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Yago Magalhães Lopes NUSP:12518712

(Vespertino)

2a avaliação
b) Compare os diferentes pesos e funções que dois desses autores atribuem ao
conhecimento histórico na explicação dos fenômenos sociais.
De acordo com Lévi-Strauss, embora as sociedades humanas sejam diferentes entre si,
conseguem estabelecer certa comunicação e possuem semelhanças em suas instituições graças
ao nível inconsciente do pensamento humano. Dessa maneira, seria possível reduzir distintos
fenômenos culturais a estruturas — princípios de inteligibilidade comuns a todas as
sociedades e compostos por símbolos, os quais são ordenados de modo particular a cada uma
delas, de maneira a engendrar as culturas como tais.
Portanto, nota-se que diferentes culturas seriam realizações variadas das mesmas
estruturas inconscientes de pensamento humano. O autor propunha uma teoria na qual o
etnólogo seria responsável por operar com essas variações comparando-as entre si, de maneira
a entender a universalidade do espírito humano, uma vez que as estruturas são as mesmas
independentemente de sua localização no tempo e espaço.1
Se, como cremos, a atividade inconsciente do espírito consiste em impor formas a um
conteúdo, e se essas formas são fundamentalmente as mesmas para todos os espíritos,
antigos e modernos, primitivos e civilizados [...], é necessário e suficiente atingir a estrutura
inconsciente,subjacente a cada instituição e a cada costume, para obter um princípio de
interpretação válido para outras instituições e outros costumes, contanto, evidentemente,
que se avance suficientemente na análise.

Assim sendo, os eventos históricos não seriam nada mais que realizações das
estruturas, pois estas fornecem um inventário lógico de possibilidades das quais eles não
escapam, uma vez que, como já mencionado, elas se referem à própria condição humana e
resistem ao tempo. É importante evidenciar que os acontecimentos não são previstos pelas
estruturas, são apenas envolvidos por elas.2 Desse modo, o historiador, por sua vez, operaria
com expressões conscientes da vida social, através de um método monográfico e funcional
atentado para o desenvolvimento das sociedades no tempo.3
Então é possível notar que o conhecimento histórico em si, sob perspectiva
estruturalista, não explica os fenômenos sociais de maneira generalizada tal qual o
antropológico, mas de maneira específica. Contudo, “[...] a análise das estruturas sincrônicas
implica um recurso constante à história. Ao mostrar instituições que se transformam, só ela
permite extrair a estrutura subjacente a formulações múltiplas e que permanece através da
sucessão de eventos”.4 Em outras palavras, o etnólogo pode utilizar-se das produções do
historiador, assim como faz uso das produções etnográficas, para acessar o fundo inconsciente

1
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 35.
2
Ibidem, p. 38.
3
Ibidem, p. 18.
4
Ibidem, p. 36.
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de culturas específicas. Todavia o historiador não é capaz de compreender o homem como


categoria universal justamente por conta da funcionalidade de seu método, essa tarefa
compete ao estritamente ao etnólogo — o que possibilita inferir que o autor concebe uma
hierarquização dos conhecimentos culturais na qual o conhecimento histórico é subsidiário do
etnológico.
Marshall Sahlins, por sua vez, atribui maior peso ao conhecimento histórico na
compreensão dos fenômenos culturais. Tal como Lévi-Strauss, considera as estruturas
inconscientes do pensamento. Contudo, também preocupa-se com a influência dos eventos
históricos na modificação das mesmas. Para Sahlins, “a húbris simbólica do homem se torna
uma grande aposta feita com as realidades empíricas”5, onde os significados dados às coisas
pelos homens não esgotam toda a realidade material.6 Com isso, os eventos históricos são
capazes de provocar mudanças nesses significados. Por outro lado, um evento só adquire
significância histórica quando apropriado por um esquema cultural.7
Nota-se, então, que Sahlins propõe uma teoria da história onde o processo histórico é
culturalmente organizado, bem como a cultura é historicamente ordenada8. Deste modo, a
relação entre história e estrutura é capaz de gerar tanto a transformação histórica quanto a
reprodução das estruturas. A maior ou menor suscetibilidade a alterações nas estruturas
quando em contato com os eventos históricos é categorizada por Sahlins: estruturas
performativas favorecem a assimilação às circunstâncias contingentes, enquanto as estruturas
prescritivas favorecem a assimilação das circunstâncias à própria estrutura.9
Para provar sua teoria, o autor estudou a chegada do capitão James Cook às ilhas
havaianas em 1778.10 Sua esquadra chega ao Havaí durante o período do ritual nativo
Makahiki, de modo que o capitão é entendido pelos locais como Lono, deus cultuado na
cerimônia. A presença inglesa no arquipélago gera uma série de transgressões contra os tabus
havaianos, causando mudanças econômicas, alimentares, nas relações entre homens e
mulheres, e entre os chefes e as pessoas comuns.11 Por outro lado, o mesmo evento reproduz
certas categorias havaianas preexistentes na medida em que estas o assimilam, tais como
algumas distinções de status social.12

5
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p. 186.
6
Ibidem, p. 9.
7
Ibidem, p. 15.
8
Ibidem, p. 7, 176.
9
Ibidem, p. 13.
10
Ibidem.
11
Ibidem, p. 27-29.
12
Ibidem, p. 174.
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Assim sendo, os conhecimentos histórico e antropológico são dispostos sob uma certa
horizontalidade em Sahlins, uma vez que para este autor a cultura não é determinada pela
sincronia, tal como entendia Lévi-Strauss, mas sim pela síntese de diferentes dicotomias:
estabilidade e mudança, passado e presente, diacronia e sincronia;13 de modo que a
compreensão da totalidade dos fenômenos culturais requer o uso das duas disciplinas.

13
Ibidem, p. 180.
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REFERÊNCIAS
Bibliografia Utilizada

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

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