dinâmicas.
tiu aos arquitetos projetarem edlfi· Dentre os edifícios construídos segundo os princí-
cios com as formos mais arrojadas pios orgânicos, o mais conhecido é a Falling Water (Casa
que a história jô reglstrou. da Cascata), projetada por Wright e construída em 1936,
Estudos desenvolvidos a respel·
to do concreto armado revelaram na Pensilvânia (fig. 25.9).
suas enormes possibilidades. A Frank Lloyd Wright, importante por outras obras
maior vantagem estô na resistência inovadoras, como as Oficinasjohnson, em Racine, e o Museu
que apresenta. resultante da com· Guggenhez'm , em Nova York, influenciou outros arquite-
blnaçôo dos dois materiais empre· tos, como Alvar Aalto e Mattew Nowicki, que também pro-
godos: o concreto - uma misturo jetaram edifícios de linhas dinâmicas, que apresentavam
de cimento. ôguo, areia e pedra - uma grande liberdade na concepção do espaço.
suporta de forma notôvel o esforço
de compressôo; o ferro, por suo
vez, é extremamente resistente ô Le Corbusier e a planta livre
distensõo. Le Corbusier (1887-1965), cujo verdadeiro nome
Assim, a técnica do concreto ar·
era Charles-Edouardjeanneret, aos 28 anos já era autor
modo consiste em projetor peças
adequadas a cada sltuoçôo, de de projetos para casas em série. Mas foi com as obras
modo racional e econômlco. Se os Vila Savoy, em Poissy, e o Pavilhão Suíço, na Cidade Uni-
peços tossem fabricados totolmen· versitária de Paris, que se colocou entre os mestres da
te em ferro, os problemas poderiam arquitetura moderna (fig. 25 . 10).
estar resolvidos. mos de forma mui·
to dispendioso, jô que o ferro é mui·
to coro: se elos fossem só de con·
ereto. nõo suportariam grandes for·
ças. principalmente os de traçõo.
O concreto armado, graças ô
suo flexibllldade, solidez e reslstén·
eia. possibilitou formas de constru·
çõo perseguidas pelos arquitetos
desde a Antiguidade: os arcos pu·
deram ser projetados com voos
imensos. os abóbadas adquiriram
proporções fontôsticas e os tetos
planos alcançaram dimensões
enormes. sem que fosse necessôrio
uma única coluna de sustentoçõo.
Jm exemplo disso é o Museu de Ar·
•e de Sõo Paulo (fig. 36,10). da ar·
Fig. 25.10. Vista p<-1rcial ela Vila Savoy, de Ll'
quiteto Una Bo Bardl Ovoo entre as
Corbusicl'. Observa-se o uso ele pilurb e a inicgra~·ão cio
quatro colunas que sustentam o
prêdlo chega a ter 80 metros. ambicntt' interno co111 a nacurc::t.a por nH·iu ck amplas
paredes de vidro. Poiss>', França.
i78 A arte no mundo ocidental

No seu trabalho em Poissy - a Vila Savoy - , já aparecem seus


famosos pilotis - um conjunto de colunas que sustentam as edificações,
deixando uma área livre para circulação.
A construção separada do solo por meio de pilotis, o jardim pas-
sando por baixo da casa e o sistema de janelas horizontais são as carac-
terísticas mais marcantes da arquitetura de Le Corbusier. É importante
assinalar que construções desse tipo só se tornaram possíveis por causa
da invenção do concreto armado.
Mas foi em 1954, quando trabalhou na realização do projeto para
a construção da nova capital do Punjab, que Le Corbusier teve oportu-
nidade de apresentar suas propostas para uma nova linguagem arquite-
tônica e urbanística. Uma cidade moderna, segundo Le Corbusier.
deve integrar perfeitamente sua arquitetura e sua urba-
nização. Assim, os espaços devem ser claramente defini-
dos e, por isso, propõe a separação dos centros residen-
Um milagre do concreto ciais dos setores administrativos e políticos, a reunião das
armado: prédios acima do solo
e sem paredes áreas de lazer em um vale e o traçado de grandes arté-
rias retilíneas para o tráfego, de tal forma que não apre-
Oconcreto armado possibilitou sente os problemas das metrópoles que crescem desorde-
a construçõo de lajes extensas e nadamente.
planas. assentadas sobre um nú-
mero reduzido de pilares. Com isso. Essas idéias de Le Corbusier exerceram forte in-
a aparência dos edifícios sofreu fluência na arquitetura moderna brasileira, principalmen-
profundas alterações te nos projetos de Lúcio Costa e Oscar Niemeycr para
A primeira delasfoi o surgimen- a construção de Brasília. Mas, no Brasil, o uso dos ma-
to dos pilotis - conjunto de pilares teriais locais, as soluções encontradas por nossos arqui-
que sustentam o prédio, deixando- tetos e a experiência arquitetônica armazenada desde o
º elevado em relação ao solo e
barroco, principalmente o mineiro, deu à nova arquite-
permitindo a utilização da área do
terreno em que foi construído. tura brasileira uma plasticidade vigorosa e desconhecida
Outra grande mudança foi o dos europeus, como vt"remos quando tratarmos especifi-
surgimento de estruturas totalmen- camente de nosso país.
te independentes das paredes. Atualmente, a
Com isso. as paredes deixaram de arquitetura desen-
ter a função de apoiar e sustentar volve-se em muitas
a construção. Elas são agora desti-
nadas apenas à proteção contra a direções que procu-
chuva. o vento e o sol e à divisão ram refletir de algum
dos ambientes. pois a estrutura do modo as feições das
prédio é formada por lajes apoia- sociedades contem-
das em colunas. porâneas. Entre os
As lajes puderam também ser arquitetos mais re-
aumentadas além dos pilares de
sustentaçõo, que passaram a ficar centes estão os japo-
no inte·nor das construções e nõo neses Arata Isozati,
mais encaixados nas paredes ex- Kenzo Tange e Noria-
ternas (fig. 25.11). Isso possibilitou ki Kurokawa, este úl-
aos arquitetos abandonarem as fa-
chadasde alvenaria de tijolos, com
pequenas aberturas para as jane- Fig. 25.11.
las, e empregarem um material Esquema de um
muito mais leve e frágil: o vidro (fig. prédio com
25.12). colunas
independentes.

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