Você está na página 1de 25

SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA

CONTEMPORÂNEA

ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL I
(Lévi-Strauss)
Alexandre Felipe Diniz
Carlos Eduardo da Silva
João Vitor Gomide de Almeida
Lucas de Souza Martins
Pedro Henrique da Silva
Quem foi Claude Lévi Strauss?

O antropólogo Claude Lévi Strauss em foto de 8 de junho de


2001.
HISTÓRIA E ETNOLOGIA
 Hauser e Simiand expuseram e opuseram os pontos de princípio e
método que, segundo eles, distinguem entre si a história e a sociologia
 tais diferenças dizem respeito essencialmente ao caráter
comparativo do método sociológico, monográfico e funcional do
método histórico.

 O que aconteceu desde então?


 Constatou-se que a história se ateve ao programa modesto e lúcido que lhe
era proposto e que avançou em seu caminho.

 Do ponto de vista da história, os problemas de princípio e de método


parecem estar definitivamente resolvidos.
 Não acontece o mesmo com a sociologia. Não se pode dizer que ela não se
tenha desenvolvido: entre seus ramos, a etnografia e a etnologia floresceram
durante as últimas três décadas, numa prodigiosa produção de estudos teóricos
e descritivos.

 Neste artigo foi deixado de lado o termo “sociologia”, pois ainda não faz por
merecer o sentido geral de corpus do conjunto das ciências sociais, desejado
para ele por Durkheim e Simiand.

 Definição de etnografia e etnologia.

 Etnografia: consiste na observação e análise de grupos humanos tomados em sua


especificidade, visando à restituição, tão fiel quanto possível, do modo de vida de
cada um deles.

 Etnologia: utiliza comparativamente os documentos apresentados pela etnografia.


 Com essas definições, a etnografia assume o mesmo sentido em todos os
países, e a etnologia corresponde aproximadamente ao que se entende, nos
países anglo-saxões, por antropologia social e cultural.

 Os resultados do estudo objetivo das sociedades complexas e das sociedades


ditas primitivas puderam ser integrados.

 O problema das relações entre as ciências etnológicas e a história.

 Ou nossas ciências se debruçam sobre a dimensão diacrônica dos fenômenos, isto é,


a sua ordem no tempo, e se tornam incapazes de fazer-lhes a história, ou buscam
trabalhar como os historiadores, e a dimensão temporal se lhe escapa.

 Pretender construir um passado cuja história não temos meios de atingir ou querer
fazer a história de um presente sem passado, eis o drama, da etnologia num caso,
da etnografia no outro.
 A civilização ocidental aparece como a expressão mais avançada da evolução
das sociedades humanas, e que os grupos primitivos como “sobreviventes” de
etapas anteriores.

 Buscar-se-á, assim, recortar as culturas em elementos isoláveis por abstração


e estabelecer, não mais entre as próprias culturas, mas entre elementos do
mesmo tipo em culturas diferentes, tais relações de filiação e de
diferenciação progressiva que os paleontólogos descobrem na evolução das
espécies vivas.

 Para em etnólogo chamado Tylor, o arco e a flecha constituem uma espécie,


o costume de deformar a cabeça das crianças é uma espécie, o hábito de
agrupar os números em dezenas é uma espécie. A distribuição geográfica
desses objetos e sua transmissão de uma região a outra devem ser estudadas.
 A crítica à noção de totemismo.

 Os processos conscientes e inconscientes, traduzidos em experiências


concretas, individuais ou coletivas, pelos quais homens que não possuíam uma
instituição vieram a incorporá-la, seja por invenção, seja por transformação
de instituições anteriores, seja por tê-la recebido de fora é uma busca
essencial da etnografia, assim como dos historiadores.
 Franz Boas

 Franz Boas (1858-1942) é um antropólogo alemão, considerado pai da antropologia


norte-americana, pioneiros do método etnográfico e da noção relativista e plural
de cultura.

 Em relação à história, Boas começa com uma declaração de humildade: em


matéria de história dos povos primitivos, tudo o que os etnólogos elaboraram
se reduz a recordação, e não pode ser outra coisa.

 O estudo detalhado dos costumes e de seu lugar na cultura global da tribo que
os pratica, unido a uma investigação relativa à sua distribuição geográfica
entre as tribos vizinhas, permitem determinar, de um lado, as causas
históricas que conduziram à sua formação e, do outro, os processos psíquicos
que os tornaram possíveis.
 Para a pesquisa ser legitima:
 A pesquisa deve restringir-se a uma pequena região, com fronteiras
claramente definidas, e as comparações não poderão ser estendidas para
além da área escolhida como objeto de estudo.

 A recorrência de costumes ou instituições análogas não pode ser tomada


como prova de contato na ausência de uma cadeia contínua de fatos do
mesmo tipo que permita ligar os fatos das extremidades por uma série de
intermediários.

 É certo que nunca se obtém certeza cronológica, mas é possível atingir


altíssimas probabilidades em relação a fenômenos, ou grupos de
fenômenos, limitados em extensão no espaço e no tempo.
 No entanto, essas investigações rigorosas raramente conseguem captar a
história. Em toda a obra de Boas, o resultado delas parece ser mais negativo.

 Essas experiências sociais, essas interações constantes entre indivíduos sobre


o grupo e do grupo sobre o indivíduo, nunca podem ser deduzidas, têm de ser
observadas, ou, como Boas disse certa vez, “para compreender a história, não
basta saber como as coisas são; é preciso saber como vieram a ser o que são”.
 O conhecimento dos fatos sociais só pode resultar de uma indução, a partir do
conhecimento individual e concreto de grupos sociais localizados no espaço e
no tempo  Indução que, por sua vez, só pode resultar da história de cada
grupo.

 A obra de Boas continua, e continuará por muito tempo a dominar todos os


desenvolvimentos ulteriores.

 Kroeber esforçou-se em afrouxar um pouco os critérios de validade que Boas havia


imposto às reconstruções históricas.

 Malinowski e sua escola, tomaram a orientação oposta: já que a própria obra de


Boas demostra o quanto é vão procurar saber “como as coisas vieram a ser o que
são”, renuncia-se a “compreender a história” para fazer do estudo das culturas uma
análise sincrônica das relações entre seus elementos constitutivos, no presente.
 “Designa-se pelo nome de organização dualista um tipo de estrutura
social encontrado com frequência na América, na Ásia e na Oceania,
caracterizado pela divisão do grupo social – tribo, clã ou aldeia – em
duas metades [...].” (STRAUSS, 2008, p. 18, grifos nossos).

A proposta de romper com a “noção de organização dualista” (p. 20).


 “A etnologia e a etnografia [...] não passariam então de uma história
envergonhada demais de si mesma, em razão da falta de documentos
escritos ou figurados, para ousar assumir seu verdadeiro nome.”
(STRAUSS, 2008, p. 20).

 “Quando nos limitamos ao estudo de uma única sociedade, podemos


fazer uma obra preciosa. A experiência comprova que as melhores
monografias geralmente se devem a pesquisadores que viveram e
trabalharam numa única região.” (STRAUSS, 2008, p. 21).
 “O que interessa ao etnólogo não é a universalidade da função, que
está longe de ser indubitável e que não pode ser afirmada sem um
estudo atento de todos os costumes dessa ordem e de seu
desenvolvimento histórico, apesar de esses costumes serem tão
variáveis.” (STRAUSS, 2008, p. 23).
 “Na verdade, podemos nos perguntar se todas essas construções
apressadas, que só conseguem fazer das populações estudadas
“reflexos de nossa própria sociedade” (Boas 1936), de nossas
categorias e de nossos problemas, não decorreriam, como Boas
percebeu com clareza, de uma superestimação do método histórico, e
não da atitude contrária.” (STRAUSS, 2008, p. 25).

 “O paradoxo, contudo, permanece: a crítica das interpretações


evolucionista e difusionista mostrou-nos que, quando etnólogos
pensam estar fazendo história, fazem o contrário da história.”
(STRAUSS, 2008, p. 26).
 Etnografia

 A etnografia corresponde aos primeiros estágios da pesquisa: é a


pesquisa de campo e a coleta dos dados mais diversos sobre uma
sociedade particular, que em geral resulta num estudo monográfico
circunscrito no tempo e no espaço.
 História

 A história se baseia no estudo e na crítica de documentos de autoria


de vários observadores, que podem ser confrontados e justapostos.
Carlos Eduardo
Análise das relações de avunculado.
+ -

- + =

= - +

Tonga – patrilinear
- +

Tcherkesse - patrilinear - +

=
+ -
+ -
=
Siuai - matrilinear
+ -
- +
Trobrian - matrilinear
=

+ -

Lago Kutubu - patrilinear


 “Vemos, assim, que, para ser compreendido, o avunculado deve ser tratado
como uma relação inserida num sistema, e que é o sistema que deve ser
considerado, em seu conjunto, para perceber sua estrutura. Essa estrutura se
funda em quatro termos (irmão, irmã, pai, filho), unidos entre si por dois
pares de oposições correlativas, de tal modo que em cada uma das duas
gerações em questão sempre há uma relação positiva e uma relação negativa.
Se nos perguntarmos o que é essa estrutura, e qual sua razão de ser, a
resposta é a seguinte: essa é a estrutura de parentesco mais simples que se
pode conceber e que pode existir. É, na verdade, o elemento de parentesco.”
 “Observemos inicialmente que o sistema de parentesco não possui a mesma
importância em todas as culturas. Ele fornece a algumas o princípio ativo que
regula todas as relações sociais, ou a maior parte delas. Em outros grupos,
como a nossa sociedade, essa função está ausente ou muito atenuada. Em
outras ainda, como as sociedades dos índios das planícies norte-americanas,
ela é apenas parcialmente cumprida. O sistema de parentesco é uma
linguagem; não é uma linguagem universal, e outros modos de expressão e
ação podem lhe ser preferidos.”
 “[...] interpretamos o avunculado como um traço característico da estrutura
elementar. Esta, resultante de relações definidas entre quatro termos, é, de
nosso ponto de vista, o verdadeiro átomo de parentesco. Não há existência
que possa ser concebida ou dada aquém das exigências fundamentais de sua
estrutura e, por outro lado, ele é a única matéria-prima de construção dos
sistemas mais complexos.”
Mutualidade [=], reciprocidade [±], direito [+], obrigação [–].

+ +/- -
 Sem dúvida, a família biológica está presente e se reproduz na sociedade
humana. Mas o que confere ao parentesco seu caráter social não é aquilo que
ele tem de manter da natureza. É o procedimento essencial pelo qual ele se
afasta dela. Um sistema de parentesco não se encontra nos laços objetivos de
filiação ou consanguinidade dados entre os indivíduos. Ele só existe na
consciência dos homens, é um sistema arbitrário de representações, e não o
desenvolvimento espontâneo de uma situação de fato.
Referência

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Tradução de Beatriz


Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

Você também pode gostar