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Primeiros estilos internacionais em Portugal

Este capítulo pretende introduzir a inserção de estilos internacionais em Portugal procurando


perceber a maneira como influenciaram a arquitetura da década de 20, com ênfase também nos
arquitetos da época que contribuíram para tal.

A década entre 1920 e 1930, em vários níveis, foi marcada pelo surgimento dos movimentos
artísticos e arquitetónicos da Arte Nova (Art Nouveau) e Art Déco, que desafiaram as convenções
estilísticas predominantes e influenciaram profundamente o panorama artístico e arquitetónico
nacional. A Arte Nova, nascida na França e na Bélgica, emergiu como um grito de liberdade contra o
historicismo e o ecletismo que dominaram a arquitetura e as artes decorativas do século XIX, que
rapidamente se espalhou pela Europa com variadas adaptações em cada país. Em contraste, o estilo
Art Déco surgiu após a Primeira Guerra Mundial, e foi popularizado na Exposição Internacional de
Artes Decorativas e Industriais de Paris em 1925, o que contribuiu para a sua influência na Europa,
não só a nível de arquitetura, mas também no design de objetos e produtos quotidianos.

Arte Nova e Art Déco

Falando de questões formais, a Arte Nova é caracterizada pelas suas formas orgânicas,
assimetria, e sobretudo a ênfase na natureza, de modo a procurar uma certa originalidade e uma
fuga aos padrões convencionais. Os edifícios mostram-se com linhas curvas, frequentemente como
imitação da flora e da fauna, e são adornados com uma rica ornamentação que inclui vitrais
coloridos, ferro forjado e padrões sinuosos. As cores desempenham um papel fundamental,
apresentando uma paleta vibrante e alegre. Além disso, a tipografia estilizada era frequentemente
usada em elementos decorativos. Por outro lado, o estilo Art Déco era notável pela sua ênfase na
geometria, simetria e no uso de materiais luxuosos. As estruturas apresentavam linhas retas e formas
geométricas, frequentemente a incorporar mármore, granito e cromados. Os elementos decorativos
incluíam esculturas, padrões de zigurate e elementos industriais. A paleta de cores tendia a ser mais
moderada, com tons de preto, branco e prata, frequentemente contrastando de uma maneira
ousada.

Marques da Silva

José Marques da Silva, um importante arquiteto português da época, foi influenciado tanto
pela Arte Nova como pelo Art Déco na sua arquitetura. Ele era conhecido por ser um dos primeiros
arquitetos em Portugal a abraçar o modernismo. Marques da Silva projetou vários edifícios notáveis,
incluindo o Pavilhão de Portugal para a Exposição Internacional de 1937 em Paris, que incorporou
elementos modernistas e influências internacionais, incluindo a Arte Nova. A sua arquitetura
inovadora e eclética contribuiu para a riqueza da paisagem arquitetónica em Portugal durante esse
período de transição e influência internacional.

Exemplo disso é o Edifício de Rendimento da Rua Alexandre Braga, no Porto, concluído em


1916, que originalmente seguia uma estética tradicional, mas acabou por obter uma transformação
significativa após a visita do arquiteto a uma exposição internacional em 1925. Inspirado pelas
tendências arquitetónicas emergentes que ele presenciou nessa exposição, Marques da Silva
redesenhou o edifício, incorporando elementos da Arte Nova e do Art Déco na sua fachada e
estrutura. Este redesenho trouxe uma nova vida ao edifício, tornando-o um exemplo impressionante
do ecletismo da década. A fachada tem elementos decorativos que incluem motivos florais e
orgânicos, as janelas que a integram são desenhadas com sinuosas linhas e curvas e, na mesma
fachada é assimétrica, característica de valor da Arte Nova. São também incluídos uma série de
elementos geométricos, como padrões de azulejos e mosaicos, que incorporam várias formas
geométricas tais como círculos, triângulos e losangos, todos de maneira ornamental.

O Santuário da Penha é também uma notável obra de Marques da Silva no contexto da Arte
Nova, pois apresenta não apenas uma estética ornamental cativante, mas também características
construtivas distintivas. A estrutura exibe linhas arquitetónicas curvas e orgânicas que se harmonizam
com o ambiente natural circundante. O uso criativo do ferro e da pedra na construção permite uma
sensação de leveza e elegância, característica típica do estilo. As abóbadas e cúpulas ornamentadas
demonstram uma maestria na engenharia e design, enquanto os vitrais cuidadosamente elaborados
inundam o interior com uma luz suave e colorida, reforçando a conexão com a espiritualidade.
Marques da Silva, com a sua habilidade excecional, conseguiu fundir aspetos construtivos inovadores
com elementos decorativos de forma harmoniosa e integrada no Santuário da Penha, tornando-o um
exemplo paradigmático da Arte Nova em Portugal, onde a forma e a função convergem com
graciosidade.

De qualquer dos modos, fora a beleza na obra de Marques da Silva, é possível denotar
alguma falta de coesão na mesma. Segundo José Augusto França, no seu livro "A Arte em Portugal no
Século XX," a obra do arquiteto é criticada por este o considerar um defensor do ecletismo na
arquitetura, que misturava diferentes estilos, resultando em contradições nas suas obras. França
também aponta a excessiva aplicação de elementos decorativos em algumas das suas obras, como as
influenciadas pelo estilo Arte Nova, prejudicando a clareza estrutural e simplicidade que ele via como
essenciais na arquitetura moderna. No entanto, Marques da Silva continua a ser reconhecido como
um arquiteto de grande relevância em Portugal, e suas obras são valorizadas como parte do
património arquitetónico do país.

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