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GOIÂNIA
2011
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
GOIÂNIA
2011
C268e Cardoso, Maria José
A espiritualidade que nasce da práxis libertadora de
Jesus [manuscrito] / Maria José Cardoso. – 2011.
95 f.
Bibliografia: f. 91-95.
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica
de Goiás, Departamento de Filosofia e Teologia, Goiânia,
2011.
“Orientadora: Profª. Drª. Ivoni Richter Reimer”.
1. Reino de Deus. 2. Jesus Cristo – exemplo. 3. Jesus
Cristo – ensinamentos. I. Pontifícia Universidade Católica de
Goiás, Departamento de Filosofia e Teologia. II. Reimer,
Ivoni Richter. III.Título.
CDU: 232.9(043.3)
DEDICATÓRIA
Ao meu inesquecível pai José Sudário Cardoso (in memoriam)., por suas
costumeiras leituras bíblicas, que quase sempre vinham acompanhadas de
comentários tão edificantes, por isso mesmo, inesquecíveis.
À minha querida mãezinha Antônia Geralda Cardoso (D. Diná), pelo apoio, incentivo
e orações, que foram imprescindíveis para que eu chegasse até aqui.
Ao saudoso Mons. Lincoln Monteiro Barbosa, cujas aulas de Ensino Religioso foram
de fundamental importância para que continuasse - aceso no meu coração - o
desejo de conhecer e vivenciar os ensinamentos de Jesus já iniciados através de
minha família.
A Deus, pelo dom da vida, pela inteligência, pela inspiração e pelos talentos a mim
confiados.
Aos meus irmãos: Maria Lúcia, Regina, Tereza de Fátima, Ana Maria, José Sudário
Filho (Zezé), Eduardo e Geraldo (in memoriam).
À prof. Dra. Ivoni Richter Reimer, pela competência, incentivo, apoio e orientação
que foram fundamentais e determinantes na condução e finalização deste trabalho.
Cardoso, Maria Jose. The spirituality that emerges from the liberating praxis of
Jesus. Dissertation (Masters in Science of Religion) - Pontifícia Universidade
Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, 2011.
Key words: kingdom of God, practice of Jesus, poor and marginalized, spirituality,
gospels.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................10
CONCLUSÃO ......................................................................................................87
REFERÊNCIAS ....................................................................................................91
INTRODUÇÃO
As c las s es al t as , c om pr om et id as c om os r om an os na
ex p l or aç ã o d o p o v o ( J o 1 1 ,4 7- 48 ; Lc 20 ,4 7) e p o d er os os r ic os
qu e n ã o s e im por ta v a m c om a p obr e za d os ir m ã os ( Lc 1 5, 16 ;
16 , 20- 2 1) ; e ha v i a gr up os d e o p os iç ã o ao s r om an os q u e s e
i de nt if ic a v am c om as as p ir aç ões d o po v o ( A t 5 , 36- 3 7) ; h a v ia a
r e li g i ão of ic i a l am bíg u a e o pr es s or a , or g an i za d a em tor no d a
s i na g og a e d o t em pl o ( M t 21 ,1 3 ; M t 23 ,4 .2 3- 32) ; e h a v ia a
p ie d ad e c o nf us a e r es is t e nt e do s p o br es c o m s uas d e v oç õ es ,
r om ar i as e pr át ic as s ec u l ar es ( Mt 1 1 ,2 5; 2 1, 8- 9; Lc 2 ,4 1;
21 , 2) . N um a p a la vr a , ha v i a c o nf l it os n os v á r i os ní v e is da v id a
da n aç ã o: ec on ôm ic o , s oc i al , po l ít ic o, id e o ló g ic o , r el i g i os o
( M E ST ER S , 2 00 6, p. 1 ) .
J es us v o lt o u p ar a a G a l il é i a, c om a f or ç a do Es pír i to , e s u a
f am a s e es pa l ho u p or t o da a r eg i ã o. E le e ns in a v a n as
s i na g og as de l es , e to dos o e lo g i a vam . Fo i en tã o a N a za r é ,
on d e s e ti n h a c r i a d o. Co nf or m e s e u c o s tum e, no d ia d e
s áb a do , f o i à s in a go ga e l e va n to u- s e p ar a f a ze r a l e it ur a.
Der am - lh e o l i vr o do pr of et a Is aí as . A br i nd o o l i vr o e nc on tr ou
o l ug ar o n de es t á es c r it o :
“ O es p ír it o d o S e nh or es tá s obr e m im , pois el e m e ung i u p ar a
an u nc iar a Bo a N o va aos c e g os , a r ec u p er a ç ão d a vis t a; p ar a
dar li b er da d e aos o p r im id os e pr oc l am ar um an o ac e i to d a
par t e d o S e nh or ” . De p ois f ec h ou o l i v r o, en tr eg o u- o ao
aj u d an te e s en t ou- s e .
O s ol h os d e t o dos , n a s i n ag o ga , es t a vam f ix os n e l e. E nt ão ,
c om eç ou a d i zer - l h es : “ H oj e s e c um pr i u e s ta p as s a g em da
es c r it ur a qu e ac a bas t e d e ou v ir ” ( Lc 4, 1 4- 2 1) .
O es pí r i t o do Se n ho r ( es t á) s o br e m im por c aus a d o q ua l m e
un g i u; par a an u nc i ar a B o a N o v a às pes s o as p o br es e le m e
en v i o u, par a c u r ar a s pes s o as q ue es t ã o c om o c or aç ã o
ab a ti d o p ar a pr oc l a m ar r em is s ã o/ l i ber ta ç ão ( áf es is ) às
pes s o as c a t i vas e r es t a ur aç ã o d e vis t a par a as pes s o as
c eg as , p ar a an u nc iar um an o agr a dá v e l a o S en h or e um di a de
v i ng a nç a p ar a c o ns o l a r t od as as p es s o as en l ut a das .
O es p ír it o do m eu S e nh or es t á s o br e m im , por q ue o Se n ho r
m e un gi u . Par a pr oc l am ar a l egr i a às p es s oas p o br es e l e m e
en v i o u, p ar a an u nc i ar um a l i b er t aç ã o p ar a a s p es s o as c a ti v as ,
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par a pes s o as am ar r ad as , o d es at ar d e s u as am ar r as ;
pr oc l am ar um an o agr a d á ve l par a o S e nh or , um di a de
v i ng a nç a p ar a nos s o De us , p ar a c ons o l ar to d as a s p es s o as
en l ut a das .
O es pí r i t o do Se n ho r ( es t á) s o br e m im por c aus a d o q ua l m e
un g i u p ar a a n unc i ar a Bo a N o v a às p es s oas p ob r es e le m e
en v i o u, par a c u r ar a s pes s o as q ue es t ã o c om o c or aç ã o
ab a ti d o p ar a pr oc l a m ar r em is s ã o/ l i ber ta ç ão ( áf es is ) às
pes s o as c a t i vas e r e s ta ur aç ã o d e v is t a à s pes s o as c e gas ,
par a en v i ar as p es s oas o pr im id as em li ber d a de /r em is s ão
( áf es is ) p ar a pr oc l am ar um a n o agr a d á ve l a o S e nh or .
J es us f a z a r e l e it ur a e at ua l i za ç ão d a tr a d iç ã o j ub i l ar par a
de n tr o d e s eu t em po. O c um pr im ent o da es c r i tur a es tá
v i nc u l ad o c om a a b e r tur a d e um n o vo t e m po. N ã o s e tr at a
ap e nas de r es pe i tar t em pos e é p oc as . T r at a- s e de dec l ar ar o
HO J E c om o t em po d a s a l v aç ão , d a r em is s ão e l ib er taç ã o.
T am bém nis s o, c ons i s tem a n o vi d ad e e a r a d ic a l i d ad e d e
J es us .
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Um a pr á t ic a q u e h a v i a s i do es t i p u la d a c om o l eg a l p e l os d o nos
do p od er er a qu e f a m íli as e nd i v i d ad as e n tr e g as s em f il has à
es c r a v i d ão - m ui t as v e zes t am bém l i ga d a à pr os t i tu iç ã o! –
c om o p a gam en t o t o ta l o u par c i a l d e dí v i d as . A pr is ã o ( d a
pes s o a qu e d e ve o u d e a lg u ém qu e per t enc e à s ua f am íl ia) e
a tor t ur a por f a lt a d e pa g am ent o d e d í vi d as er am o u tr a m ed id a
ad o ta d a p el os d e te n tor es d o p o der ec o nôm ic o e p o lí t ic o
( R EI M ER e R IC HT E R RE I M ER , 19 9 9, p . 11 9) .
[.. .] f a z p ar t e d o p r o g r am a de J es us at u ar pr of et ic am ent e em
f av or d a l i ber t aç ã o d e s s as p es s o as q ue s ão m ar g in a l i za d as e
ex c lu íd as d o s is t em a e d os v a lor es d om ina n tes . P or is s o,
r es g a tar tr a diç õ es j u b il ar es par a d en tr o d es s a s i t uaç ã o f a z
par t e d o m i nis t ér io pr of ét ic o de J es us qu e es t ar á t am bém em
op os iç ão às e l it es s a c er d o ta is d o s e u p o v o. R es ga t ar es s as
tr a d iç õ es c o loc a J es u s de nt r o das ex pec t at i v as l i be r t ár ias d o
po v o , p o is ex is t e u m gr an d e d es ej o e n ec es s i d ad e d e
l ib er taç ã o ( R EI M ER e RI CHT E R R EI M ER , 1 9 99 , p . 12 2) .
A p r of ec i a ac a b a d e s e c um pr ir em s ua pes s oa ( 4, 2 1: “ h oj e s e
c um pr i u a os v os s os o u v id os es s a p as s ag e m da Es c r i tu r a” ) e
c en tr a s u a hom i l ia na i n au g ur aç ã o d o A no S an to por
ex c e l ê nc i a , “ o a n o da gr aç a d o S en h or ” , m as om ite q ua l q uer
r ef er ênc i a à v i ng a n ç a/c as t i g o c on tr a o im pér i o r om an o
opr es s or . D aí qu e “ to d os es tr a n h a vam qu e m enc i on as s e
s om ent e as p a l a vr as s obr e a gr aç a” ( RI US - C A M P S, 19 9 5,
p. 7 3) .
J es us p er c o r r i a to d a s as c i d a des e a l d e i as e ns i na n do n as
s i na g og as , pr eg a nd o o e v an g e lh o d o r e i n o e c ur a nd o t o da
enf er m id ad e e d oe nç a . Ve n do o p o v o, s e nt i u c om pa ix ã o d el e
por q u e es t a v a f at ig a d o pr os tr a do c om o ov e lh as s em pas t or .
E nt ão d is s e a s e us di s c íp u los : “ A c o l he i ta é gr a n de , m as os
tr a b al h a dor es s ã o po u c os . P e d i, p ois , a o s e nh or d a p la nt aç ão
qu e m and e tr ab a l ha d o r es p ar a a c o lh e it a” ( Mt 9 , 35- 3 8) .
Re a lç a a nec es s id a de d e q u e m ui tos “ op er ár i os ” s ej am
en v i a dos p or D e us à “ v i nh a” e v a ng é l ic a [. .. ] a ex pr es s ã o
o ve l h as s em pas t or : a im ag em é bem c onh ec i da no An t ig o
T es tam en to , es pec i a l m ente n os pr of e tas J e r em ias ( c f . J r 2 3) e
E ze q u i el ( c f . E z 3 4) . [No vs ] 37 , a c ol h e i ta é gr an d e: um a
no v a im ag em bí b l ic a , r e l ac i o n ad a c om o “ c um pr im en to d os
tem pos ” ( c f .J l 4, 12- 1 3 ) . Es s e c um pr im ent o j á s e in ic i o u c om o
Mes s i as ; e l e é en v i a d o pe l o P ai c e l es t e p ar a l im par a s ua e ir a
e r ec o l h er o tr i go a o c e le ir o. M as nes s a o b r a qu er as s oc i ar a
s i c o l a bor a dor es no m aior núm er o p os s í v e l. Pa r a ta nt o é
m is ter ins is t ir j u nt o a o “ s e n ho r d a m es s e” qu e en v i e m ui tos
op er ár ios .
J es us v en d o as “ m ult i d ões t e v e c om pa ix ão de l as p or qu e
es t a v am c om o ac os s ad as e i nd ef es as .” T er c om pa ix ã o ( Lc
14 , 14 ; 1 5, 3 2; 1 8, 27 ; 20 ,3 4) de r i v a das “ en tr an h as ” , o u
“ ab d ôm en” , o l oc a l d a aç ão c ar i n hos a , m i s er ic or d i os a . [. .. ]
As s im , J es us ex pr es s a a m is er ic ó r d i a de D eus em s eus a tos
( C ART E R, 2 0 02 , p . 30 2) .
O m inis tér i o d e J es us , a m an if es t aç ã o d o po d er s a l v íf ic o d e
De us q ue j us t if ic a o u c o nd e na , é l im it ad o em s ua ex t e ns ão .
Uns p o uc os op er ár io s /tr ab a l ha d or es ( 10 , 1 0) o e nt e nd er ão .
P ar a os po uc os c om o a c om un id a de m in or it á r i a e m ar g i n al dos
d is c í pu l os , em c ontr a m ar c ha e em te ns ã o c om s eu c on tex t o
s oc ia l , v er 7, 1 4.
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des p er t a v a ne l as o d es ej o d e s eg u i- lo a p ó s v i v e nc i ar em s ua
pr áx is l ib er ta d or a n o c am po d a s a úd e , d a e duc aç ã o e d a
r e li g i ão em s i . M u l her es , h om ens e c r i anç as ad er i am à
pr o p os t a de c o loc ar a s u a v id a – r e s s i gn if ic a da p e la
c om pa ix ã o e j us t iç a e x per i e nc ia d as j u n to a J es us - a s er v iç o
da c ons tr uç ã o d o R e in o d e D e us q ue s e f e z pr es e n te . A
ex p er i ênc i a d a ac ei t aç ã o , ac o l h id a , da au t o- es t im a e d a
d ig n id a de ( r e) c o ns tr u íd as po r e c om J es us , b em c om o do
c om pr om is s o f ir m ad o a pa r t ir d es t a ex p er iê nc i a, s ã o os
e lem en t os f u nd a nt es no m ov im en to c r is t ã o or i g in ár i o qu e d á
c on t in u i da d e a os pr o c es s os l ib er tár i os d e s enc a de a dos por
J es us ( R IC HT E R R EI M ER , 2 00 9, p. 2 4- 25) .
tr a d u zi - l a por “ de n tr o” s i g n if ic ar ia qu e, em r es pos ta à
per g u nt a d os f ar is e us s obr e q u a nd o vir i a o Re i no de De us ( Lc
17 , 20) , J es us l h es t er ia d it o q ue o r e i n o de D eus es ta v a
de n tr o de l es ! Is s o es t ar ia em c ontr ad iç ã o c om tud o m ais q ue
J es us h a v i a di t o a r es pe i to d o r e i no o u d os f ar is eus . A l ém do
m ais , j á q u e t o das as ou tr as r ef er ê nc i as do r e in o pr es s u p õem
qu e a in d a es t á por v ir , e j á o v er b o, em to da s as ou tr as f r as es
des t a p as s a g em ( 17, 2 0- 3 7) es t á n o f ut ur o, e s te v er s íc u lo d e ve
s er e nt e nd i do no s en t i do de qu e um di a e les vã o d es c obr ir q u e
o r e in o d e D e us , s ú b it a e i nes p er a d am ent e, es tá n o m e io
de l es ( NO L AN , 1 98 7, p. 7 4) .
Cabe destacar ainda que o Reino de Deus é uma experiência pessoal e uma
realidade que a tudo abarca, mas que de modo algum, compactua com as injustiças
e com os mecanismos de discriminação. Pelo contrário, acolhe crianças, mulheres e
homens de forma igualitária e capacita estas pessoas para atuarem como sujeitos
de uma nova história, na qual a justiça solidária impera em favor da vida de todas as
formas (REIMER e RICHTER REIMER, 2008, p. 858-59).
Por meio das pesquisas realizadas até aqui, fica evidente que no tempo de
Jesus havia muitas divisões, mantidas em nome de Deus pela própria religião oficial
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[os ] p or t a d or es d aq u i l o q ue m a is t ar d e s e c onf ig ur ou c om o
“ c r is ti a n is m o” er am ant es , m is s i o ná r i os , a p ós t o los e pr of et as
it i n er a nt es , q ue p o d i am c ont ar c om peq ue n os gr up os d e
s im pat i za n t es em d i v e r s as l oc a l i d ad es .
• Os pobres em sentido material, aqueles que não podem dispor de bens deste
mundo, conforme a primeira bem-aventurança (Lc 6,20-21). Os primeiros na
igreja são, portanto, os famintos e com eles os enfermos.
• Os que choram, ou seja, todos aqueles que estão tristes e aflitos; os que não
podem achar consolação neste mundo, os que vivem à beira do pranto e da
loucura, conforme a segunda bem-aventurança (Lc 6,21).
• Os oprimidos, isto é, aqueles que estão sob o império dos grandes deste
mundo. Os humilhados da terra, os marginalizados da cultura, os expulsos do
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O s ta t us e o pr es t íg i o e r am bas e ad os n os an t ep as s ad os , n o
d in h ei r o , n a au t or id a de , n a e duc aç ão e na v ir t u de . Er am
dem ons tr ad os e m ant i dos pe l a m ane ir a c o m o as pes s oas s e
v es t i am , c om o os ou tr os s e d ir i g iam a e l as , qu em as r ec e b ia
em s ua c as a , qu em as c on v i d a va p ar a c om er , e p e lo l u gar q ue
oc u p a vam n os b a nq u e tes o u o n de s e s en ta v am nas s in a go g as .
Za qu e u, n um s im ples a lm oç o par a o q ua l o pr ó pr i o J es us s e
c on v i d ar a , d es t i na a m eta de d e s e us b ens a os p obr es e
pr om et e a r es t i t uiç ã o em quá dr u p l o d e t u do o q u e r o ub ar a.
Mu l h er es d e “ m á v i da” tr ans f or m am - s e em des tem i das
tes tem un h as d e s u a m or te e c o nf i de n tes p r ef er enc i a is d e s ua
m or te e r es s ur r e iç ão . P ag ã os s e r en d em a g es tos d e am or ,
c om o o c en t ur i ã o r om ano , c uj o f i lh o J es us c ur o u, e a
31
Ca n an é ia , q ue de l e o bt e v e a c ur a da f i l ha ( A LL G A YE R , 1 9 94 ,
p. 1 01- 0 2) .
Agnelo (2009) destaca ainda que a única vez que Jesus foi
coberto de vestes reais foi durante o interrogatório de Pilatos. Puseram-
lhe sobre os ombros um manto real com a coroa de espinhos, e como cetro na mão
uma cana de bambu. Por aí, dá para afirmar que o Reino do qual Jesus
falava era totalmente diferente dos reinados deste mundo. A Pilatos
agradou a resposta de Jesus, “O meu reino não é deste mundo. Se o
meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não
fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não é daqui.” (Jo,18,36)
Dessa forma, Jesus não representaria uma ameaça ao poder de Pilatos,
nem tampouco é um concorrente perigoso, visto que
Ele não guerreia com exércitos a posse do mundo. O seu reino compromete
as pessoas concretas no seu coração. Projeta-se no futuro: nesta existência
e na outra. [...] o reino de Jesus é resposta de Deus às inquietudes do
espírito humano insatisfeito, inquieto com a idéia da morte, do fim de tudo.
O reino é resposta explícita de Deus à necessidade irreprimível do coração
humano, sedento de infinito. O reino de Jesus não se encontra nos mapas
do mundo, mas na geografia do espírito. Este reino singular requer de seus
cidadãos, os cristãos, coisas não habituais e imprevisíveis. Manda aos seus
uma conquista toda espiritual, toda interior, dominar-se, vencer as forças do
egoísmo, do instinto da violência. Vitória sobre o pecado, sobre o mal.
“Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, reino de justiça, de
amor e de paz” (AGNELO, 2009, p. 2).
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tem s i do o m a is ac e i t o par a a s u a id e nt if ic aç ã o , c o nf or m e os
E v an g e lh os S i n ót ic os . Fo i o ú n ic o tí tu l o q ue el e us o u
r ef er i nd o- s e a s i m es m o. Nã o há d ú v id as d e q u e es s e tí tu l o f o i
us a d o p ar a s u bs ti t ui r o t ít u lo d e M es s i as , q ue J es us r ej e it o u
i nd ir et am en te .
a) O Fi l ho d o H o me m pr e s en t e ( M t 9 . 6; 11 . 19 ; 12 . 8; 12 . 32 ; Mc
2. 1 0; 2. 27 ; Lc 5. 2 4; 6 .5 ; 7 .3 4; 9. 5 8) , te n do em vis ta o s e u
m inis tér i o t er r e n o;
b) O F i lh o d o H om e m S e r v o S ofr e do r ( Mt 17 .1 2; 1 7 .2 2; 20 .1 8 ;
20 . 28 ; 2 6. 2 4; 2 6. 4 5; Mc 9 .1 2; 9. 3 1; 1 0. 3 3; 10. 4 5; 14 .2 1 ;
14 . 41 ; Lc 9 .2 2 ; 9 .4 4 ; 1 8. 3 1; 2 2. 2 2) , te n do em v is t a a
c ons tr uç ã o d e s u a m is s ão atr a vés da pa ix ão ;
c ) O F i l h o do H o m em Es c at o ló g ic o ( Mt 16 ,2 7; 1 9 .2 8; 24 .3 0 ;
24 .4 4 ; 2 6. 64 ; Mc 8 . 38 ; 1 3. 1 6; 14 . 26 ; Lc 9 . 26 ; 1 2. 4 0; 2 1. 2 7;
22 .6 9) , t e nd o em v is t a a es p er a nç a e s c at o ló g ic a e a
c ons um aç ã o d e s u a m is s ão na e r a v in d ou r a ( O L I V EI RA ,
20 0 8, p . 5 45) .
Ac en tu a o l a do d e h u m ani da d e em c on tr as t e c om a ex pr es s ão
Fi l ho d e D eus . “ Nã o tem on d e r e p ous ar a c ab eç a ( Mt 8, 2 0) ,
v a i s of r er n as m ãos d os hom e ns ( Mt 1 7 ,2 1) , s er á e ntr e gu e a os
s um os s ac er do tes e es c r i bas , o c on d en ar ã o à m or t e e o
en tr eg ar ão a os p ag ã o s ; s er á zom ba d o, aç o i ta d o e c r uc if ic a d o”
( Mt 2 0, 18- 1 9) . Em c er t os m om entos , o Fi lh o do hom em
ap ar ec e c om pod er d i vi n o d e p er d o ar p e c ad os ; “ P o is b em ,
par a q ue s a ib a is qu e o F i lh o do h om em tem na t er r a p o der d e
per d o ar p ec ad os – dis s e a o p ar a l ít ic o – e u t e d i g o: l e va n ta- t e ,
tom a a tu a c am a e v a i p ar a c as a” ( Mt 9, 6 s ) . C ar r eg a t o qu e
ap oc a lí pt ic o de q uem r es s us c i ta r á n o t er c e i r o d i a ( Mt 2 0, 1 9) ,
de q uem v ir á d as n u v ens p ar a j u lg ar ( Mt 16 ,2 7; 2 5, 31 . N ã o l h e
f al ta t am bém vi és m es s i ân ic o. As d u as af ir m aç ões – F i lh o do
Hom em e F i l ho de D e us – f a zem a ver d ad e s obr e J es us .
“ Fi l ho d o Hom em ” , m as num s en t id o to ta lm en te ú n ic o e
es p ec i al , d e t er s i do e lem en t o es s e nc i a l d a c o ns c i ê nc ia qu e
E le t i n ha de s i m es m o ( O L I V EI R A, 2 0 08 , p . 54 6) .
O hom em J es us é o C r is t o , o F il h o d e De us P ai , a s u a ú l t im a e
def in i t i va r e v e l aç ã o. Na d a há m ais a r e v e l ar al ém d e J es us
en q ua n to pr oj e to s a l v ad or de D eus . [ .. .] T od os os s i n a is d e
r e ve l aç ão d e D eus no p as s a d o, no pr e s en t e e no f u tur o
enc o ntr am em J es us a c h a v e úl t im a d e i nt er pr e taç ã o e
r ef er ênc i a. P or m eio de l e p ar t ic ip am os da p le n it u de de
hum an i d ad e . A q ui l o q ue e le r e al i zo u em pl en i tu d e é o q ue
ex is t e em nós d e f or m a em br io n ár ia q u e t en d e par a e l e. P or
is s o, e le é o Pr inc í pi o e o F im , A lf a e Ô m eg a ( LI B AN IO , 2 0 08 ,
p. 2 5) .
Por meio dos relatos bíblicos, fica evidente que para Jesus, o nome de Deus
é Pai:
- que é perfeito “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt
5,48);
- que é íntimo dele; “Todas estas coisas me foram dadas por meu Pai e
ninguém conhece o filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o filho e
aquele a quem o filho quiser revelá-lo” (Mt 11,27);
- que é perdão, tão bem demonstrado na parábola do filho pródigo (Lc 15,11-
32);
- que é a própria imagem de Jesus: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo, 14,9) etc.
Desse modo, Deus-Pai se revela e se manifesta em Jesus e através de
Jesus. É o Pai que se mostra com toda sua bondade e vigor. As ações de Jesus
38
S ua f é [d e J es us ] é c ar r e ga d a po r es s e ex er c íc i o [o r aç ã o]
r eg u l ar q ue o pr es er v a de a t i vis m o e d es ân i m o. Al ém dis s o, os
e va n ge l h os r e l at am q ue J es us , s e gu i n do a tr a d iç ão j ud a ic a,
f a zi a- s e pr es e nt e n o s c u lt os d a s i n ag o ga o nd e er a l i d a e
i nt er p r e ta d a a es c r i tu r a; r e l at am qu e e l e v i v ia em c om unh ã o
de v i da c om s eus d is c í p u los , q u e e l e d a va tes t em unh o a
r es p e it o d a p r ox im id a de do Re i no de De us em pal a vr a e aç ã o.
O s ev a n ge l hos de ix am ent r e v er q u e a es p ir it ua l i da d e d e J es us
c om pun h a- s e d os s eg u in t es e l em ent os : o u vir , or ar ,
c om par t i l ha r , t es t em unh ar e a g ir .
Vale destacar que, de acordo com Martins (2008, p.1), o evangelista Lucas
traz mais referências à oração do que os outros evangelhos. Ele enfatiza
especialmente a vida de oração, registrando sete ocasiões em que Jesus orou que
não são encontradas em nenhum outro lugar:
Maria engravidou pela força do Espírito Santo (Mt 1, 18; Lc 1,34). O anjo
confirmou a José que o gerado em Maria era obra do Espírito Santo (Mt 1,
20). A simples saudação de Maria com Jesus no seio, enche Izabel do
Espírito Santo, e ela reconhece na prima a mãe do Senhor (Lc 1, 41) [...] Na
apresentação de Jesus ao templo, o texto se refere a Simeão, como aquele
em que o Espírito Santo repousava e que lhe tinha revelado que não
morreria sem ter visto o Cristo Senhor (Lc 2,25-26).
Dessa forma, podemos afirmar que do início ao fim da vida na terra, o Espírito
Santo ungiu Jesus e o capacitou para a sua missão. Jesus, na concepção de Jo 1,1,
era Deus, mas também era homem (1Tm 2,5). E como ser humano, Jesus dependia
da ajuda e do poder do Espírito Santo para cumprir a sua missão diante de Deus e
diante dos homens (Mt 12,28; Lc 4,1,14; Rm 8,11; Hb 9,14).
Dentro do cristianismo o Espírito Santo é uma pessoa da Trindade, co-igual
ao Pai e ao Filho. Através da ação do Espírito Santo, Jesus Cristo nos revela o
mistério de Deus presente e atuante em sua pessoa. Assim sendo, nada na pessoa
e missão de Jesus aconteceu sem a força, participação e poder do Espírito Santo, o
que sem dúvida alguma era resultado de sua íntima ligação com o “Abbá” (Pai),
preparando-o e capacitando-o desse modo, para o relacionamento com as pessoas
na horizontalidade, conforme está posto no primeiro capítulo (item 2.1) desta
dissertação que trata da Boa Nova anunciada por Jesus em Lc 4, 14-21.
Por meio dos relatos bíblicos podemos afirmar que Jesus realmente se
preocupava com as pessoas, e não era uma preocupação vazia, mas levava à ação
libertadora e transformadora de realidades. Assim, depois de nutrir-se do amor e da
‘comum união’1 com o Pai na verticalidade, compartilhava abundantemente na
horizontalidade com o próximo em forma de gestos, palavras e ações traduzidas em
misericórdia, principalmente com os mais pobres e excluídos do seu tempo.
Por isso mesmo, Jesus passou a ser conhecido como “o amigo dos
publicanos e dos pecadores”: Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e
dizem: ”Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”
(Mt 11,19). No entanto, isso não o intimidou no seu propósito e missão, como
bem ressalta Mesters (2006, p. 2):
1
A expressão ‘comum união’ foi usada aqui para destacar a plena união entre Jesus e o Pai, a qual era fonte
substancial de sua práxis libertadora – horizontal – com as pessoas.
42
um a p er s p ec t i v a te o ló g ic a l i b er t ad or a abr a n ge nt e , q u e
v a lor i za e r e i v in d ic a a p os iç ã o- de- s uj e it o de pes s o as q u e
par t ic ip am do f en ôm en o r e l i g ios o, [. .. ] é nec es s ár i o l er e
i nt er p r e ta r es t as tr a d iç õ es n um a p er s pe c ti v a m uit o m a is
r e lac i o na l , c on tr ib u i n do t am bém p ar a a c ons tr uç ã o d e um a
c r is t o l og i a qu e t em a v er c om tu do q u e n os s a c or p or e i d ad e
im pl ic a: r es p ir ar , m ov im ent ar , p ens ar , s e nt ir , f a l ar , t oc ar
( RI CHT E R R EI M ER , 2 00 8 , p. 7 1) .
Es c ol h e u f ic a r d o la do d os p o br es . As s um iu e s of r e u as
c ons e qu ê nc ias . Com a c ap ac id a d e e a i nt e l ig ê nc ia q u e t i nh a ,
J es us nã o t er i a t i do d if ic ul d ad e p ar a s a ir d a p obr e za . Mas
nu nc a t e nt o u um a s aí d a in d i v id u a l, s ó p ar a s i . Co nt i n uo u
s o li d ár io c om os po b r es . C o n hec e u a p o b r e za pe l o la d o d e
de n tr o . Es v a zi o u- s e e f oi es v a zi a d o ( F l 2 ,7 ) . Ex p er im en to u a
f r aq ue za na ho r a da ag o n ia e o a ba n do n o na ho r a da m or t e
( Mc 1 5 ,3 4) . O a ba n do no a o q ua l er am c ond en a dos os p o br es !
Mo r r e u s o l ta n d o o gr i to dos po br es ( Mc 1 5 ,3 7) , c er t o de s er
ou v i d o p e l o Pa i q ue e s c ut a o c lam or do p ob r e. P or is s o, D eus
o ex al t ou [s o ber a nam e nt e] ( F l 2 ,9) ( M E ST ER S, 19 9 5, p . 1 20) .
46
são também elas que estão com ele junto à cruz ou observando de longe, e
é com o testemunho delas que se abre uma nova dimensão na história
religiosa: Jesus é o messias, primogênito dentre os mortos. Não está morto,
mas ressuscitou! Essa é a novidade que elas presenciaram e
testemunharam por primeiro. Jesus e o anjo de Deus as incumbem de dar
testemunho, as vocacionam para a proclamação dessa Boa-Nova de
alegria. São, por incumbência divina, apóstolas dos apóstolos (Mc 16,7; Mt
28,7; Lc 24,6ss; Jo 20,17-18).
De r e p en te , em Lc 2, 4 1s s , d ef r o nt am o- nos c om o J es us
j o vem - ad u lt o q ue , j un t o c om s ua f am í li a , p ar tic i p a a n u alm e nt e
da F es t a d a p ás c o a em J er us a l ém . O ze l o f am il i ar - s oc i a l
pe l a tr a diç ã o e pe l o es tu d o d a T or á ex p l ic a a ef et i v a
par t ic ip aç ão d e J es us no tem p lo , qu a nd o, c onf or m e c os t um e
j ud a ic o c om pl et o u a m aior i da d e a os 1 2 a n os . O t ex to r ef l et e
es t a f as e de em a nc i paç ã o e a ut o nom i a de J es us qu a nd o
des t ac a a s ua p er m an ênc i a em J e r us a l ém s em o
c on h ec im ent o de p ai e m ãe. E n qu a nt o es t e s j á s e enc o ntr am
no c am i nh o d e v o lt a a N a zar é, J es us p er m anec e u “ as s e n ta d o”
50
em m eio a os m es tr es n o t em pl o. E l e es c u ta s eus
ens i n am ent os e lh es f a z p er g un tas ( 2 , 46) , d i an te d o qu e to d as
as pes s o as f ic ar am m ar av i l ha d as . T r a t a- s e da s a b ed or i a do
j o vem - ad u lt o . A n ar r at i v a r ef l et e um a pr á t ic a us u a l e
c os t um eir a no a pr e n d i za d o da T or á e s u a i nt er p r e taç ã o p or
par t e de J es us . As s im , em c as a e n o tem p l o, j u nt o à m ãe , a o
pa i , à c om un i da d e e j un t o aos m es tr es , J es us v a i ad q u ir in d o e
c ons tr ui n d o o s eu c on h ec im ent o d as es c r it ur as e a s u a
i de nt i d ad e r e l i gi os a j u da ic a.
T ant o a c ons a gr aç ã o q ua nt o o s ac r if íc io n o t em pl o es t ã o
v i nc u l ad os c om o r it u a l d a p ur if ic aç ão pós - par t o d a m ãe e do
f il h o, b em c om o do p a i, p or qu e el e c o n v i v e c om am bos . Es s e
r it u a l f a z p ar t e d a h e r anç a d e t r a d iç õ es a nc es tr ais j u d aic as ,
l ig a das c om a l eg is l aç ão de us os e c os t um es r e l i gi os o- s oc i a is .
[.. .] O t em pl o at u a nes t e r e l at o ( Lc 2- 2 5- 3 8) , c om o f or ç a
pr o d ut or a d e s e n ti d o i de nt i tár i o- r e l ig i os o at r a vés d a m em ór ia
e d a tr a d iç ão anc es t r a l. O im ag i ná r i o r e l i g i os o e a tr ad iç ão
m ític o- s im bó l ic a at u a m na c ons tr uç ã o d a i d en t id a de s óc i o-
r e li g i os a d es ta f am íl i a qu e s e or g an i za a par t ir d a i dé i a d a
per t enç a, b us c a nd o c oes ã o s oc ia l . N es te s en t id o , per e gr in ar
ao t em pl o d e J er us a lém f a z pa r t e d o pr oc es s o d e ( c o)
m em or ar e at ua l i za r o s m it os d as or i ge ns j u da ic as , a os q ua is
s e r e lac i o nam , n o c as o d a l e i de Mo i s és , os r i t os da
c ir c unc is ã o, d e c ons agr aç ã o e de p ur if ic aç ã o . A i de n ti d ad e
s oc ior e l ig i os a de M ar i a, J os é e d e J es us e s tá ( r e) af i r m ada e
pa u tar á os d is c ur s os , a ét ic a e as aç õ es de l es . Es s a n ar r at i v a
em tor no d o t em plo r e g is tr a, p or ta nt o , a id e nt i da d e j ud a ic a d e
J es us ( R IC HT E R R EI M ER , 2 00 7, p. 7 1) .
A autora acima citada destaca ainda que o templo era lugar para
o estudo e ensino da Torá, anúncio da palavra profético-sapencial,
oração e do louvor, sacrifício, intercessão e louvor. Em suma,
O tem p lo em n í v el na c i on a l e a s i n ag o g a e m nív e l l oc a l-
r eg i o na l er am lu g ar es s a gr a d os par a ex pr e s s ão p ú bl ic a d a f é
j ud a ic a e f a zi am par t e d os pr oc es s os ed uc ac io n ais i nd i v i du a l
e c o le t i vo . N a c as a, n a s i na g og a e no t em pl o é q ue ac o n tec e a
ed uc aç ã o t e ol ó g ic a a s er v iç o d a v i d a, v i ve nc ia d a p or J es us .
Di g a- s e a i nd a q u e o t em pl o, ap ós a m or t e de J es us , c on t in u a
s en d o es paç o r e l e va n te p ar a o gr up o d e m u lh er es e h om ens
qu e f ic ar am s o zin h o s /as e pr ec is a v am ( r e) c ons tr ui r s u a
i de nt i d ad e de f o r m a n o va d en tr o d e um no v o c o nt ex to c r ít ic o e
de p er s eg u iç õ es : m es m o qu e a pe n as n a m em ór ia e na
es p er a nç a , e le c o n ti n ua s en d o es p aç o s a gr ad o e d e
i de nt i d ad e q ue g ar an t e ao gr u po a c o nt i n u i da d e t am bém no
51
s en t id o d e p er t e nç a ao po v o d e D eus ( R IC HT ER R E IM E R,
20 0 9, p . 2 2) .
Nã o é d e s e s u r pr e en der q u e, v i v en d o em am bi en t e a gr í c o l a,
J es us t i v es s e f am i li a r i da d e c om o c u lt i v a r d os c am pos ( Lc
9, 6 2; 1 7 ,7) o l a nç a r das s em ent es ( Mt 13 , 4; Mc 4 ,3 ; Lc 8, 5)
c e if aç ã o e s ep ar aç ão da s af r a ( J o 4, 3 5- 3 8) e ar m a ze n am ent os
dos pr od ut os n os c e l eir os ( Mt 13 ,3 0 ; Lc 12 ,1 6- 18) .T a l ve z
qu a nd o c r ia nç a, t i v e s s e v is to ou ou v i d o os f a ze n d eir os
f al ar em s o br e os r el at i v os b e nef íc i os d os s ol os , o im pac to
des s es s o br e os r en d im ent os d as s em en t es ( M t 1 3, 3- 8; Mc
4, 3- 8; Lc 9, 5- 8) , s o br e os c a pr ic hos d o t e m po ( M t 1 6, 2- 3; Lc
12 , 54- 5 5) e s o br e a nec es s i da d e d e d is p o r s ab i am en te d as
er vas d an i nh as ( Mt 13 , 30) e p o dar as v i nh as a f im de
aum en t ar a pr o d ut i v i da d e ( J o 15 , 2) . D e ne n hum a m ane ir a
es s a l is t a é ex te n ua nt e ( M t 4 , 26- 2 9) . P od e- s e a i nd a in d ic ar a
f r eq uê nc i a c om qu e J es us , o m es tr e , f a l a va de p ás s ar os ,
ár vo r es , e o utr as v e g e taç õ es ( G R EN I ER , 1 9 98 , p . 32 ).
Di d as k õ , “ e ns i nar ” pr o vém de d i- d ak - s k o ( r a i z d ek - , “ ac e i ta r ” ,
“ es t e nd er a m ão p ar a ” ) . A r a i z d u pl ic a da e o s uf ix o inc o at i v o
tr a ns m it em a i dé i a d e f a ze r a l gu ém ac e i t ar a l g o; a p a l a vr a ,
por t an to , s u g er e a i d é i a d e f a zer a lg u ém ac e it ar a l gum a c o is a.
[.. .] a pa l a vr a s e em p r eg a t i pic am en te par a o r e l ac io n am ent o
en tr e pr of es s or e o a l un o , o i ns tr u t or e o a pr e n d i z. O q u e s e
ens i n a p od e s er c on h ec im ent o, op i n iõ es o u f atos , bem c om o
per íc ias ar tís t ic as e téc n ic as , to d os os q ua is d e vem s er
s is t em át ic a e c om pl et am ent e ad q ui r i d os p e l o a pr en d i z c om o
r es u l ta d o de a ti v i d ad e r ep et i d a t a nt o pe l o pr of es s o r q u an t o
pe l o a l un o . No N o v o T es tam ent o, d id as k õ oc or r e 9 5 v e ze s ,
das q ua is 38 s e ac ham nos E v a ng e l hos S in ó tic os [ .. .] . O
s i gn if ic a do s em pr e é “ ens i n ar ” ou “ ins tr u ir ” , em bor a o
c on t eú d o d o ens i n o s om ent e pos s a s er d e t er m in ad o m ed i an t e
o c o nt ex t o i n di v i d ua l .
Nesse sentido, não foi sem razão que, como vimos acima, Jesus
foi chamado de mestre por pessoas diversas e de classes tão distintas,
entre as quais podemos citar: um fariseu que questionava sobre o
porquê de Jesus se alimentar em companhia dos publicanos e
52
as p ar áb o l as q u er em ins tr u ir e i nc e n ti v ar as p es s oas a s e
c om por t ar em de um a m ane ir a c o er e n te c om o Re i n o d e D eus .
[.. .] S e u o bj et i v o n ão é ap e n as a pr es en t ar t er m os d e
c om par aç ã o, m as , pr o p o nd o um c as o ex em p lar n um a
r ou p a gem his tór ic a, is t o é, c ons i de r a nd o s e u c o nt ex to
h is t ór ic o , e l a q ues t io na e i nc e n ti v a d e ter m ina das c on d ut as .
Me d i an t e p er s on a ge n s - m ode lo , e l a s ug er e ex em p los da q u i lo
qu e o le i tor d e v e o u n ão f a ze r . O c e ntr a l é a pr áx is , a c o n du ta
qu e d e v e s er a lc an ç ad a , enf im , a c o n s tr uç ã o do et h os
54
a lt er n a ti v o a o q u es t i o na d o, c om o p o dem os e v id e nc i ar n o t ex t o
de Mt 1 8, 23- 3 5 ( RICHTER REIMER, 2004, p. 286).
po d e s e r c om pa r a d a c om um es pe l ho . S er ve p ar a q u e os
ou v i nt es enx er gu em , atr a vés d e la , o q ue s em el a n ã o
po d er iam ver , o u s ej a , s e u pr ópr i o r o s to , s u a pr ópr i a
r ea l i d ad e. A l gum as p es s o as , i ns at is f e it as , pr ef er em às ve ze s
qu e br ar o es p e lh o , em ve z d e t en tar m ud ar o s e u r os t o.
As s im , s ão du as as r eaç õ es f un d am ent a is às p ar á b o las de
J es us : uns r ej e it am J es us e q u er em m atá- lo ( c f . Mc
3, 6; 1 2; 1 2) ; ou tr os p er c eb em qu e p o d em m udar a v i da e s eg u ir
J es us ( KU NZ , 20 0 8, p. 7 4 3) .
“ Q u al d os tr ês em s u a o pi n i ão f oi o pr óx im o?” ( Lc 1 0 ,3 6) ; “ Q ua l
dos d o is o am ar á m ai s ?” ( Lc 7, 42 ) ; Q u e v os p ar ec e ? Q ua l d os
do is r e al i zo u a v on ta de d o P a i ?” ( M t, 2 1, 2 8 .3 1) ; “ P o is b em , o
qu e l hes f a r á o do n o da v i n ha ?” ( Lc 20 ,1 6) . As p ar áb o las d a
o ve l h a per d i da e da dr ac m a p er d i d a f or am f or m ul ad as q u as e
55
i nt e ir am en t e c om o p er g u nt as ( Lc 1 5 ,4- 1 0; Mt 1 8, 1 2- 1 4)
( NO L A N, 19 8 7, p . 1 78 ) .
4 CONCEITUANDO A ESPIRITUALIDADE
Es pi r i t ua l i da d e r em on t a a o adj et i v o l a ti n o s p ir it u al is , tr ad uç ão
do gr e g o p ne u m at ic ó s ( I Co 2 , 1 4- 3 . 3) , des i g na n do o s er
hum an o ( h o mo s p ir i tu a l is ) ins p ir ad o e de t er m in ad o pe l o
Es pír i to d e D eus . O c onc e it o m od er no d e e s p ir i t ua l i da d e t em
s ua or i gem na pa l a v r a f r a nc es a es p ir it u a l it é , q ue , d es d e o
s éc u l o X VI I, n o âm b it o da t eo l o gi a d as or d e ns r e li g i os as
c at ó l ic as f r a nc es as , é t er m o t éc nic o p ar a a r e laç ã o p es s o a l
c om Deus e a vi v ê nc i a d a f é . Es p ir it u a li d a de é a ex pr es s ã o
ex t er io r e c or por a l da f é i nt er io r m oti v a da p e lo Es pír i to S a nt o.
E la i nc lu i f é s ob as c on d iç ões da v i da c ot i d ia n a, abr a ng e nd o
as d im ens ões , i nd i v i d ua l , f am i l iar , c om un i tá r i a e s oc i al .
do e nt es e a ba n do n a d as n as es tr ad as da v i da ( Lc 1 4 ,1 5- 24 ) .
[.. .] a os p e qu e n in os , às c r ia nç as ( Lc 1 8, 15 - 17 e par ar e lo) as
pes s o as em p obr ec i da s ( Mt 5, 3 /Lc 6, 2 0) às pes s o as q u e s ã o
per s e g ui d as p or c a us a d a j us t iç a ( Mt 5, 1 0) , às pr os t i tu tas q ue
pr ec e d em aos “ s e n ho r es ” M t 21 , 31) .
A l ó g ic a d om in an te e a d i n âm ic a s óc io- r e l ig i os a
ex p er im en tar ã o um a i n ver s ã o atr a v és d o p od er d in âm ic o d o
Re i no de De us ( M t 2 1 ,4 3 n o c o nt ex t o ; 2 0, 1 6) . [ .. .] O R e in o d e
De us , p or t a nt o , é um a dá d i va pr es en t ea d a p or g r aç a, à q ua l
c or r es p o nd e a um a de t er m in ad a ét ic a: a m ar a D eus e às
pes s o as pr óx im as atr a vés d e p al a vr as e d a pr á t ic a d a j us t iç a
( Mc 1 2, 3 4; M t 5, 1 9- 20 ) .
[...] um resumo sistemático das verdades cristãs. Ela não é uma espécie de
compêndio dogmático, nem uma declaração de princípios ou algo parecido
a estatutos, decreto-lei ou um catecismo votado em Concílio Geral. [Visto
que] os escritos do Antigo e Novo Testamento surgiram, muito antes,
espontaneamente, de determinadas necessidades práticas. Eles surgiram
da vida de pessoas e foram redigidos para a vida do povo. Isto vale tanto
para os antigos credos, contidos na Bíblia, como também para as obras do
Pentateuco, dos profetas, dos evangelhos e as cartas do Novo Testamento.
ne l a es t ã o c o nt i dos m il har es e d if er e nt es h is t ór i as e
tes tem un h os de vi d a, v i v i dos e tr ans m it i d os por m ul her es ,
hom ens , c r i anç as e p es s o as i dos as ( RI CHT ER R EI M E R, 20 0 5,
p. 9) .
nã o s er v e s om en t e p ar a r ef o r ç o e a c o ns er v aç ã o de es tr u t ur as
e i ns t i tu iç õ es j á s e dim en t ad as , m as é s o br e t ud o um a m ina , n a
qu a l p o dem os “ g ar im par ” t ex t os d e ins p ir aç ão e s a b ed or i a em
qu es tõ es de é t ic a , e c o lo g ia e es p ir it ua l i d ad e . Es t am os a í
d ia nt e d e tr a d iç õ es s ubm er s as , a tr op e l ad as . É n ec es s ár i o
r es g a tar t a is tr a d iç õe s d e es p ir i tu a l id a d e j ud a ic a e c r is t ã d e
c r ít ic a d o po d er , de é tic a , d e es p ir it u a li d ad e, qu e de r am aos
des p os s u í dos d e p od er a f o r ç a e c or a g em par a s e u
em pod er am en to , p ar a op or - s e aos q ue a b us ar am e a b us am
ta nt o d o p od er q u an t o das pes s o as des p os s u íd as d e p od er .
o t er m o l a ti n o r el i g i o der i v a de r e l i ger e , q u e d e n ot a a a t it ud e
de es ta r a t en to , r ef l et ir , o bs er va r . Nes s e s e nt i do , r e l ig i ão d i z
r es p e it o àq u i lo qu e ex i ge c ui d a do , ze l o e d e d ic aç ã o p or p ar t e
do s er h um an o. A o utr a p os s i bi l i d ad e é a d e q u e o t er m o
pr o v e n ha d e r e l i gar e, des c r e v e nd o a b us c a do s e r hum an o p or
l ig ar - s e n o vam e nt e a De us ( RO O S , 2 00 8, p. 8 5 9) .
As d i v er s as r e l i g iõ e s en v o l vem a q u e s tã o d o s agr a do
en t en d id o e nq u an t o s an t o, s e par a do , aq u i lo qu e é d if er en te d o
c ur s o ha b it u a l d as c o i s as . A r e l aç ã o c om o s agr a d o ac o n tec e
por f é e tem c om o ob j et o De us o u, em ter m os am plos , o q ue
s e e nt en d e p or d i v in o. Es t a r e l aç ã o c om o s a gr a d o o u c om
De us im pl ic a a r ec e p ç ão d e um a r e v e laç ã o, na q ua l o d i v in o
des v e l a e l em ent os qu e , d e o utr o m od o, per m a nec er iam
enc o be r t os pa r a o s er h um an o. D e ve- s e n ot ar , e nt r e ta n to , qu e
a d i vi n d ad e n ão é nec es s ar i am en te a l g o c o ns t i tu t i vo d e t od as
as r e l i g iõ es . T a l é o c as o d o b u d is m o, qu e n ã o l i d a
nec es s ar iam en t e c om a n oç ã o d e de us ou d i v i no ( RO O S,
20 0 8, p . 8 60 - 6 1) .
Há e t er n i d ad e, m es m o em nos s a vi d a ef ê m er a, m as é m ui t o
d if íc i l des c o br i- la s o z i nh os . As pr e oc up aç õ es c o t id i an as nos
des v i am . S om en te a l g uns [ .. .] c o ns e g uem v i v er a et er n i d ad e ,
m esm o em s ua v id a e f êm er a. Com o os d em a is s e per d er iam ,
De us p or pi e d ad e lh e s m ando u a r e l ig i ã o – e as s im o vu l go
po d e tam bém v i v er a et er ni d a de ( KA Z AN T ZAK I S, 1 9 74 , p.
24 6) .
Para Espeja (1994, p. 57), “espiritualidade cristã não é outra coisa, senão
viver segundo o espírito de Cristo, recriar na própria existência e numa situação
histórica as motivações, as atitudes fundamentais e o comportamento de Jesus”.
No 23º Congresso Internacional da SOTER, “Religiões e Paz Mundial”,
realizado em Belo Horizonte, entre os dias 12 e 15 de julho de 2010, conversando
com uma pessoa que também se interessa bastante pelo assunto, ouvi a seguinte
afirmação: “Onde quer que vá ou esteja – uma pessoa espiritualizada – ela carrega
consigo a sua espiritualidade.”
71
A ruminatio (Sl 1.2) utiliza palavras bíblicas avulsas que são recitadas em
voz baixa e meditadas, isto é, “‘ruminadas” no “‘estômago” na inteligência e
na memória. As palavras impregnadas do poder divino penetram no
subconsciente do orante, curando e santificando. Com fortes componentes
corporais e psicológicos, esse método permaneceu intacto no cristianismo
oriental da “oração do coração”.
No cristianismo ocidental floresceu o método mais cognitivo e reflexivo, a
lectio divina. A forma clássica da lectio divina foi formulada pelo monge
cartuxo Guido II (1087-1137) como “Escada dos Monges”, com quatro
degraus: leitura, meditação, oração e contemplação. Sobre a função de
cada degrau, escreveu Guido II: “A leitura está na casca, a meditação na
substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da
doçura obtida” (LECTIO DIVINA, p. 15).
• As s um ir um a p os t ur a de v i da d e “ s e r d o bem ” , em to d os os
s eus r el ac i on am en tos .
• B us c ar um s ent i d o i nt egr a d or p ar a a e x is t ê nc ia p es s o a l,
c o le t i va e c ós m ic a.
• A pr e n de r do c am inh o es p ir it u a l d as vár i as r e l i g iõ es ,
v a lor i za n d o s e us s ím bo los e r it os .
• S up er ar os ex c es s os d as r el i g iõ es h is t ór ic as , ta is c om o a
r ep r es s ã o s ex u a l, o c o nf or m is m o d ia nt e d o s of r im ent o , a
c u lp a bi l i d ad e tr á g ic a e inf an t il , a f i g ur a p a t r i ar c a l e a ut or it ár i a
de D e us , a in t ol er â nc i a c om as o utr as ex pr e s s ões r el i g i os as .
• Pr om ov er a c u lt ur a d a pa z, des e n v ol v e nd o a t o l er â nc i a e o
r es p e it o às d i v er s id a des , em to d as as s u as f or m as ( ét n ic a,
c u lt ur a l , d e g ên er o, s e x ua l , r e l ig i os a etc .) .
• Cu l ti v ar o c ui d a do c om o ec os s is t em a, a tr a v és d e a ti t ud es
pes s o a is e aç ões c o l e ti v as q u e v is am a s us t en t ab i l id a d e.
• A der ir a um es t i lo de v i da s a u dá v e l.
74
• Fa ze r um c am in ho d e e vo l uç ão es pi r i t ua l p e la i nt e gr aç ã o d as
pu ls õ es , a ut oc on h ec i m ento , c u lt i v o d a s a be dor i a e i l um in aç ão .
Cristo Palavra, Sabedoria de Deus (cf. 1 Cor 1,30), a cultura pode voltar a
encontrar seu centro e sua profundidade, a partir de onde é possível olhar a
realidade no conjunto de todos seus fatores, discernindo-os à luz do
Evangelho e dando a cada um seu lugar e sua dimensão adequada.
c om pr om et er - s e c om a j us tiç a , tr a b a lh ar p e la li b er t aç ão de
pes s o as q ue s of r em qu a lq u er t ip o d e o pr es s ã o. S em es s e
c om pr om is s o , a es p ir it u al i d ad e s e es va zi a ; e l a p od e a té
m anif es tar - s e d e f or m a bar u lh e nt a, m as é o c a , e , c om o um a
on d a, j o g a as p es s oa s par a l á e p ar a c á no m er c a d o da f é .
As s um ir o pr oj e to d e J es us é, p or ta nt o , f un d am ent a l p ar a nos s a
v i da d e f é, p ar a n os s a es p ir it u al i d ad e.
Nem t od os os q ue us am as pa l a vr as de J e s us v i v em do s e u
es p ír it o. Se a l gu ém v i v e do Es p ír it o d e J es us , is s o s e
m anif es ta pe l o “ b om gos t o” q ue e l e es p al h a. O b om gos t o d e
J es us n ã o é d e dur e za n em de am ar g or , n ã o é g os t o d e
c on d en aç ão , m as é um gos t o d e c l ar e za , de am or e d e
l ib er d ad e. ( G RÜ M e A S S LA ND E R, 20 0 9, p .1 29)
Essa busca ansiosa e frenética por “ter sempre mais” e “gozar o mais que
se puder” têm estancado o melhor de si em algumas pessoas e desviado,
não poucos, para gestos corrompidos e pouco solidários. E o tempo? Para
muitos, ele não está mais dividido em dia e noite, mas, sobretudo, em
trabalhar e se divertir. Na etapa da juventude, e também em outras para
alguns adultos ricos, há um medo indescritível do fim e término das coisas
e, até mesmo, do dia começado. As pessoas vivem num ativismo frenético
para não encontrar, dentro de si, o vazio angustiante. Barulho, velocidade,
“máscaras”, entorpecentes... Tudo colabora para partilhar o mínimo do que
somos e temos. A maioria nada partilha ou apenas reparte o sobrante da
vida. Mas, é preciso parar, se olhar no “espelho” e ir ao fundo de si para
encontrar o melhor, e oferecê-lo gratuitamente aos demais. Isso, além de
ser politicamente correto, traz imensa felicidade.
r e la t i vi za l eis , r it os e t r ad iç õ es q u an d o es tá em j ogo a v id a ou
a l i be r d a de das pes s o as . Se us dir e it os c on t êm alg o d e d i v i n o.
A par á bo l a do b om s am ar it an o de ix a bem c l ar o q u e s ó q ua n do
r ec o n h ec em os e s a t is f a zem os a es s es di r e it os p od em os n os
enc o ntr ar c om o v er da d e ir o De us . Es s a v is ão da p es s o a
hum an a é f un d am en ta l par a qu e hom en s e m ulh er es s e
r es p e it em m utu am ent e e r es p e it em aos d em ais . A
d is c r im i naç ã o e os u l t r aj es c on tr a as pes s o as s ã o i n to l er á ve is
c om o o d es pr e zo a s i m es m o. Co ns id er a r os o utr os e os
82
a m ís tic a s er ia o l u gar no qu a l s e r e ve l a a qu i l o q ue es t á
es c o n d id o a o c om um d os m or ta is . P ar a o s p ais e m ã es d a
Igr ej a , o q u e es t a v a e s c on d i do e s e r e v el o u a os i n ic ia d os p el o
ba t is m o é o m is tér i o de J es us Cr is t o, pr es e nç a d o P a i n a
pes s o a h um an a d e J e s us e , em s ua P ás c o a, a s a l v aç ã o par a
to d o o u ni v er s o ( B A R RO S, 2 0 03 , p. 13) .
Comida
Titãs
Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto
CONCLUS ÃO
REFERÊNCI AS
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 6. ed.
Petrópolis: Vozes, 1999.
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CARDOSO, Maria José. Dos meus silêncios para os seus. Goiânia: Kelps, 2010.
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VARO, Francisco. Por que Jesus foi condenado à morte? Disponível em:
<http://www.opusdei.org.br>, publicado em 02/04/2006, acesso em
10/05/11.