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A METRôPOLE E A VIDA MENTAL* A METRÓPOLE E A VIDA MENTAL 15

esta necessidade é criada pela agregação de tantas pessoas com


interesses tão diferenciados, que devem integrar suas relações
GEOJlG SIMMEL
e atividades em um organismo altamente complexo. Se todos
os relatórios de Berlim se pusessem a funcionar em sentidos
diferentes. ainda que apenas por uma hora, toda a vida eco-
Tradução de SÉllGIO MARQUES oos RE1s nômica e as comunicações da cidade ficariam transtornadas
por longo tempo. Acresce a istp um fator que aparentemente
não é mais do que externo: as longas distâncias fariam com
A base psicológica do tipo metropolitano de individuali- que toda a espera e os compromissos rompidos resultassem
dade consiste na intensificação dos estímulos nervosos, que numa perda d~ tempo de conseqilências altamente nocivas.
resulta da alteração brusca e ininterrupta entre estímulos exte- Assim, a técnica da vida metropolitana é inimaginável sem a
riores e interiores. O homem é uma criatura que procede a mais pontual integração de todas as atividades e relações
diferenciações. Sua mente é estimulada pela diferença entre a mútuas em um calendário estável e impessoal. Aqui, nova-
impressão de um dado momento e a que a precedeu. Impres- (...) mente, as conclusões gerais de toda a presente tarefa de re-
sões duradouras, impressões que diferem apenas ligeiramente flexão se tornam óbvias, a saber, que, de cada ponto da super-
uma da outra, impressões que assumem um curso regular e fície da existência - por mais intimamente vinculados que
habitual e exibem contrastes regulares e habituais - todas estejam à superfície - pode-se deixar cair um fio de prumo
essas formas de impressão gastam, por assim dizer, menos para o interior das profundezas do psiquismo, de tal modo que
consciência do que a rápida convergência de imagens em mu- todas as exterioridades mais banais da vida estão, em última
dança, a descontinuidade aguda contida na apreensão com uma análise, ligadas às decisões concernentes ao significado e estilo
única vista de olhos e o inesperado de impressões súbitas. de vida. Pontualidade, calculabilidade, exatidão, são iritrodu-
Tais são as condições psicológicas que a metrópole cria. Com zidas à força na vida pela complexidade e extensão da exis4
cada atravessar de rua, como o ritmo e a multiplicidade da tência metropolitana e não estão apenas muito intimamente
vida econômica, ocupacional e social, a cidade faz um con.. ligadas à sua economia do dinheiro e caráter intelectualístico.
traste profundo com a vida de ·cidade pequena e a vida rural Tais traços também devem colorir o conteúdo da vida e favo-
no que se refere aos fundamentos sensoriai~ da vida psíquica. recer a exclusão daqueles traços e impulsos irracionais, instin-
A metrópole extrai do home1!1, enquanto cr~~tu~a q~e procede tivos, soberanos que visam determinar o modo de vida de
a discriminações, uma quantJ.dade de consetencia dtferen~e , da dentro, ao invés de receber a forma de vida geral e precisa-
que a vida rural extrai. Nesta, o ritmo da vida e do conjunto mente esquematizada de fora. Muito embora tipos soberanos
sensorial de imagens mentais flui mais lentamente, de modo de personalidade, caracterizados pelos impulsos irracionais, não
mais habitual e mais uniforme. B precisamente nesta conexão sejam absolutamente impossíveis na grande cidade, eles são,
que o caráter sofisticado da vida psíquica metropolitana se não obstante, opostos à vida típica da grande cidade. O ódio
torna compreensível -· enquanto oposição à vida de pequena apaixonado de homens como Ruskin e Niet1sche pela metró-
cidade, que descansa mais sobre relacionamentos profunda- pole é compreensível nestes termos. Suas naturezas descobriram
mente sentidos e emocionais. Estes últimos se enraízam nas o valor da vida a sós na existência fora de esquemas, que não
camadas mais inconscientes do psiquismo e crescem sem grande pode ser definida com precisão para todos igualmente. Da
dificuldade ao ritmo constante da aqui~ição ininterrupta de mesma fonte desse ódio à metrópole brotou o ódio que tinham
hábitos. O intelecto, entretanto, se situa nas camadas trans- (...) à economia do dinheiro e ao intelectualismo da existência
p arentes conscientes mais altas do psiquismo; é a mais adap- moderna.
tável de ' nóssas forças' interiores. Para acomodar-se a' mudança Os mesmos fatores que assim redundaram na exatidão e
e ao contraste de fenômenos, o intelecto não exige qualquer precisão minuciosa da forma de vida redundaram também em
choque ou transtorno interior; ao p~so que é somente atrav~s uma estrutura da mais alta impessoalidade; por outro lado,
de tais transtornos que a mente mais çonservadora se ~dena promoveram uma subjetividade altamente pessoal. Não há tal-
acomodar ao ritmo metropolitano de acontecimentos. Assim, o vez fenómeno psíquico que tenha sido tão incondicionalmente
tipo metropolitano de homem - que, naturalmente, existe em reservado à metrópole quanto a atitude blasé. A atitude blasé
mil variantes individuais - desenvolve um órgão que o pro:-
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resulta em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, em total que a mentalidade do público contemporâneo em toda
rápidas mudanças e compressão concentrada, são impostos aos parte imprime a tais objetos, a avaliação exclusivamente pe-
nervos. Disto também parece originalmente jorrar a intensifi- cuniãria de objetos se tornou bastante cons!derável. As grnndes
cação · da intelectualidade metropolitana. Portanto, as pessoas eidade3, princ:pais sedes do intercâmbio monetãrio, acentuam
estúpidas, que não têm existência intelectual, não são exata- a capacidade que as coisas têm de poderem ser adquiridas
mente blasé. Uma vida em perseguição desregrada ao prazer muito mais notavelmente do que as localidades menores. ~
torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto por isso que as grandes cidades também constituem a locali-
de mais forte reatividade por um tempo tão longo que eles zação (genuína) da atitude blasé. Com a atitude blasé a con-
finalmente cessam completamente de reagir. Da mesma forma, centração de homens e coisas estimula o sistema nervoso do
através da rapidez e contraditoriedade de suas mudanças, im- individuo até seu mais alto ponto de realização, de modo que
pressões menos ofensivas forçam reações tão violentas, esti- ele atinge seu ápice. Através da mera intensificação quantita-
rando os nervos tão brutalmente em uma e outra direção, que tiva dos mesmos fatores condicionantes, essa realização é trans-
suas últimas reservas são gastas; e, se a pessoa permanece formada em seu contrário e aparece sob a adaptação peculiar
no mesmo meio, eles não dispõem de tempo para recuperar da atitude blasé. Nesse fenómeno, os nervos encontram na
a força. Surge assim a incapacidade de reagir a novas sensa- recusa a reagir a seus estímulos a última possibilidade de aco-
ções com a energia apropriada. Isto constitui aquela atitude modar-se ao conteúdo e à forma da vida metropolitana. A
blasé que, na verdade, toda criança metropolitana demonstra autopreservação de certas personalidades é comprada ao preço
quando comparada com crianças de meios mais tranqüilos e da desvalorização de todo o mundo objetivo, uma desvalori-
menos sujeitos a mudanças. zação que, no final, arrasta inevitavelmente a personal:dade
Essa fonte fisiológica da atitude blasé metropolitana é da própria pessoa para uma sensação de igual inutilidade.
acrescida de outra fonte que flui da economia do dinheiro. A Na medida em que o indivíduo submetido a esta forma
essência da atitude blasé consiste no embotamento do poder de existência tem de chegar a termos com ela inteiramente
de discriminar. Isto não significa que os objetos não sejam por si mesmo, sua autopreservaão em face da cidade grande
percebidos, como é o caso dos débeis mentais, mas antes que exige dele um comportamento de natureza social não menos
o significado e valores diferenciais das coisas, e daí as próprias negativo. Essa atitude mental dos metropolitanos um para com
coisas, são experimentados como destituídos de substância. Elas o outro, podemos chamar, a partir de um ponto de vista for-
aparecem · à pessoa blasé num tom unüormemente plano e mal, de reserva. Se houvesse, em respo5ta aos contínuos con-
fosco; objeto algum merece preferência sobre outro. Esse es- tatos externos com inúmeras pessoas, tantas reações interiores
tado de ânimo é o fiel reflexo subjetivo da economia do dinheiro ·quanto as da c'.dade pequena, onde se conhece. quase todo
completamente interiorizada. Sendo o equivalente a todas as mundo que se encontra e onde se tem uma relação positiva
múltiplas coisas de uma e mesma forma, o dinheiro torna-se o com quase todos, a pessoa ficaria completamente atomizada
mais assustador dos niveladores. Pois expressa todas as dife- internamente e chegaria a um estado psíquico inimaginável.
renças qualitativas das coisas em termos de "quanto?". O di- Em parte esse fato psicológico, em parte o direito a desconfiar
nheiro, com toda sua ausência de cor e indiferença, torna-se que os homens têm em face dos elementos superf:ciais da
o denominador comum de todos os valores; arranca irrepara- vida metropolitana, tornam necessária nossa reserva. Como
velmente a essência das coisas, sua individualidade, seu valor resultado dessa reserva, freqüentemente nem sequer conhece-
específico e sua incomparabilidade. Todas as coisas flutuam mos de vista aqueles que foram nossos vizinhos durante anos.
com igual gravidade específica na corrente constantemente em E é esta reserva que, aos olhos da gente da cidade pequena,
movimento do dinheiro. Todas as coisas jazem no mesmo nível o.os faz parecer frios e desalmados. Na verdade, se é que não
e diferem umas das outras apenas quanto ao tamanho da ãrea estou enganado, o aspecto interior dessa reserva exterior é não
que cobrem. No caso individual, esta coloração, ou antes des- apenas a indiferença,. mas, mais freqüentemente do que nos
coloração, das coisas através de sua equivalência em dinheiro damos conta, é uma leve aversão, uma estranheza e repulsão
pode ser diminuta ao ponto da imperceptibilidade. Entretanto, mútuas, que redundarão em ódio e luta no momento de um
através das relações das riquezas com os objetos a serem obti- cantata mais próximo, a!nda que este tenha sido provocado.
dos em troca de dinheiro, talvez mesmo através do caráter :Yoda a organização interior de uma vida comunicativa tão
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extensiva repousa sobre uma hierarquia extremamente variad.a espacialmente, em significado e conteúdo de vida - na mesma
de simpatias, indiferenças e aversões de natur~za. tanto a mats medida, a unidade direta, interna, do grupo se afrouxa e a
breve quanto a ma'.s permanente. A esfera d_e md1ferença nesta rigidez da demarcação original contra os outros é amaciada
hierarquia não é tão grande quanto .podena parecer superfi- através das relações e conexões mútuas. Ao mesmo tempo, o
cialmente. Nossa atividade psíquica amda reage a quase toda indivíduo ganha liberdade ue movimento, mu:to para além da
impressão de outra pessoa com uma sensação de alguma primeira delimitação ciumenta. O indivíduo também adquire
forma distinta. O caráter inconsciente, fluido ~ ~utável dessa uma indiv!duaHdade específica para a qual a divisão de tra-
impressão parece resultar em um estado_ de 1~d:fe.rença. Na balho no grupo aumentado dá tanto ocasião quanto necessi-
verdade tal indiferença seria exatamente tao antmatural quanto dade. O Estado e o cristianismo, corporações e partidos polí-
a difusão de uma sugestão mútua indiscriminada .seria , iI?-su- ticos e inúmeros outros grupos se desenvolveram de acordo
portável. A antipatia nos protege de amb<;>~ esses .pe~1go.s t.1p:cos com essa fórmula, por mais que, naturalmente, as· condições e
da metrópole, a indiferença e, ª. sugesubilid3:de mdiscnnu~ada. forças especiais dos respectivos grupos tenham mod!ficado o
Uma antipatia latente e o estag1.0 preparatóno do antag?n:smo esquema geral. Tal esquema me parece distintamente reco-
prático efetuam as distâncias e aversões sem as .quais esse nhecível também na evolução da individualidade no interior da
modo de vida não poderia abso~utament~ ser ma.ntido. A ex- vida urbana. A vida de cidade pequena na Antigu~dade e na
tensão e composição desse estilo de Vida, o n~o. de sua Idade Méd!a erigiu barreiras contra o movimento e as relações
aparição e desaparição, ~s. formas em que. é sat1~fe1to ~do do indivíduo no sentido do exterior e contra a independência
isso, com os motivos unificadores . no sentido . mais estr~1to, individu::il e a diferenciação no interior do ser individual. Essas
formam 0 todo inseparável do est~lo metro~htano. de vida. barreiras eram tais que, diante delas, o homem moderno não
o que aparece no estilo metropolitano de vida drretamente poderia respirar. Mesmo hoje em dia, um homem metropoli-
como d:ssociação na realidade é .apenas uma de suas formas tano que é colocado em uma cidade pequena sente uma res-
elementares de socialização. trição semelhante, ao menos, em qualidade. Quanto menor é
Essa reserva, com seu tom exagerado de aversão ocult~, o círculo que forma nosso meio e quanto mais restritas aquelas
aparece, por seu turno, sob a forma ou a cap~ d~ , um feno- relações com os outros que dissolvem os limites do individual,
meno mais geral da metrópole: confere ao m~1v1duo uma tanto mais ansiosamente o círculo guarda as realizações, a
qualidade e quantidade de libe~d~de pessoal 9ue nao tem qual- conduta de vida e a perspectiva do indivíduo e tanto mais
quer analog:a sob outras cond1çoes.. A metro~le volt~ a uma prontamente uma especialização quantitativa e qualitativa rom-
das maiores tendências de desenvolvlIDento da ~ida social como peria a estrutura de todo o pequeno círculo.
tal, a uma das poucas tend~nc~as para as ~ua1s pode se~ d~­ A antiga polis, neste respeito, parece ter tido o próprio
coberta uma fórmula aproximadamente umversal. A pnm~n:ª c1uáter de uma cidade pequena. A constante ameaça à sua exis-
fase das formações sociais encontradas nas e~truturas s?cia1s tência em mãos de inimigos de perto e longe teve como re-
h~stóricas bem como contemporâneas é a segwnte: u,m circul.o sultado uma estrita coerência quanto aos aspectos políticos e
relativamente pequeno firmemente fechado contr~ _cuculos vi- militares, uma supervisão do cidadão pelo cidadão, um ciúme
zinhos, estranhos ou sob qualquer forma antagoms,tcos. ~ntce­ do todo contra o individual, cuja vida particular era supri-
tanto, esse círculo é cerradamente coere~te e so permite a mida a um tal grau que ele só podia compensar isto agindo
seus membros individuais um campo estreito par~ o desenvol- como um déspota em seu próprio domínio doméstico. A tre-
vimento de qualidades próprias e movimentos .uv:es, res~~­ menda agitação e excitamento, o colorido único da vida ate-
sáveis. Grupqs políticos e de parentesco, associaçoes pa~da­ niense, podem ser talvez compreendidos em termos do fato
rias e religiosas começam dessa forma. A ª?topreservaç?o. de de que um povo de personalidades incomparavelmente indivi-
associações muito jovens requer o estabeleclID:nto de bm,ttes dualizadas lutava contra a pressão constante, interna e exter-
estritos e uma unidade centrípeta. Portanto, nao podem per":' na, de uma cidade pequena desindividualizante. Isto produziu
mitir a liberdade individual e desenvolvi~ento inter!or e exte- uma atmosfera tensa, em que os indivíduos mais fracos eram
rior próprios. Desse estágio, o desenvolvlIDento ~ocial procede suprimidos e aqueles de naturezas mais fortes eram incitados ,
~imultaneamente em duas direções diforentes, amda _que cor- ~ pôr-se à prova da maneira mais apaixonada. :E: precisamente
respondentes. A medida que o grupo cresce - numencamente, por isso que floresceu em Atenas o que deve ser chamado,
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sem ser exatamente definido, de "o caráter humano geral" no Tudo isso forma a transição para a individualização de
desenvolvimento intelectual de nossa e3pécie. Po:s sustenta- traços mentais e psíquicos que a cidade ocas:ona em propor-
mos a vaJidade tanto fatual quanto histórica da seguinte co- cão a seu tamanho. Há toda uma série de causas óbvia.o;.
nexão: os conteúdos· e formas de vida mais extensivas e mais subjacentes a esse proces~o. Primeiro,, a . pessoa pr~isa en-
gerais estão intimamente ligados aos mais individuais. Eles frentar a djfjculdade de afrrmar sua propna personalidade no
têm um estágio preparatório · em comum, isto é, encontram campo abrangido pelas dimensões da v:da metropolitana. Onde
seu in~migo nas formações e agrupamentos estreitos, a ma- o aumento quantitativo em importância e o dispê.ndio de ener-
nutenção dos quais coloca a ambos em um estado de defensi- gia atingem seus limites, a pessoa se volta para diferença~ qua-
va contra a expansão e a generalidade que jazem fora e a in- litativas, de modo a atnir, por alguma forma, a atençao do
dividuaIÍdade de livre mov1mento que há dentro. Tal qual na círculo social explorando sua sensibilidade e diferenças. Final-
era feudal, o homem "livre" era o que permanecia sob a lei mente o hor'nem é tentado a adotar as peculiaridades mais
da terra, isto é, sob a lei da órbita social mafor, e o homem tende~ciosas isto é' as extravagâncias especificamente metro-.
não-livre era aquele cujo direito derivava meramente do cír- pofüanas do ' maneirismo, capricho e preciosismo. Agora, o sig-
culo estreito de uma associação feudal e era excluído da ór~ nificado des.5as extravagâncias não jaz absolutamente no con-
bita social maior - ass:m, hoje o homem metropolitano é "li- teúdo de tal comportamento, mas antes na sua forma de "ser
vre" em um sentido espiritualizado e refinado, em contraste diferente" de sobressair de forma notável e assim atrair aten-
com a pequenez e preconceitos que atrofiam o homem de ci- ção. Par; muhos tipos característicos, em última análise o
dade pequena. Pois a reserva e indiferença recíprocas e as único meio de salvaguardar para si própr:o um pouco de auto-
condições de vida intelectual de grandes círculos nunca são estima e a comiciência de preencher uma posição é indireto,
sentidas mais fortemente pelo indivíduo, no impacto que cau- através do conhecimento dos outros. No mesmo sentido, está
sam em sua independência, do que na multidão mais concen~ operando um favor aparentemente insignificante, os efeitos
trada na grande cidade. Isso porque a proximidade física e ~ cumulativos do qual são, entretanto, ainda notáveis. Refiro;me
estreiteza de espaço tornam a distância mental mais vísíV,el. à brevidade e escassez doo contatos inter-humanos confer:dos
Trata-se, obviamente, apenas do reverso dessa liberdade, se, ao homem metropoH.tano, em comparação com o intercâmbio
sob certas circunstâncias, a pessoa em nenhum lugar se sente social na pequena cidade. A tentacão a aoarecer ooortuna-
tão solitária e perdida quanto na multidão metropolitana. Pois mente, a surgir concentrado e notavelmente característico, fica
aqui como em outra parte, não é absolutamente necessário muito mais próxima do indivíduo nos breves contat?s _metro-
que a liberdade do homem se reflita em sua vida emocional pol:tanos do que em uma atmosfera em q1;1e a assocm~ao fre-
como conforto. qüente e prolongada assegura à personalidade uma imagem
, ·-
(...) não ambígua de si mesma aos olhos dos outros.
ser prontamente substituído por outro. E um fato decisivo que
a vida da cidade transformou a luta com a natureza pela vida
em uma lut:i entre os homens pelo lucro, que aqui não é con-
ferido pela natureza, mas pelos outros homens. Pois a especia-
lização não flui apenas da competição pelo ganho, mas também
do fato subjacente de que o vendedor precisa sempre buscar
atender a novas e diferenciadas necessidades do consumidor
atraído. Para encontrar uma fonte de renda que ainda não es-
teja exaurida e para encontrar uma função em que não possa
ser prontamente substituído, é necessário especializar-se em seus
serviços. Esse processo promove a diferenciação, o refinamen-
to e o enriquecimento das necessidades do público, o que obvia-
mente deve conduzir ao crescimento das diferenças pessoais no
interior desse público.

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