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APOSTILA

SAÚDE MENTAL

ÁGUAS LINDAS
2019
PSIQUIATRIA OU SAÚDE MENTAL?

Por que preferimos falar em “Enfermagem Saúde


Mental”? Por que não usarmos o velho termo
“Enfermagem Psiquiátrica”, que, afinal de contas,
até parece nos dar maior status? Por que mudar?
Vamos respondendo passo a passo as dúvidas que
podem surgir a esse respeito.

Falar em Saúde Mental é muito mais do que uma


troca de termos; inclui uma diferença de critérios, da doença – foco central da Psiquiatria
– para a saúde. Isso mesmo! Vamos falar em transtornos mentais, mas com os olhos
voltados para a reabilitação, a saúde e a reintegração. Obviamente a Psiquiatria, com todo
o seu conhecimento, é parte essencial desse estudo, mas não a única. Outras áreas de
estudo se integram para formar um conhecimento mais amplo, que tente dar conta desta
forma de sofrimento humano.

O termo Saúde Mental se justifica, assim, por ser uma área de conhecimento que, mais do
que diagnosticar e tratar, liga-se à prevenção e promoção de saúde, preocupando-se em
reabilitar e reincluir o paciente em seu contexto social.

Outro ponto é o fato de que a Enfermagem sempre pareceu, para alguns olhares menos
perspicazes, estar à sombra do conhecimento médico. Mas, na verdade, ela constrói seu
conhecimento e divide com todas as outras áreas envolvidas os louros e as frustrações de
trabalhar em (ou para a) Saúde Mental.

Em última análise, a flexibilidade para desprender-se de conceitos científicos fixos e a


atenção para as necessidades de mudanças a cada passo constituem pontos-chave para o
crescimento pessoal e do conhecimento no setor Saúde Mental.

CONCEITOS / FATORES DE DESEQUILÍBRIO

Psiquiatria é o ramo da Medicina que lida com a prevenção, atendimento, diagnóstico,


tratamento e reabilitação das doenças mentais, sejam elas de cunho orgânico ou
funcional, tais como depressão nervosa depressão, doença bipolar, esquizofrenia e
transtornos de ansiedade.

A meta principal é o alívio do sofrimento psíquico e o bem-estar psíquico. Para isso, é


necessária uma avaliação completa do doente, com perspectivas biológica, psicológica,
sociológica e outras áreas afins. Uma doença ou problema psíquico pode ser tratado
através de medicamentos ou várias formas de psicoterapia.
A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a alma".

Os transtornos psiquiátricos são descritos por suas características patológicas, ou


psicopatologia, que é um ramo descritivo destes fenômenos. Muitas doenças psiquiátricas
ainda não têm cura. Enquanto algumas têm curso breve e poucos sintomas, outras são
condições crônicas que apresentam importante impacto na qualidade de vida do paciente,
necessitando de tratamento em longo prazo ou por toda a vida. A efetividade do
tratamento também varia em cada paciente.

Todas as pessoas estão sujeitas a transtornos psiquiátricos leves durante sua vida, como
ansiedade, depressão, etc.

Vários fatores podem desencadear esse processo, tais como:


 Sobrecarga de trabalho
 Desemprego
 Morte de pessoa querida
 Doença pessoal
 Doença de pessoa querida
 Dívidas financeiras Problemas conjugais

As pessoas que convivem com o paciente devem estar atendo às mudanças de


comportamento. Essas mudanças não são sempre perceptíveis ao paciente.

O tratamento começa com o apoio de familiares e amigos, e a não discriminação em


relação a transtornos mentais.

É preciso lembrar que o preconceito é responsável pela demora ou ausência de um


diagnóstico e tratamento precoce.

Hoje a internação em instituições fechadas é destinada somente em casos muitos


específicos. Há uma preocupação intensa com a manutenção da socialização e do convívio
familiar do paciente.

A criação de hospitais dias favorece esse pensamento. Nessas instituições o paciente


permanece internado um período do dia, realizando atividades manuais e
psicoterapêuticas, retornando ao seu lar no final do
período.

A PSICOTERAPIA

A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com


as dificuldades da existência em todas as formas que
o sofrimento humano pode assumir como transtornos psicopatológicos, crises pessoais,
crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, distúrbios psicossomáticos,
dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, etc.

A psicoterapia é também um espaço favorável ao crescimento pessoal, um


lugar/tempo/modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, de estabelecer diálogos
construtivos, abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões estereotipados
de funcionamento, restabelecendo o processo formativo e criativo de cada um.

A Psicoterapia oferece uma oportunidade de compreender e mudar os padrões de vinculo e


relação interpessoal. Os problemas vinculares são fonte de incontáveis sofrimentos e
doenças.

A psicoterapia ocupa hoje um lugar fundamental na área da saúde, por trazer uma visão
integrada do homem, considerando as dimensões orgânicas, psíquicas e sociais
conjuntamente participantes na produção da existência humana e de seus problemas.

Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação para a vida.
Esta é uma área pouco considerada em nossa cultura, porém evidente quando as pessoas
se veem inaptas para lidar com situações como crises conjugais, desemprego ou
envelhecimento, por exemplo.

A psicoterapia é um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos caminhos


internos para solucioná-los. Seus resultados demonstram uma grande potência de
transformação de vidas. T odos os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia
têm permitido alcançar resultados cada vez maiores e mais significativos.

O objetivo da terapia de grupo é promover o crescimento pessoal através de um processo


que envolve o ser humano e suas relações. Assim, os grupos de curta duração promovem
atitudes onde os indivíduos repensam seu caminho, criando com isso, novas formas de
ação para sua integração no mundo. Com metodologia específica, a terapia de grupo
enfatiza a descoberta de si mesmo através dos outros. Assim, é recomendada para quem
busca economia de investimento financeiro e de tempo.

"Não é o tempo que modifica as pessoas, mas o modo como o prazer, a felicidade
e o risco se enquadram dentro do tempo." (Ponciano)

LUDOTERAPIA

A Ludoterapia é uma técnica psicoterápica usada no tratamento dos distúrbios de


conduta infantis. Pode ser individual ou grupal.
Baseia-se no fato de que o brincar é um meio natural de auto-expressão da criança.
A primeira análise realizada com uma criança foi a do Pequeno Hans (Sigmund Freud) e
teve grande importância por demonstrar que os métodos psicanalíticos podiam ser
aplicados também às crianças.

Coube a Melanie Klein desenvolver a técnica de análise de crianças. Ao iniciar seu trabalho
na década de 20 desenvolveu um novo instrumento de trabalho ¨A Técnica do Brincar¨.
Por meio dela foi possível alcançar as fixações e experiências mais profundamente
recalcadas da criança e exercer uma influência importante em seu desenvolvimento.

Melanie Klein observou que o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas
ansiedades e fantasias.

Visto que não se pode exigir de uma criança que faça associações livres, tratou o brincar
como equivalente a expressões verbais, isto é, como expressão simbólica de seus conflitos
inconscientes.

Assim como na análise de adultos, as brincadeiras infantis podem nos levar a conhecer os
significados latentes e estabelecer correlações com situações experimentadas ou
imaginadas por elas, fornecendo à criança a possibilidade de elaborar tais situações.

A Psicoterapia Infantil, então ajudaria a criança a resolver fixações e a elaborar situações


traumáticas do seu desenvolvimento.

ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA
É um ramo da Enfermagem que se dedica ao cuidado de doentes mentais.

O CUIDADO DE ENFERMAGEM DADO AO DOENTE MENTAL ATRAVÉS DO TEMPO.


A história da enfermagem existe desde que o homem apresentou problemas de saúde,
pois necessitava de alguém que lhe desse assistência nesse período: alimentação,
conforto, atenção. Com a evolução da medicina e o progresso técnico-científico a
enfermagem também evoluiu, melhorando o tipo de assistência que dava ao homem
doente.
Também em relação ao doente mental, evoluiu a assistência médica e de enfermagem,
necessitando assim, de pessoal técnico mais preparado.

O SIGNIFICADO DA DOENÇA MENTAL

Os seres humanos que apresentam um comportamento diferente do da maioria, em geral,


provocam medo ou repugnância nos outros, sendo isolados e tratados de loucos.
Essas pessoas podem apresentar-se falando sozinhas ou conversando com árvores e
parede, dizendo existir ali pessoas que outros não veem; podem dizer-se perseguidos
quando na realidade ninguém os persegue; podem sentir uma vontade enorme de estar
sempre sozinhas, não conversar com ninguém e deixar de participar da vida em família.
Observa-se também, perda do interesse pela vida, deixando de executar coisas simples
(tomar banho, alimentar, pentear-se e dormir): uma incontrolável tristeza e vontade de
chorar; um desejo irresistível de limpar a si e às coisas ao seu redor. Pode acontecer
ainda, que num dado momento, a pessoa sinta tanta raiva ou tanto medo que necessite
agredir os outros. Tudo isso se passa dentro do indivíduo e exterioriza-se através de suas
atitudes, seus sentimentos, seu relacionamento com outros, sua compreensão do mundo e
das coisas, formando um conjunto de reações a que damos o nome de doença mental.

A parte da medicina que se preocupa com o estudo e tratamento das doenças mentais
denomina-se Psiquiatria. Os especialistas médicos que exercem atividades nesse campo
são os Psiquiatras, e a parte da enfermagem que se dedica à assistência aos doentes
mentais é designada por Enfermagem Psiquiátrica.

A HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA AO DOENTE MENTAL

Quando se pensava que os doentes mentais eram possuídos por demônios ou espíritos
malignos, a atitude para com eles era de medo. Por isso eram isolados em prisões, onde
sofriam maus tratos e torturas.

Muitas vezes, eram abandonados à própria sorte à mercê de chuva, frio e calor, sem
alimento e sem roupa.

Nessa época, o pessoal que cuidava dos doentes, nas prisões, eram verdadeiros
carcereiros prontos a infringir castigos. Não havia nenhum cuidado físico além de entregar
o alimento ao paciente. Ninguém se preocupava com sua higiene e seu vestuário. A
característica do pessoal de enfermagem, nessa época era o uso de chaves e chicote.

No século XVIII um médico francês Philipe Pinel, preocupado com o tratamento dispensado
aos doentes mentais e suas condições de abandono e maus tratos, removeu as correntes
que os prendiam às prisões, libertou os melhores, conseguindo com seus amigos empregá-
los no comércio. Além disso Pinel preocupou-se com reformas administrativas, de forma
que o doente pudesse ter melhores condições de vida, vestir-se e alimentar,
adequadamente. Preocupou-se também, com a educação e treinamento do pessoal de
enfermagem que cuidava desses pacientes.

Desde então, foi melhorando a assistência oferecida a pacientes psiquiátricos. Com as


novas descobertas da medicina surgiram, também, no campo da psiquiatria, alguns
tratamentos como o choque insulínico e o eletrochoque. Há, nessa época, um movimento
nascente dirigido para o atendimento de algumas necessidades psicológicas do doente
mental, proporcionando-lhe alguma atividade ocupacional e recreativa.

Nessa situação, o pessoal de enfermagem é alertado para olhar o internado como um ser
doente com necessidades físicas e psíquicas a serem atendidas. Melhorou a atenção e
cuidado para com eles, mas continuaram com as mesmas atitudes de vigilância e
desconfiança, baseados no conceito do doente como alguém perigoso que pode fugir.

As importantes descobertas de um outro médico, Sigmund Freud, sobre a mente do


homem, possibilitaram a compreensão do comportamento do indivíduo sadio e doente.
Essa nova visão focaliza os aspectos físico, social e psíquico observando-se o homem como
uma unidade e não em partes divididas e funcionando independentes umas das outras.
Verificou-se então, que a vida do homem na infância, seus problemas, suas dificuldades
são coisas importantes no desencadeamento de desequilibro da mente.

O cuidado prestado ao paciente deixa de ser apenas físico para ser dirigido a sua pessoa
como um todo, com problemas, reações e comportamentos próprios de acordo com a sua
formação biológica, o ambiente onde viveu e vive, o afeto recebido e as emoções
vivenciadas Com isso, surgiram modificações nos hospitais que procuram agora, dar mais
atenção ao paciente como pessoa pertencente a uma família, vivendo em uma
comunidade, exercendo um tipo de trabalho e que deverá retomar a tudo isso apôs sua
alta hospitalar.

O pessoal de enfermagem não pode ficar na execução de tarefas de vigilância e cuidados


físicos ao paciente: higiene, vestuário e alimentação. Espera-se que ele atue como um
elemento da equipe terapêutica, e através de seu relacionamento e de suas atitudes,
ajude-o a enfrentar suas dificuldades, voltar-se para a realidade e senti-se capaz de viver
em sociedade. Nessa situação, a enfermagem deve participar das atividades organizadas
no hospital e compreender como e porque faz isso. Deve saber como agir junto ao
paciente, entendendo as razões do seu comportamento. Deve conversar com médicos e
outros elementos da equipe sobre o paciente e sobre suas próprias atitudes; deve saber
dar informações objetivas, tanto por escrito como oralmente.

QUEM TRABALHA COM O DOENTE MENTAL?

Toda equipe é organizada para o cuidado e tratamento do doente. Essa equipe é


constituída por: pessoal médico, pessoal de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos e
terapeutas ocupacionais e recreacionais.

Ao pessoal médico compete o estudo do paciente, a fim de determinar seu diagnóstico, a


prescrição do tratamento a ser ministrado.
Os assistentes sociais são aqueles elementos que constituem o elo de ligação entre o
paciente, sua família e a comunidade onde ele vive. Fazem estudo e orientação da família,
procuram verificar onde surgiu a problemática que causou o desequilíbrio e ajudam a
família a aceitar e compreender o doente. Eles ainda se interessam pelo trabalho que era
feito pelo paciente, antes da internação, tentando readaptá-lo ou ajudando-o a encontrar
outro, se necessário.

Os psicólogos fazem estudos da personalidade do paciente através da aplicação de testes.


Esses testes são muito valiosos como coadjuvantes para determinar o diagnóstico e para o
planejamento da terapia a ser prescrita. Além disso, atuam junto ao paciente em
entrevistas, psicoterapia e aplicação de outras formas de tratamento.

Os terapeutas ocupacionais são orientados para ocuparem o paciente em atividades de


trabalho, durante o tempo de internação. Essas atividades ocupacionais constituem uma
importante forma de tratamento.

O pessoal de enfermagem é aquele que diariamente está com o paciente, observando suas
reações e tomando atitudes em resposta a elas. E seu papel ministrar os cuidados físicos
como: banho, alimentação, vestuário; ajudar nos tratamentos como a pessoa responsável
em preparar o ambiente; ministrar os medicamentos prescritos; relacionar-se
continuamente com o paciente e participar de toda atividade programada como parte do
ambiente terapêutico.

Todos os membros da equipe de enfermagem devem estar preparados para prestar ajuda
ao doente mental e para isso é preciso que tenham em mente:

 Aceitar cada doente como um ser humano com personalidade própria e diferente dos
demais;
 Aceitar que todo comportamento tem um significado e é a resposta a uma necessidade;
 Comunicar ao paciente a sensação de que é aceito, de que lhe tem afeto e de que existe
um interesse por ele;
 Cada um dos pacientes é uma pessoa com partes sadias e partes não sadias, devendo
estimular o que há de sadio em sua personalidade e aceitar seus aspectos doentes;
 Cada paciente deve ser conhecido como um indivíduo: seu nome, seus hábitos em
relação às necessidades básicas da vida como vestir, dormir, banhar, eliminação; seus
gostos e interesses;
 Entender que o comportamento do paciente tem uma razão de ser, embora nem sempre
essa razão apareça claramente. Ex.: O Sr. João pode não querer tomar banho de chuveiro
porque tem medo de eletrochoque e o chuveiro dá choque;
 Compete ainda, ao pessoal de enfermagem comunicar aos elementos da equipe o que
se passa com o doente. Essa comunicação far-se-á oralmente, contando as ocorrências
havidas e anotando por escrito as observações feitas sobre seu comportamento.
Alguns hospitais contam com todos os elementos da equipe, outros trabalham com poucos
elementos e há ainda aqueles cuja equipe é constituída apenas pelos médicos e
atendentes.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSIQUIATRIA

A loucura tem sido encontrada nas mais


diversas sociedades em variadas épocas,
seguindo-se a estas manifestações a frequente
identificação do indivíduo louco como o
diferente, o outro, aquele que não se encontra
na esfera do aceitável e não se mostra capaz
de se manter na coletividade como os
indivíduos tidos como normais, embora sua
circulação tenha sido relativamente tolerada em
sociedades pré-capitalistas. Seja por um
suposto resultado de possessões demoníacas
ou de inspiração divina, o fato é que o portador de distúrbios mentais frequentemente
encontrou para si o espaço da exclusão, com a negação da sua cidadania e da presunção
de capacidade que se tem da maioria dos seres humanos.

Ao mesmo tempo, existe o temor da coletividade em relação ao desconhecido, o receio


quanto a esta pessoa que se expressa de forma confusa, com comportamentos peculiares
e, muitas vezes, perturbadores da ordem pública, sem que pareça ter noção dos danos
que possa provocar ou do esforço que se faz no sentido de conter ou minimizar os seus
atos. Segundo Michel Foucault (1972:6), conferiu-se na Idade Clássica aos reputados
insanos o lugar de segregação que, durante a Idade Média, fora reservado aos leprosos.
Finda – ou ao menos reduzida – a ameaça representada por estes últimos, restaram vazios
os espaços físicos, sociais e ideológicos que ocupavam, que vieram a ser tomados pelos
loucos, aos quais se impunha a necessidade de separação do corpo social.

Deste modo, para que se agisse efetivamente em relação a este elemento estranho seria
necessário identificá-lo, o que nunca se mostrou tarefa fácil nas variadas tentativas de
isolamento. Foram muitos os critérios, variáveis no tempo, mas em geral seguindo
imperativos políticos, religiosos e ideológicos. Considerando que nem mesmo atualmente
se dispõe do discernimento capaz de impor definitivamente os limites da normalidade, a
identificação do "anormal" sempre se fez de forma externa, mediante a observação do seu
comportamento junto a outros homens.

A SEGREGAÇÃO INSTITUCIONALIZADA
No momento histórico em que se decidiu confinar e apartar do meio "sadio" os
considerados antissociais, a Grande Internação do século XVI, foi atribuída "uma mesma
pátria aos pobres, aos desempregados, aos correcionários e aos insanos" (FOUCAULT:
1972:48). Em vez de conferir ao internamento dos insanos o cuidado com o seu estado
patológico, o que se privilegiava era um imperativo de racionalização típico do sistema
capitalista, o qual não se dispunha a manter em seu interior indivíduos concebidos como
inaptos, inúteis ou perigosos. Realizou-se, assim, uma verdadeira "limpeza" nas cidades,
com o intuito de preservá-las dos que as maculavam, segundo o critério da incapacidade
de trabalho e produção para a ordem econômica vigente. A particularização do sujeito
portador de transtorno mental, incluindo a necessidade de tratamento e adequação das
medidas de segurança pública com o estado próprio destes indivíduos, só veio com o
advento da Psiquiatria Moderna, em 1794, quase duzentos anos após o início das Grandes
Internações. A loucura, então, recebe o "status" de doença. Trata-se da chamada Primeira
Revolução Psiquiátrica, liderada pelo médico francês Philippe Pinel, o qual agia em
consonância com os ideais racionalistas e humanitários próprios da Revolução Francesa.

Sem analisar os infindáveis questiona


mentos a respeito de ter este momento
histórico representado a verdadeira
libertação dos doentes mentais, ou
somente a mudança dos grilhões, como
afirmam os adeptos da antipsiquiatria,
o fato é que se iniciou o chamado
"tratamento moral". Este, pela primeira
vez, inseriu a noção de que a loucura
não é um destino irremediável, mas
sim uma patologia que, como tantas
outras, pode ser sanada em vários casos mediante o tratamento adequado. Não houve
extinção do isolamento aplicável aos doentes mentais, mas estes passaram a ser
recolhidos em locais próprios (asilos), onde recebiam auxílio humanitário e médico,
alimentação e atividades terapêuticas.
O tratamento moral disseminou-se na comunidade médica da época como um modelo a
ser seguido, inclusive com bons resultados em relação aos padrões anteriores. No entanto,
os anos seguintes, com o próprio processo posterior à Revolução Industrial, trouxeram
uma explosão no número de admissões nos asilos, o que não pôde ser acompanhado pela
atenção terapêutica, que deveria se dar de forma individual. O resultado foi a redução nos
índices de melhoria, a falta de expectativa na recuperação e a degradação destes espaços,
que se transformaram e verdadeiros depósitos humanos. Desta forma, eram refletidos na
reclusão os mesmos mecanismos opressores que o mundo exterior impunha ao doente
mental (TABORDA ET AL: 2004:32).
OS PRIMEIROS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS

As instituições para loucos, ao decorrer da história, receberam diversas denominações tais


como hospícios, asilos, manicômios, hospitais psiquiátricos; mas independente do nome
como eram conhecidas, todas elas tinham a mesma finalidade: esconder o que não se
desejava ser visto. As primeiras instituições com a finalidade de esconder aquilo que não
se queria mostrar datam do século XV, iniciadas na Europa, particularmente na Espanha
em Zaragoza, e na Itália em Florença, Pádua e Bérgamo.

Vale ressaltar que muitas bibliografias


apontam o primeiro hospício sendo o
fundado pelo Frei Jofré, em Valência, na
Espanha, em 1410. Na verdade, esta
instituição não passava de um hospital geral
com caráter de albergues para pobres. No
século XVII os manicômios abrigavam além
dos doentes mentais também os demais
marginalizados da sociedade, que
igualmente perturbavam a ordem social,
dentre os quais se cita os mendigos, desempregados, criminosos, prostitutas, doentes
crônicos, alcoólatras e pessoas sem domicílio. E o enclausuramento coletivo destas
pessoas, consideradas incômodas à sociedade, ocorreu no intuito de esconder a miséria
que era gerada pela desordem social e econômica da época. O cuidado, nestas instituições
era prestado por religiosas que almejavam o perdão de seus pecados.

Com essa mistura de doentes e não doentes, estes locais tornaram-se depósitos de
marginalizados, que excluídos e enclausurados, não eram cidadãos. Mas com a nova
ordem social que se instalava, era preciso uma nova conceituação da loucura e,
principalmente, de suas formas de atendimento. A partir desta nova concepção social de
loucura, a clausura deixa de ser sinônimo de exclusão e passa a assumir um caráter
terapêutico: era necessário isolar o paciente em locais adequados – nos manicômios –
afastando-o do meio do qual gerava os distúrbios.

A PSIQUIATRIA NO BRASIL

Exatamente no período em que as


internações psiquiátricas eram
questionadas em ambientes acadêmicos
europeus, consideradas obsoletas em
razão das mazelas que reproduzem,
chegou a psiquiatria e seu método asilar
ao Brasil, em conjunto com tantas
outras influências francesas recepcionadas por nosso país. Contudo, mesmo antes deste
fato, já havia no Brasil, desde o princípio do século XIX, registros de cerceamento de
indivíduos perigosos ou indesejados às cadeias, em razão de supostos transtornos mentais
(ou simplesmente por serem vadios, bêbados ou arruaceiros), além do abrigo por parte
das Santas Casas de Misericórdia dos que se encontravam em situação semelhante.
Observa- se, desta forma, a aplicação de medidas efetivamente punitivas aos que não
tiveram sua segregação baseada em delitos.

Os primeiros estabelecimentos específicos para doentes mentais foram construídos no país


na segunda metade do século XIX, a começar pelo Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro,
anexo à Santa Casa de Misericórdia da Corte 2, criado pelo Decreto 82 de 1841,
funcionando desse ano até 1852 como Hospício Provisório. Nos anos que se seguiram
foram criados asilos em outras províncias, os quais se assemelhavam mais às próprias
cadeias do que a lugares reservados ao tratamento de enfermos.

As influências positivistas típicas do século XIX, que ordenaram o método das ciências
naturais, também atingiram a Psiquiatria, através de modelos que enfatizavam uma
medicina estritamente biológica, buscando apreender a natureza do homem e de seus
distúrbios psíquicos com observações e descrições. Desta maneira, concebeu-se o
indivíduo portador de doença mental como um objeto a ser estudado, em detrimento da
concepção do mesmo enquanto ser humano acometido por uma enfermidade, sendo que
esta, consequentemente, acarreta um sofrimento.

Em verdade, não se pode falar propriamente em psiquiatras no Brasil até o século XX,
quando surgem os primeiros especialistas. Até então, os médicos dos asilos, os chamados
alienistas, eram, em grande parte, clínicos gerais e legistas. Fez-se necessário, então, uma
regulamentação desta atividade, que começava a ampliar seu campo de atuação na
medida em que aumentava a quantidade de asilos pelo território brasileiro. A respeito da
prática do alienismo, que orientara toda a conduta psiquiátrica posterior, assim se
posiciona João Ferreira da Silva Filho (1997:91):
"A sua positividade constituiu-se praticamente em responder a uma demanda social e
política que objetivava controlar, sem arbítrio, a desordem social configurada no
personagem do louco. Era o que exigia a sociedade liberal, fundada na mística do contato
livre e que se opunha ao poder soberano anterior ao surgimento da dominação burguesa e
seu liberalismo. Diferenciando o louco do cidadão comum, responsável e obediente às leis,
e por isso digno de liberdade; do criminoso que racional e responsável transgride as leis,
por isto se faz merecedor de prisão; e do miserável, ser agora pleno de direitos e,
portanto, merecedor de trabalho, o alienismo instaura uma nova relação da sociedade com
o louco: a relação de tutela, que se constitui numa dominação/subordinação
regulamentada, cuja violência é legitimada com base na competência do tutor „versus‟ a
incapacidade do tutelado, caracterizado como ser incapaz de intercâmbios racionais isento
de responsabilidade e, portanto, digno de assistência. Além do estatuto de doente, ganha
o louco o de menor, ficando o médico, no caso o psiquiatra, como seu tutor, respondendo
assim ao desafio da administração e controle legal da loucura na sociedade liberal."

INÍCIO DAS INSTITUIÇÕES HOSPITALARES NO BRASIL

A loucura no Brasil só começa a ser objeto de intervenção do Estado a partir da chegada


da família Real. Então muitas mudanças ocorrem no período que segue, exigindo um
controle efetivo sobre o crescimento da sociedade. Desta forma, a medicina, enquanto
mecanismo reordenador do social passa a desenhar o projeto do qual emerge a psiquiatria
brasileira. O tratamento oferecido aos loucos era de péssima qualidade. Os doentes
mentais ficavam sob a responsabilidade das santas casas de misericórdia, sendo abrigados
em porões. O atendimento oferecido não incluía cuidados médicos, visto que a principal
finalidade era fornecer abrigo, alimento e cuidados religiosos aos alienados. Era necessário
reestruturar o atendimento prestado a estas pessoas.

Em 1830, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro realizou um diagnóstico da situação


dos loucos na cidade. Sendo assim, os loucos passaram a ser reconhecidos como doentes
mentais, e como tal mereciam um espaço próprio para tratamento e recuperação. Assim, a
medicina reivindicava os espaços para tratar a doença mental, e solicitava a abertura de
instituições específicas para esta clientela, com o lema: “Aos loucos o hospício!”. Isso
ocorreu na intenção do que os loucos, de fato, tivessem o direito ao tratamento médico e
cuidado de saúde. Na intenção de expor uma posição crítica da classe médica e
entendendo a clausura como forma de tratamento, foi iniciada a luta pela abertura dos
hospitais psiquiátricos. O isolamento de Pinel ainda permanecia em voga, sendo
compreendido como uma boa e adequada terapêutica.

Este movimento pela criação de instituições específicas para doentes mentais resultou na
instalação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro. Este foi inaugurado em 1852,
durante o Segundo Reinado, denominado Hospício de Alienados Pedro I, no Rio de Janeiro.
Posteriormente, por seu grande porte e pelas decorações de luxo que possuía ficou
conhecido como “palácio dos loucos”. E no período de 1852 a 1886 muitas instituições
psiquiátricas foram criadas em todo território nacional, devido a necessidade de atender a
esta demanda.

PORTAS ABERTAS PARA A LIBERDADE

Desde a 8ª Conferência Nacional de Saúde, profissionais de saúde e grupos da sociedade


civil organizada avaliaram que o sistema de assistência ao doente com transtornos
mentais era excludente, impedindo que os indivíduos ali tratados exercessem os seus
direitos civis, políticos e sociais.
Os hospitais superlotados de doentes não
dispunham de programas que os
reintegrassem à sociedade. Ao serem filmados
pela imprensa, as imagens apresentadas à
opinião pública eram de descuido, expresso
em pacientes contidos nos leitos e em
enfermarias gradeadas. A higiene precária, o
sussurro de palavras arrastadas e a expressão
facial de desespero demonstravam que essas
pessoas, chamadas de internos, estavam
abandonados à própria sorte.

Muitos chegavam ao hospício levados por seus familiares depois de um “ataque de


loucura”, quando gritavam e quebravam objetos. Outros eram levados pelos familiares que
queriam sequestrar bens e/ ou heranças, acreditando, por vezes, na proteção do
patrimônio familiar.

Havia também aqueles que, por falta de informação sobre as doenças da mente,
acabavam convencidos de que a hospitalização era a melhor alternativa em momentos de
crise.

Muitos advogados também utilizavam a loucura como argumento para inocentar ou


amenizar a pena de seus clientes que praticavam crimes hediondos. Infelizmente para os
clientes, esta estratégia nem sempre dava certo, pois acabavam sendo condenados e
encaminhados aos manicômios judiciários.

Uma coisa era certa: todos os que no hospício chegavam eram submetidos às rotinas
institucionais, que incluíam na terapêutica a camisa de força, o eletrochoque, a medicação
em excesso e inadequada as psicocirurgias, à revelia do querer do cliente.

Neste momento, a prática predominante na área de saúde mental sustentava-se nos


princípios:
Da hereditariedade – acreditavam que passava de geração em geração;
Da institucionalização - o tratamento só poderia ocorrer através da hospitalização;
Da periculosidade - todos os “loucos” eram agressivos e perigosos; e
Da incurabilidade – a loucura não tinha cura.

O paciente era visto como um transtorno para a sociedade e por isso as práticas adotadas
sequestravam este cidadão temporariamente dos direitos civis, isolando-o e segregando-o
em manicômios, afastando-o dos espaços urbanos.
Mas por que chegamos a este ponto? Por que no
Brasil, na década de 1960, chega-se à margem de
cem mil leitos psiquiátricos, quando no restante do
mundo estava se refazendo conceitos sobre o
tratamento desta clientela? Por que mantivemos,
por tanto tempo, seres humanos encarcerados de
suas identidades?

Nesta época estávamos em plena ditadura militar


e não havia espaço para nenhum tipo de
questionamento político e social. Dentro deste contexto, reforçava-se que o louco era de
difícil convivência, perigoso e representava o diferente do convencional, do aceitável pelas
regras sociais. Por isso, fazia-se necessário segregá-lo, sequestrá-lo e cassar seus direitos
civis, submetendo-o à tutela do Estado. Isso perdura na atualidade, pois o Código Civil em
vigor reforça que os “loucos de todo o gênero” são incapazes para os atos da vida civil.

Com esta afirmação, a segregação deste grupo era considerada legal. Neste caos do
sistema psiquiátrico, juntamente com os avanços da Constituição de 1988, surgiram
espaços de elaboração e aprofundamento de leis voltadas para o atendimento das
questões sociais, propiciando um ambiente adequado para que a sociedade civil.
Trabalhadores de Saúde Mental e a articulação Nacional da Luta Antimanicomial se
organizassem pela reforma do sistema psiquiátrico, buscando um novo estado de direito
para o doente mental.

Norteadas pelos princípios da universalização, integralidade, equidade, descentralização e


participação popular, foram realizadas sucessivas conferências de Saúde Mental nos
diversos níveis (nacional, estadual, municipal e distrital), tendo como objeto a inserção da
Saúde Mental nas ações gerais de saúde. O importante é que nestas conferências o
processo de municipalização, a criação dos conselhos de saúde e os dispositivos legais
previstos para a efetivação do SUS foram considerados, como mecanismos na
desconstrução do modelo asilar dos hospitais psiquiátricos (asilo de “loucos”).

Abandonar a idéia de que transtornos mentais eram produzidos somente por causas
naturais e aceitar que os fatores sociais podem ser determinantes destes transtornos, foi
uma reflexão difícil para muitos profissionais de saúde, gestores e familiares.

Atualmente, considera-se que existe uma relação estreita entre transtorno mental e a
exploração da força de trabalho, as condições insalubres dos ambientes, o viver na linha
da miséria, o alto índice de desemprego, as relações familiares, o estresse, a violência e a
sexualidade mal resolvida como causas. Enfim, são “pequenas e grandes” coisas que a
qualquer momento nos deixam no limite entre a sanidade e a loucura.
Na 2ª Conferência de Saúde Mental, em 1992, os delegados presentes resgataram
propostas previstas no projeto do Deputado Paulo Delgado, de 1989, que previam a
substituição do “modelo hospitalocêntrico” por uma rede de serviços descentralizada,
hierarquizada, diversificada nas práticas terapêuticas, favorecendo o acesso desse cliente
ao sistema de saúde, diminuindo o número de internações, reintegrando-o à família e
comunidade, resultando, desta forma, na melhoria da qualidade dos serviços nesta área.

Entre os delegados, estavam representantes do segmento público e do segmento privado,


que concordavam, pelo menos no discurso, em que a assistência ao cliente com transtorno
mental precisava ser mais humanizada. A discordância surgia quando o tema era a
substituição do sistema de internações hospitalares pela adoção de outras modalidades
terapêuticas que investiam na ressocialização deste indivíduo, ou seja, sua
desospitalização.

Os contrários a esta idéia, ao serem vencidos nas Conferências de Saúde Mental,


passaram a fazer pressão no Congresso Nacional, impedindo a tramitação do projeto. A
luta deles era pela manutenção da prática de asilamento e exclusão deste usuário do
convívio social.

Justificavam sua posição argumentando que os lares não teriam estrutura para manterem
financeiramente estes pacientes, somando-se os compromissos empregatícios e atividades
diárias dos familiares, o que poderia indisponibilizá-los a levar os pacientes às sucessivas
sessões terapêuticas e de cuidar diariamente deste indivíduo adoecido. Mas o que de fato
lhes preocupava era a redução dos lucros gerados por este sistema de encarceramento do
louco.

O outro lado, representado pelo movimento da reforma sanitária, sustentava a


desospitalização e desinstitucionalização dos pacientes como uma forma de garantir a
cidadania àqueles que passaram anos de suas vidas encarcerados em enfermarias
sombrias. Esta lógica transformava também as relações institucionais, alcançando as
necessidades dos funcionários e técnicos que ali trabalhavam no que diz respeito à
melhoria das condições de trabalho, à implantação de um modelo participativo de
gerenciamento, rompendo com a estrutura que distanciava o fazer do saber e vice-versa.

Ingenuamente, os familiares dos pacientes que há anos estavam hospitalizados, mesmo


conscientes das falhas do sistema hospitalar psiquiátrico, o defendiam. O que mais os
preocupava era a convivência com indivíduos com histórico de desvios da personalidade
que os deixavam violentos, letárgicos, eufóricos, repetitivos, sem nexos, enfim, cujo
afastamento desgastou os sentimentos, o gostar de estar junto.
Na presente análise da legislação psiquiátrica brasileira, o enfoque privilegiado será o das
leis federais específicas para doentes mentais e, a partir delas, será feita uma comparação
com o tratamento dado a esta questão pelos Códigos Penal e Civil.

O DECRETO 1.132/1903 E SEUS REFLEXOS

A iniciativa da implantação de uma legislação referente aos doentes mentais no Brasil


partiu do primeiro catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o
deputado João Carlos Teixeira Brandão. Este veio a ser o relator do Decreto 1.232 de
1903, promulgado no governo do presidente Rodrigues Alves e responsável por
"Reorganizar a assistência aos alienados". Estava explícita a influência sofrida da lei
francesa de 1838 neste decreto, que encerrava, além da intenção de unificar a assistência
psiquiátrica no país, o estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do
cerceamento de doentes mentais, "alienados" na verdade, em prisões. Além disso,
determinava a humanização dos tratamentos, ao menos nos parâmetros do pensamento
da época. "A loucura e a doença mental, como em outras partes do mundo ocidental,
permaneceram ligadas a três dimensões: médica, jurídica e social. A psiquiatria possui em
si estas três dimensões, sendo ao mesmo tempo médica (assistencial) e vinculada ao
controle da ordem pública." (AMARANTE ET AL 1998:189).

O Decreto 1.132 é o reflexo do empenho desta nascente classe médica, a psiquiátrica, em


reservar a si mesma um espaço de atuação. Segunda esta lei, o único lugar autorizado a
receber loucos era o hospício, por reunir condições adequadas, e toda internação estaria
sujeita ao parecer do médico, detentor da "verdade" no que se refere à alienação mental.
O decreto em questão também é o responsável por positivar a idéia de que o louco não
possui a capacidade de gerir seus bens e a sua pessoa, devendo estar submetido a um
curador, que também é o responsável pela guarda provisória dos bens do doente. Do
mesmo modo, não caberia a este paciente interferir, ou mesmo conhecer o tratamento a
ser aplicado. Mais uma vez, a política adotada em relação aos doentes mentais foi um
resultado da atenção à ideologia economicista.

O Código Civil de 1916 surgiu enquanto ainda se encontrava vigente o Decreto 1.132,
seguindo o caminho determinado por este em alguns aspectos que se referem à
capacidade civil dos doentes mentais, mas, em contrapartida, determinando-os de "loucos
de todo o gênero" ao invés de "alienados de qualquer espécie", como estava no projeto
original. Não houve, inclusive, a preocupação de definir rigidamente o que fossem
alienados mentais: "aqueles que, por organização cerebral incompleta, ou moléstia
localizada no encéfalo, lesão somática ou vício de organização, não gozam de equilíbrio
mental e clareza de razão suficiente para se conduzirem socialmente nas várias relações
da vida" (Clóvis apud Venosa, 2002: 163).
É necessário ressaltar que o campo das manifestações psiquiátricas constitui-se em algo
estranho ao conhecimento jurídico, que reconhece a necessidade de regulamentá-las, mas
confere ao saber médico a determinação do que efetivamente viriam a ser. Tendo o
Decreto 1.132 por relator um médico, é natural que algumas de suas determinações
permanecessem, como a presunção de incapacidade e o instituto da curatela.

Em 1927, um decreto estabeleceu a distinção entre "psicopata", todo doente mental, e


"alienado", que se referia ao doente mental perigoso, sujeito à incapacidade penal e civil.
Desta forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória.

DECRETO 24.559/1934

Em meio às modificações impostas pelo governo provisório de Getúlio Vargas, também a


assistência e a relação entre poder público e doente mental foram alteradas. O Decreto
24.559 de 1934 revogou o anterior de 1903 e "Dispõe sobre a profilaxia mental, a
assistência e a proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos
serviços psiquiátricos (...)". O termo alienado foi retirado do ordenamento jurídico, que
passou a referir-se somente ao psicopata, considerada uma denominação mais ampla. A
incapacidade do doente mental foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à internação,
válido por qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do psicopata em sua
residência.

Assim, entendeu-se que a internação era a regra, e o tratamento extra-hospitalar a


exceção, bastando a mera suspeita de existência da doença mental para que o indivíduo
fosse cerceado em asilos, com a subsequente supressão de seus direitos civis, e
submissão à tutela do Estado. Não havia garantias contra esta medida, embora
formalmente existisse um conselho de "proteção" aos psicopatas (extinto em 1944),
composto de: juiz de órfãos e de menores, chefe de polícia, diretor geral da Assistência a
Psicopatas e Profilaxia Mental, catedráticos de Clínica, Psiquiatria, Neurologia, Medicina
Legal e Higiene, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e da Assistência
Judiciária, presidente da Liga Brasileira de Higiene Mental, entre outros. Reafirmou-se a
conexão entre a Justiça e a Psiquiatria, com o tratamento sendo associado ao
posicionamento legal. O psicopata passou a ser visto segundo os enfoques jurídicos e
médico, na medida em que sua mera existência era uma questão de ordem pública, em
razão do potencial de periculosidade.
"Como ficou definido por Foucault e Castel, o processo que levou à definição de
periculosidade social está no plano da ordem pública e não está vinculada à natureza do
sofrimento psíquico. Toda pessoa internada torna-se, por definição, perigosa. A medicina
mental ratificou em sua definição de doença mental a equação doente mental-perigo
social. Sendo assim, a definição jurídica não poderia deixar de reafirmar a sua presença."
(AMARANTE ET AL 1998:189).
Condicionado a este raciocínio, o Código Penal de 1942 relacionou a duração e o caráter da
Medida de Segurança aplicável ao doente mental criminoso à gravidade do delito, não ao
que seria mais conveniente tendo em vista a natureza o distúrbio. Afirmou não se tratar
de uma punição, mas de uma providência que tinha em vista a reabilitação do doente para
que este retornasse ao meio social. No entanto, o que se viu na maioria das vezes foi a
reduzida diferença entre a aplicação prática da Medida de Segurança e as penas
efetivamente cumpridas nas prisões. Neste sentido, os doentes em questão eram apenas
cerceados em um manicômio como forma de preservar a sociedade do perigo que
representavam, tendo em vista o delito que cometeram, mas não se relevava sua condição
enquanto indivíduos portadores de uma patologia.

Observou-se a partir da década de 1930 do século passado a conexão da psiquiatria


brasileira ao pensamento alemão, desvinculando-se do modelo francês. O significado desta
reestrutura de corrente doutrinária se fez na atenção dada ao biologicismo, próprio do
sistema alemão, com a justificação da doença mental por argumentos que levavam em
conta caracteres étnicos, sociais e políticos, fundamentando um direcionamento para a
higiene mental, com particularidades racistas, xenofóbicas e eugenísticas.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA E A LEI 10.216/2001

Em meados da década de 1960, o saber psiquiátrico foi convulsionado pelo surgimento da


corrente antipsiquiátrica, a qual questionava a psiquiatria convencional enquanto
conhecimento científico, propondo serem frágeis as próprias bases que fundamentam a
existência da doença mental. Segundo esses teóricos, a loucura não é doença, mas um
reflexo do desequilíbrio social e familiar do meio onde o indivíduo se encontra inserido,
devendo o empenho em sua cura se
localizar nestas causas, excluindo as
disfunções orgânicas tão propagadas
anteriormente.

Nesta mesma época, teve lugar na cidade


italiana de Trieste o embrião do movimento
de Reforma Psiquiátrica que atingiria vários
países nas décadas seguintes. Seu principal
expoente foi Franco Basaglia que, ao invés
de ter optado pela negação da doença, como os antipsiquiatras, propôs que o saber da
psiquiatria fosse reformulado. Assim, devolveu-se ao doente mental a sua identificação
enquanto cidadão, trabalhador, proprietário, pai e tantas outras que lhe foram retiradas
quando do início de seu tratamento em instituição asilar, quando adquiriu o estigma de
incapaz, perigoso ou antissocial. A inovação da metodologia empregada se fez com o
recurso ao hospital-dia, que permitia a continuidade da inserção do indivíduo em seu meio
social e familiar na constância do tratamento.
A realidade brasileira vivenciou o processo da Reforma Psiquiátrica a partir da década de
1970, com crescentes manifestações de vários setores da sociedade no sentido de reduzir
o cerceamento da liberdade individual na forma de manicômios. Além disto, buscou-se um
novo enfoque no modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao invés de
direcionar a ação apenas ao desequilíbrio psíquico já instalado.

No fim dos anos 80, surgiu o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o
lema "Por uma sociedade sem manicômios" e estimulando a produção legislativa de vários
estados no sentido de proceder à desistitucionalização.

Tomando por modelo a Lei Basaglia italiana, é promulgada no Brasil, em 6 de abril de


2001, a Lei 10.216, a qual "Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras
de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental", catorze
anos depois de seu projeto original ter sido proposto pelo deputado Paulo Delgado. O
doente mental passou a ter direito ao melhor tratamento, realizado com humanidade e
respeito, tendo assegurados a proteção contra qualquer forma de exploração e o direito a
receber informações a respeito de sua doença. O tratamento deveria ser feito, de
preferência, em serviços comunitários de saúde mental, nos moldes do hospital-dia, tais
como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Estes são proporcionados pelo setor
público, retirando o monopólio que durante quase todo o século XX fora exercido pela
iniciativa privada, na forma de hospitais psiquiátricos particulares, os quais, não raro,
negligenciavam o tratamento adequado a fim de receber mais recursos vindos do Estado,
inclusive na forma de internamentos desnecessários.

Neste contexto, foi invertida a concepção da lei anterior, que estabeleceu o internamento
como princípio basilar. Este passaria a ser feito somente quando os recursos extra-
hospitalares não se mostrassem suficientes, tendo duração mínima e, ainda assim, sempre
mantendo em vista o posterior retorno do paciente ao seu meio social. É perceptível a
intenção do legislador em proteger o portador de transtorno mental contra as internações
arbitrárias, possibilitando a este, sempre que possível a interferência em seu tratamento.

As internações ficam divididas em 3 categorias: as voluntárias, nas quais existe o


consentimento do paciente; as involuntárias, sem a anuência do paciente e por solicitação
de terceiro; e as compulsórias, que são determinadas judicialmente. Estas duas últimas
são controladas pelo Ministério Público, que deve ser notificado das mesmas em até 72
horas após sua ocorrência. Este órgão deve exercer o controle por ser ele o responsável,
em nosso ordenamento jurídico, pela defesa os interesses difusos, coletivos e individuais
indisponíveis, tal como estabelecido no caput do art.127 da Constituição Federal de 1988.

OS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS HOJE


Como já vimos no decorrer do texto, algumas
mudanças tem sido realizadas nos hospitais
psiquiátricos. Em alguns locais, no momento
da internação, o paciente não é mais obrigado
a deixar todos os seus pertences pessoais com
os familiares. Pode permanecer com aqueles
que não representam risco de vida como
relógios, pulseiras, brincos, as próprias
roupas, visto que em muitos lugares não se
utiliza mais o uniforme. Outra mudança
observada em alguns locais é a convivência entre homens e mulheres. As alas são
separadas, mas há espaços em comum a ambos os sexos. Isto favorece o seu
reconhecimento enquanto homem ou mulher, permitindo relacionarem-se entre si.
Reconhece-se a transformação da instituição hospitalar, mas no ponto mais crítico do
tratamento o hospital não apresentou nenhuma mudança ou avanço: continua
segregando, excluindo e estigmatizando o doente mental. As mudanças que têm ocorrido
somente são observadas no interior da instituição; a sociedade não percebe essas
mudanças. Então a imagem do paciente psiquiátrico como louco perigoso e incapaz ainda
é muito presente, persistindo a antiga idéia do isolamento. Não há ações efetivas no
hospital psiquiátrico de reinserção na sociedade, de retorno do paciente ao seu meio
familiar e social. Tanto isso é verdade que o número de reinternações é muito elevado,
mostrando e reafirmando a ineficiência deste modelo excludente. Chegamos ao momento
de repensar essa prática que não vê o paciente como o ator principal e, por isso, não o
valoriza enquanto beneficiário do sistema. As ações desenvolvidas devem atender às
necessidades do paciente e não ser aquelas que a equipe, a sociedade e a instituição
determinam que seja importantes e suficientes.

ADMISSÃO, PROTEÇÃO, ACIDENTES, TENTATIVA DE SUICÍDIO, EVASÃO,


CONTROLE DAS EVASÕES, LICENÇA SEMANAL, ALTA HOSPITALAR E
OBSERVAÇÃO.

ADMISSÃO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO


Ao receber o paciente na clínica, deve-se.
Verificar se o prontuário está em ordem: se há pedido de internação, medicação de
urgência prescrita e termo de responsabilidade devidamente assinado;
Fazer a admissão anotando as condições físicas, mentais e sociais do paciente;
Verificar e anotar os sinais vitais;
Conferir os pertences do paciente e fazer o rol dos mesmos observando, se entre estes,
não se encontram objetos ou substâncias que possam servir para tentativa de suicídio, ou
agressão, tais como; facas, vidros, remédios;
Aconselhar o paciente a entregar objetos de valor, aos familiares;
Orientar os familiares quanto aos dias e horários de telefonemas e visitas;
Encaminhar o paciente à sua enfermaria, mostrando-lhe as dependências, onde guardar
os objetos; de uso pessoal e apresentando-o aos outros pacientes;
Tranquilizar o paciente quanto à sua doença e quanto ao tratamento;
Informar às rotinas da clínica em relação a visitas, telefonemas, horário de refeições,
licenças médicas;
Providenciar o que for necessário para o paciente, como: roupa, banho, alimentação,
medicação;
Aplicar a medicação prescrita, especialmente, se o paciente apresentar sintomas graves
e/ou agudos;
Pedir aos pacientes mais antigos e em boas condições que ajudem o recém-chegado a
se adaptar ao novo ambiente;
Observar o paciente constantemente quanto ao seu estado mental e comportamento,
anotando no prontuário o que interessar, comunicando se necessário ao enfermeiro
responsável.

PROTEÇÃO AO PACIENTE
O hospital é responsável pelo paciente internado, devendo protegê-lo de situações que
coloquem sua vida em risco, enquanto não tem condições de faze-lo por si mesmo.

ACIDENTE
Os pacientes podem sofrer acidentes que venham causar-lhe danos físicos. Alguns
acidentes podem pôr em risco a vida do paciente. Os acidentes mais comuns são causados
por quedas e queimaduras. A enfermagem deve tomar atitudes corretas para evitar os
acidentes.

TENTATIVA DE SUICÍDIO
É comum as pessoas pensarem na morte quando uma grande tristeza as atinge ou quando
algo de desagradável acontece. Com os doentes mentais a idéia de suicídio ocorre com
mais freqüência.

Os motivos são os mais variados possíveis e dentre eles podemos citar:


Desejo de fugir de coisas desagradáveis como medo, desgostos, sentimento de estar
abandonado pela família e outros;
Alucinações, que fazem o paciente ouvir vozes que lhe dizem ao ouvido que ele vai
morrer, e essa 'é tão imperiosa que ele não consegue deixar de fazer o que ela manda;
Sentimento de tristeza ou de culpa.

EVASÕES
Os pacientes podem deixar o hospital, sem licença, de várias maneiras: podem pular o
muro, sair pela porta com chave fabricada por eles mesmos, ou chave que pegaram de
alguém; dizer ao plantonista que tem ordem de sair;

A evasão é uma atitude tomada pelo doente mental que se sente vigiado, perseguido,
indesejado e como se fosse prisioneiro no hospital. O desejo do doente mental é livrar-se
dos perseguidores ou agressores, buscando acolhimento e esperança em outro lugar.
Muitas vezes a evasão ocorre com pacientes desorientados que não sabem onde estão e
para onde vão, sendo mais grave devido ao perigo de acidentes.

Controle de Evasões
As evasões devem ser evitadas através de vigilância; observação da atitude e
comportamento do paciente; compreensão dos sintomas e necessidades do doente mental
e, promoção de segurança e bem estar ao mesmo.

Consumada a evasão a enfermagem deve:


Comunicar imediatamente à enfermeira chefe que tomará as devidas providências;
Registrar no prontuário do paciente e no Relatório de Enfermagem a hora e as
condições da evasão;
Recolher os pertences do paciente, fazer o rol e guardar em local adequado;
Se o paciente regressar, recebe-lo sem maltratá-lo pelo que fez;
Anotar no relatório e no prontuário do paciente a hora e as condições do regresso;
Comunicar ao enfermeiro responsável o retorno do paciente e administrar medicação,
conforme prescrição.

LICENÇA SEMANAL
Com o intuito de readaptar o paciente novamente à sociedade, ele deverá receber licença
semanal, e uma vez desaparecidos os sintomas que o incompatibilizavam com a realidade
do grupo comunitário. Para que os pacientes possam ausentar é necessário que o médico
assine uma licença.

Enfermagem
1. Afixar em quadro mural, lista dos pacientes que tem licença semanal;
2. Comunicar a licença aos familiares;
3. Verificar a autorização dada pelo médico do paciente;
4. Ajudar se necessário, o paciente nos preparativos para a saída;
5. Receber os familiares dos pacientes e entregar-lhes a autorização de saída do paciente;
6. Anotar no prontuário do paciente o dia, hora, condições e relação dos medicamentos
levados pelo paciente;
7. Instruir os responsáveis pelo paciente com relação à medicação a ser ministrada
durante a licença e quanto à necessidade de levá-lo a participar de passeios e festa.
8. Observar as condições físicas e emocionais do paciente que regressa da licença;
9. Perguntar ao paciente como passou os dias que esteve em casa;
10. Receber e conferir os pertences do pacientes e anotar no relatório de enfermagem e
no prontuário a data, a hora e as condições em que o paciente regressou.

Observações
A medicação deverá ser colocada em um recipiente, separado com rótulos contendo
instruções a respeito da quantidade e horário em que deve ser ministrada;
Instruir o responsável sobre como administrá-la;
Informar ao paciente e familiar sobre a necessidade de, em caso de uma recaída, trazer
de volta o paciente, ao hospital.

ALTA HOSPITALAR
A alta hospitalar é proporcionada ao paciente psiquiátrico quando os sintomas
incompatíveis com a vida em sociedade melhoraram ou desapareceram. O paciente
encontra-se calmo, lúcido e em condições de viver em sociedade.

O paciente psiquiátrico antes de receber alta deverá ser entrevistado pelo seu médico
assistente, pelo serviço social e pelo psicólogo da equipe, com a finalidade de remover
idéias errôneas e assegurar os aspectos sadios da personalidade do paciente, reparando-o
para enfrentar a vida lá fora.

Cuidados com o Paciente em Alta Hospitalar


1. Antes de o paciente deixar o hospital, deve marcar consulta no ambulatório, para dar
prosseguimento ao tratamento;
2. Verificar no prontuário se a alta está assinada;
3. Verificar se o paciente é portador de aviso de alta, expedido pelo serviço de internação
e altas;
4. Orientar os familiares quanto à maneira de proceder com o paciente para ajustá-lo ao
meio que vive;
5. Anotar no relatório geral a saída do paciente;
6. Entregar aos familiares valores e dinheiro, mediante assinatura do recebimento;
7. Fazer entrega de receitas.

OBSERVAÇÃO DO DOENTE MENTAL


Os doentes mentais, de acordo com o seu diagnóstico, apresentam sintomas específicos e
merecem especial atenção, pois, através das observações de Enfermagem, registradas
corretamente no prontuário do paciente e Relatório de Enfermagem, pode-se avaliar a
recuperação do paciente, o efeito da medicação e condições de alta.

Qualquer reação do paciente, deve ser anotada com critério, pois, a equipe se utilizará
delas para a avaliação do paciente.
FATORES FÍSICOS OU BIOLÓGICOS

O nosso corpo funciona de forma integrada, isto é,


os aparelhos e sistemas se comunicam uns com os
outros e o equilíbrio de um depende do bom
funcionamento dos outros.

Muitas vezes podemos achar difícil de entender


como sintomas tão “emocionais” como sentir-se
culpado ou ter pensamentos repetidos de morte ou
ouvir vozes possam ter também uma base
orgânica, mas ela existe. O envelhecimento, o abuso de álcool ou outras substâncias são
exemplos comuns. Em muitos casos essa base já pode ser identificada e descrita pelos
especialistas, em outros casos ainda não.

O que se sabe é que sempre que temos alguma emoção, seja ela agradável ou
desagradável, ocorre uma série de trocas elétricas e químicas em nosso cérebro, o que já
constitui, por si só, um fator orgânico.

Podemos definir os fatores físicos ou biológicos como sendo as alterações ocorridas no


corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervoso central que possam
levar a um transtorno mental.

Dentre os fatores físicos ou biológicos que podem ser a base ou deflagrar um transtorno
mental, existem alguns mais evidentes, que avaliaremos a seguir.

a) Fatores genéticos ou hereditários


Quantas vezes já ouvimos dizer que fulano “puxou” o gênio do pai? Ou que tem “problema
de cabeça” que nem a tia? Ou que é nervoso que nem a mãe?
Quando usamos essas expressões, estamos nos referindo às possíveis heranças genéticas
que possamos trazer em nosso comportamento e forma de ser.
O nome “genético” vem da palavra genes, que são grandes moléculas que existem dentro
de nossas células contendo informações sobre como nosso corpo deve se organizar. As
informações contidas nos genes são muitas e não são todas que utilizamos; algumas ficam
guardadas.

Em Psiquiatria, os fatores genéticos ou hereditários têm sido muito falados ultimamente,


muitas vezes em programas de televisão, sempre caracterizados como grandes
descobertas. Isso porque embora popularmente sempre se diga que a pessoa com
transtorno mental o herdou de alguém da família, há muito tempo os cientistas tentam
identificar se essa “herança” veio através do corpo ou do ambiente em que a pessoa foi
criada. Atualmente, os avanços da Medicina têm permitido identificar alguns genes que
possam ter influência no desenvolvimento de transtornos mentais.

No entanto, é importante deixar claro que quando se fala de fatores genéticos em


Psiquiatria, estamos falando de tendências, predisposições que o indivíduo possui de
desenvolver determinados desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a
apresentar determinados transtornos mentais.

Ainda assim, é uma grande armadilha acreditarmos que aí está “toda” a causa da doença
mental, pois passamos a acreditar que a solução do problema só estará neste ponto e
deixamos de prestar atenção em todos os outros aspectos da pessoa que atendemos em
sofrimento mental.

Dessa forma, a constituição genética precisa ser vista como uma “facilidade orgânica” para
desenvolver um determinado transtorno mental, mas não há garantias de que, ao longo
da vida do sujeito, tal fato ocorrerá, visto que dependerá de outros fatores para que tal
“tendência” de fato se manifeste.

Em alguns filmes de ficção do futuro, vemos pessoas tendo cartões magnéticos contendo
informações sobre seu genoma (o “mapa” de seus genes), utilizados como carteira de
identidade. Os cientistas afirmam que isto não está tão longe de acontecer. Imaginamos
até que seja possível, mas esperamos que até lá a sociedade tenha evoluído o suficiente
para não usar de forma preconceituosa tais informações. Ou talvez venhamos a descobrir
que todos nós temos uma ou outra alteração genética que possa nos predispor ao
transtorno mental.

b) Fatores pré-natais
As condições de gestação, dentre eles os fatores emocionais, econômicos e sociais, o
consumo de álcool, drogas, cigarro e de alguns tipos de medicação podem prejudicar a
formação do bebê, gerando problemas futuros que poderão comprometer sua capacidade
adaptativa no crescimento e desenvolvimento, podendo facilitar o surgimento da doença
mental.

c) Fatores perinatais
Perinatal é tudo aquilo que acontece “durante” o nascimento do bebê. Em algumas
situações o bebê pode sofrer danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de
oxigenação do tecido cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos, a
criança poderá desenvolver problemas neurológicos (como, por exemplo, a epilepsia ou
diversos tipos de atraso de desenvolvimento) que podem formar a base para futuros
transtornos psiquiátricos.

d) Fatores neuro-endocrinológicos
O sistema endócrino, que é responsável pela regulação do equilíbrio de nosso organismo,
faz isso através da produção de hormônios pelas glândulas endócrinas (pituitária,
tireóide). Acontece que esse sistema tem estreita ligação com o sistema nervoso central,
havendo uma influência recíproca entre eles, isto é, o que acontece em um causa reações
no outro e vice-versa.

Muitos estudos recentes têm mostrado a ligação entre mecanismos neuro-endocrinológicos


e reações cerebrais. As mudanças hormonais podem influenciar nosso estado de humor e
deflagrar até mesmo estados psicóticos como é o caso da psicose puerperal ou da tensão
pré-menstrual (TPM).

e) Fatores ligados a doenças orgânicas


O transtorno mental pode também aparecer como consequência de determinada doença
orgânica, tal como infecções, traumatismos, vasculopatias, intoxicações, abuso de
substâncias e qualquer agente nocivo que afete o sistema nervoso central.

FATORES AMBIENTAIS

Você acorda pela manhã e percebe que o tempo


mudou. O sol que havia ontem não apareceu hoje,
faz frio e cai forte chuva. Ao se preparar para sair,
com certeza você buscará roupas mais quentes e
procurará se proteger com capa ou guarda chuva.

Estamos, assim, procurando nos ajustar aos fatores


ambientais (nesse caso, climáticos).

Na verdade, estamos o tempo todo procurando formas de nos adaptarmos, o melhor


possível, ao que acontece à nossa volta. Tantos são os estímulos que sofremos que
acabamos desenvolvendo maneiras características de reagir, muitas vezes
supervalorizando as informações que nos chegam, outras vezes tornando-nos apáticos a
elas. Que sensação você experimenta quando entra em contato com as constantes (e
massacrantes!) notícias de violência via rádio e televisão? As pessoas costumam ter
diferentes reações: algumas tornam-se apáticas a elas, outras fazem uso do humor para
digeri-las, outras tornam-se excessivamente medrosas, e assim por diante. Como
exemplo, uma paciente passou a pensar na possibilidade de fazer algum mal à sua
pequena filha a partir de noticiários de rádio que relatavam maus tratos e até homicídios
materno-infantis.

Os fatores ambientais exercem forte e constante influência sobre nossas atitudes e nossas
escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como nos sentimos e
enxergamos a nós mesmos. As reações a cada estímulo ambiental se darão de acordo com
a estrutura psíquica de cada pessoa, e essa estrutura psíquica estará intimamente ligada
às experiências que a pessoa teve durante a vida. Assim se estabelece uma relação
circular entre todos os fatores geradores de transtorno mental onde um ocasiona o outro.

Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem ser sociais,
culturais e econômicos.

Como sociais podemos compreender todas as interações que temos com o outro, nossas
relações pessoais, profissionais e com outros grupos. Estudos falam da importância das
pessoas significativas em nossa infância e de como ficam marcadas em nós as suas formas
de pensar e agir, assim como as reações que passamos a ter influenciam o nosso
comportamento diante de outras pessoas. Se, com as pessoas importantes de nossa
infância, aprendemos que existem pessoas que não são confiáveis e que devemos estar
sempre atentos para não sermos enganados, possivelmente teremos dificuldades em
confiar em alguém mesmo em nossa vida adulta.

Entre os fatores ambientais culturais podemos lembrar de todo o sistema de regras no


qual estamos envolvidos. Este sistema varia de país para país, de estado para estado, de
grupo para grupo, e também de acordo com a época. Ou seja, noção de certo e errado, de
bom e mau varia muito dependendo do local e época em que estamos. Os mitos, as
crenças, os rituais que nos cercam, nos dão as noções de bem e mal que são aceitas pelos
grupos aos quais pertencemos, seja ele o nosso país, o nosso grupo religioso, a nossa
escola ou mesmo a nossa família.

Outro grupo de fatores ambientais que podemos perceber como exercendo influência
sobre nós são os econômicos. Nesse tópico tanto podemos nos referir à nossa
possibilidade mais direta de aquisição de bens, ou seja, “nosso bolso”, quanto às atuais
condições sociais, onde a miséria, aliada à baixa escolaridade, pode levar ao aumento da
criminalidade e esta ao aumento de tensão em nosso dia-a-dia.

Vale observar que todos estes grupos de fatores ambientais estão presentes tanto em
meios menos extensos, como a família, quanto em meios mais amplos, como a própria
humanidade.

FATORES EMOCIONAIS OU PSICOLÓGICOS

Continuamos tentando compreender o que, afinal de contas, torna as pessoas diferentes


umas das outras. O que faz com que se comportem de uma maneira e não de outra. Já
abordamos os aspectos físicos e os ambientais e, não por acaso, deixamos para abordar os
aspectos emocionais depois de bem compreendidos os anteriores. Isso porque, como já foi
visto antes, os fatores influenciam-se entre si, mas no caso dos aspectos emocionais
estamos falando de formação de identidade, que se inicia justamente com a conjugação
dos aspectos físicos e ambientais.

Cada pessoa vem a este mundo como ser único,


diferente de todos os outros. Cada um de nós
apresenta, mesmo ao nascer, uma forma de
interagir com o mundo que influencia o
comportamento de quem está à nossa volta e é
influenciado por ele. Não é incomum as mulheres
que possuem mais de um filho afirmarem que foram
bebês totalmente diferentes: um dormia mais, outro
chorava o tempo todo, ou estava sempre doente.

Também devemos lembrar que, quando nascemos, já trazemos conosco uma “história de
vida”. Se fomos desejados ou não, se somos o primeiro filho ou o décimo, se nossa estadia
na barriga foi tranquila ou cheia de altos e baixos, se a mamãe fez uso de algum
medicamento ou droga que tenha nos deixado mais agitados ou mais apagados, se
tivemos ou não dificuldades maiores no parto, se fomos bem atendidos e fomos logo para
perto da mamãe, ou se tivemos que ficar mais tempo longe (indo para uma UTI neonatal,
por exemplo), se a mamãe ficou bem após nosso nascimento (disponível para gente) ou se
teve, por exemplo, uma depressão puerperal.

Bom, estes são só alguns exemplos que mostram que nós já “botamos o pé na vida” com
algumas características que nos são individuais e que as interações que vamos estabelecer
com o mundo, a partir de nosso nascimento, serão formadoras de um modo de ser
caracteristicamente nosso, mais ou menos ajustado, ao qual chamamos personalidade.
Pois bem, voltemos a pensar um pouco no “nosso bebê”...

Ao nascer, o bebê não tem ainda consciência de si mesmo e do mundo à sua volta. Não
consegue diferenciar suas sensações internas do mundo externo. Apenas consegue
perceber sensações boas (prazerosas) e más (desprazerosas). A fralda molhada dá
desprazer e ele chora. O colo da mamãe dá prazer (possivelmente lembra o conhecido
aconchego do útero e dá segurança) e ele dorme.

Nessa sequência, entre chorar e ser confortado, se dá um dos alicerces fundamentais para
o restante da vida do bebê (e dificilmente a mãe se dá conta do papel fundamental desses
momentos), pois, aos poucos, a criança vai construindo a noção de confiança, que é o
ponto de partida para sentimentos como segurança, otimismo e fé na vida adulta. Além
disso, a formação do vínculo afetivo com a mãe ou pessoa substituta faz com que o bebê
ganhe condições para amadurecer e voltar-se para conhecer e experimentar o mundo.
Imagine-se chegando sozinho a um país estranho, onde você não conhece a língua, os
costumes, nada (que sufoco, não?). Agora imagine que nesse lugar esteja te esperando
alguém que fala a sua língua (que alívio!) e que pode te ensinar tudo quanto você precisa
para se adaptar melhor. A mãe e o pai, ou pessoas substitutas, atuam mais ou menos
como “guias turísticos” do mundo para o bebê que chega. A grande diferença é que o bebê
é um “turista” até mesmo em seu próprio corpo, precisando de alguém para ajudá-lo a se
conhecer.

Acontece que quando o bebê não tem suas necessidades atendidas, ele não tem ainda a
capacidade de suportar a sensação ruim para aguardar a boa. O bebê não diz para si
mesmo: “Ah! Agora estou com fome, mas mamãe não pode me dar de mamar porque está
tomando banho. Tudo bem! Quando ela sair do banheiro, eu choro de novo.”

Não! Para o bebê recém-nascido, a fome é um desprazer tão intenso que, se não atendida,
adquire tons de ameaça de destruição (mais ou menos como nos sentiríamos diante do fim
do mundo). Nesses momentos o bebê experimenta profunda sensação de desamparo.

A repetição constante de tais exposições à frustração, por períodos mais prolongados,


pode levar o indivíduo, no futuro, a desenvolver uma série de transtornos mentais. Alguns
autores identificam aí as raízes emocionais das psicoses e da famosa síndrome do pânico.

À medida que vai estabelecendo trocas positivas com as pessoas que cuidam dele, o bebê
vai criando uma diferenciação entre ele e o restante do mundo (que, nesse momento,
ainda são as pessoas mais próximas) e vai adquirindo uma certa tolerância à frustração e
maior capacidade de espera, pois já consegue “antecipar” (fazendo uso da memória) a
satisfação de suas necessidades.

Com a continuidade de seu crescimento e desenvolvimento, a criança vai adquirindo


noções de julgamento de si e dos outros, isto é, vai internalizando as regras e proibições
de seu ambiente e passando a captar a impressão que ela própria provoca no ambiente.

Assim, entramos em contato com o ambiente social mais amplo pelas portas que abrimos
nas relações com nossa família nuclear ou com outras figuras de sobrevivência de nossas
vidas.

O QUE SÃO OS TAIS DE ID, EGO E SUPEREGO?

Sigmund Freud identificou cada uma das formas de funcionamento da estrutura psíquica
com nomes que nos parecem estranhos, pois têm sua origem na língua alemã.
Ao modo de funcionamento mais primitivo, aquele do bebê recém-nascido, onde
predominam os impulsos e sensações corporais de forma mais desorganizada, Freud
chamou de id. Id seria o ponto de partida de todo ser humano, a fonte básica de energia
de nosso ser, que será
organizada a partir de nosso
contato com o ambiente.

O aparecimento da consciência
eu/outro, da capacidade de
espera, mostra o surgimento do
ego (de acordo com as idéias de
Freud). Ego é a parte de nós que
lida com a realidade e negocia
com ela as satisfações das
necessidades geradas no id. Por
exemplo, quando sentimos fome
estamos detectando o
surgimento de uma necessidade. Sabemos que para satisfazermos esta necessidade
precisamos comer algo porque lembramos de outras vezes em que isto aconteceu
(memória já é uma atuação do ego). Podemos decidir se vamos para a cozinha, a uma
lanchonete ou a um restaurante de luxo através da avaliação de quanto dinheiro temos
para gastar com esta refeição (estamos buscando, na realidade, meios adequados para a
satisfação de nossa necessidade).

O ego tem três tarefas básicas: a nossa autopreservação, nosso autocontrole (não é
porque sentimos atração sexual por alguém que vamos “atacar” tal pessoa) e nossa
adaptação ao meio ambiente.

Quando o indivíduo sofre de transtornos mentais, as funções adaptativas do ego


geralmente são afetadas, especialmente nos transtornos psicóticos que se caracterizam
por um vínculo precário com a realidade externa.

À capacidade de julgamento moral (noção de certo e errado) que passamos a adquirir com
o passar da infância, Freud chamou superego.

Esta seria a parte de nós mesmos que se liga aos códigos morais de nosso ambiente e de
nossa espécie. Ter essa noção de certo e errado mas nos sinaliza que fizemos algo
inadequado.

Estas três instâncias de nossa mente vivem, assim como o nosso corpo, em busca de um
nível de equilíbrio que nos permita ter o máximo possível de experiências boas e o mínimo
de experiências ruins.
Mas nem sempre isso é fácil. Muitas vezes nos encontramos dentro de situações das quais
não gostaríamos de participar, mas não vemos outra saída. Outras vezes, ainda, nos
percebemos querendo e não querendo alguma coisa ao mesmo tempo. Nessas situações
se estabelecem conflitos dentro de nós.

Os conflitos podem ser extremamente desgastantes do ponto de vista emocional. Sempre


em busca do equilíbrio, lançamos mão de “estratégias” que nos tirem pelo menos
temporariamente daquela situação.
A essas “respostas de proteção”, que são, em geral, inconscientes e automáticas,
chamamos mecanismos de defesa.

Os mecanismos de defesa não são, por eles mesmos, patológicos nem saudáveis. É o uso
que fazemos deles e o grau de rigidez que estabelecemos internamente para seu uso que
faz com que sejam mais ou menos favoráveis ao nosso ajustamento. Por exemplo, sair
para caminhar pode ser uma excelente solução quando estamos prestes a “explodir” com
alguém em determinada situação, mas se só soubermos fazer isso para lidar com nossos
conflitos, em breve estaremos em apuros.

DOENÇA MENTAL

Popularmente há uma tendência em se julgar a


sanidade da pessoa, de acordo com seu
comportamento, de acordo com sua adequação
às conveniências socioculturais como, por
exemplo, a obediência aos familiares, o sucesso
no sistema de produção, a postura sexual, etc.
Medicamente, entretanto, Doença Mental pode
ser entendida como uma variação mórbida do
normal, variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da pessoa (social,
ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive. Organização Mundial
de Saúde diz que o estado de completo bem estar físico, mental e social define o que é
saúde, portanto, tal conceito implica num critério de valores (valorativo), já que, lida com
a idéia de bem-estar e mal-estar.

Os Transtornos mentais (ou doenças mentais, transtornos psiquiátricos ou psíquicos, entre


outras nomenclaturas) são condições de anormalidade, sofrimento ou comprometimento
de ordem psicológica, mental ou cognitiva. Em geral, um transtorno representa um
significativo impacto na vida do paciente, provocando sintomas como desconforto
emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória.
Os transtornos mentais acometem, em algum momento da vida, ao menos 20% da
população mundial. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, transtornos mentais é
a segunda causa dos atendimentos de urgência. Uma pesquisa da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp) de 2006 realizada no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(SAMU) de Marília, no interior de São Paulo, mostrou que 16% dos pacientes atendidos
apresentaram transtornos mentais e do comportamento.

Quanto a forma de manifestação

Há duas classificações básicas de doenças mentais:


A. Neuroses
B. Psicoses

A – NEUROSE: é chamada neurose toda a psicopatologia leve, onde a pessoa tem a


noção (mesmo que vaga) de seu problema.

Ele tem contato com a realidade, porém há manifestações psicossomáticas, que são
notadas por este, e que servem de aviso para a pessoa procurar um tratamento
psicológico, ou psiquiátrico. É um fator comum a ansiedade exacerbada. Existe inúmeras
classificações menores; para citar algumas temos:

1) TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo: é a repetição de algum ato diversas vezes


ao dia, não controlável e causador de grande ansiedade;

2) Síndrome do Pânico: causa grande aflição, e medo perante alguma situação.

3) Fobias: é o medo a alguma situação. Pode ser medo de ambientes fechados


(claustrofobia), medo de água (hidrofobia), medo de pessoas (sociofobia), etc.

4) Transtornos de Ansiedade: o indivíduo têm ataques de ansiedades antes ou depois


de realizar algo, ou muitas vezes nem realizá-lo. É comum em pequena escala na maioria
das pessoas, porém seu excesso é denominado como patológico.

5) Depressão: também chamada de distimia, ou depressão maior. Caracteriza-se por


intenso retraimento e medo do mundo exterior. Causa baixa autoestima e pode levar ao
suicídio.

6) Síndrome de Burnout: é a consequência de um grande estímulo estressor, como


conflitos no trabalho ou família. Causa apagamento e falta de vontade.
Obs.: FREUD citou, em uma de suas obras, que todas as pessoas têm um pouco de
neurose em si. É normal no ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso
chamado de patológico.

TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

TOC, ou transtorno obsessivo-compulsivo, é um distúrbio psiquiátrico de ansiedade, que se


caracteriza pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões. Entende-se
por obsessão pensamentos, idéias e imagens que invadem a pessoa insistentemente, sem
que ela queira. Como um disco riscado que se põe a repetir sempre o mesmo ponto da
gravação, eles ficam patinando dentro da cabeça e o único jeito para livrar-se deles por
algum tempo é realizar o ritual próprio da compulsão, seguindo regras e etapas rígidas e
pré-estabelecidas que ajudam a aliviar a ansiedade. Alguns portadores dessa desordem
acham que, se não agirem assim, algo terrível pode acontecer-lhes. No entanto, a
ocorrência dos pensamentos obsessivos tende a agravar-se à medida que são realizados
os rituais e pode transformar-se num obstáculo não só para a rotina diária da pessoa como
para a vida da família inteira.

Classificação

Existem dois tipos de TOC:


a) Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico – as
obsessões e rituais se repetem com frequência, mas não
atrapalham a vida da pessoa;
b) Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito: as
obsessões persistem até o exercício da compulsão que
alivia a ansiedade.

Causas
As causas do TOC não estão bem esclarecidas.
Certamente, trata-se de um problema multifatorial. Estudos sugerem a existência de
alterações na comunicação entre determinadas zonas cerebrais que utilizam a serotonina.
Fatores psicológicos e histórico familiar também estão entre as possíveis causas desse
distúrbio de ansiedade.

Sintomas
Em algumas situações, todas as pessoas podem manifestar rituais compulsivos que não
caracterizam o TOC. O principal sintoma da doença é a presença de pensamentos
obsessivos que levam à realização de um ritual compulsivo para aplacar a ansiedade que
toma conta da pessoa. Preocupação excessiva com limpeza e higiene pessoal, dificuldade
para pronunciar certas palavras, indecisão diante de situações corriqueiras por medo que
uma escolha errada possa desencadear alguma desgraça, pensamentos agressivos
relacionados com morte, acidentes ou doenças são exemplos de sintomas do transtorno
obsessivo-compulsivo.

Frequência
Em geral, só nove anos depois que manifestou os primeiros sintomas, o portador do
distúrbio recebe o diagnóstico de certeza e inicia do tratamento. Por isso, a maior parte
dos casos é diagnosticada em adultos, embora o transtorno obsessivo-compulsivo possa
acometer crianças a partir dos três, quatro anos de idade. Na infância, o distúrbio é mais
frequente nos meninos. No final da adolescência, porém, pode-se dizer que o número de
casos é igual nos dois sexos.

Tratamento
O tratamento pode ser medicamentoso e não medicamentoso. O medicamentoso utiliza
antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina. São os únicos que funcionam. A
terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem não medicamentosa com comprovada
eficácia sobre a doença. Seu princípio básico é expor a pessoa à situação que gera
ansiedade, começando pelos sintomas mais brandos. Os resultados costumam ser
melhores quando se associam os dois tipos de abordagem terapêutica.

Recomendações
* Não há quem não tenha experimentado alguma vez um comportamento compulsivo,
mas se ele se repete a ponto de prejudicar a execução de tarefas rotineiras, a pessoa pode
ser portadora de transtorno obsessivo-compulsivo e precisa de tratamento;
* Crianças podem obedecer a certos rituais, o que é absolutamente normal. No entanto,
deve chamar a atenção dos pais a intensidade e a frequência desses episódios. O limite
entre normalidade e TOC é muito tênue;
* Os pais não devem colaborar com a perpetuação das manias e rituais dos filhos. Devem
ajudá-los a enfrentar os pensamentos obsessivos e a lidar com a compulsão que alivia a
ansiedade;
* O respeito a rituais do portador de TOC pode interferir na dinâmica da família inteira.
Por isso, é importante estabelecer o diagnóstico de certeza e encaminhar a pessoa para
tratamento;
* Esconder os sintomas por vergonha ou insegurança é um péssimo caminho. Quanto
mais se adia o tratamento, mais grave fica a doença.

SÍNDROME DO PÂNICO

A síndrome do pânico, na linguagem psiquiátrica chamada de transtorno do pânico, é uma


enfermidade que se caracteriza por crises absolutamente inesperadas de medo e
desespero. A pessoa tem a impressão de que vai morrer naquele momento de um ataque
cardíaco porque o coração dispara, sente falta de ar e tem sudorese abundante. Quem
padece de síndrome do pânico sofre durante as crises e ainda mais nos intervalos entre
uma e outra, pois não faz a menor idéia de quando elas ocorrerão novamente, se dali a
cinco minutos, cinco dias ou cinco meses. Isso traz tamanha insegurança que a qualidade
de vida do paciente fica seriamente comprometida.

Sintomas físicos de uma crise de pânico


Os sintomas físicos de uma crise de pânico
aparecem subitamente, sem nenhuma causa
aparente (apesar de existir, mas fica difícil de se
perceber). Os sintomas são como uma
preparação do corpo para alguma "coisa terrível".
A reação natural é acionar os mecanismos de
fuga. Diante do perigo, o organismo trata de
aumentar a irrigação de sangue no cérebro e nos membros usados para fugir - em
detrimento de outras partes do corpo, incluindo os órgãos sexuais.

Eles podem incluir:


✓ Contração / tensão muscular, rijeza.
✓ Palpitações (o coração dispara).
✓ Tontura, atordoamento, náusea.
✓ Dificuldade de respirar (boca seca).
✓ Calafrios ou ondas de calor, sudorese.
✓ Sensação de "estar sonhando" ou distorções de percepção da realidade.
✓ Terror - sensação de que algo inimaginavelmente horrível está prestes a acontecer e de
que se está impotente para evitar tal acontecimento.
✓ Confusão, pensamento rápido.
✓ Medo de perder o controle, fazer algo embaraçoso.
✓ Medo de morrer.
✓ Vertigens ou sensação de debilidade.

Uma crise de pânico dura caracteristicamente vários minutos e é uma das situações mais
angustiantes que podem ocorrer a alguém. A maioria das pessoas que tem uma crise terá
outras (se não tratar). Quando alguém tem crises repetidas ou sente muito ansioso, com
medo de ter outra crise, diz-se que tem transtorno do pânico.

Tratamento
Existe uma variedade de tratamentos para o T.P. O mais importante neste aspecto é que
se introduza um tratamento que vise restabelecer o equilíbrio bioquímico cerebral numa
primeira etapa. Isto pode ser feito através de medicamentos seguros e que não produzam
risco de dependência física dos pacientes. Numa segunda etapa prepara-se o paciente para
que ele possa enfrentar seus limites e as adversidades vitais de uma maneira menos
estressante. Em última análise, trata-se de estabelecer junto com o paciente uma nova
forma de viver onde se priorize a busca de uma harmonia e equilíbrio pessoal. Uma
abordagem psicoterápica específica deverá ser realizada com esse objetivo.

O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao engajamento do paciente com o


mesmo. É importante que a pessoa que sofre de T.P. entenda todas as peculiaridades que
envolvem este mal e que queira fazer uma boa "aliança terapêutica" com seu médico no
sentido de juntos superarem todas as adversidades que poderão surgir na busca do seu
equilíbrio pessoal.

FOBIAS (TRANSTORNOS FÓBICO-ANSIOSOS)

O medo é um sentimento comum a todas as espécies animais e serve para proteger o


indivíduo do perigo. Todos nós temos medo em algumas situações nas quais o perigo é
iminente. A fobia pode ser definida como um medo irracional, diante de uma situação ou
objeto que não apresenta qualquer perigo para a pessoa. Com isto, essa situação ou esse
objeto são evitados a todo custo. Essa evitação fóbica leva muito frequentemente a
limitações importantes na vida cotidiana da pessoa. As fobias são acompanhadas de
ansiedade importante e também frequentemente de depressão. Os transtornos fóbico-
ansiosos constituem um grupo de doenças mentais onde a ansiedade é; ligada
predominantemente a uma situação ou objeto.

Há três tipos principais de fobia:


1. Agorafobia: inclui medo de espaços abertos, da presença
de multidões, da dificuldade de escapar rapidamente para um
local seguro (em geral a própria casa). A pessoa pode ter
medo de sair de casa, de entrar em uma loja ou shopping, de
lugares onde há; multidões, de viajar sozinho. Muitas pessoas
referem um medo aterrorizante de se sentirem mal e serem
abandonadas sem socorro em público. Muitas pessoas com
agorafobia apresentam também o transtorno de pânico.

2. Fobia social: neste caso a pessoa tem medo de se expor a outras pessoas que se
encontram em grupos pequenos. Isto pode
acontecer em reuniões, festas, restaurantes e
outros locais. Muitas vezes elas são restritas a
uma situação, como por exemplo, comer ou falar
em publico, assinar um cheque na presença de
outras pessoas ou encontrar-se com alguém do
sexo oposto. Muitas pessoas apresentam também
baixa autoestima e medo de criticas. Usualmente
a pessoa nessas situações apresenta rubor na
face, tremores, náuseas. Em casos extremos pode
isolar-se completamente do convívio social.

3. Fobias especificas (ou isoladas): como o próprio nome diz, são fobias restritas a
uma situação ou objeto altamente específicos, tais como, animais inofensivos (zoofobia),
altura (acrofobia), trovões e relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados
(claustrofobia), doenças (nosofobia), dentista, sangue, entre outros. A incapacitação da
pessoa no dia a dia depende do tipo de fobia e de quão fácil é evitar a situação fóbica.
Tratamento

O tratamento das fobias se faz com a associação de medicamentos com psicoterapia. Os


medicamentos mais utilizados pertencem ao grupo dos antidepressivos; os ansiolíticos
também são frequentemente indicados. A psicoterapia auxilia na compreensão de fatores
que podem agravar ou perpetuar os sintomas fóbicos.

TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Todos os Transtornos de Ansiedade têm como


manifestação principal um alto nível de ansiedade.
Ansiedade é um estado emocional de apreensão,
uma expectativa de que algo ruim aconteça
acompanhado por várias reações físicas e mentais
desconfortáveis.

Os principais Transtornos de Ansiedade são:


 Síndrome do Pânico,
 Fobia Específica,
 Fobia Social,
 Estresse Pós-Traumático,
 Transtorno Obsessivo-Compulsivo e
 Distúrbio de Ansiedade Generalizada.

É comum que haja comorbidade e assim uma pessoa pode apresentar sintomas de mais
de um tipo de transtorno de ansiedade ao mesmo tempo e destes com outros problemas
como depressão. No geral, os transtornos de ansiedade respondem muito bem ao
tratamento psicológico especializado.

Estresse Pós Traumático:


Estado ansioso com expectativa recorrente de reviver uma experiência que tenha sido
muito traumática. Por exemplo, depois de ter sido assaltado, ficar com medo de que
ocorra de novo, ter medo de sair na rua, ter pesadelos, etc. Geralmente após um evento
traumático a ansiedade diminui logo no primeiro mês sem maiores consequências. Porém,
em alguns casos, os sintomas persistem por mais tempo ou reaparecem depois de um
tempo, levando a um estado denominado como Estresse Pós Traumático.

Distúrbio de Ansiedade Generalizada:


Estado de ansiedade e preocupação excessiva sobre diversas coisas da vida. Este estado
aparece frequentemente e se acompanha de alguns dos seguintes sintomas: irritabilidade,
dificuldade em concentrar-se, inquietação, fadiga e humor deprimido.

Sinais e sintomas
A pessoa pode sentir tremores, inquietação, dor de cabeça, falta de ar, suor em excesso,
palpitações, problemas gastrointestinais, irritabilidade e facilidade em alterar-se. Esses
sintomas podem ocorrer na maioria dos dias por pelo menos seis meses. É muito difícil
controlar a preocupação, o que pode gerar um esgotamento na saúde física e mental do
indivíduo.

Tratamento
O especialista utiliza técnicas psicoterápicas de apoio. Muitas vezes faz-se necessário o uso
de medicação (antidepressivos e/ou ansiolíticos) por um determinado período. A maioria
das pessoas experimenta uma acentuada redução da ansiedade quando lhes é oferecida a
oportunidade de discutir suas dificuldades com um profissional experiente.

DEPRESSÃO

A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza mais marcada ou
prolongada, perda de interesse por atividades habitualmente sentidas como agradáveis e
perda de energia ou cansaço fácil. Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após
experiências ou situações que nos afetam de forma negativa. No entanto, se os sintomas
se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas, convém começar a
pensar em procurar ajuda. A depressão pode afetar pessoas de todas as idades, desde a
infância à terceira idade, e se não for tratada, pode conduzir ao suicídio, uma
consequência frequente da depressão.

A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial


da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia. A
depressão pode durar de alguns meses a alguns anos. Contudo, em cerca de 20 por cento
dos casos torna-se uma doença crónica. Estes casos devem-se, fundamentalmente, à falta
de tratamento adequado.

Fatores de risco
✓ Pessoas com episódios de depressão no
passado;
✓ Pessoas com história familiar de depressão;
✓ Pessoas do género feminino – a depressão é mais frequente nas mulheres, ao longo de
toda a vida, mas em especial durante a adolescência, no primeiro ano após o parto,
menopausa e pós-menopausa;
✓ Pessoas que sofrem qualquer tipo de perda significativa, mais habitualmente a perda de
alguém próximo;
✓ Pessoas com doenças crónicas - sofrendo do coração, com hipertensão, com asma, com
diabetes, com história de tromboses, com artroses e outras doenças reumáticas, SIDA,
fibromialgia, cancro e outras doenças;
✓ Pessoas que coabitam com um familiar portador de doença grave e crónica (por
exemplo, pessoas que cuidam de doentes com Alzheimer);
✓ Pessoas com tendência para ansiedade e pânico;
✓ Pessoas com profissões geradoras de stress ou em circunstâncias de vida que causem
stress;
✓ Pessoas com dependência de substâncias químicas (drogas) e álcool;
✓ Pessoas idosas.

Sintomas da depressão
A depressão diferencia-se das normais mudanças de humor pela gravidade e permanência
dos sintomas. Está associada, muitas vezes, a ansiedade e/ou pânico.

Os sintomas mais comuns são:


✓ Modificação do apetite (falta ou excesso de apetite);
✓ Perturbações do sono (sonolência ou insónia);
✓ Fadiga, cansaço e perda de energia;
✓ Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima, sentimentos de
culpa e sentimento de incapacidade;
✓ Falta ou alterações da concentração;
✓ Preocupação com o sentido da vida e com a morte;
✓ Desinteresse, apatia e tristeza;
✓ Alterações do desejo sexual;
✓ Irritabilidade;
✓ Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, enjoo.

Causas da depressão
As causas diferem muito de pessoa para pessoa. Porém, é possível afirmar-se que há
fatores que influenciam o aparecimento e a permanência de episódios depressivos. Por
exemplo, condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o
desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar
obstáculos, etc.
Determinar qual o fator ou os fatores que desencadearam a crise depressiva pode ser
importante, pois para o doente poderá ser vantajoso aprender a evitar ou a lidar com esse
fator durante o tratamento.

Diagnóstico
Pela avaliação clínica do doente, designadamente pela identificação, enumeração e curso
dos sintomas bem como pela presença de doenças de que padeça e de medicação que
possa estar a tomar. Não existem meios complementares de diagnóstico específicos para a
depressão, e a bem da verdade, tão pouco são necessários: o diagnóstico clínico é fácil e
bastante preciso, um médico psiquiatra faz o diagnóstico e a orientação terapêutica (o
medicamento a usar, a dose, a duração, a resposta esperável face ao tipo de pessoa, a
indicação para um tipo específico de psicoterapia, a necessidade de outros tipos de
intervenção, etc.).

Tratamento
Normalmente, através do uso de medicamentos, de intervenções psicoterapêuticas, ou da
conjugação de ambas. As intervenções psicoterapêuticas são particularmente úteis nas
situações ligeiras e reativas às adversidades da vida bem como em associação com
medicamentos nas situações moderadas e graves. Os medicamentos usados no
tratamento das depressões são designados por antidepressivos.

SÍNDROME DE BURNOUT

A síndrome de burnout, ou síndrome do


esgotamento profissional, é um distúrbio
psíquico descrito em 1974 por Freudenberger,
um médico americano. O transtorno está
registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde). Sua principal
característica é o estado de tensão emocional e
estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas
desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige
envolvimento interpessoal direto e intenso.

Profissionais das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes
penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco
maior de desenvolver o transtorno.

Sintomas
O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional
que se reflete em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade,
isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração,
lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima.

Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares,
insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem
estar associadas à síndrome.

Diagnóstico
O diagnóstico leva em conta o levantamento da história do paciente e seu envolvimento e
realização pessoal no trabalho.

Tratamento
O tratamento inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia. Atividade física regular e
exercícios de relaxamento também ajudam a controlar os sintomas.

Recomendações
* Não use a falta de tempo como desculpa para não praticar exercícios físicos e não
desfrutar momentos de descontração e lazer. Mudanças no estilo de vida podem ser a
melhor forma de prevenir ou tratar a síndrome de burnout;
* Conscientize-se de que o consumo de álcool e de outras drogas para afastar as crises de
ansiedade e depressão não é um bom remédio para resolver o problema;
* Avalie quanto as condições de trabalho estão interferindo em sua qualidade de vida e
prejudicando sua saúde física e mental. Avalie também a possibilidade de propor nova
dinâmica para as atividades diárias e objetivos profissionais.

B - PSICOSE: se caracteriza por uma intensa fuga da realidade. É, como a filosofia e as


artes chamam, a loucura, propriamente dita.

Pode ser classificada de três formas:


A) pela manifestação,
B) pelo aspecto neurofisiológico,
C) pela intensidade.

A - Manifestação: se divide em dois tipos principais:

a) Esquizofrenia: tem como aspectos principais a fuga da realidade, as manias de


perseguição, as alucinações, entre outros. Têm ainda subdivisões, que são a esquizofrenia
paranóide, a esquizofrenia desorganizada (ou hebefrênica), a esquizofrenia simples, a
catatonia ou a esquizofrenia indiferenciada;

b) Transtorno de afeto bipolar: tem por característica picos muito grandes de humor,
em pouco espaço de tempo, para o lado da depressão (ou distimia ou disforia), e pro lado
da mania (euforia ou eutimia). Por estes dois aspectos também conhecemos este
transtorno como psicose maníaco-depressiva. O doente sofre de mudanças de humor
constantes, sendo perigoso e gastador em fases maníacas, e retraído, podendo se suicidar,
no estado depressivo.

B - Aspecto neurofisiológico:

1) Funcional: age apenas no funcionamento do aparelho psíquico, em suas ligações.

2) Orgânica: tem como característica mudanças ocorridas na química do cérebro, ou em


mudanças fisiológicas e estruturais.

C - Intensidade:

Como intensidade entendemos a agressividade e impulsividade do doente em:

1) Aguda: também chamada de fase de surto; é quando o doente se torna violento,


impulsivo e fora da realidade. É necessária observação psiquiátrica constante, pois o
doente oferece risco para si, para outros e para o patrimônio.

2) Crônica: é a fase de relaxamento do doente, onde ele está fora da realidade, mas não
põe em risco os outros e sua vida. Este estágio é permanente, e resulta de algum caso
onde não há cura.

ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se


manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Sua
freqüência na população em geral é da ordem de 1 para
cada 100 pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para
cada 100.000 habitantes por ano. No Brasil estima-se que
há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano
cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela
primeira vez. Ela atinge em igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais
cedo no homem, por volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos 25-30
anos.

Sintomas
A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas do funcionamento
psíquico. Os principais sintomas são:
1. delírios: são idéias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por exemplo,
ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita que os vizinhos ou
as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal.

2. alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais
comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes que
falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes
essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. Outras formas de
alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na esquizofrenia.

3. alterações do pensamento: as idéias podem se tornar confusas, desorganizadas ou


desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas vezes o
paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por outras pessoas,
ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela.

4. Alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da capacidade de reagir


emocionalmente às circunstancias, ficando indiferente e sem expressão afetiva. Outras
vezes o paciente apresenta reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em
relação ao contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se comporta de modo
excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca.

5. Diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado e apático,


não sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia. Quase não conversa, fica
isolado e retraído socialmente.

Outros sintomas, como dificuldade de concentração, alterações da motricidade,


desconfiança excessiva, indiferença, podem aparecer na esquizofrenia. Dependendo da
maneira como os sintomas se agrupam, é possível caracterizar os diferentes subtipos da
doença. A esquizofrenia evolui geralmente em episódios agudos onde aparecem os vários
sintomas acima descritos, principalmente delírios e alucinações, intercalados por períodos
de remissão, com poucos sintomas manifestos.

Causa da esquizofrenia
Não se sabe quais são as causas da esquizofrenia. A hereditariedade tem uma importância
relativa, sabe-se que parentes de primeiro grau de um esquizofrênico tem chance maior
de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Por outro lado, não se sabe o modo
de transmissão genética da esquizofrenia. Fatores ambientais (p. ex., complicações da
gravidez e do parto, infecções, entre outros) que possam alterar o desenvolvimento do
sistema nervoso no período de gestação parecem ter importância na doença.

Estudos feitos com métodos modernos de imagem, como tomografia computadorizada e


ressonância magnética mostram que alguns pacientes tem pequenas alterações cerebrais,
com diminuição discreta do tamanho de algumas áreas do cérebro. Alterações bioquímicas
dos neurotransmissores cerebrais, particularmente da dopamina, parecem estar implicados
na doença.

Diagnóstico
O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das manifestações da
doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório (exame de sangue, raio X,
tomografia, eletroencefalograma etc.) que permita confirmar o diagnóstico da doença.
Muitas vezes o clínico solicita exames, mas estes servem apenas para excluir outras
doenças que podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia.

Tratamento
O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a reintegração do paciente.
O tratamento da esquizofrenia requer duas abordagens: medicamentosa e psicossocial. O
tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou
neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para aliviar os sintomas
psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir novas recaídas. A maioria
dos pacientes precisa utilizar a medicação ininterruptamente para não ter novas crises.

Assim o paciente deve submeter-se a avaliações médicas periódicas; o médico procura


manter a medicação na menor dose possível para evitar recaídas e evitar eventuais efeitos
colaterais. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a reintegração do
paciente à família e à sociedade. Devido ao fato de que alguns sintomas (principalmente
apatia, desinteresse, isolamento social e outros) podem persistir mesmo após as crises, é
necessário um planejamento individualizado de reabilitação do paciente. Os pacientes
necessitam em geral de psicoterapia, terapia ocupacional, e outros procedimentos que
visem ajudá-lo a lidar com mais facilidade com as dificuldades do dia a dia.
Os familiares são aliados importantíssimos no tratamento e na reintegração do paciente. é
importante que estejam orientados quanto à doença esquizofrenia para que possam
compreender os sintomas e as atitudes do paciente, evitando interpretações errôneas. As
atitudes inadequadas dos familiares podem muitas vezes colaborar para a piora clínica do
mesmo. O impacto inicial da noticia de que alguém da família tem esquizofrenia é bastante
doloroso. Como a esquizofrenia é uma doença pouco conhecida e sujeita a muita
desinformação as pessoas se sentem perplexas e confusas. Frequentemente, diante das
atitudes excêntricas dos pacientes, os familiares reagem também com atitudes
inadequadas, perpetuando um circulo vicioso difícil de ser rompido. Atitudes hostis, criticas
e superproteção prejudicam o paciente, apoio e compreensão são necessários para que ele
possa ter uma vida independente e conviva satisfatoriamente com a doença.

TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR


O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-
depressiva. Com a mudança de nome esse
transtorno deixou de ser considerado uma
perturbação psicótica para ser considerado
uma perturbação afetiva. A alternância de
estados depressivos com maníacos é a
tônica dessa patologia. Muitas vezes o
diagnóstico correto só será feito depois de
muitos anos. Uma pessoa que tenha uma
fase depressiva, receba o diagnóstico de
depressão e dez anos depois apresente um
episódio maníaco tem na verdade o
transtorno bipolar, mas até que a mania
surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente
entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em psiquiatria
significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.
A depressão do transtorno bipolar é igual a depressão recorrente que só se apresenta
como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo
tratamento do paciente bipolar.

Características
O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando
gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com
sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos
quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos
simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos retardando o
diagnóstico da fase em atividade.

Tipos
Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I
é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os
depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases
depressivas, nem as depressivas por maníacas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar
episódios de mania, mas de hipomania com depressão.
Fase maníaca
Tipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar
meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante
ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas
como elevação da autoestima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar a
manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial, dotada de
poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da atividade motora
apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição da necessidade de
sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, as idéias
correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando
uma idéia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-idéias.
Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua
própria condição patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou
insuportável.

Fase depressiva
É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a autoestima em
baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a
sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é
difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na
realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído,
mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que
o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase maníaca pode durar meses
também.

Sintomas (maníacos):
✓ Sentimento de estar no topo do mundo com uma alegria e bem estar inabaláveis, nem
mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao
paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da própria
desgraça.
✓ Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades
especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder
político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente- se
como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do
quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.
✓ Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.
✓ Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sentados por
mais do que alguns minutos ou relaxar.
✓ O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto
risco para integridade física como patrimonial.
✓ O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo
numerosos parceiros num curto espaço de tempo.
✓ Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha
de fora a grande confusão de idéias na verdade constitui-se na interrupção de temas antes
de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é terminado e
assim sucessivamente numa fuga de idéias.
✓ A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto
frequente nesses pacientes.
✓ A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se restabelece
e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.
✓ Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas
por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz.

A fase depressiva
✓ Na fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, o paciente fica com sentimentos
irrealistas de tristeza, desespero e autoestima baixa. Não se interessa pelo que costumava
gostar ou ter prazer, cansa-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades habituais,
também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a permanecer na cama
por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior parte do dia para os
deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente.
Apresenta dificuldade em concentra-se no que faz e os pensamentos ficam inibidos,
lentificados, faltam idéias ou demoram a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma
forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos,
sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa
de peso.

Tratamento
O lítio é a medicação de primeira escolha, mas não é necessariamente a melhor para todos
os casos. Frequentemente é necessário acrescentar os anticonvulsivantes como o tegretol,
o trileptal, o depakene, o depakote, o topamax.

Nas fases mais intensas de mania pode se usar de forma temporária os antipsicóticos.
Quando há sintomas psicóticos é quase obrigatório o uso de antipsicóticos. Nas depressões
resistentes pode-se usar com muita cautela, antidepressivos.

DISTÚRBIOS ALIMENTARES

1. Anorexia nervosa
2. Bulimia

ANOREXIA NERVOSA

A anorexia nervosa é um distúrbio caracterizado por uma


distorção da imagem corporal, um medo extremo da
obesidade, a rejeição de manter um peso normal e, nas
mulheres, a ausência de menstruação. Cerca de 95% das
pessoas que sofrem desse distúrbio são mulheres. Em geral, começa na adolescência, às
vezes antes, e com menos frequência na idade adulta. A anorexia nervosa afeta
principalmente as pessoas de classe socioeconômica média e alta. Na sociedade ocidental
o número de pessoas com esse distúrbio tende a aumentar.
A anorexia nervosa pode ser leve e transitória ou grave e duradoura. Fala-se em taxas de
óbito de 10% a 20%. No entanto, como os casos leves muitas vezes nem são
diagnosticados, ninguém sabe exatamente quantas pessoas têm anorexia nervosa ou qual
a porcentagem que morre dela. A causa é desconhecida, mas os fatores sociais parecem
importantes. O desejo de ser magro é frequente na sociedade ocidental e a obesidade é
considerada pouco atraente, doentia e indesejável. Mesmo antes da adolescência, as
crianças já estão envolvidas nessas convenções sociais e 70% das adolescentes seguem
alguma dieta ou adotam outras medidas para controlar o peso. Porém, só uma pequena
parte destas meninas desenvolvem anorexia nervosa.

Sintomas
Muitas mulheres que desenvolvem anorexia nervosa são meticulosas e compulsivas, com
metas e expectativas muito elevadas de realização e sucesso. Os primeiros sinais de uma
anorexia iminente são a crescente preocupação com a alimentação e o peso corporal,
inclusive entre aquelas que já são magras, como é o caso da maioria das pessoas com
anorexia nervosa. A preocupação e a ansiedade intensificam-se à medida que emagrecem.
Mesmo quando magra, a pessoa declara que se sente obesa, nega ter qualquer problema,
não se queixa da falta de apetite ou da perda de peso e, geralmente, resiste ao
tratamento. A pessoa não costuma ir ao médico até que os familiares a obriguem.

Anorexia significa "falta de apetite", mas as pessoas com anorexia de fato sentem fome e
se preocupam com a alimentação, estudando dietas e calculando calorias; acumulam,
escondem e desperdiçam a comida; colecionam receitas e cozinham pratos elaborados
para outras pessoas. Cerca de 50% das pessoas com anorexia nervosa ingerem uma
quantidade excessiva de comida e a seguir provocam o vômito ou tomam laxantes ou
diuréticos. A outra metade simplesmente restringe a quantidade de comida que ingere. A
maioria pratica também exercício em excesso para controlar o peso.
Sintomas
As mulheres deixam de menstruar. Observa-se tanto nos homens quanto nas mulheres
uma perda de interesse sexual. As pessoas com anorexia nervosa têm uma frequência
cardíaca lenta, pressão arterial baixa, baixa temperatura corporal, inchaços por acúmulo
de líquidos e cabelo fino e suave, ou então, excesso de pelos na face e no corpo. As
pessoas com anorexia que emagrecem muito tendem a manter uma grande atividade,
incluindo a prática de programas de exercícios intensos. Não têm sintomas de deficiências
nutricionais e estão surpreendentemente livres de infecções. A depressão é comum e as
pessoas com esse distúrbio mentem acerca do que comeram e escondem os seus vômitos
e os seus hábitos alimentares peculiares.

As alterações hormonais que resultam da anorexia nervosa incluem valores de estrogênios


e de hormônios tireoidianos acentuadamente reduzidos e concentrações aumentadas de
cortisol. Se uma pessoa está gravemente desnutrida, é provável que todos os órgãos
principais sejam afetados. Os problemas mais perigosos são os relacionados com o
coração e com os líquidos e os eletrólitos (sódio, potássio, cloro). O coração fica debilitado
e bombeia menos sangue. A pessoa pode ficar desidratada e desmaiar. O sangue pode
ficar ácido (acidose metabólica) e os valores de potássio no sangue podem diminuir.
Vomitar e tomar laxantes e diuréticos pode piorar a situação. Pode ocorrer uma morte
súbita devido a uma arritmia cardíaca.

Diagnóstico e Tratamento
A anorexia nervosa é geralmente diagnosticada com base numa perda de peso acentuada
e nos sintomas psicológicos característicos. A anoréxica típica é uma adolescente que
perdeu pelo menos 15% do seu peso corporal, teme a obesidade, deixou de menstruar,
nega estar doente e parece saudável.

Geralmente, o tratamento é feito em duas fases. A primeira é a restauração do peso


normal. A segunda é a psicoterapia, muitas vezes completada com remédios. Quando a
perda de peso foi rápida ou intensa (por exemplo, mais de 25% abaixo do peso ideal), a
recuperação de peso é crucial; essa perda de peso pode pôr em perigo a vida da pessoa. O
tratamento inicial é geralmente feito num hospital, onde profissionais experientes animam
de forma calma mas firmemente, a paciente a comer. Raramente, a paciente é alimentada
por via endovenosa ou através de SNG.

Quando o estado nutricional estiver aceitável, começa o tratamento a longo prazo, que
deve ser feito por especialistas em distúrbios alimentares. Esse tratamento pode incluir
psicoterapia individual, de grupo e familiar, bem como medicamentos. Se houver o
diagnóstico de depressão, a pessoa poderá tomar antidepressivos. O tratamento tende a
estabelecer um ambiente tranquilo, estável e focado na pessoa, animando-a a ingerir uma
quantidade adequada de comida.

BULIMIA NERVOSA

A bulimia nervosa é um distúrbio caracterizado por


episódios constantes de apetite voraz seguidos por
vômitos auto induzidos ou utilização de laxantes ou
diuréticos, dietas rigorosas ou excesso de exercício
para compensar os efeitos das refeições exageradas.
Tal como na anorexia nervosa, as pessoas que têm
bulimia nervosa são, em geral, mulheres;
profundamente preocupadas com a sua aparência e peso e que pertencem a um nível
socioeconômico médio e alto. Embora a bulimia nervosa tenha sido considerada uma
epidemia, somente 2% das jovens universitárias, consideradas como o grupo de maior
risco, são verdadeiramente bulímicas.
Sintomas
A ingestão excessiva de alimentos é seguida de um intenso sofrimento e do uso de
laxantes, dieta rigorosa e excesso de exercício. Muitas vezes, o estresse emocional
desencadeia o apetite voraz, geralmente satisfeito em segredo. Embora as pessoas com
bulimia tenham a preocupação de se tornarem obesas (algumas são), o seu peso tende a
voltar ao normal. Os vômitos auto induzidos podem causar erosão do esmalte dentário,
dilatar as glândulas salivares (parótidas) e inflamar o esôfago. Os vômitos podem diminuir
os níveis de potássio no sangue, provocando arritmia cardíaca. Existem relatos de morte
súbita por superdoses de ipeca, para induzir os vômitos.

Em comparação com os indivíduos que apresentam anorexia nervosa, aqueles com bulimia
nervosa tendem a ser mais conscientes de seu comportamento e sentem remorso ou
culpa. Eles apresentam maior tendência a admitir suas preocupações ao médico ou a um
outro confidente. Geralmente, os bulímicos são mais extrovertidos e mais propensos a um
comportamento impulsivo (p.ex., abuso de drogas ou álcool).

Diagnóstico e Tratamento
O médico suspeita de bulimia nervosa quando uma pessoa está muito preocupada com o
aumento de peso, que apresenta grandes flutuações, em especial se existem sinais
evidentes de uma utilização excessiva de laxantes. Outros indícios incluem o inchaço das
glândulas parótidas, cicatrizes nos nós dos dedos por terem sido utilizados para induzir o
vômito e erosão do esmalte dentário. No entanto, o diagnóstico vai depender da descrição
do paciente.

As duas abordagens de tratamento são a psicoterapia e os medicamentos. A psicoterapia


pode ser muito eficaz, principalmente se for feita por um terapeuta com experiência em
distúrbios alimentares. Muitas vezes, um medicamento antidepressivo pode ajudar a
controlar a bulimia nervosa, inclusive quando a pessoa não parece deprimida. Porém, o
distúrbio pode reaparecer quando a pessoa para de tomar o medicamento.

EPILEPSIA

A epilepsia é uma doença do sistema nervoso que provoca mudanças súbitas, breves e
repetidas na atividade cerebral. Durante uma crise epiléptica, popularmente conhecida
como convulsão, os neurônios do cérebro podem funcionar, de forma incontrolável, até
quatro vezes mais rápido que o normal, afetando temporariamente a forma com que a
pessoa se comporta, locomove, pensa ou sente. A causa pode ser uma lesão no cérebro,
decorrente de uma forte pancada na cabeça, uma infecção (meningite, por exemplo),
neurocisticercose ("ovos de solitária" no cérebro), tumores cerebrais, condições genéticas
(esclerose tuberosa, por exemplo), problemas circulatórios no cérebro, abuso de bebidas
alcoólicas, de drogas, etc.
Sintomas
Os sintomas da epilepsia variam conforme
as áreas do cérebro que são afetadas,
sendo divididas em crises generalizadas e
crises parciais. A crise convulsiva é a forma
mais conhecida pelas pessoas e é
identificada como "ataque epiléptico". É
uma crise generalizada porque envolve
todas as áreas do cérebro. Nesse tipo de
crise a pessoa pode cair ao chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo,
morder a língua, ter salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar.

A crise do tipo "ausência" é conhecida como "desligamentos". A pessoa fica com o olhar
fixo, perde contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curtíssima duração
(questão de segundos), muitas vezes não é percebida pelos familiares e/ou professores.
Também é considerada uma crise generalizada e, geralmente, se inicia na infância ou na
puberdade.

Há um tipo de crise que se manifesta como se a pessoa estivesse "alerta" mas sem o
controle de seus atos, fazendo movimentos automaticamente. Durante esses movimentos
automáticos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falando de modo
incompreensível ou andando sem direção definida. A crise se inicia em uma área do
cérebro. Em geral, a pessoa não se recorda do que aconteceu quando a crise termina. Esta
é a chamada crise parcial complexa. Porém, se a atividade elétrica se espalhar para outras
áreas do cérebro, ela pode se tornar uma crise generalizada.

Na condição chamada status epilepticus (SE), a pessoa tem uma crise epiléptica
generalizada que dura de 20 a 30 minutos, ou mais; ou a pessoa tem uma série de crises
nas quais não consegue recobrar completamente a consciência. Essa é uma emergência
médica que pode ser fatal.

Existem outros tipos de crises que podem provocar quedas ao solo sem nenhum
movimento ou contrações ou então, ter percepções visuais ou auditivas estranhas ou
ainda, alterações transitórias da memória.

Assistência de enfermagem durante as crises epilépticas


 Coloque a pessoa em decúbito dorsal, em lugar confortável, retirando de perto objetos
com que ela possa se machucar, como pulseiras, relógios, óculos;
 Não introduza objetos na boca;
 Levante o queixo para facilitar a passagem de ar; Afrouxe as roupas;
 Caso a pessoa esteja salivando muito, mantenha-a deitada com a cabeça voltada para o
lado, evitando que ela se sufoque com a própria saliva;
 Quando a crise passar, deixe a pessoa descansar;
 Verifique se existe pulseira ou outra identificação médica de emergência que possa
sugerir a causa da convulsão;
 Nunca segure a pessoa (deixe-a debater-se);
 Não dê tapas;
 Não jogue água sobre ela.

Tratamento da Epilepsia
O tratamento da epilepsia é feito através de medicamentos que evitam as descargas
elétricas cerebrais anormais, que são a origem das crises epilépticas. Entre esses
medicamentos estão a carbamazepina, clonazepam, ethosuximida, felbamato,
gabapentina, lamotrigina, fenobarbital, fenitoína, primidona, topiramato e valproato. O
tipo de medicamento depende do tipo de crise epiléptica a ser tratada.

Acredita-se que pelo menos 25% dos pacientes com epilepsia no Brasil são portadores de
estágios mais graves, ou seja, com necessidade do uso de medicamentos por toda a vida,
sendo as crises frequentemente incontroláveis e, portanto, candidatos a intervenção
cirúrgica.

MAL DE ALZHEIMER

O mal de Alzheimer é uma doença progressiva e irreversível que afeta o cérebro. Ela
atinge primeiramente a memória e,
progressivamente, as outras funções
mentais, tirando toda a autonomia da
pessoa, que passa a depender
completamente de outras pessoas. É uma
doença muito relacionada com a idade,
afetando as pessoas com mais de 50
anos. A estimativa de vida para os
pacientes varia de 2 a 15 anos.

Causa do Mal de Alzheimer


Ainda não se sabe qual é a causa do mal de Alzheimer. No entanto, há um consenso entre
os especialistas de que o mal de Alzheimer é uma doença genética, embora não seja
necessariamente hereditária. Isto é, nem todos os casos são transmitidos entre familiares,
principalmente dos pais para os filhos.

Diagnóstico
Não existe nenhum exame que permita diagnosticar, de modo inquestionável, o mal de
Alzheimer. A única forma de fazer o diagnóstico é examinando o tecido cerebral obtido por
uma biópsia ou necrópsia. Dessa forma, o diagnóstico do mal de Alzheimer é feito pela
exclusão de outras causas de demência, pela análise do histórico do paciente, por exames
de sangue, tomografia ou ressonância, entre outros exames.

Sintomas do Mal de Alzheimer


A princípio, observam-se pequenos esquecimentos e perdas de memória que vão se
agravando progressivamente. Os pacientes tornam-se confusos e, às vezes, agressivos,
passando a apresentar alterações de personalidade, com distúrbios de conduta. Acabam
por não reconhecer os próprios familiares e nem a si mesmos quando colocados de frente
a um espelho. À medida que a doença evolui, tornam-se cada vez mais dependentes de
terceiros, até mesmo para as atividades elementares do dia-a-dia como alimentação,
higiene, vestuário, etc.

Tratamento
O mal de Alzheimer não tem cura e o tratamento consiste de duas variáveis:

✓ Aspectos comportamentais. Nesta vertente, além da medicação, convém também


contar com a orientação de diferentes profissionais de saúde;
✓ Desequilíbrios químicos que ocorrem no cérebro. Existem remédios que ajudam a
corrigir esses desequilíbrios e que são mais eficazes na fase inicial da doença. Todavia, tais
remédios, infelizmente, têm efeito temporário. Por enquanto, não existem medicamentos
que impeçam a progressão da doença.

ALCOOLISMO

O alcoolismo é o conjunto de problemas


relacionados ao consumo excessivo e
prolongado do álcool; é entendido como o
vício de ingestão excessiva e regular de
bebidas alcoólicas, e todas as
consequências decorrentes. O alcoolismo é,
portanto, um conjunto de diagnósticos.
Dentro do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém
não continuado), intoxicação por álcool (embriaguez). Síndromes amnéstica (perdas
restritas de memória), demencial, alucinatória, delirante, de humor. Distúrbios de
ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos. Por fim o delirium tremens, que
pode ser fatal.

Problemas Psiquiátricos causados pelo Alcoolismo


Abuso de Álcool
A pessoa que abusa de álcool não é
necessariamente alcoólatra, ou seja, dependente e
faz uso continuado. O critério de abuso existe para
caracterizar as pessoas que eventualmente, mas
recorrentemente têm problemas por causa dos
exagerados consumos de álcool em curtos períodos
de tempo. Critérios: para se fazer esse diagnóstico
é preciso que o paciente esteja tendo problemas
com álcool durante pelo menos 12 meses e ter pelo
menos uma das seguintes situações:
a) prejuízos significativos no trabalho, escola ou família como faltas ou negligências nos
cuidados com os filhos.
b) exposição a situações potencialmente perigosas como dirigir ou manipular máquinas
perigosas embriagado.
c) problemas legais como desacato a autoridades ou superiores.
d) persistência no uso de álcool apesar do apelo das pessoas próximas em que se
interrompa o uso.

Dependência ao Álcool
Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário venha
tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencher
pelo menos 3 dos seguintes critérios:
a) apresentar tolerância ao álcool -- marcante
aumento da quantidade ingerida para produção do
mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição
dos sintomas de embriaguez ou outros resultantes do
consumo de álcool apesar da continua ingestão de
álcool.
b) sinais de abstinência -- após a interrupção do
consumo de álcool a pessoa passa a apresentar os
seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do
pulso (acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação
psicomotora, ansiedade, convulsões, alucinações táteis. A reversão desses sinais com a
reintrodução do álcool comprova a abstinência. Apesar do álcool "tratar" a abstinência o
tratamento de fato é feito com diazepam ou clordiazepóxido dentre outras medicações.
c) o dependente de álcool geralmente bebe mais do que planejava beber
d) persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper o uso.
e) emprego de muito tempo para obtenção de bebida ou recuperando-se do efeito.
f) persistência na bebida apesar dos problemas e prejuízos gerados como perda do
emprego e das relações familiares.
Abstinência alcoólica

A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas observado nas


pessoas que interrompem o uso de álcool após longo e intenso uso. As formas mais leves
de abstinência se apresentam com tremores, aumento da sudorese, aceleração do pulso,
insônia, náuseas e vômitos, ansiedade depois de 6 a 48 horas desde a última bebida. A
síndrome de abstinência leve não precisa necessariamente surgir com todos esses
sintomas, na maioria das vezes, inclusive, limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade.

A síndrome de abstinência torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium tremens.


Nesse estado o paciente apresenta confusão mental, alucinações, convulsões. Geralmente
começa dentro de 48 a 96 horas a partir da ultima dose de bebida. Dada a potencial
gravidade dos casos é recomendável tratar preventivamente todos os pacientes
dependentes de álcool para se evitar que tais síndromes surjam. Para se fazer o
diagnóstico de abstinência, é necessário que o paciente tenha pelo menos diminuído o
volume de ingestão alcoólica, ou seja, mesmo não interrompendo completamente é
possível surgir a abstinência. Alguns pesquisadores afirmam que as abstinências tornam-
se mais graves na medida em que se repetem, ou seja, um dependente que esteja
passando pela quinta ou sexta abstinência estará sofrendo os sintomas mencionados com
mais intensidade, até que surja um quadro convulsivo ou de delirium tremens. As
primeiras abstinências são menos intensas e perigosas.

DELIRIUM TREMENS

O Delirium Tremens é uma forma mais intensa


e complicada da abstinência. Delirium é um
diagnóstico inespecífico em psiquiatria que
designa estado de confusão mental: a pessoa
não sabe onde está, em que dia está, não
consegue prestar atenção em nada, tem um
comportamento desorganizado, sua fala é
desorganizada ou ininteligível, a noite pode
ficar mais agitado do que de dia. A abstinência
e várias outras condições médicas não relacionadas ao alcoolismo podem causar esse
problema. Como dentro do estado de delirium da abstinência alcoólica são comuns os
tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium Tremens. Um traço
comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações táteis e visuais
em que o paciente "vê" insetos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu corpo. Esse
tipo de alucinação pode levar o paciente a um estado de agitação violenta para tentar
livrar-se dos animais que o atacam. Pode ocorrer também uma forma de alucinação
induzida, por exemplo, o entrevistador pergunta ao paciente se está vendo as formigas
andando em cima da mesa sem que nada exista e o paciente passa a ver os insetos
sugeridos. O Delirium Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos
dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida ao
desequilíbrio hidroeletrolítico do corpo.

Intoxicação pelo álcool


O estado de intoxicação é simplesmente a
conhecida embriaguez, que normalmente é
obtida voluntariamente. No estado de intoxicação
a pessoa tem alteração da fala (fala arrastada),
descoordenação motora, instabilidade no andar,
nistagmo (ficar com olhos oscilando no plano
horizontal como se estivesse lendo muito
rápido), prejuízos na memória e na atenção, estupor ou coma nos casos mais extremos.
Normalmente junto a essas alterações neurológicas apresenta-se um comportamento
inadequado ou impróprio da pessoa que está intoxicada. Uma pessoa muito embriagada
geralmente encontra-se nessa situação porque quis, uma leve intoxicação em alguém que
não está habituado é aceitável por inexperiência mas não no caso de alguém que conhece
seus limites.

Wernicke-Korsakoff (síndrome amnéstica)


Os alcoólatras "pesados" em parte (10%)
desenvolvem algum problema grave de memória.
Há dois desses tipos: a primeira é a chamada
Síndrome Wernicke-Korsakoff (SWK) e a outra a
demência alcoólica. A SWK é caracterizada por
descoordenação motora, movimentos oculares
rítmicos como se estivesse lendo (nistagmo) e
paralisia de músculos oculares, provocando algo
parecido ao estrabismo para quem antes não
tinha nada. Além desses sinais neurológicos o paciente pode estar em confusão mental, ou
se com a consciência clara, pode apresentar prejuízos evidentes na memória recente (não
consegue gravar o que o examinador falou 5 minutos antes) e muitas vezes para
preencher as lacunas da memória o paciente inventa histórias, a isto chamamos
fabulações. Este quadro deve ser considerado uma emergência, pois requer imediata
reposição da vitamina B1(tiamina) para evitar um agravamento do quadro. Os sintomas
neurológicos acima citados são rapidamente revertidos com a reposição da tiamina, mas o
déficit da memória pode se tornar permanente. Quando isso acontece o paciente apesar de
ter a mente clara e várias outras funções mentais preservadas, torna-se uma pessoa
incapaz de manter suas funções sociais e pessoais. Muitos autores referem-se a SWK
como uma forma de demência, o que não está errado, mas a demência é um quadro mais
abrangente, por isso preferimos o modelo americano que diferencia a SWK da demência
alcoólica.
Síndrome Demencial Alcoólica
Esta é semelhante a demência propriamente dita
como a de Alzheimer. No uso pesado e prolongado
do álcool, mesmo sem a síndrome de Wernick-
Korsakoff, o álcool pode provocar lesões difusas no
cérebro prejudicando além da memória a
capacidade de julgamento, de abstração de
conceitos; a personalidade pode se alterar, o
comportamento como um todo fica prejudicado. A
pessoa torna-se incapaz de sustentar-se.

TRATAMENTO DAS DOENÇAS MENTAIS

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial


Seu objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a
reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre


todos os dispositivos de atenção à saúde mental,
têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica
Brasileira. Com a criação desses centros,
possibilita-se a organização de uma rede
substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os
CAPS são serviços de saúde municipais, abertos,
comunitários que oferecem atendimento diário. Os
CAPS podem ser de tipo I, II, III, Álcool e Drogas
(CAPS AD) e Infanto-juvenil (CAPSi).

É função dos CAPS:


- prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em
hospitais psiquiátricos;
- acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes,
procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território;
- promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações
intersetoriais;
- regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de
atuação;
- dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica;
- organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios;
- articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado
território
- promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício
dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Tipos de CAPS

CAPS I
Centro de atenção psicossocial com capacidade operacional para atendimento em
municípios com população acima de 20.000 habitantes, com as seguintes características:
devem dar cobertura para toda clientela com transtornos mentais severos durante o dia;
adultos, crianças e adolescentes e pessoas com problemas devido ao uso de álcool e
outras drogas. A equipe técnica mínima para atuação no CAPS I, para o atendimento de 20
(vinte) pacientes por turno, tendo como limite máximo 30 (trinta) pacientes/dia, em
regime de atendimento intensivo, será composta por: 5 profissionais de nível superior e 4
profissionais de nível médio.

CAPS II
Centro de atenção psicossocial com capacidade operacional para atendimento em
municípios com população acima de 70.000 habitantes, com as seguintes características:

Recursos Humanos
A equipe técnica mínima para atuação no CAPS II, para o atendimento de 30 (trinta)
pacientes por turno, tendo como limite máximo 45 (quarenta e cinco) pacientes/dia, em
regime intensivo, será composta por: 6 profissionais de nível superior e 6 profissionais de
nível médio.

CAPS III
Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para atendimento em
municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes. Constituir-se em
serviço ambulatorial de atenção contínua, durante 24 horas diariamente, incluindo feriados
e finais de semana. Oferta retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de
saúde mental, inclusive CAPS Ad. A permanência de um mesmo paciente no acolhimento
noturno fica limitada a 07 (sete) dias corridos ou 10 (dez) dias intercalados em um período
de 30 (trinta) dias.

Recursos Humanos
A equipe técnica mínima para atuação no CAPS III, para o atendimento de 40 (quarenta)
pacientes por turno, tendo como limite máximo 60 (sessenta) pacientes/dia, em regime
intensivo, será composta por: 8 profissionais de nível superior e 8 profissionais de nível
médio. Para o período de acolhimento noturno, em plantões corridos de 12 horas, a equipe
deve ser composta por:
• 03 (três) técnicos/auxiliares de enfermagem
• 01 (um) profissional de nível médio

Para as 12 horas diurnas, nos sábados,


domingos e feriados, a equipe deve ser
composta por:
• 01 (um) profissional de nível superior
• 03 (três) técnicos/auxiliares técnicos de
enfermagem
• 01 (um) profissional de nível médio
• CAPSi
• Serviço de atenção psicossocial para
atendimentos a crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes ou
que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto e de caráter comunitário
indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000 habitantes.

Recursos Humanos
A equipe técnica mínima para atuação no CAPS i, para o atendimento de 15 (quinze)
crianças e/ou adolescentes por turno, tendo como limite máximo 25 (vinte e cinco)
pacientes/dia, será composta por: 6 profissionais de nível superior e 5 profissionais de
nível médio.

CAPS ad II
Serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos
decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, com capacidade operacional
para atendimento em municípios ou regiões com população superior a 70.000.

CAPS ad III
A equipe técnica mínima para atuação no CAPS ad II para atendimento de 25 (vinte e
cinco) pacientes por turno, tendo como limite máximo 45 (quarenta e cinco) pacientes/dia,
será composta por: 7 profissionais de nível superior e 6 profissionais de nível médio.

Recursos Humanos
Serviço de atenção psicossocial para atendimento de adultos ou crianças e adolescentes,
considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades
de cuidados clínicos contínuos. Serviço com no máximo 12 leitos para observação e
monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana;
indicado para municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes.

Estes serviços devem ser substitutivos e não complementares ao hospital psiquiátrico. De


fato, o CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que convida o
usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento.
Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em
busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o
sujeito e a singularidade, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana.

O perfil populacional dos municípios é sem dúvida um dos principais critérios para o
planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, e para a implantação de
centros de Atenção Psicossocial. O critério populacional, no entanto, deve ser
compreendido apenas como um orientador para o planejamento das ações de saúde. De
fato, é o gestor local, articulado com as outras instâncias de gestão do SUS, que terá as
condições mais adequadas para definir os equipamentos que melhor respondem às
demandas de saúde mental de seu município.

RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA SAÚDE


MENTAL

É baseado na comunicação, não há possibilidade de haver o relacionamento terapêutico


sem a comunicação, essa comunicação se apresenta de forma verbal e não verbal a partir
do momento em que o sujeito emite uma mensagem seja ela verbal ou não verbal e há
outro sujeito que interpreta essa mensagem podemos dizer que aí existe uma
comunicação. Podemos dizer que a comunicação é a base do relacionamento terapêutico.

Entretanto apesar de ser a base para o relacionamento terapêutico, ela não constituí em si
mesma o relacionamento terapêutico, a comunicação não é sinônimo de relacionamento
terapêutico é preciso acrescentar a essa comunicação algumas habilidades entre aqueles
que emitem mensagens e os que recebem a mensagem que no relacionamento terapêutico
recebem o nome de ajudador e ajudado, é importante ressaltar que essas habilidades não
são exclusivas dos profissionais da saúde, existem pessoas que já possuem pela própria
SENSIBILIDADE pela forma de encarar a vida e de lidar com as outras pessoas, já
possuem essas habilidades, entre os profissionais de saúde infelizmente também
encontramos aqueles que não possuem qualquer habilidade. A partir do momento que o
sujeito se dispõe ao outro através da comunicação e acredita nessa possibilidade essas
habilidades podem ser treinadas. O ajudador é convocado a assumir a sua
responsabilidade no processo de ajuda e adquiri habilidade para lidar melhor com suas
dificuldades, contribuindo para uma vida mais plena e satisfatória, ou seja, a abordagem
terapêutica pressupõe uma postura ativa tanto do ajudador quanto do ajudado.

Vejamos então algumas habilidades:

Habilidades do ajudador
Atender - Comunicar disponibilidade e interesse.
Responder - Demostrar compreensão.
Personalizar - Ajudar o outro a se responsabilizar pelo que está vivendo.
Orientar - Avaliar com o outro as alternativas.

Habilidades do ajudado
Envolver-se - Disponibilidade para enfrentar seus problemas.
Explorar - Avaliar a situação a qual está.
Compreender - Estabelecer ligações de causa e efeito e estabelecer metas.
Agir - Viabilizar as metas através de ações.

O relacionamento terapêutico no cuidado de enfermagem:

As ações de enfermagem são pautadas no cuidado ao cliente. Podemos entender o cuidado


como algo bastante abrangente que não se restringe apenas nas execuções técnicas, mas
sim a tudo que leve esse sujeito, a aprender a fazer por si mesmo, assim a abordagem
terapêutica faz parte do cuidado de enfermagem, nesse sentido podemos perceber que a
abordagem terapêutica, contribui para:

Adesão ao tratamento - No momento em que o cliente é chamado a participar


ativamente e intensamente do seu processo de tratamento, se sente comprometido, dando
o melhor de si, permanecendo empenhado inclusive em traçar metas para a sua vida, que
evitem o adoecimento.

Recuperação - É claro que o relacionamento terapêutico irá contribuir para a sua


recuperação, principalmente s ele se comprometer em cumprir suas metas para evitar o
adoecimento.

Qualidade na sobrevida - Mesmo que a morte seja inevitável o cliente pode se sentir
melhor, mais amparado e menos sozinho, se puder compartilhar a sua dor e sofrimento
nesse momento e irá permanecer vivo com mais dignidade.

TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO

São tratamentos que fazem parte da Terapia somática:


Eletrochoque ou convulsoterapia;
Insulinoterapia;
Medicação psicotrópica;
Impregnação;
Sonoterapia;

Da terapia Psíquica:
Psicanálise
Psicoterapia individual;
Psicoterapia de grupo.

Da terapia psicossocial:
Hospitalização;
Praxiterapia:
Ludoterapia;
Grupo operativo;
Arteterapia;
Musicoterapia;
Relacionamento interpessoal.

TERAPIA PSICOSSOCIAL
Enquanto os recursos da terapia somática agem organicamente diminuindo ou fazendo
desaparecer os sintomas do paciente, os recursos da terapia psicossocial procuram
satisfazer suas necessidades psíquicas e sociais, ajudando-o compreender melhor suas
reações e seus relacionamentos com as outras pessoas podendo, então, tomar-se capaz
de enfrentar os próprios problemas e adaptar-se a situação social (família, emprego,
comunidade) onde vive.

Alguns desses recursos focalizam mais as necessidades psíquicas, enquanto outros estão
mais voltados para as necessidades sociais, embora, no conjunto das atividades
hospitalares se processe uma mistura de todos eles, de forma que podem ser englobadas
como psicossociais.

Terapia Ocupacional e Recreacional - T.O.R. é a que utiliza o trabalho e recreação


como instrumentos de tratamento. Dentre os recursos mais usados em nossos hospitais
podemos citar:

Laborterapia: é o tratamento através dos trabalhos manuais, marcenaria, couro, palitos


de picolé, tapeçaria, crochê, tricô, feltro, sisal, lã e outros.
Ludoterapia: é o tratamento através da recreação, como: pingue-pongue, futebol,
dominó, dama, voleibol, etc.

Arteterapia: é o tratamento através da arte, do desenho, colagem, modelagem, pintura,


cerâmica, etc.

Musicoterapia: é o tratamento através da utilização de cantos, danças, corais, etc.

Os relatórios sobre o comportamento do paciente nos setores de T.O.R. são muito


importantes.
TERAPIA SOMÁTICA

Antes de qualquer tratamento físico, o estado geral do paciente deve ser cuidadosamente
verificado. Embora seja tarefa do médico, a enfermagem deve:

Verificar se todos os exames foram feitos, tais como: exame de sangue, urina, fezes e
radiológicos;
Verificar os sinais vitais antes da aplicação da terapia, e, se houver qualquer alteração
não aplicar o tratamento;
Observar se há alguma queixa, por parte do paciente, de dores, mal-estar, ou a
existência de ferimentos ou furúnculos.

Constatando-se que o paciente está bem fisicamente, o tratamento é feito; caso contrário,
o médico é avisado para que outras providências sejam tomadas.

É importante também, que o paciente saiba o que está sendo feito com ele e o que vai
sentir. Com exceção do eletrochoque, os outros tipos de tratamentos devem ser
cuidadosamente explicados ao paciente.

CONVULSOTERAPIA
Consiste na passagem de uma corrente elétrica através dos
pólos mentais, com a perda imediata da consciência e o
aparecimento de convulsões.

Para sua aplicação, existe um aparelho especial. Alguns


hospitais costumam aplicar antes do eletrochoque uma
injeção venosa ou intramuscular que faz com que o paciente
adormeça e as convulsões sejam muito leves.

Terapia Eletroconvulsivante
Na terapia eletroconvulsivante, eletrodos são fixados à cabeça do paciente e é realizada
uma série de descargas elétricas no cérebro visando induzir convulsões. Já foi claramente
demonstrado que esse procedimento é o mais eficaz para a depressão grave. Ao contrário
do que é propagado pelos meios de comunicação, a terapia eletroconvulsivante é segura e
raramente causa qualquer complicação grave. O uso moderno de anestésicos e
miorrelaxantes (relaxantes musculares) reduziu enormemente qualquer tipo de risco para
o paciente.

Cuidados de enfermagem
Preparar o material a ser usado;
Verificar as condições físicas do paciente;
Deixá-lo de jejum;
Conversar com ele e ajudá-lo a não sentir medo;
Levá-lo ao banheiro para urinar e defecar, pois, com o relaxamento provocado pelo
tratamento pode urinar na cama;
Retirar-lhe os objetos que possam feri-lo como grampos de cabelo, jóias, dentaduras ou
pontes móveis;
Desapertar as roupas, de preferência deixá-lo de pijama ou camisola no colchão, para
que a mesma fique dura e reta;
Retirar o travesseiro;
Antes de aplicar o eletrochoque colocar um rolo de gaze na boca do paciente, para
evitar que o paciente morda a língua e as bochechas.
Proteger as articulações durante as convulsões;
Após o eletrochoque, virar o paciente de lado a fim de facilitar a drenagem das
secreções e evitar sua aspiração;
Manter vigilância constante enquanto o paciente estiver inconsciente.

PSICOFARMACOLOGIA
Atualmente, os medicamentos são muito usados
em Psiquiatria. Usa-se, principalmente, um grupo
de drogas mais conhecidas por psicotrópicos ou
ataráxicos, ou simplesmente tranquilizantes.

Alguns desses medicamentos usados em certas


doses e de acordo com um esquema
predeterminado provocam reações específicas
nos pacientes como é o caso da impregnação e o
do sono prolongado.

Os recentes progressos em psicofarmacologia e a sua impressionante ação sobre o


comportamento do psicótico trouxeram muitas esperanças aos doentes e suas famílias.

Medicamentos essenciais na área da saúde mental

Item Discriminação
01 Ácido valproico + Valproato de Sódio Depakene; Valpakine
500mg
02 Ácido Valproico xarope 100ml frascos Depakene; Valpakine
03 Amitiptilina 25mg comprimido Tryptanol; Limbitrol
04 Biperideno 2mg comprimido Akineton
05 Carbamazepina 200mg comprimido Tegretol
06 Carbonato de Lítio 300mg comprimido Carbolatium; Carbolim
07 Clomipramina 25mg comprimido Anafranil
08 Clonazepan 2mg comprimido Rivotril
09 Clorprmazina 25mg comprimido Amplicitil
10 Cloridato de Prometazina 25mg comprimido Fenergan
11 Cloridato de Tioridazina 50mg comprimido Melleril
12 Diazepan 5mg comprimido Prax; Vallium

13 Fenitoína 100mg comprimido Hidantal

14 Fenorbabital 100mg comprimido Gardenal; Fenocris

15 Fenorbabital gotas Gardenal

16 Fluoxetina 20mg comprimido Fenocris Eufor; Prozac;


Deprax
17 Haloperidol 5mg comprimido Haldol

18 Haloperidol 4% gotas Haldol

19 Haloperidol decanoato injetável Haldol

20 Mirtazapina 30mg comprimido Remerron

21 Nortiptilina 25mg comprimido Pamelor

22 Nortriptilina 50mg comprimido Pamelor

Cuidados de Enfermagem:
Conhecer os medicamentos, sua ação, reações tóxicas, hipersensibilidade e observar a
ação dos mesmos sobre o paciente;
Controlar rigorosamente os medicamentos a fim de evitar desvios;
Observar rigorosamente a prescrição e a ingestão do medicamento pelo paciente;
Comunicar qualquer alteração na aceitação do medicamento;
Anotar a medicação dada e toda irregularidade observada com relação à mesma.

IMPREGNAÇÃO

Esse tratamento é feito utilizando-se determinadas drogas, Entre as mais comumente


usadas temos: Haloperidol, Triperidol.
Consta da ministração de doses progressivas de um neuroléptico, atingindo em mg um
total bastante elevado, capaz da saturar o organismo, acarretando uma série de sintomas
transitórios que cessam após a suspensão do medicamento.

Sintomas:
Incoordenação motora;
Tremores das extremidades;
Rigidez muscular, principalmente da boca e língua;
Sudorese intensa e constipação intestinal.
Cuidados de Enfermagem:

Verificar T.P.R. e P.A. antes e durante o tratamento;


Observar reações ao medicamento como alergias, queda de pressão (hipotensão);
Hidratar o paciente de 3/3 horas, o que ajuda na eliminação do excesso de
medicamento, previne intoxicações e constipação intestinal;
Incentivar exercícios e pequenos passeios ao ar livre;
Proporcionar banho de chuveiro 02 vezes ao dia ou quando necessário para limpeza da
pele e remoção do suor fétido.
Proporcionar alimentação adequada e na consistência que o paciente possa ingerir;
Incentivar e ajudar o paciente a alimentar;
Avisar o médico se a inquietação do paciente for muito ou se suas dificuldades de
movimentação, alimentação e sono não dão condições de descanso;
Fazer anotações minuciosas do estado do paciente;
Evitar impacientar-se com o paciente, uma vez que o tratamento é longo (geralmente
sua duração de 45 a 60 dias);
O apoio, a atenção e o encorajamento que o paciente recebe da enfermagem são
elementos tão importantes no tratamento quanto a medicação que toma.

SONOTERAPIA

A sonoterapia ou sono prolongado é um tratamento


realizado à base de medicamentos que levam ao sono
contínuo, 24 horas por dia.

A medicação é dada 3 a 4 vezes ao dia, conforme


orientação médica, e os medicamentos mais comumente
usados são: Seconal, Sonebom, Mogadon, Amplictil e
Fenergan.
A duração do tratamento é de 10 dias a 3 semanas, havendo interrupção de 1 dia em cada
semana.

Cuidados de enfermagem
Preparar um ambiente adequado ao sono do paciente.
Fazer o preparo psicológico tranquilizando-o e dizendo que o pessoal de enfermagem
estará sempre presente para cuidá-lo e atendê-lo em suas necessidades;
Verificar os sinais vitais, rigorosamente, de acordo com a prescrição médica;
Ministrar a medicação segundo a prescrição médica;
Proporcionar alimentação, higiene e conforto ao paciente de maneira correta e
adequada;
Observar sinais de constipação intestinal, dificuldades de micção, lesões da pele ou
alterações nos sinais vitais;
Comunicar ao médico qualquer anormalidade observada e registrada no prontuário;
Manter vigilância constante e ter material de urgência à mão;
Anotar, cuidadosamente, todas as suas reações, seus sonhos se ele os relatar.

Psicoterapia
Nos últimos anos, têm sido obtidos avanços significativos no campo da psicoterapia. A
psicoterapia é o tratamento que o terapeuta aplica ao paciente através de técnicas
psicológicas, fazendo uso sistemático da relação terapeuta-paciente. Os psiquiatras não
são os únicos profissionais de saúde mental especializados na prática da psicoterapia.
Também estão incluídos os psicólogos clínicos, os assistentes sociais, os enfermeiros,
alguns conselheiros religiosos e muitos profissionais paramédicos. No entanto, os
psiquiatras são os únicos profissionais de saúde mental que podem prescrever
medicamentos.

Embora a psicoterapia individual seja praticada de muitas formas diferentes, quase todos
os profissionais de saúde mental estão filiados a uma das quatro escolas de psicoterapia: a
dinâmica, a cognitiva-comportamental, a interpessoal ou a comportamental.

A psicoterapia dinâmica deriva da


psicanálise e a sua base é ajudar o
paciente a compreender as estruturas e
padrões inconscientes que podem estar
criando sintomas e dificuldades de
relacionamento.

A escola cognitiva-comportamental
centraliza-se principalmente nas distorções
do pensamento do paciente.

A terapia interpessoal enfoca como uma perda ou uma alteração em uma relação afeta
o paciente.

A terapia comportamental visa ajudar os pacientes a modificarem as maneiras


condicionadas de reagir a eventos que ocorrem ao seu redor.
Na prática, muitos psicoterapeutas combinam técnicas, de acordo com as necessidades do
paciente. A psicoterapia é adequada em uma grande variedade de condições. Mesmo os
indivíduos que não apresentam qualquer distúrbio psiquiátrico podem considerar que a
psicoterapia lhes é útil para enfrentar problemas como, por exemplo, dificuldades no
trabalho, perda de um ente querido ou uma doença crônica na família. A psicoterapia de
grupo e a terapia familiar também são amplamente utilizadas.
NECESSIDADES HUMANAS

Necessidades Humanas Básicas


Para saber como ajudar as pessoas que estão doentes, quer física ou emocionalmente, as
enfermeiras necessitam compreender o comportamento tanto dos pacientes como o seu
próprio. Necessitam saber também por que as pessoas se comportam dessa ou daquela
forma ou o que podem fazer para ajudá-las a se comportar melhor.

Há muitas explicações das razões do


comportamento humano, do que está por trás,
motiva ou guia o comportamento é dirigido à
satisfação de necessidades básicas. Quando
uma pessoa se comporta de uma maneira que
geralmente lhe causa satisfação, dizemos que
ela é mentalmente sã. Contudo, quando o seu
comportamento consistentemente não lhe traz
satisfação, e tal comportamento cai dentro de
certos padrões, dizemos que ela está
mentalmente doente ou chamamos a sua
conduta de patológica, doente, desajustada ou
perturbada.

Necessidades Físicas
As necessidades humanas básicas caem em três categorias - físicas, emocionais e sociais.
As necessidades físicas estão estreitamente relacionadas à função corporal e são por vezes
descritas como primárias ou fisiológicas como o sexo ou a fome. São geralmente
consideradas como inatas, necessidades com as quais nascemos. As necessidades físicas
comuns são a necessidade de alimento ou sustento, incluindo água, oxigênio e eliminação;
vestuário e abrigo, para aquecimento do corpo e proteção; atividade, ou estimulação
sensorial e motora, incluindo prazer sexual, exercícios físicos e repouso.

Certas necessidades físicas ou corporais são


sentidas diretamente. Quando nosso corpo
necessita de alimento ou água, sentimo-nos com
fome ou com sede. Algumas necessidades físicas
são sentidas apenas em certas condições, como
em certas interferências. Sentimos falta de ar
quando o nosso suprimento de oxigênio é reduzido
ou cortado. Outras necessidades físicas são
conhecidas, mas não acompanhadas de um desejo
ou consciência física. Sabemos que necessitamos
de vitaminas, mas só ficamos cientes das consequências quando não as obtemos.
Experimentamos fadiga ou cegueira noturna como resultado da falta de vitaminas A e B.

As necessidades físicas são satisfeitas em interação com outras pessoas significativas,


como ocorre com todas as demais necessidades. No bebê, todas as necessidades físicas
podem ser satisfeitas durante o período de alimentação. O alimento o sustém, a maneira
em que ele é segurado no colo aquece-o e protegem-no, abraços ou carícias satisfazem o
desejo sexual infantil. Ele exercita os braços, pernas e músculos do corpo, grita de alegria
excreta e adormece. A maneira como as suas necessidades físicas são atendidas tem uma
influência muito poderosa sobre o tipo de adulto que ele se torna. Se, como bebê, suas
necessidades são atendidas consistente e respeitosamente, ele vai desenvolver um
sentimento de confiança em si mesmo, nas outras pessoas e no mundo em que ele vive.
Ele vai sentir que é uma pessoa de algum valor ou importância. Em contrapartida, caso
suas necessidades físicas não forem atendidas ou não forem adequadamente atendidas,
podem ocorrer graves danos à saúde física ou mental. Podem desenvolver-se deficiências
vitamínicas que causam doenças físicas como o raquitismo. Podem ainda desenvolver-se
hábitos ou maneiras de se comportar que impeçam uma boa interação com outras pessoas
e pode eventualmente ocorrer doença mental. Por exemplo, se ele chorar ao ser
alimentado e sua mãe tiver raiva dele, transmitir-lhe-á este sentimento pela maneira com
que o segurar no colo e falar com ele. O bebê pode reagir a isto chorando, mas, tornando-
se totalmente desinteressado em comer ou regurgitando seu alimento.

Em cada estágio do desenvolvimento, espera-se que a pessoa aprenda novas maneiras de


se comportar e de satisfazer suas necessidades. Por exemplo, os bebês satisfazem a sua
necessidade de alimento pegando e mordendo; os adultos mastigando. Quando os dentes
começam a nascer, a criança verifica que o seu comportamento não é mais aceito por sua
mãe. Ela deve aprender a morder, mastigar ou engolir de modo diferente; deve aprender a
se alimentar com uma colher e a beber em um copo.

Ao crescer, a pessoa aprende também a esperar estas ações de outras pessoas em


resposta à maneira como ela se comporta. Aprende que, se comportar de certas maneiras,
o resultado será agradável, caso contrário o resultado será desagradável.

Assim, guiada pelas respostas das pessoas à sua volta, especialmente a sua mãe, ela
tenderá a desenvolver padrões do comportamento que lhe proporcionem sentimentos
agradáveis. Os hábitos de alimentação da pessoa se desenvolvem como resultado da sua
interação com outras pessoas significativas, imediatamente antes, durante ou após o
período de alimentação. Se as refeições são repetidamente uma experiência desagradável
para a criança, ela pode desenvolver o hábito de engolir seu alimento rapidamente para
ficar livre desta experiência desagradável, tão rapidamente quanto possível.

A necessidade do bebê estar aquecido ou protegido, é satisfeita quando sua mãe pega-o
no colo, cobre-o ou troca suas fraldas. Ele logo descobre que se espera que ele tome conta
de si mesmo. Espera-se que ele controle seus esfíncteres e deposite seus produtos de
excreção em um lugar especial. Ele aprende a se cobrir, a se vestir e se proteger do frio
ou de outros perigos do ambiente. A maneira como o faz depende do que aprendeu em
sua experiência de vida.

O desejo sexual dos bebês é difuso ou mal definido. Eles obtêm satisfação através do
exercício físico ou do contato sensorial com sua mãe. Quando são negadas atividades
físicas e experiências sensoriais à criança, ela pode ter dificuldade em cumprir o papel
heterossexual do adulto, papel este que requer intimidade, física, contato e prazer. A
estimulação excessiva da criança pode tornar-lhe difícil encontrar satisfação sexual
suficiente na idade adulta.

Necessidades Emocionais
As necessidades emocionais, tanto quanto as físicas, desempenham um papel no
comportamento motivador, e a frustração dessas necessidades resulta em um grave
distúrbio do comportamento. É difícil identificar separadamente as necessidades
emocionais e sua satisfação, porque elas estão estreitamente ligadas às necessidades
físicas. Para a criança, o foco da relação mãe-filho é o atendimento de suas necessidades
físicas. Suas necessidades emocionais são satisfeitas ou frustradas pela maneira com que
sua mãe lhe cuida fisicamente.

As necessidades emocionais comuns são uma


necessidade de amor da pessoa, de ser amada e
depois de amar outras pessoas, incluindo aprovação
e estima; a necessidade de importância, que inclui
reconhecimento e respeito; a necessidade de
adequação, que inclui a autossuficiência e a
necessidade de ser aceita e desejada; a necessidade
de produtividade, que inclui o trabalho e as atividades criativas.

As necessidades emocionais, como as físicas, são atendidas em interação com outras


pessoas significativas. A mãe é a primeira dessas pessoas com a qual a criança aprende a
interagir, e a maneira como ela interage com a criança satisfaz ou não suas necessidades
emocionais. É nessa relação primária entre a mãe e a criança que se prepara o terreno
para o desenvolvimento dos padrões individuais de satisfação de suas necessidades ou de
iniciação com outras pessoas.

Se for amada livre abertamente por seus pais, a criança irá sentir seu valor e dignidade
básicas e procurará amar outras pessoas. Se tratada como a pessoa importante que é,
desenvolverá nela o respeito por si própria e pelos direitos das outras pessoas. Se lhe
ajudar a lidar adequadamente com os problemas de seu ambiente, ela desenvolverá os
sentimentos de força e segurança. Se sua capacidade de produzir for reconhecida e
encorajada, ela desenvolverá os sentimentos de integridade e plenitude.

O crescimento e desenvolvimento emocionais só podem ocorrer em uma atmosfera de


amor, aceitação e intercâmbio. Sendo amado, o indivíduo desenvolve um sentimento de
confiança em si e nos outros, que é básico para seu bom relacionamento. Quando é
amado, ele é mais capaz de enfrentar as lutas e desapontamentos que a vida certamente
lhe reserva. Ele deve receber antes de ter algo a dar, de modo que e!e aprende a amar os
outros corno ele próprio é amado.

Se a criança não crescer em uma atmosfera de calor humano e amor, pode lhe ser difícil
como adulto estabelecer as relações íntimas do casamento e família. Ela pode ter
sentimentos de isolamento e solidão. Pode se tornar fria, desinteressada, indiferente. De
qualquer modo, o resultado vai ter dificuldade em dar, receber e dividir seu amor com
outro ser humano. Muitas pessoas crêem que a privação nessa área é a base de grande
parte do comportamento desajustado ou doente do homem.

Todos necessitam sentir que adquiriram pelo menos alguns dos traços considerados
importantes pela sociedade, para que se sintam em pé de igualdade com as outras
pessoas. Caso lhe falte qualquer traço, a pessoa pode experimentar sentimentos de
inutilidade, culpa ou vergonha. Ela pode criticar severamente outras pessoas em uma vã
tentativa de elevar sua própria posição. Ela pode ser dominada pelo derrotismo e
desânimo, e desenvolver uma atitude de apatia ou indiferença. Qualquer quebra grave do
seu respeito próprio se refletirá em falta de respeito por outras pessoas.

A criança deve aprender como enfrentar com sucesso os problemas de seu ambiente. Ela
deve ser capaz de dominar as tarefas que se espera que realize. Deve sentir-se capaz de
enfrentar mudanças e a incerteza do futuro. Se não aprender essas coisas sobre si mesma
e seu ambiente, será incapaz de desenvolver padrões eficazes de comportamento. Pode se
tornar confusa ou desorganizada quando enfrentar situações ameaçadoras. Pode
desenvolver opressivos sentimentos de apreensão, pânico e desamparo. Seja como for,
sua falta de confiança em si mesma interferirá seriamente em sua eficácia.

A necessidade da expressão produtiva ou criativa está presente em todas e em cada uma


das pessoas. Às vezes ela é encoberta pelo desânimo, desuso ou dúvida, mas prepara o
terreno para a entrada no dia-a-dia de trabalho do mundo adulto. Ela começa em casa,
quando a criança começa a perder o interesse nas atividades que envolvem apenas
brinquedos. Ela deseja usar instrumentos reais e fazer coisas reais. Começa a crescer e se
desenvolver essa necessidade quando a criança aprender a competir, produzir e obter
sucesso em seu trabalho escolar, e floresce realmente com seu primeiro emprego pago.
Durante toda a infância e adolescência, ela se prepara para o seu papel na vida, quer seja
como trabalhador, contribuidor ou provedor.
Se não tem oportunidade de aprender como obter prazer produzindo, a criança pode ter
sérios problemas consigo mesma e com seu ambiente. Ela pode ter sentimentos de
inferioridade e, em desespero, abandonar tudo. Pode não ter nunca um exemplo de
satisfação em produzir faltando-lhe assim interesse, e investimento no trabalho. Ela pode
fugir da dolorosa experiência do fracasso repetido, exibindo uma falta geral de ambição,
por vezes erradamente chamada "preguiça" ou "incapacidade". Todas essas condições
resultam em sérios desvios do comportamento que se espera do adulto sadio,
independente, colaborador e pragmático.

Necessidades Sociais
As necessidades sociais e as maneiras de satisfazê-las
vêm da cultura ou sociedade à qual a pessoa pertence.
Elas também estão intimamente ligadas às necessidades
físicas e emocionas, e frequentemente não podem ser
separadas das mesmas. A mãe é o primeiro professor de
costumes sociais, mas a criança aprende também do pai,
da família, dos colegas e de outros membros do seu
grupo social. As necessidades sociais comuns são a
necessidade de identificação ou de pertencer a um grupo, educação ou aprendizado,
religião ou crença e recreação ou divertimento. As necessidades sociais também são
atendidas em interação com outras pessoas significativas, incluindo membros de grupos
comunitários e sociais, assim corno a família. Em um país democrático a satisfação das
necessidades sociais é frequentemente garantida, parcialmente pela legislação social, tal
como à aprovada nos Estados Unidos para proteger os direitos civis independentemente de
raça, o direito a trabalhar, liberdade de religião, auxílio à educação e áreas recreativas
como os parques nacionais.

A criança satisfaz sua necessidade de pertencer a um grupo pela maneira com que suas
necessidades físicas e emocionais são atendidas em interação com sua mãe. À medida que
a pessoa cresce, outras pessoas se tornam cada vez mais significativas na satisfação
dessas necessidades. O pai e outros membros da família fornecem os modelos para a
identificação. Os colegas e amigos são especialmente influentes durante a adolescência e o
início da idade adulta. Como adulto, a pessoa se une a organizações e passa a pertencer a
vários grupos em sua comunidade. Ela adota certos valores, maneiras de usar suas roupas
e seu cabelo, certas maneiras de construir sua casa e de regular sua vida.

Se for negada à pessoa a satisfação de sua necessidade, de se: identificar com os outros,
seu comportamento social pode ser gravemente perturbado. Ela pode se tomar distante e
desinteressada em suas relações. Pode ter grande dificuldade em realizar seu papel como
um membro contribuinte da sociedade. Pode ficar tão isolada das outras pessoas que é
considerada como desajustada social. Pode ter problemas em assumir o papel masculino
(ou feminino) que se espera dela como um adulto.

A necessidade de aprendizado ou educação começa no nascimento e está intimamente


relacionada à sobrevivência e à segurança da pessoa. Se a necessidade de aprender não
for encorajada e gratificada, a criança pode nem sobreviver, quanto mais sentir-se segura.
Ela tem muitas tarefas a dominar para chegar ser um adulto sadio. Deve ser provida de
oportunidades para aprender e receber apoio quando fracassar. A atitude da pessoa
relativamente ao aprendizado é estabelecida no início de sua vida. Se for constantemente
desencorajada, repreendida ou ridicularizada em sua tentativa de aprender, ela pode
desenvolver distúrbios em seu comportamento.

Pode achar difícil ou mesmo impossível conseguir preencher os requerimentos da educação


formal. Pode ser incapaz de perceber seu próprio potencial e não conseguir assim se
realizar. Pode desenvolver concepções errôneas sobre o conhecimento, educação e
aprendizado que a leve a temer, desprezar ou invejar aqueles que têm mais sucesso que
ela.

Todos têm necessidades religiosas ou espirituais, mas, como as pessoa satisfazem essas
necessidades de muitas maneiras diferentes, é difícil encontrar um denominador comum.
Uma característica geral nos seres humanos, porém, é a crença em uma força ou forças
fora de si mesmos. Esta força pode ser um poder divino como Deus, Buda ou Alah,
adorados em religiões organizadas. Ela pode ser algum fenômeno natural, como o fogo e a
água, em culturas primitivas. Pode ser de natureza mística, existencial ou materialista,
dependendo do indivíduo e da sociedade da qual ela vem.

Quaisquer que sejam as necessidades religiosas que a pessoa tenha, elas estão
relacionadas com as influências culturais sobre a sua vida. Quando criança, a pessoa logo
aprende que há forças, poderes e controles externos que geralmente são mais fortes que
ela. Pode crescer em uma família onde as crenças em práticas religiosas sejam muito
severas, ou onde não haja aparentemente nenhum controle externo, ou onde haja uma
forma mais liberal de crença. Ela pode reagir a restrições severas com ressentimento e
rebeldia. Pode apresentar falta de compreensão e de compaixão pelos outros. Pode ser
imoral ou amoral em sua conduta social.

A necessidade de recreação está associada com relaxamento, diversão, prazer e é um


aspecto essencial da vida de todas as pessoas. A necessidade de recreação das crianças é
satisfeita brincando com sua mãe, consigo mesma ou com seus brinquedos. À medida que
cresce, a pessoa aprende como brincar com os outros, como se divertir de maneira
socialmente aceitável, como obter prazer. Os Adultos em nossa cultura gastam muito
tempo, esforço e dinheiro em atividades recreativas, como o futebol.

Se não lhe for permitido brincar, a pessoa pode se tomar tão séria que as outras pessoas
evitam sua companhia porque ela não é divertida. Se lhe for permitido brincar
excessivamente, ela pode não se tomar séria o bastante para ser um bom homem de
negócios, marido ou pai. Se for castigada por brincar ou se for ensinada que brincar é
pecado, ela pode se sentir culpada ou ansiosa quando tentar se divertir.

Inter-relacionamento das Necessidades


As necessidades são interligadas, interdependentes e inter-relacionadas a tal ponto que
não podem realmente ser separadas. Elas são fluidas e cambiantes - primeiro um, depois
outro, depois todo um grupo assumindo a prioridade. A alimentação pode começar como
uma necessidade física básica, mas assume uma significação pessoal em social. De fato,
tantas necessidades básicas podem ser satisfeitas dividindo-se o alimento que isso se
tornou um ritual simbólico de amor e identificação, fortemente influenciado pela família,
igreja e sociedade à qual se pertence.

Por exemplo, a oferta de refrescos se tomou uma expressão da hospitalidade sulista. O


consumo ou apreciação de tudo que é servido se tomou uma expressão do respeito
oriental. Hambúrgueres e balatas fritas são identificados como o alimento dos
adolescentes. Frango assado e torta de maçã são considerados tipicamente americanos.
Assim, certos alimentos, certas maneiras de preparar ou servir os alimentos, certas
maneiras de se portar à mesa ou hábitos de comer são identificados com as culturas das
quais eles se originam. Tais hábitos ou maneiras de se comportar tendem a persistir, pois
obtêm para o indivíduo a aprovação que ele busca naquele grupo.

Assim, a pessoa cresce e aprende a satisfazer suas necessidades de certas maneiras; com
a persistência dessas maneiras, elas se incorporam a sua personalidade. Por exemplo, se a
criança crescer em uma casa em que as refeições sejam uma experiência agradável e
satisfatória, quando adulta ela tenderá a gostar de comer; se crescer em uma casa na qual
as refeições sejam associadas a brigas em ocorrências desagradáveis, quando for adulta
ela pode ter dificuldade em apreciar os alimentos, mesmo que as circunstâncias tenham
mudado. Enquanto tais hábitos ou maneiras de se comportar resultem em satisfação,
segurança em conforto para a pessoa, qualquer tentativa de mudá-los será enfrentada
com resistência, porque é uma ameaça para o indivíduo.

Sob stress, um indivíduo pode substituir a satisfação de uma necessidade por outra. Se
não receber satisfação suficiente em uma área, ele pode tentar compensar isto em outra
área. Por exemplo, a pessoa que não consegue obter o amor que necessita de outras
pessoas pode comer excessivamente, na tentativa de encontrar conforto em segurança.

Infelizmente, tal substituição frequentemente não dá resultados e, em vez de se sentir


melhor em consequência de sua ação, a pessoa se sente pior.

A frustração de uma necessidade pode interferir seriamente na satisfação de outra. Vários


estudos foram feitos quanto ao efeito da falta de amor materno sobre as crianças, e todos
eles demonstraram a poderosa influência dessa privação sobre a aparência física e o
funcionamento corporal.

Filmes de crianças abandonadas que foram vítimas do bombardeio de Londres durante a


segunda Guerra Mundial servem como exemplos clássicos. Apesar de serem atendidas as
necessidades físicas da criança - alimentos, vestuário, abrigo e atividades -, muitas delas
apresentavam-se desnutridas, letárgicas e respondendo pouco aos estímulos. Muitas
pessoas já sentiram o efeito que a frustração pode ter sobre o apetite e a utilização dos
alimentos.

Atendendo à Necessidade do Paciente


Qualquer programa de tratamento ou plano de atendimento individual a paciente visa à
satisfação de necessidades, e sua eficácia pode ser medida em termos de quanto ele
atende as necessidades daqueles para os quais é feito. Muito se tem dito sobre a
necessidade de atender totalmente os pacientes, preencher suas necessidades e tratá-los
como indivíduos e dar um atendimento personalizado. No entanto, ocasionalmente essas
frases são usadas como se fossem mágicas, como se dizer estas palavras magicamente
resultasse na realização da tarefa. A prestação dos serviços de saúde modernos,
especialmente o tratamento psiquiátrico, consiste em algo mais do que palavras mágicas -
exige um tipo especial de atendimento abrangente e amplo visando a satisfação das
necessidades físicas, emocionais e sociais da pessoa que está doente.

O paciente tem necessidades humanas comuns, uma vez que é uma pessoa, necessidades
individuais porque é único; e necessidades especiais porque está doente. A doença
constitui uma grave ameaça à sua sobrevivência e segurança.

Ela pode também privá-lo de sua capacidade de cuidar de si mesmo, interferindo no seu
funcionamento. Ela pode removê-lo de suas costumeiras fontes de satisfação, como o lar,
o emprego e a família, tornando necessária a hospitalização. Pode exigir alterações
importantes em seu estilo de vida, fazendo com que seja dependente ao invés de
independente.

É responsabilidade da enfermagem fornecer à ajuda de que o paciente precisa para


atender suas necessidades. A enfermeira deve determinar as necessidades do paciente,
sua capacidade de atendê-las por si mesmo, e o que deve ser fornecido como ajuda de sua
parte. A enfermeira cumpre essa responsabilidade com o paciente através de sua relação
com ele.

O amor é uma parte essencial do auxilio aos outros e o núcleo de qualquer relação de
ajuda. Erich Fromm, em seu livro “A Arte de Amar”, descreve o tipo fundamental de amor
que é a base de todos os outros - o desejo de ajudar outro ser humano - como amor
fraternal. Ele atribui quatro qualidades principais a esse tipo de amor: interesse ou
preocupação pelo semelhante, respeito por ele como indivíduo, conhecimento do indivíduo
e de suas necessidades e um sentido de responsabilidade para ajudá-lo a atender essas
necessidades. Ele diz que, como qualquer arte, o amor deve ser praticado e isso requer
dos que o praticam disciplina, concentração, paciência e um interesse supremo pelo
domínio da arte.
Este tipo de sentimento pelos outros, pelo semelhante, pelos pacientes não vem
automaticamente à enfermeira. Requer um trabalho duro e um esforço consciente para
estabelecer ou manter uma relação de ajuda. Não é suficiente que a enfermeira seja uma
pessoa gentil, terna ou amorosa (embora isto certamente ajude). Ela deve também saber
o que se exige dela, qual é a providência mais adequada a tomar e qual a melhor maneira
de pô-la em prática. Qualquer interação pode satisfazer as necessidades básicas do
paciente e aumentar seu conforto, segurança e sensação de bem-estar, ou interferir em
sua satisfação e resultar em desconforto, insegurança e ansiedade. Qualquer desses
resultados afeta as emoções, a fisiologia e o comportamento do indivíduo e influencia
diretamente seu estado de saúde.

Muitas enfermeiras, em um ou outro momento, servem alimentos aos pacientes. A


maneira como elas servem o alimento pode satisfazer a necessidade de alimento, amor e
identificação do paciente, ou interferir gravemente na satisfação de uma ou de todas estas
necessidades. Se o alimento é disposto e servidos de modo atraente, se a enfermeira é
agradável e amável, se o grupo do paciente que come junto é agradável, então todas as
três necessidades do paciente podem ser atendidas. Contudo, se o paciente tem artrite e
não pode usar suas mãos, a ação da enfermeira, para ser eficaz, deve mudar. O alimento
pode ser disposto e servido atraentemente, a enfermeira pode ser agradável e amável e o
grupo de paciente pode ser agradável, mas nenhuma das três necessidades será atingida
se a enfermeira puser a bandeja na mesa e for embora sem cortar a carne, abrir o pacote
de leite ou dar ao paciente qualquer outra assistência de que ele necessite.

A roupa do paciente deve ser suficientemente quente e confortável, assim como atraente e
apropriada à ocasião. Deixar o paciente escolher o que vai usar pode satisfazer sua
necessidade de importância. Mostrar-lhe como se vestir, se ele perdeu a capacidade de
fazê-lo, pode satisfazer sua necessidade de aprender como cuidar de si mesmo. Considerar
o gosto individual do paciente para se vestir satisfará também outras necessidades
emocionais.

É importante para um paciente cego ou vítima de um derrame, aprender como se vestir.


De outra forma, ele dependerá dos outros, suas necessidade não serão atendidas e ele
poderá se sentir uma carga. Em consequência, disso, pode ser que ele funcione abaixo de
sua capacidade, fique incapacitado para o resto de sua vida e não chegue à saúde plena.
Frequentemente, é mais fácil, ou pelo menos mais rápido, fazer as coisas para o paciente,
mas se realmente se interessa por ele, a enfermeira vai ajudá-lo a aprender a cuidar de si
mesmo. Mesmo que lhe doa usar seus dedos artríticos, que seja doloroso andar após uma
fratura de quadril ou uma cirurgia abdominal é necessário para os sentimentos de bem-
estar do paciente fazer tanto por si mesmo quanto ele for capaz.

As necessidades do paciente - abrigo, criatividade e religião - podem frequentemente, ser


atendidas pela atenção cuidadosa da enfermeira ao ambiente imediato. Frequentemente,
as necessidades e capacidades de um paciente individual não são tomadas em
consideração. Para alguns, um rosário, velas e uma Bíblia podem ser uma parte essencial
da vida, da qual eles derivam grande satisfação. Em alguns hospitais psiquiátricos, a
limpeza da enfermaria é marcada para um dia específico, como sábado ou domingo,
esperando-se que todos os pacientes participem dela. Trabalhar no sábado pode ser
contrário à crença religiosa de um dos pacientes. Como resultado, o paciente pode se ver
em conflito, tendo a enfermeira contribuído assim para seu desconforto em vez de ajudá-
lo. Permitir aos pacientes uma participação na arrumação do ambiente é dar concessões a
diferenças individuais, irá ajudar a satisfazer as necessidades dos pacientes.

Ao se socializar com os pacientes, a enfermeira pode satisfazer ou frustrar suas


necessidades básicas de atividade, adequação e recreação. Se o jogo ou atividade
sugerida está abaixo do nível físico, emocional ou social do paciente, ele pode se sentir
insultado. Se for obrigado a ir ao cinema todas as quartas-feiras, ele pode não gostar
disto. As atividades impostas aos pacientes perdem seus benefícios como fonte de prazer.

Por exemplo, pacientes idosos com problemas cardíacos ou circulatórios podem precisar
restringir sua atividade física. Muitos pacientes idosos não estão acostumados a
brincadeiras ou jogos e não os apreciam. Eles podem não conhecer as regras do jogo,
sentindo-se então inadequados ou estúpidos. Por vezes as enfermeiras pensam
erradamente que elas vão fazer o paciente se sentir bem se o deixarem ganhar o jogo.
Contudo, esse tipo de iniciação pode, na verdade, interferir na necessidade de adequação
do paciente. Muitas pessoas não acham engraçado ganhar quando a outra pessoa perde
de propósito, especialmente se verificam que foram iludidas e pensavam ter ganhado
legitimamente.

As pessoas interagem com as outras em uma tentativa de satisfazer suas necessidades


básicas. Se as relações das pessoas forem sadias ou boas, suas necessidades serão
satisfeitas e elas se sentirão seguras. Se suas relações fracassam, suas necessidades são
frustradas e experimentam stress. Pode reagir ao stress com fuga, luta ou comportamento
paradoxal.

A enfermeira deve fornecer a ajuda necessária para que as necessidades dos pacientes
sejam atendidas. Ela cumpre essa responsabilidade através de sua relação com o
paciente: Uma relação de ajuda deve ser baseada naquele amor fundamental que estão
por trás de todos ou outros - o desejo de ajudar outro ser humano.
COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO

EQUIPE E PACIENTE

As enfermeiras são responsáveis por proporcionar tão


livre de tensões externas quanto possível, para que
grande parte da energia dos pacientes possa ser
utilizada para o processo de cura. Com freqüência isso
inclui tanto o ambiente físico como o emocional. Devido
ao grande número de especialistas no campo da saúde
hoje em dia, é possível que um paciente possa precisar
se relacionar com muitos profissionais de saúde durante
sua experiência de hospitalização. Muitas vezes ele não
chega a conhecer ninguém suficientemente bem para
acreditar que seus sentimentos quanto a sua condição
são realmente compreendidos ou que esses numerosos profissionais realmente, se
interessam o bastante para ouvir suas perguntas ou afirmações de ansiedade e medo. O
paciente precisa poder dizer a alguém que o escute.

"Estou com medo." "Eu não sei se algum dia vou melhorar".
"Meu esposo e meus filhos se preocupam comigo todo o tempo. Eles estariam melhor sem mim".
"Por favor, fique comigo quando o médico vier. Eu estou com tanto medo de ele me dar más
notícias. Eu acho que não vou poder aguentar isso sozinha".

A ação da enfermagem que reconhece a necessidade do paciente em expressar seus


sentimentos vai ajudar a proporcionar uma atmosfera de liberdade do medo do ridículo ou
de se sentir estúpido. Isso inclui a comunicação verbal e não verbal de uma disposição de
escutar (não importa o que está sendo dito), o reconhecimento da necessidade do
paciente de prosseguir seguindo seu próprio ritmo e a compreensão de que a maioria dos
seres humanos que foram hospitalizados não tiveram uma participação anterior nesse
processo e, portanto não sabem como verbalizar seus sentimentos ou como ficar à
vontade para iniciar um diálogo que revele seus pensamento mais íntimos.

É útil que as enfermeiras compreendam esse conceito, pois, na medida em que elas
proporcionam um ambiente seguro e estimulante que comunica solicitude, seus pacientes
irão compartilhar seus sentimentos e explorar maneiras de enfrentá-los. Isso leva a um
sentimento de esperança com a crença de ainda poderem fazer escolhas e que serão
convidados a participar das decisões relativas a seu próprio bem-estar.

Os sentimentos de dependência são de especial preocupação para os pacientes


hospitalizados. Eles se sentem desamparados e inúteis quando precisam que todas as suas
necessidades sejam atendidas por outras pessoas. A enfermeira precisa tranquilizar os
pacientes de que está certo ser dependente quanto a situação o exige e que ela irá cuidar
deles até que eles possam novamente cuidar de si mesmos. No entanto, deve-se
transmitir aos pacientes um encorajamento à medida que eles recuperam sua
independência e apoio nesse processo.

A empatia é a capacidade de sentir o que outra pessoa está sentindo. Quando isso é
comunicado, faz com que se sinta que se está sendo compreendido e aceito. Esta é uma
das mais reconfortantes experiências que um ser humano pode ter e possibilita a imediata
compreensão dos sentimentos e da situação da outra pessoa. Pela empatia a enfermeira
aumenta sua compreensão das dificuldades dos pacientes o que permite a ela
proporcionar-lhe o retorno (feedback) necessário para que ele compreenda como ele afeta
aqueles que estão a seu redor, assim como lhe dá indicações sobre seus próprios
sentimentos. Quando comunicada, a empatia forma a base para uma relação de ajuda
entre a enfermeira e seu paciente.

A narrativa a seguir descreve uma interação entre dois indivíduos em que a empatia
desempenha um importante papel. Um deles é uma enfermeira psiquiátrica, e o outro é
um ser humano em crise. Embora não haja um paciente na situação, muitas das
capacidades de uma relação de ajuda, aqui descritas, podem ser relacionadas ao
atendimento de enfermagem de pacientes e/ou membros de suas famílias. As enfermeiras
devem começar a ir além do paciente e a aprender maneiras de apoiar aqueles que lhes
são significativos. Isso muitas vezes inclui sua família ou amigos de sua comunidade, que
representam sua estrutura de sustentação.

Numa relação de ajuda, os princípios básicos são os mesmos, independentemente da


situação ou ambiente em que a relação está se desenvolvendo. Ela pode ser um encontro
breve em que se estenda por um certo período. Apesar disso, seu impacto é duradouro e
pode ser o catalisador necessário para iniciar o crescimento numa pessoa que está
apresentado tensões psicológicas e dor.

A percepção de stress em outro ser humano é algo a que muitas pessoas hoje em dia
relutam em responder. Elas frequentemente temem se envolver excessivamente ou que a
outra pessoa possa precisar de uma ajuda que elas não podem proporcionar,
emocionalmente ou de alguma outra forma. As enfermeiras e outros profissionais de saúde
acreditam que querem apoiar aqueles que se apresentam para serem atendidos, mas
muitas vezes eles estão tão sobrecarregados pelas exigências da situação que reagem de
modo frio e insensível. Em sua maior parte, esses profissionais de atendimento nem
sequer tem consciência de seu comportamento ou de como são recebidos por aqueles de
quem cuidam.

COMPONENTES BÁSICOS DE UMA RELAÇÃO DE AJUDA


A capacidade de desenvolver relações interpessoais mais significativas com as outras
pessoas pode ser identificada, ensinada e aprendida. É particularmente importante que os
membros da profissão de enfermagem se tornem hábeis no uso dessa capacidade, pois
uma grande parte da sua função é assegurar um ambiente encorajador, restaurador e
estimulante para os pacientes. É importante que a pessoa que ajuda, seja aberta e
acessível para receber estímulos de outras pessoas sob tensão buscando e compreensão.
Isto significa que, à medida do possível eles devem ter sua própria casa em ordem, ou
seja, serem eles próprios relativamente livres de tensões opressivas, tanto internas quanto
externas.

As pessoas que estão pouco à vontade numa situação, dão respostas monossilábicas às
perguntas, evitam o contato visual com outra pessoa, evitam expressar sentimentos,
desejos ou preferências mais intensas, podem ter uma aparência desconfiada, pouco
amistosa e assim por diante. È importante que a pessoa que ajude explore a razão para
esse comportamento e que resista a seus próprios impulsos de evitar falar com elas.

Pode ser que a enfermeira precise explorar seus sentimentos quanto a seu direito de
invadir quando um paciente, sob seus cuidados, indica claramente que não está
interessado em interagir. É importante lembrar que a relação entre um paciente e uma
enfermeira não tem os mesmos princípios de uma relação social. O fato de que o paciente
está hospitalizado ou se apresenta para ser atendido torna necessário que os profissionais
façam o melhor que puderem para explorar todas as suas necessidades e desenvolvam um
plano para atender a essas necessidades. Isso inclui suas necessidades de apoio emocional
e a exploração e interação interpessoal. Afirmativas como as que se seguem podem ajudar
a iniciar uma conversa com um paciente que está se mostrando relutante.
“Você parece aflito. Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar”?
“Você parece tão quieto. Poderia ajudar se nos falasse sobre o que esta incomodando você “.
"Estar doente e hospitalizado pode ser uma experiência estranha e assustadora. Se você dividir
comigo suas preocupações, talvez nós possamos pensar em maneiras de lidar com elas."

Um passo importante para ajudar outras pessoas é a enfermeira reconhecer que as outras
pessoas são bem semelhantes a ela própria. Eles são todos seres humanos, e suas
necessidades são importantes para elas como as da enfermeira são para ela. Muitas vezes
as enfermeiras ficam envolvidas em sua própria ansiedade, a tal ponto que deixam de
perceber o que quer que seja que a outra pessoa possa estar vivenciando ou sentindo.
Todos os seres humanos necessitam se sentir aceitos, respeitados e importantes. Se vier a
acreditar que os pacientes não apreciam seus esforços em prol deles e que ela recebe
muito pouco deles em satisfação interpessoal, a enfermeira pode ter que avaliar a
qualidade e a quantidade do que ela está dando. Por vezes, nós recebemos pouco porque
damos pouco.
A arte de ouvir é um aspecto importante de uma relação de ajuda. Para ouvir ativamente
o que outra pessoa está dizendo, a enfermeira deve dar-lhe total atenção e não ficar
ligada em suas próprias ansiedades e preocupações. Ela precisa demonstrar seu desejo de
compreender suas preocupações, não importa quão banais, dando-lhe tanto tempo quanto
seja necessário para ele se expressar sem querer criticar.

Muitas vezes isso será um primeiro passo para restabelecimento de um sentimento de


confiança e segurança, de modo que o paciente possa arriscar revelar mais de si mesmo
em seu esforço para lidar efetivamente com os problemas com que ele se defronta.
O uso de sinais e indicações não verbais é útil para a comunicação com outras pessoas. A
enfermeira precisa estar ciente da distância que ela mantém entre ela própria e a pessoa
que está ajudando. Interesse, carinho e preocupação são comunicados quando a
enfermeira encurta a distância entre elas, inclina-se para o paciente com uma atitude para
escutá-lo, toca-lo, sorrir, faz e mantém contato com os olhos. A enfermeira não deve
temer sentir juntamente com o paciente e deixar seus sentimentos transparecerem.

Existia há muito tempo a questão de as enfermeiras expressarem seus sentimentos


abertamente para os pacientes. Falar francamente sobre sentimentos é um modo de
comunicar aos outros que você é sincero, que confia neles o bastante para ter reações e
sentimentos. As enfermeiras perguntam aos pacientes sem reservas como eles estão se
sentindo sobre muitas coisas. Todavia, quando os pacientes afirmam para as enfermeiras -
"Você não acredita em mim”, elas se a negar seus sentimentos, mesmo quando sabem
que o paciente está certo. Elas muitas vezes vêm a acreditar que não lhes é permitido ter
certas emoções, e assim negam a sua presença quando pressionadas. Isso pode levar a
que o paciente veja sua relação como não encorajadora, falsa, e, portanto como não
sendo útil.

É importante que a enfermeira coloque em outras palavras o que ela ouviu o paciente
dizer. Identificar o sentimento que parece estar presente pode ajudar no intercâmbio. Por
exemplo:
"Parece que você está preocupada em saber se tomou a decisão certa..."
"Eu percebi sua raiva a respeito de sua perna ser amputada. Vamos falar sobre o que isso vai
significar para você."

Muitas vezes, emoções fortes como a raiva e a tristeza são ignoradas pelas enfermeiras,
ou, se reconhecidas, não se permite que elas sejam discutidas. Isso pode levar os
pacientes a acreditar que é errado demonstrar o que sentem ou que esses sentimentos
mais fortes podem afastar a enfermeira e deixá-los sozinhos para enfrentar esses
sentimentos. Quando a enfermeira não compreende o que o paciente está sentindo, ou
demonstra esses sentimentos, ele pode ficar mais frustrado, irritado ou desanimado.

A maneira pela qual os profissionais de saúde se comunicam com os pacientes é descrita


como um aspecto importante do atendimento aos pacientes.
Isso deve ocorrer numa relação encorajadora e positiva, enquanto o paciente se dá conta
dos fatores críticos relacionados com a sua doença e de sua responsabilidade em lidar com
a mesma. Aconselha-se que a enfermeira não se dedique apenas aos aspectos técnicos
dos cuidados do paciente, negligenciando o papel estimulador e reconfortador tão
frequentemente procurado pelos que estão doentes. As enfermeiras são responsáveis por
ouvir as necessidades expressas pelos pacientes e responder a essas necessidades. É
essencial saber-se o que o paciente está sentindo e reagir a esses sentimentos com uma
ação apropriada. As comunicações terapêuticas são uma fonte de recuperação, através da
qual os pacientes podem ampliar ao máximo o seu potencial de recuperação.

Os sentimentos de dependência, tão frequentemente apresentados pelos pacientes, são


discutidos e explicados. As enfermeiras precisam tranquilizar os pacientes que se sentem
desamparados e inúteis e comunicar a eles que elas vão cuidar deles até que eles possam
cuidar de si mesmos. Isso é transmitido numa atmosfera que reconhece a dependência,
mas apoia e encoraja o movimento constante em direção à independência.

Os componentes básicos de uma relação de ajuda são apresentados. A equipe de


enfermagem precisa possuir essa capacidade, pois ela é responsável por assegurar um
ambiente de apoio saudável, fortalecedor e estimulante para os pacientes. Reconhecer os
sintomas que indicam que uma outra pessoa está sentindo tensão e mal-estar e possuir a
capacidade de ajudar a expressá-los e explorar a causa e maneiras alternativas para lidar
com a situação são funções importantes do processo de enfermagem. Foram propostas
algumas frases que podem permitir a enfermeira explorar ainda mais com o paciente a
origem e a solução de suas preocupações.

De modificação comportamental, já que, naturalmente, o mesmo pode ser dito de todas as


formas de psicoterapia. Caso o paciente não seja amplamente compreendido pelo
terapeuta, seu caso pode ser aquele em que a remoção dos atuais sintomas o deixará
totalmente vulnerável (sem que o compreenda) à instalação subsequente de outros
sintomas, possivelmente até menos desejáveis.

Em resumo, pode-se dizer que as técnicas de terapia comportamental são nitidamente um


acréscimo de recursos bem-vindo ao equipamento terapêutico. Contudo, é muito
importante que elas sejam utilizadas por um terapeuta que deseje e que seja capaz de
efetuar um minucioso diagnóstico clinico e dinâmico do
paciente.

A FAMÍLIA

A equipe de enfermagem muitas vezes tem sérios


problemas em se relacionar com êxito com a família
do paciente. No passado (e talvez isto ainda exista em certa extensão) era tradicional para
a equipe de enfermagem não dar nenhuma informação sobre o paciente e sua família,
parentes, visitantes e amigos.

Quando alguém pergunta como vai o paciente, a resposta padronizada da enfermeira é


"tão bem quanto se pode esperar", o que não contém nenhuma informação. Às vezes
quando a família persiste em tentar saber como estar o paciente, a enfermeira lhe
aconselhará falar com o médico ou com o assistente social. Na realidade, podem existir
situações que exigem mais conhecimentos ou habilidades do que a enfermeira possui ou
situações com as quais o medico ou o assistente social ou alguém menos envolvido com o
cuidado direto do paciente pode lidar melhor. Contudo, muitas vezes a família está
pedindo alguma palavra de conforto, da enfermeira, para aliviar a sua própria ansiedade,
culpa ou preocupação intensa com o paciente. A enfermeira, para se relacionar bem com a
família, deveria responder à pergunta, e não mandar-lhe falar com outra pessoa ou não
dar resposta alguma, o que só serve para aumentar o seu sentimento de frustração. Às
vezes tudo que se exige da enfermeira é uma simples afirmação de um fato relativo ao
paciente e sua condição, como "Ele dormiu melhor à noite passada", ou "Parece um pouco
inquieto hoje" ou "Seu apetite melhorou". A resposta geralmente não exige uma descrição
detalhada da sua condição médica que a enfermeira não está em condições de dar e que a
família também não espera.

Outro problema com a família se centraliza nas maneiras com que expressa sua
ansiedade, culpa ou preocupação com o paciente, maneiras que podem ser difíceis de lidar
por parte da equipe de enfermagem. Algumas famílias são exigentes e críticas quanto ao
serviço ou cuidado que o paciente está tendo. Alguns suspeitam e desconfiam da equipe
que está cuidando do paciente. Outras são rejeitadoras, negligentes e até abusivas como o
paciente.

Se a enfermeira tomar a atitude da família como dirigida contra ela mesma, ela se sentirá
ferida e zangada, e isto irá interferir em seu relacionamento com eles. Se ela tentar mudar
o seu comportamento por discussões ou críticas, provavelmente fará as coisas se tornarem
piores ao invés de melhores. Se os rejeita, os ignora, lhes dá ordens ou tenta fazer com
que deixem de ver o paciente, sua ansiedade tenderá a crescer e o seu comportamento
piorará.

Para ser bem-sucedida, uma enfermeira tem que tentar aliviar a ansiedade da família, e
assim ajudá-la a compreender a situação do paciente. Pode ser útil explicar o que está
sendo feito pelo paciente e eliciar a sua cooperação. Pode ser útil reconhecer o fato de que
os familiares devem estar preocupados ou alarmados com o paciente. Pode ser útil
permitir-lhes participar dos cuidados do paciente, mostrando-lhes como fazer as coisas
para o paciente ou como ajuda-lo a fazê-los por si mesmo. Pode ser útil incluí-los nos
planos de admissão, tratamento e reabilitação e nos procedimento envolvidos no cuidado
ao paciente.

EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS

A emergência representa a condição mais difícil para a


Psiquiatria e, talvez um teste de sua qualidade.
Primordialmente, é um processo com dois elementos: de um
lado está o sujeito no qual se intervém em e, de outro, aquele
que realiza a intervenção; sua percepção da situação de crise e
a concepção de Psiquiatria. Uma relação que possibilita e
condiciona o resultado final.

O conceito de situação critica não encontra consenso na


literatura em geral, suscitando opiniões divergente, e, por vezes
antagônicas.

Em síntese, existem duas formas de compreensão do


tema, que exibem com clareza a ideologia das quais se
originaram:

1. O Quadro clinico em si requer uma intervenção imediata, da qual derivaram as


seguintes definições;
Considera-se emergência em Psiquiatria toda alteração psíquica que obriga uma
intervenção terapêutica imediata e imprescindível, com a finalidade de evitar sua evolução
danosa tanto individual como socialmente;
Semelhante á antes descrita, porém com a preocupação em diferenciar os termos:
emergência e urgência, que significam, respectivamente, a necessidade de atendimento
imediato a pacientes com quadro clinico instalado e aos que apresentam risco de iminente
instalação.

2. A necessidade de intervenção imediata é caracterizada pelas variantes sociais que em


geral condicionam a tolerância do meio em relação ao indivíduo cujo comportamento se
afasta da norma. Dessa abordagem resultou uma definição que diferencia os termos
urgência, emergência e crise:

a) Urgência: é a situação em que a necessidade de intervenção terapêutica tempestiva e


consequente ao baixo grau de tolerância do meio ao paciente, somada a interpretação
subjetiva do médico, mesmo em aparente estado de tranquilidade clinica. Portanto, o
conceito estreitamente ligado à capacidade do medico em gerir uma situação
psicopatológica, quando dela toma conhecimento;
b) Emergência: representa uma situação na qual o médico é chamado com urgência,
mas a intervenção pode ser executada em tempos sucessivos O elemento psicopatológico
ocupa posição secundária à problemática psicossocial;

c) Crise: um termo trivial no linguajar corrente, conquistou em Psiquiatria um valor


particular. Pode ser considerado como expressão da doença que necessita tratamento
tempestivo, enquanto componente estranho à vivência normal do paciente ou como
momento doloroso, porém útil ao sucessivo crescimento individual.

A crise compreendida como rotura do equilíbrio psíquico, derivada de longo período de


sofrimento, exige intervenção terapêutica urgente antes que a tolerância do ambiente ou
as defesas do indivíduo se esgotem, dando origem a um transtorno mental.
Entendemos que a presteza no atendimento é determinada pela severidade das alterações
psíquicas com risco iminente de instalação e as já em curso. Os fatores sociais
influenciam, mas não determinam a assistência médica e o seu resultado.

HISTÓRICO

A emergência psiquiátrica praticada atualmente originou-se durante a Guerra Russo-


Japonesa (1904-1905). Os psiquiatras da Armada Imperial Russa submetiam a
psicoterapia breve os soldados que, embora fisicamente recuperados, não conseguiam
retomar à frente de batalha.

Aparentemente, a abordagem dos efeitos iatrogênicos produzidos por longos períodos de


convalescença não apenas restauram as funções, mas também reforçava e levava ao
desenvolvimento de atitudes protetoras contra lesões futuras.

Durante os últimos 27 anos, observou-se, um rápido crescimento na instalação e na


utilização dos serviços de emergência psiquiátrica em prontos-socorros gerais. Tais
serviços são a principal porta de acesso aos ambulatórios ou hospitais especializados para
os indivíduos que necessitam de tratamento psiquiátrico.

As decisões tomadas durante o atendimento de emergência determinam o tratamento


subsequente e com freqüência influenciam o curso da alteração ou da doença. Devido ao
papel preponderante que desempenham, tais serviços tornaram-se eficientes e
importantes centros de treinamento de pessoal medico, de enfermagem e de pesquisa.

PRINCIPAIS OBJETIVOS DE UM ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA


1. Estabilização do Quadro;
2. Hipóteses diagnósticas;
3. Exclusão de causa orgânica;
4. Encaminhamento.
1. Estabilização do quadro
Abordagem + Controle (verbal, medicamentoso e físico) simultaneamente – os demais
processos de atendimento vão se desenvolvendo (história, exame do paciente).

2. Hipóteses diagnósticas
Idéia do que está acontecendo: quadro orgânico, psicótico, de humor, de ansiedade, de
personalidade (hipótese provisória) – referência para a condução do atendimento.

3. Exclusão da causa orgânica Exames laboratoriais de imagem Indícios de causa


orgânica:
História do paciente;
Exame físico;
Exame do estado mental (consciência, atenção, sensopercepção, orientação e memória).

4. Encaminhamento
Raramente o atendimento de emergência se encerra em si mesmo. Estabilização do
Quadro + Controle de risco – Sequência do tratamento.

ATITUDES PARA O ATENDIMENTO

• Atitude firme, receptiva e confiável, que permita ao paciente a exposição de seus


problemas;
• Separar o paciente de seus acompanhantes, para obter informes com sigilo;
• Esclarecer para o paciente o nome e a atividade do profissional que o está atendendo,
assim como o objetivo do atendimento logo no inicio;
• Nos casos de agitação psicomotora, medidas de contenção física são aconselhadas.

A contenção física é para o paciente uma experiência muito traumatizante, devendo ser
utilizada somente como última alternativa quando as demais soluções possíveis para evitar
auto e/ou heteroagressão tenham apresentado resultado negativo.

A decisão de recorrer à contensão física é


uma indicação para aumentar e não
diminuir a observação do paciente e seu
tratamento: o significado dessa medida é o
de ajudar o paciente a assumir
gradativamente o autocontrole e a
responsabilidade sobre seus atos.

A contenção mecânica deverá ser realizada


por cinco componentes da enfermagem
que imobilizarão os quatro membros e a cabeça do paciente. Este deverá ser colocado de
preferência em uma cama, caso seja, impossível, em maca, fixando-se os quatro membros
e o tórax através de faixas, que não devem estar apertadas. O paciente deve ser
examinado de 10 em 10 minutos (pulsos, condição ventilatória). Ele jamais deverá ficar só
quando em contenção, e tal situação deverá cessar imediatamente após o término da
agitação psicomotora.
Contenção mecânica
Instrumento importante para o controle de pacientes violentos – quando bem indicada e
conduzida;
Indicações:
- Prevenir danos físicos iminentes à equipe, aos outros pacientes, a si mesmo e também
ao ambiente;
- Diminuir a quantidade de estímulos que o paciente está recebendo;
- Atender a solicitação do paciente.

Técnica de contenção mecânica

Equipe de 5 pessoas – apenas 1 conversa com o paciente; A faixa utilizada deverá ser
de material resistente;
Posição decúbito dorsal e com a cabeça levemente elevada;
Se a contenção for na sala de admissão – revistar o paciente em busca de droga ou
arma; Monitorização frequente em relação ao nível de consciência e aos sinais vitais;
Os motivos e particularidades do procedimento devem ser registrado adequadamente
no prontuário médico;
Assim que o paciente estiver controlado, as faixas devem ser retiradas;
Tranquilização rápida – tratamento farmacológico;
Estabilização do quadro com a terapêutica correta – encaminhamento.

SUICÍDIO: RISCO E TENTATIVA

O suicídio é um dos maiores problemas da saúde pública. Estima-se que, no mundo,


aproximadamente 1.000 pessoas cometam suicídio a cada dia.

O índice de suicídio da população geral é de 10 a 15 por 100.000 habitantes, porém para


os indivíduos que procuram atendimento psiquiátrico de emergência é dez vezes superior.
Sendo assim, a possibilidade de suicídio deve ser considerada em todo paciente
psiquiátrico, cada entrevista necessitando incluir uma avaliação do potencial de risco.

Entende-se por suicídio o ato consciente de induzir a auto aniquilação ou o ato percebido
como a melhor solução por indivíduo carente e acometido de mal-estar multidimensional,
tendo em vista a resolução de problemas ou de crises que, invariavelmente, causam
sofrimento intenso. Nota-se que o suicídio não é um ato fortuito ou sem sentido.

RISCO DE SUICÍDIO

Não é possível prognosticar o suicídio. O


melhor que pode ser feito é identificar os
grupos de risco, abordá-los convenientemente,
trata-los, fazendo assim a prevenção.
Entretanto, há casos em que, apesar de todos
os esforços, não se consegue evitar o suicídio.

Os fatores de risco são significantes apenas


quando avaliados ao contexto da vida de cada indivíduo; isoladamente, não apresentam
qualquer valor preditivo.

São considerados os seguintes itens:


Apresentação
1. Paciente que veio espontaneamente por medo de suas idéias e impulsos suicidas
incontroláveis: altíssimo risco;
2. Paciente trazido à força devido a atos de auto-agressão: alto risco.

Identificação
1. Idade: os idosos suicidam-se com maior freqüência;
2. Sexo: os homens suicidam-se na proporção de 2:1 em relação às mulheres;
3. Raça: os brancos apresentam maior risco;
4. Estado civil: os separados, divorciados e viúvos suicidam-se mais frequentemente que
os casados;
5. Queixa e duração: idéias e impulsos suicidas de inicio recente, declarados de modo
espontâneo em pacientes que se sentem desesperados, com sentimento de inferioridade;
os que apresentam episódio de auto-agressão incontroláveis e indivíduos que já têm
planejada a própria morte e os meios para executar seu plano.
Pacientes que declaram ouvir vozes exigindo auto-aniquilação e aquelas cuja consulta foi
motivada por tentativa de suicídio possuem potencial altíssimo de risco.
6. História da moléstia atual: aparecimento de sintomas agudos ou exacerbação aguda de
sintomas crônicos de doenças que ameaçam a vida, especialmente as causadoras de
sofrimento ou que sejam incapacitantes; perdas afetivas recentes (morte ou abandono);
doenças psíquicas, principalmente, depressão (em geral durante a fase de remissão do
quadro), esquizofrenias (p. ex., na depressão pós-psicótica ou no inicio da doença),
alcoolismo (em pacientes que iniciaram tratamento e estão em abstinência) são indícios de
altíssimo risco.
7. História passada: pessoas que apresentam história de tentativas anteriores têm
altíssimo risco de suicídio completo: cerca de 20 a 60% dos indivíduos que conseguem
suicidar-se já tentaram anteriormente. A segunda tentativa tem alto risco; entretanto, os
pacientes que apresentam muitas tentativas têm baixo risco.
8. História familiar: as idéias e os impulsos suicidas não são herdados, porém história de
suicídio na família (principalmente entre os pais) aumenta o risco de cometê-lo;
9. História social: o isolamento social, os indivíduos que não têm religião, aqueles que não
têm ocupação ou que foram recentemente despedidos do emprego e os que atravessam
por dificuldades financeiras graves com queda acentuada do poder aquisitivo apresentam
alto potencial suicida;
10. Exame psíquico: a literatura refere que os maiores risos de suicídio encontram-se em
indivíduos com depressão, alcoolistas e esquizofrênicos;
11. Exame físico: sinais de doença física em indivíduos depauperados, cicatrizes (pulso e
pescoço) presentes, principalmente se não foram mencionadas antes do exame físico;
12. Resposta à consulta: pacientes não-receptivos e aqueles que não se apresentam
aliviados ou relaxados com diminuição dos sintomas após a entrevista, têm alto risco.

Tratamento Medicamentoso
1. Pacientes ansiosos: benzodiazepínicos por via oral, utilizar somente durante o tempo de
permanência no pronto-socorro.
2. Pacientes com quadro de esquizofrenia: antipsicóticos (haloperidol) por via
intramuscular;
3. Paciente com quadros depressivos: os pacientes com quadros depressivos não
necessitam ser medicados durante atendimento, porque os antidepressivos não
possibilitam alivio imediato da sintomatologia.

TENTATIVA DE SUICÍDIO
O termo tentativa de suicídio é considerado insatisfatório, porque nem sempre há intenção
suicida no ato de auto-aniquilação. Sendo assim, outros termos foram introduzidos para
substitui-lo, tais como auto-envenenamento intencional, parassuicidio, autodestruição
intencional não fatal.

Entretanto, como não conseguiram aceitação geral, o termo tentativa de suicídio continua
sendo empregado e é definido como “qualquer ato de dano a si infligido, com a intenção
de autodestruição”.
Intervenção
O primeiro atendimento ao paciente recém-chegado ao pronto-socorro após tentativa de
suicídio é de ordem clínico-cirúrgica. Á abordagem feita pelo psiquiatra ocorre durante o
restabelecimento físico.

A avaliação do (s) motivo (s) que culminou (aram) na tentativa de suicídio e o exame
psíquico são obrigatórios antes da alta do paciente. Tal procedimento e indispensável
mesmo nos casos em que a motivação para a tentativa foi a manipulação, isto é, o
indivíduo preparou a tentativa e avisou amigos e/ou familiares, apresenta-se aliviado por
não ter sido letal, conseguiu resolver parcialmente a crise, conta com apoio familiar e
também aquele que expressa não ter intenções de cometer novas tentativas.

O paciente que apresenta doença psiquiátrica, principalmente depressão, alcoolismo ou


esquizofrenia, deve ser internado em hospital especializado. Embora muitos médicos e/ou
familiares optem por internação em hospital clínico, este não oferece segurança suficiente
para evitar nova tentativa, geralmente fatal.

Os demais pacientes deverão ser encaminhados para seguimento ou ambulatório


psiquiátrico.

Abordagem Familiar
Os familiares e/ou acompanhantes devem ser alertados sobre a possibilidade de novas
tentativas e quanto à urgência de segmento especializado em hospital ou em ambulatório.

INTOXICAÇÃO E ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL

A síndrome de dependência do álcool ou alcoolismo é um dos maiores problemas da saúde


pública no Brasil, com elevada demanda de atendimento em prontos-socorros.

O atendimento de emergência é realizado devido à síndrome acetoaldeídica, resultante da


interação álcool-dissulfiram, que pode causar a morte do paciente (Ritchie, 1980).

A mídia radiofônica principalmente, mas também a televisiva, veicula propaganda


enganosa sobre o tratamento definitivo do alcoolismo através de medicação, que, quando
adicionada à comida ou suco e consumida pelo alcoolista, tira-lhe a vontade de ingerir
álcool. A família desconhece os efeitos de tal interação e, veladamente, administra o
dissulfiram.

Abordagem do Paciente
O paciente em geral desconhece que está em uso de dissulfiram, porém revela ingestão
recente de bebida alcoólica. Tal informação e quadro clínico que ele apresenta (rubor
facial, pontadas na cabeça e pescoço, cefaléia pulsátil, dificuldade para respirar, náusea,
vômito copioso, sudorese profusa, sede intensa, dor no peito, hipotensão, síncope
ortostática, ansiedade, vertigem, visão borrada e confusão mental) fazem suspeitar da
possibilidade de reação devido a interação álcool-dissulfiram.

O quadro clinico tem inicio 5 a 10 minutos após a ingestão de álcool e dura


aproximadamente 30 minutos (nos casos de gravidade média) e muitas horas (nos casos
severos). Os casos graves podem apresentar marcada depressão respiratória, colapso
cardiovascular, arritmia cardíaca, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva,
coma, convulsões e morte (Ritchie, 1980).

Tratamento
A abordagem é eminentemente clínica, com a manutenção dos parâmetros vitais através
de medidas gerais, por não haver tratamento específico.

Após a recuperação clinica, o paciente deve ser encaminhado ao ambulatório psiquiátrico


para tratamento do alcoolismo, e os familiares devem ser alertados quanto aos riscos da
administração do dissulfiram e sobre a necessidade de tratamento ao alcoolismo.

Intoxicação Alcoólica Aguda

A intoxicação alcoólica aguda apresenta um quadro caracterizado essencialmente por


comportamento inadequado consequente à recente ingestão abusiva de álcool.

Encontram-se basicamente as três situações clínicas abordadas adiante.

Embriagues Superficial ou Bebedeira


O álcool é um depressor do sistema nervoso central, mas seus efeitos iniciais em geral são
vistos como "desinibidores”.

a) Abordagem do paciente: o paciente refere uma sensação subjacente de bem-estar,


ingestão recente de álcool em dosagem excessiva. Apresenta-se expansivo, alegre, ativo,
confiante, loquaz. Às vezes, irrita-se com facilidade e torna-se agressivo, em muitos casos
sendo esses os fatos que motivaram a procura do atendimento.
Deve-se ficar bem evidente que o paciente não consumiu outras drogas e não é portador
de doença física.

b) Tratamento: tratando-se de uma intoxicação leve em indivíduo jovem de bom estado


nutricional, que não esteia em jejum prolongado, sem doença física e/ou psíquica, não há
necessidade de tratamento.

Caso o paciente tenha história de ingestão alcoólica prolongada, jejum referido, estado
nutricional e avaliação laboratorial que demonstram níveis glicêmicos baixos, a utilização
endovenosa de 20ml de glicose a 50% está indicada, devendo ser precedida (30 minutos)
por administração de tiamina, 100mg, (vitamina B1), por via intramuscular.
A administração endovenosa de tiamina é contraindicada pela possibilidade de provocar
choque anafilático.

Após a desintoxicação, o paciente alcoolista dependente deve ser encaminhado para


tratamento especializado; os indivíduos que ocasionalmente ingerem álcool em grandes
quantidades devem ser alertados sobre o risco de óbito.

Os familiares e/ou acompanhantes devem ser alertados para o fato de que, embora as
bebedeiras ocasionais sejam vistas como acontecimentos que fazem parte da vida, podem
causar morte, dependendo da quantidade de álcool ingerido, mesmo em indivíduos jovens
não alcoolistas e sem doença física.

Embriaguez: profunda
A embriaguez profunda é apresentada pelos sinais e sintomas resultantes do efeito
depressor do álcool que foi ingerido em quantidade excessiva pelo paciente no sistema
nervoso central.

a) Abordagem do paciente: o paciente apresenta obnubilação da consciência,


desorientação, pensamento incoerente, acentuada alteração do humor, diminuição da
crítica e diminuição da atenção e do juízo. Observam-se hipoestesia geral, fala pastosa
com disartria e ataxia.

b) Tratamento: o tratamento do estado de embriaguez profunda é o de suporte e


manutenção das condições vitais.
O paciente agressivo deve ser contido fisicamente.

Após a anamnese, o exame psíquico e o exame físico, pode-se realizar a contenção


farmacológica com haloperidol 5mg, por via intramuscular, a cada 60 minutos, até que a
agressividade desapareça. A dosagem máxima permitida é de 45mg em 24 horas.

Coma alcoólico
O coma alcoólico é um quadro gravíssimo resultante de excessivo consumo de álcool.

a) Abordagem do paciente: o paciente apresenta profunda alteração da consciência,


midríase bilateral, respiração estertorosa e lenta, hálito cetônico, arreflexia, hipotermia,
diminuição da freqüência respiratória, e da pressão arterial, abolição da reação a estímulos
dolorosos e retenção ou incontinência urinária.
Deve-se observar se o coma é realmente devido à ingestão abusiva de álcool, porque o
paciente pode estar alcoolizado e o coma ser devido à ingestão de outras drogas ou à
doença orgânica.
b) Tratamento: o paciente em coma deve ser tratado em unidade de terapia intensiva.

Delirium Tremens ou Síndrome de Abstinência com Delirium


a) Conceito: o delirium tremens é o estado no qual o paciente apresenta-se com
rebaixamento de nível de consciência, em geral, após dois ou três dias de interrupção ou
diminuição da ingestão de álcool do qual tinha dependência por longo tempo (5 a 15
anos).

b) Abordagem do paciente: estado de rebaixamento de consciência detectável pela


diminuição da vigilância e da atenção.

Estão presentes as falsas interpretações, ilusões, desorientação temporal e espacial, e a


memória está comprometida. Tais características podem se desenvolver rapidamente
(horas ou dias) e tendem a flutuar no decurso do dia.

Há hiperatividade autonômica com hipertensão arterial, sudorese rubor facial, taquipnéia,


tremores grosseiros irregulares das mãos, da cabeça e do tronco. A presença de
hipertermia aparece em quadros graves de pior prognóstico.

O quadro pode complicar-se com o aparecimento de crises convulsivas.


Infecções (principalmente pneumonia), hipoparatireoidismo, insuficiência cardíaca
congestiva, traumatismo craniano, estado confusional pós-anestésico, tumor cerebral,
embolia gordurosa e pancreatite. As alterações metabólicas são hipóxia, uremia,
hipoglicemia, encefalopatia hepática e intoxicação por água. E a ingestão de drogas como
brometos, esteróides, estimulantes, atropina e psicodislépticos. Ou ainda abstinência de
barbitúricos, tranquilizantes opiáceos.

c) Tratamento: o delirium tremens leva a óbito cerca de 12 a 18% dos pacientes, mesmo
sob tratamento adequado.

Os pacientes devem ser internados e medicados com:


- tiamina e vitamina B1), 100mg, por via intramuscular, durante três dias;
- clordiazepóxido 50 a 100mg, por via oral, a cada hora, até a sedação. Deve-se repetir
se houver necessidade, a dosagem após 4 horas, ou diazepam, 10 a 20mg, por via oral, a
cada hora, até a sedação. Repetir a dosagem após 6 horas, se houver necessidade.

Alucinose Alcoólica
a) Conceito: a alucinose alcoólica é um quadro pouco frequente, sendo caracterizado pela
presença de alucinações; recorrentes ou persistentes que ocorrem com consciência clara,
tendendo a ser auditivas e vividas (ruídos, chiados e vozes) e que se instalam cerca de 48
horas após a interrupção ou a diminuição da ingestão alcoólica, da qual o paciente era
dependente há aproximadamente 10 anos.
b) Abordagem do paciente: o quadro em geral se inicia após 10 anos de ingestão
severa de álcool, quando o indivíduo interrompe ou diminui a ingesta (cerca de 48 após).

Caracteriza-se, em essência, por alucinações recorrentes ou persistentes que ocorrem em


estado de consciência clara. As alucinações são preferencialmente auditivas e vívidas,
sendo referidas ruídos e chiados vindos do exterior da cabeça.

As vozes falam do paciente ou para ele e suas ações são motivadas pelas mesmas. As
vozes insultam e ameaçam o paciente.

As alucinações têm caráter simples e direto, podendo se desenvolver com base nas
mesmas, um sistema de idéias deliróides de conteúdo perscecutório; nesse caso, o
paciente pode ser levado a agredir os supostos perseguidores ou, para fugir da
perseguição, tentar o suicídio.

c) Tratamento: a hospitalização é necessária dependendo dos riscos de homicídio ou


suicídio. O paciente deve ser medicado com haloperidol, 5mg, por via intramuscular, a
cada 60 minutos, até o máximo de 45mg em 24 horas. A maioria dos pacientes recupera-
se após uma semana; uma porcentagem pequena entre eles pode apresentar cronificação
do quadro.

INTOXICAÇÃO E ABSTINÊNCIA DE DROGAS

Os indivíduos que são levados para atendimento em prontos-socorros, em nosso país,


devido à intoxicação ou abstinência de drogas, podem ser classificados em três grupos:
a) estão em coma devido a intoxicação por cocaína ou apresentam quadro psicótico
agitado;
b) estão internados devido a quadros clínicos ou cirúrgicos que apresentam quadro de
abstinência a opiáceos;
c) são pacientes em uso de barbitúricos prescritos de forma lícita como tratamento para
insônia e que aumentaram a dose ou, após longo tempo de uso, interromperam
abruptamente o tratamento.
Entretanto, em contraste com outros países, salientamos que nossos prontos-socorros
apresentam baixíssimos índices de atendimento desses casos.

Em todos os casos em que se suspeite de uso de drogas, deve-se investigar


detalhadamente sobre o que foi utilizado, as vias de administração, e o tempo decorrido
entre a administração ou a interrupção aparecimento dos sintomas. Nos casos de
intoxicação, investigar se houve intenção suicida.

Quadro Psicótico Agitado à intoxicação por Cocaína ou Crack


Abordagem do Paciente
Dificilmente os pacientes referem uso de cocaína ou crack, quando o quadro está
ocorrendo pela segunda vez; entretanto, durante o primeiro episódio, informam sobre o
uso e a via de administração. Apresentam alucinações auditivas, visuais e idéias
delirantes. São acompanhados por efeitos autonômicos simpáticos. O quadro em geral
desaparece após 6 horas da administração, mas, em casos raros, persiste por até uma
semana.

Tratamento
Haloperidol, 5mg, por via intramuscular, de hora em hora até no máximo 45mg em 24
horas.

Abordagem Familiar
Deve-se esclarecer os familiares sobre as condições do paciente e a necessidade de
tratamento em ambulatório especializado após a alta.

Seguimento
Encaminhar, após a alta, para atendimento em ambulatório psiquiátrico.

Quadro de Abstinência a Opiáceos

Abordagem do Paciente
O inicio da síndrome ocorre de 8 a 12 horas após a última dose; no terceiro dia de
abstinência, o quadro atinge sua intensidade máxima.
O quadro clínico inicia pela tentativa de obter a droga (os pacientes pedem remédio à base
de codeína para tosse), aumento da freqüência respiratória, lacrimejamento, bocejo,
rinorréia, tremor, anorexia e irritabilidade.
Após o terceiro dia de abstinência, apresentam insônia, náuseas, diarréia, fraqueza,
câimbras, taquicardias, hipertermia e cólicas abdominais.

Tratamento
Nos casos de ansiedade ou agitação, utilizar benzodiazepínicos, 10 a 30mg por via oral,
por dia. O tratamento da síndrome de abstinência é feito com o paciente internado,
através da substituição da droga usada pela metadona, substância de ação prolongada
que, quando suspensa, produz uma síndrome de menor gravidade.

Quadro de Intoxicação e Abstinência de Barbitúrico

Abordagem do Paciente
Com exceção dos casos de intoxicação com intenção suicida ou os dependentes que
procuram, através do uso, bem-estar, os pacientes contam as seguintes histórias:
a) Intoxicados: vítima de insônia, o paciente procurou atendimento médico, recebendo
um tratamento um barbitúrico (fenobarbital preferencialmente). Como a insônia retornou,
fez uso abusivo agudo para conseguir dormir;
b) abstinentes; uso crônico de barbitúrico para tratamento da insônia: motivado pela
sonolência matutina, resolvem suspender abruptamente a medicação;
c) quadro clinico da intoxicação: é semelhante à intoxicação alcoólica, caracterizada
por desinibição, irritabilidade, prolixidade, labilidade de humor, incoordenação motora,
falhas de atenção e memória, sonolência, nistagmo grosseiro, hiporreflexia e ataxia. Pode
levar ao coma;
d) quadro clínico da abstinência: quadro que cursa desde sinais leves de insônia,
ansiedade e sudorese profusa, evoluindo para quadros mais graves com convulsões do
tipo grande mal e delirium.

Tratamento
O tratamento da intoxicação é eminentemente clínico, considerando os efeitos centrais
desse fármaco. Realizar hemodiálise nos casos em que se instalou o coma.
Em relação aos casos de abstinência, nos casos graves, quando houver convulsões, utilizar
fenobarbital 20mg, por via intramuscular, ou benzodiazepínico, ate 30mg, em 24 horas,
por via endovenosa, se o paciente se apresentar em estado de mal.

Surto Psicótico Agudo

Os indivíduos que procuram os prontos-socorros por apresentarem uma alteração psicótica


aguda necessitam diagnóstico preciso. Isso ocorre porque, tanto nos casos de psicose
funcional como nos de alteração orgânica, serão beneficiados com a instituição de
tratamento correto.

Abordagem do Paciente
Os indivíduos histriônicos, esquizotípicos e personalçidades borderlines, são
particularmente vulneráveis, demonstram habilidade emocional e são vaidosos. O
relacionamento com as demais pessoas é marcado por superficialidade e dependência.
Sob tensão, tais indivíduos tornam-se agudamente ansiosos e apresentam-se no pronto-
socorro com historia de início súbito de comportamento bizarro; postura peculiar,
vestimenta exótica, rápida mudança de humor e comportamento agressivo ou suicida. São
comuns alucinações, delírios, desrealização, fala inarticulada ou repetição de frases sem
sentido, desorientação temporal e alteração de memória.
O diagnóstico está na dependência do reconhecimento das causas psico-sociais que
precipitaram os sintomas psicóticos.

Tratamento
No tratamento medicamentoso, utilizar clorpromazina, 100mg, por via oral ou
levomepromazina 100mg, por via oral.
Quadro Maniforme

Abordagem do Paciente
Em geral, tais pacientes são levados ao pronto-socorro devido a quadro caracterizado por
irritabilidade e heteroagressividade.

Tratamento
Utilizar contenção física se houver necessidade.
No tratamento medicamentoso, utilizar haloperidol, 5mg, por via intramuscular, de hora
em hora, ate 45mg no período de 24 horas.

Quadro Depressivo

Os pacientes levados aos prontos-socorros em quadro depressivo apresentam episódio


depressivo grave com sintomas psicóticos, geralmente agudos. O mesmo é caracterizado
por perda da autoestima, alucinações, idéias delirantes e alto risco para suicídio.

Tratamento
Os pacientes que não apresentarem alterações ou doenças orgânicas deverão ser
internados em hospital psiquiátrico.

DOENÇAS FÍSICAS E ALTERAÇÕES PSÍQUICAS

A literatura especializada em atendimento de emergência refere que 50% dos pacientes


atendidos em prontos-socorros apresentam quadros psíquicos induzidos por alterações
orgânicas.

Delirium (Quadro Confusional)

O quadro de delirium inclui um amplo espectro de alterações clínicas, porém a


característica mais proeminente é a alteração do nível da consciência. Devido a essa
alteração, o paciente apresenta-se com alteração do pensamento incoerente, alteração do
comportamento, prejuízo da memória e orientação, ilusões e alucinações (alucinose),
ansiedade, depressão, irritabilidade aumentada, além de sentir-se eufórico ou apático.

Abordagem do Paciente
O quadro delirium caracteriza-se por aparecimento agudo, marcado por intervalos de
lucidez, mais comuns durante o dia e estado confusional noturno.
Em geral o quadro desaparece com o tratamento do agente causal, porém pode evoluir
para demência ou morte se causa persistir.

Tratamento
O tratamento é eminentemente clinico. Os quadros de agitação são medicados com
haloperidol 2 a 5mg, por via intramuscular, até o máximo de 15mg em 24 horas.

Demência

A demência caracteriza-se por alteração da memória, em particular da evocação, as


funções cognitivas são atingidas primeiramente, seguidas pela deterioração do controle
emocional, do comportamento social e da motivação.

Abordagem do Paciente
Os pacientes são levados para o pronto-socorro devido a quadros de agitação, confusão
mental e/ou alterações do comportamento.

Tratamento
O tratamento dos quadros demenciais, se for possível, envolve a correção das causas
orgânicas. Os quadros de agitação serão medicados com haloperidol, 5mg, por via
intramuscular de hora em hora, até 30mg em período de 24 horas. As dosagens para os
pacientes com idade superior a 60 anos são inferiores às indicadas aos demais pacientes
devido aos eleitos colaterais.

ALTERAÇÕES ORGÂNICAS QUE APRESENTAM SINTOMAS PSÍQUICOS SEM


ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA

Ocasionalmente, as alterações psíquicas causadas por distúrbios orgânicos ocorrem sem


transtorno do nível de consciência: alucinose, delírios, episódios depressivos ou maníacos,
alteração da personalidade e quadros ansiosos.
Esses quadros são facilmente diagnosticados quando examinados com cuidado.

Tratamento
O tratamento envolve a correção das causas orgânicas.
O Paciente Ansioso
Em geral, os pacientes que chegam ao pronto-socorro apresentam-se apreensivos,
cabendo ao médico diferenciar a ansiedade patológica da conseqüente a outras alterações.
A ansiedade é uma sensação de apreensão difusa e medo, na maioria das vezes descrita
através de linguagem vaga, como dificuldade de concentração, nervosismo, tensão,
irritabilidade aumentada e com uma grande variedade de sintomas físicos. É importante
salientar que ela é um sintoma e não uma doença: além da ansiedade primária, existem
causas funcionais e doenças físicas que podem provocar seu aparecimento.

Principais Patologias Psiquiátricas nas quais a Ansiedade é o Fenômeno Central

Síndrome de Hiperventilação

a) Abordagem do paciente; a síndrome de hiperventilação caracteriza-se por


respiração, superficial, tonturas, dor precordial, tremores e ansiedade, formigamento das
extremidades, contrações tetânicas e até convulsões.
b) Tratamento: explicar para o paciente que a respiração rápida e superficial prolongada
leva a alcalose respiratória devido à diminuição do bicabornato plasmático. Isso leva ao
aparecimento da tontura, sudorese, dispnéia e pressão precordial. Tal fato produz a
necessidade de respirar, o que, por sua vez, faz com que surja o formigamento das
extremidades, as contrações tetânicas e as convulsões. Sendo assim é importante:

Fazer com que o paciente respire dentro de um saco de papel, durante alguns minutos;
Ensinar como prevenir ataques futuros;
Após a melhora do quadro, fazer com que o paciente hiperventile, provando assim, que
a causa dos sintomas é hiperventilação;
Investigar problemas psicológicos.

Transtorno de Pânico

a) Abordagem do paciente: adulto jovem sem antecedentes neuróticos e fatores


precipitantes apresentando quadro de inicio abrupto. O transtorno de pânico caracteriza-se
por crise aguda e intensa de ansiedade, com uma série de manifestações físicas (dispnéia,
enjôo, palpitações, taquicardia e tremor).
b) Tratamento: medicar com benzodiazepínicos, 10mg, por via oral.

O Paciente Agressivo

A literatura refere que aproximadamente 30 a 42% dos pacientes atendidos em pronto-


socorro são agressivos.

Abordagem do Paciente
Para avaliar o grau de periculosidade de um individuo não basta entrevistar os familiares
e/ou as vítimas de sua agressão: é indispensável examiná-lo.
Através da observação do comportamento do paciente (fala, atividade motora, respostas
abruptas e agressivas e postura ameaçadora), o médico decidira quanto à necessidade de
contenção mecânica. Esta é realizada por cinco componentes da enfermagem que
imobilizarão os quatro membros e cabeça do paciente, que deverá ser colocado
preferencialmente em uma cama. Caso isso não seja possível, colocá-lo em uma maca,
fixando-se os quatro membros e o tórax através de faixas.
Em situações em que se julgue dispensável a contenção mecânica, deve-se tomar medidas
de autoproteção antes e durante o exame:

 Retirar do local de exame do paciente tudo o que possa ser usado como objeto de
agressão;
 Nunca ficar de costas para o paciente;
 Durante a entrevista, a porta permanecerá aberta: a saída da sala deve ser fácil em
caso de tentativa de agressão infringida por paciente;
 Deve-se tocar o alarme ou pedir ajuda sempre que se faça necessário;
 Não se deve executar movimentos bruscos;
 Cumprimentar o paciente, dando-lhe a mão; dizer-lhe para sentar-se e sentar-se em
seguida;
 Deve-se falar com o paciente de maneira segura, calma e demonstrar interesse em
entender e tratá-lo.

Alcoolista
• Em estado de intoxicação;
• Em abstinência por estar em tratamento.

Fármaco dependente
• Em estado de intoxicação;
• Em abstinência por estar em tratamento;
• Os que tentam manipular os médicos para obter receitas e não conseguem.

Alterações de Personalidade sob Efeito de Álcool ou Drogas Principalmente


• Anti-social;
• Borderline
• Paranóide

Paciente com Doenças Orgânicas


• Principalmente em delirium;
• Com distúrbios eletrolíticos ou anemia;
• Paciente demenciado;
• Lesionado cerebral;
• Epiléptico.

Paciente com Psicose Esquizofrênica


• Paranóide;
• Catatônico (em excitação);
• Crônicos que, por problemas socais, tenta internar-se e não consegue.

Deprimido Grave
• Com alto risco de homicídio e suicídio.

Paciente Maníaco e Paciente Ansioso


• Estado ansioso;
• Estados de pânico;
• Fóbico;
• Obsessivo-compulsivo;
• Conversão histérica ou quando se sente mal atendido, tanto pela demora no
atendimento como por sentir-se contrariado em seus objetivos.
Os quadros de agressividade intensa são mais frequentes em homens, adultos jovens, de
classe social de baixíssimo poder aquisitivo, moradores em favelas de áreas urbanas.

Tratamento
Crises de Ansiedade
• Benzodiazepínicos, 10mg, por via oral, até 30mg em 24 horas;
• Nos quadros conversivos, utilizar abordagem verbal.

Epilépticos
• Benzodiazepínicos, 10mg, por via endovenosa, se em crise convulsiva; em estado pós-
critico, por via oral, até 30mg em 24 horas.

Quadros de Agressão em Pacientes idosos


• Haloperidol, 2,5mg, por via intramuscular (meia ampola), até 20mg em 24 horas.

Quadros de Agressão em Pacientes Jovens


• Haloperidol, 5mg, por via intramuscular, de 30 em 30 minutos, até 45mg em 24 horas;
• A internação é obrigatória nesses quadros.

Abordagem Familiar
Reduzir a ansiedade apresentada por familiares e acompanhantes, através do
esclarecimento das causas do quadro agressivo.
Qualquer situação de natureza psiquiátrica em que exista um risco significativo (vida) para
o paciente (cliente) ou para outros, necessitando de uma intervenção terapêutica
imediata.
Paciente psicótico
Reconhece-se um prejuízo grosseiro no contato com a realidade, manifestado em uma
percepção inadequada e persistente do mundo externo (alucinações e delírios), com
ausência de juízo crítico ou com conduta intensamente desorganizada.
Manejo
 Atenção às possíveis interpretações delirantes do
próprio papel do médico, dos objetivos das perguntas
feitas e da conduta;
 Linguagem clara e frases curtas, explicando na
medida do possível os procedimentos a serem
realizados e o fato de que tudo está sendo feito para
ajudá-lo;
 Entrevista com a família – esclarecer a extensão do
problema, o comprometimento funcional do paciente, os riscos existentes.

Principais dificuldades
Não adesão ao tratamento farmacológico; Falta de crítica;
Falta de suporte familiar e social; Agitação motora.
Atitudes alucinatórias – inquietação.

Possíveis agressões
Geralmente mais voltadas aos familiares;
Geralmente para se defender (delírio) –
Internação/encaminhamento

Paciente violento
Pacientes podem estar violentos por muitas causas e
razões – tentar determinar a causa (relação com o
contexto em que se expressa) – tratamento.

Situações mais comuns:


 Transtornos mentais – delirium e intoxicação/abstinência de drogas;
 Transtornos cerebrais – epilepsia (alterações dos lobos frontal e temporal);
 Transtornos de personalidade – antissocial, paranóide e borderline;
 Transtornos psicóticos – esquizofrenia, psicose puerperal

Preditores de comportamento violento


O próprio comportamento do paciente durante a consulta;
História de consumo de álcool ou drogas excessivos;
Histórias de atos violentos;
História de abuso na infância;
Baixa tolerância a frustrações, baixa autoestima, impulsividade.

Manejo
 Deixar o paciente falar livremente, sem pressioná-lo com muitas perguntas;
 Não ser confrontativo e nem negar a gravidade da situação;
 Deve-se ser claro, firme e conciso nas suas intervenções, mover-se calmamente e
manter suas mãos em local visível pelo paciente;
 Não tocar o paciente ou realizar movimentos bruscos.

Paciente ansioso
Fundamental – boa relação profissional/paciente (norteia o diagnóstico e manejo);
A entrevista não precisa ser longa e detalhada;
Ter uma postura de interesse e respeito pelas queixas do paciente, tendo sempre em
mente que os sintomas da ansiedade são sempre involuntários;
Após escutar a descrição dos sintomas mapear;
Histórias das manifestações psicológicas e fisiológicas da ansiedade;
Evento que precedeu essa manifestação;
Uso de álcool ou droga;
História familiar de doença mental;
Vínculo afetivo, profissional e social;
Internação;
Estimular o paciente a falar.

Ataque do pânico
Extremamente comuns nas emergências (cardiologia);
Sensações de palpitações, falta de ar, sudorese, náusea, sensação de morte iminente ou
perda de controle;
Tendem a desaparecer em no máximo 1h

Indicações de internação psiquiátrica


Risco de suicídio;
Risco de agressão; Risco de homicídio; Autonegligência grave;
Patologia de difícil controle em ambulatório; Paciente sem suporte familiar;
Piora dos sintomas.

PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE MENTAL

Prevenção em Saúde Mental costuma ser um assunto bastante delicado.


Até onde estaremos ajudando o indivíduo a evitar um sofrimento mental e até onde
estaremos querendo que todos sejam iguais, como “robozinhos”, com atitudes e
comportamentos previsíveis?
Esta é uma pergunta que deve permanecer sempre em nossa mente ao pensarmos em
ações de prevenção, a fim de que estejamos avaliando nossos objetivos.

Cada pessoa tem uma forma de ser, de agir, de


estar no mundo. Uns são mais alegres e
expansivos; outros, mais sérios e fechados; uns
mais responsáveis; outros, mais “cabeça fresca”;
uns vêem o mundo de forma mais simples;
outros, de forma mais complicada. As mudanças
que se processam nas pessoas no dia-a-dia são
resultado das interações e negociações que
fazem com outras pessoas e circunstâncias.

Não se pode pensar numa ação preventiva de Saúde Mental compulsória, onde se
estabeleçam normas de como deve ser o sujeito mentalmente saudável e se estabeleçam
programas com esse fim. Isso seria utilizar a Saúde Mental em favor de todo um sistema
político-social no qual vivemos, ajudando-o a excluir os que não estão dentro da norma.
Isso não seria saúde... muito menos mental.

Fica assim claro que, em Psiquiatria, ou melhor, em Saúde Mental, são possíveis ações de
prevenção e promoção. Entretanto estas ações se dar em torno de melhorar as condições
de atendimento com medidas tais como:
 Aumentar o número de unidades ambulatoriais de atendimento;
 Capacitar melhor os profissionais, a fim de que possam, inclusive, fazer menor número
de prescrições medicamentosas;
 Oferecer uma abordagem multidisciplinar; e oferecer maior facilidade de acesso a quem
necessite de ajuda psicoterápica.

É verdade que, se lembrarmos que a atuação em Saúde Mental não está restrita à
Psiquiatria, mas permeia outros setores, poderemos pensar em outras formas de
prevenção e promoção. Atuar em áreas onde a crise está acontecendo, como oferecer
atendimento adequado à mãe que acaba de dar a luz a um natimorto, ou ao paciente que
acaba de receber a notícia de uma doença grave ou de uma cirurgia mutiladora são
exemplos de ações de promoção e prevenção em Saúde Mental.

Também podemos pensar em todas as ações informativas (como palestras, grupos de


reflexão) que podem se dar dentro do hospital ou posto de saúde, ou fora deles, como em
comunidades, escolas, empresas etc.
Assim, pensar em prevenção em Saúde Mental é ainda um desafio, seja porque muito se
tem a fazer, seja porque, ao programar alguma ação, temos que ter o tempo todo em
mente a quem estaremos favorecendo.

O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM E A (SUA PRÓPRIA) SAÚDE MENTAL

Além de todos os conhecimentos próprios da sua área de atuação, o profissional de


enfermagem precisa estar atento para o seu estado interno, isto é, como vem se sentindo,
como anda sua relação com os colegas de trabalho, com os pacientes, seus
relacionamentos fora do trabalho, pois quando trabalhamos com Saúde Mental nós
mesmos passamos a ser nosso mais importante instrumento de trabalho.

Como é que podemos saber como vamos nós,


enquanto “instrumentos de trabalho”?
Estando atentos para nós mesmos e para o
retorno que outras pessoas nos dão. Estando
atentos para a maneira como nos sentimos
com cada pessoa, não achando sempre, por
exemplo, que se nos sentimos irritados com
tal paciente é porque ele é que é difícil ou
chato, mas tentar perceber o que se passa
conosco. Nesse sentido, as reuniões com a
equipe podem ser um bom momento de auto
avaliação, se for criado o “clima” adequado para isso (com o objetivo voltado para a
integração da equipe e para a qualidade do atendimento, e não para a competitividade e
comparações improdutivas).

Além disso, podemos perceber em nós mesmos os sinais de que as coisas estão mais ou
menos equilibradas ou de que não vão tão bem assim. Todos nós passamos por períodos
de sofrimento, algumas vezes conseguindo lidar com eles, outras vezes precisando de
ajuda. Nesses momentos, é natural que apareçam sintomas como ansiedade, dores ou
doenças orgânicas, falta de ânimo ou outros. Mas se percebemos que se tornam muito
prolongados, devemos buscar ajuda–se for o caso, profissional.

Dentre os fatores causadores destes sintomas, encontramos facilmente o estresse. Além


de todo o estresse do dia-a-dia, o auxiliar de enfermagem que trabalha com Saúde Mental
está sujeito a um fator de estresse adicional, que é o fato de lidar frequentemente com
pessoas portadoras de transtorno mental, que além de solicitarem muito de nossas
energias ainda “mexem” com coisas mal resolvidas em nossas vidas, pois todos somos
humanos e, no contato com o outro, sempre descobrimos muitos pontos em comum.
Talvez algumas “dicas” possam fazer com que você reflita e consiga algumas mudanças
que podem reduzir o nível de estresse a que você se expõe. Embora sejam para seu uso
pessoal, podem colaborar para o seu desempenho profissional:

! Procure ser cooperativo - Perceber que trabalhamos (e vivemos!) junto de outras


pessoas e que elas são tão importantes quanto nós, ajuda a estabelecer um clima de
cooperação.
! Ouça as razões do outro e expresse as suas - Evitar acumular mágoas e mal
entendidos diminui em muito a carga de tensão que temos que carregar.
! Não “empaque” diante dos problemas - Ao invés de ficar se queixando da vida
(ainda que seja só em pensamento), tome uma atitude, mude algo que esteja ao seu
alcance. Pode não resolver todo o problema, mas uma mudança sempre nos dá uma nova
visão do problema.
! Reconheça e aceite os seus limites - Você não pode resolver tudo, sempre. Diante de
algo que está fora do seu alcance, aprenda a aguardar. Diante de uma tarefa muito
grande, aprenda a e a pedir ajuda.
! Fale de você, compartilhe seu estresse - Falar sobre o problema nos ajuda a pensar
melhor sobre ele, alivia e acalma. Procure alguém de sua confiança ou um profissional, se
você achar seu problema é muito grave.
! Cuide de você mesmo - Reserve um tempo para fazer o que você gosta. Pode ser que
nem sempre você consiga fazer tudo exercícios físicos (caminhar é grátis e é ótimo),
melhore sua alimentação, evite álcool, cigarros, meios inadequados de baixar a ansiedade.
Medicações psicoativas? Só depois de uma boa avaliação médica.
! Comemore cada vitória - Não fique esperando o ideal de sua vida para ser feliz.
Procure perceber as pequenas vitórias e alegrar-se com elas. Com isso você se dá
pequenas “folgas” no estresse diário.

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA

Junto com o tratamento de emergência que segue as normas de preservação das funções
vitais do homem, é útil realizar uma avaliação padronizada e inicial do estado psíquico de
cada cliente.

A enfermagem deve estar preparada para dar início a esta avaliação, já que é responsável,
em casos de agitação psicomotora, por técnicas de contenção, sejam medicamentosas ou
físicas, nas quais o contato físico é inevitável. Além disso, geralmente é este grupo que
circula com o paciente nas dependências da unidade hospitalar, quando este submete-se a
exames complementares.
Geralmente os pacientes agitados portadores de transtornos mentais são excessivamente
sedados, e podem necessitar emergencialmente de proteção de vias aéreas por conta dos
riscos de depressão respiratória.

Por outro lado, quando recebem medicações psicoativas, a despeito de terem se


alimentado, correm o risco de broncoaspirar, se não forem colocados em decúbito dorsal
ou com a cabeceira elevada e a cabeça lateralizada. Outra preocupação é com os sinais
vitais, pois alguns psicofármacos podem ocasionar diminuição da pressão arterial.

Essas precauções de segurança, fruto da avaliação primária, evitam agravos e


complicações administrativas.

A avaliação primária realizada pela equipe de enfermagem nas emergências psiquiátricas


deve ter como base questionamentos e observações que sirvam como instrumentos do
cuidar, considerando os seguintes aspectos:

! Aparência - O paciente está extremamente limpo, sujo, agitado, calado? Olha nos olhos
das pessoas que conversam com ele? A atividade psicomotora está aumentada, diminuída
ou assume posturas bizarras. Está cheirando a álcool ou tem as pupilas dilatadas
(midríase) por uso de cocaína ou anfetaminas? Interage com aqueles que lhe trouxeram à
emergência ou recusa a presença destas pessoas?
! Consciência - Está confuso e/ou sonolento? Compreende o que está se passando ao
redor? Apresenta distúrbios neuropsicológicos como linguagem, memória e atenção
prejudicadas? Conhece as pessoas que lhe trouxeram?
! Pensamento - Pensa e fala muito rápido, como em quadros de mania, ansiedade,
intoxicações? Está com pensamento lento, como em depressão? É estranho e
incompreensível, como em psicoses? Vê vultos, insetos nas paredes, como no caso de
Delirium tremens? Escuta vozes, como na esquizofrenia? Pensa que alguém quer lhe tirar
a vida ou quer lhe prejudicar, como nas paranóias?
! Humor e afetividade - Está profundamente triste, eufórico ou normal? De repente se
irrita com qualquer coisa? Apresenta idéias suicidas ou homicidas? Mostra-se indiferente
afetivamente?
! Julgamento e crítica - Demonstra bom senso em suas idéias? Entende os
procedimentos que estão sendo realizados pela equipe de saúde? Admite ter um problema
psiquiátrico ou culpa outra pessoa por suas dificuldades? Percebe que está doente?

Depois desta avaliação, a equipe de enfermagem estará mais segura administrar os


medicamentos orais/parenterais e monitorar as reações adversas. Além disso, o diálogo
com o paciente é sempre o melhor meio para estabelecer uma relação de confiança,
mesmo quando este necessitar de contenção e restrição no leito.
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