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M515a
Fisiologia - Módulo 03 / Organizador: Ilson Meireles Neto.– 1. ed.– Salvador, BA :
Editora Sanar, 2021. 224 p. 17x24 cm. (Coleção Super Material)..;
17x24 cm. (Coleção Super Material).
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-89822-08-0
1. Fisiologia. 2. Medicina. 3. Sanarflix. 4. Super Material. I. Título. II. Assunto. III.
Meireles Neto, Ilson.
CDD 612
CDU 612.53
Revisores
AMANDA RISTOW REINERT
Graduação em Medicina pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA)
1. FUNÇÃO SECRETORA DO
TRATO GASTROINTESTINAL
O trato gastrointestinal apresenta quatro processos
básicos: motilidade, secreção, digestão, absorção
intestinal e exceção.
A secreção é a adição de líquidos, enzimas e muco ao
lúmen do Trato Gastrointestinal (TGI). Essas secreções são
produzidas pelas glândulas salivares (saliva), células da
mucosa gástrica (secreção gástrica), células exócrinas do
pâncreas (secreção pancreática) e pelo fígado (bile).
Em todo o trato gastrointestinal as glândulas secretoras
servem a duas funções primárias: primeira, produção de
enzimas digestivas que são secretadas na maioria das áreas
do trato alimentar; segundo, lugar, glândulas mucosas,
desde a boca até o ânus, proveem muco para lubrificar e
proteger todas as partes do trato alimentar.
Em relação às enzimas digestivas, a maioria é formada
apenas em resposta à presença de alimento no trato
alimentar, e a quantidade secretada também é proporcional
à quantidade de alimento a ser digerido. A presença
mecânica do alimento é o que gera o estímulo à produção
das secreções e ativa o sistema nervoso entérico através de
três mecanismos: estimulação tátil, irritação química e
distensão da parede do TGI.
2. SECREÇÃO SALIVAR
A saliva é um líquido que contêm eletrólitos e solutos
orgânicos, secretados pelas glândulas salivares. As principais
glândulas salivares são as parótidas, submandibulares e
sublinguais, cada uma tendo seu par. A secreção diária de
saliva normalmente é de 800 a 1.500 mL, com valor médio
de 1.000 mL.
As funções da saliva incluem a digestão inicial do
amido e dos lipídios pelas enzimas salivares, diluição e
tamponamento do alimento ingerido, lubrificação do
alimento para facilitar seu movimento pelo esôfago, ação
antibacteriana por íons tiocianato e lisozima, além de
participar da gustação, uma vez que a solubilização dos
alimentos estimula as papilas gustativas.
Lançado no lúmen na
forma de proenzima,
sendo hidrolisada a
pepsina em pH < 5. A
Pepsinogênio Células principais
pepsina hidrolisa
ligações no interior
de cadeias
polipeptídicas.
Lançada no lúmen
Células específicas gástrico na forma
Lipase gástrica das glândulas ativa. Hidrolisa
gástricas triacilgliceróis em
meio ácido.
Célula que
Componente Função
produz
Forma a barreira
mucosa gástrica que
protege mecânica e
Muco Células superficiais quimicamente a
superfície interna do
estômago contra o
HCl e a pepsina.
Tampona o HCl e
3-
Células superficiais
HCO protege a mucosa
mucosas
gástrica.
Estimula a secreção
de HCl pelas células
parietais e tem efeito
Gastrina Células G trófico sobre a
mucosa gástrica,
estimulando seu
crescimento.
Regula a secreção do
Somatostatina Células D
HCl, inibindo-a.
Necessário para a
absorção da vitamina
Fator intrínseco Células parietais B12. É a única função
essencial do
estômago.
Figura 5. Secreção de HCl pela célula gástrica parietal. Fonte: Autoria própria
Mastigação
Na cavidade oral o alimento é reduzido a pequenas
porções pelos dentes e lubrificado pela saliva. Os dentes
anteriores (incisivos) possibilitam a ação de cortar, e os
posteriores (molares), ação de trituração. A redução do
tamanho das partículas de alimento facilita a deglutição.
Durante a mastigação, a mistura do alimento com a saliva
inicia o processo de hidrólise dos carboidratos pela ptialina.
Grande parte do processo de mastigação é causada pelo
reflexo de mastigação. A presença de bolo alimentar na
boca primeiro desencadeia a inibição reflexa dos músculos
da mastigação, permitindo que a mandíbula inferior se
abaixe. Isso inicia o reflexo de estiramento dos músculos
mandibulares, que leva à contração reflexa, o que,
automaticamente, eleva a mandíbula. Esse processo é
repetido continuamente.
Deglutição
A deglutição é a passagem do bolo alimentar da boca
para o estômago através do esôfago. É um ato
parcialmente voluntário e parcialmente reflexo, que
ocorre em frações de segundos. O esôfago é um tubo
muscular, com cerca de 15 cm de comprimento, que se
estende da orofaringe até o estômago, atravessando o tórax
e penetrando no abdome pelo hiato diafragmático. No seu
terço superior a musculatura é estriada, enquanto nos 2
terços inferiores a musculatura é lisa. O esôfago se
comunica com a orofaringe pelo esfíncter esofagiano
superior (EES) ou cricofaríngeo (um espessamento da
musculatura estriada do músculo cricofaríngeo). Na sua
porção inferior, o esôfago se comunica com o estômago
através do esfíncter esofagiano inferior (EEI).
Nos períodos interdigestivos, o esôfago é flácido e a
pressão interna na sua porção torácica é igual à torácica. A
pressão do EES é de cerca de 40 mmHg superior à do
esôfago torácico e a do EEI aproximadamente 30 mmHg
superior. Esses esfíncteres funcionam como barreiras,
prevenindo na porção superior a entrada de ar para o
esôfago e na porção distal o refluxo gástrico.
A fase reflexa da deglutição é controlada pelo centro da
deglutição, localizado no bulbo e porção posterior da ponte,
no tronco cerebral. Essa fase compreende uma sequência
ordenada de eventos, que propelem o bolo alimentar da
orofaringe ao estômago, com inibição da respiração. O
processo da deglutição é compostopor 3 fases: oral
(voluntária), faríngea e esofágica (reflexas).
1. INTRODUÇÃO
Os principais alimentos que sustentam a vida do corpo
podem ser classificados como carboidratos, gorduras e
proteínas, conhecidos também como os macronutrientes
orgânicos. Em termos gerais, esses alimentos não podem
ser absorvidos em suas formas naturais por meio da mucosa
gastrointestinal e, por essa razão, são inúteis como
nutrientes caso não haja digestão preliminar.
A digestão e a absorção são as principais funções do trato
gastrointestinal. A digestão é a degradação química dos
alimentos ingeridos até moléculas absorvíveis, e é efetuada
pelas enzimas do trato gastrointestinal (TGI). Estas são
hidrolases, que catalisam a adição de moléculas de água
aos nutrientes, que geram, por consequência, moléculas
menores e absorvíveis.
Essas hidrolases, que são enzimas secretadas no lúmen do
sistema digestório, denominam-se enzimas luminais,
enzimas que compõem o suco salivar, gástrico e
pancreáticos; e as sintetizadas nos enterócitos e
incorporadas às suas membranas luminais como proteínas
integrais são as enzimas da borda em escova, presentes
na membrana apical do epitélio intestinal. As atividades
destas enzimas digestivas são facilitadas pela secreção de
água e íons para o lúmen do TGI. Resultam dos processos de
digestão: monômeros, dímeros e trímeros, absorvidos
através do epitélio do delgado.
Os processos hidrolíticos ocorrem nas seguintes porções
do sistema digestório: cavidade oral, estômago, duodeno
(onde são predominantes) e nas porções proximais do íleo. O
cólon não apresenta enzimas luminais e da borda em
escova.
Digestão de Carboidratos
Os carboidratos da dieta são compostos por várias
classes moleculares diferentes. O amido, o primeiro deles, é
a mistura de polímeros de glicose, retos e ramificados. Os
polímeros de cadeias retas são chamados amilose, e as
moléculas de cadeia ramificada são chamadas de
amilopectina. O amido é fonte particularmente importante
de calorias, em especial nos países em desenvolvimento, e é
encontrado, predominantemente, em cereais. Os
dissacarídeos são a segunda classe de carboidratos , que
inclui a sacarose ou sucrose (consistindo em glicose e
frutose) e a lactose (consistindo em glicose e galactose), e
que é importante fonte calórica para as crianças. Todavia, é
princípio-chave que o intestino só pode absorver
monossacarídeos, ou seja, a glicose, galactose ou frutose.
Além disso, muitos itens alimentares de origem vegetal
contêm fibras dietéticas, que consistem em polímeros de
carboidratos que não podem ser digeridos pelas enzimas
humanas. Esses polímeros são digeridos por bactérias
presentes no lúmen colônico, permitindo, dessa forma,
recuperar os valores calóricos.
Quando o alimento é mastigado, ele se mistura com a
saliva, contendo a enzima digestiva amilase salivar ou
ptialina, secretada, em sua maior parte, pelas glândulas
parótidas. Essa enzima hidrolisa o amido no dissacarídeo
maltose em outros pequenos polímeros de glicose, contendo
três a nove moléculas de glicose. O alimento, porém,
permanece na boca apenas por curto período de tempo, de
modo que não mais do que 5% dos amidos terão sido
hidrolisados até a deglutição do alimento. Entretanto, a
digestão do amido continua no corpo e no fundo do
estômago por até 1 hora, antes de o alimento ser misturado
às secreções gástricas. Então, a atividade da amilase salivar
é bloqueada pelo ácido das secreções gástricas, já que a
amilase é essencialmente inativa como enzima, quando o pH
do meio cai abaixo de 4,0. Contudo, em média, antes de o
alimento e a saliva estarem completamente misturados com
as secreções gástricas, até 30% a 40% dos amidos terão
sido hidrolisados para formar maltose.
A secreção pancreática, como a saliva, contêm grande
quantidade de α-amilase, também conhecida como amilase
pancreática, que é quase idêntica em termos de função à
α-amilase da saliva, mas muitas vezes mais potente.
Portanto, 15 a 30 minutos depois de o quimo ser transferido
do estômago para o duodeno e misturar-se com o suco
pancreático, praticamente todos os carboidratos terão sido
digeridos.
Em geral, após ação da amilase pancreática os
carboidratos são quase totalmente convertidos em
oligômeros curtos de glicose, incluindo dímeros (maltose) e
trímeros (maltotriose), bem como estruturas ramificadas
mais simples, que são chamadas dextrinas α-limitadas,
antes de passar além do duodeno ou do jejuno superior.Os
enterócitos que revestem as vilosidades do intestino delgado
contêm quatro enzimas (lactase, sacarose, maltase e α-
dextrinase), que são capazes de clivar os dissacarídeos
lactose, sacarose e maltose, mais outros pequenos polímeros
de glicose nos seus monossacarídeos constituintes. Essas
enzimas ficam localizadas nos enterócitos que forram a
borda em escova das microvilosidades intestinais, de
maneira que os dissacarídeos são digeridos quando entram
em contato com esses enterócitos.
A lactose se divide em molécula de galactose e em
molécula de glicose. A sacarose se divide em molécula de
frutose e molécula de glicose. A maltose e outros polímeros
pequenos de glicose se dividem em múltiplas moléculas de
glicose. Assim, os produtos finais da digestão dos
carboidratos são todos monossacarídeos hidrossolúveis
absorvidos imediatamente para a circulação portal.
Na dieta comum, contendo muito mais amidos do que
todos os outros carboidratos combinados, a glicose
representa mais de 80% dos produtos finais da digestão de
carboidratos, enquanto a fração de galactose ou frutose
raramente ultrapassa 10%.
Saiba mais! A intolerância à lactose é uma
doença que pode ser congênita, acometendo
recém-nascidos, ou ser programada
geneticamente, induzindo diminuição ou
desaparecimento total da lactase da borda em
escova após o desmame. Predomina em negros
e asiáticos, ocorrendo, em menor proporção, em
populações brancas. Sua frequência é alta na
população brasileira, provavelmente devido à
miscigenação.
Digestão de proteínas
Os processos de digestão proteica luminal podem ser
divididos nas fases gástrica e intestinal (ou
pancreática), segundo os locais de origem das enzimas
proteolíticas.
Na fase gástrica, a hidrólise proteica ocorre pelas
pepsinas e pela presença do HCl, o qual confere um pH
adequado para a ativação do pepsinogênio à pepsina.
A pepsina consiste em uma endopeptidase que hidrolisa
proteínas nas ligações peptídicas formadas por aminogrupos
de ácidos aromáticos, como a fenilalanina, a tirosina e o
triptofano, originando oligopeptídeos, e não aminoácidos
livres. Ela tem capacidade para digerir o colágeno, que é
pouco hidrolisado por outras enzimas proteolíticas. A
digestão do colágeno pela pepsina facilita a penetração de
outras enzimas proteolíticas nos tecidos a serem digeridos.
Cerca de 10 a 15% das proteínas da ingesta são hidrolisadas
pela pepsina, resultando oligopeptídeos. A ação proteolítica
da pepsina não é, porém, essencial; a sua importância reside
na ação dos oligopeptídeos hidrolisados, que estimulam
tanto a secreção de gastrina pelo estômago como a de
colecistocinina (CCK) por células endócrinas do duodeno,
estimulando as células acinares do pâncreas a secretarem
enzimas.
A fase intestinal da digestão proteica é efetuada pelas
enzimas proteolíticas lançadas no duodeno pela secreção
pancreática. A chegada do quimo proveniente do estômago
estimula as células endócrinas do delgado, mais
concentradas no duodeno, a secretarem tanto secretina
(células S) como CCK (células I). Estes dois hormônios
gastrintestinais estimulam, respectivamente, as células dos
ductos pancreáticos a secretarem bicarbonato de sódio, e as
acinares pancreáticas a secretarem enzimas. O bicarbonato
não só tampona o HCl, como gera o ambiente alcalino
propício à ação das enzimas pancreáticas, cujas
atividades são máximas a valores de pH próximos à
neutralidade.
Existem 5 principais enzimas proteolíticas pancreáticas:
tripsina, quimotripsina, carboxipolipeptidase A e B e
elastase. Tanto a tripsina como a quimotripsina clivam as
moléculas de proteína em pequenos polipeptídeos; as
carboxipolipeptidases então liberam aminoácidos
individuais dos terminais carboxila dos polipeptídeos. A
proelastase, por sua vez, é convertida em elastase que,
então, digere as fibras de elastina, abundantes em carnes.
Apenas pequena porcentagem das proteínas é digerida
completamente até seus aminoácidos constituintes, pelos
sucos pancreáticos. A maioria é digerida até dipeptídeos e
tripeptídeos.
O último estágio na digestão das proteínas no lúmen
intestinal é feito pelos enterócitos que revestem as
vilosidades do intestino delgado, especialmente no duodeno
e no jejuno. Essas células apresentam borda em escova,
que consiste em centenas de microvilosidades que se
projetam da superfície de cada célula. Nas membranas de
cada uma dessas microvilosidades, encontram-se múltiplas
peptidases que se projetam através das membranas para o
exterior, onde entram em contato com os líquidos
intestinais.
Dois tipos de peptidases são especialmente importantes:
aminopolipeptidase e diversas dipeptidases. Elas
continuam a hidrólise dos maiores polipeptídeos
remanescentes em tripeptídeos e dipeptídeos e de uns
poucos aminoácidos. Aminoácidos, dipeptídeos e
tripeptídeos são facilmente transportados através da
membrana microvilar para o interior do enterócito.
Absorção de proteínas
O corpo também é dotado de uma série de
transportadores de membrana, capazes de promover a
captação de produtos da digestão proteica que são solúveis
em. Devido ao grande número de aminoácidos, existe um
número relativamente grande de transportadores
específicos. Em geral, os transportadores de aminoácidos
têm especificidade razoavelmente ampla e, transportam um
subgrupo de aminoácidos (p. ex., neutros, aniônico ou
catiônico), mas com alguma sobreposição de sua afinidade
para aminoácidos particulares. Além disso, alguns
transportadores de aminoácidos são simporte de seus
substratos aminoácidos, em conjunto com absorção
obrigatória de Na+.
O intestino delgado também é notável por sua capacidade
de absorver pequenos peptídeos. O transportador primário e
responsável por essa absorção é chamado PepT1 (ou
peptídeo transportador 1) e é um simporte que carrega
peptídeos em conjunto com prótons. Os peptídeos
absorvidos pelos enterócitos são imediatamente hidrolisados
por uma série de peptidases citosólicas em seus
aminoácidos constituintes. Os aminoácidos não necessários
pelos enterócitos são exportados através da membrana
basolateral e entram nos capilares sanguíneos para serem
transportados para o fígado através da veia porta. O PepT1
é, também, de interesse clínico porque pode mediar a
absorção dos chamados fármacos peptidomiméticos, que
incluem diversos antibióticos, bem como agentes
quimioterápicos.
4. LIPÍDEOS
Definidos como substâncias que são mais solúveis em
solventes orgânicos do que em água, os lipídeos são a
terceira classe principal de macronutrientes da dieta
humana. Os lipídeos fornecem, significativamente, mais
calorias por grama do que as proteínas ou os carboidratos,
por isso têm maior importância nutricional, assim como são
propensos a contribuir para a obesidade, se consumidos em
quantidades excessivas. Os lipídeos também dissolvem
compostos voláteis e contribuem para o sabor e o aroma dos
alimentos.
A forma predominante dos lipídeos na dieta humana é o
triglicerídeo, encontrado em óleos e outras gorduras. A
maioria desses triglicerídeos tem cadeia longa de ácidos
graxos esterificados no arcabouço glicerol. Lipídeos
adicionais são fornecidos na forma de fosfolipídeos e
colesterol, originados, principalmente, das membranas
celulares. Também é importante considerar que chegam ao
intestino, diariamente, não apenas lipídeos da dieta, mas
também lipídeos originados no fígado, nas secreções biliares.
Quando a refeição gordurosa é ingerida, os lipídeos se
liquefazem na temperatura corporal e flutuam na superfície
do conteúdo gástrico. Isso poderia limitar a área de
superfície entre as fases aquosa e lipídica do conteúdo
gástrico e restringir o acesso de enzimas capazes de quebrar
os lipídeos para formar os que poderiam ser absorvidos, pois
as enzimas lipolíticas, como as proteínas, ficam na fase
aquosa. Por esse motivo, o estágio inicial na absorção dos
lipídeos é sua emulsificação. A mistura ocorrida no estômago
faz com que os lipídeos da dieta fiquem na forma de
pequenas esferas em suspensão, que aumenta em muito a
área da superfície da fase lipídica.
A absorção dos lipídeos também é facilitada pela formação
de solução de micelas, com ajuda dos ácidos biliares,
existentes nas secreções biliares.
Figura 2. Representação esquemática das micelas mistas, conjuntos cilíndricos
de ácidos biliares e outros lipídios da dieta. Fonte: J. Marini/Shutterstock.com
7. METABOLISMO DA
BILIRRUBINA
Formação e secreção da bile
A bile é um líquido excretor que desempenha papel
importante na digestão dos lipídeos. A formação da bile
começa nos hepatócitos, que transportam ativamente
solutos para os canalículos biliares, através da membrana
apical. A bile é solução micelar cujos principais solutos são
os ácidos biliares, a fosfatidilcolina e o colesterol, na
proporção aproximada 10:3:1, respectivamente.
A secreção desses solutos desencadeia movimento
concomitante de água e de eletrólitos, através das junções
fechadas (tight junctions) que unem os hepatócitos
adjacentes e, desse modo, a bile canalicular é formada. A
maior parte do fluxo biliar é composta por ácidos biliares,
secretados através da membrana apical dos hepatócitos,
pela ação ATPase transportadora, conhecida como bomba
de exportação de sais biliares. A composição do líquido
resultante pode ser modificada mais adiante, à medida que
flui pelos dúctulos biliares (resultando na bile hepática) e,
ainda mais adiante, quando a bile é armazenada na vesícula
biliar (bile vesicular). Por fim, a bile é transformada em
solução concentrada de detergentes biológicos que auxilia
na solubilização dos produtos da digestão dos lipídeos, no
meio aquoso do lúmen intestinal, aumentando, assim, a
velocidade com a qual os lipídeos são transferidos para a
superfície epitelial absortiva. A bile também atua como meio
em que os produtos residuais do metabolismo são
eliminados do corpo.
Formação e Excreção da Bilirrubina
pelo Fígado
A importância do fígado também reside na sua capacidade
de excretar bilirrubina, um metabólito do heme que é
potencialmente tóxico para o organismo. Recentemente, foi
demonstrado que a bilirrubina age como antioxidante, mas
ela também possibilita a eliminação do excesso de heme,
que é liberado da hemoglobina dos glóbulos vermelhos
senescentes. De fato, os glóbulos vermelhos são
responsáveis por 80% da produção de bilirrubina. O restante
provém de outras proteínas que contêm heme, encontradas
em outros tecidos, como o músculo esquelético, e no próprio
fígado. A bilirrubina é capaz de atravessar a barreira
hematoencefálica e, quando em quantidades excessivas,
provoca disfunção cerebral, por razões que ainda não são
bem-compreendidas. Se não for tratada, essa condição
poderá ser fatal.
A bilirrubina e seus metabólitos também se destacam pelo
fato de dar cor à bile, às fezes e, em menor grau, à urina.
Além disso, quando se acumula na circulação, como
resultado de doença hepática, a bilirrubina causa um
sintoma comum, a icterícia, ou seja, o amarelamento da pele
e das mucosas.
A bilirrubina é sintetizada do heme por meio de reação
que ocorre, em duas etapas, no interior das células
fagocíticas do sistema reticuloendotelial, entre elas as
células de Kupffer e as células do baço. A enzima heme
oxigenase, presente nessas células, libera o ferro da
molécula do heme e produz o pigmento verde – biliverdina.
Esse pigmento, por sua vez, pode passar por redução e
originar a bilirrubina amarela. Como essa molécula é,
praticamente, insolúvel nas soluções aquosas com pH
neutro, ela é transportada pelo sangue ligada à albumina.
Quando esse complexo chega ao fígado, penetra no espaço
de Disse, onde a bilirrubina é captada de forma seletiva pelo
transportador OATP localizado na membrana basolateral dos
hepatócitos.
No compartimento microssômico dessas células, a
bilirrubina é conjugada com uma ou duas moléculas de ácido
glicurônico, o que aumenta sua solubilidade em meio
aquoso. A reação é catalisada pela UDP glicuronil
transferase (UGT). Essa enzima é sintetizada, de modo
lento, após o nascimento, fato que explica por que a icterícia
leve é relativamente comum em recém-nascidos. A
bilirrubina conjugada é, então, secretada na bile pela ação
da proteína relacionada com múltiplos fármacos (MRP2),
localizada na membrana canalicular do hepatócito. Vale
destacar que as formas conjugadas da bilirrubina não
podem ser reabsorvidas do lúmen do intestino e isso
garante que elas sejam excretadas. Entretanto, o transporte
da bilirrubina através do hepatócito, mais especificamente,
sua retirada da corrente sanguínea, é um processo
relativamente ineficiente, por isso existe certa quantidade de
bilirrubina conjugada e não conjugada no plasma, mesmo
sob condições normais. Ambas circulam ligadas à albumina,
mas a forma conjugada está ligada mais fracamente e, por
essa razão, pode ser encontrada na urina.
Fase Colônica da Bilirrubina
No cólon, a bilirrubina conjugada é desconjugada pela
ação de enzimas bacterianas, e a bilirrubina liberada é
metabolizada por bactérias que produzem urobilinogênio,
que é reabsorvido, e urobilinas e estercobilinas, que são
excretadas. O urobilinogênio absorvido, por sua vez, pode
ser captado pelos hepatócitos e reconjugado, o que dá a
essa molécula mais uma oportunidade de ser excretada.
8. PROCESSAMENTO DA AMÔNIA
A amônia (N) é pequeno metabólito neutro, que se origina
do catabolismo das proteínas e da atividade bacteriana, e
que passa facilmente pelas membranas. O fígado é o órgão
que mais contribui para a prevenção do acúmulo de amônia
na circulação, porque, como a bilirrubina, a amônia é tóxica
para o sistema nervoso central. Para ser eliminada do
organismo, a amônia é convertida em ureia, após passar por
várias reações enzimáticas no fígado, conhecidas como ciclo
da ureia ou ciclo de Krebs-Henseleit. O fígado é o único
tecido do corpo capaz de converter amônia em ureia.
Existem duas fontes principais de amônia.
Aproximadamente, 50% da amônia do corpo é produzida no
cólon por ureases bacterianas. Dado que o lúmen do cólon é
normalmente pouco ácido, parte dessa amônia é convertida
no íon amônio (NH4+), que não consegue atravessar o
epitélio colônico e, como consequência, é excretado nas
fezes. O restante da amônia atravessa passivamente o
epitélio colônico e é transportado para o fígado pela
circulação porta. A outra fonte importante de amônia
(aproximadamente 40%) são os rins. Pequena quantidade de
amônia (cerca de 10%) provém da desaminação de
aminoácidos no próprio fígado, de processos metabólicos
que ocorrem nas células musculares e da liberação da
glutamina, contida nos glóbulos vermelhos senescentes.
A figura a seguir traz o “balanço da massa” relativo ao
processamento da amônia, em um adulto saudável. Como
notado, a amônia é uma pequena molécula neutra que
atravessa facilmente as membranas das células, sem
necessidade de transportador específico, embora algumas
proteínas membranosas transportem a amônia, incluindo
certas aquaporinas. Seja qual for o mecanismo para o
transporte, as propriedades físico-químicas da amônia
garantem que ela seja retirada, de modo eficiente, das
circulações porta e sistêmica pelos hepatócitos. No interior
dessas células, a amônia entra no ciclo da ureia, onde é
convertida em ureia e, subsequentemente, transportada de
volta para a circulação sistêmica. A ureia é pequena
molécula neutra que, após ser filtrada sem dificuldade no
glomérulo, é parcialmente reabsorvida nos túbulos renais.
Aproximadamente 50% da ureia filtrada é excretada na
urina. A ureia que chega ao cólon é excretada, ou
metabolizada a amônia, pelas bactérias colônicas, e essa
amônia produzida é reabsorvida ou excretada.
1. O RIM
Os rins encontram-se fora da cavidade peritoneal. Cada
rim em um adulto pesa aproximadamente 150 gramas. O rim
é recoberto por uma cápsula dura e fibrosa, que protege
suas delicadas estruturas internas. As duas principais
regiões do rim são o córtex externo e a medula interna. A
medula é dividida em 8 a 10 massas de tecido em forma de
cone chamadas de pirâmides renais. A base de cada
pirâmide origina-se na borda entre o córtex e a medula, e
termina na papila, que se projeta para dentro do espaço da
pelve renal, uma continuação da extremidade superior do
ureter, em forma de funil. A borda externa da pelve é
dividida em bolsas abertas denominadas grandes cálices,
que se estendem para baixo e se dividem em cálices
menores, que coletam a urina dos túbulos de cada papila. As
paredes dos cálices, da pelve e do ureter contêm elementos
contráteis que impulsionam a urina em direção à bexiga,
onde é armazenada até que seja eliminada pela micção.
Figura 1. Estrutura dos rins. Fonte: solar22/Shutterstock.com..
Vascularização renal
O sangue flui para cada rim através da artéria renal, que
se ramifica progressivamente para formar as artérias
interlobares, artérias arqueadas, artérias
interlobulares e as arteríolas aferentes, que levam aos
capilares glomerulares, onde a filtração dos líquidos e dos
solutos começa. Os capilares de cada glomérulo se juntam
para formar uma arteríola eferente, que leva a uma
segunda rede capilar, os capilares peritubulares, que
circundam os túbulos. Os capilares peritubulares se
esvaziam nos vasos do sistema venoso, que correm
paralelos aos vasos arteriolares, e progressivamente formam
a veia interlobular, veia arqueada, veia interlobar e
veia renal. A veia renal deixa o rim ao longo da artéria
renal e do ureter. Os vasa recta são capilares peritubulares
especializados que se estendem para o interior da medula
renal e cursam paralelamente às Alças de Henle. A parte
externa do rim, o córtex renal, recebe a maioria do fluxo
sanguíneo do rim; e apenas 1% a 2% do total do fluxo
sanguíneo renal passa pelos vasa recta, que suprem a
medula renal. Duas características distintas da circulação
renal são a alta taxa de fluxo de sangue e a presença de dois
leitos capilares, os capilares glomerulares e peritubulares,
que são arranjados em série e separados pelas arteríolas
eferentes. Os capilares glomerulares filtram grandes
quantidades de líquidos e solutos, a maioria dos quais são
reabsorvidos dos túbulos renais nos capilares peritubulares.
O néfron
É a unidade funcional dos rins. Podemos descrevê-lo como
uma estrutura microscópica formada por Corpúsculos de
Malpighi, contendo o sistema tubular, composto pelo túbulo
contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal
e, finalmente, o túbulo coletor. O néfron se responsabiliza
pelos dois principais processos que envolvem a gênese da
urina, a produção do filtrado glomerular nos Corpúsculos de
Malpighi e o complexo processamento deste filtrado em seu
sistema tubular. O Corpúsculo de Malpighi, os túbulos
contorcidos proximal e distal e a parte inicial do túbulo
coletor são elementos corticais, enquanto a alça de Henle e
a maior parte dos túbulos coletores fazem parte da zona
medular.
Figura 2. Microcirculação do néfron. Fonte:Blamb/Shutterstock.com
Funções renais
Os rins são órgãos excretores e reguladores que eliminam
o excesso de água e metabólitos do organismo controlam o
volume de líquidos corporais, contribuindo para a
manutenção da homeostase. Dentre suas várias funções,
podemos citar:
Neoglicogênese
Em situações de jejum prolongado ou diabetes mellitus
descompensada, os rins são capazes de sintetizar glicose a
partir de aminoácidos e outros precursores.
2. FILTRAÇÃO GLOMERULAR
A gênese da urina se inicia com a formação do filtrado
glomerular nos Corpúsculos de Malpighi, um processo
denominado Filtração Glomerular.
Durante seu trajeto ao longo dos capilares glomerulares, o
plasma é, portanto, forçado a atravessar a parede do vaso, o
que resulta na formação de um ultrafiltrado que, a partir de
então, será processado ao longo do néfron. A taxa de
filtração glomerular (TFG), clearence ou ritmo de filtração
glomerular (RFG) corresponde à soma dos RFGs individuais
de cerca de 2 milhões de glomérulos. Esses milhões de
glomérulos que constituem os rins filtram cerca de 120-180
L de plasma por dia (média: 140 L/dia), o que dá
aproximadamente 80-120 mL/min de filtrado, sendo essa a
TFG normal. A determinação direta do RFG é evidentemente
impossível, o que torna necessário calculá-lo mediante o
emprego de compostos que funcionam como marcadores.
Para este objetivo, é essencial o conceito de depuração,
mais conhecida por seu equivalente em inglês, clearance.
Define-se a taxa de depuração plasmática, ou clearance, de
uma substância “x” como o fluxo de plasma depurado dessa
substância na unidade de tempo. Este fluxo, habitualmente
expresso em mL/min, é calculado dividindo-se a massa de
“x” excretada na urina (igual ao produto da concentração
urinária de “x”, U, pelo fluxo urinário, V) pela concentração
plasmática de “x”, representada por P. O clearance de x, C,
é, portanto, calculado por:
Legenda:
C: clearence de uma substância
U: concentração urinária da substância
V: fluxo urinário
P: concentração plasmática da substância
Estados de hipovolemia
As hipovolemias graves usualmente são acompanhadas de
uma queda acentuada da pressão arterial. Além disso, ocorre
vasoconstrição generalizada, inclusive na microcirculação
renal, particularmente nas arteríolas aferentes, como parte
do esforço do organismo para impedir ou atenuar a queda da
pressão arterial. Pacientes nefróticos e portadores de
insuficiência cardíaca congestiva também podem evoluir
com má perfusão renal, na primeira condição por redução
real da volemia e, na segunda, por baixo débito cardíaco.
Obstrução urinária
O processo de filtração glomerular pode ser severamente
limitado ou totalmente interrompido quando as vias urinárias
são obstruídas por cálculos renais, tumores ureterais,
tumores pélvicos com compressão extrínseca ou invasão dos
ureteres ou da bexiga, fibrose retroperitoneal e hiperplasia
prostática, entre outras anomalias. Previsivelmente, a
pressão hidráulica no interior das vias urinárias obstruídas se
eleva, transmitindo-se aos túbulos renais e ao espaço de
Bowman.
Ureia
A ureia é o principal produto formado pelo catabolismo
oriundo da conversão da amônia por enzimas hepáticas. Sua
excreção ocorre predominantemente pelo rim. Assim como a
creatinina, a ureia apresenta relação inversa com a TFG.
Ainda, vários fatores podem causar variabilidade da
concentração de ureia sérica, limitando sua utilização como
um marcador de função renal. Dentre estes fatores, sabe-se
que a ureia não é produzida constantemente durante o dia e
a sua concentração sanguínea pode variar com a ingestão
proteica, sangramento gastrointestinal e uso de alguns
medicamentos, como, por exemplo, os corticosteroides;
ressalta-se também que a produção de ureia pode diminuir
na vigência de condições, tais como a insuficiência hepática
e a desnutrição. Além do mais, é importante lembrar que a
ureia é parcialmente reabsorvida após o processo de
filtração e, consequentemente, o cálculo da sua depuração
subestima a TFG. A reabsorção tubular de ureia será mais ou
menos intensa de acordo com o estado volêmico do paciente
(ao reabsorver água no túbulo, também ocorre a reabsorção
de ureia), ou seja, aumenta quando houver depleção do
volume extracelular (por ex., na insuficiência cardíaca
congestiva e desidratação) e diminui na vigência de
expansão de volume (p. ex., infusão salina ou síndrome de
secreção inapropriada do hormônio antidiurético). Na maioria
dos laboratórios de análises clínicas, o valor normal de ureia
varia de 20-40 mg/dL. Por outro lado, a elevação da ureia no
plasma ou soro decorrente de alteração renal é mais precoce
do que a elevação da creatinina, especialmente na
insuficiência renal de origem pré e pós-renal. A concentração
de ureia tende a aumentar com a idade do indivíduo e é
discretamente maior no sexo masculino.
Proteinúria de 24 horas e
microalbuminúria
A parede glomerular funciona como um filtro
extremamente eficiente, através do qual passa apenas uma
quantidade insignificante de proteínas, embora sua
permeabilidade à água e a pequenos solutos seja muito
maior do que a da maioria dos demais capilares do
organismo. A perda, ainda que parcial, dessa função de
barreira pode trazer consequências sérias. A parede
glomerular é constituída de 3 camadas, cada uma das quais
representa um obstáculo independente à passagem de
macromoléculas.
Proteinúria e microalbuminúria na
prática clínica
A proteinúria assintomática pode assumir qualquer valor
entre 150 mg/dia e 3 g/dia, na ausência de outros achados,
como hematúria. O aumento persistente da excreção
urinária de proteínas, ainda que assintomático e não
acompanhado de hematúria ou perda de função renal,
representa um sinal de alarme e, a princípio, indica a
presença de um processo patológico envolvendo os rins.
Mesmo que seja modesta e não chegue a trazer repercussão
sistêmica, a proteinúria assintomática não deve ser
ignorada. A precisão do diagnóstico e a possibilidade de
detectar uma patologia renal incipiente aumentam muito
quando se mede especificamente a taxa de excreção
urinária de albumina, que indica de modo mais sensível um
aumento da permeabilidade glomerular. A albuminúria ou
microalbuminúria é definida como a presença de 30 mg a
300 mg de albumina em amostra de urina de 24 horas, ou
30 mg a 300 mg de albumina por g de creatinina em
amostra de urina isolada, ou ainda uma taxa de excreção de
20 mg a 200 mg de albumina por minuto. São cada vez
maiores as evidências de que a microalbuminúria é um
indicador sensível de risco cardiovascular, porém, as razões
para essa associação não foram ainda elucidadas. Fica claro,
no entanto, que o aparecimento de microalbuminúria deve
servir como um sinal de alerta, indicando ao clínico não
apenas a necessidade de investigar a existência de uma
nefropatia como também a de considerar com cuidado a
possível presença de um distúrbio do sistema cardiovascular.
Marcadores exógenos
Objetivando viabilizar o emprego de marcadores exógenos
na clínica, as pesquisas se voltaram para o uso de
radiofármacos, que permitem substituir as determinações
químicas complexas por técnicas simples e precisas de
quantificação das amostras no cintilador. As vantagens de
avaliar a TFG usando radioisótopos incluem a possibilidade
de determinar, com grande precisão, quantidades
extremamente reduzidas destes, além de utilizar doses
reduzidas e não tóxicas. As desvantagens desses
marcadores radioativos são a complexidade e o alto custo. O
uso de substâncias radioativas na avaliação traz as
limitações impostas pela natureza dessas substâncias, como
a exigência de uma licença especial para o seu manuseio,
expedida por órgãos reguladores, o que só ocorre após
credenciamento do usuário. Além disso, é preciso avaliar a
exposição do paciente e da equipe técnica, assim como o
destino dos resíduos radiativos.
• Radioativos: I-Iotalamato,
125
Cr-EDTA e
51
mTc-DTPA
99
Marcadores endógenos
Cistatina C (VN: 0,54 – 1,55 mg/L): embora filtrada
livremente através do glomérulo, a cistatina C,
semelhantemente a outras moléculas de baixo peso
molecular, é reabsorvida e metabolizada nos túbulos
proximais. Assim, a concentração sanguínea de cistatina C
depende quase inteiramente da TFG, não sendo afetada pela
dieta, estado nutricional, inflamação ou doenças malignas.
Adicionalmente, a menor variabilidade nas determinações
sanguíneas da cistatina C, sua meia-vida mais curta e o seu
menor volume de distribuição tornam este um marcador de
função glomerular com maior sensibilidade para detectar
diminuições leves da TFG na DRC do que a creatinina e
outras moléculas de baixo peso molecular, no aumento da
cistatina C na vigência de leve diminuição da TFG da ordem
de 70 a 90 mL/min, ou seja, na ”faixa cega“ da creatinina.
Além do mais, estudos recentes mostraram que a cistatina C
se eleva precocemente na insuficiência renal aguda em
pacientes internados em unidades de tratamento intensivo,
após transplante hepático, cirurgia cardíaca, quimioterapia
com cisplatina, angiografia cardíaca e na progressão da
nefropatia diabética. Apesar dos pontos positivos, a cistatina
C, assim como os outros marcadores endógenos (NGAL,
NAG, KIM-1, IL-18), é pouco acessível e muito dispendiosa.
A imagem a seguir resume um pouco do que foi abordado
acerca da relação entre os marcadores e a taxa de filtração
glomerular. Em azul, temos a acurácia do método utilizado e,
em rosa, a disponibilidade destes métodos. O clearence de
ureia, por exemplo, tem alta disponibilidade, mas a sua
acurácia é baixa; já a inulina tem uma acurácia muito alta,
mas praticamente nenhuma disponibilidade.
3. SISTEMA TAMPÃO
Sabe-se que o rim atua com a produção e a reabsorção de
bicarbonato, além de regular o sistema tampão. O ácido
carbônico, pela a ação da anidrase carbônica, pode se
transformar tanto no H+ livre + íon bicarbonato (HCO3-),
quanto no H2O + CO2. Os dois sistemas tampões existentes
no organismo são o pulmonar e o renal, podendo ser
avaliados através da gasometria venosa. Aqui o foco será o
sistema tampão renal.
1. INTRODUÇÃO
Os rins são órgãos de extrema importância para o
funcionamento e homeostasia do organismo. Muito
conhecido por sua função de filtrar o sangue e eliminar os
elementos indesejados, o rim possui algumas outras funções
significativas nos processos fisiológicos do organismo
humano, como: regulação do equilíbrio de água e eletrólitos,
regulação da osmolaridade dos líquidos corporais, regulação
da pressão arterial, regulação do equilíbrio ácido-base e
outros. Ademais, o processo de formação de urina tem início
na filtração glomerular, de forma que esse filtrado segue por
todo o néfron e sofre algumas alterações (específicas de
cada região), até o ponto de percorrer pelos ureteres e ser
armazenado na bexiga, ocorrendo, por fim, a micção
(processo de esvaziamento da bexiga).
2. FUNÇÕES DO SISTEMA
URINÁRIO
Como dito anteriormente, os rins possuem diversas
funções, sendo basicamente divididas em dois “mundos”, o
da filtração – eliminando o que não for necessário, e o de
regulação – processo que mantém o ambiente interno
estável, proporcionando para as células um ambiente
adequado.
Excreção de produtos indesejados → Os rins são os
meios primários para eliminação de produtos indesejáveis do
metabolismo. Fazem parte desse grupo de produtos: ureia
(metabolismo dos aminoácidos), creatinina (da creatina
muscular), do ácido úrico (metabolismo dos ácidos
nucleicos), produtos finais da degradação da hemoglobina,
como a bilirrubina e metabólitos de vários hormônios. Além
disso, os rins eliminam a maioria das toxinas e das outras
substâncias estranhas ao organismo, como os pesticidas,
fármacos e aditivos alimentícios.
Regulação do equilíbrio de água e eletrólitos → Esse
processo realizado pelos rins tem impacto direto na
manutenção da homeostasia através do controle de
quantidade de água e eletrólitos. Ou seja, quando ocorre, por
algum motivo, seja fisiológico ou patológico, um
desequilíbrio entre esses componentes (água e eletrólitos), é
necessária que ocorra uma restauração do equilíbrio a nível
renal. Como exemplo, a entrada de água e eletrólitos é muito
dependente dos hábitos de vida de cada indivíduo,
requerendo que os rins se ajustem de forma a excretar ou
absorver uma maior quantidade de determinado elemento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall
tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2017.
BERNE, Robert M.; LEVY, Matthew N. (Ed.). Fisiologia. 6. ed.
Rio de Janeiro:
5. DISTÚRBIOS DO SÓDIO
1. INTRODUÇÃO
Para que as células do corpo funcionem normalmente, elas
devem estar banhadas por líquido extracelular com
concentração relativamente constante de eletrólitos e outros
solutos. A concentração total de solutos no líquido
extracelular — e, portanto, a osmolaridade —, deve ser
também regulada com precisão para evitar que as células
murchem ou inchem de tamanho. A osmolaridade é
determinada pela quantidade de soluto (principalmente,
cloreto de sódio) dividida pelo volume do líquido extracelular.
Assim, a concentração de cloreto de sódio e a osmolaridade
do líquido extracelular são, em grande parte, reguladas pela
quantidade de água extracelular. Toda a água corporal, por
sua vez, é controlada pela (1) ingestão de líquido, regulada
por fatores determinantes da sede; e (2) excreção renal de
água, controlada por múltiplos fatores que influenciam a
filtração glomerular e a reabsorção tubular.
2. HIPONATREMIA
Hiponatremia pode ser definida como uma concentração
de sódio sérico [Na+] abaixo do limite inferior da
normalidade; na maioria dos laboratórios, isto significa [Na+]
< 135 meq/L.
Epidemiologia
Hiponatremia é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum
em pacientes hospitalizados. Estudos estimam uma
prevalência de hiponatremia de 11,8% – 17,7% no momento
da admissão hospitalar de pacientes internados Unidades de
Terapia Intensiva (UTI). Em pacientes com cirrose avançada,
em lista de espera para transplante hepático, a prevalência
de hiponatremia pode superar 30%.
A presença de hiponatremia está associada a uma série de
desfechos desfavoráveis, como aumento no tempo de
permanência hospitalar, necessidade de internamento em
UTI, custo da hospitalização e mortalidade. A associação de
hiponatremia com aumento na mortalidade é bastante
consistente, seja ela adquirida na comunidade, no hospital
ou na UTI.
A associação persiste quando analisada em subgrupos
específicos de doenças, como neoplasias, insuficiência
cardíaca congestiva (ICC) e cirrose. Recentemente,
hiponatremia foi associada a aumento na mortalidade em
pacientes renais crônicos em hemodiálise.
Etiologias, Diagnóstico e
Classificação
Geralmente, a hiponatremia é causada por uma falha em
excretar água normalmente. Porém, apesar de a excreção
renal de água ser excepcional, se houver ingestão de água
superior a esta capacidade de excreção, o indivíduo vai
desenvolver hiponatremia. Nestas situações, a urina estará
diluída, indicando que os rins estão tentando excretar o
excesso de água. Na presença de ingestão normal de
solutos, o indivíduo terá que ingerir mais de 10 L de água
para desenvolver hiponatremia. Isto pode ocorrer em
pacientes psiquiátricos, com polidipsia psicogênica. Às
vezes, ingestões muito rápidas de quantidades não tão
grandes de água podem causar hiponatremia.
Outras situações análogas seriam os afogamentos em
água doce e as cirurgias endoscópicas, como a
histeroscopia, curetagem uterina e a ressecção transuretral
da próstata, em que pode haver absorção rápida de grande
quantidade da água contida nas soluções de irrigação.
Nestes casos, cessando a ingestão excessiva de água, os
rins excretam o seu excesso e o [Na+] sérico normaliza. No
entanto, na vigência de hiponatremia severa sintomática, o
tratamento com salina hipertônica é indicado para reduzir o
edema cerebral.
Diante de um paciente com hiponatremia, a primeira
medida deve ser afastar uma pseudo-hiponatremia. Na
hiponatremia verdadeira, a osmolaridade sérica é
sempre baixa (hiponatremia hipotônica): Se houver
hiponatremia com osmolaridade sérica normal ou elevada,
está ocorrendo uma pseudo-hiponatremia. Estas situações
não representam distúrbios no metabolismo da água e não
necessitam de medidas direcionadas para correção do sódio
sérico.
Pseudo-hiponatremia com osmolaridade sérica
elevada: A situação mais clássica é a hiperglicemia, mas
pode ocorrer também durante a administração de contraste
iodado hiperosmolar. Neste caso, ocorre saída de água do
líquido intracelular (LIC) para o extracelular (LEC) numa
tentativa de equilibrar a osmolaridade entre os dois espaços.
Esta entrada de água no LEC dilui o sódio sérico. Com a
correção da glicemia, o sódio sérico normaliza sem que
nenhuma outra medida seja tomada.
Pseudo-hiponatremia com osmolaridade sérica
normal: É classicamente descrita nas hiperproteinemias
(por exemplo, mieloma múltiplo) e dislipidemias severas (por
exemplo, hipertrigliceridemias), quando a fração aquosa do
plasma está reduzida à custa de excesso de proteínas ou
lipídeos, respectivamente. Em tais situações, erros técnicos
na aferição da concentração do sódio sérico podem induzir
uma pseudo-hiponatremia; neste caso, com osmolaridade
normal. Este fenômeno é mais comum quando o sódio
sérico é medido pela técnica de fotometria de chama.
Como a avaliação da osmolaridade sérica não é feita em
diversos hospitais e laboratórios (e, quando é feita, o
resultado pode demorar muito), na prática, é muito comum
afastar uma pseudo-hiponatremia com base nos dados
clínicos, e com a dosagem de glicose, proteínas totais e
frações e o perfil lipídico.
Afastadas as pseudo-hiponatremias, o próximo passo é
fazer uma avaliação da volemia. A avaliação da volemia se
baseia em dados clínicos de anamnese e exame físico, assim
como em alguns exames laboratoriais.
Saiba mais! Normalmente, o soro contêm
7% de fase sólida por volume. Para reduzir o
volume de sangue necessário para análise, o
soro é frequentemente diluído antes da sua
mensuração. O mesmo volume de diluente é
sempre usado, partindo-se sempre do
pressuposto de que o soro contêm 7% de
partículas em fase sólida. Quando a fração de
partículas da fase sólida é aumentada, a mesma
quantidade de diluente resulta em uma maior
diluição. Consequentemente, o cálculo de um
nível de íons com o uso de um grau de diluição,
que é baseado na fração incorreta de partículas
de fase sólida, levará a uma subestimação.
Quando as amostras são medidas sem diluição
(como em máquinas de gasometria), este
artefato técnico não ocorre.
Hipovolemia
Uma história que sugira baixa ingesta e/ou perdas
(cutânea, gastrintestinal ou renal) excessivas, e exame físico
que revele taquicardia e/ou hipotensão (sejam espontâneas
ou com manobra postural). O sódio urinário está baixo e a
osmolaridade urinária, alta, demonstrando a retenção
hidrossalina em resposta à hipovolemia verdadeira.
Hipervolemia
História e exame físico sugestivos de síndrome
edematosa, como ICC, cirrose ou síndrome nefrótica. Cada
uma destas síndromes possui sinais específicos ao exame
físico, mas edema e ganho de peso são comuns a todas. Do
mesmo modo, o sódio urinário está baixo e a
osmolaridade urinária, alta, mas esta retenção
hidrossalina ocorre em resposta à hipovolemia
relativa (redução no VIVE).
Euvolemia
Ausência de dados de história e exame físico que sugiram
hipo ou hipervolemia. Este grupo inclui a potomania do
bebedor de cerveja, a polidipsia psicogênica (pois a ingesta
excessiva de água pura não aumenta a volemia), as
alterações endócrinas (hipotireoidismo, insuficiência adrenal
primária, hipopituitarismo), SIADH, os diuréticos tiazídicos e
outras drogas. Muitas drogas causam hiponatremia por
promover SIADH. Outras causas menos comuns de
hiponatremia euvolêmica são as mutações de ganho de
função do receptor V2.
Volume do
Reduzido Normal Aumentado
LEC
Elevado ou
ADH sérico Elevado Elevado
reduzido
Elevada ou
Osm. Urinária Elevada Elevada
reduzida
3. QUADRO CLÍNICO DA
HIPONATREMIA
Os sintomas de hiponatremia são principalmente
neurológicos. Eles estão relacionados à gravidade e, em
particular, à rapidez da alteração na concentração sérica de
sódio. Pacientes com hiponatremia também podem
apresentar queixas relacionadas à depleção concomitante de
volume e possíveis doenças neurológicas subjacentes que
predispõem à anormalidade eletrolítica. Isso inclui uma
ampla variedade de distúrbios neurológicos que podem levar
sequencialmente à SIADH, retenção de água e hiponatremia.
Os sintomas diretamente atribuíveis à hiponatremia
ocorrem principalmente com reduções agudas e acentuadas
na concentração sérica de sódio e refletem disfunção
neurológica induzida por edema cerebral e possíveis
respostas adaptativas das células cerebrais ao inchaço
osmótico. Nesse cenário, a queda na osmolaridade sérica
cria um gradiente osmolar que favorece o desvio de água
para o interior das células, levando a edema cerebral. Por
isso, as principais manifestações clínicas da hiponatremia
são neurológicas, pois, como a calota craniana impede a
expansão do parênquima cerebral, o edema celular resulta
em hipertensão intracraniana.
O edema cerebral induzido por hiponatremia ocorre
principalmente com reduções rápidas na concentração sérica
de sódio, geralmente em menos de 24 horas. Como
resultado da hipertensão intracraniana resultante, o paciente
pode se manifestar com rebaixamento do nível de
consciência, estupor, coma e crises convulsivas.
A velocidade de instalação da hiponatremia é um fator
determinante na sintomatologia. Isto porque, na
hiponatremia crônica, mecanismos adaptativos entram em
ação visando reduzir a osmolaridade intracelular e,
consequentemente, minimizar a entrada de água nas células
e o edema cerebral. Para isso, os neurônios inicialmente
excretam sais de sódio e potássio e, posteriormente,
osmólitos orgânicos. Por conta da ação destes mecanismos
compensatórios, uma hiponatremia crônica severa pode se
manifestar de maneira oligoassintomática.
Estes mecanismos adaptativos precisam ser respeitados
no momento do tratamento. Correção inadvertidamente
rápida de uma hiponatremia crônica, ao elevar a
osmolaridade líquido extracelular, pode causar redução
abrupta do volume neuronal com desmielinização de tronco
cerebral, principalmente na ponte (mielinólise pontina).
Como os danos neurológicos decorrentes da mielinólise
pontina são frequentemente irreversíveis, a melhor
alternativa é a prevenção.
4. TRATAMENTO DA
HIPONATREMIA
O tratamento da hiponatremia depende da velocidade de
instalação (aguda ou crônica), da gravidade dos sintomas e
de outras variáveis da história e do exame físico, a saber:
Classificação e Etiologias
A hipernatremia pode ser classificada clinicamente em:
Perdas gastrointestinais
Uso de diuréticos
Diurese osmótica:
- hipergliemia
- dieta hiperproteica (principalmente nasoentérica) gerando ureia
- manitol
Sobrecarga de sódio
6. QUADRO CLÍNICO DA
HIPERNATREMIA
Os sintomas são dependentes da velocidade de instalação
da hipernatremia e de sua gravidade. A instalação rápida em
menos de 48 horas geralmente é associada a quadros
clínicos mais graves.
Em pacientes com mecanismo de sede intacto, o primeiro
sintoma a aparecer é a sede. No exame físico, deve-se
procurar por sinais incipientes de hipovolemia, como
hipotensão ortostática (queda > 20 mmHg na pressão
arterial sistólica [PAS] e 10 mmHg na pressão arterial
diastólica [PAD]) e aumento da frequência cardíaca em
ortostase (> 30 bpm).
Os pacientes podem apresentar sinais e sintomas de
desidratação, como mucosas secas, olhos encovados e perda
de turgor da pele. A presença de edema de extremidades em
paciente com hipernatremia sugere sobrecarga volêmica
associada.
Os pacientes precisam ser avaliados do ponto de vista
neurológico quanto a nível de consciência, resposta motora e
reflexos profundos. Pacientes com hipernatremia podem
evoluir com agitação, irritabilidade e letargia; já os quadros
graves podem cursar com espasmos musculares, hiper-
reflexia e piora da letargia. Quadros extremamente graves e
agudos podem cursar com coma e apneia. Se a
hipernatremia grave se desenvolve no decorrer de minutos a
horas, como em uma overdose maciça de sal em uma
tentativa de suicídio, o encolhimento repentino do cérebro
pode causar uma hemorragia intracraniana. Outra
complicação potencial em hipernatremia aguda grave é a
trombose de seio cavernoso.
Os pacientes podem apresentar sintomas associados a
condições subjacentes. Assim, pacientes com diabetes
insipidus podem cursar com poliúria, e aqueles com
síndrome de Cushing podem apresentar fácies em lua cheia
e estrias violáceas, entre outros estigmas da síndrome.
A avaliação de pacientes com hipernatremia deve levar
em consideração fatores potenciais que podem causá-la; por
exemplo, um trauma cranioencefálico e pós-operatório de
neurocirurgia. Avalia-se, ainda, se o paciente apresenta
doença renal crônica e medicações que possam causar
diabetes insipidus.
7. TRATAMENTO DA
HIPERNATREMIA
Em primeiro lugar, é necessário avaliar se o paciente
apresenta instabilidade hemodinâmica ou choque. Se for
este o caso, administra-se a princípio salina isotônica.
Em pacientes em que se sabe que a hipernatremia é
aguda, como em ingestão intencional e sobrecarga de
cloreto de sódio em tentativas de suicídio com menos de 6
horas de apresentação, pode-se repor o déficit de água livre
rapidamente sem eventos adversos.
Contudo, mais de 95% das hipernatremias são crônicas.
Uma forma de correção que pode ser utilizada nesses
pacientes é a utilização de solução com glicose 5%; solução
de escolha com taxa de infusão de 3-6 mL/kg/hora. O
objetivo é diminuir a natremia em 1-2 mEq/L/hora. A
monitorização da natremia deve ser realizada a cada 4-6
horas. Quando houver concentração de sódio perto de 145
mEq/L, deve-se reduzir a velocidade da infusão para 1
mL/kg/hora.
A hipernatremia é muitas vezes associada à restrição ao
acesso à água livre. Assim, estabelecer o acesso ou suprir a
necessidade diária de H2O (≥ 1L/dia) pode ser suficiente
para corrigir a hipematremia. Uma das medidas mais
importantes é a avaliação do estado volêmico. Como já
comentado, em pacientes hipovolêmicos, deve-se realizar a
expansão volêmica com salina isotônica (SF 0,9% → 154
mEq/L de sódio) até recuperar os sinais vitais estáveis.
Assim que se atingir a euvolemia, dosa-se novamente o
sódio sérico, calcula-se o déficit de água livre e realiza-se a
reposição. O déficit de água livre pode ser calculado com a
fórmula a seguir:
• SG 5%: 0 mEq/L.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 13.ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2017.
Knepper MA, Kwon T, Nielsen S. Molecular Physiology of
Water Balance. N Engl J Med 2015;372:1349-58. DOI:
10.1056/NEJMra1404726
Rocha PN. Hyponatremia: basic concepts and practical
approach. J Bras Nefrol 2011;33(2):248-260.
Sterns RH. Etiology and evaluation of hypernatremia in
adults. UpToDate, 2018
Sterns RH. Manifestations of hyponatremia and
hypernatremia in adults. UpToDate, 2018
Velasco IT, Brandão-Neto RA, Souza HP et al. Medicina de
emergências. 13ª ed. Barueri, SP: Manole, 2019.
6. FISIOLOGIA DO SISTEMA
REPRODUTOR FEMININO
1. INTRODUÇÃO
O sistema reprodutor feminino é composto por dois grupos
de órgãos: os internos e os externos. Os órgãos internos são
o útero, os ovários, as tubas uterinas e a vagina. Já os
externos são: o monte do púbis, os grandes lábios, os
pequenos lábios e o clitóris.
O período fértil da
MENACME
mulher.
Última menstruação da
MENOPAUSA
mulher.
2. CICLO OVARIANO
O ciclo ovariano ocorre devido às alterações cíclicas dos
hormônios gonadotróficos FSH e LH secretados pela hipófise
anterior, que estimulam as células-alvo ovarianas.
O ciclo ovariano é divido em 2 partes: a fase folicular (do
desenvolvimento do folículo até a ovulação) e a fase lútea (a
partir da ovulação).
A fase folicular é a primeira etapa do ciclo ovariano. Nela
ocorre a foliculogênese, processo capaz de transformar um
folículo primordial em um folículo ovulatório. O objetivo da
foliculogênese é produzir um folículo dominante a partir de
folículos em desenvolvimento.
Fluxograma 1. Aromatase.
FOLÍCULO
Folículo maduro, composto pelo
TERCIÁRIO
antro e cumulus ooforus.
OU ANTRAL
FOLÍCULO
Folicuro maduro, com crescimento
PRÉ-
superior.
OVULATÓRIO
Fluxograma 2. Ovulação.
Se liga! A ovulação ocorre sempre 14 dias
antes da menstruação, e não no meio do ciclo
3. CICLO UTERINO
O ciclo uterino ocorre devido às alterações sofridas pelo
endométrio durante o ciclo ovulatório, como resposta a
atividade das progestinas e dos estrogênios. O estrogênio
prolifera células responsáveis pelo desenvolvimento das
características sexuais femininas, enquanto a progesterona
prepara o útero para a gravidez e as mamas para a
lactação.
O ciclo uterino também é divido em duas partes: a fase
proliferativa ou estrogênica e a fase secretória ou
progestacional.
Se liga! O marco de divisão, assim como no
ciclo ovulatório, é a ovulação.
1. INTRODUÇÃO
Para melhor compreensão do tema, precisamos
estabelecer as correlações necessárias entre as bases
embrionárias e histológicas sobre as quais esse segmento da
nossa fisiologia se sustenta; afinal, todas as atividades
pertinentes a ela traduzem o modo como a embriologia e a
histologia se processaram no curso do desenvolvimento.
O sistema reprodutor masculino evoluiu para uma
gametogênese contínua, que perdura por toda a vida,
associado à inseminação interna com uma alta
densidade de espermatozoides. Isso traduz, em
perspectiva evolutiva, a importância da perpetuação da
espécie e da necessidade de um aparato anatomofisiológico
que possa fazer frente a essa tarefa tão importante.
A componente endócrina é essencial para dar condições
ao funcionamento pleno ao sistema reprodutor. Em um
homem adulto, as funções básicas dos hormônios gonadais
são descritas abaixo:
2. EMBRIOLOGIA
Sabemos que o desenvolvimento do sistema genital está
estreitamente integrado aos órgãos urinários primitivos em
machos e fêmeas. E o que reforça isso? O fato de que eles
compartilham estruturas tubulares comuns que
permitem tanto a urese (produção de urina) quanto o
transporte de gametas.
Além das estruturas néfricas, o mesoderma
intermediário em ambos os lados da parede dorsal do
corpo dá origem a uma crista gonadal.
Por volta da 6ª semana, as células germinativas que
migram a partir do saco vitelino começam a chegar ao
mesênquima da parede dorsal do corpo. A chegada de
células germinativas à área imediatamente medial aos
mesonefros no décimo segmento torácico induz o epitélio
celômico a produzir células somáticas de sustentação
que envolvem as células germinativas.
As células somáticas de sustentação se diferenciarão em
células de Sertoli (epiteliócito sustentador) nos homens e
em células foliculares (ou células granulosas) nas mulheres.
Durante o mesmo período, um novo par de ductos, os
ductos paramesonéfricos (müllerianos), é formado na
parede dorsal do corpo a partir do epitélio celômico
imediatamente lateral aos ductos mesonéfricos.
A diferenciação sexual genética masculina começa no fim
da 6ª semana, quando um gene específico no cromossoma Y
(SRY) é expresso nas células somáticas de sustentação. O
produto deste gene, denominado proteína SRY, inicia uma
cascata de desenvolvimento que conduz à formação dos
testículos, dos ductos genitais masculinos e glândulas
associadas, dos genitais externos masculinos e de todo o
conjunto de características sexuais secundárias masculinas.
A proteína SRY exerce controle autônomo sobre o
desenvolvimento de células somáticas de sustentação em
células pré-Sertoli. Células pré-Sertoli, então, recrutam
células mesenquimais para a crista gonadal, e estas células
dão origem a células de Leydig e células endoteliais
testiculares.
Células de Sertoli em diferenciação, em seguida,
envolvem as células germinativas e, em conjunto com as
células mioepiteliais, organizam-se em cordões testiculares
(futuros túbulos seminíferos). As porções mais profundas das
células somáticas de sustentação na gônada em
desenvolvimento, que não contêm células germinativas,
diferenciam-se na rede testicular.
A rede testicular se conecta com um número limitado de
túbulos mesonéfricos e se canaliza na puberdade para
formar ductos que conectam os túbulos seminíferos ao ducto
mesonéfrico. Estes túbulos néfricos se tornam os
dúctulos eferentes dos testículos, e os ductos
mesonéfricos se tornam os epidídimos e ductos
deferentes. Os ductos paramesonéfricos se
degeneram.
Durante o 3° mês, do ducto deferente distal brota a
vesícula seminal e a próstata e as glândulas
bulbouretrais crescem a partir da uretra pélvica
adjacente. Simultaneamente, as genitálias externas
indiferenciadas se diferenciam em pênis e escroto. Mais
tarde, no desenvolvimento fetal, os testículos descem para o
escroto pelos canais inguinais.
Célula germinativa
Espermatogônia
primordial
Apêndice do epidídimo –
Epidídimo – Canais
Ducto mesonéfrico
deferentes – Vesícula
seminal – Ducto ejaculatório
Uretra prostática e
membranosa – Utrículo
Seio urogenital prostático – Glândula
prostática – Glândulas
bulbouretrais
3. HISTOFISIOLOGIA
O aparelho reprodutor masculino é, então, composto pelos
testículos, ductos genitais, glândulas acessórias e
pênis, evidenciados a seguir:
Figura 1. Anatomia do sistema reprodutor masculino. Fonte:
logika600/Shutterstock.com
Testículos
São órgãos pareados e que, diferentemente dos ovários,
se encontram fora da cavidade abdominal, no escroto.
Esta localização mantém a temperatura testicular cerca de 2
graus mais baixa do que a temperatura corporal, o que é
crucial para um desenvolvimento ótimo do espermatozoide.
Exercem uma função dupla, que é produzir hormônios
sexuais masculinos e espermatozoides. A testosterona
é o principal hormônio produzido nos testículos, e seu
metabólito, a dihidrotestosterona, é muito importante
para a fisiologia do homem.
A testosterona tem um papel essencial para a
espermatogênese, para a diferenciação sexual durante o
desenvolvimento embrionário e fetal e para o controle da
secreção de gonadotrofinas. Ela possui diversas funções e
age em muitos órgãos e tecidos do corpo, como
demonstrado na imagem a seguir:
Durante a embriogênese, os testículos se desenvolvem
retroperitonealmente na parede posterior da cavidade
abdominal. À medida que eles descem para o escroto, levam
junto com eles uma porção do peritônio.
Esta evaginação peritoneal, a túnica vaginal, consiste
em uma camada parietal exterior e uma camada
visceral interna, a qual forma uma cavidade serosa que
envolve, parcialmente, a região anterolateral de cada
testículo, permitindo um certo grau de mobilidade dentro do
seu compartimento no escroto.
Túbulos seminíferos
Os túbulos seminíferos são constituídos por um espesso
epitélio seminífero envolvido por um delgado tecido
conjuntivo, a túnica própria. Os túbulos seminíferos são
túbulos ocos, altamente contorcidos, com 30 a 70 cm de
comprimento e 150 a 250 μm de diâmetro, que estão
circundados por extensos leitos capilares. Cerca de 1.000
túbulos seminíferos estão presentes nos dois testículos, com
um comprimento total de quase 0,5 km de túbulos,
dedicados à produção de espermatozoides.
A parede dos túbulos seminíferos é constituída por uma
delgada camada de tecido conjuntivo, a túnica própria, e
por um espesso epitélio seminífero. A túnica própria e o
epitélio seminífero estão separados um do outro por uma
lâmina basal bem desenvolvida. O tecido conjuntivo é
constituído principalmente por delgados feixes entrelaçados
de fibras de colágeno tipo I contendo várias camadas de
fibroblastos. O epitélio seminífero ou epitélio
germinativo apresenta várias camadas de células e é
constituído por duas linhagens de células: as células de
Sertoli e as células da linhagem seminífera (ou células
da linhagem espermatogênica). Estas últimas células
encontram-se em diferentes estágios de maturação.
Células de Sertoli
As células de Sertoli são conhecidas como as
verdadeiras células epiteliais do epitélio seminífero e se
estendem da lâmina basal ao lúmen. São células
cilíndricas altas, cujas membranas plasmáticas laterais
possuem complexas invaginações, as quais tornam
impossível a distinção de seus limites celulares laterais
quando visualizadas ao microscópio óptico.
Suas membranas plasmáticas apicais também são muito
pregueadas e se projetam para os lúmens dos túbulos
seminíferos. Estas células têm um núcleo oval, pouco
corado, e localizado no citoplasma basal, com um grande
nucléolo centralmente posicionado.
O citoplasma apresenta inclusões, denominadas
cristaloides de Charcot-Böttcher, cuja composição e função
são desconhecidas. Eletromicrografias revelam que o
citoplasma das células de Sertoli está repleto de túbulos e
vesículas de retículo endoplasmático liso (REL), porém
a quantidade de retículo endoplasmático granular (RE)
é limitada.
Esta célula também apresenta numerosas
mitocôndrias, um aparelho de Golgi bem desenvolvido
e numerosas vesículas que pertencem ao complexo
endolisossomal. Os elementos do citoesqueleto das
células de Sertoli também são abundantes, indicando
que uma das funções desta célula é fornecer suporte
estrutural para os gametas em desenvolvimento.
Espermiogênese
Espermiogênese é o nome da fase final de produção de
espermatozoides. Durante esse processo, as espermátides
se transformam em espermatozoides, células altamente
especializadas para transferir o DNA masculino ao ovócito.
Nenhuma divisão celular ocorre durante esta
transformação.
Figura 6. Desenvolvimento das células espermáticas. Fonte:
Ody_Stocker/Shutterstock.com
Temperatura
A temperatura é muito importante para o controle da
espermatogênese, que só acontece a temperaturas abaixo
de 37ºC. A temperatura dos testículos é de
aproximadamente 35ºC e é controlada por meio de vários
mecanismos.
Um rico plexo venoso, o plexo pampiniforme, envolve
as artérias dos testículos e forma um sistema contracorrente
de troca de calor, que é importante para manter a
temperatura testicular. Outros fatores são a evaporação de
suor da pele da bolsa escrotal, que contribui para a
perda de calor e a contração de músculos cremastéricos
do cordão espermático que tracionam os testículos em
direção aos canais inguinais, nos quais a sua temperatura
pode ser aumentada.
Outros fatores
Desnutrição, alcoolismo e várias substâncias levam a
alterações nas espermatogônias, causando diminuição na
produção de espermatozoides. Irradiações e sais de
cádmio são bastante tóxicos para as células da linhagem
espermatogênica, causando a morte dessas células e
esterilidade nos indivíduos acometidos.
4. DUCTOS GENITAIS
Os ductos genitais e as glândulas acessórias
produzem secreções que, impulsionadas por contração de
músculo liso, transportam os espermatozoides para o
exterior. Assim, essas glândulas produzem a porção não
celular do sêmen a qual se constitui num veículo fluido
para liberar os espermatozoides no trato reprodutor
feminino, além de promover a sua nutrição.
Ductos intratesticulares
Os ductos genitais intratesticulares seguem os
túbulos seminíferos e conduzem espermatozoides e fluidos,
sendo eles: os túbulos retos, rede testicular e ductos
eferentes. A maioria dos túbulos seminíferos tem forma de
alça, cujas extremidades continuam nos túbulos retos.
Nesses túbulos, faltam as células da linhagem
espermatogênica e há um segmento inicial formado somente
por células de Sertoli seguido por um segmento principal
revestido por um epitélio de células cuboides apoiado em
uma envoltura de tecido conjuntivo denso.
Conduz os
Tecido espermatozoides
Rede Epitélio simples
conjuntivo dos túbulos
testicular cúbico
vascularizado retos para os
ductos eferentes
Características Histológicas e Funcionais dos Ductos
Genitais Masculinos
Revestimento Tecidos de
Ducto Função
epitelial sustentação
Delgada
camada de
tecido
conjuntivo
Áreas de células frouxo Conduz os
cúbicas não ciliadas envolvida por espermatozoides
Ductos
que se alternam uma delgada da rede
eferentes
com células camada de testicular para o
cilíndricas ciliadas células epidídimo
musculares
lisas
organizadas
circularmente
Delgada
camada de
tecido
Epitélio conjuntivo
pseudoestratificado frouxo Conduz os
constituído por envolvida por espermatozoides
Epidídimo células basais uma delgada dos ductos para
baixas e células camada de o ducto
principais altas células deferente
(com estereocílios) musculares
lisas
organizadas
circularmente
Características Histológicas e Funcionais dos Ductos
Genitais Masculinos
Revestimento Tecidos de
Ducto Função
epitelial sustentação
Tecido
conjuntivo
frouxo
fibroelástico, Leva os
Epitélio
três camadas espermatozoides
Ducto pseudoestratificado
espessas de da cauda do
deferente cilíndrico
músculo liso, epidídimo para o
estereociliado
longitudinais ducto ejaculador
interna e
externa e
circular média
Tecido
conjuntivo
Leva os
subepitelial
espermatozoides
com pregas,
e o fluido
Ducto Epitélio simples dando um
seminal para a
ejaculador cilíndrico aspecto
uretra prostática
irregular ao
junto ao colículo
lúmen;
seminal
ausência de
músculo liso
5. GLÂNDULAS ACESSÓRIAS
As glândulas genitais acessórias são as vesículas
seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais,
sendo as produtoras de secreções essenciais para a função
reprodutiva do homem.
As vesículas seminais consistem em dois tubos muito
tortuosos cuja mucosa se mostra pregueada e forrada com
epitélio cuboide ou pseudoestratificado colunar. As
células epiteliais são ricas em grânulos de secreção,
semelhantes aos encontrados em células que sintetizam
proteínas. A lâmina própria é rica em fibras elásticas e é
envolvida por uma espessa camada de músculo liso.
As vesículas seminais não são reservatórios para
espermatozoides. São glândulas que produzem uma
secreção que contêm substâncias importantes para os
espermatozoides, como frutose, citrato, inositol,
prostaglandinas e várias proteínas. Os carboidratos
produzidos pelas glândulas acessórias do sistema reprodutor
masculino e o líquido seminal constituem fonte energética
para a motilidade dos espermatozoides.
6. PÊNIS
O pênis é dividido em três partes: raiz, corpo e glande. A
raiz é encontrada na bolsa perineal superficial, fixando o
pênis ao períneo. O corpo do pênis é constituído por três
tecidos eréteis, em que dois desses cilindros, os corpos
cavernosos do pênis, estão localizados na parte dorsal do
pênis. O terceiro, localizado ventralmente, é chamado corpo
cavernoso da uretra ou corpo esponjoso e envolve a
uretra. Na sua extremidade distal ele se dilata, formando a
glande do pênis.