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A lguns dos “artefatos” dessa citação podem ser capturados pela categoria re-
ligião; entretanto, não é este o ponto que pretendo enfocar. C hamo a atenção
para o procedimento metodológico de dispor um conjunto de símbolos e sig-
ni›cados no espaço urbano de São Paulo dos anos 1940. O texto aqui proposto
-
ções mais recentes do universo das religiões articuladas à dinâmica urbana dos
pontos de vista das características socioeconômicas e da territorialidade dos
religiosos. Em resumo, duas dimensões que vão sendo discutidas conforme a
apresentação dos dados sobre religião na Região M etropolitana de São Paulo
(doravante RMSP) nos últimos anos.
Se existe algo sobre o qual não há (ainda) questionamento nos estudos das
religiões no Brasil é a crescente diversi›cação das práticas – a multiplicação das
instituições – ao mesmo tempo em que há menor ›delidade a elas. O s dados
censitários estão aí para nos demonstrar isso, assim como a experiência cotidiana
de transitar pelas grandes cidades revela a profusão de locais de participação
religiosa, sejam templos, terreiros, festas, lugares abertos e/ou tornados sagrados
em um determinado período de tempo, entre outros.3
Se, por um lado, há diversidade do número das alternativas, por outro, vê-se
a mobilidade de pessoas entre as diferentes religiões. Esses dois fenôme-
nos estão articulados em um mesmo macroprocesso de transformação da
religião no Brasil contemporâneo. Acrescente-se ainda que eles ocorreram
de forma mais intensa nos grandes centros, onde a quantidade de pessoas
associada a um alto grau de diferenciação interna forma o espaço social no
qual a proliferação das religiões é um dos aspectos do dinamismo urbano.
Para ser mais preciso, a perda da hegemonia católica foi mais acentuada em
contex tos urbanos e em frentes de expansão territorial por meio da migra-
ção; nestes, os evangélicos (em especial os pentecostais) foram os que mais
proliferaram. Ressalte-se ainda que também nos grandes centros urbanos,
sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo, a diversidade institucional
ex trapolou de forma signi›cativa o universo cristão ao abrigar também as
religiões orientais, da N ova Era e as de matrizes indígenas, entre outras.
M esmo que demogra›camente inferiores, elas, em boa medida, coexistem
graças à dinâmica do meio urbano.
O que me interessa, portanto, é compreender como o contex to urbano,
mais especi›camente na R MSP, parcialmente conforma e é conformado
pelas práticas religiosas. N esse sentido, a cidade não deve ser tratada ape-
nas como pano de fundo, uma paisagem (embora também seja isso), mas
1
Agradeço a Tiaraju D ’A ndrea e Jacqueline Moraes Texeira pela fundamental contribuição na pro-
dução dos mapas e dados quantitativos.
2
Agradeço ao amigo L uiz Jackson a informação e o exemplar da revista Sociologi a que contém a
segunda parte do texto de Florestan Fernandes.
3
Pierucci, 2006, recentemente questionou a tão alardeada “diversidade religiosa” brasileira a›rmando
que o campo das religiões no Brasil ainda se encontra demogra›camente concentrado em torno do
cristianismo. D e fato, este é um argumento forte, que coloca limites à “festejada” diversidade. D esse
modo, pode-se concluir que existe uma diversidade institucional signi›cante, mas demogra›camente
restrita ao cristianismo.
4
N a verdade, ele ainda cita um quarto circuito entre os códigos genéticos.
5
Idem.
6
Foram fontes para o levantamento: o cadastro de empresas do IB G E ( C N PJ); a Fundação SE A D E;
e, principalmente, contatos com lideranças religiosas.
7
Marques, 2005.
8
C ategoria nativa empregada nestas cidades e que descreve contextos parcialmente semelhantes às
denominadas “periferias” em São Paulo.
9
Almeida, 2004.
10
Além das periferias, os sem religião estão presentes também nas regiões centrais da RM SP, em
especial na Z ona O este, em bairros como Pinheiros e Perdizes, cujas características socioeconômicas
são de camadas médias e escolarizadas.
11
Em vários depoimentos as pessoas valorizam ou desvalorizam certas religiões conforme o parente
a elas associado.
12
Em Paraisópolis existe o Fórum M ultientidades, que reúne associação de moradores, O N G s, agentes
estatais, instituições ›lantrópicas e religiosas. O s declarados católicos e a Igreja C atólica participam
do Fórum, enquanto as inúmeras igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais, quase ou nada
participam dele.
13
Almeida, 2009.
14
A tese de doutorado de C hristina V idal (2009) apresenta diversos casos etnográ›cos de interação
entre evangélicos e tra›cantes, a ponto de, algumas vezes, ocorrer a inde›nição de algumas fronteiras
entre eles.
15
Evento que ocorre uma vez por ano e reúne milhões de evangélicos numa grande passeata pela cidade.
Tal iniciativa teve as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo como as primeiras organizadoras do
evento que, atualmente, é realizado em vários lugares do país.