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amélia

damiani
1. INTRODUÇÃO

Não é a geografia da distribuição diferenciada da população


no globo terrestre que aspiramos. A da prüneira aproximação com
o fenômeno humano, através das quantidades de população diver sas.
A que se vale da visualização de cores diferentes manchando cada
país, ou cada lugar, para retratar, num mapa, seu "lugar" no universo
das "diferentes" quantidades de população.
Observemos que esse quantitativismo leva à imagem super
ficial deste fenômeno social, para quem quer lhe captar, exata
mente, a essência qualitativa, as relações escondidas.
A geografia hoje, não se contenta mais com a leitura do es
paço como invólucro de conteúdos indiferentes, que tardiamente
a preenchem.
Vamos abdicar dos números? Não exatamente. Vamos, na
verdade, relacioná-los imediatamente com as qualidades.
Quantidade diferenciadas podem expressar conquistas hu
manas e históricas cruciais. Por exemplo, estão na essência do
entendimento da cooperação, da divisão do trabalho. As pessoas
não são contadas, nesse caso, aritmeticamente, como soma de
indivíduos isolados. Sua reunião, no nível da fábrica, potencia
liza-as como conjunto, como grupo. Permite-nos introduzir a
ideia do social.
Inversamente, podemos imaginar grandes quantidades como
perda, no sentido imediatamente qualitativo.

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. b reinvenção da cidade através de grandes
Reflitam so re a , . , _ só dos seus resultados materiais, como da constituição dos sujei
. t hab·1tacionais cuja retonca e a da soluçao de grandes tos sociais. O que os leva a uma cadeia infinita de explicações,
con.Jun . . •s E sse discurso se conso I ad d
' 1 · a déca-
os d
es e
défictts hab1tac1ona.1 aís E espec.ialmente, a parti.r da Segunda que foram sendo incorporadas ao longo do caminho, cada qual
da de 70 em nOsso P · ' elucidando a explicação imediatamente anterior. Por exemplo, se
Guerra . l em pelo menos parte do mundo europeu.
Mund1a , definimos a população como dividida em classes sociais, seria
Nesses conjuntos habitacionais pode estar alteradaa essên- necessário explicar, por sua vez, estas últimas. Por esse caminho,
. do urbano São as necessidades básicas cifradas, co- desembocamos nas categorias cada vez mais simples de análise.
cta mesma ·
dificadas, quantificadas, que sugerem a produção de serviçose E teríamos que, a partir delas, recomeçar tudo outra vez.
comércio os mais elementares, em espaços especialmentesegre É preciso, então, em termos de análise, destruir o objeto
oados para esse propósito. Estamos diante de um novomodo de real, em sua complexidade; portanto, não iniciá-la pela popula ção.
ida, cujo significado urbano e social mereceestudos. Começar por decifrá-lo a partir dos elementos mais simples,
Na verdade, poderíamos ter usado o exemplo anterior, o da abstratos, no sentido de parciais, mas que garantam a possibili dade
divisão do trabalho, na leitura da perda - imaginando que o traba lho de continuar o movimento analítico e criar como necessi dade
dividido como trabalho potencializado, é também, e ao mesmo categorias cada vez mais concretas. Isto é, categorias mais
tempo, um trabalho alienado. Um trabalho tão cindido em etapas próximas da complexidade do real, no intuito de desvendar o fe
que perde, do ponto de vista dos trabalhadores, sua imagem total, nômeno tratado, nas suas múltiplas determinações e movimento,
completa. Cada um, em particular, trabalhando e controlando ape concluindo, então, pelo conhecimento da população.
nas um seu segmento, e se perdendo nele e através dele. Esses elementos não são arbitrariamente tomados, mas re
Chamaríamos, de outro modo, de transformação dos núme fletem, no nível do conhecimento, os elementos dados de forma
ros em drama: "aquele do indivíduo, dos grupos, da humanidade prática. E tidos como cruciais na explicação de um dado mo mento
inteira" (Lefebvre). Ou dramatização dos números. O drama hu histórico, de um dado país, etc.
mano e social que a geografia, refletindo sobre população, aspira Esses elementos, ou categorias de análise que dão acesso
alcançar; certamente, em alguns de seus elementos, diante de sua à compreensão enriquecida da população, variam na medida em
extensa complexidade. que são históricos e recuperam no nível do mundo pensado, a
realidade sensível em movimento. O movimento da atividade hu
mana e seus resultados históricos redefinem sempre as categorias
mediadoras desse processo de conhecimento. Novas categorias
AINDA DENTRO DA QUESTÃO DE MÉTODO de análise são gestadas.
Embora o conhecimento não seja exterior, nem anterior à
realidade prática, e ela o estimule, esse conhecimento ou conduz
A população constitui a base e o sujeito de toda a atividade a uma tentativa de aproximação, em direção à complexidade e à
humana. Exatamente por isso a população tem tal complexidade, riqueza da realidade prática e histórica (nesse sentido, tomando-se
nesse momento histórico. Se se partir do estudo da população, crítico); ou pode se deteriorar, reduzindo-se ao puramente especu
teríamos que percorrer todos os aspectos, elementos, resultados lativo, isto é, alheio ao prático-sensível; ou, ainda, pode conser var-
e consequências da sua atividade para conhecê-la, do âmbito não se de tal forma comprometido com a sociedade analisada, que

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. .d logia num conhecimento falsificado, que
se transfo.rm.e em I , não para desvendar seus co nfl1. tos.
eeo nh. 2. CONCEPÇÕES SOBRE POPULAÇÃO
'
sirva p.ara d1ss1mu1aa-1
. ·ts entre essas fonnas de co ec1mento são
A ngor, os 1uni e ., , . '
. d·ficeis
1 1
de discernir. E poss1vel enxergar mais de
muitas vezes,
. alidade numa mesma obra.
av utu .
De qualquer forma, diante do exposto, c a-se um e bate
- · creografia da população, compreendida como
pnmei-1 em re açao a "' ,. •.
. aça- dos fenômenos urbanos, pohttcos,econom1cos
ra aproxun 0 . · . . , ,
stituindo
, nesse sentido, o pnme1ro capitulo dos tratados
ede Con
tc.,creografia h ana.
Apopulação, inversamente, será desvendadaa partir do en-
0

tendimento dos fenômenos arrolados no parágrafo anterior.


"Marx, ( (devemos insistir continuamente nesse pon Voltar a teorias ou reflexões sobre população, como as de
..).
to essencial) afirma que a ideia geral, o método, não dispensa 10
a apreensão, em si mesmo, de cada objeto; o método propor
ciona apenas um guia, um quadro geral, uma orientação para 0
conhecimento de cada realidade. Em cada realidade, precisamos
apreender as suas contradições peculiares, o seu movimento pecu
liar (interno), a sua qualidade e as suas transformações bruscas; a
forma (lógica) do método deve, pois, subordinar-se ao conteúdo,
aoobjeto, à matéria estudada; permite abordar, eficazmente, o
seuestudo, captando o aspecto mais geral desta realidade, mas ja
mais substitui a pesquisa científica por uma construção abstrata."
(Lefebvre, O Marxismo, p. 29)
Malthus e os neomalthusianos, e as de Marx e seus seguidores como críticos
dos primeiros, não significa esgotar as leituras de popula ção existentes; nem
que se começou a pensar em população a partir do século XVIII, através de
Malthus. Esse retomo ao pensamento malthusiano e marxista visa esclarecer
as bases do entendimento da população no século XX; não define, portanto,
uma recuperação evolutiva do pensamento sobre população ao longo da
história. É a atualidade dessas teorias que faz com que retomemos a elas.
Retomando a preocupação esboçada no capítulo anterior, cada uma
dessas leituras distintas sobre população corresponde a diferen tes modos,
inclusive contraditórios, de interpretação da sociedade e do movimento
histórico. Observemos, assim, a expressão social de seu entendimento. Ou
em outros termos: até que ponto essas leitu ras contêm a complexidade da
realidade social e histórica.

TEORIA DE MALTHUS

Thomas Robert Malthus escreve seu Primer Ensayo sobre la


Población em 1798; em 1803, publica sua segunda edição,

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ampliada e reelaborada. Quatro outras edições se sucedera ão do trabalhador de um lugar para outro, transformação de sua
sem modificações substanciais face à segunda edição; a últi ida em família, aumento da mortalidade infantil, etc.
Essa situação econômica e social dramática desenc_ad u
delas em 1826.
um movimento de quebra de máquinas no começo da h1stona
Nós vimos que o conhecimento não nasce independente do
industrial da Inglaterra e de outros países, chamado movimento
movimento real da vida.
ludista, ou dos Destruidores e Máquinas. Era o início da luta da
Que momento histórico é preciso circunscrever de início?
classe trabalhadora para enfrentar o pauperismo.
De início, não é possível nos atermos a uma década, ou mesmo Malthus traz para o interior de sua leitura da população a dis-
a intervalos menores de tempo, embora isso tenha sua especifici cussão do pauperismo. É preciso verificar em que tennos: seele
dade e importância diferenciada no movimento total dessa época: cria umvéu que o esconde, ou uma interpretação que o desvenda
a era capitalista, que data do século XVI, embora em países do O homem malthusiano é uma abstração vazia ou um recur so
Mediterrâneo tenha se estabelecido esporadicamente durante os do pensamento para analisar e sintetizar os conflitos reais que as
séculos XIV e XV. classes mais empobrecidas viviam?
Essa era se inicia com a separação de grandes massas hu Malthus, em sua primeira versão do princípio de popula-
manas dos meios de subsistência e produção, lançadas ao mer ção, polemiza com os chamados socialistas utópicos - Condorcet,
cado na qualidade de trabalhadores livres. Esse processo tem sua Godwin, Wallace - cujas obras, de modo geral, propunham uma
expressão clássica na Inglaterra, exatamente, onde se produz o sociedade igualitária como alternativa à situação de miséria vivi da.
pensamento de Malthus. Não se trata somente de superação da Segundo ele, a causa verdadeira dessa miséria humana não era a
servidão da gleba e da decadência do regime urbano medieval, sociedade dividida entre proprietários e trabalhadores, entre ricos e
ocorridas já em fins do século XIV. Mas de um processo de ex pobres. A miséria seria, na verdade, um obstáculo positi vo, que
propriação violento iniciado no século XV, que privou da terra atuou ao longo de toda a história humana, para reequili brar a
os camponeses livres, assumiu várias formas, e durou séculos. desproporção natural entre a multiplicação dos homens - o
Esse processo é chamado por Karl Marx de acumulação originá crescimento populacional - e a produção dos meios de subsistên cia
ria, ponto de partida da acumulação capitalista, já que a relação - a produção de alimentos.
do capital pressupõe a separação entre os trabalhadores e a pro Por trás dessa constatação estaria uma lei natural: a do cres
priedade sobre as condições de realização do trabalho. cimento da população num ritmo geométrico e a dos produtos de
No momento em que Malthus escrevia final do século XVIII subsistência num ritmo aritmético.
e início do século XIX, vivia-se, na Inglate:ra o desenvolvimento A miséria e o vício são obstáculos positivos ao crescimento
da grande maqu· · b . . ' da população. Eles reequilibram duas forças tão desiguais.
. man a, su st1 tu mdo a manufat ura· alguns o
minam de industri r
deno- D . ' . , Em.outras palavras, o crescimento natural da população, que
d et raIha o como ª ismo. . esencade1a-se uma revolução no mew e detennmado pela paixão entre os sexos, excede a capacidade da
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nizado na fáb . surgui:iento de um sistema de máquinas orga- terra para produzir alimentos para o homem. A dificuldade da sub
st
de trabaihad nca. Essesi ema revolucionou a vida de milhares sistência exerce uma forte e constante pressão restritiva, sentida
ores, expulsand ,
homem adulto em d . o-os de seus empregos; o trabalho do ! em. um amplo setor da humanidade: os mais pobres ficam com
pelo trabalho da . etermmadas fases produtivas foi substituído a pior parte e a menor arte, convivendo com a fome e a miséria.
cnança e da Ih
mos
12 de produção T d . ' mu· er; e, deslocado para novos ra-
. U O ISSO
s igni ficou desemprego, movimenta-
A miséria para Malthus, é, poi:ranto, necessária. Ela apare.
ce na fome, no desemprego, no rebaixamento dos salários; então daquele da agricultura. No caso da manufa_tura, _uma nação poderá
ela mata, ela faz adoecer, ela reduz o número de matrimônio/ enriquecer, mas não poderá manter um maior numero de trabalha
ois será mais difícil sustentar os filhos (obstáculo preventivo ' dores pois essa riqueza não viria acompanhada de um aumento e
I d 1 . O .
p a e i cita provisões. E mais: pode atrair mais trabalhadores do campo, di-
minuindo a produção agricola. .
u Assim, 0 crescimento da população na Europa segue um nt-
·'obrigação moral"). Por outro o, a n os cultivadores
momais lento, dobrando a cada 400 ou 300 anos.
aumentar O emprego da mão de obra disponível, a abrir novas Poderíamos arrolar algumas questões:
terras ao cultivo, a re-harmonizar a relação população/recursos. • Não estaria Malthus fugindo ou subestimando as relações
Ao se ampliarem os meios de subsistência, invariavelmente sociaise econômicas, particulares ao momento histórico que viveu,
a população volta a crescer, e, assim, os pobres vivem um per como fonte explicativa da pobreza, refugiando-se, como princípio
pétuo movimento oscilatório entre progresso e retrocesso da fe. motor de sua teoria, numa relação numérica abstrata? Neste caso,
licidade humana. ele não estaria colaborando para perpetuar essa pobreza? Muitos o
Uma sociedade igualitária estimularia nascimentos, dessa for consideram o ideólogo da economia burguesa; em outros termos,
ma estendendo a todos a pobreza. A luta pela sobrevivência, nessas seu defensor e legitimador.
condições, faria triunfar o egoísmo. Malthus discorda, inclusive, Ricardo, por exemplo, questiona-o: o quanto de trigo dispo
da assistência do Estado aos pobres, considerando-a nefasta, por nível é absolutamente indiferente ao trabalhador, se o mesmo ca
que diminuindo a miséria a curto prazo, favorece o casamento e a rece de ocupação, e não pode adquiri-lo; portanto, são os meios
procriação dos indigentes. de emprego e não os de subsistência que colocam o trabalhador
Quanto à produção de alimentos, ela não é ilimitada. Varia na categoria de população excedente, miserável, ou não.
segundo a existência de espaços cultiváveis, fertilidade do solo, • O desenvolvimento da indústria impediu o desenvolvi
disponibilidade dos empreendedores para se voltarem a essa ati mento da produção agrícola? Hoje, não se produz infinitas vezes
vidade, etc. Nos Estados Unidos, Malthus via um país de espa mais do que em sua época, com proporcionalmente menor quan
ços cultiváveis abundantes e terras férteis a serem aproveitadas. tidade de trabalhadores agrícolas?
Por isso, previa ali um maior crescimento populacional, que do Devo lembrá-los que, segundo Malthus, o crescimento da po
braria de 25 em 25 anos. pulação induziria à incorporação ao cultivo de novas terras menos
Segundo ele, a Europa apresentava diversas dificuldades: férteis e/ou à intensificação do cultivo das terras já disponíveis.
menor quantidade de espaços cultiváveis e solos férteis (a pro
dução em solos menos férteis aumentaria os custos de produção),
e, espe.cialmen,te
umat end enc1. a concentração de Tanto num caso, como no outro, haveria elevação dos custos de
, i.nvesti.mentos
produtivos na ma f: tura d . produção. Daria origem à chamada "lei dos rendimentos decres
est , . nu ª a, e1xando terras sem cultivar. Quanto a
e u1timo aspecto 1 .
centes", extremamente difundida na interpretação em Economia.
ta da s nquezas
.
das ' napo- emiza com . Adam Smith' quando este tra- • Existiriam limites no entendimento do homem por
de renda O u de capital . çoes, considerando como tais todo aumento
da · , Malthus?
preciso distingui , sociedade. Argumenta Malthus que e o na manufatur .
r o numero d b a tena um resultado
pode empregare , e raços que o capital da diferente
sociedade
., 0 numero qu 14
temtorio. O emprege po e produzir alimentos em seu
O homem malthusiano é aquele sujeito à paixão entre os sexos.
Invariável em todas as épocas, essa paixão pode ser consi derada, em
termos matemáticos, como uma quantidade dada, tra-

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<luzida na. multiplic. ação geométrica dos homens.A
paixao~ homens assim definida se reduz a uma função:a entr 0
e s

procri_a
· '· ' · l · çao re o empre a- tem de eu trabalho. Portanto, as condições que O co
guiada pela m1sena e os v1c10s, ou peo matnmônioe O
ce
1i.b'ato-. locam diante dos meios de subsistência - a partir de seu salário _
são fo itas a seu ser orgânico. Isto ocorre porque no capitalismo,
a finalidade da produção é o lucro, ou melhor, a produção de mais
capital, e não a satisfação das necessidades da população.
MALTHUS VIVE Não se trata de desprezar o crescimento absoluto da popula
ção, mas não limitar sua compreensão a uma lei abstrata, que só
Malthus não só está vivo através do pensamento neomalthu atuaria caso o homem não interferisse historicamente em seu des
siano do século XX - que recuperou seusensinamentos, avan tino. Uma lei, portanto, mais apropriada aos animais e vegetais.
çando em novas direções ou vulgarizando-os -, como orientou a Existiriam leis históricas de população, que recuperariam
a singularidade da natureza humana e social nos diversos perío dos
constrnção da demografia, ao conferir importância socioeconômi
históricos.
ca aos problemas populacionais.
À produção capitalista, em específico, não basta a quantidade
Baseando-se na autonomia conferida à população por
pensa de força de trabalho disponível, fornecida pelo incremento natural
dores como Malthus, a demografia formal chega a superestimar da população. Para poder se desenvolver livremente, a produção
ca pitalista ultrapassa esses limites. O entendimento da superpopu
essa tendência autonomizante, constituindo técnicas quantitativas
lação, definida como superpopulação relativa, desvenda sua pro
para pesquisar as "leis endógenas" do movimento da população:
dução para além dos limites do aumento natural da população.
nas análises de natalidade, de mortalidade, quanto à constituição Se de um lado o incremento natural da população trabalha
do crescimento vegetativo, entre outras. dora não satisfaz às necessidades da produção no capitalismo, de
outro lado, é demasiado grande para ser integralmente absorvido.
Centremo-nos, então, na população que essa forma de pro
dução produz e reproduz (população e superpopulação).
MARX E POPULAÇÃO A superpopulação é relativa e não está ligada diretamente ao
crescimento absoluto da população mas aos termos históricos do
progresso da produção social, de como se desenvolve e reproduz
A sobrepopulação ou população excedente em Marx n_a~o é
o capital.
o resultado da desproporção entre o crescimento da populaçao
O número e trabalhadores ocupados aumenta com o desen
e dos meios de subsistência. Em outros termos, a produção de volvimento da produção, mas em proporção decrescente com
uma superpopulação absoluta.
respeito à escala de produção. Para compreender tal situação: é
Para Marx,o pobre não é somente aquele privado de rec
sos, masaquele incapaz de se apropriar dos meios desubsistência, necessário considerar que os meios de desenvolver a produçao,
no capitalismo, são também os meios de exploração e dominação
pormeio do trabalho. Existe, assim, a seguintemediação social a da classe trabalhadora.
seconsiderar:a qualidade de necessitado do trabalhador decorre do
fato deele depender sempre da necessidade que Ocapitalista -
que
. c resce em outras palavras, dá-se
o capita1 , . . a acumulaça~
. . o novos serão empregados. Isso abrevia a vida do trabalhador, por
de
. C porque se ampltam os antigos negocios (alg
capital. resce, . uns seu desgaste acelerado. . . .
·ntos) e surc,em novos ramos produtivos. A redução da jornada de trabalho pode s1gt11ficar mais tra-
podem ser ex t1 ° .
desenvolvimento da s tecmca s, dos métodos d balhadores empregados. O trabalho excessivo da parte ocupada
e ontu d o, O
e , _
trabaIho das ciências incorporadas a produçao (em resumo
, . d b •o da classe trabalhadora engrossa as filas de _sua reserva.
desenvolvimento das forças produt1,v s º. tra alho) exige pro. Portanto, além do incremento dos meios de produção, tam
porcionalmente mais máquinas, matenas-prunas, enfim, meios de bém as formas de exploração do trabalho _exp lsam trabalhadores
dução do que força de trabalho ou mão de obra. Essa é a roduzindo uma população miseravel, excedente.
· o mercado, P d
p r o · d · 1 d" d . du ·
t e n dência do desenvolvimento m ustn a , ten enc1a geral, que Compliquemos ainda mais a situação: o ciclo pro ti o e
se
confirma ou não em diferentes ramos de produção. qualquer indústria, isto é, os períodos em_ que produz mais o_u
Portanto, nem os trabalhadores já empregados, nem os tra- 1 menos mercadorias, os períodos de produçao aceleradae de cn
balbadores adicionais, que, periodicamente, se incorporariam ao se não seguem o mesmo ritmo do crescimento natural da po
mercado, são necessariamente reabsorvidos. Constitui-se, assim, p lação. São muito curtos. E nesses intervalos, ora absorve, ora
uma massa de trabalhadores disponível, ou se criam excedentes expulsa trabalhadores.
populacionais úteis, que constituem uma reserva de trabalhadores A mobilização de trabalhadores, de um lugar para outro, por
inativos, passíveis de serem usados a qualquer momento, depen vezes muito remotos, como de um ramo a outro, permite queo
dendo das necessidades de valorização ou expansão do capital. capital apenas dirija até novos canais o trabalhador já empregado,
Esta superpopulação relativa constitui não só um resultado, não necessitando mobilizar novos trabalhadores.
mas uma condição da acumulação do capital. De duas maneiras: No entanto, existe uma contradição nesse mecanismo. É que
1Q) serve para regular os salários; e a divisão do trabalho é unilateral, fixa o trabalhador em certo tipo
22) e é material humano disponível, a ser aproveitado, inde de trabalho, dificultando-lhe enfrentar novos tipos de trabalho. As
pendente dos limites do aumento real da população. sim, é possível vivermos uma situação de falta de trabalhadores
Problematizemos esses dois itens. num setor simultaneamente a homens na rua, sem trabalho.
abalb dor d socupado, ou semiocupado, isto é, ocupado É preciso ficar claro que a acumulação da riqueza, nos ter
em at1v1dades intermitentes, 1·rreguIares, d e a1. x1. ss1. mos s,a1 mos em que se dá, é ao mesmo tempo acumulação da miséria;
b an.os,
transfo. rm. a-se numa pressa- o v·iva para rebaixar ou manter
trabalho, de um trabalhador em pa icu anto maior a jo,mada de
baixos os salanos daqueles efetivamente ocu ado . . . , . ar, menos
podem sersubstitu'd s, Ja que, estes trabalhadores
ult1mos, . .
. t os pe 1o pnme1ro.
A maquinaria, como já foi menc.
adulto de certas etapasprodut· IOnado, expulsa o trabalhador
. tvas e o sub titu.
nino ou infantil. Isso, segundoM . '. pelo trabalho femi-
das gerações trabalhadoras comcasarx, tmphcana rápido rendimento
arnentos p
. '
Este trabalhador adulto, diante da recoces, por exemplo.
s10 ado aceitar formas de explora ãoconcorrência, seria pres
ou mtens1vamente ainda mais lesivasçQ de seu trabalho extensa
embrutece e degrada moralmente. compreender outras camadas ou classes subal ternas que
José de Souza Martins, em Caminhada no Chão da participam do processo de desenvolvimento capitalista, mesmo
Noite, argumenta que essa criação de excedentes não estando integradas diretamente no processo de traba lho
populacionais úteis não se faz só na fábrica e não expressa capitalista - como os camponeses; ou, como os peões, vivendo rel
somente a exploração. Signifi ca também dominação e ções clandestinas de trabalho, praticamente escravizados, em
exclusão econômica e política. Sob esse prisma, podemos muitas regiões brasileiras. Segundo Martins, o capitalismo também
18

1
9
se desenvolve através de uma"recriaçãocontínua de r 1
ciais arcaicas, juntamente com a progressiva criação; ações so. Na verdade, data da década de 20, na Europa,a te ria do
sociais cada vez mais modernas" (p. 100). e refações , • .,ie população Sensível a diferentes ritmos de crescimento
A massa de população excedente se sin1aria tamb ,
otimo "' . ' .
dapopulação, e preocupada com o decresc1mo agudo da na i-
r
. . . em
ern dade em países europeus, essa teoria se preocupav em cons1de-
vas camadas soc1a1s, como entre os Jovens, que teria no.
menos possibilidades de trabalho. m cada vez uantidade ótima de população, para
rar determinado grau de
a q . .
1
ciência,técnica e recurso disponível, o que asseguranao mais
altonível de renda por habitante. _
Atécerto limite, portanto, o crescimento da população sena
MALTHUSIANISMO E NEOMALTHUSIANISMO um fenômeno positivo. Abaixo desse limite, estaria comprome tidaa
CONTEMPORÂNEO capacidade vital dos países em questão. Alfred Sauvy re lacionaa
diminuição relativa dos jovens na Europa coma perda
doespírito de iniciativa, de inovação, de invenção.
Malthus vive nesses dois últimos séculos, quando se consi
o geógrafo Albert Demangeon diferencia a problemática
dera o crescimento da população como fator determinante do de
da superpopulação absoluta e dos estados de miséria dos países
senvolvimento social.
asiáticos, dessa discussão sobre níveis de vida, a queo ótimo de
O malthusianismo e o neomalthusianismo (identificado
população conduzia. Essa discussão não seria apropriada ao tra
com o pensamento malthusiano, que se estabelece após a Se tamento da questão em países miseráveis, onde a fome reinavae
gunda Guerra Mundial, e é voltado à leitura do crescimento
se adequaria à especificidade dos países desenvolvidos.
populacional nos países ditos subdesenvolvidos e seu reflexo É possível compreender os argumentos semelhantes, usa dos
mundial), embora não preservem integralmente Malthus, no
em situações opostas, para justificar a intervenção fascis ta do
sentido de não o seguirem à risca, atualizando-se sempre em
mundo. Os italianos fascistas legitimaram sua agressão na
relação aos novos problemas sociais e econômicos colocados
Segunda Guerra Mundial pela necessidade de espaço vital, de
historicamente, equivalem a um entendimento desses proble
corrente da alta natalidade e formação de uma superpopulação
mas,a pa ir da comparação entre a quantidade de população
em seu território. Contrariamente, entre os alemães, a luta pela
(seu crescimento natural) e as possibilidades de abastecimento
e recursos vitais de um território. ampliação do espaço vital era justificada como luta contra a ex
Apesar das mudanças d os ntmos
· . tinção de sua população, que registrava uma baixa natalidade.
1 - d de crescimento da popu- Os críticos do malthusianismo asseguram que ele enco
açao o mundo, o pensament I h .
bl'nh , 0 ma t usiano de modo aeral su- bre as formas concretas e históricas, e suas mediações sociais
1 a que o carater da evolução sacio • . . 0
.
por esses diversos ritmosd . econom1ca e determinado particulares; e que estuda a relação entre natureza e sociedade
o crescimento de 'fi
Alguns definem como malth . . mogra co. inclusive ocultando as relações de troca desiguais entre os di
. us1anismo ao , ,
sas, a exp11 cação da misériae d 0 d re ves ou a s aves- ferentes países. O malthusianismo não explicaria a produção
G . esemprego (d . .
. uerra Mundrnl e com a crise de ) epo1s da Primeira concomitante e contraditória da riqueza e da miséria, da super
cimento da população europeia qua1929d ' com? fruto do débil cres-
. ' 00 aba oca natalidade . ro ução de l!mentos e da fome. Fundamentaria ações impe
nao consumo, de forma a estreitaro atingi- rialistas. Servma, portanto, a uma política interna reacionária e
desenvo1v1• mento da produção. 20 mercado
e comprometer
0
externamente agressiva.
O malthusianismo ou neomalthusianismo é
0 Osso Ve
a
. . '
uma ideologia. Uma ideologia que se traduz em estratégias _r,
· eai·s e relativamente eficazes. Na verdade, há umav _Poli.
ticasr . anaçâo Ainda dentro das correntes malthusianas os êxitos da medi
no interior da leitura malthus1ana do mundo, que comporta dife cina em preservar e ampliar a vida são vistos com reticências, já
rentes graus de falsificação. • que provocam o aparecimento de uma população excedente.
De qualquer forma, definir_ o neomalthusianismo como ideo. Em muitos casos, o malthusianismo aparece explícito e con
logia, não significa que ele seJa um representação da realida. fesso - como na Liga Malthusiana, uma entre as inúmeras orga
de alheia ou puramente ilusória, mentrrosa. A realidade histórica nizações do gênero existentes nos Estados Unidos, voltadas aos
serve-lhe de estímulo às interpretações, representações. "As ideo. estudos e políticas de população - ou diluído em discursos, que
logias procedem do real interpretado e transposto" (Lefebvre). sequer têm consciência de sua origem.
Contudo, a realidade comporta aparências, que não refletem to. O crescimento populacional, especialmente a partir da dé
cada de 50, nos países do Terceiro Mundo, no entender da teo ria
talmente sua profundidade e complexidade, e inclusivetornam-na
neomalthusiana, determinaria a existência de uma população
opaca, dissimulando-a. Em outras palavras, o malthusianismoe
0 excedente às possibilidades do desenvolvimento econômico des ses
neomalthusianismo têm um fundamento real, mas podemser, de
países. E assim explicaria seu subdesenvolvimento. Dois ter ços da
tal forma, mutilantes como interpretação, que acabam obscurecen humanidade estariam localizados na Ásia, África e América Latina.
doo entendimento. Mais ainda, eles justificam ações esituações. Isso constituiria um obstáculo ao desenvolvimento, na me dida em
São análises de caráter geral, especulativo, que ao mesmo tempo que essa população expandida, cuja estrutura etária pri vilegiaria
representam interesses definidos, limitados, particulares. As várias os mais jovens e as crianças, requisitaria investimentos não
formas de malthusianismo aproximam-se, distanciam-see se mes produtivos - hospitais, escolas, etc. -, desviando recursos que
clam de maneiras diferentes com um conhecimento mais verda poderiam ser diretamente produtivos - como a construção de fá
deiro.E não são independentes umas das outras. Cada uma pode 1 bricas. Provocaria, inclusive, ao aumentar os efetivos da força de
revelar, como possibilidade, o que a outra sugere. Porexemplo, trabalho, um desequilíbrio cada vez maior entre oferta e procura
uma concepção racista, precisa, declarada,e versões malthusianas de empregos, reduzindo os salários e marginalizando amplas ca
O
s re progresso diferenciado das raças, as concepções sobre madas de população do mercado de trabalho.
ge- net1ca humana e o aperfi · .
. e içoame nto da s raças (eugema), tomadas No interior dessa teoria ficavam evidentes o receio de com
de forma uni lateral toma m , . .
. • as sive1 e Justificam o
p Ida prometer os recursos naturais mundiais (Paul Ehrlich fala da pro
No ra cismo a pareceracismo.
ad e ·
liferação humana como a maior ameaça ao ambiente do planeta)
ela urna demografia d. e de valor das raças e e a pressão e ameaça política, representadas por essa população,
"qualitativsiag"uaJ com
como processo civilizat - - · usti.6ca agresso- es, co1 om· principalmente face ao avanço do comunismo. Nessa teoria es
zação
ono, etc. A m1stu d
se como fator de degeneresc - . ra as raças apresenta- tava presente um racismo renovado, definido como o pavor da
. hga aos fenômenos de classe enc1a. Acresce t .
A n e-se que o racismo se pr:olificidade de "raças inferiores" (o "perigo amarelo" e o "pe
,b · net . -
tam s em desvendariam urna sele classes s a i nterpreta rigo comunista"). Desembocava em estratégias demográficas pre
çã o ' çao,
. . natura l entr .
e mfe nores. As guerras e a fome apa . e raças supe
recenam . cisas: o controle da natalidade, o planejamento familiar.
nores concepções, como a redução naturale ' no hmite de certas
madas atrasados. Ou como justificativa ànecessári d e povose ca- A fome era medida pela relação entre a quantidade abso
sua subJugação. luta de bens úteis disponíveis, e o número de homens. Jacques
22 Verriere, em As Políticas de População, após se exasperar com
0 susto dos números (do crescimento populacional), fala d.a
ficiência de recursos alimentares, qualificando-a como in 1 s11.
6
eia dos balanços glob.ais. As. sim, em 19 70, cada habitSaU Alé da esterilização maciça da população pobre dos países
C1ên
·
Terceiro Mundo consu.m.ma em I 90 g de cereais nte do como a India, a Colômbia e outros, que abertamente optaram por
m'ed.ia k , e nos essa política, especialmente com a ajuda norte-americana (ofere
,
Estados Unidos e Cana da, I 000 kg.
Informe do Banco Mundial, intitulado Políticas de Pobl., cendo frequentemente presentes como rádios, guarda-chuvas para
, . . .
Y Desa"ollo Eco nom1 co, define que, di ferente de mui tas cooptar a população) foram e ainda são utilizadas outras formas
a ci on de controle, como contraceptivos e Dius. Estas últimas envolvem
discU s _
. . soes também organismos internacionais associados aos Estados Nacio
sobre os efeitos econômicos do crescimento da população, centradas 1
nais com distribuição gratuita de anticoncepcionais às camadas em
em seu impacto sobre o aumento da renda total ou per capitae, sse pobrecidas. Como exemplo, temos os convênios entre a Bemfam e
crescimento deveria ser medido por indicadores sociais, tais corno os estados nordestinos. Outro mecanismo é a venda generalizada
0 número de pessoas que recebem uma alimentação adequa
de contraceptivos por todo país, através de farmácias, recomenda ções
que aprenderam a ler, que participam de forma equitativa no au mento médicas privadas, etc.
da renda e estão produtivamente empregadas. De qualquer forma,o São grandes os interesses multinacionais farmacêuticos em
essencial do discurso, em ambos os casos, é o custo social e jogo, na fabricação de contraceptivos e Dius por empresas norte
econômico da absorção dessa população adicional. americanas, alemãs (ocidentais), suíças, entre outras. Dos anti
Apesar de muitos considerarem que os programas de desen concepcionais encontrados no Brasil, 50% estão nas mãos de
volvimento dos países do Terceiro Mundo teriam um efeito redu grandes empresas.
tor sobre a natalidade, admite-se, quase que por unanimidade,a O modelo de família que, sub-reptícia ou claramente, é vei
culado pelos meios de comunicação é o da família nuclear, que
necessidade de políticas de controle de natalidade. Essa redução
tardaria e seria preciso antecipá-la. tem um ou dois filhos. Revistas como Seleções, de produção
norte-americana, e distribuição em boa parte do mundo, durante
As políticas de controle de natalidade, valendo-se do eufe
décadas vincularam a ideia de felicidade a famílias desse porte.
mismo "planejamento familiar", atingiram e ainda atingem inú meros Nessa leitura neomalthusiana, mediações sociais fundamen tais
países. Envolvem desde organismos internacionais, como são deixadas de lado, como o desenvolvimento do capitalismo e o
a ONU- que promove periodicamente conferências sobre po imperialismo e a natureza das empresas privadas, cujo objeti vo é
pulação •o Banco Mundial - que dispensa recursosespecíficos a produção do lucro. Nesse sentido, David Harvey, diante da
para t Imtento_- até organizações públicase privadas, dealcance aceitação de uma teoria de superpopulação e escassez de recursos,
mundial, especialmente norte-americanas _ comoa lnternational
Planned Parenthood Federation que tem .d b ·1 ·ra· que insiste em manter intacto o modo de produção capitalista, es
. • um a 611a a ras1 e 1
a Bemfam, So ciedade de Bem-E star Fam·i· E b , clarece que "o argumento da superpopulação é facilmente usado
.

Estados nac. 10n.a1s, c.nando di.reta ou ind1 • iar. nvolvem tam de


como parte de uma apologia elaborada, através da qual a repres são
plan. eJamento fa.m. iliar; organismos de info•retamente . m
políticas, de classe, étnica ou (neo)colonial pode ser justificada".
e
dicas e farmacêuticas, etc. nnação; entidades me-
ceiroMundo, feitos pelo FMI, têm como exiis êao. s p, aises d o er-
Ainda hoje, empréstimos intemaciona· natalidade, para serem liberados. g ncia O controle de
Devemos concluir que ao mesmo tempo em que se deplora
24 a escassez dos recursos alimentícios, milhares de toneladas de ali
mentos são destruídos; ou estocados à espera de um bom preço;
seus excedentes deslocados de um país a outro, visando manter
25

- -
o· o u são limitados os volumes de
seu preç, , rn Pro.
investimentoe dução agrícola.
Enquanto centenas de milhões de seres humanos, que. Jean-Marie Poursin e Gabriel Dupuy destacam a incapaci
dade da biosfera de degradar e assimilar com rapidez a mon
Os Países denominados subdesenvolvido's sofre tanha de I 50 milhões de resíduos domésticos norte-americanos,
V i. n
vem rn
de que vem envenenando lentamente seu território e sua atmosfera
fome em geral ou de fomes específicas (como a falta de prot . (a exportação de lixo de países como o dos Estados Unidos, é
. e1.
) ortan to sofrem a escassez d e pro utos alimentícios um assunto vivo e hoje importante).
na,s P , , es.
tes são abundantes nos países c amados desenvolvidos.E estes Outros autores afirmam que, de fato, a política de redução
últimos países vivem novas randades: bens antes abundantes do crescimento da população norte-americana não foi adotada.
que hoje cobram valor de troca; isto é, para tê-los é preciso ad A Conferência de População de Bucareste, em 1974, foi sin
quiri-los, como a água, o ar, a luz, o espaço. Daí o surgimento tomática quanto à questão da complexidade do problema da super
dos novos produtos: a água tratada, o ar-condicionado, os an. população. Alguns países pobres apresentaram o argumento de que
tipoluentes, o aumento da especulação imobiliária nos grandes a pobreza erradicada, o desenvolvimento, é o melhor anticoncep
cional. Entrou, também, na pauta das discussões, o superconsumo.
centros urbanos, com o aumento do preço da terra. A concen
Diante dessa nova situação internacional, soluções históri
tração da população, nas grandes cidades, aparece entre os pro
cas clássicas, como migração, a expansão, o crescimento econô
blemas centrais.
mico ou tecnológico, ou ainda remédios drásticos e tradicionais
A rigor, nós, como parte dos países do Terceiro Mundo, vive
como a guerra, a fome, ou as epidemias já não aparecem de for
mos, simultaneamente, as antigas e as novas formas de escassez.
ma tão eficazes. A indústria é apontada como "um fator de de
Essa nova situação aparece no interior de uma leitura ainda sordem para a ecologia mundial, mais custosa que a população".
malthusiana, da seguinte forma: a partir dos anos 70, a questão Estamos diante das novas contradições do modelo de cres
central do século mudou; não são mais os países pobres e prolífi cimento ilimitado - econômico, tecnológico, demográfico - ou,
cos, com multiplicação descontrolada que estariam ameaçandoo em outros termos, da ideologia do crescimento ou do produtivis
globo terrestre, dissipando suas riquezas. O que ameaça é a con mo, que se desenvolveu tanto nos países capitalistas avançados
figuração de uma superpopulação de novo estilo,a partir do su como nos socialistas. Acreditava-se que o crescimento indefinido
perco?sumo desenfreado, do intenso desperdício dos países ricos, da produção e da produtividade, cedo ou tarde satisfaria todas as
especialmente, dos Estados Unidos.
Em termos de política t bl , .
_.
1969 z
sociaçao fundada em , es a pro ematica resultou numa ·as- necessidades. Tal modelo só pode ser posto em xeque para além
. . ,
nha como obJ et1 vo a estab Populat ion G rown, que ti- de um discurso restrito à questão do novo superpovoamento.
n a e ro _ .
iliz a ção d a
. . . popu 1 a çao americana. É no embate entre crescimento econômico e desenvolvimento
va e m Jogo e vitar a di luição do níveld . d a
Esta- social, ou da deterioração deste último no bojo desse crescimen
em geral e a depredaç- d
ao os recursos e mund
vi do . . norte-americano
. to econômico, que está o eixo da questão. Envolve, portanto, os
norte-americano por seu nível de v·d 1 a1s, visto que um
e a natureza, vinte a cinquenta 1 a, so.brecarrega os recursso termos do desenvolvimento do capitalismo monopolista de Estado
vezes mais d O
desfavorecida, de um país subdesenvolvido que uma pessoa através da entrada nos circuitos da troca de elementos antes gra
O superpovoamento, nesse caso dº· · tuitos (água, ar, solo); da insatisfação convivendo com a satisfa
de vida. 26 , 1na ,
resp • a
ei to
qualidad ção, (caso do empobreci sociais; do inchamento do Estado, do aparelho burocrático e da
e mal-estar mento
urbano); do das 27
relações
racionalidade dos tecnocratas; do surgimento de novas
indústr como a do lazer, sujeitando novos momentos da vida
privada cada um de nós a interesses lucrativos, etc. Enfim, o
domínio natureza não equivale à apropriação da natureza pelo
homem,i é, à transformação do homem e sua realização como
ser huma (Esta questão será tratada mais claramente na última
parte deste vro, embora o tempo todo ela alimente nosso
raciocínio.)
Apesar da forma diferenciada, já que lá não existe a u
guesia orientando. e gerenciando relações de produçãocapt
listas, os países envolvidos no socialismo de Estado nãoe 5 t
alheios ao crescimento quantitativo, sem
desenvolvimentoqua
tativo, e suas consequências.
ELEMENTOS DA DINÂM 'OPU&.ACIONAL

A dinâmica populac.:v.u,, 1 in h Q:erais, cor

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