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PSICOLOGIA

CLÍNICA
PSICOLOGIA CLÍNICA
O QUE É A PSICOLOGIA CLÍNICA?

 A PSICOLOGIA CLÍNICA É UM RAMO DA PSICOLOGIA QUE


PRIVILEGIA O ESTUDO E A ANÁLISE DA SINGULARIDADE DO
INDIVÍDUO E QUE PRETENDE ENTENDER A SUA REALIDADE, AS
SUAS DIFICULDADES E OS SEUS PROBLEMAS.
INTERESSA À PSICOLOGIA CLÍNICA:

 T O D A S A S VA R I Á V E I S Q U E A F E TA M O S U J E I T O : P O R E X E M P L O A
HISTÓRIA PESSOAL;

 O PA S S A D O ;

 A S P E R S P E C T I VA S PA R A O F U T U R O ;

 O S VA L O R E S , O S A F E T O S E A S R E L A Ç Õ E S I M P O R TA N T E S , E N T R E
M U I T O S O U T R O S FAT O R E S . Incentivar a modificação de
comportamentos de risco
OBJETIVOS DA PSICOLOGIA CLÍNICA:
perigosos:
 Apoiar pessoas com doenças
E V I TA R O D E S E N V O LV I M E N T O E / O U A G R AVA M E N T O D A S D O E N Ç A S físicas para facilitar os processos
M E N TA I S O U C O M P O R TA M E N TA I S ; E S T I M U L A R AT I V I D A D E S C O M F I N S
T E R A P Ê U T I C O S PA R A A J U D A R P E S S O A S C O M P R O B L E M A S de tratamento, recuperação e
P S I C O L Ó G I C O S O U C O M R I S C O D E O S D E S E N V O LV E R ; reabilitação;
 A U M E N TA R A C A PA C I D A D E A D A P TAT I VA I N T E R V I N D O N O S  Contribuir para o aumento da
MOMENTOS DE CRISE; qualidade de vida das pessoas
 AJUDAR NA DIMINUIÇÃO DOS MOMENTOS DE SOFRIMENTO contribuindo para o seu
EMOCIONAL; desenvolvimento.
PSICOLOGIA CLÍNICA

O Papel do Psicólogo Clínico:


É a realização de avaliações psicológicas, estas têm como
objetivo principal despistar qualquer indício psicopatológico.É o
acompanhamento psicológico/psicoterapêutico, em que o
psicólogo adapta essencialmente uma postura de suporte e
contenção, procurando igualmente criar, em conjunto com a
pessoa, estratégias de intervenção psicológica para diminuir,
aliviar, e até extinguir o sofrimento da pessoa, de modo a
restabelecer o bem-estar e o equilíbrio emocional.“Ser
Psicólogo é uma imensa responsabilidade”. “É também uma
notável dádiva pois recebemos o dom de usar a palavra, o
olhar, as expressões, e até mesmo o silêncio. O dom de
tirar lá de dentro o melhor que temos para cuidar,
fortalecer, compreender, aliviar…”

Walmir Monteiro
Psicologia Clínica
A Psicologia Clínica : Na Psicologia clínica cabe ao profissional
observar e compreender a demanda do
É uma das área que os
sujeito para, posteriormente, intervir,
psicólogos atuam e que sofre
isto é, remediar, tratar, curar. Nós
mudanças ao longo do tempo.
psicólogos, não exatamente olhamos e
A clínica psicológica se focamos na patologia como os médicos
caracteriza não pelo local em fazem e sim na demanda do sujeito.
que se realiza – o consultório -,
como antigamente, mas pela O sujeito é visto como um ser
qualidade da escuta e da singular, de demandas únicas, e a
acolhida que se oferece ao clínica deve oferecer acolhimento
sujeito. Por isso, atualmente, já para essas suas questões
existem diversas plataformas particulares. Propondo ao cliente que
que oferecem atendimentos construa por si seus sentidos
psicológicos on-line. subjetivos e individuais, sem
necessariamente ditá-los, pois o ser
tem um potencial inato que deve ser
instigado e trabalhado.
Mitos e verdades sobre a psicologia clínica:
Mito: Apenas pessoas fracas procuram a psicologia
clínica.
Verdade: Não existem pessoas fortes ou fracas,
existem formas de lidar com as situações.
Mito: Apenas pessoas com problemas devem
procurar um psicólogo.
Verdade: As pessoas também procuram um
psicólogo porque querem se conhecer melhor.
Mito: Um tratamento psicológico vai demorar anos
para acabar.
Verdade: O tempo de duração de um tratamento
varia de acordo com os objetivos almejados. É
possível obter excelentes resultados com
tratamentos em curto prazo.
Mito: Tratamento psicológico é apenas para ricos.
Verdade: Existem locais que oferecem atendimento
psicológico por preço simbólico. Alguns postos de
saúde, Instituiçoes e Faculdades também oferecem
serviço de psicoterapia.
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA
CLÍNICA
A Psicologia Clínica desenvolveu-se e adquiriu
notoriedade após a Segunda Guerra Mundial na
contribuição para a resolução dos problemas das
vítimas da guerra, tanto na Europa como nos EUA
focando primariamente as perturbações mentais.
O termo PSICOLOGIA CLÍNICA foi usado pela primeira
vez pelo americano Lightner Witmer, fundador da
primeira clínica psicológica na Universidade de
Pensilvânia (EUA).
Vários psicologos clínicos fundaram em 1917 a
Associação Americana de Psicologia Clínica que em
1919 fundiu-se com a APA (Associação Psicológica
Americana), da qual tornou- se a seção clínica.
MOREIRA (2007) afirma que a clínica psicológica tem
suas raízes no modelo médico, no qual, ou seja, cabe ao
profissional observar e compreender para,
posteriormente, intervir, isto é, remediar, tratar, curar.
Tratava-se, portanto, de uma prática higienista. Dessa
maneira, a clínica psicológica esteve, por um bom
tempo, distante das questões sociais.
Uma das importantes influências à Psicologia Clínica foi
Sigmund Freud, seu trabalho gerou novas teorias
psicológicas para os transtornos mentais, livrando as
psicoterapia do monopólio médico.
TRANSTORNOS MENTAIS
Os transtornos mentais são condições de
anormalidade ou comprometimento de DEPENDÊNCIA QUÍMICA
ordem psicológica, mental ou cognitiva.
Há diversos fatores que explicam os
transtornos psiquiátricos, como genética,
problema bioquímicos, como hormônios
ou substâncias tóxicas, e até mesmo o
estilo de vida. Os sintomas podem ser ANSIEDADE
observados no dia a dia.
QUAIS SÃO OS TRANSTORNOS MENTAIS
MAIS COMUNS?
Os transtornos mentais variam de lugar BIPOLARIDADE
para lugar e de cultura para cultura, mas,
os transtornos mais comuns em nosso
meio são:
 BIPOLARIDADE
 DEPRESSÃO DEPRESSÃO
 ANSIEDADE
 DEPENDÊNCIA QUÍMICA
PSICOLOGIA CLÍNICA
O psicólogo: O acompanhamento Psicológico/ Psicoterapêutico possui características específicas de acordo com a população e a faixa
etária a que se destina. O psicólogo clínico está apto a realizar atendimentos com diversas demandas e faixas etárias, bem como
atendimentos voltados à crianças, adolescentes, adultos, idosos, famílias.
O processo corresponde a um encontro com uma pessoa que procura resolver um problema específico com ajuda do outro o psicólogo.

Marques (1994) diz que a identidade do psicólogo clínico, define-se pelo domínio de teorias, métodos compatíveis entre si, cujo
objetivo é tentar atingir a “verdade” psicológica do sujeito observado para poder direta ou indiretamente realizar um processo de
intervenção e prevenção.
A clínica em psicologia é um espaço criado para atender o outro em sua singularidade, ouvi-lo, orientá-lo, apontar caminhos a fim de
proporcionar alívio emocional, autoconhecimento, ajustamento criativo, etc. O psicólogo é o profissional mediador que propicia o
encontro do sujeito consigo mesmo. Constitui-se uma relação de ajuda da pessoa à situação que se encontra e otimizar os seus
recursos pessoais:
 Autoconhecimento;
 Autoajuda
 Autonomia
Promovendo o bem estar psicológico.
PSICÓLOGO + PACIENTE ESCUTA CLÍNICA → ← PENSAMENTO EMPATIA → ← SENTIMENTO REFLEXÃO → CONFIANÇA RESPEITO → NEUTRALIDADE
Sendo assim podemos dizer que a Psicoterapia é um processo de crescimento humano, pois neste momento é reservado um tempo
para ouvir seus próprios pensamentos e sentimentos ao seu ambiente, aprendendo a relacionar-se consigo e com os outros,
procurando ser mais feliz.
OBJETIVOS:
 ESTRUTURAS DA PSICOLOGIA CLÍNICA
O psicólogo clínico tem, entre outras, a função TRANSTORNOS MENTAIS - oferece uma definição do
de promover a capacidade de os indivíduos conceito visão geral a respeito dos transtornos mentais:
gerirem situações de mudança porque os classificaçao, epidemiologia, etiologia e análise de fatores
problemas psíquicos e as perturbações determinantes;
emocionais e comportamentais derivam em  PSICODIAGNÓSTICO - uma introdução às técnicas para
muitos casos de incapacidade ou de grande aquisição de informações psicológicas relevantes;
dificuldade em lidar com mudanças de estatuto,  INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA - oferece uma visão
de papel, etc. geral das diferentes formas de intervenção disponíveis, entre
Não tendo que ser formado em Medicina o as quais a psicoterapia desempenha um papel preponderante;
psicólogo clínico é um especialista na prevenção,
diagnóstico e tratamento de problemas
psicológicos e de perturbações ou distúrbios
comportamentais.
ÉTICA EM PSICOLOGIA CLÍNICA - que oferece uma
visão geral das questões éticas envolvendo o trabalho clínico
em geral e clínico- psicológico em particular; PSICOLOGIA
DA REABILITAÇÃO - área específica da psicologia clínica
que se dedica ao acompanhamento e reinserção da pessoa no
seu cotidiano após um tratamento prolongado, quer de doença
física, quer de transtorno mental.
Fundamentalmente, o que O psicólogo clínico, portanto, deve dominar as
diferencia a Psicologia Clínica teorias e métodos que o levem a determinar o
das outras áreas da Psicologia é quadro psicológico de seu paciente para, a partir
a maneira de atuar sobre cada daí, poder praticar sua intervenção.
caso. Deve ter os conhecimentos necessários para
conduzir o processo terapêutico e auxiliar nos
A prática clínica pressupõe uma problemas de conduta psicológica enfrentados por
abordagem específica, que utiliza seus clientes.
o método da fala e da escuta, Mercado de trabalho sempre haverá, e ao que
em um espaço previamente parece cada vez mais, visto que disfunções de
preparado e adequado a esse ordem psicológica fazem parte da vida e da
fim. Inquietações, medos, história do ser humano.
conflitos e sofrimentos: todas
essas questões são expostas nas
consultas aos psicólogos clínicos, QUAIS OS DOCUMENTOS ESPEDIDOS PELO PSICÓLOGO?
que usam seu conhecimento
para levar alívio emocional e ✔ São declarações, atestados, relatórios, laudos e
psicológico a seus clientes por pareceres psicológicos que apresentam os
meio de psicoterapias. procedimentos e conclusões gerados pelo processo da
avaliação psicológica, relatando sobre o
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o
prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão
de projeto terapêutico.
Perfil familiar Evolução do caso
Pai : Felipe DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Mãe : Carmem Filhos: Nos nove meses em que Mário se manteve abstêmio, Carmem expressa muita
felicidade pelo fato de o filho não estar mais bebendo, mas reclama que ele
 Marli, professora, 49 anos, casada com Dirceu, empresário, 53
continua a ter um humor muito ruim e que eles (ela e o marido) continuam a
anos. O casal tem um filho: Miguel, 21 anos, estudante. Moram fora trabalhar no comércio para ajudá-lo. Neste período, Flávia continua ausente do
do Rio tratamento de Mário. Ao ser questionada sobre a participação da esposa na
 Mário ( PI ) , comerciante, 48 anos, casado com Flávia, médica, 45 vida de Mário, Carmem comenta que Flávia, estaria ainda mais atarefada, pois
anos. Este casal tem dois filhos: Vítor, 19 anos, estudante, e ela quem gera a maior parte dos proventos da família. Os filhos quase não são
Carolina, 15 anos, estudante. Felipe e Carmem são casados há 52 citados. Por volta de março, Mário fez uma operação plástica na barriga, para
anos e estão trabalhando no comércio de Mário. Estão nesta retirar excesso de tecido acumulado após emagrecimento radical. A operação
foi um sucesso, mas a recuperação trouxe muitos problemas, como água
atividade desde que Mário passou a fazer uso mais pesado de acumulada na barriga e inflamação dos pontos. Quatro meses após a cirurgia e
álcool, embriagando-se no trabalho. Os pais tomam conta do bar, suas complicações, Mário volta a fazer uso pesado de álcool e de cocaína (fato
posicionando-se entre Mário e os funcionários diante das este escondido até então). Seu retorno ao uso é marcado por um forte
discussões provocadas por Mário. descontrole, em que chega a ficar completamente embriagado no bar e a sair
 Carmem conta que o filho usa álcool desde adolescente, e que o uso para comprar cocaína mais de dez vezes por dia. Este fato “obriga“ os pais a
se tornou mais pesado após seu casamento. A esposa de Mário passarem muito tempo no bar para proteger o caixa, Mário, e os funcionários.
trabalha muito, ficando por dias fora de casa em plantões. Carmem Um mês após esse retorno, a família núclear faz uma reunião com Mário,
expondo sua insatisfação com o comportamento dele. Sua esposa receita-lhe
relata que são muito amigas e que a nora conta muito com sua alguns medicamentos homeopáticos, e Mário responde positivamente, ficando
ajuda. Com as crescentes “cenas” na frente do bar, e diante da alguns dias sem consumir substância psicoativa. Após esse breve período, Mário
impossibilidade de os pais controlarem Mário, Carmem “o retorna ao uso e passa novamente para o “colo“ da família de origem. A mãe e
convence” a ir à Santa Casa para uma consulta médica. Lá é pai mudam suas rotinas para cuidar com mais afinco do bar. A família pensa
diagnosticado a dependência de álcool. O médico psiquiatra receita seriamente em interditar Mário pois, segundo a mãe, ele se encontra insano e
alguns medicamentos com o objetivo de minimizar a compulsão por sem controle. A esposa de Mário diz a Carmem que não sabe mais o que fazer e
álcool, marca retorno para avaliar a indicação, mas Mário não se que não tem recursos financeiros para uma internação à revelia (sugerida pela
equipe da Santa Casa). Carmem, então, assume mais uma vez a posição de
sente motivado a voltar. Toma a primeira caixa dos remédios, pára
liderança frente ao caso, e planeja a internação e a interdição. Quando a mãe se
de beber por nove meses. Neste período, a mãe freqüenta o grupo decide a chamar a ambulância para internar Mário, este foge para sua casa. Lá
de orientação para familiares, com o objetivo de aprender a lidar sua esposa e seu filho o pressionam, ameaçando interná-lo. Ele promete não
com o filho. beber, ficando “limpo” durante duas semanas
Os Impasses Desenvolvimentais A estrutura familiar do caso, tem características de cronificação
muito importantes. O sistema apresenta uma resistência muito
Apesar de Mário ter conseguido formar sua família nuclear, grande no sentido de mudança no padrão relacional.
não consegue assumi-la como tal. Suas funções passam à
sua esposa, que é a responsável pelo cuidado dos filhos e Os pais de Mário repudiam qualquer mudança relacionada à
pela provisão da casa. Por conta da dependência química, superproteção e à assunção dos papéis que seriam do filho.
seu comércio não dá lucro. A solução encontrada pela Eles manifestam muito medo de perdê-lo para a dependência.
família foi os pais de Mário atuarem junto com ele no Acreditam que seu excesso de cuidado está ajudando Mário a
negócio.
sobreviver. E de certa forma isto é verdade, entretanto também
Contudo, isso não é o que acontece de fato. Apesar de ajuda Mário a se manter na dependência.
Mário ser oficialmente o dono, no estabelecimento tanto os A tolerância que o sistema apresenta com relação ao
pais como os funcionários o tratam como uma criança que
não pode ser contrariada, ouvindo suas orientações, mas comportamento disfuncional de Mário é imensa.
fazendo o que acham melhor, pois “ele não sabe o que Carmem e o marido suportam todo o tipo de comportamento
fala”. Mário é um “pseudodono”, um “pseudomarido”, um de Mário – xingamentos, humilhações e ameaças de agressão
“pseudoprovedor”, ou seja, vive sua pseudodiferenciação física – com o intuito de cuidarem dele.
nas áreas mais importantes de sua vida.
Como assinala Stanton (1999), a família sofre com o
Apesar de ter idade de adulto, vive como um adolescente, comportamento do adicto, mas não abre mão dele. Carmem,
condição esta facilitada tanto pela forma como a família no decorrer do tratamento, já consegue se identificar como a
trata seu problema quanto por sua vivência na
dependência. facilitadora do abuso, contudo ao mesmo tempo se justifica
dizendo: “Coração de mãe é que nem rio, a água passa e leva
Sem metas de crescimento profissional e pessoal, Mário, tudo.” (sic) Dessa forma não se cansa, seu aborrecimento se
cada vez mais frustrado, se droga com mais vigor e
desespero. Acaba por se colocar em uma condição que torna passageiro e rapidamente se fortalece para suportar o
deixa sua família diante de um trágico dilema: suportá-lo peso da dependência de seu filho.
assim, ou deixá-lo, com o risco de perdê-lo para sempre.
A Forma de Comunicação
Podemos perceber a negação extremamente
infiltrada no sistema. Os pais de Mário
A comunicação nas famílias adictivas minimizam a gravidade do processo de
caracteriza todo o sentido da função do dependência do filho, computando sua
sintoma neste sistema. Isto porque é a perda de controle a um mau humor crônico
partir dela que atua toda a estrutura e às seqüelas que podem ter ficado do
familiar. Também é conseqüência imediata alcoolismo. Ao mesmo tempo que mantém
da forma como a família se estrutura e de um bar como fonte de renda de Mário. Este
como lida com seus impasses ao longo do fato pode ser observado quando, após a
tempo, enquanto reforça intensamente recaída acontecida com quase um ano de
seus padrões relacionais. abstinência de Mário, Carmem conta ao
Salientamos que o segredo está no âmago grupo de terapia que seu filho era usuário de
da linguagem utilizada nas famílias cocaína e que acreditava que ele nunca
adictivas. Ele aparece sob a forma de tivesse parado de usar a droga. Este fato
pactos, alianças e coalizões, e mantém a havia sido negado por ela durante todo esse
estrutura familiar funcionando como tal. tempo, apesar de no grupo existirem
Entretanto, a forma mais contundente e diversas pessoas com familiares que
poderosa de se sustentar a linguagem do apresentam dependência cruzada de álcool
segredo nas famílias adictivas é por meio e cocaína. Após esta informação, todo o
da negação. grupo passou a compreender por que
Carmem ainda precisava cuidar de Mário –
na verdade ele continuava se drogando, só
que com menos intensidade.
A negação, tanto ajuda Mário a se manter no Seu uso de cocaína é escondido dos filhos pela
processo de dependência quanto ajuda esposa e por seus pais. Seu núcleo familiar só
Carmem a acreditar que realmente está entra em contato com a disfuncionalidade
ajudando seu filho.
advinda do processo de dependência de Mário
Muitas vezes nos parece que Mário só pode à noite, quando todos chegam em casa.
contar com esses pais, e eles fazem o que Nestes poucos momentos, este sistema
podem para ajudá-lo. Analise
adquiriu uma série de mecanismos para não aspectos
Contudo essa ajuda está homeostaticamente entrar em contato com a dura realidade: os
servindo para mantê-lo no sintoma. Podemos importantes
filhos chegarem tarde e exaustos demais para citados:
entender que a negação dos pais reforça a
negação do próprio Mário, pois este ainda conversar e a esposa virar noites em plantões
acredita que está conseguindo sustentar seu com a justificativa da responsabilidade da
estabelecimento comercial. provisão. Como já sinalizado anteriormente, a
Mas, na realidade, seu bar está sendo família de origem “toma a frente” quando
administrado por seus pais, que ficam com uma grande crise acontece, e, da última vez, o
ele (Mário) o tempo todo revezando-se para filho mais velho de Mário chegou em casa
não deixar o estabelecimento só por sua mais cedo e viu o pai cheirando cocaína.
conta. Diante deste fato, finalmente descoberto, a
Ao mesmo tempo, a negação na família de família não pôde mais se omitir nem negar,
origem proporciona sua ocorrência na família colocando-se, assim, de frente com a situação.
nuclear. Eles acreditam que Mário está sendo Portanto, a coalizão – mantida pelo segredo
“devidamente ajudado” por seus pais e por
isso “dando conta” de sua vida. entre Carmem, a esposa e Mário acerca do uso
de cocaína – não pôde ser sustentada quando o
filho entrou nessa dinâmica. Este pareceu ser o
limite da família, pelo menos até o momento.
REFERÊNCIAS

MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROMAGNOLI, Roberta Carvalho e NEVES, Edwiges de Oliveira. O


surgimento da clínica psicológica: da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde. Psicol.
cienc. prof. [online]. 2007, vol.27, n.4, pp. 608-621. ISSN 1414- 9893.
TEIXEIRA, Rita Petrarca. Repensando a psicologia clínica. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto, n. 12-
13, ago. 1997 .
SILVEIRA, D. X. Drogas, uma compreensão psicodinâmica das farmacodependências. São Paulo: Ed. Casa
do Psicólogo, 1995.
MARLATT, G. A. Redução de Danos: estratégias práticas para lidar com comportamentos de alto risco.
Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 1999. OLIEVENSTEIN, C. La clinique du toxicomane. Bagedis: Éd.
Universitaires, 1987, p. 45-61.

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