Título Original: The 3D Gospel Ministry in, Shame, and Fear Cultures

©2017 por Jason Georges

Publicado originalmente por Times Press, 2017

Primeira edição em português: Agosto de 2020

Copyright ©Editora Hikmah
DEPOIMENTOS
Todos os direitos reservados à
Editora Hikmah©
Rua Capitão Jacob Becker, 377
Vila Yolanda – Foz do Iguaçu – PR
CEP: 85853480 “Um excelente recurso para todos os que trabalham para
www.editorahikmah.com.br
enquadrar a mensagem cristã em qualquer cultura.”
Tradução: Cilvio Meireles Themelios (The Gospel Coalition)
Revisão: Deyse Heitor
Capa: Kevin Monteiro
Diagramação: Kevin Monteiro
Imagens: Jason Georges “O Evangelho 3D é uma cartilha benéfica e recomendada.”
Emre Kuzu Missiologia: Uma revisão internacional

G351e George, Jason,1980

O Evangelho 3D/ Jason Georges; tradução Cilvio Meireles. - Foz do “Este livro pode servir como um ponto de partida para
Iguaçu, PR: Editora Hikmah, 2020.
explorar a dinâmica dessas questões muito reais que, se
96p.: 21cm
levadas a sério, realmente aprimoram o testemunho do
Tradução de: The 3D Gospel Ministry in, Shame, and Fear Cultures evangelho para as pessoas inseridas em uma visão de
ISBN 978-65-991650-1-6.
mundo diferente.”
1.Evangelho. 2. Cultura. 3. Cristianismo Missões Evangélicas Trimestrais
CDD: 200
CDU: 27-47

“Jayson Georges, um missiologista experiente, mostra

Todos os direitos reservados. Nenhum trecho deste livro poderá ser reproduzido, como as boas novas de Jesus se aplicam a uma ampla
armazenado em um sistema de busca, ou transmitido em qualquer forma ou quaisquer variedade de culturas no O Evangelho 3D.”
meios – eletrônico, mecânico, cópia, ou gravação – sem permissão por escrito da
editora, exceto para breves citações em revistas impressas.
Southeastern Theological Review

5
“O Evangelho 3D é um excelente tratamento revelador
das culturas de Culpa-Inocência, honra-vergonha, poder
e medo. A pesquisa de Jayson Georges, as ideias das
Escrituras e o uso dessas três lentes de visão de mundo
são de grande valor para aqueles de nós que ministramos
para e com as nações.”
Jeffrey A. Gill (D.Min., Ph.D.) Vice-Presidente e
Decano, Grace Theological Seminary
“O Evangelho 3D torna conceitos culturais significativos
acessíveis e fáceis de ver. Obrigado, Jayson, por ajudar
as pessoas a entender a complexidade das culturas
globais e suas implicações para a missão cristã.”
Judith Lingenfelter (Ph.D.) Professora de Estudos
Interculturais da Universidade Biola
“Estou empolgado que o 3D Gospel já está disponível.
É um guia prático para os cristãos que querem
ver como diferentes tipos de culturas e visões de
mundo influenciam a forma como lemos a Bíblia e
desenvolvemos estratégias de missão.”
Jackson Wu (Ph.D.), professor de seminário na
Ásia, autor de Saving God’s Face
“O livro de Jayson Georges é imperdível para todos
os cristãos que amam pessoas de diferentes culturas.
O Evangelho 3D é uma apresentação concisa dos
principais marcos culturais, para o qual o autor propõe
6 7
uma apresentação coerente de redenção. Isso o torna
uma ferramenta muito informativa e útil.”
Florent Varak, pastor em Lyon, França, professor
do Instituto Bíblico de Genebra
“Cansado dos modelos do evangelismo que produzem
o legalismo, o nominalismo, e/ou o sincretismo?
O Evangelho 3D de Jayson Georges pode fornecer
algumas soluções sólidas.”
Tom Steffen (Ph.D.), Professor Emérito de Estudos
Interculturais, Biola University
“As percepções de Jayson nascem de muitos anos de
experiência como praticante combinado com muitos
estudos bíblicos e antropológicos. O Evangelho 3D
será útil para o leigo que deseja alcançar seu vizinho
estrangeiro, bem como o missionário veterano que tem
servido no exterior... e qualquer um no meio.”
Grant Haynes, Diretor de Global Frontier Missions
“Como alguém que trabalhou com pessoas da Ásia
Central e Oriental, acho os insights de Jayson George
muito úteis. Claramente escrito, e prático, este livro
ajuda as pessoas a tirar suas cortinas culturais, entender
os outros e servir de forma mais eficaz.”
Kitty Purgason (Ph.D.), Professora na
Escola de Estudos Interculturais de
Cook, Biola University
“Com muitos de nossos mundos colidindo — modernos,
pós-modernos, ocidentais, orientais, imigrantes,
expatriados, etc., o Evangelho 3D fornece a necessária
“correção de cores” às nossas lentes ao apresentar o
evangelho. Se você está se perguntando o que pode estar
faltando ao comunicar o evangelho fora do seu contexto
de quatro paredes, leia O Evangelho 3D - simplesmente
não há outro recurso como ele.”
David Park, pastor da Open Table Community e
anfitrião da Next Gener. Asian Church
Para melhor aprendizagem, visite www.TheCultureTest.
com e complete o teste de 25 perguntas para aprender o
tipo de cultura primária do seu grupo. O teste gratuito leva
5 minutos para ser concluído, e os resultados são recebidos
imediatamente. Até a publicação deste livro o teste não estava
disponível em português (acréscimo do editor).

8 9
 ÍNDICE

E N X E R G A N D O N O VA S R E A L I D A D E S ....... 13
Três Tipos de Cultura.................................................... 14
O Evangelho 3D em Efésios......................................... 16
Enxergando o Diamante Completo............................... 17

C U LT U R A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... . . . 21
Mantendo o equilíbrio.................................................. 21
Culturas Culpa-Inocência............................................. 23
Culturas de Vergonha-Honra......................................... 25
Culturas do Medo-Poder............................................... 31
A Razão dos Tipos de Cultura....................................... 34
Como cada cultura atende às necessidades humanas........ 37
Realidades Globais Paralelas........................................ 42

T E O L O G I A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
A Narrativa Culpa-Inocência da salvação..................... 45
A Narrativa da Salvação de Vergonha-Honra............... 47
Principais versos de Vergonha-Honra........................... 51
A Narrativa do Medo-Poder da Salvação..................... 52
Principais versículos do Medo-Poder........................... 55
O Jardim do Éden e do Pecado..................................... 57
A expiação e a Morte de Jesus...................................... 59
Categorias Teológicas Sistematizadas.......................... 63
M I N I S T É R I O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
O Plano 3D da Salvação.............................................. 72
A História 3D da Salvação........................................... 74 ENXERGANDO
Formas contextualizadas de testemunhar..................... 75
Encontro da Verdade.................................................... 77 N O VA S R E A L I D A D E S
Encontro do poder........................................................ 78
Encontro comunitário...................................................

G
81
ulzel confiava em Jesus como uma estudante
C O N C L U S Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 universitária. A mensagem através da qual
Perguntas para discussão e reflexão............................. 91 ela aceitou Cristo era bastante padrão: “Suas
Mais obras de Jayson Georges..................................... 93 transgressões separam você de Deus; portanto, você
merece punição. Jesus morreu por seu pecado. Acredite
nele, e seus pecados serão perdoados.” Sua fé era genuína
e real. Seus pecados foram perdoados e ela desfrutou de
uma nova vida em Cristo. Mas como uma pessoa da Ásia
central, Gulzel enfrentou situações únicas que o perdão
não poderia resolver totalmente.
Numa noite de domingo, Gulzel estava voltando
para a cidade da casa de sua mãe, na aldeia. No táxi em
que ela entrou tinha um motorista e três passageiros do
sexo masculino. Depois de pouco tempo, os homens
começaram a convidar Gulzel para suas casas para
um chá, e a fazer certas propostas. Como uma jovem
garota, ela se sentiu desconfortável e tentou minimizar
a situação. No meio do passeio, os homens pararam
para uma rodada de doses de vodca ao longo da
estrada. Embriagados, os homens ficaram fisicamente
agressivos. Naquele momento, Gulzel notou seu tio
em um carro vindo em sua direção. Mas em vez de
pular na estrada e alertar o tio, Gulzel se escondeu. Ela

13
 O E VA N G E L H O 3 D
não queria que seu tio a visse. A principal preocupação
de Gulzel naquele momento era evitar a vergonha e
manter a honra da família.
Alguns anos depois, o irmão de Gulzel morreu.
Sua família lamentou a tragédia, especialmente porque
ele desempenhava um papel único como o filho mais
velho da família. Algumas semanas depois de sua morte,
Gulzel começou a ter sonhos regulares com seu irmão.
Enquanto ela dormia, espíritos à semelhança de seu irmão
a atormentavam. Quando Gulzel mencionou os sonhos
sombrios para sua família, ela foi instruída a comer areia
do túmulo do irmão para apaziguar os espíritos. Gulzel
desejava o poder sobre o reino espiritual para escapar do
tormento e encontrar a paz.
Embora verdadeiramente perdoada de seus
pecados, Gulzel precisava que Deus a salvasse da
vergonha e do medo, bem como da culpa. Gulzel, como a
maioria dos cristãos no mundo, precisa de um evangelho
tridimensional do perdão, honra e poder de Deus.
Três Tipos de Cultura
“Temos que contar com três tipos diferentes
de reações a transgressões de códigos sancionados
religiosamente: medo, vergonha e culpa.” Eugene Nida1
Missiologistas cristãos identificam três respostas ao
pecado nas culturas humanas: culpa, vergonha e medo.
1 Eugene Nida, Customs and Cultures (Nova York: Harper, 1954), p. 150. Essa divisão
tripartida da cultura foi iniciada por Nida, depois expandida e popularizada por Roland
Muller em Honor and Shame: Unlocking the door (Philadelphia: Xlibris, 2001).
14
E N X E R G A N D O N O VA S R E A L I D A D E S
Essas três emoções morais tornaram-se a base para
três tipos de cultura: (1) culturas de Culpa-Inocência,
que são sociedades individualistas (principalmente
ocidentais), onde pessoas que infringem as leis
são culpadas e buscam a justiça ou o perdão para
corrigir um erro, (2) culturas de Vergonha-Honra, que
descrevem culturas coletivistas (comuns no Oriente),
onde pessoas envergonhadas por não cumprirem as
expectativas do grupo buscam restaurar sua honra
perante a comunidade, e (3) culturas de Medo-Poder,
que refere-se a contextos animistas (tipicamente tribais
ou africanos), onde as pessoas com medo do mal e
da dor perseguem o poder sobre o mundo espiritual
através de rituais mágicos.
Esses três tipos de cultura são como personalidades
de grupo que definem como as pessoas veem o mundo.
Assim como indivíduos têm uma personalidade, grupos
culturais compartilham uma grupalidade. Grupalidade
refere-se a um “padrão organizado de características
comportamentais de um grupo.”2 A orientação cultural
de uma pessoa, ou grupalidade, molda sua visão de
mundo, ética, identidade e noção de salvação, ainda
mais do que sua personalidade individual. Por essa
razão, a conscientização dos tipos de cultura nos
ajuda a antecipar conflitos culturais e a comunicar o
evangelho tridimensionalmente ao mundo. O livro de
Efésios é um bom exemplo de como a graça de Deus
cura a culpa, a vergonha e o medo.
2“Groupalidade”, Wikipedia, 1º de outubro de 2014, http://en.wiktionary.org/wiki/
groupality.
15
 O E VA N G E L H O 3 D
O Evangelho 3D em Efésios
Paulo escreveu o livro de Efésios para explicar
“as riquezas incompreensíveis de Cristo” (3:8), que
envolve cada um desses três componentes da salvação
(itálico adicionado).
Culpa-Inocência - “Em que temos a redenção
pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as
riquezas da sua graça.” (1:7a) Deus “Estando nós ainda
mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo.” (2:5)
Vergonha-Honra - “...em amor; e nos predestinou
para filhos de adoção por Jesus Cristo.” (1:5) “Assim
que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos santos, e da família de Deus.” (2:19)
Medo-Poder - “E qual a sobre-excelente grandeza
do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a
operação da força do seu poder, que manifestou em
Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o
à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e
poder, e potestade, e domínio.” (1:19-21) “No demais,
irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do
seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus,
para que possais estar firmes contra as astutas ciladas
do diabo.” (6:10-11).
Três aspectos da salvação também emergem da
oração central de Paulo: “Tendo iluminados os olhos
do vosso entendimento, para que saibais qual seja a
esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória
16
E N X E R G A N D O N O VA S R E A L I D A D E S
da sua herança nos santos; E qual a sobre-excelente
grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos,
segundo a operação da força do seu poder.” (1:18-19)
O evangelho sempre permanece um todo indivisível,
mas examinar as facetas individualmente fornece uma
compreensão mais completa da salvação. Ler Efésios
tridimensionalmente ajuda os cristãos a perceberem
plenamente “segundo as riquezas da sua graça, que
ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e
prudência.” (1:7-8).3
Enxergando o Diamante Completo
O evangelho é um diamante de muitos lados,
e Deus quer que as pessoas de todas as culturas
experimentem a sua completa salvação. Mas apesar da
natureza multifacetada da salvação cristã, o cristianismo
ocidental enfatiza somente um aspecto da salvação
(ou seja, o perdão dos pecados), negligenciando
assim as outras facetas do evangelho de Jesus
Cristo. Imagine um diamante com apenas um lado!
Para os missionários transculturais, um evangelho
entrelaçado dificulta a espiritualidade, a teologia, as
relações e o ministério. Nós, sem querer, colocamos
Deus em uma caixa, permitindo que Ele nos salvasse
em apenas uma área.
3 Para mais leituras sobre Efésios, consulte: Power and Magic de Clint Arnold: The
Concepto f Power in Ephesians, (Eugene, OR: Wipf e Stock, 2001); Peter Gosnell,
“Honor and Shame Rhetoric as a Unifying Motif in Ephesians”, Boletim para Pesquisa
Bíblica 16: 1 (2006): 105-128.
17
 O E VA N G E L H O 3 D E N X E R G A N D O N O VA S R E A L I D A D E S

Compreensivelmente, o cristianismo ocidental o aumento da frutificação no ministério, examinamos a

enfatiza a faceta da salvação bíblica mais significativa orientação de cada grupo culturalmente, teologicamente
em seu contexto cultural. Historicamente, duas vozes e missiologicamente.
relevantes por trás da teologia ocidental, Agostinho de
Hipona (n. 354) e Martinho Lutero (n. 1483), foram ambas
atormentados com um sentido interno da ira de Deus
em relação às suas transgressões. Assim, seus escritos
exploram como Deus perdoa e absolve os pecadores
culpados. Enquanto a teologia dos contextos ocidentais
aborda a culpa e a inocência, as pessoas na maioria das
culturas mundiais desejam a honra para cobrir a vergonha
e o poder para mitigar o medo.
Apesar da proeminência da Vergonha-Honra
e da dinâmica do Medo-Poder nas culturas globais,
eles permanecem pontos cegos evidentes na maioria
da teologia cristã. A compreensão de Gulzel sobre a
salvação cristã, adotada a partir do cristianismo ocidental,
era apenas unidimensional. Consequentemente, ela
descumpriu as práticas culturais para acessar a honra e
o poder, ignorando a graça de Deus. Qual é o evangelho
para os contextos de culpa, vergonha e medo? Como é o
diamante inteiro?
As culturas do mundo bíblico eram principalmente
baseadas na vergonha e no medo. Consequentemente,
honra e poder são características proeminentes da
história bíblica. A história da salvação na Bíblia
apresenta uma teologia e missiologia para todos os
três tipos de culturas, por isso, a Igreja contemporânea
também deveria apresentar o evangelho 3D em vários
contextos culturais. Para equipar os cristãos globais para

18 19
 C U LT U R A

Mantendo o equilíbrio

E mbora culpa, vergonha e medo sejam três

perspectivas culturais distintas, nenhuma cultura
pode ser completamente caracterizada por apenas
uma delas. Essas três dinâmicas se entrelaçam e se
sobrepõem em todas as sociedades. As circunstâncias de
Gulzel ilustram como a cultura da Ásia Central integra a
dinâmica da vergonha e do medo. Mesmo indivíduos ou
grupos dentro de uma cultura podem variar, dependendo
da região, idade, sexo, etc. Por exemplo, um tailandês
rural pode estar mais baseado em medo do que um
urbanita em Bangkok. Jovens adultos na América
valorizando a autenticidade e conexão estão se baseando
mais na vergonha. As complexidades humanas desafiam
as categorias simples.
Um modelo mais preciso de cultura mede a
influência de cada dinâmica sobre um grupo. Observe
o triângulo a seguir, com cada canto representando a
culpa, a vergonha ou o medo. A orientação cultural
de um grupo, refletida pela posição no triângulo,
depende de quão fortemente cada dinâmica influencia
determinado grupo.

21
 O E VA N G E L H O 3 D
Exemplo apenas ilustrativo, sem base em pesquisas.
Cada visão de mundo cultural é uma mistura única
de culpa, vergonha e medo. Assim, uma cultura baseada
em vergonha se posiciona em direção ao canto superior.
Roland Muller diz que as três dinâmicas são como as três
cores básicas, através das quais os artistas criam milhares
de cores, portanto, quanto de cada cor é usada determina
o tipo final de cultura que emerge.4
Assim como todos os paradigmas culturais, a
tricotomia de culpa-vergonha-medo também simplifica as
complexidades em categorias, por uma questão de clareza.
Embora cada cultura seja única, todas possuem alguns
traços gerais que podem ser categorizados em três tipos
de cultura, e as seções a seguir resumem as características
comuns de cada uma de cada uma delas.
4 Muller, Honor and Shame, 16.
22
C U LT U R A
Culturas Culpa-Inocência
“Integridade é fazer a coisa certa, mesmo quando
ninguém estiver olhando.” C.S. Lewis.
As noções de certo e errado são os pilares
fundamentais nas culturas de Culpa-Inocência. A
sociedade cria regras e leis para impor quais ações são
certas e erradas, e são elas que definem o que é um
comportamento aceitável. Uma pessoa madura sabe o
certo e o errado — ela é uma “cidadã cumpridora da lei.”
Fazer o certo mantém um inocente; fazer errado faz um
culpado. Governos, corporações, escolas e até famílias
estabelecem regras para orientar o comportamento social
e esperam que essas regras se apliquem a todas as pessoas.
Ninguém está acima da lei. A sociedade espera que a
justiça vendada sempre julgue imparcialmente.
Culturas orientadas à culpa não apenas enfatizam as
regras e leis, mas socializam as pessoas para internalizar
os códigos de conduta, porque a responsabilidade moral
vem de dentro. A sociedade espera que nossas consciências
internas nos guiem, então fazemos o que é “certo.” Uma
das minhas primeiras memórias de infância que tenho foi
uma consciência atormentada por roubar um caminhão
de bombeiros da Hot Wheels na pré-escola. Mesmo
que ninguém tenha me testemunhado, minha jovem
consciência me atormentava até que eu o devolvesse no
dia seguinte. A culpa não precisa de audiência.
O resultado é um sistema individualista. A
paternidade ocidental treina as crianças para “pensar
por conta própria”, “ser fiel a si mesmo” e “trilhar seu
23
 O E VA N G E L H O 3 D
próprio caminho.” Curvar-se à pressão social e se
misturar raramente são coisas admiradas, pois as pessoas
são autônomas. Como todos possuem sua própria bússola
interna, a comunidade raramente define comportamentos
aceitáveis. A sociedade espera que as pessoas ajam
corretamente sozinhas.
Mas quando uma pessoa faz algo errado (como
definido por regras e leis), a justiça exige que essas ações
negativas sejam tratadas de forma equitativa. Várias
frases em português refletem a supremacia da justiça
na estruturação da sociedade ocidental; quando o erro é
cometido, nós “buscamos justiça”, “exigimos justiça” e
exigimos que “a justiça seja feita.” Justiça é um senso de
direito moral universal.
As culturas de culpa se concentram nas ações. Um
infrator culpado pode remediar uma ação ruim com outra
ação — serviço comunitário, pagar uma multa, tempo de
prisão. Como o problema é uma ação errada, a solução
é uma ação de contrabalanceamento que se encaixa
no erro. Para aliviar a culpa, uma pessoa normalmente
deve confessar irregularidades e/ou fornecer restituição.
A pessoa que honestamente se apropria de falhas é
recompensada. Por exemplo, um político acusado de
infidelidade conjugal pode tipicamente reparar a situação
confessando publicamente as irregularidades. Esses
conceitos inter-relacionados de consciência introspectiva,
confissão, certo/errado, restituição, justiça e perdão
orientam o comportamento social em culturas de Culpa-
Inocência.
A orientação Culpa-Inocência enquadra não apenas
a moralidade de uma cultura, mas também influencia
24
C U LT U R A
conceitos de identidade humana. Por causa da ênfase nas
ações, os individualistas baseiam o seu valor no “fazer.” A
identidade é baseada em empregos e hobbies, em vez de
família ou etnia. As pessoas se definem pela forma como
seu comportamento e autoexpressão diferem do grupo,
não por qual grupo fazem parte.
O caminho para uma cultura individualista de
Culpa-Inocência no Ocidente começou há mais de 2.500
anos. Os antigos gregos e romanos viviam para honrar;
a virtude philotime (“amor à honra”) era altamente
considerada. Mas com o tempo, os filósofos sugeriram
que a honra fosse atribuída à conduta moral, em vez da
linhagem, atletismo ou riqueza. Fazer o certo, não apenas
ser poderoso, deve tornar uma pessoa respeitável. No
dilema de Eutífron, Sócrates concluiu que até os deuses
deveriam agir piedosamente. Filósofos antigos anexaram
o status ao comportamento moral individual.
Mais tarde, pensadores renascentistas e iluministas
definiram as pessoas como indivíduos autônomos e
racionais: “Penso, logo existo.” A filosofia ocidental
agora explica a essência de uma pessoa além de seus
relacionamentos ou comunidade. Consequentemente,
a civilização ocidental descarta a dinâmica comum (ou
seja, honra, vergonha e confronto) em favor da culpa,
inocência e justiça.
Culturas de Vergonha-Honra
“Honra é a boa opinião das pessoas boas.” Sêneca,
famoso filósofo romano.
25
 O E VA N G E L H O 3 D
Após o trágico atentado à Maratona de Boston em
2013, a mídia encontrou o tio dos suspeitos. Em frente
às câmeras, o tio checheno reprimiu os seus sobrinhos;
“Vocês colocaram uma vergonha em toda a nossa família
- a família Tsarnaev. E vocês colocaram uma vergonha em
toda a etnia chechena... Todo mundo agora coloca essa
vergonha em toda a etnia.” Enquanto os americanos se
afastavam da tragédia da perda, o tio checheno lamentava
a vergonha do seu povo. 5
Sociedades de Vergonha-Honra assumem uma
forte orientação em grupo. Honra é o valor social de
uma pessoa, o valor aos olhos da comunidade. Honra é
quando outras pessoas pensam bem de você, resultando
em laços sociais harmoniosos na comunidade. A honra
vem dos relacionamentos.
A vergonha, por outro lado, é uma avaliação pública
negativa: a comunidade olha pra você de uma forma
depreciativa, diminuta.... Você está desconectado do
grupo. Por exemplo, uma palavra tailandesa para vergonha
significa “arrancar a cara de alguém”, de tal forma que
eles fiquem mal perante os outros. Aqui estão as palavras
de um israelita lamentando a Deus sobre a vergonha “Tu
nos pões por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio
e zombaria daqueles que estão à roda de nós. Tu nos pões
por provérbio entre os gentios, por movimento de cabeça
entre os povos. A minha confusão está constantemente
diante de mim, e a vergonha do meu rosto me cobre.”
(Salmos 44:13-15)
Honra e vergonha funcionam como uma classificação
5 “Ucle Calls Boston Marathon Bombers ‘Losers”, CNN, 19 de abril de 2013, http://www.
cnn.com/2013/04/19/us/marathon-suspects-uncle/index.html.
26
C U LT U R A
de crédito social medindo a sua reputação. Como a honra
e a vergonha são inerentemente relacionais, essas culturas
são coletivistas. Espera-se que os membros das culturas
de honra e vergonha mantenham o status social do grupo,
geralmente à custa de desejos pessoais. Se um jovem se
casa com alguém de um clã diferente, o vilarejo obriga
o pai a agir no interesse da honra da família. Vergonha e
honra são contagiosas; o que uma pessoa faz afetará todo o
grupo. Quando o Brasil perdeu por 7 a 1 para a Alemanha
na Copa do Mundo de 2014, os torcedores brasileiros
responderam: “Nossa nação está machucada. Precisamos
enfrentar pessoas que zombam de nós pelo resto de nossas
vidas” e “sinto vergonha de ser brasileiro.” 6 Também
na Bíblia, o povo de Deus envergonhou o nome de
Deus (cf. Malaquias 1: 6; Romanos 2:24). Desde
pequenas, as crianças aprendem que devem atuar
como representantes que mantêm a honra da família.
Portanto, o objetivo de uma pessoa é evitar envergonhar
sua família, vila e até nação.
A matriz social das culturas de honra e vergonha
é projetada para estabelecer e expandir uma rede de
relacionamentos. As conexões são vitais em todos
os aspectos da vida. Quem você conhece (e quem
conhece você) é tudo! Culturas orientadas a grupos
valorizam a harmonia relacional. As pessoas se
esforçam para manter laços interpessoais e evitar
ofender os outros. Salvar a reputação e manter a paz
preservando conexões.
Nos relacionamentos, é fundamental manter o
6 Alexandra Garcia e Sergio Pecanha, “World Cup Despair in Brazil”, The New York
Times, 9 de julho de 2014.
27
 O E VA N G E L H O 3 D
equilíbrio nas obrigações e retribuições. Os presentes e a
hospitalidade são sempre pagos, para que não se incorra
em uma “dívida social” de vergonha diante dos colegas.
A dinâmica familiar e as estruturas de liderança são mais
autoritárias. As pessoas concedem aos líderes autoridade
e prestígio em troca de provisão e proteção.
Em uma cultura de vergonha e honra, cada pessoa
tem um papel adequado, que muitas vezes é baseado na
idade, sexo e posição. As pessoas mantêm a honra se
comportando de acordo com esse papel. Até as crianças
aprendem a navegar honrosamente em relacionamentos
ou circunstâncias. Wesley Yang diz que o “estilo
parental asiático intenciona explicitamente a humildade
do eu individual em favor das necessidades do coletivo
mais amplo... Esse estilo parental visa a criação de um
'eu interdependente', definido não pelo seu senso de
autonomia interior, mas pela sensibilidade aos papéis
sociais que deve desempenhar dependendo do contexto
em que se encontra.” 7
O grupo impõe moralidade externamente. Ao fazer
escolhas, as pessoas perguntam: “O que é honroso?”,
“O que os outros vão pensar?”, ou “E o nome da minha
família?” Quando uma pessoa tem múltiplos papéis
sociais, o comportamento aceitável depende do
contexto, não das regras. As culturas de Vergonha-
Honra acreditam no bem e no errado moral, mas
definem a moralidade relacionalmente, não legal ou
abstratamente. O que é melhor para relacionamentos
é moralmente certo.
7 Wesley Yang, “'Tiger Writing', de Gish Jen”, The New York Times, 26 de abril de 2013,
sec. Books / Sunday Book Review.
28
C U LT U R A
Embora algumas ações possam produzir vergonha
(por exemplo, ao sonegar impostos ou tropeçar no
palco), a vergonha mais profunda muitas vezes vem
de ser um certo tipo de pessoa. O status no estado
coletivismo é principalmente herdado do grupo. Quem
você é, honrado ou vergonhoso, é atribuído com base
na etnia, proeminência, origem e linhagem do seu
grupo. A identidade é baseada mais em quem você é,
não simplesmente no que você faz. Em muitos países
asiáticos, as pessoas se apresentam dando o nome de
sua família primeiro. Nos Evangelhos, Jesus concedeu
dignidade e honra a muitos que viviam envergonhados
devido a circunstâncias além de seu controle. Os cegos,
surdos, mancos, leprosos, mulheres com fluxo de
sangue, possuídos por demônios e gentios eram párias
impuros que Jesus restaurou física e socialmente.
Remover a vergonha requer mais do que o perdão.
A vergonha produz sentimentos de humilhação, de
desaprovação e de abandono. A vergonha significa a
inadequação da pessoa inteira. Quando a culpa diz, “eu
cometi um erro”; a vergonha diz, “eu sou um erro.” Já que
o problema é a pessoa em si, o envergonhado é banido
do grupo. Para evitar a rejeição e a isolação, pessoas
mascaram suas vergonhas dos outros. O gráfico a seguir
compara como as culturas baseadas em culpa e vergonha
definem os erros normais e de abordagem.
Gerenciar a vergonha é essencial porque uma pessoa
envergonhada (ao contrário de uma pessoa culpada) pode
fazer muito pouco para reparar o dano social. Corrigir a
vergonha requer uma espécie de refazer ou transformar o
eu; e a identidade de alguém deve mudar. Na maioria das
29
 O E VA N G E L H O 3 D C U LT U R A

vezes, uma pessoa de um status superior deve restaurar honra ou até mesmo terrorismo para evitar a vergonha e
publicamente a honra dos envergonhados, como o pai restaurar a honra. Mas culturas do extremo Oriente, como
graciosamente fez para o filho pródigo em Lucas 15. o Japão e a Coreia, lutam pela harmonia. O conflito é
um jogo ganha-ganha ou perde-perde. Assim, os asiáticos
Culpa baseada em
comportamento
Vergonha baseada
em comportamento
orientais respondem à vergonha retirando-se ou até mesmo
cultural cultural cometendo suicídio. Embora as expressões externas
Aceitável definido por Regras e leis
Relacionamentos contrastem, ambos os blocos culturais estão profundamente
e papéis
enraizados em valores de Vergonha-Honra.8
Comportamento
Consciência interna Comunidade externa
orientado por
Violações produzem Culpa Vergonha Culturas do Medo-Poder
Eu cometi um
Problema central Eu sou um erro (ser)
erro (ação) Em culturas baseadas no medo, não é importante
Violações afetam O transgressor O grupo acreditar genuinamente em certas verdades ou seguir certos
Resposta do infrator
Justifique ou peça
Esconder ou cobrir padrões éticos. Em vez disso, métodos que apaziguam os
desculpas
Punir para servir a Excluir para remover a
poderes espirituais definem o comportamento humano
Resposta do público
justiça vergonha aceitável. O foco está em técnicas “arbitrárias” para apaziguar
Meios de resolução Perdão Restauração e manipular os poderes invisíveis para agirem a seu favor. As
Tabela: Como as culturas de culpa e vergonha definem o normal e como remediar os erros pessoas temem criar um erro fazendo algo errado diante do
mundo espiritual. Líderes em contextos de Medo-Poder são
Os ocidentais muitas vezes sentem falta da dinâmica muitas vezes pessoas religiosas ou espirituais que acreditam
de honra e vergonha em outras culturas. Uma das razões serem capazes de mudar o curso da história através de
é que idiomas usam palavras diferentes para falar sobre práticas ritualistas. Embora a dinâmica do medo e do poder
honra e vergonha, tais como: glória, reputação, status, sejam comumente associadas a xamãs tribais ou praticantes
dignidade ou valor. Muitas culturas usam as metáforas caribenhos de vodu, ela também pode influenciar um
“nome” ou “rosto” para falar de vergonha e honra, já que empresário brasileiro que ora para um santo, ou um
as pessoas são conhecidas pelo nome e pelo rosto. político de Washington que consulta um astrólogo.9
Além disso, as expressões culturais de honra e
8 Para mais informações, consulte: “Noções básicas sobre 8 traços de culturas de honra
vergonha podem parecer contraditórias. Por exemplo, e vergonha”, www.HonorShame.com, 17 de abril de 2014; “The Chase for Face: The
culturas do Oriente Médio competem agressivamente Shame of Western Collectivism” Jackson Wu, 19 de agosto de 2014; David de Silva,
pela honra. O conflito é visto como ganha-perde ou Honor, Patromage, Kinship and Purity (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2000).
9 Steven V. Roberts, “White House Confirms Reagans Follow Astrology, Up to a
perde-ganha. Assim, eles podem recorrer a crimes de Point”, The New York Times, 4 de maio de 1988.

30 31
 O E VA N G E L H O 3 D
Por trás da fachada de muitas religiões formais está
o animismo — a religião funcional das culturas do Medo-
Poder. O animismo acredita que espíritos que habitam
o mundo físico (em árvores, clima, pessoas, doenças,
etc.) podem ser manipulados através de rituais mágicos
para benefício pessoal. Essas religiões “folclóricas”
ou “tribais” normalmente observam três dimensões da
realidade:
1. o mundo visto (pessoas, casas, objetos físicos)
2. o invisível deste mundo (anjos, espíritos, mana,
bênçãos, maldições, ancestrais)
3. o mundo espiritual (Deus, céu, inferno)
Uma vez que as forças espirituais invisíveis
permeiam nossa vida cotidiana, muitas pessoas olham
para a dimensão intermediária, o invisível deste mundo,
para explicar falhas nas colheitas, doenças, acidentes,
guerra, ou mesmo o gênero de uma criança. Em 1982, o
missiologista Paul Hiebert escreveu “A Lacuna do Meio
Excluído” para explicar como a visão de mundo ocidental,
influenciada pelo racionalismo científico, exclui toda
a dimensão intermediária das forças espirituais na vida
cotidiana. 10 O modernismo descarta a visão de mundo do
Medo-Poder como “superstição não científica”, ignorando
a presença real de seres espirituais no mundo.
As Culturas do Medo-Poder vivem em constante
medo de poderes invisíveis. Eles temem que um possível
erro possa abrir um ponto vulnerável para uma influência
espiritual, ou expô-los a danos — como um acidente, um
sonho ruim ou até mesmo a possessão demoníaca. Pessoas
10 Paul Hiebert, “The Flaw of the Excluded Middle”, Missiology 10: 1 (1982): 35-47.
32
C U LT U R A
em contextos baseados no medo nunca sabem que mal
os espíritos caprichosos podem infligir. Para controlar
as incógnitas da vida e afastar influências malignas, elas
recorrem a rituais mágicos, que são técnicas secretas que
aproveitam o poder espiritual para evitar danos e atrair
bênçãos. As pessoas se esforçam para viver em paz com
as forças que convivem em seu mundo, pois a desarmonia
com o espiritual pode ser desastrosa.
As práticas comuns para obter poder incluem o uso
de amuletos, maldições, encantos, fetiches, recitações,
encantamentos, bruxaria, horóscopos ou o amuleto do olho
grego. A lógica moral das culturas do Medo-Poder diz: faça algo
no mundo visto para manipular o mundo invisível para ajudá-lo.
Para proteger um recém-nascido vulnerável de
danos, os pais podem pintar uma imagem em sua testa
para afastar os espíritos. Para infligir vingança, uma
pessoa ofendida pode queimar uma foto de um inimigo.
Para promover a fertilidade, um casal pode visitar uma
montanha sagrada para orar. Para conter uma doença
contagiosa, os anciãos da aldeia podem sacrificar um touro
para apaziguar os deuses. Para garantir a prosperidade,
uma família pode sacrificar comida para os ancestrais
no altar da família. Para obter influência sobrenatural ao
longo da vida, uma pessoa pode convidar propositalmente
seres sombrios para sua vida. A submissão voluntária a
esses espíritos promete proteção, provisão espiritual, e
talvez um lugar respeitado na comunidade como xamã. 11
11 Para mais informações, consulte: Dean Halverson, “Animism: The Religion of
the Tribal Word” IJFM 15: 2 (1998): 59-67; Gailyn Van Rheenen, Communicating Christ
in Animistic Contexts (Pasadena, CA: William Carey Library, 1996); Paul Hiebert,
Daniel Shaw e Tite Tienou, Understanding Folk Religion (Grand Rapids, MI: Baker
Academic, 2000).
33
 O E VA N G E L H O 3 D
A Razão dos Tipos de Cultura
Por que as culturas de culpa, vergonha e medo
existem? A resposta é, em grande parte, socioeconômica.
Os sistemas através dos quais as pessoas adquirem
recursos influenciam como o grupo recompensa
(inocência, honra, poder) ou castiga (culpa, vergonha ou
medo) seus membros.
Todas as pessoas devem de alguma forma acessar
as necessidades básicas da vida — comida, proteção,
informação, saúde, trabalho, etc. Os três guardiões
primários que controlam os recursos na vida são (1)
instituições formais, (2) comunidades humanas e (3)
espíritos invisíveis. A menos que uma pessoa possa
sobreviver completamente sozinha, ela deve garantir
um bom relacionamento com pelo menos um dos
guardiões. Cada sistema tem um protocolo único
que as pessoas devem seguir para permanecer em
boa posição e acessar recursos. Por exemplo, vamos
considerar como as pessoas obtêm orientações para
dirigir em cada sistema cultural.
Uma pessoa ocidental provavelmente acessaria
um mapa em seu smartphone para obter direções. Isso
se baseia em instituições e organizações legalmente
estabelecidas. Neste caso, o governo (militar dos EUA
para informações GPS) e corporações (Apple ou Google)
fornecem acesso às direções. Para manter o acesso aos
serviços que as instituições oferecem, a pessoa deve
seguir suas regras e leis legais. Uma pessoa culpada por
infringir uma regra ou lei é cortada das instituições. Nas
economias de mercado do Ocidente, os empregadores
34
C U LT U R A
são as principais instituições que fornecem maneiras;
para manter seu emprego, você deve seguir o manual de
política do RH.
Em sociedades coletivistas, são as pessoas, e
não as instituições, que possuem as informações.
Quando vivia na Ásia Central, conseguir direções era
uma caça ao tesouro baseada na comunidade. Meu
vizinho só me dizia a direção geral do meu destino: “É
perto da fábrica verde do outro lado do rio.” Quando
cheguei na fábrica verde, tive que perguntar a outra
pessoa, depois a outra, até que finalmente cheguei. As
conexões relacionais são essenciais para a aquisição de
recursos como informações, e uma reputação honrosa
garante essas relações essenciais. A comunidade não
ajuda nem se associa a pessoas vergonhosas. Longe
de um grupo, dificilmente se pode acessar recursos
essenciais para a vida.
Culturas animistas escolhem direções baseadas em
realidades espirituais invisíveis. As pessoas desejam a
melhor rota espiritual, que pode ser garantida consultando
um adivinho, recitando um poder mágico ou evitando
áreas perigosas. O objetivo não é a velocidade, mas a
segurança. Uma vez que só os espíritos sabem como os
humanos podem chegar com segurança ao seu destino,
boas relações com o reino espiritual são essenciais para
viver a vida.
Quem controla o que preciso para a vida: as
instituições formais, as comunidades humanas ou
os poderes espirituais? Culpa, vergonha e medo são
as emoções morais que os grupos socioeconômicos
usam para organizar a distribuição de recursos entre as
35
 O E VA N G E L H O 3 D
pessoas. Os três métodos de assegurar direções ilustram
como as pessoas devem ser: inocentes diante das
instituições, obedecendo às regras e leis, para que não
sejam consideradas culpadas; honradas na comunidade,
respeitando as expectativas do grupo e desempenhando os
papéis apropriados, para que não sejam envergonhadas;
ou poderosas no reino espiritual, observando os rituais
e técnicas adequadas, para que não sejam impotentes
e vulneráveis. A ilustração do círculo a seguir mostra
visualmente como uma pessoa (no centro) adquire
recursos essenciais (o anel externo), e as três potenciais
barreiras sociais.
36
C U LT U R A
Como cada cultura atende às necessidades humanas
O sistema econômico de uma sociedade influencia
se os infratores experimentam principalmente culpa,
vergonha ou medo. Essa realidade sustenta a maioria das
questões no Teste de Cultura. A forma abaixo explica
como cada tipo de cultura (ou seja, IC- Inocência e
Culpa, VH- Vergonha e Honra ou PM- Poder e Medo)
funciona em várias situações de vida para atender às
necessidades essenciais. Esta lista ilustra as formas
práticas como as culturas incorporam seus valores
subsuperficiais. Se você ainda não fez o Teste de
Cultura, visite www.TheCultureTest.com para fazer a
pesquisa gratuita de 5 minutos.
1. Para obter instruções, pessoas:
Usam um mapa. (IC)
Perguntam aos outros. (VH)
Oram por orientação. (PM)
2. As habilidades de trabalho são adquiridas por:
Educação formal. (IC)
Aprendizado e observação. (VH)
Recebendo conhecimento de Deus. (PM)
3. Os doentes são tratados por:
Prescrição de um médico. (IC)
Um remédio natural tradicional. (VH)
Orações rituais e sacrifícios. (PM)
37
 O E VA N G E L H O 3 D
4. Uma pessoa ofendida:
Busca a justiça. (IC)
Vinga-se ou se retira. (VH)
Coloca uma maldição. (PM)
5. Uma marca de nascença é considerada:
Inofensiva. (IC)
Uma mancha embaraçosa. (VH)
Um presságio ou sinal. (PM)
6. Durante as apresentações, as pessoas afirmam:
Seu primeiro nome e ocupação. (IC)
Seu nome completo e título. (VH)
Um nome alternativo para ocultar seu nome de
nascimento. (PM)
7. As pessoas leem escritos sagrados para:
Orientação e instrução. (IC)
Herança e identidade. (VH)
Proteção e bênção. (PM)
8. Os erros de um infrator afetam principalmente:
Sua consciência interna. (IC)
Sua reputação pública. (VH)
Seu destino. (PM)
9. As pessoas evitam lixeiras porque elas:
São anti-higiênicas e fedorentas. (IC)
Contaminam as pessoas. (VH)
São onde os espíritos residem. (PM)
38
C U LT U R A
10. A chave para começar um negócio de sucesso é:
Escrever um bom plano de negócios. (IC)
Ter os contatos certos. (VH)
Realizar um ritual religioso. (PM)
11. As pessoas anseiam por:
Igualdade e justiça. (IC)
Status e reputação. (VH)
Segurança e paz. (PM)
12. O conceito de “família” inclui:
Cônjuge e filhos. (IC)
Todas as relações estendidas. (VH)
Relações estendidas e ancestrais falecidos. (PM)
13. Pais aconselham os filhos para:
Cumprir seus próprios interesses e paixões. (IC)
Observar as expectativas da comunidade. (VH)
Apaziguar forças invisíveis. (PM)
14. As pessoas em perigo recebem proteção de:
Polícia. (IC)
Amigos. (VH)
Práticas mágicas. (PM)
15. A verdade vem de:
Ciência e fatos. (IC)
Tradição e consenso. (VH)
Misticismo e pragmatismo. (PM)
39
 O E VA N G E L H O 3 D C U LT U R A

16. Ao fazer uma viagem, as pessoas: 22. Os alimentos são adquiridos de:
Tomam o caminho mais curto. (IC) Um supermercado. (IC)
Visitam a família ao longo do caminho. (VH) Uma fazenda familiar ou mercado local. (VH)
Evitam rotas perigosas. (PM) Natureza selvagem. (PM)

17. A infertilidade é resolvida ao: 23. As pessoas devem agir de acordo com:
Buscar tratamento médico. (IC) Certo e errado. (IC)
Conseguir um novo cônjuge. (SH) Papéis e expectativas. (VH)
Visitar uma pessoa santa ou santuário. (PM) Técnicas e táticas. (PM)

18. Depois do mau comportamento, as pessoas se 24. Pessoas com dinheiro:

sentem: Guardam em bancos. (IC)
Com remorso. (IC) Usam para ajudar os outros
Inferiores. (VH) e promover relacionamentos. (VH)
Ansiosas. (PM) Protegem-no de danos. (PM)

19. Casamentos geralmente começam: 25. Onde um convidado senta em uma refeição:
Perto do horário programado. (IC) É escolhido aleatoriamente. (IC)
Uma vez que as pessoas-chave chegam. (VH) Indica seu status ou idade. (VH)
Em um momento propício ou dia de sorte. (PM) Pode afetar o que acontece amanhã. (PM)

20. As pessoas com mais de 70 anos são consideradas:

Obsoletas. (IC)
Honráveis. (VH)
Poderosas. (PM)

21. Os líderes mantêm amizades com:

Seus seguidores. (IC)
Pessoas influentes. (VH)
Poderes espirituais. (PM)

40 41
 O E VA N G E L H O 3 D C U LT U R A

Realidades globais paralelas Algumas generalizações são certamente simplificadas

demais.12 Por exemplo, a dinâmica de honra e vergonha
A classificação trinitária de culpa, vergonha e medo molda significativamente as culturas no sul da Europa,
nos ajuda a entender melhor o mundo como um todo. Os América Latina e África. Usar o pincel mais amplo cria
três tipos de cultura correspondem a outras realidades um contorno definitivo, mas falho em detalhes. No entanto,
globais. O gráfico a seguir apresenta vários aspectos organizar os 7,2 bilhões de pessoas do planeta em três
do mundo moderno à luz da culpa, vergonha e culturas categorias pode lançar luz sobre algumas características
baseadas no medo. políticas e religiosas do mundo moderno.
A correlação entre a população cristã e a teologia é
missiologicamente notável. O cristianismo no hemisfério
Sul cresceu no século XX, juntamente com a teologia
Inocência e Vergonha e
Tipo de cultura
culpa honra
Poder e medo carismática e a missiologia. A expressão carismática
do cristianismo foi a causa do crescimento da igreja na
Estrutura social Individualista Coletivista Animista
América Latina e África? Ou o carismático é o resultado
Leste Sul
Ocidente
(Ásia, Oriente (África de uma igreja estabelecida contextualizando o evangelho
Localização (América do
Norte, Europa)
Médio, Norte da Subsaariana, por seus contextos de Medo-Poder?
África) Caribe, Tribal)
Civilizações Muçulmano,
Talvez a razão para a presença limitada da Igreja no
Ortodoxo Africano, Latino
(Samuel
Ocidental
Índio, Sínico,
Americano
Oriente seja a ausência de uma teologia contextualizada
Huntington) Budista, Japonês)
por suas culturas de honra e vergonha. A maioria dos
Modelo LMR
(Richard Lewis)
Linear ativo Reativa Multiativo grupos de pessoas não alcançadas são predominantemente
Status da religião Pós-cristão
Minimamente
Cristão emergente
honra-vergonha na orientação cultural. Por essa razão,
cristão
uma teologia para culturas de honra-vergonha pode ser
Status da missão
% Cristãos
Alcançados →
Não alcançados
Não alcançados → missiologicamente estratégica para cumprir a Grande
Não alcançados Alcançados
em 1910
95%
2.7 %
16% Comissão de fazer discípulos em todas as nações.
% Cristãos 8.5 %
81% 62%
em 2010
População em
1.08 Bilhão 4.37 Bilhões 1.42 Bilhão
2010
12 Estatísticas sobre população e religião foram compiladas a partir de dados de Todd
Agostiniana, Não Pentecostal,
Teologia cristã Johnson e Kenneth Ross, eds., Atlas of Global Christianity (Edinburgh University
Protestante desenvolvido Carismático
Press, 2009). “Christian” para a América do Sul inclui cristãos evangélicos e carismáticos
(católicos romanos ou protestantes), portanto exclui números nominais. Samuel
Huntington, The Clash of Civilizations and Remaking of World Order (Nova York:
Simon & Schuster, 1997); Richard Lewis, When Culture Colide, 3ª ed. (Boston, MA:
Nicholas Brealey Publishing, 2005).

42 43
 TEOLOGIA

A
tricotomia medo-culpa-vergonha serve adicionalmente
como um marco para interpretar as Escrituras
e contextualizar a teologia. Esta seção analisa
as categorias de narrativa bíblica e teológica de cada
perspectiva. Examinar o evangelho de vários pontos de
vista pode ajudar os cristãos a adquirir uma compreensão
mais completa do evangelho. No entanto, devemos
lembrar que a Bíblia é uma narrativa na qual o perdão, a
honra e o poder são tecidos juntos.

A Narrativa Culpa-Inocência da salvação

Deus é perfeitamente santo e justo, que age com

justiça perfeita em todos os seus caminhos. O pecado
nunca entra na Sua presença. Este Deus criou o mundo
inteiro do nada.
Deus criou Adão e Eva e os colocou no Jardim do
Éden. Ele lhes deu liberdade para comer de qualquer
árvore, mas claramente instruiu-os a não comer de uma
árvore - a árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas
quando Adão e Eva desobedeceram às ordens de Deus,
enfrentaram as consequências - morte física e espiritual.
Eles foram disciplinados por suas transgressões. Por
causa de suas ações, as pessoas nascem em um estado de

45
 O E VA N G E L H O 3 D
pecado, naturalmente oposto a Deus e sua lei. Como o
pecado separa todas as pessoas do Santo Deus, Adão e
Eva foram banidos do Jardim do Éden.
Deus deu a Israel a Lei, que tinha duas funções
principais. Primeiro, a Lei revelou às pessoas sua
inadequação moral e necessidade de salvação. Os israelitas
foram incapazes de cumprir todos os comandos de Deus
por suas próprias forças. Os esforços humanos nunca
alcançam o padrão divino de santidade. A história de
Israel é de repetida desobediência e punição subsequente.
Mas a Lei também incluía disposições para o perdão
dos pecados. Deus forneceu um meio para que as pessoas
fizessem um sacrifício por suas transgressões. O sistema
de sacrifício de Israel permitiu o perdão através do
sacrifício ritual de animais imaculados. A Páscoa durante
o êxodo de Israel do Egito prefigurou como o derramar de
sangue salva as pessoas da ira de Deus.
Jesus Cristo, filho de Deus, tornou-se o sacrifício
perfeito para tirar os pecados da humanidade. Jesus viveu
uma vida perfeitamente sem pecado. Não tendo pecado
próprio, ele foi capaz de tomar o nosso pecado. Jesus era
o cordeiro perfeito de Deus. Ele foi perfurado por nossas
transgressões e teve a consequência de nossas iniquidades.
A morte de Jesus na cruz perdoa as nossas transgressões
e cancela o registro de dívida que está contra nós. Então,
Jesus ressuscitou dos mortos e foi para o céu.
Deus agora está construindo Sua igreja com os que
se arrependem de seus pecados e creem em Jesus. Para
se tornar um seguidor de Jesus, é preciso reconhecer e
confessar verdadeiramente os seus pecados diante de
Deus, movidos pela convicção do Espírito Santo. Como
46
TEOLOGIA
Jesus nos reconcilia com Deus, nossos esforços em
direção à perfeição moral são em vão. Somos salvos pela
fé como um presente gracioso de Deus, não por nosso
próprio mérito. Sendo perdoados por nossos pecados,
somos chamados a perdoar os outros.
Quando Jesus retornar à terra, Deus julgará todas as
pessoas com justiça e punirá o pecado. Os iníquos serão
condenados ao inferno e os justos passarão a eternidade
com Deus, no céu.
A Narrativa Vergonha-Honra da Salvação
Deus existe por toda a eternidade em plena glória e
honra. Ele é um rei honrado, um pai que cuida de toda a
família. Ele é puro, fiel e glorioso - a essência e fonte de
toda a verdadeira honra.
Para ampliar sua glória, Deus criou o mundo e
deu vida à existência. Da terra, Deus criou Adão e Eva,
coroando-os com honra e glória. Eles possuíam autoridade
para governar a criação como estimados corregentes de
Deus. Como filhos de Deus, eles viveram sob o nome de
Deus. Adão e Eva desfrutavam de uma identidade honrosa
de Deus. Eles andavam nus e não tinham vergonha.
Mas Adão e Eva foram desleais a Deus. Eles perderam
a honra divina para buscar uma honra conquistada por eles
mesmos. Sua deslealdade a Deus criou vergonha, então
eles se esconderam e se cobriram. Além disso, o pecado
deles desonrou a Deus, e Ele perdeu sua reputação. Pelo
fato de Adão e Eva terem envergonhado a todos, Deus os
baniu de Sua presença para manter Sua dignidade.
Como descendentes de Adão, herdamos a vergonha
47
 O E VA N G E L H O 3 D
original. Então nosso próprio coração contaminado e
desleal aumenta a vergonha, e ela molda nossa identidade
e comportamento. O pecado (isto é, abuso, raiva, fofoca,
orgulho, racismo, violência, guerra, etc.) é, em grande
parte, a falsa tentativa de encobrir a vergonha e criar a honra.
Criamos um status falso, muitas vezes envergonhando os
outros ou nos gabando da superioridade de nosso próprio
grupo. Tendo perdido nossa reputação espiritual, família,
nome e status, nossa vida é um esforço perpétuo para
construir uma honra falsificada. Como ilustra a história
da torre de Babel, as pessoas procuram se exaltar e criar
um nome para si mesmas. Nossa vergonha causa uma
conduta vergonhosa e desonra a Deus.
Deus então iniciou um plano para restaurar a honra
humana. Ele se comprometeu a honrar Abraão com um
grande nome, terra, bênção, nação e muitos filhos. Como
uma grande nação, a família de Abraão se tornaria o
instrumento de Deus para abençoar - ou honrar - todas
as nações. Quando os descendentes de Abraão sofreram
escravidão no Egito, Deus os livrou da escravidão
vergonhosa. Israel se tornou a nação mais valorizada, a
menina dos olhos de Deus e o tesouro de seu coração.
Deus fez uma aliança especial para honrar Israel,
se ela honrasse a Deus com lealdade e obediência à Torá.
Os regulamentos da Torá purificaram a contaminação
dos israelitas e permitiram que eles fossem restaurados
à comunidade. Embora Deus pretendesse que a aliança
produzisse honra, a frequente deslealdade de Israel
difamava o nome de Deus entre as nações. Ao se voltar
para outros deuses, ela manchou o rosto de Deus como
uma esposa indigna. A escolha de Israel levou ao
48
TEOLOGIA
etnocentrismo - justiça de grupo. Eles acreditavam que os
gentios eram inferiores e indignos de pertencer à família
de Deus. Israel, como Adão, foi escolhido para honra, mas
acabou em exílio vergonhoso. Embora a história de Israel
termine em vergonha nacional, promessas e instâncias de
exaltação divina (ou seja, Rute, Davi, Daniel e Esther)
prenunciam uma intervenção maior para resgatar a família
humana da vergonha e restaurar sua honra.
Embora Ele fosse eternamente glorioso e honrado
no céu como filho de Deus, Jesus se tornou um ser humano
humilde para salvar as pessoas da vergonha. As suas
curas milagrosas e a sua comunhão radical restauraram
a dignidade e a honra das pessoas marginalizadas. Jesus
estava tão cheio de honra divina que aqueles que o tocaram
foram purificados e aceitos. O seu ensino proclamava o
verdadeiro e eterno código de honra. Ao amar e aceitar
todas as pessoas, independentemente de sua reputação,
Jesus cortou o falso código de honra da sociedade e
ofereceu honra divina à humanidade. A vida de Jesus
honrou totalmente a Deus.
Mas o ministério de Jesus ameaçou a honra terrena
dos líderes estabelecidos, que responderam a isso
envergonhando-O, publicamente e horrendamente. Jesus
foi preso, despojado, escarnecido, açoitado, cuspido,
pregado e pendurado nu numa cruz diante de todos os
olhos. Ele suportou fielmente a vergonha e quebrou o seu
poder. A cruz restaurou a honra de Deus e removeu nossa
vergonha. A reputação foi restaurada.
Deus então aprovou publicamente a morte
vergonhosa de Jesus, ressuscitando-o para a glória. Jesus
agora está sentado à honrosa mão direita de Deus, com um
49
 O E VA N G E L H O 3 D
nome acima de todos os outros. Enquanto Adão e Israel
falharam, Jesus conseguiu ser verdadeiramente humano;
sua vida honrou a Deus e à família humana.
Aqueles que derem lealdade a Jesus receberão
um novo status, sua vergonha será coberta e sua honra,
restaurada. As pessoas devem renunciar a jogos de
manipulação social, construção de status e enfrentar a
administração da reputação para, em vez disso, confiar
plenamente em Jesus para obter um novo status. Ser
membro da família de Deus não se baseia na etnia,
reputação ou pureza religiosa, mas na lealdade familiar
ao Messias crucificado. Deus troca nosso antigo status
de órfão imundo, inútil e inferior pelo status de filhos
puros, dignos e honrados. Aqueles que seguem a Cristo
até a cruz da vergonha também o seguirão para a glória
da ressurreição.
Ser recebido na família de Deus permite que as
pessoas recebam e aceitem outros grupos. Os cristãos
são capazes de honrar os outros e glorificar a Deus, pois
possuem a eterna honra de Deus e o Espírito capacitador.
Com o retorno de Jesus, os incrédulos serão despojados
de todas as honras mundanas e banidos para a vergonha
eterna; enquanto os crentes receberão coroas de honra
eterna enquanto a glória de Deus enche toda a criação.13
13Para mais informações, consulte: Jason Borges, “'Dignified': An Exegetical
Soteriology of Divine Honour ”, Scottish Journal of Theology 66: 1 (2013): 74-87; Jayson
Georges, “From Shame to Honor: A Theological Reading of Romans for Honor-Shame
Contexts”, Missiology 38: 3 (2010): 295-307; Edward T. Welch, Shame Interrupted: How God
Lifts the Pain of Worthlessness (Greensboro, NC: New Growth Press, 2012). Para vídeos
concisos que apresentam a narrativa bíblica em linguagem de honra e vergonha, veja
“How does God Seek Face?”, De Jackson Wu e “Back to God’s Village”, de HonorShame.
com (ambos disponíveis no YoutTube.com).
50
TEOLOGIA
Ver “Back to God’s Village” - em www.honorshame.
com, um vídeo da história do evangelho para culturas de
honra e vergonha. (Ênfase do editor).
Versículos-chave da vergonha e da honra
E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e
não se envergonhavam. (Gênesis 2:25).
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória
de Deus. (Romanos 3:23)
Não temas, porque não serás envergonhada; e
não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes
te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te
lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez. (Isaías 54:4)
Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a
rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus.
(Salmos 62:7)
Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta
o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes,
para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor
são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.
(1 Samuel 2:8)
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens,
homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como
um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado,
e não fizemos dele caso algum. (Isaías 53:3)
Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o
qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz,
desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de
Deus. (Hebreus 12:2)
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si
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 O E VA N G E L H O 3 D
mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por
isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu
um nome que é sobre todo o nome; (Filipenses 2:8-9)
Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer
não será confundido. (Romanos 10:11)
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que
sejam um, como nós somos um. (João 17:22)
Por isso também na Escritura se contém: Eis
que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita
e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E
assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os
rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi
a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de
escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo
desobedientes; para o que também foram destinados. Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa,
o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois
povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia,
mas agora alcançastes misericórdia. (1 Pedro 2:6-10)
Narrativas de honra: Adão (Gênesis 2), José, Noemi
(Rute), Israel (Ezequiel 16), Ana (1 Samuel 2), Davi (2
Samuel 7), Jó, Mefibosete (2 Samuel 9), Daniel, Ester, o
filho pródigo, os párias (Lucas 14).
A Narrativa do Temor-Poder da Salvação
No começo, o criador Deus criou o mundo por Sua
poderosa palavra. Deus é soberano sobre toda a criação,
os céus e a terra. No amor, Ele governa com absoluta
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TEOLOGIA
autoridade e poder, e a criação louva Sua poderosa força.
Tendo feito o mundo como o Seu reino, Deus
designou Adão para reinar sobre a criação. Adão era
corregente de Deus, o príncipe da criação. Ele recebeu o
domínio para governar a criação de Deus, simbolizada pelo
seu direito de nomear os animais. Como Rei Soberano,
Deus designou a humanidade para governar Seu mundo.
Em algum momento, uma hoste de anjos espirituais
se rebelou contra o governo soberano de Deus e Satanás,
o adversário, liderou o motim. O diabo planejou expandir
seu poder ilegítimo sobre a terra, colocando a humanidade
sob seu domínio. Depois que a astuta serpente atraiu
Adão e Eva do reino de Deus para seu domínio, as forças
rebeldes subjugaram os humanos, e a família de Adão
perdeu sua posição de poder e autoridade no mundo.
Satanás é agora o governante de fato; ele se tornou
o novo príncipe e nós nascemos em seu reino. Os olhos
das pessoas estão cegos e os corações são capturados por
Satanás, por isso, o pecado, o ataque espiritual e a idolatria
escravizam as almas humanas às forças das trevas.
Para reivindicar a soberania suprema sobre Seu reino,
Deus selecionou Israel para ser o Seu instrumento especial
na batalha espiritual. Através de um relacionamento de
aliança com Israel, Deus expandiria Seu domínio para
todas as nações. Quando Israel foi oprimido no Egito,
Deus confrontou os deuses egípcios para libertá-los da
escravidão do Faraó, então o êxodo demonstrou o poder
de Deus para todas as pessoas.
Deus é um poderoso guerreiro, cujo poder celestial
sobre o mal se traduz em conquista terrena. Quando
53
 O E VA N G E L H O 3 D
Israel confiou em Deus, Ele concedeu a vitória,
independentemente de sua desvantagem militar. Mas
muitas vezes eles procuravam poder nos lugares
errados, e Israel sucumbiu à tentação de deuses falsos
nas práticas de idolatria e ocultismo. Em vez de
depender do Senhor dos Exércitos, eles se aliaram aos
deuses de Canaã e governantes de nações maiores para
garantir proteção e bênçãos. Os profetas proclamaram
e demonstraram a superioridade de Deus sobre os
deuses cananeus, mas Israel permaneceu impotente
para escapar da influência de Satanás.
Mas então o poder libertador de Deus encarnou
na pessoa de Jesus, que inaugurou o tão esperado
reino de Deus. Totalmente capacitado pelo espírito
de Deus, Jesus resistiu à oferta de co-governo de
Satanás e permaneceu comprometido com a missão
de Deus de desmantelar o reino de Satanás, e pessoas
que eram mantidas nesse cativeiro foram libertas por
Jesus em uma escala sem precedentes. Ao curar os
doentes, ressuscitar os mortos e expulsar demônios,
Ele desarmou Belzebu para saquear seu reino e libertar
os cativos. Porque Deus estava com ele, Cristo salvou
todos os que estavam sob o poder do diabo.
Os poderes pensavam que matar o Filho de Deus
solidificaria sua autoridade no mundo. O plano deles saiu
pela culatra, porque a morte de Jesus Cristo foi o golpe
mortal para as forças do mal. A cruz desarmou os poderes
e as autoridades e triunfou publicamente sobre eles. Então,
na demonstração final do poder divino, Deus ressuscitou
Jesus para uma posição de poder e domínio muito acima
de todo domínio e autoridade.
54
TEOLOGIA
As pessoas agora precisam abandonar os poderes
das trevas e se submeter a Jesus como Senhor. Os crentes
em Jesus são transferidos do reino das trevas para o reino
da luz. Deus nos eleva com Cristo e nos assenta com ele
nos reinos celestiais, para que também tenhamos poder
e domínio muito acima de todas as outras autoridades.
A graça de Deus restaura nossa posição autoritária no
mundo. Somos coerdeiros de Cristo.
Com acesso constante ao Espírito de Deus, agora
estamos firmes contra Satanás. Embora Satanás continue
como um leão à espreita, Jesus nos protege de sua influência
maligna ao afirmarmos nossa identidade e autoridade no
Filho ungido de Deus. Deus abençoa os cristãos com
todas as bênçãos espirituais no reino celestial, tornando
a magia negra e as práticas ocultas espiritualmente fúteis.
Enquanto os cristãos caminham pelo Espírito de Deus
na fé e no amor, conquistamos o inimigo e eliminamos
o pecado escravizado. A batalha termina quando Deus
amarra as forças de Satanás e, em seguida, governa o
mundo do Seu trono por toda a eternidade com seu povo. 14
Principais versículos do Medo-Poder
Senhor DEUS! Já começaste a mostrar ao teu servo
a tua grandeza e a tua forte mão; pois, que Deus há nos
céus e na terra, que possa fazer segundo as tuas obras, e
segundo os teus grandes feitos? (Deuteronômio 3:24)
14 Para mais informações, consulte: Tom Julien, The Three Princes: Lifting the Veil on
the Unseen World (Winona Lake, IN: BMH, 2011); Tremper Longman III, “The Divine
Warrior: The NT Use of an OT Motif”, Westminster Theological Journal 44 (1982): 290-307.
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 O E VA N G E L H O 3 D
Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos
dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.
(2 Coríntios 4:4)
Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo
peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se
manifestou: para desfazer as obras do diabo. (1 João 3:8)
Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de
Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus (Mateus
12:28)
E, despojando os principados e potestades, os
expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.
(Colossenses 2:15)
E, visto como os filhos participam da carne e do
sangue, também ele participou das mesmas coisas, para
que pela morte aniquilasse o que tinha o império da
morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo
da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.
(Hebreus 2:14-15)
O qual nos tirou da potestade das trevas, e
nos transportou para o reino do Filho do seu amor;
(Colossenses 1:13)
E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder
sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força
do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o
dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima
de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e
de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas
também no vindouro; (Efésios 1:19-21)
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue,
mas, sim, contra os principados, contra as potestades,
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TEOLOGIA
contra os príncipes das trevas deste século, contra as
hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
(Efésios 6:12)
E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo
dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja
convosco. Amém. (Romanos 16:20)
Narrativas do Poder: (Êxodo 15), Elias (1 Reis 18),
Tentação de Jesus (Lucas 4), Geraseno (Marcos 5), Éfeso
(Atos 19), Guerreiro (Apocalipse 19).
O Jardim do Éden e do Pecado
A presença da culpa, da vergonha e do medo nas
culturas globais dificilmente deve nos surpreender,
pois todas foram consequências do primeiro pecado em
Gênesis 3. Para entender a narrativa bíblica da salvação
3D de Deus, devemos reconhecer adequadamente as
múltiplas dimensões do pecado na humanidade.
Imediatamente após a queda, os olhos de Adão e
Eva se abriram, de modo que agora eles conheciam o bem
e o mal, certo e errado. Seu novo conhecimento evocava
um sentimento de culpa por transgredir o comando de
Deus, que havia os instruído a não comerem o fruto
da árvore no meio do jardim; mas eles quebraram a
única regra no Jardim do Éden, portanto, perderam a
inocência e sentiram a culpa. O certo e o errado foram
internalizados em suas consciências, e eles se sentiram
culpados. A transgressão de Adão e Eva tem impactado
a humanidade ao longo da história; pessoas pecaminosas
alienadas de Deus são incapazes de seguir os seus
mandamentos. Embora todos nós sejamos culpados de
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 O E VA N G E L H O 3 D
pecar, Deus fornece um meio de perdão para o Seu povo.
A desobediência de Adão e Eva também introduziu
vergonha ao mundo. Depois de desobedecer o seu
criador, Adão e Eva se cobriram com folhas de figo,
porque eles não queriam ser vistos, afinal, sentiam-se
indignos e envergonhados. Antes de pecarem, Adão
e Eva “estavam nus, e não sentiam vergonha” (2:25),
mas agora estavam nus e envergonhados. Quando Deus
andou pelo jardim, eles se esconderam pela primeira
vez, pois sentiram algo errado consigo mesmos, não
apenas com suas ações. A vergonha que Adão e Eva
sentiram não eram apenas emoções subjetivas, mas
também realidades objetivas. Eles perderam a reputação
e o status antes do resto da criação, pois agora estavam
associados à dor, fraqueza e sujeira. Na morte, os
humanos voltam ao humilde pó. Como crianças desleais
que desonram a Deus, elas perdem a honra. Em última
análise, Adão e Eva foram banidos da comunidade de
Deus. A família humana perdeu a reputação. Filhos
subsequentes herdam essa vergonha. Sentimos a
terrível vergonha de sermos inaceitáveis diante de
Deus. Mas em Sua misericórdia, Deus forneceu peles
de animais para a nudez de Adão e Eva, cobrindo a sua
vergonha. Ao longo da Bíblia Deus substitui a rejeição
e a desgraça por uma honra renovada.
Adão e Eva também sentiram medo após a
queda. Quando Adão ouviu Deus no jardim, ele ficou
com medo. Incapazes de resistir ao poder sedutor de
Satanás, eles perceberam que eram realmente fracos e
vulneráveis, porque não resistiram à tentação. Satanás
agora exercia uma influência única em sua vida. Uma
58
TEOLOGIA
vez governando como príncipes sobre toda a criação
de Deus, Adão e Eva devem agora trabalhar a criação
como servos subjugados. Eles se tornam escravos que
vivem com medo constante de seu novo mestre. Da
mesma forma, nós estamos vulneráveis e indefesos até
que o Guerreiro venha em nosso socorro.
O pecado original de Adão e Eva introduziu
a culpa, a vergonha e o medo ao mundo. Mas Deus
restaura a inocência, a honra e o poder àqueles que
confiam nele através da vida e morte de Jesus Cristo.
“Uma compreensão mais bíblica da identidade humana
fora de Cristo que é emoldurada pela culpa, pelo
medo e pela vergonha, por sua vez, estimulará uma
apreciação mais profunda e abrangente pela obra de
Cristo na cruz.” 15
A Expiação e a Morte de Jesus
A expiação explica como a cruz torna a salvação
possível. O que aconteceu no reino celestial quando Jesus
morreu? Historicamente, os cristãos têm explicado o
significado salvífico da morte de Jesus com várias teorias
de adoção. Descreveremos três teorias para ver como os
cristãos anteriores tentaram contextualizar o ensino e o
imaginário da Bíblia sobre a expiação de pessoas que
buscam poder, honra e inocência.16
15 Timothy Tennent, Theology in the Context of World Christianity: How the Global
Church is Influencing the Way We Think about and Discuss Theology (Grand Rapids,
MI: Zondervan, 2007), 92.
16 Para mais informações, consulte: Joel Green e Mark Baker, Recovering The Scandal
of the Cross: Atonemet in the NT and Contemporary Context 2ª ed. (Downers Grove,
IL; InterVarsity Press, 2011); JI Packer, The Logic of Penal Substitution, (Fig, 2012).
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 O E VA N G E L H O 3 D
Teoria do Resgate (Medo)
Os seres humanos são escravizados por um
dono impróprio e por isso devem ser libertados de sua
escravidão. De acordo com os primeiros pais da igreja,
Deus não poderia simplesmente nos roubar de volta, pois
assim estaria recorrendo aos caminhos traiçoeiros do
inimigo. Uma transação deveria acontecer para Satanás
liberar sua autoridade sobre os humanos. O preço foi
Jesus, que deu sua vida como um resgate pela humanidade
(Marcos 10:45). Satanás mordeu a isca, pensando que
a vitória e poder sobre o filho de Deus seria o ápice de
sua causa. Mas Satanás foi incapaz de exercer autoridade
sobre Cristo, como planejado. Jesus não era passível de
morte, então ele iludiu o controle de Satanás.
Embora os pais da igreja expressem os detalhes da
transação de várias maneiras, sua interpretação comum
da cruz foi o triunfo de Deus sobre as forças malignas e
a libertação da raça humana. Teólogos contemporâneos
falam da expiação como “Christus Victor” para enfatizar
a vitória de Cristo sobre as forças malignas. Por causa da
morte de Jesus, Deus nos libertou do medo e nos concedeu
poder espiritual. A teoria do resgate foi a principal teoria
da expiação nos primeiros mil anos da Igreja.
Satisfação (Vergonha)
Todas as pessoas devem honrar a Deus, amando-o
e obedecendo-lhe, pois somos obrigados a pagar uma
dívida de honra. Anselmo de Cantuária (n. 1033)
argumentou que as pessoas que falham em honrar
a Deus por direito assumem a honra que é só Dele.
Porque os pecadores desonraram a Deus, Ele deve ser
60
TEOLOGIA
compensado pela perda de honra. Os humanos são
incapazes de satisfazer sua dívida de honra, pois honrar
a Deus é o que é devido. Jesus era um representante
substitutivo da humanidade que amou, obedeceu e
honrou plenamente o Pai; assim, Ele satisfez a honra
impugnada de Deus e elimina qualquer necessidade de
punição exata. A morte de Jesus, em essência, salva
a honra de Deus.17 A cruz estabelece ainda o caráter
honorável de Deus, confirmando as suas promessas
abraâmicas de salvação global, para que Ele não seja
considerado infiel ou incapaz (Romanos 15:8). O livro
de Anselmo, Cur Deus Homo, a articulação principal
da teoria da satisfação, reflete os valores feudais do
século XI de honra pessoal e reparação de desonra.
Nesse sentido, a teoria da satisfação foi e é altamente
contextualizada para ambientes de vergonha e honra.
Restaurar a glória de Deus é o objetivo final da
cruz, embora uma consequência secundária da teoria
da satisfação seja a restauração da honra humana. A
cruz carrega a nossa vergonha (Isaías 53:3) e repara a
nossa honra diante de Deus. Curiosamente, a teologia
desenvolvida na cristandade oriental articulou como
Jesus restaura a glória dos seres humanos; Atanásio
de Alexandria (n. 296) disse: “Deus se tornou homem
para que o homem se tornasse Deus.” A doutrina de
deificação da ortodoxia oriental (teose) envolve a graça
divinizante que restaura a gloriosa imagem divina à
humanidade ( João 17:22; 2 Pedro 1:4). A morte de
Jesus restaura honra a Deus e às pessoas.
17 Jackson Wu, Saving God’s Face: A Chinese Contextualization of Salvation Through
Honor and Shame (Pasadena, CA: William Carey, 2012).
61
 O E VA N G E L H O 3 D TEOLOGIA

Teoria da Substituição Penal (Culpa) Categorias teológicas sistematizadas

Deus é perfeitamente santo e justo, então Ele deve
punir as transgressões da lei. Enquanto Deus nos ama, a A seguir, são apresentadas as principais categorias
justiça exige um pagamento pelos erros. De acordo com teológicas nas línguas e valores das culturas de culpa (IC),
o modelo de substituição penal, perdoar arbitrariamente o vergonha (VH) e medo (PM).
pecado sem punição tornaria Deus injusto. Porque Deus
é justo, Deus sempre faz o que é certo e dá aos seres Tópicos
humanos o que eles merecem. Nosso pecado merece 1. Metáfora-chave:
punição eterna, mas Jesus entra em nosso lugar como um IC- Sala de audiências (legal)
sacrifício pela ira que nos é devida. Como propiciação VH- Comunidade (relacional)
pelos pecados, a cruz apazigua a ira de Deus contra nós e PM- Combate (militar)
paga a dívida de nossas transgressões. Assim, a morte de
Jesus pacifica a ira de Deus contra os pecadores culpados, 2. Pergunta Existencial:
satisfazendo os requisitos legais da justiça. Ele é o castigo IC - Como meus pecados podem ser perdoados para
(“penal”) em nosso lugar (“substituição”). É assim que eu ter certeza da salvação?
Deus pode absolver os culpados e declará-los justos sem VH- Como posso fazer parte da comunidade para
comprometer a sua justiça. ser respeitado?
A teoria da substituição penal emergiu de estudiosos PM- Como posso acessar o poder
jurídicos reformados em meados dos anos 1600. Desde para controlar a vida?
1800, tornou-se a teoria da expiação dominante no
cristianismo ocidental, talvez porque use a linguagem 3. Teologia Histórica:
e os valores da lei ocidental (especialmente a justiça IC- Agostiniano, Reformado
retributiva) para explicar como indivíduos culpados VH- Não desenvolvido
podem ser exonerados legalmente no céu. PM- Pentecostal, Carismático
A teologia contemporânea deve sempre priorizar as
imagens e ênfases da Bíblia ao explicar como a morte de Deus
Jesus na cruz salva as pessoas da culpa, vergonha e medo. 4. Deus (atributos):
No entanto, as várias teorias da expiação da história da IC- Legislador e juiz (sem pecado, perfeito, justo)
igreja podem nos ajudar a apresentar um evangelho 3D VH- Pai e patrono (glorioso, superior, fiel)
que fala a todas as culturas. PM- Governante e agente
(soberano e transcendente)

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 O E VA N G E L H O 3 D TEOLOGIA

5. Santidade de Deus: 10. O pecado viola:

IC- Ele sozinho mantém perfeitamente o padrão IC - Leis e justiça de Deus
moral absoluto VH- Reputação e glória de Deus
VH- Ele sozinho é infinitamente glorioso, PM- Poder e autoridade de Deus
merecendo toda a reverência
PM- Ele sozinho criou e está acima de todas as 11. Os pecadores são:
coisas e seres IC- Condenados
VH- Rejeitados
6. A soberania de Deus PM- Amaldiçoados
IC- Perdoa transgressores e promove nossa salvação
futura 12. Consequências do pecado:
VH- Honra os mortais humildes e humilha os IC- Julgamento e punição
falsamente orgulhosos VH- Desgraça e impureza
PM- Derrota a oposição espiritual e governa o mundo PM- Dominação e servidão

7. A justiça de Deus: 13. Emoções do pecado:

IC - Justiça punitiva IC- Arrependimento
VH- Fidelidade à aliança VH- Indignidade
PM- Potência cósmica PM- Ansiedade

Pecado 14. O pecado original (Gênesis 3):

8. O pecado é: IC- Culpa deslocada
IC - Transgressão e violação da lei VH- Nudez coberta
VH- Desonra e deslealdade PM- Escondeu-se com medo
PM- Insubordinação e idolatria
15. Soluções culturais:
9. Pecaminosidade significa: IC- Justificar, confessar, restituição
IC - Depravação total VH- Cubra, fuja, esconda
VH- Inaceitabilidade completa PM- Animismo, magia negra
PM- Vulnerabilidade total

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 O E VA N G E L H O 3 D TEOLOGIA

16. Falsa esperança: VH- Remove nossa vergonha e restaura a honra de Deus
IC - Moralidade, obras, mérito PM- Derrota espíritos e poderes
VH- Identidade, conexões, nome
PM- Rituais, segredos, encantos 22. A CRUZ:
IC- Apazigua a ira de Deus
17. A lei do AT revela: VH- Muda a avaliação de Deus
IC- Nosso fracasso comportamental PM- Estabelece o poder de Deus
VH- Nossa contaminação e separação
PM- Nossa idolatria 23. Teoria da Expiação:
IC - Substituição penal
Jesus VH- Satisfação / Teose
18. Cristologia PM- Teoria do resgate / Christus Victor
IC- Substituto e sacrifício
VH- Mediador e irmão 24. A ressurreição prova:
PM- Conquistador e Libertador IC - Garantia de salvação futura
VH- Honra divina para os envergonhados
19. Encarnação PM- Vitória sobre Satanás e sobre a morte
IC- Jesus se torna totalmente humano para pagar
nossa dívida Salvação
VH- Jesus deixa a glória para glorificar o Pai e nós 25. Salvação
PM- Jesus chega para destruir as obras do diabo IC - Inocência e perdão
VH- Honra e reputação
20. A vida de Jesus PM- Poder e liberdade
IC- Viveu sem pecado
VH- Curou os impuros, comeu com os excluídos, 26. Arrependimento
deu boas-vindas aos gentios IC- Da justiça das obras (pare de tentar agradar a
PM- Expulsou demônios, realizou milagres, sinais Deus com boas ações)
e maravilhas VH- De se gabar (resistir ao uso de sistemas
culturais para promover seu status)
21. Morte de Jesus: PM- Da idolatria (abandone falsos poderes e rituais
IC- É castigado por nossas transgressões morais mágicos)

66 67
 O E VA N G E L H O 3 D TEOLOGIA

27. A graça supera: 33. ÉTICA:

IC- Maldade IC- Amar os outros
VH- Falta de valor VH- Honrar os outros
PM- Fraqueza PM- Abençoar os outros

28. Perdão 34. Garantia de salvação:

IC- Perdão dos erros IC - Eu sou salvo e moralmente aceitável?
VH- Reconcilia relacionamentos VH- Faço parte da comunidade certa?
PM- Remove fortalezas PM- Eu tenho poder suficiente para superar as
forças das trevas?
29. A mão direita de Deus significa:
IC- Aceitação e intimidade
VH- Prestígio e status
PM- Poder e autoridade

30. A reconciliação com Deus leva à paz com:

IC- Você mesmo (alma, consciência)
VH- Pessoas (família, comunidade)
PM- Criação (natureza, espíritos)

31. O discipulado enfatiza:

IC- Obediência
VH- Lealdade
PM- Submissão

32. Espírito santo

IC- Orientação para o comportamento
VH- Comunhão com a Trindade
PM- Empoderamento para a batalha

68 69
 MINISTÉRIO

N
a Bíblia, Deus fala aos desejos primários do
coração de todas as culturas - inocência, honra
e poder. O evangelho é realmente um diamante
multifacetado capaz de resgatar a humanidade de todos os
aspectos do pecado.
A nossa tarefa como cristãos não é apenas
maravilhar-nos com o esplendor glorioso do diamante,
mas espalharmos o conhecimento da salvação de Deus
para que todas as nações conheçam a vida abundante
de Deus encontrada em Jesus Cristo. Nesta seção final,
examinamos como realizar o ministério cristão em cada
contexto cultural.
Assim como as pessoas assumem a orientação
cultural de seu contexto, os cristãos frequentemente
assumem formas de ministério cristão a partir do contexto
em que aprenderam o evangelho. Pensamos que os
métodos usados para evangelizar e formar discípulos
em um contexto são universalmente aplicáveis. Se
mostrarmos o evangelho às pessoas pelas lentes erradas,
pode ser um desafio para elas enxergarem. E mesmo
que reconheçamos a necessidade de contextualização,
frequentemente recorremos aos nossos métodos-padrão
de ministério devido à falta de alternativas práticas para
abordar o ministério cristão em diversas culturas.

71
 O E VA N G E L H O 3 D
As três dimensões das culturas globais e da salvação
bíblica impactam nossa abordagem de missões. Como
podemos comunicar o evangelho como boas novas em
cada tipo de cultura? Para desenvolver uma missiologia
3D, primeiro apresentamos dois métodos de evangelismo
(o “plano de salvação” e “história de salvação”). Então,
para garantir que as pessoas se envolvam no evangelho
por meio de formas significativas, descrevemos três
abordagens contextuais do testemunho cristão - encontro
da verdade, encontro do poder e encontro da comunidade.
O Plano 3D de Salvação
O livreto das Quatro Leis Espirituais tocou milhões
de vidas. O formato simples da ferramenta moldou a forma
pela qual muitos cristãos estruturam as apresentações do
evangelho. Na sequência, mostramos o formato familiar
de quatro etapas para sugerir o plano de salvação para
cada tipo de cultura. Como todo contexto e pessoa são
únicos, a seguir, são apenas explicações evangelísticas
sugestivas.
Plano de Salvação da Inocência e Culpa
1. Deus te ama e oferece um plano maravilhoso para
a nossa vida. Jesus veio para que tivéssemos a vida eterna
e não perecermos. Jesus nos oferece uma vida abundante.
2. As pessoas são pecadoras e condenadas por Deus.
A nossas transgressões criam uma barreira entre nós e um
Deus santo. As boas obras falham em alcançar o padrão
de Deus.
3. Jesus Cristo é o sacrifício perfeito pelos seus
72
MINISTÉRIO
pecados. Jesus morreu na cruz em nosso lugar para pagar
pelos nossos pecados. Jesus sofreu a ira do castigo de
Deus por nós.
4. Você deve receber Jesus como seu Salvador
pessoal. Receba a Cristo como Salvador pessoal e deixar
a moralidade humana para ter perdão dos pecados e da
vida eterna.
Plano de Salvação Honra e Vergonha
1. Deus valoriza você e quer honrá-lo como Seu
filho. Deus nos criou com glória e honra, para vivermos
com harmonia em sua família.
2. As pessoas envergonham e desonram a Deus.
Nossa rebelião desonra o Deus glorioso e produz
vergonha. Nossas tentativas de restaurar a honra não
cobrem a vergonha de nossa orfandade espiritual.
3. Jesus Cristo suportou toda a sua vergonha e
restaura a honra. A morte vergonhosa de Jesus remove
nossa vergonha e restaura a honra. Honrando a Deus,
Jesus permite que você se junte à família de Deus.
4. Você deve dar lealdade a Jesus para entrar na
família de Deus. Receba a benevolência graciosa de Deus
em sua família e viva em Seu nome. Saia da falsa honra
cultural para receber a de Deus.
Plano de salvação do medo e poder
1. Deus é soberano e oferece a você autoridade
espiritual. Deus nos criou para governarmos toda a sua
criação (visível e invisível) e experimentarmos suas
bênçãos espirituais.
2. As pessoas vivem com medo quando estão sob
73
 O E VA N G E L H O 3 D
a autoridade de Satanás. Nossa idolatria nos separa do
poder divino. Os poderes das trevas dominam todas as
pessoas, causando pecado, morte e dano.
3. Jesus é o guerreiro que restaura nosso poder. Jesus
venceu os maus poderes e a morte para trazer o poder e
as bênçãos de Deus. Sua morte desarmou poderes e nos
fornece autoridade espiritual.
4. Você deve conhecer Jesus para acessar o poder
divino. Confie apenas em Jesus Cristo para proteção
e poder. Evite rituais mágicos e ocultismo para obter
autoridade e bênçãos.
A história em 3D da salvação
Cada tipo de cultura aceita uma metáfora conceitual
específica como a mais plausível. Isso significa que a
linguagem e os valores de uma área da vida (por exemplo,
sala de audiências, comunidade ou combate) são usados
como metáforas para organizar sua visão de mundo e vida
espiritual. As metáforas usam imagens deste mundo para
explicar realidades espirituais.
As listas de vocabulário a seguir refletem metáforas
conceituais específicas para a salvação cristã. As pessoas
podem entender melhor a salvação em Cristo quando usamos
a linguagem das metáforas culturalmente plausíveis. Como
exercício evangelístico, conte a história bíblica da salvação
(isto é, criação, queda, Israel, Jesus, restauração) usando o
vocabulário de uma metáfora conceitual.18
18 Os três campos semânticos foram adaptados com permissão de um artigo não
publicado do Dr. Tom Steffen. Para uma leitura mais aprofundada, Craig Ott, “The
Power of Biblical Metaphors for Contextualizing the Gospel”, Missiology 42: 4 (2014):
357-374.
74
MINISTÉRIO
Idioma de tribunal
Lei, transgressão, julgamento, apaziguamento,
juiz, direito, regras, absolvição, correção, condenação,
inocência, penalidade, sacrifício, indivíduo, punição,
perdão, pessoal, mérito, dívida, pagamento, comandos,
ira, culpa, sacrifício, justiça, perdão, errado, obra.
Idioma da Comunidade
Lealdade, mediador, família, pai, filho, judeu /
gentio, comunidade, harmonia, público, aliança, lealdade,
festa, respeito, unidade, contaminação, inclusão,
hospitalidade, humilhação, face, reputação, valor,
reverência, identidade, aceitação, dignidade, alienação,
desonrado, imundo, aprovação, impuro, digno, glória,
desonra, vangloriar-se, pureza, inveja, ameaça, herança,
adoção, patrono.
Idioma de combate
Libertação, cura, Satanás, poderes, servidão,
autoridade, trevas, domínio, êxodo, magia, sinais,
maravilhas, posse de milagres, poderoso, fraco, confronto,
cativo, paz, poder, todo-poderoso, trono, controle,
opressão, guerra, espíritos, Espírito Santo, exorcismo,
oração, reino, ângulos, bênção, proteção, enganador,
liberdade, fortaleza, conquista, triunfo, idolatria, maldição.
Formas contextuais de testemunha
Fazer discípulos entre culturas baseadas na
vergonha e no medo envolve mais do que apenas
reembalar apresentações evangelísticas. Os canais pelos
75
 O E VA N G E L H O 3 D
quais proclamamos o evangelho também devem ser
adaptados ao contexto cultural. Comunicar a Palavra de
Deus tridimensionalmente envolve o uso das formas pelas
quais as pessoas estão acostumadas a receber inocência,
honra e poder.
Um evangelho em 3D afeta tanto o conteúdo do
evangelho quanto os meios do testemunho cristão. As
metáforas conceituais usadas em teologia (seção anterior)
tornam-se as metáforas operativas que norteiam nossa
missiologia. O modo como entendemos a missão de Deus
(ou seja, perdoar os culpados, acolher os envergonhados
ou tirar o medo) molda nossa estratégia para o ministério
cristão.
Qual seria uma abordagem missiológica apropriada
para as três orientações culturais? Como as pessoas
aceitam melhor o evangelho? Como verdade, como
poder, ou como comunidade? A orientação cultural das
pessoas afeta o modo como elas irão apreciar e receber o
evangelho.
Em Atos 26:18, Paulo descreve sua missão aos
gentios em termos tridimensionais: “abrir os olhos e
transformá-los das trevas em luz, e do poder de Satanás
para Deus (poder), para que eles possam receber o
perdão de Deus dos pecados (inocência) e um lugar
entre aqueles que são santificados pela fé (honra) em
Jesus.” O ministério de Paulo apresentou um evangelho
tridimensional. Essas três vertentes do evangelho nunca
funcionam isoladamente, mas as forças motrizes de uma
cultura específica podem garantir uma ênfase em uma
abordagem acima das outras. Três encontros durante
o ministério de Paulo no livro de Atos ilustram as três
76
MINISTÉRIO
abordagens ao testemunho cristão - encontro da verdade,
encontro de poder e encontro da comunidade.
Encontro da Verdade
Durante a reunião do sábado em Antioquia da
Pisídia (Atos 13:13-42), os líderes da sinagoga pediram
a Paulo que compartilhasse uma palavra de exortação.
Paulo levantou-se e pregou como a história de Israel
chegou ao clímax na ressurreição de Jesus. No final de
sua mensagem, Paulo desafiou: “Portanto, meus amigos,
quero que você saiba que através de Jesus o perdão dos
pecados é proclamado a você.” A audiência de Paulo
encontrou a verdade do evangelho.
A missiologia ocidental, desenvolvida em um
ambiente cultural que enfatiza a legalidade, emprega
métodos de tribunal para o ministério cristão. Em um
encontro da verdade, o cristão funciona como um advogado
legal que explica e defende verbalmente a veracidade do
evangelho. Proclamar o evangelho envolve apresentar
logicamente a verdade divina. Como a verdade é vista
proposicionalmente, como certa ou errada, a pessoa apela
à racionalidade e à razão. Como em Atos 13, as pessoas
são desafiadas a conhecer a verdade e receber o perdão.
Técnicas evangelísticas enfatizam a proclamação
de “leis” espirituais. Abordagens como “Explosão de
Evangelismo” e “Estrada dos Romanos” apresentam o
evangelho proposicionalmente, apelando à razão cognitiva. A
apologética - um assunto popular nas universidades cristãs -
utiliza a filosofia para apresentar a base racional da fé cristã
e se defender contra objeções. Os títulos mais vendidos em
77
 O E VA N G E L H O 3 D
apologéticos, como The Case For Christ, de Lee Strobel, ou
Evidence that Demands a Verdict, de Josh McDowell, ilustram
a abordagem judicial do ministério cristão nas culturas de culpa
e inocência. Eles apresentam o evangelho como verdade.
Divulgar a verdade é também uma das formas
pelas quais o cristianismo ocidental equipa os crentes. A
principal forma de discipulado - o sermão - assume que
os valores são melhor transformados através do ensino
instrucional. A teologia ocidental favorece a teologia
sistemática (um relato ordenado e racional da fé cristã) e a
epístola de Paulo aos romanos (o livro mais sistematizado
e proposicional da Bíblia). Essas preferências ministeriais
ilustram como as suposições e métodos dos tribunais
judiciais influenciam o ministério cristão em contextos de
Culpa-Inocência.
A abordagem missiológica do encontro da verdade
produziu frutos surpreendentes para o Reino de Deus, por
isso continua sendo uma estratégia-chave em missões. O
mundo precisa continuar a ouvir a verdade do evangelho.
No entanto, os cristãos de contextos de Culpa-Inocência
devem estar cientes de como sua orientação cultural
padrão influencia seus métodos missiológicos. A maioria
das culturas mundiais podem aceitar melhor o evangelho
da salvação de Deus por meio do poder e da comunidade.
Encontros de Poder
Quando Paulo e Barnabé deixaram Antioquia
em sua primeira jornada, chegaram à ilha de Chipre. O
procônsul convocou Barnabé e Paulo para compartilhar
a palavra de Deus, mas um mágico local começou a se
78
MINISTÉRIO
opor à sua mensagem. Paulo imediatamente reconheceu
as forças espirituais sombrias por trás das palavras do
mago e comissionou a mão do Senhor contra ele. O
procônsul viu como os olhos do mago estavam cegos,
depois acreditou nos ensinamentos sobre o Senhor. O
procônsul em Chipre encontrou o poder do evangelho
em Atos 13:4-12.
As culturas do Medo-Poder: podem exigir uma
prova de poder, e não um raciocínio racional, para
crerem no senhorio de Cristo. As pessoas devem ver
tangivelmente o poder de Deus na vida cotidiana. Na
abordagem do encontro de poder, as missões são uma
batalha espiritual.
Os cristãos são as forças de Deus que lutam para
superar as fortalezas de Satanás e expandir o reinado de
Deus. A Igreja resgata as pessoas do domínio das trevas
para o reino de Jesus. Os crentes cheios do Espírito de
Deus combatem o poder escravizador de Satanás com o
poder libertador de Deus. Evangelismo é um encontro
de poder no qual os convertidos passam do domínio de
uma autoridade espiritual para outra. A batalha original
é entre Deus e Satanás pelo controle e adoração, mas é
disputada aqui na terra. Nesse sentido, a guerra espiritual
se apropria da vitória celestial conquistada por Jesus pela
vida na Terra.
Os principais instrumentos da guerra espiritual são
a Palavra de Deus e a oração. As promessas da Palavra
de Deus fornecem os recursos espirituais para resistir ao
engano e às mentiras do falso reino de Satanás. A oração,
quando associada à fé genuína, substitui rituais mágicos e
objetos sagrados como canais de influência sobrenatural.
79
 O E VA N G E L H O 3 D
A oração pede relacionalmente ao Soberano Criador para
expandir Seu glorioso reino, abençoando os seus santos
na Terra.
Os cristãos podem aplicar o poder divino acessado
pelas Escrituras e pela oração de várias maneiras.
1. Os ministérios de aconselhamento discipulam
os cristãos para superar os laços pecaminosos com o
conhecimento dos recursos espirituais de Deus e da
verdadeira identidade em Cristo. Ao discernir o engano
satânico e a cura interna, os crentes experimentam a
libertação de Deus da opressão espiritual e do pecado.
2. Sinais e maravilhas são milagres visíveis
que manifestam o poder do Espírito de Deus entre os
incrédulos. Os discípulos de Jesus têm autoridade para
superar as forças das trevas orando em nome de Jesus.
3. Profecia se refere a palavras espirituais diretas
de instrução ou encorajamento, demonstrando o
conhecimento e o poder do Espírito de Deus.
4. Os confrontos públicos desafiam o poder dos deuses
ancestrais e provam a superioridade do Deus Criador, como
os encontros entre Moisés e Faraó (Êxodo 7-12) ou Elias e os
profetas de Baal (1 Reis 18).
5. Os sonhos são frequentemente interpretados
como uma revelação de Deus. Relatos indicam que muitos
muçulmanos se voltam para Cristo depois de ver Jesus em
um sonho. Quando as discussões com os muçulmanos se
tornam argumentativas, às vezes redireciono a conversa
dizendo: “Irei orar para que Jesus venha até você em um
sonho. Quando ele fizer, me ligue.”
As pessoas podem experimentar as boas novas
do poder de Deus por meio de aconselhamento, sinais
80
MINISTÉRIO
e maravilhas, profecias, confrontos públicos e sonhos.
A missão cristã em contextos de poder do medo pode
apresentar o evangelho manifestando o poder de Deus de
maneiras contextualmente apropriadas. 19
Encontro Comunitário
Paulo e Silas estavam sentados na cela da prisão,
cantando e orando a Deus. De repente, um terremoto
sacudiu as portas da prisão e abriu suas algemas. O
carcereiro de serviço acordou no caos e desembainhou a
espada para se matar, tendo fracassado em seus deveres.
Paulo gritou bem a tempo: “Pare! estamos aqui”. Depois
que a situação se acalmou, o carcereiro e sua família
passaram a crer no Senhor Jesus para a salvação, depois
passaram uma noite de comunhão junto com Paulo e Silas.
Em Atos 16, a família do carcereiro filipino acreditou em
Jesus quando encontrou o evangelho como comunidade.
Em contextos de vergonha e honra, a missão
cristã leva as pessoas a encontrarem a verdadeira
comunidade. Um encontro na comunidade redefine a
identidade de grupo principal de uma pessoa por meio
de relacionamentos genuínos. A entrada em uma nova
comunidade transforma o status espiritual de alguém.
Conversão significa conceder lealdade e fidelidade
a um novo grupo - Deus e Seu povo. Por meio de um
encontro com a comunidade, os incrédulos redefinem sua
19Para mais informações, consulte: Neil Anderson e Timothy Warner Beginner’s Guide
to Spiritual Warfare (Ventura, CA: Regal, 2008); Clint Arnold, 3 perguntas cruciais sobre
a guerra espiritual (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 1997); Doug Hayward, “The
Evangelicalization of Animists: Power, Truth or Love Encounter?” IJFM 14: 4 (1997):
155-159.
81
 O E VA N G E L H O 3 D
corte de reputação (ou seja, quem decide quais pessoas
são honráveis) e o código de honra (ou seja, o que é
verdadeiramente honroso e vergonhoso) à luz da honra
de Deus. Um encontro bíblico da comunidade envolve a
interface de três grupos: a Trindade, a Igreja e a família.
A trindade
A missão cristã leva as pessoas a encontrarem o
Mais Honrado e Glorioso. A honra é reorientada em torno
da comunidade Trina: Pai, Filho e Espírito, que substituem
família, etnia e tribo como comunidade de honra. O Pai
acolhe em casa os envergonhados com uma graciosa
aceitação e honra. O Filho agora funciona como nosso
irmão honorável, reservando um lugar de honra para
nós no céu. O Espírito vem como um pagamento inicial
de nossa futura herança de glória. A verdadeira face só
vem do encontro com a face de Deus. O conhecimento
relacional da face de Deus, como revelado na face de
Jesus, é a única fonte definitiva para obter um status novo
e estimado.20
O carcereiro filipino tentou se matar para cobrir
sua vergonha fracassada no trabalho. Como um guerreiro
japonês, ele agiu para preservar a honra de seu povo,
sacrificando sua própria vida. Pessoas em culturas de honra
e vergonha devem reconhecer a falsidade da vergonha
social, mesmo que inicialmente possa ser muito doloroso.
Com a espada desembainhada, o carcereiro filipino parou
por tempo suficiente para reconsiderar como a honra de
Deus supera toda a vergonha social possível.
20Christopher L. Flanders, About Face: Rethinking Face for 21st Century Mission
(Eugene, OR: Wipf & Stock Pub, 2011).
82
MINISTÉRIO
A glória eterna vem unicamente através do Filho
de Deus (João 17:22), porque somente a opinião de Deus
durará para sempre. Quando as pessoas rejeitam Deus
como a única fonte e árbitro de honra, elas escolhem
a honra finita sobre a glória infinita (João 12:42-43).
A missão cristã substitui a falsa vergonha (“eu sou um
inútil”). E a falsa honra (“Meu grupo é o melhor!”) pela
verdadeira honra de Deus.
A Igreja
Para salvar a vida do carcereiro, Paulo gritou:
“Estamos aqui!” A igreja, como corpo terrestre de Cristo,
é a comunidade principal na qual os incrédulos encontram
o evangelho. Enquanto a honra suprema vem de Deus, a
participação na família de Deus na terra é onde a honra é
refeita, afirmada e expressa. A comunidade cristã afirma a
honra das pessoas. A igreja funciona como uma família de
aluguel, cujas boas-vindas graciosas liberam as pessoas
para desmascarar sua vergonha.
O processo de conversação das pessoas com honra
à vergonha geralmente começa com a comunidade (isto
é, comunidade à evangelização), enquanto o encontro
da verdade começa evangelizando indivíduos na igreja
(evangelismo à comunidade). As pessoas orientadas para
o grupo devem experimentar o grupo antes de aceitar um
convite para participar. Os autores do Novo Testamento
geralmente equiparam incorporação à comunidade de
Deus à salvação cristã. “E quem acreditar nele não será
envergonhado. Então a honra é para você que acredita [...]
Mas você é uma raça escolhida, um sacerdócio real, uma
nação santa, um povo para sua posse [...] Antes você não
83
 O E VA N G E L H O 3 D
era um povo, mas agora você é o povo de Deus.” (1 Pedro
2:6-10)
Ao apresentar o evangelho em culturas de honra
à vergonha, as pontes relacionais dos crentes com
os incrédulos devem dignificar e honrar. A maneira
como engajamos as pessoas deve estar alinhada
com a mensagem que proclamamos, incorporando
tangivelmente a honra de Deus. Mediar a verdadeira
honra em palavras e ações é essencial para alcançar
pessoas em contextos de vergonha de honra. Vergonha,
mesmo que não intencionalmente, contradiz o evangelho
da honra de Deus. Aqui estão quatro maneiras de
mediar relacionalmente a honra de Deus para pessoas e
comunidades.
O carcereiro filipino sentiu melhor a honra de
Deus através de seu relacionamento com Paulo e Silas.
Por não fugir da prisão, eles sacrificaram suas próprias
vidas e reputação para preservarem sua honra. Então
eles graciosamente aceitaram o convite do carcereiro
para comerem juntos. Compartilhar uma refeição é
uma maneira eficaz de honrar os outros, uma vez que
forma um vínculo relacional. A comunhão na mesa era
uma maneira central de Jesus honrar os marginalizados
nos Evangelhos (Lucas 15:1). Uma mesa compartilhada
prega a honra de Deus tão alto quanto um sermão, nas
sociedades coletivistas.
Um bom projeto de desenvolvimento cria
oportunidades para as pessoas expressarem os aspectos
honrosos de sua personalidade e cultura. A abordagem
do desenvolvimento comunitário baseado em ativos
(ABCD) homenageia as pessoas, enfatizando seus
84
MINISTÉRIO
ativos e capital social.21 Infelizmente, alguns esforços de
desenvolvimento cristão perpetuam a vergonha, porque
partem do princípio das necessidades e pobreza das pessoas.
Estar sempre na parte receptora de um relacionamento nos
impõe uma mensagem de inferioridade e inutilidade.
Uma quarta maneira de honrar as pessoas de
maneira relacional é resolver os conflitos com honra.
Os cristãos que vivem em culturas de honra e vergonha
devem aprender a resolver conflitos sem ofender ou expor
os outros. Se você ofender alguém, ajudá-lo de alguma
forma a restaurar a honra pode ser mais apropriado do
que pedir desculpas verbalmente. Ou para comunicar o
perdão a outras pessoas, considere formas não-verbais de
reconciliação, como um presente ou uma refeição. Prestar
atenção à dinâmica da honra e da reputação durante o
conflito, e não se concentrar apenas no certo e no errado,
preserva e restaura os relacionamentos.22
Ao comer juntos, o desenvolvimento comunitário
baseado em ações, os ministérios de misericórdia e a
graciosa resolução de conflitos representam maneiras
tangíveis pela qual a Igreja pode comunicar honra.
A Família
Nas culturas coletivistas, a conversão ao cristianismo
pode envergonhar a família biológica e a comunidade
21Robert D. Lupton, Caridade Tóxica: How Churches and Charities Hurt Those They
Help, And How to Reverse It (New York, NY: HarperOne, 2012); Steve Corbett e Brian
Fikkert, When Helping Hurts: How to Alleviate Poverty Without Hurting the Poor. . .
e a você, (Chicago, IL: Moody Publishers, 2012).
22O excelente livro de Duane Elmer, Cross-Cultural Conflict (Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 1993) ajuda os cristãos a resolver sabiamente o conflito em contextos
de vergonha de honra.
85
 O E VA N G E L H O 3 D
vizinha. Muitos povos não alcançados não rejeitam o
cristianismo por razões teológicas, mas por causa de
forças sociais e culturais que desonram a família. Para as
pessoas coletivistas, escolher sua religião isoladamente
do grupo implica rejeição do próprio grupo. Lembro-me
de vários incrédulos da Ásia Central que reconheceram
sua vergonha diante de Deus e perceberam que Jesus era
o único caminho para a honra eterna, mas, no entanto, não
estavam dispostos a arriscar sua posição na comunidade ou
a reputação da família em segui-lo. Por causa da vergonha
social, uma mensagem do evangelho reembalada na
linguagem da honra e da vergonha provavelmente não se
tornará uma chave mágica para abrir portas. O ministério
cristão em contextos de honra e vergonha também deve
contextualizar os métodos evangelísticos e o processo de
conversão.
Embora a fé em Cristo seja sempre pessoal e possa
incluir a rejeição de obrigações de grupo, existem exemplos
do Novo Testamento de conversões familiares. O convite
de Paulo, para que toda a família do carcereiro seja salva,
evitou o escândalo de uma só pessoa desonrando o resto
da família. A ideia de “conversão em grupo” não ignora
a fé e o arrependimento individuais, mas entende que as
pessoas preferem tomar decisões em um ambiente de
grupo, interdependentemente e simultaneamente. Virar-se
para Cristo através de uma experiência de grupo limita
deslocamentos sociais desnecessários.23
A noção de decisões interdependentes para Cristo
afeta o nosso evangelismo. Por exemplo, se um jovem
mostra interesse em Jesus, pode ser prudente convidar
23Tennent, Theology in the Context of World Christianity, 97-99.
86
MINISTÉRIO
toda a família para a conversa. Ao compartilhar com o
líder da família e antecipar uma decisão da família de
seguir a Cristo, limitaremos a convulsão social de extrair
um indivíduo de sua comunidade. Uma abordagem
missiológica do encontro na comunidade envolve ajudar
as pessoas a encontrarem Jesus como uma comunidade,
não apenas individualmente.
No entanto, algumas pessoas nas sociedades de
honra à vergonha decidem individualmente seguir a
Cristo, e isso geralmente produz debates familiares,
ameaças iradas e fofocas da comunidade. Em meio a essas
circunstâncias desafiadoras, pode haver vantagens a longo
prazo em incentivar os novos crentes a permanecerem em
sua família como um meio social leve sem desdém. As
redes familiares são os canais mais naturais para transmitir
o evangelho em contextos de vergonha e honra; portanto,
devem ser mantidos sempre que possível. Extrair novos
convertidos de suas redes sociais limita sua influência
como cristãos. Na Ásia Central, descobrimos que quase
70% dos cristãos vieram a Jesus através de um parente
crente. Um estudo na Tailândia concluiu que as chances
de um incrédulo se tornar cristão são 229 vezes maiores
se tiverem um parente cristão.24
Pessoas em culturas de honra à vergonha podem
experimentar significativamente o evangelho encontrando
a comunidade divina e eclesial de dentro de sua rede
social.
24Marten Visser, Conversion Growth of Protestant Churches in Thailand (Zoetermeer,
2008), 123.
87
 CONCLUSÃO

O
pecado distorce a família humana, causando
culpa, vergonha e medo. Consequentemente,
as culturas do mundo perseguem a inocência, a
honra e o poder à parte de Deus. Mas o Deus da Bíblia
deseja abençoar todos os povos com a plenitude da
salvação em Cristo. O chamado da Igreja é apresentar
significativamente as nações ao Deus que se dirige aos
nossos mais profundos anseios culturais e espirituais.
Mas o evangelho 3D é para os cristãos,
especialmente aqueles no ministério, tanto quanto para
as culturas não alcançadas. A visão do túnel teológico que
vê apenas uma faceta do diamante algema nosso próprio
relacionamento com Deus. Os cristãos ocidentais podem
confiar plenamente em Jesus pelo perdão dos pecados,
mas ao mesmo tempo, serem atormentados pela vergonha
e pelo medo. Os cristãos muitas vezes sentem vergonha
de “não serem bons o suficiente” e tentam mascarar
aparentes deficiências. Sentir-se inadequado ou inútil
por causa de abusos passados ou falhas recentes dificulta
nossa intimidade com Deus. O medo também acende a
cultura ocidental, pois podemos não nos preocupar com
as forças espirituais que nos afetam, mas nos sentimos
ansiosos com o futuro. Esse medo nos leva a encontrar

89
 O E VA N G E L H O 3 D CONCLUSÃO

segurança e proteção nos poderes “modernos” (ou seja, Perguntas para discussão e reflexão
Exército Brasileiro, os bancários, aposentadoria...”.).
Antes de proclamarmos um evangelho 3D, devemos Cultura (cap. 2)
experimentá-lo e representá-lo em nossa própria vida. 25 1. No contexto de seu ministério, onde você vê
Mais significativamente, um evangelho elementos de culpa, vergonha e medo?
unidimensional ameaça a veracidade e a integridade 2. Quais são os elementos bons e ruins de cada tipo
de cultura?
da Bíblia. Nós interpretamos mal as Escrituras e
3. Dê um exemplo de “erro cultural”, quando você
construímos uma visão sub-bíblica de Deus. Se Deus
(ou outra pessoa) interpretou mal uma situação
não nos salva da vergonha e do medo (não apenas
devido a diferentes valores culturais.
teoricamente, mas praticamente), então minimizamos
severamente sua glória como Deus. Um evangelho em Teologia (cap. 3)
3D nos permite adorar mais plenamente nosso Deus 1. Que passagem bíblica ou doutrina teológica você
santo, glorioso e soberano em toda a vida. entende melhor agora?
Ao compreendermos todas as dimensões do 2. Como você poderia explicar o relacionamento
evangelho, podemos conhecer Deus com mais eficácia entre as três dimensões da salvação (ou seja, perdão,
e torná-lo conhecido. No fim: “Oro para que os olhos honra e poder)?
do seu coração sejam iluminados, a fim de que você 3. Qual é o versículo ou a história que você deseja
conheça (e proclame) a esperança para a qual ele te memorizar?
chamou, as riquezas de sua gloriosa herança nos santos
e seu incomparavelmente grande poder para nós que Ministério (cap. 4)
cremos.” (Efésios 1:18-19) Amém. 1. Que verdades deste livro podem ressoar com as
pessoas em seu contexto de ministério?
2. Como você pode adaptar o seu ministério para
que as pessoas encontrem o evangelho por meio dos
relacionamentos e do poder espiritual?
3. Dê uma breve explicação do evangelho em termos
de Vergonha-Honra (ou de Medo-Poder), sem olhar
25 Para mais informações, consulte: “3D Gospel sermon”, Hope Church (Oakdale, MN), para o livro.
16 de março de 2014, http://www.hopechurchoakdale.com/2014/03/3d-gospel-march-16-2014/;
Brené Brown “Listening the Shame”, TED, março de 2012, http://www.ted.com/talks/
brene_brown_listening_to_shame.

90 91
 CONCLUSÃO

Mais recursos por Jayson Georges

O site HonorShame.com oferece ferramentas

gratuitas de ministério, vídeos de treinamento, artigos
de periódicos e muito mais. Inscreva-se no blog semanal
para obter os recursos mais recentes.
A série Honor-Shame Paraphrase ajuda os leitores
a entender a Bíblia de acordo com seu contexto original
e não ocidental. Cada livro revela o significado das
Escrituras de maneira perspicaz e acessível. Saiba mais
em http://www.HonorShame.com/HSP ou Amazon.com.
O livro Ministrando em Culturas de Honra e
Vergonha (InterVarsity Press, 2016. 272 páginas) apresenta
uma teologia bíblica completa da honra e vergonha,
juntamente com muitos conselhos práticos e estudos de
caso para os principais aspectos da missão cristã.

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