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1 PSICOLOGIA E PASTORAL

UNIDADE I:

INTRODUÇÃO À DISCIPLINA DE PSICOLOGIA E PASTORAL

I. O ACONSELHAMENTO PASTORAL

O Processo de escuta: “acompanhar é comer o pão com alguém”; “é o modo de


localizar-se diante do outro, é um processo de estar junto com o outro, com o fim de
ajudá-lo”.

O que seria o processo de ajuda? AJUDAR: é processo de promover no outro


uma mudança construtiva (é o modo pelo qual se interage com outro – isso mudará seu
comportamento).

Quando atendemos uma pessoa lidamos, sobremaneira, com seus afetos. Em


síntese, o que seria a dimensão afetiva no ser humano? DIMENSÃO AFETIVA: é
capacidade de lidar com seus sentimentos (com suas energias interiores).

É preciso diferenciar as ciências do comportamento. Há diferenças entre as


ciências do comportamento, no caso a psiquiatria, a psicologia e o aconselhamento. Em
todas elas o importante é estar junto à pessoa de modo a ajudar esse indivíduo em
momentos de crise e de crescimento. No caso específico do aconselhamento, este não
lida com o que está para trás da vida da pessoa, mas com sua potencialidade de vida, ou
seja, será preciso favorecer a retomada de sua normalidade.

Pensemos em uma questão prática: uma tristeza grande, ocorrências sistemáticas


ou casuais, o não saber lidar consigo e com os outros, depressão ou confusão. Dessa
forma, será preciso saber identificar o que pertence em cada um dos campos do
comportamento humano, ou seja, saber ouvir e encaminhar.

Por isso que o aconselhador não possui o papel de direção. Ou seja, DIRIGIR:
significa ensinar, dar conselhos, guiar, conduzir, intevir, diagnosticar, receitar, dar

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soluções. Isso não é função do aconselhamento, pois outro precisa assumir sua
responsabilidade.

Percebemos que existe hoje um deslocamento na identidade do ser humano (daí


cabe o questionamento: quem eu sou?); o ser não talvez não saiba responder a essa
pergunta, mas o „grupo‟ ou o coletivo acaba direcionando o ser do outro; dessa maneira,
é preciso restaurar a identidade do indivíduo enquanto ser humano. Esse será o papel
mais árduo, mas o mais importante.

O que seria então o aconselhamento? ACONSELHAMENTO: o termo é


“ajudado, conselheiro ou ajudador”; assessoria ou assessorado (nas empresas); procura
o “como” se relacionar com as pessoas; o ser humano se faz na relação com o outro
(isso pode provocar saúde ou doença). Quem é ajudado (chama-se „cliente‟ – ideia de
comércio – na verdade, o aconselhamento ajuda famílias ou casais, auxilia indivíduos,
aumento de vida emocional);

O modo pelo qual me relaciono com o outro pode ajudá-lo a „ser melhor‟ ou
„pior‟; o aconselhamento quer dar a oportunidade ao indivíduo de explorar, descobrir
e esclarecer maneiras mais frutuosas de viver e mostrar a possibilidade de
encontrar um sentido mais profundo na vida.

Quem procura aconselhamento? Na verdade, quem vivem em crise ou pessoal,


ou mesmo relacional; a pessoa vive uma experiência que ela não sabe lidar. Tantas
vezes nos faltam habilidades de vida; o aconselhamento serve para um crescimento/
desenvolvimento individual ou de crise. Em cada fase da vida o ser humano possui um
trabalho a realizar; o aconselhamento ajuda a sair ou lidar com a crise (isso acontece no
processo de crescimento); num estado contínuo de crise (necessita de ferramentas a
mais);

Existem crises de um „sistema‟ de vida (complexos) – isso necessitará de uma


ajuda especializada (psicólogo ou psiquiátra); o aconselhamento ajuda num processo
chamado „normal‟ da vida.

O que seria crise? CRISE: a falta é sempre extrema, a pessoa busca sempre
coisas e mudanças fora de sua pessoa; „muda‟ de emprego, de comunidade, de parceiro,

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roupa nova (assim mesmo a falta persiste) – não é a mudança externa que fará sair da
crise; sinais de crise: angústia (isso fala de „localização‟), tristeza („o que você está
perdendo tem função em sua vida‟ - processos de perdas) e deslocalização de meta ou
sentido.

Nisso tudo os sentimentos ocupam lugar central. O que são sentimentos? Os


SENTIMENTOS: são importantes (a pessoa deve aprender lidar com os sentimentos);
„desde o nascimento do ser humano, os sentimentos são substratos da consciência‟; „a
raiva‟, por exemplo, serve para proteger o organismo (quando não sente raiva não se
possui defesa); todo ser humano vive de um extremo ao outro (da neurose (ou seja, o
neurótico se encolhe) ao psicótico (faz tudo o que dá na „cabeça‟ – tem que ter um
objeto de prazer ao lado) – a ajustar-se ao equilíbrio); ANSIEDADE (produz energia –
instrumento necessário para o equilíbrio – há uma „cobrança‟ – „culpa necessária‟, a
responsabilidade; „culpa constante‟, lida mal com a raiva – cria paralisação); não existe
no sentimento uma classificação boa ou ruim, ético e moral, mas possui a função de
equilíbrio; “tudo o que existe dentro do ser humano possui função”, ou seja, os
sentimentos (intuição ou sensações) assumem, em primeiro lugar, antes mesmo da
razão. Deve observar, em alguns casos, o perigo da Iatrogenia, ou seja, causar doença
psíquica onde não existe.

A crise provoca sempre uma „descontinuidade‟. Nossa história deve ser coerente
com nossas escolhas na sucessão das etapas da vida. A CRISE é pesada, têm localização
geográfica, possui início/meio/fim, „fede‟ – „tempo de germinar‟ ou de „crescimento‟; o
ser humano é capaz de „movimentos‟ fora da crise (é possível nos afastar e olhar a crise
– identificar-se com a crise é sinal de doença). Poderíamos fazer uma simples
comparação em termos de EVOLUÇÃO NA CRISE: Passado (10%); Presente (30%) e
Projeto (60%); ao contrário, quando a CRISE está INSTAURADA: Passado (30%);
Presente (70%) – aqui está a crise e a pessoa não consegue „olhar para frente‟, ou seja, o
projeto (quase não existe 0 %).

A busca de superação da crise. Ou seja, TIRAR A CRISE: é preciso voltar ao


passado (fazer a pergunta: „como isso começou?‟); é preciso desinstalar a crise; a pessoa
torna-se mais “inteira” quando se faz identificação de seu ser (dar a pessoa sua

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“crença”- são passos dados “aos poucos”/ devolvendo o que a pessoa é (do concreto ao
abstrato, isto é, o formador constrói a atividade psíquica a partir do positivo)).

Algumas condições terapêuticas são de salutar importância. O ajudador precisa


dizer que aceita o outro (a palavra cria no interior do outro: condições de superação – a
“conversa” é necessária para estruturação do psiquismo); por exemplo, B. This
(francês): qual a função do pai durante a gestação? A voz do pai acalma a criança no
ventre da mãe (a formação auditiva vai do grave ao agudo – assim, no início só
identifica a voz masculina – “voz de comando”); a voz do gênero masculino (traz
direção e ordenação psíquica).

Para acontecer aceitação na correção é preciso dar “um chão” à pessoa, ou seja, é
preciso elogiar e elencar as qualidades pedindo depois as possíveis mudanças
(correções); “ou você muda sua postura ou está fora” (isso é assédio moral); é danoso o
uso do “ou” (sempre usar “e”); o “ou” é sempre excludente (diminui a maneira de ser no
mundo).

É preciso identificar que existem alguns casos de perversão. O que é a


perversão? Significa agir com maldade sobre a vida do outro, isto é, uma ação direta; o
ser humano sem equilíbrio gera perversão.

Alguns PRINCÍPIOS DO ACONSELHAMENTO: 1. Somos resultado de


nossas relações (o ser humano é um ser relacional: trans (com o Transcendente) – inter
(com os outros) – intra (conosco mesmo)); 2. Há sempre na relação uma causa e um
efeito; 3. Pessoa significativa (poder de influência na vida do outro - papel social;
afetividade, disponibilidade, aceitação (habilidades)); 4. Relação de ajuda (físico,
emocional, intelectual e espiritual); 5. Processo de ajuda (atende, responde, personaliza
e orienta) e o ajudado (se desenvolve e explora).

O externo qualifica o ser humano (essa é chamada „identidade social‟ – “ser no


mundo”) – existe hoje uma CRISE DE IDENTIDADE PESSOAL OU PSÍQUICA;
vivemos hoje uma “crise de humanidade”; perda de identidade generalizada; “eu sou o
que os outros dizem que sou” (exemplo: facebook – viver as interpelações do aparelho
ou virtual – “fantasia do virtual”).

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Qual a maneira correta do atendimento? O atendimento: em pé e andando


(movimento: conseguir algo); sentado (indica entrar na dor da pessoa). A QUALIDADE
PRINCIPAL QUE GERA SAÚDE: Empatia (capacidade de colocar-me no lugar do
outro).

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“A difícil arte de ver!”

- Dr. Márcio Miranda (a arte de olhar...).

A criança nasce sem percepção visual do meio ambiente e quando começa a


enxergar não sabe o que vê; o cérebro começa a fazer registros e imprime
neurologicamente um dicionário visual; a compreensão verbal virá mais tarde; a
criança vê o que enxerga (não se engana e não interpreta erroneamente); quando
começa a falar inicia um processo de confronto (entre o que vê e o que as pessoas
dizem o que é); nessa confusão (o que aprendeu deve ser esquecido ou reinterpretado/
além das mentiras ou linguagem figurada dos adultos); assim, o “olhar” e “enxergar”
possui diferença (coerência ou incoerência ofusca nossa visão-atrofiando a nossa
habilidade em observar); vemos de uma forma e interpretamos de outra; isso leva a
uma fragmentação da realidade.

Há de se observar que naturalmente, vemos de uma forma e interpretamos de


outra forma. Dessa maneira, acontece um processo racional (interpretação racional
apenas) e deixamos de lado nossa percepção corporal; esquecemos de “sentir” sem tanto
„filtro‟ ou racionalidade; a dor do outro não é minha (vivemos
racionalmente/mecanicamente – esquecemos de nossa essência humana – indiferença
que gera a humanização); daqui, surgem as doenças psicossomáticas (doenças do
„psique‟ e se manifestam em nosso „corpo‟(soma)); o ser humano se distingue pela sua
capacidade de “sentir” (a perda dessa capacidade faz com que somatizemos); e o
resultado é uma vida vazia de prazeres (exemplo: prazer-sexo-pecado); a dimensão
do prazer é que aguça a sensibilidade (a pessoa vai embrutecendo/ a pessoa torna-se
„máquina‟); o ser dá lugar ao ter e ao fazer; perdendo a percepção nos tornamos
automatizados e manipuláveis (seguir caminhos alheios e descobrir caminhos
próprios).
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É preciso, portanto, resgatar a visão e, essa é uma tarefa árdua. Como resgatar a
visão? Sendo acolhido nos piores momentos aceitando-nos sem julgar (pois quando
tenho o que dizer eu não consigo escutar). O Ver (é real – atitude sensorial – não é
imaginar, ao contrário, é certificar-se – cuidado para não ser enganado com as emoções)
é diferente de „achar‟ (dedução – atitude intelectual e não sensorial – baseada em
julgamentos e preconceitos)...quando se está tomado de um estado emocional elevado
não conseguimos „escutar‟ o outro; antes do serviço de escuta dos outros, precisamos
escutar a nós mesmos.

O pensamento atrapalha quem quer ver...acontece uma inversão do globo ocular


(saímos do mundo exterior e voltamo-nos para o mundo interior para comparar, julgar e
avaliar – exemplo: o marido fala que agrediu violentamente sua esposa; „a coisa sai fora
da situação‟ e eu falo no meu interior: „que cara safado‟); é preciso tirar vícios na „arte
da escuta‟.

O BOM OBSERVADOR possui as seguintes características: 1. Humildade


(não somos donos da verdade – preciso me tornar merecedor da verdade do outro – a
verdade está com o outro, eu possuo conceitos e experiências – eu preciso escutar para
saber a verdade do outro, mesmo sabendo da história verdadeira – o outro pode enganar
porque não me tornou merecedor de sua verdade); 2. Paciência (“não empurrar o rio,
pois ele corre por si só”; sem paciência pode interferir no processo); 3. Simplicidade
(ver apenas o que está acontecendo. Ser simples, não acrescentar nada); 4. Ser discreto
ou saber espreitar (observar o outro sem que ele perceba que está sendo observado –
pois, quando se percebe que se está sendo observado, perde-se a espontaneidade – ir
buscar a pessoa a ser atendida – não perder as informações primeiras); 5. Coragem
(para ver coisas, atitudes ou situações que não gostaria de ver); 6. Checar (verificar)
(quem não checa, constrói falsas histórias a respeito dos outros); 7. Transparência ou
entrega (mostrar-se ao outro; só posso ver o outro se tenho coragem de me ver...nunca
envolver a sua história na escuta do outro); 8. Senso de oportunidade (checar no
momento adequado ao outro e não à nossa curiosidade).

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II. O ESCUTAR

Para ouvir é preciso parar de ter boca; não digo nada nem para mim mesmo;
poucas são as pessoas que possuem a capacidade de escutar; muitas “fazem de conta”
que escutam; é muito comum “roubar” a cena do outro que fala para falar de nós
mesmos.

Quem vem conversar, acontece que a pessoa está perdida num „emaranhado‟ de
coisas e, aí, aquilo que trouxe vai voltar à própria pessoa (quem escuta faz a função de
„espelho‟). Quanto mais for o ambiente e confiante for o aconselhador tanto melhor será
o atendimento e a abertura.

O aconselhador não muda a vida da pessoa, apenas se ajuda a pessoa


organizar „as coisas‟ misturadas dentro de si (essa é nossa ajuda!). Quando a pessoa fala
organiza as suas ideias (nossa função é escutar!); a pessoa escuta sua própria voz; na
psicanálise é chamada de „livre associação de ideias‟; no aconselhamento não acontece
como na psicanálise, pois num determinado momento é preciso „trazer a pessoa de
volta‟ com a mesma conversa e com as mesmas ideias (não se pode deixar a pessoa
divagar nas suas ideias). O mero falar traz um alívio imediato (fica a sensação de
alguém se interessou pelo seu problema);

Algumas habilidades na arte de escutar, sabendo que as mais simples são as


mais efetivas: 1. Qualquer coisa dita pelo „ajudado‟ possui razão de ser; 2. Não existe
mentira no que ele diz; 3. Não cabe ao aconselhador desmentir ou discordar; 4. Somente
continuando ao „seu lado‟ é que acontecerá a compreensão; 5. A base do processo de
ajuda é ver com o mundo com os olhos do ajudado (estar a seu lado e compreendê-lo).
Quando o aconselhador dá respostas cria-se uma dependência; é muito tentadora a ideia
de que eu sou procurado – „minha sala está cheia‟. Portanto, escutar é a arte de
„aprender a estar com o outro‟ (2 palavras chaves: 1. Arte e 2. Aprender).

É preciso deixar o outro concluir a sua fala. Na fala deveria acontecer uma linha
contínua entre „fala e escuta‟; mas, escuto e ________ (vou para meus pensamentos-
julgamentos, distrações externas, distrações internas) e, depois eu contínuo a escutar;
quando saímos da escuta, entramos em nossos pensamentos e, naturalmente projetamos

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o „resultado‟ (nunca vamos conseguir ir para „os meus pensamentos‟ – arte será encurtar
esse tempo „nos pensamentos‟).

Qual seria o caminho da escuta? Caminho da escuta (nesse processo é preciso


ter um olhar especial para a „pessoa‟ – onde a pessoa não se sente „mais uma peça da
engrenagem‟): 1. Preparar o Ambiente Interno (PAI); 2. Preparar o Ambiente Externo
(PAE); 3. Acolhida da Pessoa (ACO); 4. Atendo Fisicamente (AF) – relação de
cuidado (por exemplo: atendimento das 8h – 12h e 14h-18h; porque não fazer um
horário das 19h-22h?; Observo a Pessoa (OBS); Escutar (ESC). É preciso usar os
ouvidos para captar as mensagens verbais e não verbais (mensagens aparentes e
mensagens reais).

Como escutar? Deve-se considerar: 1. A preparação interior se faz através da


pausa (intervalo entre uma atividade e outra – o foco determina quem deve ficar no
palco sob os refletores acesos, isso determina quem fala – a intenção diz respeito da
razão interior que temos para escutar e qual o objetivo a ser alcançado; 2. A preparação
externa deve acontecer após a intenção (preparar de acordo com a intenção que tenho: a
privacidade, a temperatura, o conforto físico, as cores, a distância...criar um clima
adequado); 3. Acolhida – o corpo sinaliza que estamos atentos e disponíveis para
escutar; 4. O corpo sinaliza a acolhida (estar atento fisicamente).

Como ficar calado no processo de escuta? Deve-se considerar: 1. Fazer


silêncio interior; 2. Não atropelar a fala do outro; 3. Não completar o que a outra pessoa
fala; 4. Não falar de si enquanto o outro está falando dele; 5. Não dar exemplos ou
conselhos; Conclusão: “Ficar calado é dar espaço para o outro ser”.

Devemos interromper ou não? Em quais circunstâncias? Não deixar o outro


perder o foco daquilo que expõe; quando não está a clara a fala, então deve se
interromper para esclarecer (esclarecer e não satisfazer a curiosidade); se o relato
é coerente e lógico (nunca interromper); no trabalho de aconselhamento há duas
possibilidades (um trabalho bem feito de escuta e ajuda faz a pessoa voltar com outra
demanda; ou, a pessoa volta para „sugar‟ as energias – não quer lidar com a situação).

Dessa forma, o processo compreende: 1. Escuta; 2. Devolutiva; 3. Personalizo


a situação; * não posso alimentar um sistema prejudicial à pessoa e ao aconselhador; * a
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habilidade no aconselhamento será „deixar sempre a pessoa no foco da questão‟ (ir até
onde a pessoa „vai‟ – até onde a pessoa vai, ela consegue voltar).

Na arte de escutar é preciso suspender julgamento, ou seja: 1. Não rotular; 2.


Colocar o foco na pessoa e não no comportamento (se a pessoa veio até mim está
procurando acertar – a pessoa é muito mais que seu comportamento); 3. Aceitar a
pessoa e talvez não concordar com seu comportamento (acolho o outro como pessoa). É
preciso ainda, evitar as distrações internas: 1. Fisiológicas (se o aconselhador estiver
com algum tipo de „dor‟ ou, com muita fome ou, como muito sono, etc); 2. Emocionais
(se, por exemplo, o aconselhador teve uma exaltação negativa emocional no
atendimento anterior ou algo na sua família, etc...); *esvaziar-se de si mesmo para
receber o outro (preciso primeiro me atender para depois atender o outro).

A sociedade não precisa de pessoas que as condenem, porque por trás de um


comportamento existe uma pessoa a ser amada (ex: Jesus e a adúltera); as pessoas
precisam encontrar em nós „um pouco da bondade ternura de Deus‟; “Haverá mais
alegria no céu por um pecador que se converta do que por noventa e nove justos que não
precisam de conversão”.

É preciso checar se realmente ouvi o outro (ESCUTO – PARA QUE VOCÊ


FALE – ENTREGA – PARA QUE EU FALE); escutar é um ato de amor; a fala é
como uma canção tem letra e música (às vezes a letra não corresponde à música); o
importante não é o que o outro fala, mas como ele fala...; “Só” (se souber) escutar já
basta; escutar é uma questão de treino (eu posso aprender a escutar!).

III. “ABRINDO AS PORTAS DA COMUNICAÇÃO”

O ATENDER exige Ver, Ouvir e voltar-se, que é o RESPONDER. Ver e


Escutar não é suficiente; a comunicação verbal entre as pessoas é fundamental; todo
ajudado espera sempre alguma colocação do ajudador ou aconselhador. O ajudado
quer escutar para se situar melhor; como poder responder melhor?

O que gera o psiquismo é o „confundir as coisas‟; a confusão reflete desordem


interna; (é preciso „arrumar o armário‟!); o misturar gera caos na realidade psíquica
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(separar as coisas). O pensamento “ou” (esquizofrenia – „esquize‟: inversão) gera


enfermidade; a construção da realidade deve fazer o “e”...aprender saúde psíquica é
aprender a „separar‟ as coisas (as coisas na vida possui dimensão certa – separar as
coisas para ordenar a realidade). A confusão reflete desordem interna.

A palavra possui função de gerar. E gerar significa transformar. Possibilitar


espaços de relação e mudança; função de nutrir. Dar a quantidade exata necessária. Ou
seja, Cuidar. O homem é um ser relação em permanente mudança; o processo de relação
na vida „nunca termina‟; o processo de nutrição como sem fim, é uma práxis; o ajudado
espera que alguém lhe ajude a „achar o caminho‟.

Uma das tarefas do aconselhador é refazer a expressão verbal do ajudado de um


modo novo, resumindo e organizando o que ele nos disse; (quanto maior a colocação,
menor a resposta/ e quanto menor a colocação, maior a resposta). A pessoa sempre trará
um conteúdo, uma história e fatos (implica não em repetir mas em refletir o conteúdo
que „ele nos trouxe‟). A resposta trará efeitos (começa a explorar sua própria
experiência) – a arte é nunca dar conselhos ou fazer afirmações – ajudar a refletir o
que o ajudado nos dá; nunca falar de mim; Rogers diz que “todo ser humano possui
potencialidades para descobrir as respostas”.

A resposta deve ser sempre reduzida (deixar a pessoa conduzir... aprender a ficar
„junto com o outro‟); a resposta tem de ser de aceitação ou respeito (nunca de
julgamento); “somos organismos interativos e experienciais”; aprender a „estar com‟...
não é dirigir o caminho do outro... não se dá conselho (ter o tempo próprio de cada
pessoa... aprender estar com a pessoa).

Os SENTIMENTOS possuem ligação da alma com a exterioridade –


„energia psíquica de equilíbrio – ex: a raiva vem à tona quando se sente ameaçado
– não possui carga de bom ou mau, ou seja, é energia pura dentro do ser humano; os
sentimentos são companheiros internos; cada sentimento possui função dentro de nós;
os sentimentos são a CHAVE para conhecer a pessoa; são a essência da própria vida; o
ser humano não possui „elementos neutros‟; exemplo: a criança é livre em sua
expressão; ensinamos a pensar e não a SENTIR; às vezes, o sentimento se torna
sinônimo de fraqueza, de dissimulação; „o poder está descontrolado no mundo‟ (poder

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irracional); se formos honestos seremos punidos; „se sentimos o mundo‟ somos


desajustados; somos culpados por sentir o que sentimos; quando sentimos, somos
fracos; escuta-se, por exemplo: „não é adulto é carente‟. Mas, mesmo reprimidos, os
sentimentos não acabam (reprime em nível de consciência, mas funciona por si), assim,
levam a pessoa a uma insatisfação geral e difusa, o corpo começa a dar sinais
(psicossomáticos), até que explodem...

É fundamental que o aconselhador se pergunte: 1. O que estou sentindo? 2. De


onde vem meu sentimento? 3. O que eu quero? 4. O que não quero? 5. O que é
importante para mim? (conhecimento de si para ajudar o outro).

Dessa forma é preciso a reaprender a expressar (não se pode parar de


dialogar consigo mesmo): porque tenho medo de dizer quem sou? (John Powell - une
as expressões de filosofia, psicologia e teologia); Diz o autor: 1. Meus sentimentos não
se dividem (eles são: não possuem carga ética-moral – energia do organismo – motivo
de equilibrar o ser humano); 2. São condições da existência humana (preciso dar-me
permissão para sentir – aceitar qualquer sentimento meu); 3. Meus sentimentos não
determinam a minha ação (sentir e agir são dois processos diferentes – se eu negar meus
sentimentos, ai poderei agir); 4. Meus sentimentos nem sempre determinam minha ação
(ação é escolha, é ato de vontade); 5. É desejável que eu expresse meus sentimentos a
outra pessoa (é importante partilhar com „alguém escolhido por mim‟ os meus
sentimentos); 6. O caminho mais curto para estragar um relacionamento é o da
repressão emocional (indiferença – negação da realidade do outro); 7. Posso mudar
meus sentimentos (conhecendo o que sinto posso alterar o significado dos fatos e na
sequência alterar a emoção); 8. Os sentimentos são despertados dentro de nós pelas
experiências (tudo depende da interpretação do fato).

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