Você está na página 1de 4

MUNDO EM RUÍNAS: A “MORTE DA ARTE” SOB AS

PERSPECTIVAS DE CELSO FAVARETTO E DÉCIO PIGNATARI

No amplo panorama das discussões artísticas contemporâneas, o conceito


da "morte da arte" emerge como um tópico que transcende fronteiras e gera
debates acalorados, do mesmo modo, será delineado neste trabalho, sobre as
perspectivas do poeta Décio Pignatari e o filósofo Celso Favaretto, a partir da série
"Diálogos Impertinentes" produzida pela TV PUC de São Paulo, no ano de 1996.
Além disso, abordaremos algumas ideias de Arthur Danto, filósofo e crítico de arte
americano que possui pesquisas com tema semelhante ao que será analisado, e no
mesmo norte, apontaremos o trabalho do teórico cultural e sociólogo Stuart Hall,
em conjunto com a contribuição de Celso Favaretto e Décio Pignatari para um
entendimento acerca do tema a "morte da arte".
Desse modo, Favaretto, crítico e ensaísta, propõe uma visão que excede a
aparente morte da arte, apresentando-a como um processo de constante
renovação, sua abordagem sugere que, longe de ser um ponto final, a "morte da
arte" representa uma metamorfose necessária, uma evolução intrínseca à dinâmica
cultural, e considerar a arte como uma entidade viva, capaz de se reinventar diante
dos desafios contemporâneos, uma abordagem otimista que encara as
transformações como oportunidades de renascimento artístico a partir das ruínas
dessas transformações.
O filósofo e crítico de arte Arthur Danto, também explorou a ideia da "morte
da arte" em seu livro "Após o Fim da Arte" este trabalho é uma análise profunda das
mudanças da arte contemporânea e argumenta que a arte atingiu um ponto em que
não pode mais evoluir de maneira linear, como era tradicionalmente entendido, a
definição e o propósito da arte não podem mais ser delineados de maneira simples,
ele destaca o fim das vanguardas e o surgimento de uma multiplicidade de estilos e
abordagens artísticas que não se encaixam em uma narrativa linear de progresso.
Em resposta a questões feitas na série "Diálogos Impertinentes" produzida
pela TV PUC SP, o poeta Décio Pignatari faz uma crítica incisiva que serve como
um alerta contra a superficialidade, convidando artistas e apreciadores a
considerarem uma abertura mental e sensibilidade para apreciar formas de
expressão artística que fogem das convenções tradicionais. Portanto, a abertura
para entender essas novas dimensões na arte requer uma disposição para se
desvincular das expectativas tradicionais e abraçar a experimentação, a linguagem
visual e a interação entre diferentes formas de arte.
Nessa perspectiva, é válido citar que Stuart Hall, enfatiza a ideia de que a
identidade não é algo inato, mas sim social e culturalmente construído da mesma
forma, na arte contemporânea, uma noção de identidade artística muitas vezes
supera as fronteiras tradicionais, sendo moldada por influências culturais, sociais e
políticas, artistas contemporâneos frequentemente exploram e desafiam
construções sociais de identidade em suas obras, Hall enfatiza a importância da
participação ativa na construção da identidade na arte contemporânea.
Diante do exposto, a argumentação central de Arthur Danto sobre o "fim da
arte" e a ideia de Stuart Hall sobre identidade cultural na pós-modernidade podem
ser relacionadas em alguns aspectos, especialmente no que diz respeito à ideia de
pluralidade, multiplicidade e ausência de uma direção clara na evolução cultural.
Danto argumenta que a arte contemporânea é caracterizada por um "pluralismo
histórico" em que diversas formas de expressão artística coexistem. Da mesma
forma, Stuart Hall, ao discutir identidade cultural na pós-modernidade, destaca a
multiplicidade de identidades a diversidade e a fluidez, desafiando estruturas fixas e
convidando a uma reflexão crítica sobre as construções culturais e artísticas de
identidades e a fluidez da mesma, recusando a aceitar categorias fixas.
Seguindo tal lógica, os "parangolés" de Hélio Oiticica, um dos artistas do
movimento neoconcretista no Brasil, deixou um legado marcante por meio de suas
obras inovadoras, desafiou as convenções artísticas de sua época ao buscar uma
forma de expressão mais participativa e sensorial. Seu trabalho com os
"parangolés" representa uma ruptura com a arte convencional, convidando o público
não apenas para contemplar a obra, ele rompe com a tradicional passividade do
espectador ao criar uma obra que convida à participação ativa, o belo aqui reside na
experiência pessoal e física do espectador ao vestir e interagir com as capas
coloridas e dinâmicas, a estética do belo artístico vai muito além da simples
apreciação visual, ela se insere profundamente na filosofia neoconcreta, que busca
estabelecer uma conexão mais íntima e participativa entre a obra de arte, o artista e
o espectador.
Então, é nitido que estética vibrante dos "Parangolés" é marcada por uma
mistura de texturas, de tons intensos e a combinação de materiais diversos
destacam a expressividade visual da obra, criando uma experiência estética
impactante, as capas, em constante movimento com o corpo do participante,
explora a ideia de um dinamismo visual e temporal, o belo está na transitoriedade
da obra, que se manifesta através das mudanças visuais e sensoriais, táteis,
corporais, sonoras e assim, a existência e construção da obra é vivida em uma
dimensão diferente, é nesse lugar que as ideias de Favaretto, ganhar vida é nesse
mundo de ruínas que surge um novo modelo de arte.
Ao unir essas perspectivas, emerge um panorama complexo e interligado que
destaca não apenas as transformações na arte, mas também na identidade cultural,
pondo a prova que a arte é filha de seu tempo. Ela se mostra como uma forma de
expressão que captura as nuances e transformações da sociedade atual. Através de
diferentes linguagens e técnicas, os artistas conseguem transmitir os sentimentos,
questionamentos e experiências vivenciados na contemporaneidade. As obras de
arte se tornam, então, um espelho da realidade, revelando as questões políticas,
sociais, culturais e tecnológicas do nosso tempo. Essa manifestação artística, por
sua vez, estimula debates e reflexões, incentivando o público a pensar sobre essas
temáticas e a buscar uma compreensão mais profunda sobre o mundo em que
vivemos.
Nesse sentido, a arte contemporânea se mostra uma ferramenta poderosa para
a análise crítica da sociedade e contribui para a construção de uma cultura mais
consciente e engajada, as contribuições desses pensadores convidam a uma
reflexão crítica sobre o papel da arte e da identidade na contemporaneidade, a
"morte da arte" de Danto não é um fim absoluto, mas uma oportunidade de
reinvenção, a identidade cultural na pós-modernidade, para Hall, exige uma
abordagem crítica da diversidade. Pignatari e Favaretto, ao discutirem o "fim da
arte", instiga uma reflexão crítica sobre os critérios tradicionais de valor estético,
suas contribuições permanecem como faróis que iluminam o caminho para uma
compreensão mais profunda e significativa do papel da arte em nossa sociedade em
constante evolução.

Nildo com Parangolé P15 Capa 11 – “Incorporo a revolta”, 1967


Referências

DANTO, Arthur. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história.


São Paulo: Odysseus, 2006.

VIEIRA, Paulo Valle. Hélio Oiticica e o salto para um novo espaço pictórico. Diss.
2018.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Lamparina, 2023.

OITICICA, Hélio. "A transição da cor do quadro para o espaço e o sentido de


construtividade" (Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, pp. 54, 59,
passim).

ALMEIDA, Diana Silveira. O fim da história da arte: relações entre arte e história no
final do século XX. MS thesis. Universidade Federal de Pelotas, 2016.

Você também pode gostar