Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola de Comunicação

Rebeca Chiroli - DRE: 118145611

Arte e Filosofia de Joseph Kosuth

Profª Beatriz Lagoa


História da Arte

Rio de Janeiro
2020
BIOGRAFIA

O artista norte-americano Joseph Kosuth nasceu no ano de 1945, em Toledo, Ohio. Aos
10 anos de idade, começou seus estudos na escola de design do Museu de Toledo (Toledo
Museum School of Design), onde estudou com o pintor belga Line Bloom Draper até seus 17
anos. Em 1963, partiu ao Instituto de Arte de Cleveland para estudar desenho e pintura por 1 ano.
Passou o ano seguinte no exterior até que, em 1965, mudou-se para Nova York, onde estudou
pintura por 3 anos na Escola de Artes Visuais.
A essa altura, Kosuth já questionava a natureza da condição artística. Ele abandonou a
pintura e, aos seus 20 anos de idade, começou a criar trabalhos que contribuíram para o
nascimento do que chamamos hoje de Arte Conceitual. Em 1967, inaugurou em Nova York o
espaço de exposição chamado "Museu da Arte Normal, lugar em que realizou sua primeira
exposição individual. No ano de 1969, publicou o ensaio Art After Philosophy, ressaltando a
responsabilidade do artista pela leitura de seu próprio trabalho.
No começo dos anos 70, Joseph iniciou seus estudos em filosofia e antropologia. O
filósofo da linguagem, Ludwig Wittgenstein, foi uma grande influência para o pensamentos de
Kosuth, sendo o eixo de suas obras a relação entre arte e linguagem, a tautologia das palavras e a
natureza do significado.
Ao longo de sua vida, Kosuth escreveu diversas publicações alternativas a respeito de sua
filosofia sobre a separação entre arte e estética. Além disso, o artista expôs seus trabalhos em
instalações públicas de museus e galerias reconhecidos no mundo todo. Atualmente, Joseph
Kosuth é professor temporário de instituições renomadas e divide seu tempo entre Nova York e
Roma.

ARTE CONCEITUAL

O termo "arte conceitual" foi usado pela primeira vez por Henry Flynt, em 1961, em um
texto entre as atividades do Grupo Fluxus, onde o autor defende que os conceitos são a matéria
da arte e, por isso, ela está ligada diretamente à linguagem.
Para os artistas conceituais, como Kosuth, o conceito prevalece em detrimento da forma,
da cor, do material e do objeto em si. É considerada a desmaterialização da arte, porque a matéria
é efêmera e o conceito não. O foco está na ação do artista e no processo artístico e, não, no
resultado final. Por esses motivos, caso o projeto seja realizado, ele não precisa necessariamente
ser executado pelo artista que, por sua vez, já concebeu a ideia e é isso o que de fato importa.
Entre as décadas de 60 e 70, no contexto do movimento contracultura, quando as
tradições, os padrões e as normas eram questionados e quebrados, esse movimento artístico vivia
o seu auge. O objetivo era se desvencilhar da ideia mercadológica de que a arte é feita para ser
comercializada como um objeto de decoração, deixando o mercado definir o seu significado.
Kosuth e outros artistas conceituais queriam de fato ressignificar o conceito de arte, quebrar
tradições e ir muito além da estética e do produto final do processo artístico. Em seu ensaio Art
After Philosophy, ele disse: "Ser um artista agora significa questionar a natureza da arte".
Pelo fato da presença física do objeto ser secundária à ideia que permitiu a sua existência,
a forma mais comum de encontrar esse tipo de arte é pela documentação. É possível visitar
algumas instalações, mas também muitas são exibidas em livros e, hoje, em plataformas digitais
também, por meio de fotografias e vídeos.

INFLUÊNCIAS E PRECEDENTES

Como qualquer estilo ou movimento artístico, a arte conceitual tem suas referências e
movimentos precedentes a ela que contribuíram para sua concepção. Uma de suas influências é a
arte minimalista, que ocorre entre o fim dos anos 50 e o início dos anos 60, também em Nova
York. Essa tendência de artes visuais vai no sentido contrário às estéticas exuberantes do
expressionismo abstrato. No minimalismo, como sugere o nome, as peças possuem o mínimo
possível (não têm nenhum efeito decorativo ou expressivo) e não são portadoras de nenhum
sentido ou conceito pré-estabelecido. Assim como na arte conceitual, o 'produto final' em si não é
o que carrega o conceito, no minimalismo o ponto de vista do observador é o que se vale para
apreensão da obra.

Outro movimento que influenciou os artistas conceituais foi o Fluxus (palavra de


originária do latim, que significa fluxo, movimento) que teve seu início no Festival Internacional
de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, em 1962. Esse movimento traz uma nova atitude
diante do mundo, um fazer artístico que não se limita às formas de arte tradicionais como a
pintura e a escultura, mas que se manifesta também pela música, dança, teatro, artes visuais,
poesia, vídeo, fotografia e outras formas. O seu objetivo era romper com as barreiras entre o que
era considerado arte e o que não era, direcionando a criação artística às coisas do mundo, como
ruídos urbanos, a própria natureza e o mundo da tecnologia.

Além dessas correntes artísticas mais próximas cronologicamente da arte conceitual,


outro importante movimento que os influenciou foi o Dadaísmo, que se deu no começo do século
XX. Um dos seus principais artistas é Marcel Duchamp, que transforma objetos comuns, como
um mictório e um banco com uma roda de bicicleta em cima, em obras de arte ao colocá-los em
exposição com uma assinatura. De forma radical, os dadaístas criticam o sistema da arte ao
denominarem objetos utilitários e sem valor estético como arte.
OBRAS

1. One and Three Chairs, 1965.

Essa é a mais conhecida obra de Kosuth e a porta de entrada para a arte conceitual. Ao
colocar uma cadeira, a foto de uma cadeira e a definição do dicionário de uma cadeira juntas, o
artista objetiva pontuar a existência das coisas no tempo e no espaço. Como o título sugere, o
conceito cadeira (que é um) está sendo apresentado em três diferentes representações - incluindo
o objeto cadeira, que ali é considerado também uma representação porque, por estar em um
museu e não é permitido sentar, o objeto perde sua funcionalidade. O conceito 'cadeira' é
conhecido nas três formas de representação, independente de seu tempo e espaço. Essa obra nos
remete muito à obra A Traição da Imagens, o famoso cachimbo de René Magritte.

2. Material Described, 1965.


Nesta obra da exposição A Coisa e A Coisa em Si, fica expressa a relação de Kosuth com
a ligação entre arte e linguagem. As palavras escritas nos vidros, descrevendo exatamente o que
está sendo mostrado e descrevendo inclusive a própria descrição, demonstra a tautologia, a
redundância, das palavras.

3. The Word "Definition", 1966.

As peças da exposição Titled (Art as Idea as Idea) são todas fotografias de definições de
'abstrações' no dicionário. O objetivo aqui, como afirmou o autor da obra, é relembrar que o
dicionário ainda é uma forma de representação, para além de fotos e afins. O dicionário traz
representações, definições, de coisas que não são muito fáceis de definir, mais abstratas, como a
água. A definição de definição seria uma abstração da abstração.

4. Four Colors Four Words (Orange-Violet-Green-Blue), 1966.


Essa instalação de Kosuth conta com várias outras obras em neon. Aqui, ele usa 4
palavras em 4 cores diferentes, dizendo literalmente o que ela é: quatro palavras quatro cores.
Com uma espécie de metalinguagem, a coisa explicando a coisa, o artista faz referência à
redundância, tautologia, da arte e da linguagem. Além disso, é interessante como ele,
propositalmente, deixa os fios e as tomadas à mostra, demonstrando como se dá o funcionamento
dessa obra, ela como ela é.

5. Mondrian’s Work III, 2015.


Nessa obra mais recente, Joseph se utiliza da representação das obras de Mondrian,
artista abstrato, para falar sobre a arte abstrata, seus significados e objetivos, escrevendo trechos
de um manifesto seu na própria obra. Mais uma vez, ele se utiliza da metalinguagem e da
redundância para expor um conceito.

VÍDEOS SOBRE O ARTISTA

The Case for Conceptual Art

Esse vídeo do canal The Art Assignment fala, de uma forma bem didática e interessante,
sobre a obra principal de Kosuth (One and Three Chairs) e sobre arte conceitual em geral, a
partir do contexto histórico e social. Fala também sobre outros artistas conceituais, o que ajuda e
entender mais sobre a própria arte de Joseph Kosuth.

Joseph Kosuth — TIME SPACE EXISTENCE

Esse é um vídeo onde o próprio Kosuth explica sobre a sua filosofia da existência das
coisas no tempo e no espaço, a relação com a linguagem, sua concepção de arte e suas obras.
Uma profunda reflexão sobre a forma de como a arte é concebida e percebida e, além do como, o
porquê.

Joseph Kosuth at Sprueth Magers

Aqui é mostrada a exposição neon de Kosuth na galeria Sprueth Magers. É possível ver a
disposição das obras no espaço e é interessante vê-las como um conjunto, diferente de ver
através de fotos individuais de cada obra na internet, tiradas de todo um contexto estabelecido
pelo autor. Além disso, também há uma breve entrevista com o próprio artista no local de
exposição, na qual ele explica sobre suas ideias e conceitos a partir daquele contexto.

BIBLIOGRAFIA

1. Art After Philosophy. Joseph Kosuth, 1969. (Arte Depois da Filosofia)


2. Joseph Kosuth Biography, Life & Quotes | TheArtStory
3. Joseph Kosuth - Artists - Sean Kelly Gallery
4. Art after Philosophy - Joseph Kosuth | ART THEORY
5. Conceptual art – Art Term | Tate
6. Arte Conceitual | Enciclopédia Itaú Cultural
7. Chairs, Neon Lights and Philosophy: The Conceptual Art of Joseph Kosuth

Você também pode gostar