Você está na página 1de 12

"

MUITO ALEM DO ESPAÇO:


por uma história cultural
do urbano
Sandrajataby Pesavento

''Em le tem"" retrouYé, última parte conjunto de idéias e cenelõls herdadas


de À la roC'hcrchc du tallps perdu, do século XIX que se encontra em pro­
Mareei Prous/ é COt.vIdado wna manhã palada crise nos lempos atuais.
à casa daprlnoesa de Guermantes.
Em lermos te6rico-metodol6gicos,
Esperando no saloobiblioteca, ele
que os estudos de história cul­
reenamlra o sabor da madeleine,
e logo Invoca a realidade da tempo tural eslão na ordem do dia na historio­
passada como wna eelta relação entre grafia mundial, podendo mesmo dizer-se
""ISOÇI)eS e lembranças. ..
que constituem a "ponca fina" deste final
(le Nouvel Observ.ltcur, 1995:9) de século.
Entendida como o desdobramento da
história soclaI (Hun!, 1989), que, por sua
SIe ressurgimento do passado se vez, se apresen lava como a verten te te­
propicja pela combinação de uma sullaOte da confluência das historiogra­
1
experiência, ou pela (enovação da sensi­ fias inglesa e francesa,2 a chamada nova
bilidade do vivido - o ato de comel a história cultural se encontra difundida
madeleine -, com a evoctção, que inau­ pela A1emanha3 e Escados Unidos,4 sem
gura uma nova temporalidade através de filiar em tradições mais antigas, rumo a
5
um pas§:Ido que se fuz presenle. II:ilia
Desca fonna. a combinação da memó­ Pode-se mesmo dizer que os debates
ria,1embrança com a sensação/vivência em tomo da história cultural e do sis tema
re-apresenla algo discan Ie no lempo e no de idéias-imagens que lhe dá suporte - o
espaço e que se coloca no lugar do ocor­ imaginário social (&C7ko, 1984) - são
rido. um dunen lO ca.alisador do pensamento
Estariamos diante de uma das COllefl· acadêmico conlemporâneo.
tes centrais do novo paradigma que se Entendemos a história cultural não
propõe substituir o esfacelamento do

Estudos Históricos. R.io de]aociro. 't'ot 8, OD 16, 1995. p. 279-290.


280 mooos HI\TÓiK[K 1991ni
-

a pressupostos teórico-metodol6gicos, sentido, sendo a tarefa dohislOriador a'in-


.
mas como uma DOVd. abordagell� ou um . . I' 'h'I" d 6
glI'e513.m.e19l1loa C, usando oconco-
nom. oIh.r que se apóia sobre as análises lO oomo um instrumento para inteliOfÇ'C
já uaJizadas. e, por sua '.""4 avança dentro o mundo, garantindo a sua inserçio oomo
de um detamin.do enfoque. Neste senti­ categoria central para uma nova epIsteme
do, a história cultur:l1 ,."Imente ...tIl se para a história.
somar ao con.heci,llCnto acumulado, sem EnxeIgar a realidade sob este prisma
mltar as COSIaS a uma matriz teórica, frulO implica se colocar no cerne da redefini­
de uma relli':;0 cumulativa. çio paradigmática da história.
Pensar o soem atra>és de suas repre­ Parece-nos particulanncnte interes­
sentações é, a nosso ver, uma preocupa­ sante a discussão aberta por Jean Boutler
çio contemporânea do nosso fim de sé­ e Oontinique Julia (1995) em publicaçio
culo, b.lirnda pela crise dos paradigmas recente, e que se silUa (n.-tlte à necessida·
explicativos da lftlljdade que pôs em xc· de de estabeleccr novos paradigmas para
que a objetividade e racionalidade das o conhecimenlO teórico.
leis dentíficas no donúnio das ciêndas A alternativa propOSIa se encaminh a
humanas. no sentido ranlO de reoonstruir uma nova
Assumir esta postura metodol6gic> - lOtaiidade quanlO de encontrar novas
a de atingir o real atra>és de suas repre­
" " vias teórico-metodológirns para realizar
sentações - implica partir de detennin a­ a análise histórica. Um primeiro passo
do "corpus teórico".. seria O entendimenlO de que a cultura
O primeiro campo a ser definido seria poderia ocupar este lugar de uma instân­
o da representlçio. A utilizaçio deste oon­ cia mais central e g1oba1iz:m te que reo­
ceilo, que implica o relOmo a DuddIeim e rieotasse o olhar sobre o real Tal postu-
.

M3uss (Mauss, 1969), IOmou-se uma cate­ ca, ao nosso ver mstigante, veulao encon·
• •

goria central para as aJlálises da nova his­ tro da moderna tendência de anáHse da
tória culrural. O conceilO, em s� en",Ive hislOriografia, que aborda os sistelT\.1S
uma série de oonsideraçães, a começar simbólicos de idéias e inL1gens de repre­
pelo pressuposlO de que a represen"'çio sentaçio ooletiva a que se dá o nome de
implica uma relaçioambígua entre a ••sên­ imaginário social.
da e pusença. No caso, a represen",ção é Segundo estl tendência, a tarefa do
a presen tjfoçio de um ausente, que é historiador seria captar a pluralidade dos
dado a ver segun do uma imagem, mentll sentidos e resgatar a construçio de sigo;'
ou n"teria!, que se disrancia do mimetis­ ficados que preside o que se chamaria a
mo puro e simples e trabalha com uma "representlçio do mundo". Mais do que
atribuiçio de sentido. isto, IOrnamos por pressuposlO que a his­
Para Chanicr (1989, 1990, 1994a, tória é, ela própria, reprrsenL1Ção de algo
1994b) a noção de represenl.çiO é central que teria ocorrido um dia. Distinguiría­
para a sua ooncepçio de história cultural, mos. portanto. o que se chamaria "passe..
que se baseia na correlaçio entre práticas dade" (o ,r,1 aoonlecido) da "história",
sociais e representações. A representlçio entendida como narr:uiva que "repre­
deixa ver uma ausência, ('SIabelecendo-se sentl" atra>és de texIO e imagem.
a difetcnça entre aquilo que representl (o Assumir estl posrura - "p6s-modema",
e o que é represemado. segundo Rüssen (1992) - implica adnútir
Mas, ao mesmo tempo, a repusentaçio que não há um únicopron'ssocompreen ­
.6m" uma presença daquilo que se ex­ si", para a história, além de adnútir crité­
põe no lugar do outro. Entre uma e outra rios como o da ficcionalidade e do relati­
funçio, viabiliza-se a oonstruçio de um vismo para a lccuperaçio do pas<ad o.
IUrro A1l.I 00 [\PAÇO 281

Se a "passeidade" é algo que ocone A ddadc é, como se sabe, uma realiza.


por fora da experiência do vivido e se os ção muilO ant� Da Ur dos ziguraths 1
registros cb suaoconêndajá nos chegam Tebas das Sete Portas, da Roma dos Cé­
como rep resentações de algo que já fo� sares i Avignon dos Papas, ela marca a
a hislÓria a ser construída apresenta-se sua presença na bi<tória, através daque­
como uma possibilidade entre outraS de les elementos que assinalam O ad�cn1O
captar o passado. do que se considera civilimção. Mas é
Não é nossa inleOção relOmar todas as sobretudo com o ad.cnlO do capil:Jlismo
"'cetas que esta abordagem implica ou que se impõe a "questio ulbana", colo­
todos os problemas que enfreu ta, mas cando diante do Estld o a exigência de
sim enfocar uma das suas verIeOtes de um modus v/vendi normalÍl3dor do "vi­
investigação, que IOma a cidade como ver em cidades". processos econômicos
objelO de refle:Üo. e sociais muito claros delineiam-se, trans.
fo rmando as cond.ôções da existência:
Neste contexto, buscamos com este concentrações populacionais, migrações
trabalho resgatar a cidade através das rurais, superporoamento e transforma­
represenmções, entendendo o fenôme­ ção do espaço assin alam O aescimenlO e
no umano como um acúmulo de bens configuração das cidades.
culturais (rugan, 1992). Ora, consideran­
A rigor, já existe um signillcatiro co­
do a cultura como uma rede de signif,ca­
nhecimento arumulado em termos de
dos sociaImen te estlbelecidos (Geenz,
estudos umanos, que nos foll<'ll"do por
1981), a cidade é o espaço por excelência
uma hislÓria econômico-sociaI rohada
para a construção destes signifocados, ex­
para as origens e o desenrolvimento do
pressos em bens culturais. Nosso inleOlO
cap;.alismo e da sociedade burguesa e
é, pois, resgatar a cidade como ,,"'I atra­
que teve na cidade o seu espaço privile­
vés da "leitura da cidade", ou de suas
giado de análise. Como refere Pinol
represenmções. EnleOder a questão des·
(1991), a hislÓria u/baila não teve a mes­
te modo não é submetê·la a um mero
ma importância C/ou dimensão eu. uxlos
jogo de palavras, mas sim partir do pres
os países do mundo ocidental, cabendo
supoSIO de que as representações são
à Grã·Bretanha e aos Estados Unidos O
parte integrante também daquilo que
pioneirismo nesta área.7 Na França, a
cbamamos realidade. 1510 se dá não só
linha hislÓrico-social de estudo das cida­
porque são matrizes geradoras de pclti­
des encontraria sua grande expressão na
cas sociais como tlmbém porque de­
,

volumosa coleção dirigida por Georges


monstram um esforço de revelação,bcul­
Duby (1983), complelllcnl:Jd. pelos tra­
mmento dado tanto pelas imagens reais
balhos de Murard e Zylberman (1976,
(cenários, paisagens de rua, arquitetura)
1978), Yves Lequin (1978), 13emard Le­
como pehs im:lgens meL-.fóricas
petit (1988, 1993) ,Jean Luc Pinol (1991),
ratura, pintura, poesia, discurso técnico
Bourillon (1992), Michelle Perrot
e higienism ele.) (Pecb/mn, 1992).
(1981), louis Chevalier (1978) e Chris­
tian Topalov (1987, 1990). No caso bra­
Entendemos, pois, que a cidade opor­ sileiro, há que citar a persisleOte regiona­
tuoiza uma "iluminaçio", expressão '" lização dos estudos, que vão desde análi­
ma da no sentido benjaminiano do termo ses mais amplas e aprofundadadas, resul­
(Petitdeman ge, 1991) de revehçáo, inte­ tantes de teses a artigos, ensaios e obras
il
ligibilidade, cruzamen10 do dado objeti­ de divulgação.
ro (a obra, o traço, o sinal) com o eu·sub­ Mas, como já foi anunciado, interessa·
jetivo (a leitura da represenL�ção). nos o aprofundamento de uma hislÓn.
282 mUDOS HIITÓRlCOI Im/li
-

cultural do urbano, onde se cruzem os ceilD da cidade moderna e da civilização.


d ados objetivos obras, trnços, sinais ou
-
Exigêndas morais, higiênicas e estéticas
"ClCOS" da passeidade que nos chegam, imperiosas se impunham diante da ne­
sob a fonna de imagens ou disrursos, cessidade de "ser" e "parecer" moderno.
com as possibilidades de leitura que a Mesmo que o processo de renovação
cidade oferece. uibana eUl curso não se aproximasse, em
Empreen der este caminho pressupõe termos de eSCIla, do das metrópoles cc.is
pensar para muilD além do espaço, enve­ que suporlavam o conceilD, a população
redando pelo caminho d a s repre­ afetada pelas demolições vivenciava a si­
sentações simbóliCls da urbe, que p0- tuação como pertinente ao acesso à mo­
dem corresponder ou não à ccolidade dernidade. Em suma, os porto-a1egren­
sensí\'el, sem que com isso percam a sua ses sentiam a sua cid.de como metrópole
força imaginária. Como se sabe, a idéia e a representavam como tal em crônicas
ou concepção de que uma ddade seja de jornais, poesias, imagens e discursos
uma metrópole vem assocL'lda a dados variados.
concretos e evidentes, rais como padrão Estariamos di.n te de um imaginário
de edificação, número de população, sis­ social sobre a cidade-metrópole que, sem
tema de serviços uroanos implemen la­ cOllespondência efetiva com o real coo­
dos, rede � infra-estrutura de lazer e ereto, tinha uma existência d"lJ"amente
comercial ele. Metrópoles foram Paris e delimilada pelos padrôes de referên cia
lDndres, assim como Nova Iorque, São conceitual vigentes no mundo capitalis­
Paulo e também o Rio deJaneiro. Ou seja, ta. Pode riamos talvez dizer que Pono
estes centros urbanos comporlaram a Alegre se sentia metrópole sem o ser
materialização, no tempo e no espaço, de realmente, mas esta sensib ilidade fazia
um fenômeno social que deu margem ao com que a represenlaçao unagmarta ga-
- . . , .

conceito de metrópole. nhasse força de realidade. De uma cerla


Mas o que pensarde uma PonoAlegre forma, esta idéia é esboçada por Marsball
dos anos 30 do nosso século, acanh ada Ilerman (1986) em sua celebrada obra,
segundo os padrôes urbanos vigentes, e quando diz que, para determinadas re­
que é referida pelos con telllpoclneos giôcs-como a Rússia fzarista-, a moder­
como metrópole, vivenciando um "ritmo nidade aparece como algo distante, de
aluclnante" de "p rogresso" e desenvolvi­ que se ouve folar, de que se tem um certo
mento, tal como dizem os periódicos da conhecimento, que se almeja experi­
época? mentar, e que se consubstancia, por ve­
Devemos entender que o espaço zes, num único elemento, convertido em
construído, ordenado e transformado - emblema ria tal modernidade. Neste sen­
pela destruição dos becos, a abertura da tido, a avenida Borges de Medeiros, de
avenida Borges de Medeiros, a constru­ Porto Alegre, e a perspectiva Nevski, de
ção do viaduto-suscilavasensações, per­ São Petersburgo, cumpririam o mesmo
cepções, e a elaboração de representa­ papel de represen tação simbólica da mo­
ções para aqueles que vivenciavam o pro­ dernidade desejada.
cesso de mudança na cidade. Sem dúvi­ Da mesma forma, as representições
da, estaS vivências eram tesladasftente ao constituídas sobre o urbano podem, tlm­
consumo de padrôes de referência já bém, corresponder ou não aos códigos
eStlbelecidos: as J:uwls avenidas, os via­ inki:Jis e às intenções dos seus constru­
dulDS ou o saneamento urbano, com a tores (Montliben, 1995). Por exemplo, as
"varrida dos pobres" do centro da cida­ consll'Jções e espaços do poder público
de, eram práticas sociais ligadas ao con- podetn ohedecer a uma intencionalid"lde
10110 lÚlI DO BrAÇO 283

enquanto projeto e concepção, distll1te lizada ou não, existiu como elaboração


das referendas simbólicas que o seu uso simbólica na concepção de quem a pro­
e consumo elaborar. Ou seja, enquanto jetou e a quis conaer;zar.
fonnuladores de propostas para a cida­ Mas Roncayolo não se prende apenas
de, os umanistas e arquitetos atribuem aos potL1dores de tais idéias e execu tores
uma função e sentido a seus projetos, de tais práticas sociais de intervenção no
que poderão se distanciar em muilO das UIDanO e se pergu nta sobre as repre­
conslruções s imbó Ucas feitas pelos usuá­ sentaÇões da cidade que provêm dos
rios daquele espaço uansformado. consumidores do espaço ou habitantes
da uroe. Seriam eles alOres passivos, que
Há que es"helecer, de pronlO, a dis­
legi timariam seUl maior restriçío as re·
tinção trazida por Marcel Roncayolo
presentações impostas "de cima"? Ou,
(1995) entre produlOres e consumidores
pelo contrário, seriam capa2l's de meta­
do espaço . Partin do da cidade como
boli""r as atribuições e designações refe­
representação ou conjunto de repre­
rentes a espaços e vivências e depois
sentações, Roncayolo idenlifica que há
formular suas próprias elaborações sim­
um sistema de idéias, mais ou menos
bólicas? Endossan. do a postura de Ginz.
coeren te, daqueles que "C,zem a cicbdc",
burg (1987), opinamos pela circularida­
a projetam, discu tem e execu tam. Os
de cultural, que pressup õe o vaivém dos
portadores de I:!is idéias seriam identifi­
sen tidos conferidos aos espaços e socia­
cados no interior das dasses dominantes
bilidades utbanas atribuídos pelos pro­
ou das elites dirigentes, com destaque
dutores e consumidores da cidade.
especial para o que se chamaria os "pro­
fissionais da cicbde": arquitetos, utbanis­ No tocan te a estes "espectadores da
tas, engenheiros, médicos sanitaristas e uroe", há que distinguir entre o que se
os demais témico-burocratas encUlega­ poderia chamar de "cidadão comum" ou
dos de implementar os equipamentos "gente sou importância", que constitui a
necessários à intertellçãO utbana. A de­ massa da população citadina, e os que

nominação de Roncayolo tem uma data­ poderiam ser designados como "leitores
ção precisa - o século XIX, no qual emer­ espt"ciais da cidade", represen tados pe­
ge a grande cidade, que coloca para os los fotógrafos, poetas, romancistas, ao­
govemos a necessidade de intervir no nistas e pintores da cidade. Naturalmen­
espaço, ordenando a vida, normatizando te, há uma v:uiação de sensibilidade e
a sociedade. A "quesr5o urbana" aparece educação do olhar entre os dois tipos de
assim como um problcillJ posto, deriva­ consumidores da uroe.
do das transfonnações econômico-so­ Ver a cidade e uadllZ�la Ou discursos
ciais da época, e que tem na cidade o seu ou imagens implica um fenômeno de
Iocus privilegiado de realização.9 Sem percepção, mas que envolve um comple­
dúvida, estes "produtores do espaço" xo ronjunto de u16giCls SCK:bis". Como

concebem uma maneira de conslruir refere Mon1\ibert (1995), estes processos


e/ou uansfonnar a cidade, através de prã­ implicam julgamenlOS sociais, vivências,
tiras delinidas, mas tamb ém constroem lembranças e posições estéticas em cuja
uma maneira de pensá·la, vivê-la ou so­ base se encontra a operação prática do
nhá-la. Há a projeção de uma "cidade que babltus de que fula Bourdieu. Ora, sendo
se quer", imaginada e desejada, sobre a o babltus uma "aquisição" ou um ucap�
cidade que se tem plano que pode vir a
, tal" que se incorpora social e historica­
rnlizar-se ou não. O que impona resga­ mente, ele opera como uma máquina
tar, do ponto de vista da história cultural uansformadora que faz com que "repro­
uroan.a, é que a "dcbde do desejo", rea- du""mos" as condições sociais de nossa
284 ESTUDOS HIITÓiICOS -199111'
-

própria produção, mas de uma maneira cios do que seria a sua ordeul, chegando
relativamente imprevisível (Bourdieu, às represen tações coletivas de uma "ou­
1980). As representações do mundo s0- tra" cidade. Como consideração final s0-
cial assim constituídas, que classificam a bre eslas diferentes percepções do urba­
(eJljd;]de e atrWucm valores, no caso ao , no, há que lembrar a "circularidade cul­
espaço, à cidade, à rua, aos bairros, aos tural" que pernúte a lrOCa de signos entre
habitantes da urbe, não é neutra, nem o que se poderia ch amar a "cidade 1lai
rene.. ou puramente objetiva, mas im­ vivida" dos consuoúdores da urbe e a
plica atribuições de sentidos em conso­ "cidade sonh ada" dos produtores do es
nância com relações S<>dal. e de poder paço, ou ainda entre a contracidade dos
(Bourdieu, 1982). excluídos do sistema, na "contramão" da
Assim é que as qualifiClÇÕeS de peri­ vida, e a cidade ordenada, bela, higiênica
gosa ou segura, limpa ou suja, ordenada e segura das proposlas burgu..s'S.
ou anárquica, bela ou feia para uma cida­ Mas resgatar sensibilidades passadas,
de variavam de acordo com os produto­ ten lar recuperar construções imaginárias

res ou consuoúdores do espaço. Ainda dos homens de oUlrOra, cuja vi,ência


com base no mesmo racioónk> é que cone por fora da nossa experiência sen­
podemos afirmar que há "leitores privi­ sívd, constitui sem dúvida um impasse.
legiados" da cidade, com habilitações TratancJo..se do passad o, como restabele·
culturais, profissionais e estéticas que os cer a R"laçâo entre sensações e lembran­
dotam de um olhar refinado, sensível e ças, como vinrular a vivência à mCiuória?
arguto. É o caso dos citados escritores, Para usar a mctáfoiõl prous'iana, o que
fOlÓgrnfos e pintores do urbano, que res· para o historiador representaria a made­
gatam as sensibilic\adades do ccai vivido, /elne, que, pelo seu gosto, sabor e textu ­
estabelecendo com a cidade uma relação ra, reconstituiria a experiência através da
privilegiada de percepção. evocação?
Isto não quer dizer, para o historiador, Como diz Calvino (1990), Ull" cidade
que os "homens comuns" não sejam d()oo comporta muitas, e, ao analiS3r uma me·
tados de sensibilidade ou que sejam in­ trópole, mediante O que ela se tomou, é
capaze� de elaborar representações. To­ possívelrdordaraquilo que elafoiumdia.
davia, resgatá-Ias é um caminh o que se­ Naturalmente, a forma de uma cidade,
gue outras vias que não a fotografia bem seus prédios e movimentos contam uma
enquadrada e significativa, a obra de arte, hislÓria não >erbaI do que a urbe vi'.cn­
o romance urbano ou a crônica bein dou um dia, mas, por mais que este
escrita. Ler a cidade dos excluídos, p0- patrimônio tenha sido pr"s.ervado, os es­
bres e marginais conduz o historiador a paços e socialidades se al teraram inex�
"escovar a história a contrapelo", como ravelmente, seja enquanto forma, função
diz Benjamin , buscando os cacos, vesti­ ou significado. No caso das cidades mo­
gios ou vozes daqueles que figuram na dernas, metcópoles de futo ou por atri­
história como "povo" ou "massa" ou que buição de seus habitantes, que a vêem e
se encontram na contramão da ordem, sentem como cal, a complexidade da vida
como marginais. É nos regislrOs policiais, e as sucessivas intervenções urbanisticas
nas entrelinhas dos jornais, nas "colunas são agentes de descaracteri23çâo e mes­
do povo" dos periódicos, nas festaS po­ mo de degradação da cidade. Ocoue
pulares e nas manifestações de rua, nos muitas >czes O que se poderia chamar
acontecimentos singulares que quebram uma "pasteurização" ou uniformidade
a rotina da vida urbana que podemos do urbano no pior dos sentidos: a des­
encontrar suas 'VOZeS ou resgatar os indí- truição tia memória, a substiruição do
10110 AIÍlIIlO [!fAÇO 285

"velhO" pelo noyo, a uniformiZlção das dade é um lugar que autoliza as difeiCn­
construções e a gener.J!iZlção do caráler ças e que encoraja a concelltr.lção desaas
de ImpessoaHdade ao con tex\O urbano. difcicnças, construindo pertencimen10s
Em fusdnanle estudo, Richard Senneu díspares e experiências cada "'(2 mais
(1992) se pergu nta, anle o problema cul­ complc-as.
tural da cidade modema: como fazer fa­ O� sob o Império desla diversidad<:
lac esle me.io Impessoal, como ultr.lpas­ é que Senneu postula um DOYO olhar,
sar sua neutralôdad'!? O o.emplo do cen­ defendendo o poder da inlerpre"ção
tro de Pono A1egle '<Clll logo ;\ lembran­ visual que poderia conquisaarae:xpuiên­
ça. Difici1 é vislumbrar, na alUaI rua dos da da complexidade do mcio urbano.
Andrndas, a tradicional rua da Praia, pas­ nesla forma, tudo aquilo que antes
sarel. da moda, roleiro do fOOllng, a representaria elementos de perturbação
desembocar na velha praça da Alffin dega, e de:scaraclerimção - a Impessoalidade,
com os seus cinemas e cúés. Com as o anonimalO, a diferen ça, a complexida­
rachadas dos velhos prédios recobenas de, a separação entre o inlerior e o exte­
de tapumes, revestimen tos e c:a.rtlZeS, os rior, entre O privado e o público - pode
mesmos esp3l:OS cedendo lugar a DOYOS se IOrnar o elemenlO de ieroucação do
usos - "bingos", agências lotérirns e lojas olhar, oportuoiz:mdo uma revelação e
populares de discos -, muito pouco (esta uma noY.l coerência para o mundo.
daquela rua da Praia celebrada em prosa A perspectiY.l de Sennet� que enfuiza
e verso pelos cronislaS e poelaS. a necessidade de mudança de perspecli­
A postura de Senneu se opõe ;\ de Y.l do olhar sobre o urbano, é uma p",
Kevin Lynch (1990), que atribui uma qua­ poSIa que se liga a outros espectadores
Udade visual particubr ao urbano. Lynch e/ou pensadOies da cidade. A começar,
aposta no que se chamaria uma "darida­ como o piÓprio Senneu inYOCl, pela fi­
de" aparenleou legibilidade da paisag'!m gura de Charles Baudelaire, que via em
citadina Para esle aUlOr, reconbecer os Paris a possibilidade de uma tr.lnscen­
elementos visualmenle expostos e nrga­ dência do olliar, taisas coirespondêncL'lS
nizá·los num sistema coerOlte e com­ possíveis de serem apreendidas pelas
preensível do urbano seria uma tarefa múltiplas figuras, espaços e práticts s0-
fácil Já Sennet (1992) enlende que as ciais que a cidade oferecia A figura do
formas visuais da legibilidade na concep­ j1IJneur que erra pela cidade, no emarn­
ção do espaço urbano não se reYeSlelll nbado umano de ruas e personagens, é
de um conleúdo ,50 simples ou WreIO. a de alguém que tropeça em obs táculos,
Ou seja, anle a neutralôdade Imposla pela enreda-se em apelos e se defroola com
ação do ud"mista, a cidade não se reve­ signos a decifrar dianle da ambiY.tlC:ncia
laria tão transparenle. A própria colidia­ da vida citadina. Não é à 10a que é na rua
nC"idade da vida é, também e1a, um ele­ que o poela capla a diversidade da vida e
menlO de alieiação do espaço e de trans­ faz do contrasle e do paradoxo emergir a
formação do meio ambienle. sua representlção do urbano (Labarthc,
O in teressaole na visão de Senneu é 1995).
aposru juslamenle numa das c:traClens­ A idéia do contrasle produzindo a re­
OCas da cidade moderna como e1emenlO velação ou a descoberta poderia ser
rewlador de significados. exemplificada em v:\rios momentos dos
pacidade da grande cidade de oferecer a fumosos Tableaux parls/ens, de Baude­
experiência da alleridade, dadas as con­ Jaire, mas nos restringimos a um só, cor·
dições diversas e múltiplas que a vida porificado na poesia À une mendlanle
uiNOa oferece. Como diz Sennel� a ci- ro...se (Baudelaire, 1972), na qual o au-
286 ESTUIlOI HISrÓiKOS Im/li
-

IOr opõe a figura patética e bela da jovem metrópole propida aos seus habitanteS
mendiga à sanha e cupidez dos "dev.lS- representações contradilÓrias do espaço e
50S" qlJC .'alllaram sua fragilicbde. A cri· das socialidades que ali têm lugar. Ela é,
fica socia1 e a opressão dos humildes por um lado,luz,sedução, meca da cultu­
emerge da imagem conlt'aStante expres­ ra, civilização, sinônimo de progresso.
sa de forma poética. Neste contexto, B:lu­ Mas, por outro lado, ela pode ser repre­
debire recompõe a l g u m a s repre­ sentoda romo ameaçadora,cen lro de per­
sentlÇões do urbano, que operam como dição, império do crime e da barbárie,
valor de "sinlOma" de uma época. mostrando uma flceta de insegurança e
Waher Benjamin, leilDr de B:ludebire, medo para quem nela habita. São, sem
assim como de Prous� desenvolve tam­ dúvida, visões rontradilÓrias,de atração e
bém uma espécie de métDdo do contraste repúdio, de sedução e rechaço, que,para­
com o fim de oportunizar a revelação ou doxa1mente, podem ronviver no mesmo
"i1uminaçio". Cortando os vínculos gené­ ponador. Esta seria até, como lembra
ticos passadQipresente, o que Benjamin Marshall B<'!"man (1986), uma das caracte­
posh.b é a criação de rontra-im.1gens que rísticas da modernidade enquanto cxpe·
rompam o ronlÍnuo da hislÓria, propi­ riência hi<;lÓrica individual e coletiva: a
ciando O que se chamaria de "o sallD do postura de celebração e combate diante
tigre", que daria margem à inteligibilidode do novo, que em parte exerce fuscín io e
pelo contraste (Riissen , 1992). fuplique­ Cill pane atemOiIZa.

mo-nos: não é que Walter Benjamin não Assi m é que, seguindo a estratégia me­
privilegie a teoria e a roostruçio de ron­ tDdol6gica da mootagem segundo o cho­
ceilos para o enteodimeo lD das repre­ que contrastivo, é possível pôr frente a
sentlÇóes do social, poi<;, para tanlD,lança fr-ente as representações da cidade que
mão das categorias da "dialética da parali­ filam de p rogresso ou tradição, as que
sia" ou da fuuasm1goria,versão benjami­ celebram O urbano ou idealizam o rural,
niana do fetichi<;mo da mercadoria m:uxis­ O imaginário dos consumidores do espa­
ta (Benjamin, 1989). ço frente aos dos produtores da urbe, a
EntretanlD, o que cabe resgatar neste visão das eliteS ciudinas e a dos popula­
momenlD é O métDdo de que se vale res e deserdados do sistema,a dimensão
Benjamin para, através do cruzamenlD de d a esfera pública, enquanto repre­
im.1gCOS coo lr'.uias, obter a revelação da scotação, e o im.1ginirio constituído so­
coerência de sentido de uma época. Ana­ bre O privado, as imagcos do espaço que
lisando a obra de Benjamin , Willi BoDe contrapõem o cen tro ao bairro ou ainda
(1994) indica a téOlica da montagem, !0- a própria visão da rua, vista como local
rnada de empréstimo das v.lClguardas ar· de passeio ou passagem, contraposta
tísti<:as, em espedal do cinema, e a sua àqueles que nela moram por não terem
transposição para a hi<;lÓria. Segundo BoI­ Outra opção.
le, a hislDriografla benjaminiana, como Ainda obedeccodo ao princípio da
construção, pressupóc um trabalho de desmontagem e remonL1gcm dos fr;tg­
"destruição" e "desmontagem" daquilo mcnlDs do urbano, obtidos por idéias e
que o passado oferece, visan do a uma im.1gcoS de represenL1ção coletiva que
nova construção, diL'\da pelo "agora". Para são contrastadas com O intuilD de revelar
tanlD, sugere a monL1gem em fotina de uma nova constelação de significados,
"choque" ou contraste, confrontando as WiIIi BoDe (1994:98) indica uma outra
imagens antitéticas c, por conseguinte, técnica de inteligibilidade: a montagem
dialéticas, para promover o "despertar" por superposição. Refere que esta seria
ou a Hrevciação". Exemplifiquemos: uma talvez "a maispropú:ta para radiografar
MUITO AÚ.lIlO I5l'AÇO 287

o Ú� coletivo", pois nela a torna­ outra, con te"",alÕ2an do e opondo ima­


da de consciência se daria aos poucos e gens e discursos antitéticos, na busca de
não por efeito da revelaÇio por choque, significados e couespondênclas.
mencionada acima. Seria o processo me­ Apoiado num nom paradigma centra­
todológico atra>és do qual o historiador do na cultur.ly utilizan do conceilOS tais
iria justapondo personagens, imagens, como os da representação e do im.1giná­
discursos, eventos, perfionnances " ieais" rio ou o principio do cruzamento das
ou "imaginárias" do espaço urbano. prálicas sociais com as imagens e discur­
Seria, ralvez, a técnica que mais se sos de representaÇio do ual, escorado
aproximaria do que comumente se cha­ na estratégia metodológica detetivesca
maria a contexlUali2!lÇio, o refClencial de da montagem por contraste e justaposi­
circunstância ou ainda o quadro de con­ Çio, resta ao hislOriador a difícil tarefa de
tingências que de marca a situaÇio a ser resgatar o que pensavam ou tentavam
analisada. Assim é que, na cid�de, com­ expressar os homens do passado.
pareceriam, como Crngmen tos da história Se o passado é um "lugar" distante, se
ou atores a serem JUSL1poStoS uns aos ele nos chega como um "tempo não vi�

outros, a multidão e oflâneur, o povo e do", onde ocorreram futos "não ohseM­
o destacado personagem, negros, mu­ veis", as vozes deste passado pooem nos
lheres, marginais, políticos, becos e ave� soar estranh as, e suas im.�ens podem
nidas, festas, riLUais, cotidianeidade e figurar como incompreensíveis para a
eventos excepcionais. nossa contemporaoeicbde. Por =, há
F.cnte a esca estratégia de um híslOria· como que um elo perdido que perpetua
dor que recolhe fragmentos expressos em os enigmas de um outro tempo.
discursos e imagens que fIlam de um Resgatar representações coletivas an­
passado, tentando aproximar-se do imagi­ ligas não é julgá-Ias com a aparelhagem
nário coIetim de urna época - e, portanto, menral do nosso sécul o, mas sim tentar
rep Jf"Sentando o já represen tado -, é im­ captar as sensibilidades passadas, cruzan­
possível deixar de pensar em OIdo Ginz­ do aquelas represen tações en tre si e com
burg (1990), com as s"as considerações as práticas sociais concnlcs. É, sobretu·
sobre o historiador.<Jetetive. G irobu rg de­ do, lembrar a atualidade das palavras de
fende que o conhecimento do historiador Lucien Febvre (1987:14): "De falo, um
é indkiário e Crngmenral. Tal como Freud homem do século XVI deve ser Inteligfvel
ou Sherlock Holmes, ele opera de forma não em relação a nós, mas em relação
detetivesca, recolhendo os sintomas, indí­ a seus contemporãneos".
cios e pistaS que, combinados ou cruza­ E, como regra geral de uma história
dos, pennitam oferecer deduções e desve­ cultural urbana, cabe lembrar que todo
lar significados. Por VIifs , a constituição esforço para desvelar represen tações
de um paradigma indiciário não se plCfide pass:!cbs é urna leitura entre possíveis.
às evidêncns manifestas. mas sim aos por· O leilOr do presente - hislOriador em­
menOiCS, aos sinais episódicos, aos ele­ penhado em reconstruir as representa­
mentos de menor importância, m�ais ções umanas do passado - lidará com as
e residuais, que, contudo, pemtitirão a dificuldades do filtro do tempo, a dificul­
decifração do enigH"� e o des(1ZCr de um dade de acesso a códigos e significados,
enredo. a es tranheza da linguagem e das práticas
A rigor, as técnicas de monL�gem por usuais, o inevilável viés da dissimulação
justaposição e contraste não são, em s� na constituição dos discursos, a disper­
excludentes, e, na prática, os historiado­ são e dificuldade do acesso
a fontes e,
res tanto se valem de urna quanto de sobreludo, com a ce np" de lidar com
288 muDOS HIST6�(0\ -19!lnl

matemis que já lhe chegam como repre­ posiÇio e uma abenura para ver um pou­
sentação. Se as representações mais fá­ co mais além, tal .." do que aquilo que
ceis de resgalaC são aquelas que resultam já foi vislO, despertando para o presente
de um aIO de ",mtade ou de um exerácio as múltiplas cidades do passado que as
de poder as identificações umanas atri­
- de hoje encerram.
buídas através de uma elabocaÇio delibe­ E, para recouer às metáforas que os
rada e intencionalmente difundida , -
clássicos nos uazem, possa o novo olhar
mais difícil será a apreensão das contra­ de CUo orienlaC os cacninh os de Ariadne.
imagens construídas pelos usuários da
cidade, retiradas em parte de tradições
imemoriais, desejos não realizados ou
meJabolizaÇio e traduÇio dos vaiores im­
pos lOS.
Notas
Neste enlrecruzamenlO de espaço e
tempo, a cidade aparece como uma ema­
1. Principalmente dos neomancistas ing!o­
ranhada floresta de simbolos, que po­ ses E. P. Thompson, Chrisropher HiU e Ral'"
dem se IOmar legíveis para o hislOriador mond WdIi:uns.
ou, pelo contrário, se configurar como
2. Em especial, o grupo da Nova Histócia,
obstáculos. Reger Olartier, Jacques Le Goff, Jacques Ran­
É neste conleXlO que ganha expressão cicre, Jacques Revel e Alain Burguicre.
a "teoria do l1birinlO" de Abcabam Moles 3. Carl Schorske e Hans Medici<.
(1986). Entendido como um arquétipo
4. Lynn Hun� Nata!ie 7cnoo Da';s e Ro­
fundamental da organização de um espa­ bal I);!mton, só pan citltos mais conhecidos
ço restrilO, o l1birin10 é constiwído de do público brasileiro.
muros, interdiçócs, falsas saídas, mas 5. É o caso espeá6co do muito ceIc:Ixado
IaCnbém de colledores através dos quais Carla Ginzburg.
é possível achar caminhos.
6. Para a caregoria da tepreset1t.Çio, c0n­
A descoberta da cidade é a de um sultar, além das obras de Reger Olartier, Jo­
l1birinlO do vivido eternamente renová­ seIXO Baian, RepresentadotUls roIec/tvas y
vel, onde o indivíduo que nele adentra proyec/o de modemldad (BacceIona, Anthro­
não é um ser compleL�mente perdido ou pus, 1990); Piem: Bourdieu, O poder stmbó­
sem rumo. É alguém que Uda com me­ Itcv (lisboa, Difel, 1989) e Ce queparler ""UI
mória e sensação, experiência e bagagem dire (Paris, Fayard, 1992); Carla Giruhurg,
"Représentation: le mo� l'idée, la chose", An­
intelectual, recolhendo os microestímu­
nales, v.6, nov..<Jez. 1991; Louis Mario, Des
los da cidade que apresentam ca minh os pouvotrs de l'lmage (Paris, Seuil, 1993) e De
que se abrem e se fecham (Moles, 1984). la représenlaJlon (Paris, Gallimard/Seuil,
Para enÍlentar esta !arem, o moderno 1994), e Paul Ria>.ur, Du Ie:de ti 1'Qc//on
leilOr do umano terá de contar com a sua (Paris, Espril/Seuil, 1986).
bagagem prévia, como o seu "capiLl.I" de 7. A partir da clássica obra de H. J. Syos,
historiador: não só um universo concei­ VlclOrtan suburb: a study of lhe growlb of
tuai e instrumental meJOdológico, mas Camberwell (London, Leioester University
também um eSlOque de conhecimenlOS Press, 1961), destaca-se o surgimemo de algu­
mas obras que dariam início à New Urban
acumulados sobre o umano, que as ge­
Histocy, como a de Slephan lbuIlsU'on e
rações anteriores já produziram. A pactir
Richard Sennett, NttUlleenlb amlurycúles Es­
desta base, ele vai cruZ'lr referências, prá­ says In New York btslory (New Haven, Yale
ticas e represen L�çôes, dados objetivos e University Press, 1969), ou mesmo a muito
percepções subjetivas, vai justapor, con­ conhecida obra de E. P. Thompsoo, Tbe ma­
traStar e, sobrewdo, manter uma predis- klng of lhe Eng/Isb worldng class (Loodoo,
limo AILI 00 ESI'AÇO 289

Panlhcon Books, 19(3). Nos Es!:ldos Unidos,


podcr..se-ia mmciorw' o p clássico estudo do
citldo Slqlban nuIIS""" POvei/y antifJi�
I§"ess, svcIaI mobU//y In anlneteenlh cen/ury ARGAN, Giulio Carla. 1992. HIsI6rIa da arte
c{ly (Mass., Ha.rv.ud Uni""rsity Press, 1964). como históriadarldade. São !':lula, Mar­
tins Fon1t:S.
8. Atendendo a esta rcgion3linçio das
visões. b5 que citar, no caso !,:Ibno, as obras BACZKO, Bronislaw. 1984. Les Imt1glnalres
de Kátia Queiroz Mauoso, A clt/ade de SaJrx; social/x. Paris, !':lyot .
dor e seu tnerCIItW no séO/Io XX (São Paulo, BAUDElMRE, Charles. 1972. Les j1eurs du
HucilOC, 1978) e Bahia, séa.lo XIX: umapro. mal. Paris Gallimard.
,

v/ncIa nolmpérlo (Rio deJ:lJleiro, NOVolFron­ BEl'ijAMIN, WaJleC. 1989. Paris copitlle du
ceir2, 1992). As coletâneas org:miz:ldas por
" ,

XIX" siõ:le'-, Le 11"", der /xuS'llr.s. Paris,


Ana fern:lndcs e Maroo Aurélio Gomes, Cida­ CERF.
de e b/st6rla. Modern1mçlio das cidades brg,.
BERMAN, MarshaJI. 1986. rtldo que é SI6Ifdo
saetrasnos séa/Ios XlXe XX (S:llVoldcx, lIFBA.
desmancha no ar; aavenluradamoder­
1992), dão conta de um >iés Icgional do
"fdode. S:la !':luto, Componbia das Lc>
Brasil como um todo, assim como a revista 1r.I.S.
Es}Jal;O e Debate. No ClSO de São !':lulo, há
quedes!:!car as teses defendidas no programa BOlJ.E, Willi. 1994.Afts/onomladameITÓjX;
de �ua90 em História do Unicunp, Je mcdema. São !':lulo, Companbia das
assim oomo a tese de livre-docência de Raquel Laras.
GI<2A'I, Cbao de /erra: um eS/tldo sobre S60 BOURDIEU, PiUle. 1980.Quesllcmsdesoc�
Paulo colonial, defendido na USP em 1992. logle. Paris, MinuiL
No .."so do Rio Grande do Su� regjsu-:un-se a _-;:;-' 1982. Clt que parJer veul dire. Paris,
coletânea cxganiz:Ida por WC:lJlO P:mizzi e Fayard.
J<JÕo RoVoltti, Estudos urbanos: PorIO AJel§"e e
BOU JUIJON, F. 1992. Les vUlesen France au
se u planejamento (pono Alegre, Ed. do Uni­
XIX' stecle. Paris Ophrys.
-.usid'dc, 1993), e os li\>COS de Sondra J...hy
,

p.-" ven to, Memérla Porto Alel§"e: erpaçns e BOUllER, Jean c)lll.lA. Oominique. 1995.
v/liIncIas (Porto Alegre, Ed.do Uni,usidade. "Ouw:rture. 1 quoi pensent Ics hislDo
1991) e Os pobres da cI4ade (Porto Alegre, riens?", em Passés reromposts. Champs
el ebanJJers de I'blslOlre. Paris, Autre­
Ed. da Uni>asidadc, 1994). P:u2 o Rio de
Janeiro, cabe Iemb= os aY.U1Ç05 reoH",dos mau.
pelo grupo que publico.. na re>ista Rio de CALVINO, ItIla. 1990. As cl4ades /nvlsfvels.
Janeiro ou pelos publiClÇÕes feitlS no âmbitO São !':lula, Companbia das Letr:ls.
do IPPUR e do FundoÇÕD Co", de Rui B:ubosa. CHARI1ER. Roger. 1989. "Le monde <omme
Assim <orno a revista Rio deJanelro, os t<:xtOS rép.rescntuion". Annales, v.6, nov..-dcz.
apresentados no Semirúrio Rio RepubliC:lJlo, p.1513-5.
do FundoÇÕD 0... de Rui B:ubosa (ourubro . 1990. A hlslória a./lura/: enlre prálJ,.
de 1994), ttl,tra1iz;lm o seu enfoque na cida­ cor e represenlações. lisboa, Difd.
de do Rio.
----c. 1994.. "A história hoje: dú>idas, de­
9. QuantO 1 c n.agência do "questão urba­ sa6as, ptopostõJs", EstudosHlsl6rloos, nO
na , a>nSU.1tarOlristian TopaJov, f4[)e la 'cuc:s-­
"
13, jan. -jun.
ti6n social' a los 'problemas w-banos'; los
_...,..... 1994b. "L'hislOirecu1rurcJJ eaujourd'­
y la poblociÓll de las mur6po­
bui", Geneses, n015.
les a prinápios dd sigJoXX", Rev/sIa/nJerna..
cIonal de C/indas SocIaIes, Unesco, seL CHEVAIIEIl, J.oui5. 1978. Gasses Iabor/eu.ses
1990; Micbclle PUIO� "u >iUc et ses b.u­ el dasses <Úln6Cieuses à Paris pendanI
t>ourg. au XIX" siõ:le", em Jean Baudrülard et la fJi�liltere mol/Ié du XIX' stede. Paris,
ali� Cllo)"M'llU el urbanlté (Paris, Espri� P1urid.
1993); "A la dá:ou.a", du rut social: 1� DUBY, GeOige5 (Olg.). 1983. HIs/oln! de la
1900" (Paris, o,lmonn-Lby, n02, dez. 1990). /'rance urbalne. Paris, Le Seuil. 4.v.
290 [SllJOlK HIfIÓIJ(O! - 199\/11

GERIZ, Cliffonl. 1981. A tn/erpretaçá<J das _-;-' 1978. "L'haleinc dcs bubowgs, villc,
culturas. Rio dcJaneiro, Gu:uub:u-a. habitlt et santé :lU XXXC siCde", Recber�
GINZBlJRG, Cat\o. 1987. O queijo e os ver­ cbes, nO 29.
""'... São Paulo, Companhia das Letras. PECHMAN, Rob<iI Moscs. 1992. "Um olhas
1990. "Raí11"S de um póll"ildigrna indi­ sobre a cidade: esrudo de imagem e do
imaginário do Rio na formaçioda moder­
__o

ciácio", em GINZBlJRG, Carlo. Mllo, em­


bkmas, sinais. São Paulo, Companhia nidade", cmFERNANDES, AnacGOMES,
das U::Jras. Masoo Aurélio. CIdatk e blst6rla, Salva­
dor, UFBA/ ANPUB.
HUNf, Lynn. 1989. 1be new cultural blslary.
Califomia. Univer.;ity of Olifornia Press. PERRar, Miche1le. 1981. "Les ouvriets, I'h.­
bil:lt et la ville au XIX" siede", em lA
LABAKIHE. Patrick. 1995. "Paris oommc dó­ ques/Ion du loge"""" el /e mouvemenl
ror aIlégoriquc", em AVICE, Jean Paul c
ouvrlerfrançals. Paris, Éd. de la Villete.
PICHOIS, Claudc (dir.). /}aI/delaire, Pa­
ris, I'a/Iégorle. Paris, Klincksicck. P''''E'EMAN
'''Iln-"lU CE, Guy. 1991. "Av.m lemonu­
menu!. les p::assages: Walter Benjamin",
UlNOlNEL OBSERVATEUR 1995. Paris, mar. an BaudriJl;Jrd, Jean et alli. Clto)etl:uité

ll:PEIfI, Ilenurd. 1988. Les vll/es dons la el urbanll�. Paris, Esprit.


Prance moderne (1740-18-10). Paris, AI­ RÜSSEN, )obn. 1992. "'"' bisl6ria, cntce mo­
bin Michd. demidad y post-modemidad", em CAL­
_ -. & PUMAIN, Denise. 1993. Temporal/­ UlGO, José Andrés (erg). New fllslary,
lés urbatnes. Paris, Anthropos. Nouvel/e Hlsloire; bacia tina nueva bis­
UlQlJIN, Yvcs. 1978. "Les déb.1S et les tal­ tória. Madrid, Act:lS.
sions de lasocietéindustrielle", em Léon, PINOL, Jean Luc. 1991. lo monde des vU/es
Pia.c (ed.). Hlsloln! �CXJllOmÚ/U'! el '" (lU XIX' sfede. Paris, Hacbeuc.
cla/e du monde, 1840-1914. Paris, As­ RONCAYOLO, Maced. 1990. lA vllle el ses
mand Colin. t. 4. . lellltoiTes. Paris, G3llimard.
LYNCH, Kcvin. 1990. A /mage""�m da cidade. SENNIDT, Richasd. 1992.lA vIIle à vue d'oell.
lisboa, Edições 70. Paris, Plon.
MAUSS, Maced. 1969. I12presénlaJlonsoolle<> TOPALOV, Olristian. 1987. Le /ogement en
IIves el d/ver� des dvUlsaJlons. Paris, Prance; bls/()In! d'une marcbandise Im­
Ed. Minuit. (Ocuvres, 3) possIb/e. Paris, Pr... s de la Fondation
...

MOLES, Abraham. 1984. lahyrlnlbes du oocu; Nationalc dcs Scienccs Politiqucs.


I'espace, mallere d'ucllon. Paris, lilirairic _-,-' 1990. "De la 'cuestión social' a los
Méridiens. 'probl= urbanos'; los reformadores y
_ , 1986. "l.abyrinthe ou nébulo'se", em la pob1ación de las mctr6poles a princi­
-,,-
pace Temps. Vo� au centre de la
Es pios dd siglo XX" , I12v1sla ItIIernaciona/
de Ciências SocIaIes, Unesco, Sel.

vIIIe. Eioge de l'U1'ba"II�. Paris, nO 33.


MONTIlBERT, Cltristian de. 1995.L·;mposs/­
b/e au/ollOm/e de I'arcbllecle. Su.... (Recebido para publicação em
bourg, Prt'SSt'S Univcrsitaires de Scra.s.­ outubro de 1995)
bourg.
M URARD, Léon& lYLBERMAN, Patrick. 1976.
"L:: petit b'aYo1illeur infutig;lble, villes, llsi­ Sandra Jatahy Pesavcnto é professon
nes, habicllS et intimités au XXXC siêde'" tihdar de: história do Unsil da Universid3de
I12cbercbes, nO 25. Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Você também pode gostar