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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Sociologia
FCH007-T01-Introdução a Sociologia II / Semestre: 2021.2
Professora Vera Lucia Cardim de Cerqueira
Estudantes: Alexandre Gomes, Alisson Anunciação e Ananda Santos

Texto crítico-analítico
Quebra de paradigmas de cânones artísticos: a desconstrução da ideia de
artificação

Durante o percurso criado pela história da arte, muito foi discutido sobre o que
seria a artificação, e ao longo dos séculos obras revolucionárias e polêmicas ajudaram a
mudar esses discursos, visões, padrões e provocar questionamentos ao público.
Ajudaram nas transformações encontradas e os impactos desenvolvidos, trazendo para a
artificação.
O artigo escrito por Roberta Shapiro e Nathalie Heinicheria, “Quando há artificação?”
vem tentar responder tal pergunta. Porém, para antes respondermos, precisamos explicá-la. A
questão norteia os motivos no qual são criadas ou feitas coisas que acabam sendo intituladas
obras de arte. As autoras não procuraram trazer a definição de arte, porém, para exemplificar
de maneira mais respaldada os assuntos a serem discutidos, traremos algumas explicações das
mudanças que ocorreram e como essas transformações mudaram o entendimento de arte.

A arte surge no decorrer do tempo como a soma total de atividades institucionais,


interações cotidianas, implementações técnicas e atribuições de significado. A
artificação é um processo dinâmico de mudança social, por meio do qual surgem
novos objetos e novas práticas e por meio do qual relações e instituições são
transformadas. (SHAPIRO; HEINICH, 2013, p. 15)

Vicent Van Gogh é um autor celebre, grande representante do movimento


impressionista, muito famoso pelos seus traços marcantes, autorretratos, obras expressivas,
porém enquanto ainda estava vivo vendeu apenas uma obra. Não recebeu o seu devido
reconhecimento pelos críticos conforme as imposições do século XIX, e por isso gerou uma
espécie de punição, ao ter prejudicado nas vendas de seus quadros. A valorização de suas
obras só veio no fim de sua vida, e após a sua morte, no ano de 1890.
A opinião de críticos trazia evidenciada, que uma soma média das consciências
individuais entre os indivíduos que moralmente eram aceitos, regia os padrões e imposições
de uma sociedade. Como Durkeim trazia a questão dos fatos sociais, quando nascemos já
estamos inseridos em uma sociedade já existente, com normas, padrões pré-definidos,
estabelecidas e exteriores as vontades do indivíduo.
O reconhecimento de arte estava mais atrelado a padrões estéticos estabelecidos, se
restringindo muito a óleos sobre tela, bronze fundido, mármores, obras que seguiam o padrão
de pinturas tradicionais, esculturas modeladas, esculpidas cuidadosamente. O artista que
ajudou a destruir esses padrões foi Marcel Duchamp, considerado como um marco para a arte
do século XX até os dias atuais, ao trazer um urinol para expor em um museu e intitulou de
“A Fonte” (1917). Buscando impactar e mudar o conceito que se tinha de arte. Muito além de
como feito sob uma tradicional tela, placas, sobre cânones estabelecidos de pinturas ou
esculturas, sem o sentido puro da estética comumente empregado na época. Seria um
questionamento do que viria a tornar ou não uma produção artística, muito influenciada pelas
instituições de arte e críticos.
Tendo em vista, que o processo se deu da individualização da representação do artista,
afastando-se do que a sociedade tinha como cânones, ou seja, o que se era entendido como
belo, distanciando-se do coletivo e concluindo-se a uma subjetividade. Conforme é descrito:

Outro processo significativo é a individualização do trabalho. À medida que a


pintura saiu do ateliê do mestre e entrou no estúdio do pintor, passou por um
processo continuado de individualização; até o século XIX, uma atividade que
antigamente era coletiva tornou-se solitária progressivamente. (SHAPIRO;
HEINICH, 2013, p. 19)

A pintura foi a parte que consolidou como espelho para a reafirmação da liberdade do
fazer arte pelo artista no sistema moderno. Contribuindo para a pluralidade de temas,
materiais, cores, texturas, técnicas, pinceladas desde a marcante a suaves, encontrados com o
passar do tempo, nos questionamentos e mudanças de ideais.
A diversificação de obras artísticas cria a disponibilidade para a pluralidade de
interpretações. De acordo com o autor Jorge Coli no livro “O que é Arte?”, a arte seria
manifestações que causam sentimentos como de admiração, contemplação e desencadeiam
emoções. Para ser uma obra artística não se restringe a exposição em galerias ou museus.
Conforme Fusari e Ferraz (2001), “representar, por meio da arte, é sinônimo de
expressão que permite orientar e ressignificar situações diárias, de maneira menos alienada,
mais crítica e sensibilizada”. Desta forma, a arte age como formadora de mentes pensantes,
possibilitando que qualquer cidadão que tenha acesso ou pratique algum meio artístico,
consiga observar e analisar profundamente os fatos grupais e individuais, mostrando a
relevância que cada um deve configurar dentro da sociedade.
Indo muito além da forma, seria a capacidade de entendimento por meio dos sentidos.
É claro que essa seria uma definição entre tantas, o reconhecimento de arte não tem como ser
respondido com uma resposta absoluta, pois com o passar dos séculos, mudam se os ideais e
com eles as suas respostas. Trazemos nosso lado subjetivo para traçar o nosso pensamento
por meio de nossas vivências, educação, aprendizados, alterando a nossa perspectiva.
Uma outra obra polêmica seria a “Merda de artista” (1961), do artista Piero Mazoni,
consistia em latas com a intitulação em diversas línguas, com fezes do próprio artista e
chegou a valer 70 mil euros. Trazendo o questionamento do que poderia ser arte e o seu
valor, valor esse que seria simbólico e material, com isso, pode-se afirmar que o processo de
artificação moderno avançou ao ponto de trabalhos como esse serem considerados, avaliados
e denominados como arte de “classe alta”, ou seja, uma obra de alto renome crítico e popular,
tendo em vista a perfeição nos detalhes e a construção da obra, suas semelhanças e diferenças
são pontos marcantes dessa obra.
Em vista disso, podemos afirmar que o processo de artificação se consolida a partir do
reconhecimento e da legitimação da atribuição de significado. Como parte essencial da
artificação, ainda podemos trazer o reforço da discussão e do lado intelectual da prática.
Portanto, conclui-se que, o processo de artificação ao passar do tempo teve diversas faces,
podemos perceber aderência dela desde a Grécia clássica tardia até os dias de hoje, com a
aceitação de vários cânones diferentes, a ideia da arte torna-se fluida e se encaixa em diversos
padrões e moldes, moldes esses definidos pelos olhos de quem e vê e o autor.

REFERÊNCIAS

COLI, Jorge. O que é Arte. 15 ed. São Paulo: Editora Brasiliense. 1995. p. 7 -11.

DURKHEIM, Émile. “O que é fato social?” In: As regras do Método Sociológico. 11ª ed.
São Paulo: Companhia Editora Nacional. 1984, p.1-13.

FUSARI, M. F. R; FERRAZ, M. H. C. T. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez,


2001.
JANSON. Anthony. Introdução. In: JANSON, Anthony. A Nova História da Arte de Janson:
a tradição ocidental. Tradução de Marta Daniel Dias. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
9 ed., 2010.

OBRAS POLÊMICAS QUE MUDARAM A HISTÓRIA DA ARTE. Arte ref, 2021.


Disponível em: https://arteref.com/arte/curiosidades/obras-polemicas-que-mudaram-a-
historia-da-arte/. Acesso em 21 nov. 2021.

SHAPIRO, Roberta & HEINICH, Nathalie. Quando há artificação? Sociedade & Estado, v.
28, 2013, p. 14-28.

VAN GOGH: Artista vanguardista morreu sem sucesso, virou ícone e hoje está saturado?
Rollingstone, 2020. Disponível em: https://rollingstone.uol.com.br/noticia/van-gogh-artista-
vanguardista-morreu-sem-sucesso-virou-icone-hoje-esta-saturado-analise/. Acesso em 21
nov. 2021.

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