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PSICANÁLISE CLÍNICA

1° Módulo: Introdução às Psicoterapias

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo.


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1 - INTRODUÇÃO À PSICOTERAPIA E TERAPIA FREUDIANA

O que é Psicoterapia?

A psicoterapia (do grego psykhē - mente, e therapeuein – curar) é um tipo de


terapia, cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como depressão,
ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de saúde
mental. É um processo dialético efetuado entre um profissional, o psicoterapeuta
- que pode ser psicólogo ou psiquiatra ou outro profissional com formação em
psicoterapia- e o cliente ou paciente.

A Psicoterapia é um método de tratamento, uma aplicação dos conhecimentos


da Psicologia e da Psicopatologia na clínica psicológica, sendo também
chamada de Psicologia Clínica.

A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da


existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir
como transtornos psicopatológicos, distúrbios psicossomáticos, crises
existenciais , estados de sofrimento, conflitos interpessoais, etc.

A psicoterapia é também um espaço favorável ao crescimento e


amadurecimento, um lugar/tempo/modo privilegiado de criar intimidade consigo
mesmo, de estabelecer diálogos construtivos e transformar padrões
estereotipados de funcionamento, restabelecendo o processo formativo e
criativo de cada um.

A Psicoterapia oferece uma oportunidade de compreender e mudar os


padrões relacionamento interpessoal. Os problemas vinculares são fonte de
incontáveis sofrimentos, favorecendo a ocorrência de inúmeras doenças.

Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação para


a vida, oferecendo um espaço de aprendizado, com instrumentos e
conhecimentos que podem ajudar na orientação e condução da vida. Esta função
torna-se fundamental em situações de desestruturação decorrente de crises ou
casos de imaturidade psicológica, quando a pessoa se sente verdadeiramente
inapta para lidar com os enfrentamentos e dificuldades em sua vida.

Por ser uma da área da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de


tratamento para qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem
intervenções psicológicas, cujos objetivos centrais são:

• restabelecer o funcionamento psíquico ótimo do paciente;

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• permitir que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para
que possa encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades,
problemas, etc;
• desenvolver meios de agir no mundo, redefinindo seus traços de
personalidade.
• solucionar problemas pontuais, que o afligem, bem como, observar
questões de cunho mais existencial.

Portanto, é o atendimento realizado com a finalidade de superar dificuldades


emocionais, comportamentais ou cognitivas.

Exemplos de dificuldades emocionais: Crise no casamento, dificuldades em


tomar decisões, traumas emocionais, dificuldades em lidar com pessoas, choro
fácil, sensibilidades e irritabilidades, dificuldade em namorar, dificuldade em
decidir qual carreira seguir, etc.

Exemplos de dificuldades comportamentais: Medo de falar em publico,


explosões de raiva, timidez, fobias, compulsão por comida, bebida ou drogas,
etc.

Exemplos de dificuldades cognitivas: Pensamentos depressivos ou de morte,


sensação de estar sendo perseguido, ansiedade, etc.

Afirma-se, com freqüência e com razão, que a psicoterapia é uma velha arte e
uma ciência nova.

A psicoterapia é um tratamento dirigido à psique, em um marco de relação


interpessoal e com respaldo em uma teoria científica da personalidade.

ALGUMAS APLICAÇÕES DA PSICOTERAPIA

A psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da pessoa,


com resultados evidentes em diversas situações como:

• tratamento de transtornos psicológicos como transtorno do pânico,


fobias, transtorno dissociativo, depressão, anorexia, estresse pós
traumático etc.
• tratamento de transtornos de personalidade como transtorno borderline,
transtorno esquizóide, transtorno paranóide, etc
• trabalho sobre conflitos pessoais, conjugais, familiares, interpessoais e
grupais que podem produzir ou contribuir para o sofrimento psicológico.
• elaboração de crises existenciais, de transições difíceis (luto, crises
profissionais, etc) e dificuldades nas mudanças de fases de vida
(puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa, envelhecimento, etc.)

A Psicoterapia pode trazer enormes benefícios como:

• desenvolvimento da capacidade de autogerenciamento, aprendendo a


dialogar com os estados internos, a regular os estados emocionais e
adquirir autonomia.

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• desenvolvimento da capacidade de auto-observação e auto-reflexão
• sair dos padrões estereotipados e criar novas narrativas de si, novos
modos de compreender e conduzir a própria vida
• desenvolver habilidades interpessoais como capacidade empática - saber
se colocar no lugar do outro -, capacidade de
comunicação, assertividade, resolução de conflitos, etc.
• fortalecimento psicológico - ampliação da resiliência - para aumentar a
tolerância e a capacidade de crescer com as dificuldades que a vida
apresenta.
• favorecer a saúde integral, física e psicológica
• busca de sentido existencial
• amadurecimento psicológico

UMA ABORDAGEM INTEGRADA

A Psicologia Clínica ocupa um lugar fundamental na área da saúde, por oferecer


uma visão integrada do ser humano, incluindo as dimensões psíquica,
orgânica, social e espiritual agindo conjuntamente na produção da existência
humana, assim como de seus equilíbrios e desequilíbrios.

Não é possível hoje se falar em "doenças orgânicas" sem uma consideração pela
dimensão psicológica e emocional, sendo evidente a natureza psicossomática
da existência humana.

Já há algum tempo as pesquisas científicas tem demonstrado que as


experiências de vida influenciam diretamente o processo de ativação genética,
assim como influenciam as mudanças estruturais que ocorrem no cérebro. Deste
modo torna-se cada vez mais artificial a distinção entre doenças mentais e
doenças orgânicas (1).

Cada ser humano - psicossomático por natureza - vive uma história de


interações, encontros e acontecimentos em que as doenças, quer se manifestem
mais no corpo ou na "mente", sofrem forte influência dos desequilíbrios
existenciais e de soluções inadequadas de vida. Os aspectos psicológicos
participam não somente da formação de muitas doenças como tem um papel
fundamental na sua recuperação. A psicoterapia oferece recursos importantes
para uma compreensão mais ampla do processo de adoecimento assim como
estratégias para uma vida mais saudável e integrada.

AS ABORDAGENS TEÓRICAS

Há diversas escolas teóricas na Psicologia que podem ser agrupadas em cinco


principais perspectivas, com seus ramos e derivações:

- Psicodinâmica (Psicanálise, Psicologia Analítica, etc)

- Humanista (Gestalt, Psicodrama, etc)

- Corporal (Reichiana, Bioenergética, etc)

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- Cognitivo-comportamental

- Sistêmica

A diversidade decorre tanto da complexidade do tema - a psique humana - como


da origem e desenvolvimento da Psicologia a partir da influência de diferentes
ramos do conhecimento, da Filosofia, da Medicina, das Religiões, etc.

No geral, as diferentes abordagens teóricas apresentam alguns elementos


básicos, como: (1) uma teoria sobre o funcionamento menal, (2) uma teoria do
desenvolvimento, (3) uma explicação sobre a origem do sofrimento
(psicopatologia) e (4) uma visão sobre o processo terapêutico.

Ultimamente tem sido comum que terapeutas de uma abordagem teórica utilizem
técnicas originadas em outras escolas. A busca de melhores resultados na
clínica parece estar promovendo estes intercâmbios. Talvez isto indique um
movimento na Psicologia de integração entre as diferentes abordagens
teóricas.

OS TIPOS DE PSICOTERAPIA

Há alguns tipos de psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração dos


problemas, sendo o s principais:

• Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos.


• Psicoterapia de Grupo
• Psicoterapia de Casal
• Psicoterapia de Família
• Psicoterapia Institucional

OS PRAZOS VARIAM COM OS OBJETIVOS

Um século de pesquisas e desenvolvimento permitem que a Psicoterapia


alcance resultados cada vez maiores e mais significativos.

No geral, os prazos de tratamento são relativos aos objetivos almejados e à


gravidade do problema.

Há vários desenvolvimentos recentes em psicoterapias breves, que são focadas


em objetivos específicos. Atualmente é possível atingir resultados significativos
em períodos de 6 a 12 meses e há processos terapêuticos mais profundos que
se encerram satisfatoriamente em prazos inferiores a 3 anos.

Há casos que demandam um trabalho terapêutico mais demorado, geralmente


com problemática mais séria, envolvendo traumas precoces, desorganização
psicológica, problemas vinculares, imaturidade psicológica etc. Estes
trabalhos podem exigir anos de trabalho contínuo, compensados por mudanças
significativas que o trabalho psicoterapêutico pode propiciar.

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Algumas pessoas encontram na terapia um ambente fundamental de
acompanhamento de seu processo de vida, de auto-conhecimento e
desenvolvimento pessoal, onde são trabalhadas transformações profundas ao
longo de vários anos. São situações em que o processo terapêutico não tem um
prazo definido, em comum acordo entre o profissional e o cliente.

Apesar de poder parecer, à primeira vista, um tratamento oneroso em termos de


tempo e dinheiro, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um modo
econômico de tratamento. Pesquisas indicam, por exemplo, que a psicoterapia
diminui os índices de consumo de medicamentos e de internações
hospitalares(2). A psicoterapia tem se mostrado também um tratamento
economicamente compensador por prevenir e tratar problemas psicológicos que,
quando não tratados, trazem enormes prejuízos financeiros para as pessoas, as
famílias e mesmo para a economia do país (3).

Os tratamentos psicológicos demonstram uma grande potência de


transformação das vidas, compensando os investimentos realizados.

O VÍNCULO NA PSICOTERAPIA

O ser humano nasce, cresce e vive em ambientes vinculares . Destes


ambientes depende seu bem estar e suas realizações na vida. Os problemas
vinculares - da primeira infância à terceira idade - afetam profundamente a
capacidade que as pessoas têm de amar, trabalhar e viver. A psicoterapia é um
espaço para se esclarecer e transformar estas dificuldades vinculares. Este
processo ocorre através de uma relação saudável com um profissional
eticamente comprometido e tecnicamente qualificado.

A base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se


desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favorece este processo. Aí
está um dos segredos desta arte e ciência: criar um ambiente que permita a
revelação do mundo interno e favoreça o desenvolvimento do processo singular
de cada um. Neste clima é possível que o ser mais oculto e amedrontado
se mostre, seja ouvido e transforme-se, que o processo formativo possa
prosseguir formando vida.

POR QUE A PSICOTERAPIA FUNCIONA ?

As pesquisas demonstram uma grande eficácia da psicoterapia (4). Mesmo as


recentes tecnologias de mapeamento cerebral têm permitido demonstrar como
o tratamento psicológico age transformando o funcionamento cerebral. A
eficácia do tratamento psicológico, que já era conhecida há várias décadas, tem
sido corroborado recentemente pelos novos conhecimentos das neurociências
(5).

Existem centenas de livros e pesquisas explorando e explicando porque a


psicoterapia funciona. Porém, como simples exercício de compreensão, vamos
listar alguns motivos para tentar entender um pouco sobre a efetividade da
psicoterapia.

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No início da lista, organizada num continuum que vai do mais simples ao mais
complexo, temos aqueles motivos que são comuns a outras relações de ajuda,
mesmo não profissionais, como uma conversa íntima com um amigo, uma
conversa sobre um problema pessoal com um professor, um médico, etc.
Avançando na lista vamos chegando aos motivos que são próprios da
psicoterapia, até aqueles que lhe são exclusivos - possíveis pelo meticuloso
treinamento teórico e técnico adquirido pelo psicólogo em sua trajetória de
formação profissional.

Eis alguns motivos pelos quais a psicoterapia funciona:

1 Ao dividir um problema você passa a ter "meio" problema. Compartilhar ajuda


a aliviar a carga emocional e o sofrimento

2 Os vínculos de ajuda têm um poder curativo. É mais fácil superar as dores


através de uma relação autêntica de respeito mútuo do que sozinho. A relação
terapêutica é uma relação de ajuda, de compreensão e apoio.

3 O psicólogo clínico (psicoterapeuta) é um outro , com o olhar e a perspectiva


de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer
perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não
tinha visto antes e nem suspeitava ser possível. Assim, a psicoterapia faz você
parar para refletir sobre a própria vida. Parar, observar e refletir permite muitas
mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento da experiência de
vida.

4 O psicoterapeuta conhece teorias psicológicas que ajudam na compreensão


do que ocorre com você, auxiliam a identificar o que pode estar errado em sua
vida, a direção que você está seguindo e as mudanças de rumo necessárias. A
partir de seu conhecimento, o psicólogo pode apontar o que olhar, como olhar
e o que fazer com o que se descobre, para que estas descobertas possam ser
construtivas em sua vida.

5 O psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível


descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma
observação não treinada ou a uma conversa comum. Há um amplo espectro de
técnicas de investigação psicológica que permitem esclarecer problemas de
modo extremamente eficaz.

6 O psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que ajudam a realizar


mudanças psicológicas profundas.

7 O psicoterapeuta está preparado para te compreender a partir do vínculo


que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele.
Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para
reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e
consequentemente com "os outros") e assim poder compreender seus modos de
vinculação e suas dificuldades nos relacionamentos.

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8 O psicoterapeuta é capaz de oferecer uma presença autêntica no vínculo
com você. Esta relação funciona como catalisador de processos de mudança
necessários em sua vida, incluindo a superação dos efeitos de traumas de
relacionamentos anteriores.

9 O psicoterapeuta passou por todos estes passos anteriores, tendo estado em


todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador, o que o
habilita a "sentir-se em casa" em situações difíceis , poder caminhar por
terrenos inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber ajudar
seu cliente a encontrar um caminho de melhora.

10 O psicoterapeuta inicia seu cliente num caminho de transformação pessoal.


Isto é possível porque o psicoterapeuta tem um know-how, um saber fazer que
vai além do conhecimento formal, da teoria e da técnica. É um saber baseado
na experiência, experiência de vida e experiêcnia da clínica.

Esta lista poderia ser estendida e aprofundada, mas pretendemos com ela dar
uma idéia ao público leigo da natureza do trabalho da Psicologia Clínica numa
linguagem diferente daquela do universo teórico, técnico e científico habitual na
Psicologia.

UM CAMINHO DE MUDANÇA

O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Neste túnel você vai rever
muitas cenas da historia da sua vida de um ângulo completamente novo, fazendo
conexões inusitadas entre os eventos e percebendo a potência do passado para
moldar quem você é hoje e a potência do presente para construir novas
possibilidades de vida.

Na travessia deste túnel você vai aprender a reconhecer os seus padrões de


comportamento que levam você a se comportar de modo parecido em situações
diferentes, muitas vezes "repetindo os mesmos erros". Você vai aprender a
reconhecer o "como" do seu comportamento, como você age, como se
relaciona, como pensa, como sente e vai aprender caminhos para poder
influenciar e transformar estes padrões.

Esta é uma travessia acompanhada, acompanhada de alguém que pode ajudar


você a se compreender. Alguém que pode te ajudar a transformar o seu jeito de
ser, a mudar e a se conhecer profundamente. É uma travessia que pode mudar
profundamente a sua vida.

ABORDAGENS PSICOTERÁPICAS E TIPOS DE PSICOTERAPIA

São muitos os métodos existentes para tratar a psique humana. Em comum,


todos eles têm a comunicação verbal como principal recurso de tratamento, é a
cura pela fala. Mas para que a terapia seja eficaz, é preciso que o paciente se
identifique com o que está sendo proposto. Assim, fica mais fácil lidar com os
incômodos do processo (que, em muitos momentos, demanda aprofundar-se na

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dor para aliviar problemas emocionais). Para ajudá-lo a acertar na escolha do
especialista, o UOL Comportamento explica, a seguir, as principais
características de diferentes tipos de psicoterapia.

PSICANÁLISE: o método diz respeito às abordagens psicológicas herdeiras dos


estudos desenvolvidos pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Ao
tratar pacientes psiquiátricos por meio da hipnose, Freud descobriu que muitos
sintomas de sofrimento mental desapareciam quando a pessoa acessava
conteúdos inconscientes da mente. Por isso, a técnica estimula que o paciente
expresse-se sem censura e faça associações livres entre pensamentos,
fantasias, emoções e sonhos. O analista faz o papel de um ouvinte atento, que,
de tempos em tempos, interrompe o paciente para que ele reflita sobre
significados que podem estar ocultos em sua fala, como uma maneira de
desvendar o inconsciente. O tratamento pode durar vários anos; por isso, não é
recomendado para pessoas que precisam de solução urgente para um conflito.

TERAPIA JUNGUIANA: também chamada de psicoterapia analítica, baseia-se


nas pesquisas do suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), que começou seus
estudos como discípulo de Sigmund Freud, mas depois divergiu do mestre em
algumas questões fundamentais. Enquanto a psicanálise é mais retrospectiva,
buscando o autoconhecimento em aspectos inconscientes ocultos no passado
(geralmente na infância), a psicoterapia junguiana é mais prospectiva,
vislumbrando o futuro. Se na psicanálise o paciente busca aprender a lidar com
o ser humano que se tornou, na psicoterapia junguiana ele buscará superar seus
conflitos. Para acessar o inconsciente, o terapeuta utiliza bastante os sonhos dos
pacientes e leva em consideração, também, o que Jung batizou de "inconsciente
coletivo": imagens, pensamentos e experiências, comuns a todos os seres
humanos, que interferem na saúde emocional.

TERAPIA LACANIANA: idealizada pelo francês Jacques Lacan (1901-1981),


essa é uma variação da psicanálise de Freud. O método utiliza a mesma tática
de livre associação, para fazer com que o paciente reflita sobre seus dilemas.
Assim como sua predecessora, utiliza a livre associação para fazer com que o
indivíduo reflita e encontre a solução para seus dilemas. No entanto, há muito
mais interrupção do terapeuta nesse método, quando comparado ao freudiano.
O analista pode quebrar a continuidade da sessão no momento que achar
importante, mesmo que seja preciso dar um corte brusco, e pedir para o paciente
pensar sobre o que foi falado. Por isso, a duração das sessões de psicanálise
lacaniana é variável: pode durar poucos minutos ou mais de uma hora.

TERAPIA REICHIANA: os terapeutas desse método trabalham com a ideia de


que sentimentos reprimidos (medo, angústia e raiva, por exemplo) são refletidos
no corpo, causando problemas físicos como dores de cabeça, hipertensão, asma
e gastrite. Essa terapia baseia-se nos estudos do analista austro-húngaro
Wilhelm Reich (1897-1957) e é indicada para pessoas que não queiram apenas

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tratar distúrbios psicológicos, mas encontrar solução para incômodos físicos.
Nas sessões de terapia são usadas técnicas respiratórias, de postura corporal e
de massagem.

Para essa terapia, os afetos reprimidos — medo, a angústia e a inibição da


expressão dos sentimentos — se traduzem em bloqueios energéticos que
contraem as regiões do corpo. Mandíbulas cerradas, diafragma contraído,
respiração superficial e sudorese são exemplos de sinais. Dessa forma, os
terapeutas reicheanos levam em conta a linguagem corporal e aplicam técnicas
respiratórias, de postura corporal e de massagem. A abordagem é
especialmente recomendada para pessoas com sintomas psicossomáticos,
como miocardiopatas, hipertensos e portadores de distúrbios gástricos (gastrite
ou refluxo) ou de crises de ansiedade.

TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL- TCC: baseia-se na percepção de


que estímulos do ambiente podem modelar nosso comportamento. Por isso, o
terapeuta costuma propor estratégias comportamentais que podem gerar
mudanças na vida dos pacientes. A técnica é bastante utilizada para o
tratamento de pessoas que sofrem de estresse pós-traumático e transtornos de
impulsos, como as compulsões. Ao terapeuta, cabe o papel de avaliar
detalhadamente os sintomas do paciente, em quais condições ou situações eles
aparecem e as consequências. Já o paciente precisa estar motivado para aderir
ao tratamento e aceitar as tarefas propostas pelo especialista.

A maneira como as pessoas interpretam suas experiências determina como elas


se sentem e se comportam. Essa é a base da terapia proposta, inicialmente para
tratar a depressão, pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck. O método
apresenta estratégias para corrigir distorções de pensamento, como, por
exemplo, ter uma visão muito negativa de si mesmo (comum no caso dos
depressivos).

As terapias cognitivo- -comportamentais (TCCs) se distanciam das ideias de


Freud, pois não têm como foco estimular o autoconhecimento. Em vez disso, são
voltadas ao combate de problemas específicos (como crises conjugais, timidez
excessiva, dependência química, fobia social e crises de ansiedade), bem como
auxiliar no tratamento de distúrbios psiquiátricos. Mais objetiva, reúne técnicas
comprovadas cientificamente para tratar o problema em questão, as quais
podem envolver conversas com pessoas específicas, exercícios de respiração e
relaxamento, biblioterapia (indicação de livros), entre muitas outras. Muitas
dessas tarefas devem ser feitas em casa ou no dia a dia. As TCCs são
estruturadas para durarem cerca de 20 sessões.

TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL: é um método indicado para tratar crises


nessas relações. Algumas das indicações são a existência de risco de ruptura
familiar, a presença de doença física ou mental grave em algum membro da
família ou problemas de comunicação e dificuldades de ordem sexual entre os

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casais. Em todos os casos, as partes envolvidas na crise devem estar presentes
nas sessões terapêuticas, não basta que só um lado compareça. As terapias não
são indicadas quando algum dos envolvidos tem problemas individuais que
necessitam de tratamento prévio ou escondem segredos que, caso sejam
revelados, possam provocar o fim das relações familiares.

GESTALT TERAPIA: Parte do pressuposto de que o ser humano tem a


capacidade para se autorrealizar e desenvolver o próprio potencial. O gestalt-
terapeuta procura estabelecer uma relação menos formal com o cliente, que é
estimulado não só a falar sobre os próprios dilemas, mas, também, a expressar-
se por meio de desenhos, pinturas, gestos e dramatização. Dentre as técnicas
utilizadas, o terapeuta pode sugerir a visualização de ilustrações que fazem o
paciente pensar sobre o todo e a parte; o negativo e o positivo, o cheio e o vazio,
de forma a exercitar e estimular diferentes percepções da realidade.

A Gestalt-Terapia, também conhecida como Terapia Gestalt, é uma abordagem


psicológica, e que possui uma visão de homem e de mundo pautadas na doutrina
holística, na fenomenologia e no existencialismo.

Baseada no "aqui-e-agora", a Gestalt-Terapia tem como foco levar as pessoas a


restaurar o contato consigo, com os outros e com o mundo. Por ser considerada
uma abordagem Humanista, acredita na capacidade do ser humano em se auto-
realizar e de desenvolver seu potencial.

Foi co-fundada pelos então conhecidos como o "grupo dos sete", tendo mais
destaque entre eles Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman dentre os anos de
1940 a 1950. Está relacionada com a psicologia da gestalt, mas não é a mesma
coisa.

Quando criada, havia uma divergência quanto ao nome que esta abordagem
deveria ter, entre muitos nomes foram propostos: Terapia da Concentração,
Terapia Integrativa, Psicanálise Existencial, até proporem Gestalt-Terapia que
de início causou certo debate, mas que logo foi aceito.

Inicialmente baseada nas idéias da psicologia gestalt, a Gestalt-Terapia foi


desenvolvida como modelo psicoterapeutico, sendo considerada uma teoria bem
desenvolvida que combina abordagens Fenomenológicas, Existenciais,
Dialógicas e da Teoria do Campo aliadas ao processo de transformação e
crescimento humano.

Perls sempre frisou que a gestalt-terapia não era uma criação original sua, mas,
pelo contrário, uma união de vários acontecimentos que nos leva aos
conhecimentos da área de psicologia, que ainda não haviam sido
experimentados por ninguém. Cabe a Gestalt-Terapia a configuração destes
conhecimentos, dando a eles uma abordagem própria.

Uma das grandes inovações da Gestalt-Terapia é o fato de compreender o ser


humano como uma totalidade, rompendo com as psicoterapias tradicionais, a

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Gestalt vê o homem no físico, mental e psíquico. Estas são esferas indivisíveis
e interrelacionadas. Corpo e psiquismo são inseparáveis.

A Gestalt-Terapia pode ser utilizada no atendimento individual, de grupos,


familiar, de casais, infantil e até em organizações. A visão holística que permeia
o pensamento gestáltico possibilita a sua utilização em grupos. Fritz Perls
costumava realizar Workshops com grupos e casais. O próprio Perls, certa vez,
declarou preferir o atendimento em grupos ao atendimento individual, pela sua
eficiência, e principalmente por poder colocar os clientes diantes de situações
onde estes poderiam ser mais espontâneos.

Os métodos e objetivos variam de acordo com os autores, para Perls o objetivo


da terapia é saltar do apoio ambiental para o auto-suporte (self-suport). Em outro
momento encontramos como objetivo da Gestalt-Terapia a Awareness.
Awareness é uma palavra sem conceituação exata para o português, mas que
pode convenientemente ser traduzida para "dar-se conta", também sendo
utilizada para conceituar o que muitos chamam continuum de consciência, para
outros seria uma transcendência da consciência de si. Essa consciência refere-
se a capacidade de aperceber-se do que se passa dentro de si e fora de si no
momento presente, em nível corporal, mental e emocional.

Diferenças

O termo “psi”, bastante utilizado pelas pessoas, muitas vezes pode ser permeado
de confusão quanto aos significados, principalmente quando se refere aos
profissionais indicados por este termo: psiquiatra, psicólogo ou psicanalista.

O psiquiatra é um profissional da medicina que após ter concluído sua formação,


opta pela especialização em psiquiatria. Esta é realizada em 2 ou 3 anos e
abrange estudos em neurologia, psicofarmacologia e treinamento específico
para diferentes modalidades de atendimento, tendo por objetivo tratar as
doenças mentais. Ele é apto a prescrever medicamentos, habilidade não
designada ao psicólogo. Em alguns casos, a psicoterapia e o tratamento
psiquiátrico devem ser aliados.

O psicólogo tem formação superior em psicologia, ciência que estuda os


processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento
humano. O curso tem duração de 4 anos para o bacharelado e licenciatura e 5
anos para obtenção do título de psicólogo. No decorrer do curso a teoria é
complementada por estágios supervisionados que habilitam o psicólogo a
realizar psicodiagnóstico, psicoterapia, orientação, entre outras. Pode atuar no
campo da psicologia clínica, escolar, social, do trabalho, entre outras.

O profissional pode optar por um curso de formação em uma abordagem teórica,


como a gestalt-terapia, a psicanálise, a terapia cognitivo-comportamental.

O psicanalista é o profissional que possui uma formação em psicanálise, método


terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na

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interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções
imaginárias de uma pessoa, baseada nas associações livres e na transferência.
Segundo a instituição formadora, o psicanalista pode ter formação em diferentes
áreas de ensino superior.

1. Psicanálise e Psiquiatria

A Psicanálise, como alguns pensam, não é uma sub-especialidade da


Psiquiatria. Também não é uma especialização médica. São ciências afins,
porém, completamente definidas, cuidando de partes do psiquismo que não se
confundem. Fundamentalmente, os objetivos e perspectivas são diferentes.

Os problemas da mente podem ser divididos em dois tipos básicos: estruturais


e não estruturais; Falando nos estruturais, vamos observar que podem ser
subdivididos em psicogênicos e neurológicos.

- Os problemas Estruturais competem à Psiquiatria. Estrutural é toda


enfermidade que lesiona, ou seja, toda enfermidade que de certo modo lesou a
estrutura da psiquê. A lesão pode ser funcional, degenerativa ou abrasiva; Neste
âmbito, encontramos todas as psicoses, transtornos, oligofrenias, surtos, etc.
Todas essas enfermidades têm uma "lesão" que as determina, embora lesão aí
não signifique qualquer coisa anatômica. Situamos também as neuropatias, cujo
Sistema Nervoso, nas áreas central e periféricas, também apresenta lesão,
saturação ou stress; O conceito de estrutural varia quando nos referimos às
Neuropatias, porque aí pensamos em estrutura como organismo, sem nos
preocuparmos com o afetamento do psiquismo, que está presente em todo
problema estrutural / psicogênico;

- Os problemas Não Estruturais competem à Psicanálise. O Não Estrutural é toda


enfermidade do psiquismo em que não pode ser encontrada lesão. Assim, toda
neurose é não estrutural, porque faz parte do material assimilado. Toda
neurose é resultado de nossas experiências, vivências, traumas, recalques e
estão, sobretudo, relacionados com a fixação da libido;

2. Psicanálise e Neurologia

A Neurologia cuida e estuda o Sistema Nervoso. Sistema nervoso não é mente,


mas interfere consideravelmente. A palavra neurose é uma impropriedade hoje,
tanto que se tem preferência por psico-neurose. Quando surgiu, pensavam que
se tratava de afecção do sistema nervoso, daí o nome. O estudo da neurologia
é sumamente importante para a psicanálise, com bagagem de informação e
capacitação do psicanalista para entender o todo do complicado ser humano,
mas no fundo, não tem nenhuma relação do objeto ou conteúdo.

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3. Psicanálise e Psicologia

A Psicologia é a ciência que trata da mente, dos fenômenos e atividades mentais.


É a ciência do comportamento animal e humano em suas relações com o meio
físico e social. Já a psicanálise é uma arte. É arte que visa a decifrar os enigmas
presentes na mente como resultado da história do indivíduo. E para isso, se
utiliza de método próprio. Freud fez uma distinção muito interessante. Ele diz
que há dois tipos de arte, uma arte baseada no pôr e uma arte baseada no tirar.
Por exemplo: em um quadro com arte baseada no pôr, você tem uma tela, vai lá
e põe a tinta. Já a escultura é baseada no tirar. Psicanálise é tirar. Há situações
em que a pessoa pede que a gente aconselhe, ela está confusa, e o
aconselhamento de alguma maneira dá alguma coisa a ela. Mas na maioria das
vezes, o que acontece com as pessoas é que elas estão atravancadas, o
problema delas não é falta, mas excesso de coisas. Elas são como a casa cheia
de entulhos de móvel velho, empoeirado, sala fechada, aquela confusão. Então
a psicanálise se propõe não a por mais coisa lá dentro, mas esvaziar.

AULA 13 - Psicopatologia

A fronteira entre o normal e o anormal é extremamente tênue. E, além disso, o


conceito de normalidade e anormalidade é bastante relativo. Entretanto, de um
modo geral, aceita-se como anormalidade uma condição que impede o indivíduo
de funcionar efetivamente em sua sociedade.

Os psicólogos pensam que ajustamentos pobres aos estímulos são evidências


exteriores de possíveis anormalidades. Todos nós exibimos, ocasionalmente,
estes comportamentos.

O homem tem sempre que encarar a frustração em algum nível de sua vida. E,
muitas vezes, ele usa mecanismos de defesa para conseguir lidar com a
frustração.

É uma maneira de se proteger da realidade, às vezes por demais dolorosa.


Todos nós lançamos mão desses mecanismos. Eles só são classificados como
patológicos quando se tomam modos prioritários de ajustamento e provocam
uma perda de contato com a realidade.

Os mecanismos de defesa, geralmente, podem ser classificados como:


repressão fantasia, regressão, racionalização, projeção, sublimação, formação
de reação, compensação, etc.

Para fins didáticos e de diagnóstico, o comportamento patológico costuma ser


dividido em três grandes categorias: as neuroses, as psicoses e as sociopatias.

O termo neurose não se refere a patologias sérias. É apenas um termo usado


para, se referir a maus ajustamentos que são usualmente caracterizados por
tentativas de se escapar da ansiedade ou de lidar com ela usando-se, de
maneira exagerada, os mecanismos de defesa.

Costuma-se descrever quatro categorias gerais de neurose: a neurose de

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
angústia, as obsessões e compulsões, as fobias e a histeria.

O neurótico procura toda forma de lidar com o ambiente, enquanto o psicótico


não está interessado nisso, buscando, antes, adaptar o mundo a si mesmo. Nisto
talvez esteja a diferença capital entre a neurose e a psicose.

Louis P. Thorpe, Barney Katz e Robert Lewis mostram as diferenças capitais


entre os dois tipos de comportamento.

Paciente Neurótico

• está em contato com a realidade, mas algumas vezes é incapaz de fazê-lo;


• não apresenta mudanças significativas na personalidade;
• os sintomas podem ser graves, mas o paciente não tem alucinações, nem
delírios;
• é orientado para o ambiente;
• freqüentemente compreende a natureza e as implicações de seu
comportamento;
• a psicoterapia e modificação do comportamento são o tratamento prescrito;
• raramente requer internamento.
Paciente Psicótico

• perde o contato com a realidade;


• pode apresentar mudanças marcantes na personalidade;
• pode apresentar alucinações e delírios;
• pode ser desorientado quanto ao tempo, lugar e pessoas;
• freqüentemente não compreende a natureza de seu próprio comportamento;
• drogas e terapias médicas são requeridas ao lado da psicoterapia;
• usualmente requer internamento.
As psicoses costumam ser classificadas em duas categorias: a esquizofrenia
(processo esquizofrênico ou esquizofrenia reativa) e a psicose maníaco-
depressiva.

As sociopatias são desordens comportamentais dirigidas contra o sistema


social em que o indivíduo deve funcionar. São psicopatias (em que há quebra
da consciência moral) o alcoolismo e o vício das drogas.

É bom lembrar que existem também as desordens comportamentais advindas


de dano ao sistema nervoso central, como a psicose senil, a psicose alcóolica,
etc.

Existem ainda as desordens psicossomáticas, que diferem da conversão


somática, comum na histeria. Aqui, o dano orgânico é real, devido à tensão ou
stress prolongados. As desordens psicossomáticas mais comuns são as
úlceras, certas formas de pressão alta, enxaquecas, asma e alergias.

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
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Da nova teoria do inconsciente nasceria um segundo grande livro, publicado em


novembro de 1899, "A Interpretação dos Sonhos". "Você acredita", escreveu a Fliess,
no dia 12 de junho de 1900, "que haverá um dia nesta casa uma placa de mármore com
esta inscrição: 'foi nessa casa que, em 24 de julho de 1895, o mistério do sonho foi
revelado ao doutor Sigmund Freud'? Até agora, tenho pouca esperança."

Entre 1901 e 1905, Freud publicou seu primeiro caso clínico (Dora) e três outras obras:
"A psicopatologia da vida cotidiana" (1901), "Os chistes e sua relação com o
inconsciente" (1905), "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905).

Em 1902, com Afred Adler, Wilhelm Stekel, Max Kahane (1866-1923) e Rudolf Reitler
(1865-1917), fundou a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro círculo da
história do freudismo. Durante os anos que se seguiram, muitas personalidades do
mundo vienense se juntaram ao grupo: Paul Federn, Otto Rank, Fritz Wittels, Isidor
Sadger.

Em 1907 e 1908,o círculo dos primeiros discípulos freudianos se ampliou ainda mais,
com a adesão à psicanálise de Hanns Sachs, Sandor Ferenczi, Karl Abraham, Ernest
Jones, Abraham Arden Brill e Max Eitingon.

Durante o primeiro quarto do século, a doutrina freudiana se implantou em vários


países: Grã -Bretanha, Hungria, Alemanha, costa leste dos Estados Unidos. Na Suíça
produziu-se um acontecimento maior na história do movimento psicanalítico: Eugen
Bleuler, médico co-chefe da clínica do hospital Burghölzli de Zurique, começou a aplicar
o método psicanalítico ao tratamento das psicoses, inventando ao mesmo tempo a
noção de esquizofrenia. Uma nova "terra prometida" se abria assim à doutrina
freudiana: ela podia, a partir de então, investir o saber psiquiátrico e tentar dar uma
solução para o enigma da loucura humana.

No dia 3 de março de 1907, Carl Gustav Jung, aluno e assistente de Bleuler, foi a Viena
para conhecer Freud. Depois de várias horas de conversa, ficou encantado com esse
novo mestre. Seria o primeiro discípulo não-judeu de Freud.

Em 1909, a convite de Grandville Stanley Hall, Freud, em companhia de Jung e de


Ferenczi, foi à Clark University de Worcester, em Massachusetts, para dar cinco
conferências, que seriam reunidas sob o título de "Cinco lições de psicanálise". Apesar
de um encontro produtivo com James Jackson Putnam e de um sucesso considerável,
Freud não gostou do continente americano. Durante toda a vida, desconfiaria do
espírito puritano desse país que acolhia suas idéias com um entusiasmo ingênuo e
desconcertante.

Temendo o anti-semitismo e que a psicanálise fosse assimilada a uma "ciência judaica",


Freud decidiu "desjudeizá-la", pondo Jung à frente do movimento. Depois de um

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primeiro congresso, que reuniu em Salzburgo, em 1908, todas as sociedades locais,


criou com Ferenczi, em Nuremberg, em 1910, uma associação internacional, a
Internationale Psychoanalytische Vereinigung (IPV). Em 1933, a sigla alemã seria
abandonada. A IPV se tornaria então a International Psychoanalytical Association (IPA).

Entre 1909 e 1913, Freud publicou mais duas obras: "Leonardo da Vinci: uma
lembrança da sua infância" (1910) e "Totem e Tabu" (1912-1913). A partir de 1910, a
expansão do movimento se traduziu por dissidências, tendo como motivo
simultaneamente querelas pessoais e questões teóricas e técnicas. Em 1911, Adler e
Stekel se separaram do grupo freudiano.

Dois anos depois, Jung e Freud romperam todas as suas relações. Não suportando
desvios em relação à sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da Primeira Guerra
Mundial, um verdadeiro panfleto, "A história do movimento psicanalítico", no qual
denunciou as traições de Jung e Adler.
Depois, criou um Comitê Secreto, composto de seus melhores paladinos, aos quais
distribuiu um anel de fidelidade.

Apoiados por Jones, os berlinenses (Abraham e Eitingon) preconizavam a ortodoxia


institucional, enquanto os austro-húngaros (Rank e Ferenczi) se interessavam mais
pelas inovações técnicas. Uma nova dissidência marcou ainda a história desse primeiro
freudismo: a de Wilhelm Reich.[..]

Com o desmoronamento do império austro-húngaro, Berlim se tornou a capital do


freudismo, como provou a criação do Berliner Psychoanalytisches Instiitut (BPI), e as
numerosas atividades do instituto de Frankfurt em torno de Otto Fenichel e da
"esquerda freudiana". Enquanto os americanos afluíam a Viena para se formar no divã
do mestre, este analisava a própria filha, Anna Freud. Esta não tardaria a tornar-se
chefe de escola e a opor-se a Melanie Klein, sua principal rival no campo da psicanálise
de crianças. Nesse aspecto, a oposição entre a escola inglesa e a escola vienense, que
se desenvolveu na IPA a partir de 1924 e que girava em torno da questão da
sexualidade feminina, mostrou o lugar cada vez mais importante das mulheres no
movimento psicanalítico. No centro dessa polêmica, Freud manteve sua teoria da libido
única e do falocentrismo, sem com isso mostrar-se misógino. Ligado em sua vida
particular a uma concepção burguesa da família patriarcal, adotava, todavia, em suas
amizades com mulheres intelectuais, uma atitude perfeitamente cortês, moderna e
igualitária. Por sua doutrina e por sua condição de terapeuta, desempenhou um papel
na emancipação feminina.

Nos anos 1920, Freud publicou três obras fundamentais, através das quais definiu sua
segunda tópica e remanejou inteiramente sua teoria do inconsciente e do dualismo
pulsional: "Mais-além do princípio de prazer" (1920), "Psicologia das massas e análise
do eu" (1921), "O eu e o isso" (1923). Esse movimento de reformulação conceitual já
começara em 1914, quando da publicação de um artigo dedicado à questão do
narcisismo. Confirmou-se, em 1915, com a elaboração de uma metapsicologia e a
publicação de um ensaio sobre a guerra e a morte, no qual Freud sublinhava a

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necessidade para o sujeito de "organizar-se em vista da morte, a fim de melhor suportar


a vida". Dessa reformulação, centrada na dialética da vida e da morte e em uma
acentuação da oposição entre o eu e o isso, nasceriam as diferentes correntes do
freudismo moderno: Kleinismo, Ego Psycholog, Self Psychology, lacanismo,
annafreudismo, Independentes. [...]

Em fevereiro de 1923, Freud descobriu, do lado direito de seu palato, um pequeno


tumor, que devia ser logo extirpado. Em um primeiro tempo, Felix Deutsch, seu médico,
lhe ocultou a natureza maligna desse tumor. Freud se indispôs com ele. Seis meses
depois, Hans Pichler, cirurgião vienense, procedeu a uma intervenção radical: a ablação
dos maxilares e da parte direita do palato. Trinta e uma operações seriam feitas
posteriormente, sob a supervisão de Max Schur. Freud foi obrigado a suportar uma
prótese, que ele chamava de "monstro". "Com seu palato artificial", escreveu Stefan
Zweig, "ele tinha visivelmente dificuldade para falar[...]. Mas não abandonava seus
interlocutores. Sua alma de aço tinha a ambição particular de provar a seus amigos que
sua vontade era mais forte que os tormentos mesquinhos que seu corpo lhe infligia [...]".

Em 1926, depois de um processo intentado contra Theodor Reik, tomou vigorosamente


a defesa dos psicanalistas não-médicos, publicando "A questão da análise leiga". No
ano seguinte, deflagrou com seu amigo Oskar Pfister uma polêmica ao publicar "O
futuro de uma ilusão", obra na qual comparava a religião a uma neurose. Enfim, em
1930, com "O mal-estar na cultura", questionava a capacidade das sociedades
democráticas modernas de dominar as pulsões destrutivas que levam os homens à sua
perda.

Dois anos depois, em um intercâmbio com Albert Einstein (1879-1955), enfatizou que o
desenvolvimento da cultura era sempre uma maneira de trabalhar contra a guerra.
Cada vez mais pessimista quanto ao futuro da humanidade, Freud não tinha nenhuma
ilusão sobre a maneira como o nazismo tratava os judeus e a psicanálise.

Entretanto, no dia seguinte ao incêndio do Reichstag, decidiu com Eitingon manter a


existência da Berliner Psychoanalytisches Instiitut. Embora não aprovasse a política de
"salvamento" da psicanálise, preconizada por Jones, cometeu o erro de privilegiar a luta
contra os dissidentes (Reich e os adlerianos) Mas em março de 1938, no momento da
invasão da Àustria pelas tropas alemãs, Richard Sterba, agiu em sentido contrário,
decidindo recusar a política de Jones e não criar em Viena um instituto "arianizado"
como o de Göring, em Berlim. Tomou-se então a decisão de dissolver a Wiener
Psychoanalytiche Vereinigung e transporta-la "para onde Freud fosse morar". Graças à
intervenção do diplomata americano William Bullitt (1891-1967) e a um resgate pago
por Marie Bonaparte, Freud pôde deixar Viena com sua família. No momento de partir,
foi obrigado a assinar uma declaração na qual afirmava que nem ele nem seus
próximos haviam sido importunados pelos funcionários do Partido Nacional-Socialista.
Em Londres instalou -se em uma bela casa em Maresfield Gardes 20, futuro Freud
Museum. Ali, redigiu sua última obra, "Moisés e o monoteísmo". Nunca saberia do
destino dado pelos nazistas às suas quatro irmãs, exterminadas em campos de
concentração.

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Aos seus familiares, que lhe perguntavam se aquela seria a última guerra, respondia:
"Será minha última guerra." Em 21 de setembro, pegou a mão de Max Schur e lembrou
o primeiro encontro dos dois. "Você prometeu não me abandonar quando chegasse à
hora. Agora é só uma tortura sem sentido." Depois, acrescentou: "Fale com Anna; se
ela achar que está bem, vamos acabar com isso." Por três vezes, ele deu a Freud uma
injeção de três centigramas de morfina. Em 23 de setembro, às três horas da manhã,
depois de dois dias de coma, Freud morreu tranqüilamente. As cinzas de Freud
repousam no crematório de Golders Green.

*Texto extraído do Dicionário de Psicanálise deautoria de Elisabeth Roudinesco e


Michel Plon. Jorge Zahar Editor. 1998.

2-TEORIA DE S FREUD
TÓPICOS DA TEORIA FREUDIANA

1. Freud nasceu em 1856 na Áustria e faleceu em 1939 em Londres.

2. Fundador da PSICANÁLISE ou TEORIA PSICANALÍTICA que é o campo de hipóteses sobre


o funcionamento e desenvolvimento da mente no homem. Se interessa tanto pelo
funcionamento mental normal como pelo patológico.

3. Freud demonstrou que o homem não é apenas um ser racional. Há impulsos irracionais que
nos influenciam.

4. Estes impulsos irracionais se manifestam através do INCONSCIENTE

5. INCONSCIENTE = parte maior de nossa psique, não é uma coisa embutida no fundo da
cabeça dos homens e nem um lugar e sim uma energia e uma lógica em tudo oposta à lógica
da consciência que é a parte menor e mais frágil da nossa estrutura mental. Podemos imaginar
a consciência como a ponta de um iceberg e a montanha submersa abaixo como o
inconsciente. "A percepção que temos do mundo é consciência; as lembranças, inclusive a dos
sonhos e devaneios são consciência. A memória é consciência e só há memória de fatos
mentais conscientes. " (pág. 46, O que é psicanálise, Fábio Herrmann)

6. Características do INCONSCIENTE: opostas às características da consciência. Por isso


desconhece o tempo, a negação e a contradição. Suas manifestações não são percebidas
diretamente pela consciência por isso requer deciframento e interpretação. (Exemplo: nos
sonhos o inconsciente se revela através de um conteúdo manifesto = o que aparece na
consciência - e de um conteúdo latente = o conteúdo real e oculto). "O inconsciente... é uma
interpretação ao contrário" (pág. 40, O que é psicanálise, Fábio Herrmann). Se como veremos o
princípio básico do funcionamento da mente é, segundo Freud, o de evitar desprazer, o
INCONSCIENTE é então o lugar teórico das representações recalcadas ou o próprio processo
de recalcamento, que impede certas idéias de emergir na consciência.

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7. A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise mas não tem um sentido
restrito, ou seja, apenas genital. Tem um sentido mais amplo = toda e qualquer forma de
gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido amplo existe em nós desde
o nosso nascimento.

8. A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os princípios antagônicos que
fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego clássico, vida) X THANATOS
(do grego clássico, morte) B) Princípio do Prazer X Princípio da Realidade

- Eros = ligado às pulsões de vida, impulsiona ao contato, ao embate com o outro e com a
realidade. Sendo a vida tensão permanente, conflito permanente coloca-nos no interior de
afetos conflitantes e pode não ser a realização do princípio do prazer.

- Thanatos = é o princípio profundo do desejo de não separação, de retorno à situação uterina


ou fetal, quer o repouso, a aniquilação das tensões. Está vinculado às pulsões da morte pois
somente esta poderá satisfazer o desejo de equilíbrio, repouso e paz absolutos.

- Princípio do Prazer = é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais. "É
a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de mais
nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito" (pág. 95,
"Sobre Ética e Psicanálise", Maria Rita Kehl). Não está necessariamente ligado a Eros mas de
forma mais profunda a Thanatos pois "se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga
do conflito, somente a morte (Thanatos) poderá satisfazer tal desejo." (pág. 63, "Repressão
Sexual", Marilena Chauí)

- Princípio da Realidade = princípio que nos faz "compreender e aceitar que nem tudo o que se
deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser
conservado e muitas vezes não pode ser aumentado." (pág. 63, op. Cit., Marilena Chauí).
Impõe-nos limites internos e externos.

9. Psicanálise e Agressividade - Freud presumiu na nossa vida mental a existência de dois


impulsos, o sexual e o agressivo. Os dois impulsos se encontram normalmente fundidos. Assim
um ato de crueldade pode possuir um significado sexual inconsciente como um ato de amor
pode ser um meio inconsciente de descarga do impulso agressivo. A agressividade tem uma
origem biológica e social na teoria freudiana. A agressividade faz parte das pulsões de morte
mas não está ligada exclusivamente a Thanatos. Está também ligada a Eros fazendo parte das
pulsões eróticas. Isto acontece por exemplo quando tentamos modificar o outro ou o mundo
para torná-los mais compatíveis com o princípio do prazer. No limite é uma tendência destrutiva
mas também "representa a vocação humana para a rebeldia." (pág. 473, Os sentidos da
Paixão, Maria Rita Kehl). Toda civilização faz um pacto pelo qual se reprime grande parte da
agressividade em troca das vantagens da convivência humana. Mas o preço que pagamos é o
de um rebaixamento geral dos instintos de vida e o excesso de repressão pode levar às
doenças psíquicas. O ideal para Freud "seria um equilíbrio entre a realidade psíquica do
homem e as exigências da vida em sociedade". (pág. 116 da apostila, Texto: O caso de
Romualdo e a violência)

10. A nossa vida psíquica tem três instâncias segundo Freud: 1ª) ID = parte inconsciente
formada por instintos e impulsos orgânicos e desejos inconscientes, (ou pulsões) que são
regidas pelo Princípio do Prazer e são de natureza sexual no sentido amplo já explicitado
acima. O Centro do ID é o Complexo de Édipo. 2ª) SUPEREGO = parte inconsciente. Instância
repressora do ID e do EGO, proveniente tanto das proibições culturais e sociais interiorizadas

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"quanto das proibições que cada um de nós elabora inconscientemente sobre os afetos." (M.
Chauí, op. cit., pág. 66). É o agente da civilização que tem o papel de dominar o perigoso
desejo de agressão do indivíduo. Através dele a civilização consegue inibir a agressividade
humana introjetando-a para o interior do sujeito propiciando o SENTIMENTO DE CULPA. 3ª)
EGO = é a consciência submetida aos desejos do ID e repressão do SUPEREGO. Obedece ao
Princípio da Realidade. Vive sob angústia constante pois busca um equilíbrio entre os desejo do
ID e a repressão do SUPEREGO, busca satisfazer ao mesmo tempo o ID e o SUPEREGO.
Quando o conflito é muito grande e o EGO não consegue satisfazer o ID este é rejeitado
determinando o processo chamado REPRESSÃO. Mas o que foi reprimido não permanece no
inconsciente e reaparece então sob a forma de SINTOMAS (=representantes do reprimido).

11. MECANISMOS DE DEFESA: O Ego não é somente consciência. Há funções inconscientes


nele, os famosos Mecanismos de Defesa. Através deles o EGO dribla as exigências do ID e do
SUPEREGO. "Diante de uma pulsão proibida, cuja satisfação daria prazer se o superego não
se opusesse, há que convencer o princípio do prazer de que sucederá dor. Para efetivar esse
truque, o EGO aciona uma espécie de alarma, um pequeno sinal de angústia, sempre que tal
tipo de pulsão se lhe apresenta à porta. Como se dissesse ao ID: veja como isso que aparece
bom, na verdade, dói. E o ID, enganado até certo ponto, cede energias para contrariar seus
próprios fins pulsionais. Basta então ativar os MECANISMOS DE DEFESA, carregados dessa
energia..." (O que é Psicanálise, Fábio Herrmann, pág. 52 e 53).

12. Segundo Freud há três fases da sexualidade humana (lembre-se do sentido amplo da
sexualidade) que se desenvolvem entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos: 1ª) Fase
Oral = prazer através da boca (ingestão de alimentos, sucção do seio materno, chupeta, etc...)
2ª) Fase Anal = prazer localizado primordialmente nas excreções e fezes, brincar com massas e
com tintas, etc...

3ª) Fase Genital ou Fálica = prazer principalmente nos órgãos genitais e partes do corpo que
excitam tais órgãos. Momento do surgimento do Complexo de Édipo.

13. COMPLEXO DE ÉDIPO = complexo de sentimentos e afetos com componentes de


agressividade, fúria e medo, paixões, amor e ódio, oriundos dos desejos sexuais em relação
aos genitores de sexo oposto que acontece entre os 5 e 6 anos de idade. O complexo de Édipo
se manifesta no menino desejando a mãe e querendo eliminar o pai, seu concorrente. O medo
da castração por parte do pai faz com que renuncie ao desejo incestuoso e aceite as regras ou
a Lei da Cultura. Na menina se manifesta pelo fato de descobrir que não tem o pênis-falo, e
com isto, sente-se prejudicada, tem "inveja do pênis". Ao perceber que a mãe também não o
tem, passa a desvalorizá-la e, nessa medida, se dirige para a figura do pai, dotado de FALO e,
portanto, cheio de poder e fascinação.

Observação: De acordo com a interpretação do psicanalista LACAN (nascido em Paris em 1901


e falecido na mesma cidade em 1981) o que provoca inveja não é o pênis anatômico, mas o
PÊNIS-FALO, o objeto imaginário fálico, que tem o sentido de COMPLETUDE e de
PLENITUDE NARCÍSICAS. Neste sentido o homem também tem inveja do pênis-falo. Com este
sentido o FALO está presente em todos os seres humanos de tal forma que a falta do pênis nas
meninas e mulheres simplesmente é negada. O falo é, em última análise, o significado da falta,
conforme o define Lacan.

- Mas apesar de o menino abandonar o desejo pela mãe por medo da castração ela não deixa
de acontecer para ambos os sexos e de forma simbólica de acordo com a interpretação de
Lacan. CASTRAÇÃO no sentido simbólico significa a impossibilidade de retorno ao estado
narcísico do qual fomos expulsos com o nosso nascimento. CASTRAÇÃO significa a perda, a

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falta, o limite imposto à onipotência do desejo. É um processo que já acontece desde o corte do
cordão umbilical. A rigor quem castra é a mãe. Se a mãe permite a independência da criança,
negando formar um todo narcísico com ela, ela castra. A castração é um evento absolutamente
progressista na nossa vida e que torna possível a vida em sociedade e a nossa autonomia.
Através da CASTRAÇÃO introduz-se a LEI DA CULTURA que é produto de Eros e não de
Thanatos. A Lei não existe para aniquilar o desejo e sim para articulá- lo com a convivência
social. "É a guardiã do desejo na medida em que o encaminha no sentido de uma subordinação
ao Princípio da Realidade" (pág. 312, Os Sentidos da Paixão, Hélio Pellegrino)

- A CASTRAÇÃO nos faz sentir como seres incompletos, carentes. Mostra-nos que é da brecha
entre tudo o que se quer e aquilo que se pode (princípio de Realidade) que nascem as
possibilidades de movimentos do desejo. Mas o seu exagero pode trazer conseqüências
negativas como as neuroses.

14. Psicanálise, razão e consciência - Descobrir a existência do inconsciente não é esquecer a


consciência, a razão, e abandoná-las como algo ilusório e inútil. É pela consciência, pela razão,
que desvendamos e deciframos o inconsciente. Em outras palavras, a razão não está
descartada apesar das forças irracionais inconscientes. Longe de desvalorizar a razão a
psicanálise exige que o pensamento racional não "faça concessões às idéias estabelecidas, à
moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de nossa sociedade, em que os enfrente em
nome da própria razão e do pensamento." (pág. 356, Convite à Filosofia, Marilena Chauí)

15. Psicanálise e Ética - A psicanálise mostrou que uma das causas dos distúrbios psíquicos é
o rigor excessivo do SUPEREGO, a CASTRAÇÃO excessiva. Quando isto acontece há dois
caminhos não éticos: ou a transgressão violenta de seus valores pelos sujeitos reprimidos ou a
resignação passiva de uma coletividade neurótica, que confunde neurose e moralidade." (pág.
356, op. Cit., Marilena Chauí). Não éticos porque a violência é introduzida: violência da
sociedade que exige dos sujeitos padrões de conduta impossíveis de serem realizados e, por
outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois somente transgredindo e
desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver. Em suma é necessária a repressão
dos desejos, da sexualidade, para ser possível a convivência social e a ética "mas por outro
lado a repressão excessiva destruirá primeiramente a ética e depois a sociedade." (pág. 356,
op. Cit. Marilena Chauí). Segundo Freud o sujeito da psicanálise é responsabilizado, sim, por
seu inconsciente pois "quem mais, além de mim, pode se responsabilizar por algo que, embora
eu não controle, não posso deixar de admitir como parte de mim mesmo? Responsabilidade
difícil de assumir, esta - pelo estranho que existe em nós, age em nós e com o qual não
queremos nos identificar. No entanto, eticamente, é preferível que o sujeito arque com as
conseqüências dos efeitos de seu inconsciente, fazendo deles o início de uma investigação
sobre o seu desejo, a que ele permita que tais efeitos se manifestem apenas na forma do
sintoma. Ou, o que é ainda mais grave, que o sujeito tente se desembaraçar do inconsciente,
por meio dos atos de intolerância que projetam no outro o que o eu não quer admitir em si
mesmo. A passagem por uma análise torna o sujeito não apenas mais responsável pelo desejo
que o habita, mas também preserva as pessoas que lhe são mais próximas, aquelas que
dependem de seu afeto e de sua compreensão - filhos, parceiros, subordinados etc -, de se
tornarem objetos das projeções e das passagens ao ato de quem não quer assumir as
condições de seu próprio conflito." (pág. 32, Sobre Ética e Psicanálise., Maria Rita Kehl).

2.2- FREUD E SUAS TEORIAS

É de todos conhecido, que a psicanálise, como terapia e como teoria foi uma criação de
Sigmund Freud, que nos finais do século XIX pôde observar nos seus pacientes

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neuróticos que a maior parte das perturbações emocionais se deviam à existência de


problemas sexuais reprimidos, embora, o conceito de sexualidade tivesse para ele um
significado muito mais vasto do que lhe era atribuído pela linguagem comum. Segundo
Freud, a sexualidade não se deve identificar com a “genitalidade”, embora esta esteja
incluída naquela.

A sexualidade seria para Freud, todo o tipo de comportamento que resultasse


fisicamente gratificante, que produzisse sensações de prazer e, portanto, abrangeria
toda a actividade instintiva relacionada com as necessidades corporais. A partir desta
ideia básica, a concepção de Freud sobre o homem mudou consideravelmente à
medida que o seu trabalho com os seu pacientes neuróticos, lhe ia aportando novos
dados (é sabido que Freud tratou alguns casos de histeria, perturbação que, segundo
ele, tinha como causa a repressão da actividade sexual, sobretudo nas mulheres). Não
esqueçamos que estávamos em plena época vitoriana e as mulheres não tinham, nessa
altura, os mesmos direitos que o homem em termos da manifestação dos seus desejos
sexuais, para além de outros. As mulheres sobretudo as casadas, eram tidas como
objectos sexuais, que não deviam, por questões éticas e morais da época, manifestar
desejo ou prazer no acto sexual.

Por volta de 1920 Freud elabora então uma teoria da personalidade que se tornou
definitiva e que constituiu uma verdadeira revolução quanto ao modo de estruturação
do nosso psiquismo.

Segundo ele, seriam três as instâncias básicas da personalidade: o id, o ego e o


superego. Freud não quis afirmar que o psiquismo humano era constituído por três
partes, porque não foi isso que ele observou no comportamento perturbado ou normal
dos seus pacientes; a sua genialidade consistiu em encontrar nesses comportamentos
uma série de estruturas ou leis valendo-se dos três conceitos a que acima fizemos
referência.

Estes conceitos revelaram-se de extrema utilidade para explicar ordenada e


sistematicamente os fenómenos psíquicos, não fosse Freud, para além das suas
competências na área da Medicina um excelente escritor.

O id seria o conceito que designaria os impulsos, as motivações e desejos mais


primitivos do ser humano. Para Freud, em grande parte esses desejos seriam de
carácter sexual, tendo em mira o prazer. No início, o ser humano seria todo ele id, já
que nessa altura o organismo humano não busca mais que a satisfação das suas
necessidades instintivas e através delas o prazer. O id como tal é inconsciente, embora
procure alcançar a consciência para desse modo conseguir a realização dos seus
desejos. O recalcamento, ou repressão é o mecanismo de defesa que impede, caso
ocorra, a tomada de consciência do id. Este mecanismo defensivo mantém o id numa
situação inconsciente quando os desejos que lutam por realizar-se não estão de acordo
com o ego ou o superego. Freud, a partir de 1920 passa a atribuir também muito

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importância não só aos desejos sexuais mas também aos desejos agressivos do id.

O ego é o conceito que Freud utiliza para designar o conjunto de processos psíquicos e
de mecanismos através dos quais o organismo entra em contacto com a realidade
objectiva. O ego seria um guia do comportamento do organismo à luz da realidade. É
certo, que o ego faz eco das demandas do id e dos seus desejos, mas a sua função
consiste em os satisfazer ou não, segundo as possibilidades oferecidas pela realidade.
Não é que o ego não queira o prazer que o id procura, porém às vezes reconhece que
tem de suspender a sua procura sob pena de entrar em conflito com a realidade.

Um ego amadurecido, não se assusta ao fazer eco dos desejos do id, ao tomar
consciência deles. Ao contrário, um ego infantil e neurótico resiste a trazê-los à
consciência, defendendo-se contra eles através da repressão (recalcamento) e outros
mecanismos de defesa. Um ego maduro e adulto não se assusta, não teme os desejos
instintivos; não quer dizer que os satisfaça a todo o momento, significa somente que os
consciencializa e depois satisfá-los ou não segundo seja ou não racional fazê-lo.

No ego radicam as funções perceptivas, cognitivas, linguísticas e da aprendizagem, ou


seja, todas as funções através das quais o sujeito se adapta ao meio ambiente.

Um dos erros mais correntes, e que, com alguma frequência é cometido também por
alguns psicólogos, consiste em acreditar que todos os processos designados pelo ego
freudiano possuem a propriedade de ser conscientes. É certo que a maior parte dos
mecanismos e processos do ego são conscientes, mas nem todos o são. Freud chegou
a esta conclusão ao observar que em certas ocasiões alguns desejos instintivos
procedentes do id são rejeitados ou reprimidos pelo ego sem que o sujeito tenha
consciência alguma nem dos desejos nem da sua rejeição ou repressão.

A terceira instância da personalidade - o superego - representa as normas e os valores


convencionais da sociedade ou do grupo social no qual o indivíduo foi criado e em que
está inserido. Diríamos que representa a sociedade dentro do próprio indivíduo, com as
suas leis e normas muitas vezes fonte de embaraço e de inibição para a estrutura do
ego.

É evidente que as exigências do superego se opõem quase sempre aos desejos do id.
Este conflito, entre o superego e o id incide directamente no ego, já que tanto o id como
o superego procuram que o ego actue de acordo com as suas próprias exigências ou
desejos. Normalmente o que o ego faz é procurar uma solução de compromisso, que os
satisfaça, embora parcialmente. Um ego maduro consegue normalmente achar esta
fórmula conciliatória, a qual, para que seja realmente válida, deverá ter em conta
também a realidade ambiental.

Poder-se-á dizer que, para Freud, a personalidade consiste basicamente neste conflito
entre os desejos instintivos e as normas interiorizadas da sociedade, conflito que se
desenrola no grande cenário constituído pela relação mútua entre o ego e a realidade
ambiental.

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2.2- FREUD E SUAS TEORIAS: AS DUAS TEORIAS DAS PULSÕES

A utilização do método catártico e hipnótico de Breuer logo trouxe problemas. Os tratamentos


fracassavam devido ao fato de que a cura só durava até que a pessoa voltasse à sua
consciência; e, além disso, muitos pacientes não conseguiam ser hipnotizados. Freud deduziu
que se um fato tão significativo não podia emergir senão com muito esforço, era porque havia
uma força que se opunha à sua percepção consciente. Freud chamou essa força de resistência,
que só pôde ser descoberta e compreendida após o abandono da hipnose.

Quando era dada ao hipnotizado uma ordem que ele não podia cumprir, ele
acordava abruptamente do transe, bastante incomodado, e tornava-se, em seguida,
resistente a entrar em nova hipnose. Em síntese, se a hipnose era capaz de fazer surgir
algumas pequenas atitudes que geralmente o paciente não as teria quando sentindo-se
ameaçado, ele não só se recusava a cumprir as ordens como tornava-se
particularmente resistente ao procedimento. Isso fez com que Freud abandonasse a
técnica da hipnose.

A tarefa do médico seria, então, utilizar a hipnose como um bisturi. O método de


penetrar o psiquismo e criar condições para que o trauma ressurgisse à consciência,
fora do estado de ‘absence’, quando então poderia ser experienciado com toda a carga
afetiva que não pôde ser vivida na hora traumática, ficou conhecido como o método
catártico. Freud, após um certo tempo, o abandonou.

O processo ocorre mais ou menos assim: a homeostase, mantida pelo princípio


de constância, evolui com o surgimento do princípio de Nirvana (que tende a exigir
tensão zero) . A energia livre(afetiva) liga-se a alguma idéia ( representante ou
conteúdo ideativo) - processo primário, o mais próximo do que depois perderá a
característica de substantivo (O Inconsciente) e aparecerá ligado a algum outro
conteúdo aceito pelo sistema (com a característica de qualidade Inconsciente , Pré-
Consciente ou Consciente) - processo secundário.

Uma força mantia essa percepção de acontecimentos cuja dor o indivíduo não
poderia suportar de imediato inconsciente ( a mente não sabe que sabe). Essa força foi
denominada recalque.

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A descoberta da resistência e do recalque marcaram a ultrapassagem de um


modelo estático do trauma para um modelo dinâmico, de jogo de forças.

Por motivos éticos e estéticos, o consciente não suportava a percepção de uma


vivência e a mantinha inconsciente. A resistência bloqueava essa percepção, índice
inexplicável de que a mente sabia o que não queria saber.

Freud fez o que, cf. o “Vocabulário de psicanálise” Laplanche e Pontalis,


chamou-se de “a viragem” do modelo psicanalítico. Os conceitos tópicos de consciente
e incosciente cederam lugar a três novos constructos, que constitui o modelo dinâmico
da estruturação da personalidade: id, ego e superego.

Freud elaborou a primeira teoria das pulsões, que as dividia em as de auto-


conservação e as sexuais. As pulsões de auto-conservação teriam como objetivo a
preservação da vida do organismo. A ausência prolongada de sua satisfação seria letal.
Essas pulsões se aliam ao princípio de realidade e são percebidas pelo pensamento
consciente e racional. Já as pulsões sexuais teriam como objetivo a preservação da
vida da espécie. A ausência prolongada de sua satisfação não seria letal. Essas
pulsões se aliam ao princípio do prazer e são percebidas pelo pensamento inconsciente
ou fantasia.

Essa teoria foi abandonada e surgiu a segunda teoria das pulsões, que as dividiu
em: as pulsões de vida e as de morte. A pulsão de vida visa a preservação da vida do
organismo e da espécie. Ela é conjuntiva e construtiva e preside à organização e
diferença das formas.

Outras de suas características são a heterogeneidade e a entropia


negativa(morte térmica), manifestando-se como o amor, a solidariedade, generosidade
e outras formas positivas.

Já a pulsão de morte visa a destruição da vida do organismo e da espécie. Ela é


disjuntiva, destrutiva e preside à desorganização e dissolução das formas. Outras de
suas características são a homogeneidade, a entropia positiva, manifestando-se como
ódio, agressividade, masoquismo, sadismo, culpa , fracasso…

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A estrutura da personalidade é formada por quatro fases de desenvolvimento e


um período de latência.

A fase oral corresponde à idade por volta de zero a dois anos e é subdividida em
fase oral de sucção – de zero a seis meses, e oral canibalística – de seis meses a um
ano mais ou menos.

3-INTERPRETAÇÃO DE SONHOS
Sigmund Freud, 1899/1900.

por Augusto Cesar Freire - psicanalista (*)

Cem anos de inconsciente

Raras são as obras cujo centenário é lembrado e celebrado. A Interpretação dos Sonhos de
Freud é uma delas. Para isto há várias razões. A data marca não apenas o centenário de uma
obra, mas também o centenário do inconsciente e da própria psicanálise.

Para aqueles que não são familiarizados com a obra freudiana uma introdução à importância da
obra será feita. Este endereçamento se refere ao fato de que todo e qualquer psicanalista, de
toda e qualquer "corrente" desde sua criação até os dias de hoje reconhecem em A
Interpretação dos Sonhos uma obra inaugural.

Trata-se de uma obra que traça o limite entre os artigos pré-psicanalíticos de Freud e o início da
psicanálise. Na edição brasileira das obras completas de Freud (Editora Imago) encontra-se
representada por dois volumes (IV e V), tendo sido também publicada em várias edições
avulsas. Obra atual por sua obrigatoriedade na formação de todos os psicanalistas e mesmo
psicólogos, pululam resenhas e comentários introdutórios. Quanto aos comentários, para os
iniciantes pode-se destacar a Introdução à Metapsicologia Freudiana de Luiz Alfredo Garcia-
Roza (Zahar Editores), com um volume inteiramente dedicado a A Interpretação dos Sonhos.

A obra de Freud provoca uma ruptura absolutamente radical na maneira de abordar o homem
em 25 séculos de pensamento. Todas as filosofias, toda a psicologia incipiente, toda a ciência
até Freud se preocupava com o homem em seu aspecto consciente. Segundo o próprio Freud,
o conceito de inconsciente e a formulação de que o homem não é senhor em sua própria
morada tem importância equivalente às rupturas causadas pela passagem do teocentrismo para
o heliocentrismo e pela comprovação da ascendência animal do humano.

Se há um texto, na obra de Freud, que possamos indicar como primeiro responsável por esta
ruptura é A Interpretação dos Sonhos. Nele encontramos a tese que se tornaria a mais popular
(e mais mal utilizada): a do complexo de Édipo. Neste texto, também, Freud formula a divisão
da mente entre o consciente e o inconsciente. É também ali que a clínica psicanalítica vai
encontrar sua justificativa teórica, ainda que não fosse esta a preocupação inicial de Freud.

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A gestação e o parto da obra

Na verdade a obra foi publicada em 04 de novembro de 1899. Por uma decisão do editor, no
entanto, a data impressa é a de 1900. A correspondência de Freud a Fliess (publicada em
português pela Imago) nos fornece os dados a seguir. Durante dois anos Freud se dedicou ao
preparo deste que seria um exemplo excelente de estrutura de tese. Sua pesquisa não deixa de
fora nenhuma obra conhecida que abordasse o tema dos sonhos, nem mesmo os sempre
populares livros de sonhos egípcios. Cada possível argumento, cada possível interpretação é
examinada com seriedade e rigor científico. A magnitude do trabalho poderia responder pela
lentidão com que o texto foi produzido, mas em suas cartas ao amigo Fliess podemos entender
que as razões da demora foram mais pessoais.

O livro é pleno de exemplos. Muitos sonhos são analisados e interpretados. O que mais custou
ao autor, portanto, foi o fato de que, devido ao sigilo com que deveria resguardar os sonhos de
seus pacientes, Freud utiliza os próprios sonhos para dar seqüência à obra. Como o
pesquisador que se contagia com a doença que pretende estudar, Freud se expõe aos efeitos
de sua própria tese, tira as conseqüências de seus próprios sonhos trabalhando suas próprias
neuroses. E corajosamente, nos expõe todo o processo. Não poucas vezes em sua
correspondência confessa que prefere não publicar o livro, se mostra pessimista quanto às
conseqüências de suas teses e apreensivo quanto à recepção que o livro teria no meio
científico e em seu círculo familiar.

Suas preocupações se mostrariam fundamentadas. O livro vendeu 228 exemplares nos


primeiros dois anos após sua publicação, e a tiragem de 600 exemplares demorou oito anos
para ser esgotada. Não houve comentários em boletins científicos a seu respeito e as poucas
menções ao trabalho raramente eram elogiosas. Somente dez anos depois, com o
reconhecimento da importância de Freud e o fim do ostracismo a que foi entregue pela
comunidade médica é que a obra passou à categoria de trabalho sério.

Esta acolhida, no entanto, é plenamente justificada. Freud se lançara em um caminho vedado à


comunidade científica. Se preocupar com sonhos era uma coisa para poetas e artistas, nunca
um cientista consideraria este um tema de trabalho. O romantismo alemão, em pleno vigor,
tematizava a alma, as aspirações e os sonhos do homem alemão. A ciência, por sua vez, saía
do tratamento moral da doença mental e entrava no organicismo.

Neste contexto, as preocupações e métodos de Freud eram, no mínimo, excêntricos.

Freud, no entanto, não era um filósofo. Seu interesse pelos sonhos tem uma justificativa
completamente científica. Seu rigor se demonstra em cada linha de seu texto na seriedade com
que aceita tirar as conseqüências dos fatos, mesmo que em prejuízo de sua teoria ou de seu
status médico. Um pouco da história envolvendo a obra e a própria psicanálise devem
esclarecer este ponto.

A origem das idéias contidas na obra

Como o observador que se despe dos preconceitos para apreender um fato inusitadamente
novo, Freud criou o que seria um método de pesquisa pela escuta. Pouco antes da escritura do
livro passara pela experiência de ouvir de uma paciente que deveria calar-se e escutar mais.
Obedeceu. Aos poucos percebia que os sintomas histéricos cediam à palavra. Ao narrar a
origem dos sintomas as histéricas se curavam. A primeira teoria formulada para lidar com este
fato foi a da catarse. Em poucas linhas a idéia central era a de que o sintoma histérico (no

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exemplo clássico paralisias, cegueiras, convulsões etc…) consumia uma quantidade de energia
originalmente vinculada à idéia que provocou o sintoma. Assim, o acesso desta idéia à memória
e à palavra deveria recanalizar esta energia represada no sintoma, eliminando-o.

Como conseqüência desta teoria o mais importante a se objetivar seria a rememoração do


evento desencadeante. Para facilitar esta rememoração Freud fez uso da sugestão e da
hipnose. Começava aí seu isolamento do meio médico. A hipnose tinha uma pré-história
acientífica de charlatanismo e apresentações espetaculares, e Freud se encontrava em Viena,
capital cultural que costumava não tolerar tais práticas no meio médico. Não por acaso Freud
precisa visitar Paris para estudar a hipnose com Charcot, a quem sempre dedicou um profundo
respeito.

A teoria da catarse seria progressivamente abandonada na medida em que Freud começava a


perceber a presença de algo que se opunha ativamente à rememoração. Este fator de
resistência se relacionava exatamente àquelas lembranças mais importantes, servindo portanto
de indicador do valor de uma determinada idéia para a doença histérica correspondente. Em
outras palavras, quanto mais relacionada à doença, mais resistência seria encontrada na
rememoração de uma determinada idéia. A hipnose escamoteava este fator, derrubando todas
as resistências. Uma nova abordagem se faria necessária se o que se pretendia era tirar as
conseqüências desta descoberta.

Nas tentativas iniciais do que se tornaria mais tarde o método da associação livre Freud
simplesmente se submeteu a ouvir o que vinha à mente de seus pacientes. Nos pontos em que
localizava alguma resistência aprendeu a reconhecer a necessidade de fazer valer sua
presença, em sua insistência e incitação, fazendo com que o paciente se detivesse neste ponto,
se esforçasse um pouco mais, de modo que pudesse seguir por uma trilha inicialmente
bloqueada. Ainda em busca da memória perdida, Freud começava a apreender o
funcionamento dos sintomas, o tipo de defesas com que se protegiam da investigação e a
ferocidade com que resistiam à cura. Só em A Interpretação dos Sonhos será possível
encontrar suas teses a este respeito.

A importância dada aos sonhos começava aí a tomar força. Deixados livres para falar o que
viesse à cabeça os pacientes logo começaram a narrar sonhos, associando-os a eventos
relevantes à sua neurose. Freud não se autoriza a legislar o que teria ou não pertinência na
narrativa do paciente. Imbuído de uma crença profunda na lei da causalidade supõe que algum
fator desconhecido justificaria que os sonhos surgissem na fala dos pacientes. Este fator
desconhecido, digamos desde já, seria cernido pelo conceito de inconsciente. Se os sonhos se
impunham desta forma à observação do pesquisador, nada mais legítimo que decifrar sua
estrutura.

À guisa de comentário paralelo notemos que não só os sonhos adquiriram seu valor desta
forma, mas também a sexualidade infantil. Os pacientes também traziam lembranças de
sensações sexuais prazerosas vividas na infância, o que, apesar do choque, Freud se viu
obrigado a considerar. Esta seria outra idéia responsável pelo isolamento da comunidade
científica de sua época.

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Os sonhos e a neurose

Em A Interpretação dos Sonhos, Freud formula as leis e as características do inconsciente.


Com este conceito consegue juntar fenômenos distintos como o sonho e os sintomas histéricos.
Vejamos rapidamente alguns pontos.

A tese central do texto é a de que "O sonho é a realização de um desejo". Este desejo,
entendamos, não é necessariamente um desejo que possamos aceitar em nossa vida vigil.
Quando não se trata de um desejo aceitável, nos diz Freud, preferimos esquecê-lo. Este
esquecimento será descrito como conseqüência de um mecanismo chamado 'recalque'. O
desejo recalcado, no entanto, permanece em algum lugar exercendo seus efeitos. Os sonhos
são apenas um exemplo destes efeitos.

Mas os sonhos têm por característica sua falta de senso, sua não obediência às leis que nos
regem na vigília. O que Freud formula é que os sonhos seguem uma lei própria, seguem uma
lógica que não é a lógica cotidiana. É levado assim a demonstrar que nosso aparato mental é
formado pela consciência, cujas regras reconhecemos, e pelo inconsciente, cujos efeitos nos
surpreendem por seguir uma lógica diferente e desconhecida (ainda que sempre familiar).

Desta forma, um desejo que não condiz com nossa posição social, nosso sexo, nossa situação
civil etc…é 'jogado' naquele campo que não segue as mesmas regras de nossa consciência. No
inconsciente, nos diz Freud, este desejo vai procurar sua expressão a qualquer custo. Se não é
possível que ele se expresse conscientemente (por que no consciente atua aquela resistência
que mencionamos acima, provocando o recalque), ele vai buscar alguma expressão substitutiva
que consiga escapar à censura. O sonho pode ser entendido como a expressão de uma série
de desejos, que encontram nele a única via para a consciência. É por isto também que o sonho
será entendido por Freud como a via régia para o inconsciente, uma vez que é sua
manifestação mais direta.

Mas dissemos que o sonho e os sintomas possuem uma estrutura comum. Isto ficará mais claro
no próximo ítem, mas digamos desde já que o sintoma neurótico é também uma manifestação
de um desejo. A principal diferença é que no sintoma uma solução é encontrada para que o
desejo se apresente na consciência.

Também neste caso, contudo, este desejo se manifestará com as distorções necessárias para
que possa ser aceito pelo consciente.

O funcionamento do sonho

O inconsciente é freudiano. Antes de Freud já se falava de inconsciente, mas o conceito de


inconsciente é algo inédito. Falar do inconsciente como franja da consciência, como sub-
consciente ou como algo que não sabemos mas que podemos saber com algum esforço de
nossa parte não é falar do inconsciente freudiano. O inconsciente tem suas leis e
particularidades rigorosamente formuladas e a precisão deste conceito se faz mais necessária
com sua popularização, que tende a deturpá-lo.

Aos processos que ocorrem no inconsciente Freud chama processos primários, em oposição
aos secundários, do consciente. Têm por característica não levar a realidade em consideração,
tolerar contradições, não conhecer a temporalidade e acima de tudo, buscar a realização de
seus impulsos. Freud decifrou a gramática destes processos, descobriu os meios pelos quais
atinge seus objetivos. Dois mecanismos básicos são localizados: a condensação e o

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deslocamento. Nos estenderemos nisto, por ser um dos mais importantes pontos de A
Interpretação dos Sonhos.

É nos capítulos 6 e 7 do livro que Freud desenvolve o mecanismo de trabalho dos sonhos e o
funcionamento do aparato mental. Apresenta o mecanismo de deslocamento na possibilidade
que as idéias têm, no inconsciente, de 'emprestar' seu valor para outras idéias, de modo que
fatos ou imagens aparentemente sem importância podem ter sido amenizadas, com o quê
burlam a censura, compondo o material do sonho. De forma inversa fatos que aparecem no
sonho como extremamente nítidos ou valorizados usualmente ganharam seu relevo por uma
associação a outra idéia, esta sim, de grande importância.

No sonho há também em funcionamento o mecanismo da condensação. Este mecanismo


permite que um pequeno detalhe possa representar uma idéia completa. Nos exemplos de
Freud vemos como características isoladas de uma pessoa podem representá-la por inteiro ao
se compor com outras características que representam outras pessoas. Assim, um personagem
pode estar ocupando a função (que tem na realização do desejo) de toda uma multidão de
personagens que não figuram no sonho senão por fragmentos.

As razões deste trabalho de montagem são explicadas pelo aparato psíquico proposto no
capítulo seguinte do livro. Neste aparato o ics (inconsciente) figura em um extremo e o cs
(consciente) no outro, e entre eles o pcs (pré-consciente). O ics recebe seu material do sistema
perceptivo, mas não tem acesso ao sistema motor. O cs controla as ações, mas a realidade que
lhe chega já passou pelos processos do ics. Como intermediário entre os dois sistemas figura a
censura, ou seja, uma função que determina o que pode e o que não pode aceder à motilidade,
levando a realidade em consideração. Todo o material que não pode passar pela censura está
condenado a ser recalcado, a ficar relegado ao ics, sem, no entanto, ficar com isto silenciado. O
trabalho do sonho é entendido, assim, como o trabalho de distorção necessário para que o
material do ics possa se manifestar.

Vale dizer ainda que a distorção a que o material do sonho foi submetida nunca é casual ou
caótica, e é por provar isto que o trabalho de Freud adquiriu seu valor.

Uma idéia (um desejo, uma intenção ou mesmo uma percepção) está permanentemente
relacionada a outras. A natureza desta relação é muito abrangente, podendo ser determinada
pela contigüidade espacial ou temporal em que ocorreu, pela similaridade, pela homofonia,
enfim, por toda uma gama de possibilidades. O que importa é que a idéia 'principal', uma vez
que tenha sido censurada, não poderá ser reconhecida no consciente, mas as idéias com as
quais se associa, uma vez que esta associação não seja óbvia, podem ser utilizadas para
representá-la (deslocamento). Então, lembrando que no ics as idéias buscam sua expressão,
ou nos termos de Freud: os desejos buscam sua realização, o trabalho do sonho é a maneira
pela qual um desejo pode se realizar por seus substitutos.

O passo seguinte é o que permite a intervenção clínica da psicanálise. Os sintomas, Freud


demonstra, são também realizações de desejo. A diferença em relação aos sonhos é que nos
sintomas um compromisso se estabelece entre o desejo e a censura, fazendo com que nem o
desejo se realize por completo nem a censura seja totalmente eficaz. Desta forma um desejo
mais 'amenizado' é realizado.

Uma conseqüência direta desta explicação do sintoma é muita incômoda para todos nós. Se
nossos desejos devem levar em consideração a realidade para que possamos aceitá-los, como
saber se o que reconhecemos como nossos desejos não são amenizações de nossos

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'verdadeiros' desejos, estes inconscientes? Em outras palavras, uma vez que vivemos em
sociedade, tendo que considerar suas regras, somos todos neuróticos.

A psicanálise hoje

A transmissão da psicanálise foi garantida, a partir da década de 50, por Jacques Lacan. Em
sua leitura desta obra de Freud propõe que o que é formulado é um inconsciente estruturado
como uma linguagem. A condensação e o deslocamento podem ser entendidos como a
metáfora e a metonímia e a estrutura associativa das idéias como a cadeia de significantes (que
só podem existir entre dois outros, em associação). Partindo da clínica das psicoses (Freud
partiu da neurose) Lacan amplia o campo psicanalítico e encontra a precisão necessária ao
ensino e à transmissão da psicanálise.

Paralelamente, o pragmatismo americano se empolga em afirmar que a psicanálise está em


crise. A descrença americana na psicanálise é equivalente à descrença freudiana nos
americanos (afirmou algumas vezes que os americanos jamais compreenderiam a psicanálise -
e a história o confirmou). Como a ciência atual se encontra cada vez mais marcada pelo
funcionalismo e utilitarismo tão típicos do american way, a psicanálise encontra seu campo (ao
contrário do que se previu) cada vez mais valorizado. A razão para isto é muito simples. Cada
vez mais o homem é tratado como um objeto sem desejos; se há falta de interesse sexual pela
esposa há uma pílula que o resolva, se há falta de empolgação pela vida há uma outra, e
etc…Nos tempos do Viagra e do Prozac, o homem se encontra na necessidade de encontrar
saídas menos mecânicas para a angústia que a vida em sociedade cobra como preço. Vemos
brotarem novas crenças e novas terapias ditas alternativas a cada dia, vemos a procura de
oráculos e gurus que prometem soluções prontas, vemos, enfim, os efeitos colaterais da
coisificação do homem. A psicanálise, absorvendo bravamente os golpes em seu centenário,
cada vez mais se mostra como a única prática fundamentada a se propor trabalhar nesta
realidade em que vivemos.

(*) Augusto Cesar Freire é psicanalista associado ao Tempo Freudiano Associação


Psicanalítica e doutorando em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.

Entendendo o Processo do Sono

O fenômeno do sono é de interesse tanto para a Psicologia como para a


Psicanálise, no que tange à compreensão dos mecanismos que regem o sonhar. Mais
especificamente, a Psicologia se dedica em desvendar o funcionamento do sono,
deixando de lado o sonho que, para a Psicanálise é de suma importância. Pensamos
que para retratarmos bem os mecanismos que envolvem o sonho, devemos mencionar
algumas das principais descobertas da Psicologia quanto ao fenômeno do sono.
Dormir é sonhar e sonhar é uma necessidade neurofisiológica. Estudos do campo da
Psicologia têm determinado que a privação do sono acarreta sérias consequências
mentais e físicas.
O primeiro aspecto importante que a Psicologia desvendou sobre o sono é que
existem tipos de sono: NREM (No Rapid Eye Movements) e REM (Rapid Eye
Movements). A distinção encontra-se na observação de que durante o sono REM os
olhos saltam de um lado para o outro, como se observassem uma cena. Neste,
observa-se também uma variação no Sistema Nervoso Autônomo, com a respiração e o
ritmo cardíaco tornando-se mais rápidos e irregulares, a pressão arterial mais elevada e

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um aumento da secreção dos hormônios supra-renais. Dentro das distinções presentes


no sono REM, há também a ocorrência nos indivíduos masculinos (de todas as idades),
a ereção peniana. Ocorre também nos indivíduos femininos uma reação
correspondente no tecido vaginal.
Os estudos que decifraram este movimento dos olhos no sono foram realizados em
1953 pelo Dr. Nathaniel Kleitman. Tais pesquisas de laboratório mediram as ondas
cerebrais de pessoas durante o sono através do eletroencefalograma, as variações
musculares, através do eletromiograma, e a movimentação específica dos olhos,
através do eletrooculograma.
Sabe-se também que há quatro estágios no sono REM, onde cada um caracteriza-se
por um padrão de onda cerebral. O primeiro estágio é o sono leve, que marca o iniciar
do sono, tem a duração de alguns minutos , quando o indivíduo fica relaxado, com os
pensamentos mais ou menos descoordenados, podendo já neste estágio ocorrer
sonhos. O segundo estágio é o sono intermediário, ocorrendo um relaxamento maior,
podendo ocorrer experiências sensoriais sem base real (alucinações) e crispações
súbitas e desordenadas do corpo, seguidas de sensações de queda.
O terceiro estágio é o do sono profundo, quando o indivíduo se torna insensível aos
sons e oferecerá resistência em ser acordado. No quarto estágio, o sono mais profundo,
há uma total relaxação, com o mais completo desligamento do mundo exterior. É nesta
fase que podem ocorrer irregularidades como o sonambulismo.
Em seu livro sobre o sonho, Leon L. Altman explica que as mudanças neurofisiológicas
que têm lugar durante os períodos REM sugerem que a ativação da área límbida do
cérebro - uma área associada ao funcionamento primitivo de impulsos e afetos - está
em jogo. O autor vê essa retrogressão como uma corroboração à teoria de Freud, de
que o sonho é um fenômeno regressivo, o qual nos devolve aos estados primitivos da
infância.

O Sonho na Teoria Psicanalítica de Freud

O conteúdo onírico é de suma importância para a compreensão do


inconsciente de quem o produz. Por isso a Psicanálise vê com tanta atenção este
produto da mente, que é o sonho. Gastão Pereira da Silva define o sonho de uma forma
que bem demonstra sua relevância.

Uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir,


mesmo, uma realidade que nos é hostil, por outra, totalmente diferente,
onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas
ações parecem absurdas, justamente porque as mais censuráveis, na sociedade
em que vivemos, gozam, enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade
condicional, quando se expandem nos sonhos.

As descobertas de Freud, de que os sonhos têm um conteúdo psicológico


fundamental revolucionaram o estudo da mente. Antes os sonhos eram tidos como
meros efeitos de um trabalho desconexo, provocados por estímulos fisiológicos. Os

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conhecimentos desenvolvidos por Freud trouxeram os sonhos para o campo da


Psicologia e demonstraram que estes são tão somente a realização de desejos,
disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico.

Podemos sintetizar a teoria psicanalítica dos sonhos da seguinte maneira: a


experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o
despertar, chamamos de sonho é, apenas, o resultado final de uma atividade mental
inconsciente durante este processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade,
ameaça interferir com o próprio sono. Chama-se sonho manifesto a experiência
consciente, durante o sono, que a pessoa pode ou não recordar depois de despertar.
Seus vários elementos são designados como conteúdo manifesto do sonho. Os
pensamentos e desejos inconscientes que ameaçam acordar a pessoa são
denominados conteúdo latente do sonho. As operações mentais inconscientes por meio
das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto, chamamos
de elaboração do sonho.

OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO SONHO

Ao falarmos em sonho, via de regra, estaremos nos referindo ao que


chamamos de sonho manifesto, ou seja, o relato que o indivíduo faz após acordar do
que sonhou e pode lembrar-se. Quando, porém, nos referimos ao significado de um
sonho estamos especificando o conteúdo latente do sonho. Estas distinções são
imprescindíveis na Psicanálise. Passaremos a detalhar estes conceitos, bem como
explicaremos como o conteúdo latente chega a ser o sonho manifesto.

OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO
SONHO 1 O Conteúdo Latente do Sonho
2 O Conteúdo Manifesto do Sonho
3 A Elaboração do Sonho
3.1 Dramatização ou concretização
3.2 Condensação
3.3 Desdobramento
3.4 Deslocamento
3.5 Representação pelo oposto
3.6 Representação pelo nímio
3.7 Representação simbólica
4 A Elaboração Secundária

4-TÉCNICA FREUDIANA
Sigmund Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, em 1856, de família judaica. É filho
do terceiro casamento de seu pai, que trabalhava no ramo de tecelagem. Aos 4 anos de idade,
como os negócios do pai não iam bem, a família se transfere para Viena. Nessa cidade recebeu
toda sua educação, ficando conhecido como o “Mestre de Viena”. O universo feminino em que

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viveu, com cinco irmãs, pode ter influenciado sua riquíssima e extensa obra, que tem a marca
de sua neurose.
Destacou-se como aluno da escola secundária; estudioso, curioso, atento às
preocupações humanas. Interessado em ciências naturais, prosseguiu estudos no
campo da medicina. Em seus primeiros anos como pesquisador estuda as enguias
(peixes), depois o sistema nervoso das lampreias.
Ingressou em Hospital Geral, e entre os vários departamentos, o de Psiquiatria, sob a
orientação de Meynert, que ele conhecia desde os tempos da escola, o impressionou bastante.
No entanto, naquela oportunidade, dedicou-se à fisiologia, à anatomia cerebral e, depois às
doenças nervosas.
Em1878, conheceu o Dr Joseph Breuer, catorze anos mais velho, que se tornou seu
amigo e incentivador, inspirando suas primeiras pesquisas no campo da Psicanálise. O Dr.
Breuer pode ser aproximado à figura paterna, e, inclusive, o ajuda financeiramente em algumas
situações. Foi uma grande e intensa amizade em sua vida, no entanto, seguem-se polêmicas e
rompimento. Freud estava convencido de que deixaria sua marca na História; tinha
autoconfiança em relação à sua carreira e ao peso de seu legado; era o único filho que tinha um
quarto exclusivo para estudar. O ambiente familiar o auxiliou bastante a ter força para seguir
avante em sua carreira quando suas idéias eram consideradas, no mínimo, polêmicas.
Em 1880, o Dr Breuer iniciou o tratamento com Berta Pappenteim, mais conhecida
como Anna O, uma das pacientes mais famosas da Psicanálise, e utilizou algumas estratégias
terapêuticas inovadoras, como a hipnose, (técnica terapêutica que faz com que o paciente se
lembre e vá resgatando na memória algumas experiências passadas visando com isso o
desaparecimento de alguns sintomas) para o tratamento da histeria, problema que afetava
muitas mulheres naquela época; na maioria jovens que alimentavam sonhos que não haviam
conseguido realizar por conta da rigidez moral da época.
Após dois anos de tratamento, Breuer abandona o caso de Anna O; não dá
continuidade às suas pesquisas e Freud o faz, pois se interessava profundamente pela histeria
com toda a riqueza de sintomas que apresentava ao final do século XIX. Freud partiu da clínica;
das relações que se estabeleciam entre ele e os pacientes, para elaborar modelos
interpretativos; teorizar. Esta foi uma contribuição importantíssima à ciência e ao campo da
educação, pois o enfoque clínico tem sido utilizado no trabalho de capacitação de professores
visando auxiliá-los na reflexão sobre suas práticas.
Em 1882, Freud conhece Martha Bernays, jovem que virá a ser sua esposa, em 1886.

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Em 1885, segue para Salpêtrière, em Paris, na intenção de trabalhar com o


neurologista Charcot. Consegue uma bolsa de estudos e faz um estágio sobre as
diferentes manifestações da histeria e efeitos do tratamento hipnótico, com esse famoso
e talentoso médico.
Fixou residência em Viena, em 1886, e teve acesso ao hipnotismo, instalando
seu consultório, onde atende pacientes histéricas, ora aplicando a técnica da hipnose,
cujo princípio fundamental é a sugestão, ora a da pressão, na qual pressiona a fronte
do paciente. Após alguns exercícios, Freud passou a acreditar que para além da
hipnose poderia haver certos processos mentais que não obstante, permaneciam
escondidos da consciência humana. Utilizando a hipnose, fazia perguntas às pacientes
sobre a origem de seus sintomas. Acrescentou, em colaboração com Breuer, que os
sintomas têm significado e são resíduos ou reminiscências de situações emocionais,
porém, na maioria das vezes, tais sintomas não provinham de uma única cena
traumática, mas da soma de significativa quantidade de situações similares. Nessa
época, troca correspondência com outro amigo importante, o Dr. Fliess, otorrino alemão
com o qual se vincula emocionalmente e, no início, fala de algumas de suas primeiras
hipóteses que têm a ver com sua experiência na clínica. A partir dessa
correspondência, fundamentam-se os alicerces da teoria psicanalítica.
Em 1892, Freud abandona a técnica da hipnose e da pressão para deixar o paciente
falar, pois leva em consideração que a pessoa/paciente pode aceitar ou não a sugestão. Surge,
então, a técnica da associação livre, com a qual pedia para a paciente falar livremente tudo que
lhe viesse à cabeça, sem censura, por mais estranho e absurdo que lhe parecesse. Diz que
esse encadeamento leva à percepção de sobredeterminação. Mostra que não era necessário
usar a hipnose para a paciente/histérica chegar ao estado que queria.
Em 1893, Freud formula a teoria da sedução, referindo-se aos efeitos dos valores e
regras sociais rígidas impostas aos filhos da sociedade dessa época.
Publica, com Breuer, o texto "Sobre o mecanismo Psíquico dos Fenômenos
Histéricos", nesse mesmo ano e, em 1895, "Estudos sobre a Histeria" onde são relatados vários
casos, inclusive o de Anna O; fala-se em cura pela fala ou limpeza pela chaminé - método
catártico. Passa a considerar a hipótese de que há uma questão sexual na histeria. A evolução
foi além do domínio da histeria quando Freud observou que não era qualquer espécie de
excitação emocional que estava por trás dos fenômenos da neurose, mas uma excitação de
natureza sexual. Aqui ele toca em pontos polêmicos, propondo idéias que dão destaque ao

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estudo da vida sexual, referindo-se aos efeitos dos valores e regras sociais rígidas, impostos
aos filhos da sociedade dessa época. Nesse mesmo ano, Freud analisa seu próprio sonho, que
está relatado na sua obra “Interpretação dos Sonhos”, voltando para si mesmo o seu olhar de
pesquisador. Para alguns estudiosos, esse é o momento inaugural da Psicanálise, pois a partir
daí o sonho passa a ser fundamental na construção teórica e na clínica psicanalítica. Ainda
nesse ano de 1895, nasce sua filha, Anna Freud, que se torna, também, psicanalista.
Em1896, Freud faz uma conferência na Universidade de Viena sobre a etiologia sexual
da histeria, colocando a hipótese de que, em sua etiologia, a histeria traz a marca sexual. Isso
produz enorme escândalo e dificulta a aceitação de Freud no meio acadêmico. É o estopim do
rompimento com Breuer, que era conservador e estava inserido no grupo de cientistas. Freud
se surpreende, pois achava que Breuer o apoiaria, o que colaboraria para a aceitação de sua
tese.
Nesse mesmo ano de 1896, quando faz uma conferência, morre-lhe o pai, experiência
das mais difíceis para o homem, após o que Freud passa a pensar no Édipo. Fazendo sua auto-
análise, vai-se dando conta de que, como filho, alimentava pela mãe um amor incestuoso que
só foi possível perceber após a morte do pai.
Freud tinha formação humanista muito forte; tinha uma produção intelectual intensa e
por sua erudição consegue pensar em metáforas para as referidas explicações. Através da
mitologia, da arqueologia, vai buscando vestígios do passado na história das pessoas; por
exemplo, amor incestuoso mas inconsciente pela figura materna. Freud mostra que a
sexualidade humana não se liga à genitalidade e que se organiza a partir de operações
psíquicas. Propôs que as crianças já apresentam uma sexualidade muito diferente das outras
espécies e que, na infância, não está comprometida ao órgão sexual, mas a sensações ligadas
à sexualidade.
Isso foi revolucionário para a época, quando se achava que a sexualidade ficava
adormecida. A sexualidade humana tem basicamente uma questão que a torna diferente; é a
questão da pulsão, pois nós não somos, tal como os animais, movidos por instinto, mas por
pulsão, termo proposto por Freud para dar a idéia de algo que fica exatamente no limite entre o
orgânico e o psíquico.
Aos poucos, Freud vai reformulando suas próprias concepções e desvendando
segredos humanos. Em 1897, época do Édipo (experiência edípica de matar o próprio pai em
sonho e a culpa pelo amor incestuoso), Freud pondera que fatos que fazem parte da fantasia
são muito importantes na Psicanálise.

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Abandona a teoria da sedução, dizendo não mais acreditar nos relatos de suas
histéricas. Recorre à teoria da fantasia, segundo a qual os elementos relatados na construção
da história de cada paciente não fazem parte da realidade, mas, mesmo não tendo sido
experiências reais, a maneira como são relatadas tem um peso para produzir sintomas. Freud
percebe que, no momento em que a pessoa fala, seja uma experiência empírica ou fantasiosa,
o valor para o analista é o mesmo; a fantasia vai revelar, de alguma forma, como é difícil para
essas pacientes assumir conscientemente seus discursos de que, ao contrário, elas é que
procuram ser seduzidas. Se a primeira teoria causou tanto furor, a segunda foi menos polêmica,
no entanto a comunidade científica continuou a não aceitá-lo.
Nessa época, escrevia cerca de duas a três cartas por dia para o Dr. Fliess,
independentemente das respostas. Para Freud, eram momentos de muitas questões que não
haviam sido pensadas antes, como: a questão do sonho; o que é um aparelho psíquico; como
ele se organiza; como se estrutura. Extremamente inventivo, produtivo, Freud passava de doze
a dezesseis horas diárias em seu gabinete, atendendo pacientes e dedicando-se a estudos,
pesquisas, correspondência.
1900, ano da publicação do livro “A Interpretação dos Sonhos”, deixou marcas
profundas na cultura ocidental e representa a revolução paradigmática produzida por Freud,
tirando o homem do centro de sua própria consciência, da mesma forma que Copérnico tirou a
terra do centro do universo, Darwin tirou o homem do centro da criação e Marx tirou o homem
do centro de sua própria história, dizendo que o homem é o resultado dessa história. A noção
de inconsciente configura a ruptura de Freud com a epistemologia hegemônica do século XX.
Para Freud, o sonho é revelador de como funciona o psiquismo humano e ele
considera o sonho como a via régia para o inconsciente; é o guardião do sono; é uma formação
do inconsciente que está diretamente relacionada ao desejo; é um regus (semelhante a uma
carta enigmática). O sonho acaba sendo uma espécie de matéria-prima privilegiada na teoria
freudiana, a partir da qual o grande mestre vai aprimorando suas lições. A interpretação dos
sonhos é a via de acesso ao conhecimento do inconsciente, que produz suas formações: os
sonhos, os lapsos, os atos falhos, os esquecimentos, os chistes, o sintoma. Por definição, o
inconsciente é inapreensível e o que dele se pode apreender são suas formações.

Com aproximadamente cinqüenta anos de idade e fumante inveterado, Freud


desenvolveu um câncer na mandíbula; fez várias operações e teve que colocar uma
prótese. Seu médico fala que, em alguns momentos Freud pensou que tal câncer
poderia estar ligado ao fato de ele falar sobre problemas de fundo psíquico, onde o que
está em questão é o inconsciente; aquilo que não pode ser manifestado e que acaba

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interferindo no corpo. A psicossomática é mais ou menos contemporânea a essa época,


embora Freud não se tenha dedicado exclusivamente a essa questão.
No desenvolvimento de sua teoria, abandonando o método catártico, Freud
mostrou a ocorrência de uma situação específica, a transferencial; aprofundou o uso do
método da associação livre e assinalou a ocorrência do recalque.Tal estudo levou-o a
adotar o conceito do inconsciente, inicialmente compreendido como a consciência, da
qual nada se conhecia. Para compreender a origem dos sintomas, Freud foi levado,
cada vez mais, à história do paciente, chegando aos primeiros anos de vida, isto é, à
infância. Dessa forma, descobre a sexualidade infantil, novidade que enfrentaria a
barreira dos preconceitos humanos, despertando indignação e contestação. Seguiram à
revelação da sexualidade infantil, o reconhecimento das fantasias, das teorias sexuais
infantis, o desejo, as fases de evolução da libido, sonhos e um trabalho mais detalhado
sobre o tratamento psicanalítico.
Freud dizia que no projeto da criação não foi contemplado o fato de o homem
ser feliz. Os que mais sofrem são aqueles que querem a felicidade ferrenhamente. A
infância não é feliz; é um período sofrido, segundo Freud porque se está no caminho da
construção do aparelho psíquico e se entra no mundo do desejo, que é prazer e
desprazer.
A essas alturas, a Psicanálise, cujo eixo central é a questão do inconsciente,
junto com a sexualidade e a prática psicanalítica, gozava de interesse e credibilidade.
Bleuler e seu assistente Jung, em Zurique, estavam adquirindo vivo interesse
pela Psicanálise. Em 1908, publicaram o Anuário de Pesquisas Psicanalíticas e
Psicopatológicas.
À época, o assunto ainda provocava uma série de controvérsias, e isto tornou o
grupo de psicanalistas mais coeso. Em 1910, em Nuremberg, na Alemanha,
constituíram-se, por proposta de Ferenczi, em uma Associação Psicanalítica
Internacional, que sobrevive até os nossos dias, tendo como primeiro presidente Jung.
As observações sobre as neuroses de guerra colaboraram sobremaneira para o
crescimento da credibilidade da psicanálise, bem como para torná-la mais popular e
conhecida.

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Freud denominou segunda fase o período a partir de 1907, tendo ele


desempenhado papel de destaque na esfera do narcisismo, teoria das pulsões e da
aplicação da psicanálise às psicoses. O Complexo de Édipo se revelava cada vez mais
claramente como o núcleo das neuroses.
Desde que formulou a hipótese sobre a existência dos dois instintos (Eros e
Thanatos) e desde que propôs a divisão da personalidade mental em um ego, um
superego e um id (1923), os interesses de Freud voltaram-se para os problemas
culturais e é ele próprio quem diz: "não prestei outras contribuições decisivas à
psicanálise". Os processos encontrados nos textos seguintes que são "O mal estar na
civilização" e o "Futuro de uma ilusão", são os mesmos, colocados novamente numa
fase mais ampla.
O inventor da Psicanálise acredita que estes estudos despertaram uma
simpatia mais forte por parte do público do que propriamente a Psicanálise, que foi
muito combatida na época, apesar de terem se originado dela.
São de Freud as palavras "não pode haver mais dúvida alguma de que ela (a
Psicanálise) continuará: comprovou sua capacidade de sobreviver e de desenvolver-se tanto
como um ramo do conhecimento, quanto como um método terapêutico".
Nas “Cinco Lições de Psicanálise”, escreve: para o Psicanalista “não existe nada
insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em
toda parte onde, habitualmente, ninguém pensa nisso; está até disposto a aceitar causas
múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se
satisfaz plenamente com uma única causa psíquica.” (Obras Completas -1970- p. 36 – vol. XI).

Em 1938, fugindo do nazismo, Freud foi para Londres. Suas três irmãs, ao
contrário, morreram no campo de concentração.
Apesar dos 83 anos de idade e da doença, Freud ainda trabalhava; atendia
pacientes, mas sofria com muitas dores e sua filha, Anna, concedeu ao médico que o
atendia permissão para que aplicasse dose excessiva de morfina. Assim morreu o
inventor da Psicanálise, a 23 de setembro de 1939, aos 83 anos, em Londres, na casa
onde hoje é um museu que conta com seu divã, parte de sua biblioteca, suas
antiguidades, funcionando como guardiões da história da Psicanálise.
Bibliografia
Obras Completas – Vol. XI

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Revista Percurso nº13, do Instituto Sedes Sapientiae, em 1994, “Epistemologia e Psicanálise : o


Estatuto do Sujeito”.
“Três Ensaios sobre uma teoria sexual” - Freud
Anotações das aulas ministradas pelo professor Tácito , no Curso “Infância, Psicanálise
e Educação”, no Lepsi – USP- 2002.
SOBRE A INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA

Por Manuel Bulcão

14/05/2004

Muita gente pensa (e a autoridade de Popper tem reforçado muito esse pensamento) que a investigação
psicanalítica é um trabalho feito nas coxas e que as idéias subjacentes à psicanálise servem tanto para
explicar tudo quanto para justificar qualquer baboseira que se apresente a título de explicação. "Grosso
modo", seria assim: o psicanalista observa o jeitão do paciente, realiza com ele uma ou duas sessõezinhas
de livre associação, analisa dois ou três sonhinhos e, sem perder mais tempo, tasca um diagnóstico na
cara do infeliz. Depois disso, fica só tentando convencer o pobre do analisando da absoluta verossimilitude
da sua interpretação, valendo-se para tanto (e como técnica de imunização à crítica) da própria teoria
psicanalítica. Ou seja, se o paciente aceita o diagnóstico, está provada a sua validade, mas se o contesta,
tal recusa não passa de uma "denegação" que, no fundo, é confirmação. Se o paciente tenta contra-
argumentar de uma forma mais complexa, tadinho, está ele apenas "racionalizando"; e se de repente
apresenta um comportamento inusitado que aparentemente não fecha com o diagnóstico, prontamente o
analista o interpreta como o começo de uma "formação reativa". Em síntese, "cara eu ganho, coroa você
perde" e assim será sempre.

Não duvido que muitos psicanalistas realizam esse tipo de análise "selvagem" (a incompetência e a
presunção arrogante são mesmo endêmicas em "todas" as profissões), mas essa idéia negativa que se tem
da psicanálise é tão simplista quanto a pior interpretação psicanalítica, e ambas têm em comum o fato de
encerrarem os mesmos equívocos, sendo o principal deles o fato de que tanto o mau analista quanto o
cético mal informado — porém de boa-fé — acreditarem que, segundo a psicanálise, "todo" pensamento e
comportamento humanos não passam de manifestações superficiais de processos mentais não só
inconscientes como essencialmente libidinosos. Ora, isso é reducionismo vulgar ou, da parte dos críticos,
uma redução à caricatura. Tal idéia, além de estranha à psicanálise, vai de encontro aos seus princípios e
objetivos; pois, se assim fosse, o tratamento psicanalítico não seria apenas difícil: seria impossível,
totalmente inviável. Se se admite que a terapêutica psicanalítica é potencialmente eficaz, deve-se admitir
também que a consciência não é um epifenômeno, mas um mecanismo de retroalimentação e controle
(feedback) que pode ser reforçado por meio da análise. O objetivo da psicanálise como terapia é fazer com
que "o que antes era id doravante seja ego" (Freud); é induzir o paciente a vencer suas resistências de
modo que, "ciente" dos conflitos que o dilaceram, possa então resolvê-los por meio da "razão". Essa meta
assenta-se numa pressuposição: a de que, em inúmeras circunstâncias, é possível uma pessoa pensar e
agir de uma forma totalmente racional, sem a influência da libido, obedecendo a critérios realistas e
sabendo que pode errar. Freud, em seu ensaio "O Homem dos Lobos", escreveu: "estamos acostumados a
rastrear o interesse por dinheiro ‘na medida’ em que é irracional e libidinoso em sua natureza", no entanto,
"presumimos que as pessoas normais mantenham as suas relações com dinheiro totalmente livre de
influências libidinais e que as regulem de acordo com considerações realistas." (Sobre a história de uma
neurose infantil)

A própria decisão do neurótico de procurar um tratamento doloroso é, na maioria dos casos, uma atitude
“lúcida”, isto é, uma deliberação fundada na razão e na realidade. Aliás, os psicanalistas admitem que um
dos traços que distinguem o neurótico do psicótico é a capacidade que o primeiro tem de “desconfiar” dos
seus delírios, de considerar alguns de seus atos como “absurdos” ou mesmo “irracionais” e, por
conseguinte, de proferir julgamentos críticos e autocríticos válidos. E se ele é capaz disso, então não se
pode deixar de reconhecer que muitas das objeções do analisando às interpretações feitas, longe de

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constituírem um mecanismo de defesa (denegação) que indiretamente confirma as conjecturas do analista,


na verdade são discordâncias “razoáveis” que devem ser consideradas. Ora, se é possível que algumas
contestações do paciente sejam refutações válidas e consistentes e não meros sinais de resistência (aliado
ao fato de que também os assentimentos do analisando podem não ser o que parecem ser, como bem
ilustra o firme “pois sim!” dos nossos irmãos portugueses), então é natural que a suspeição de engano e
falsidade também recaia sobre as interpretações do psicanalista. Peter Gay, em seu livro “Freud para
historiadores”, afirma que “uma conjectura inicial no decurso de uma análise, uma espécie de predição
oculta de que este é o padrão que a análise irá revelar, pode mostrar-se simplesmente insustentável à luz
da exposição de mais material clínico”. (Ed. Paz e Terra; 2a. edição; págs. 71/72). E Freud, no seu ensaio
“Sobre a psicanálise selvagem” — uma crítica aos diagnósticos feitos às pressas e imprudentemente —, é
direto e lacônico: “às vezes nós interpretamos erradamente e jamais estamos em posição de descobrir
tudo”.

Como se vê, a própria psicanálise estabelece que “nenhuma conjectura proposta por um psicanalista é
infalível ou absolutamente certa”, o que significa dizer que as próprias regras do método determinam que
“todo” resultado a que se chegue através deste método encerra a possibilidade de ser falso.

Decerto que o fato de uma hipótese ser potencialmente falsa não quer dizer que ela seja “falseável”. Para
que o seja, é necessário que haja um critério de falsificação. No caso em questão, qual seria ele?

De acordo com a técnica psicanalítica, há uma maneira razoavelmente segura de distinguir uma
discordância válida de uma denegação que revela apenas resistência, e também de discernir uma postura
ativa (como a altivez de quem tem sólida auto-estima) de uma formação reativa (exemplificada por aquela
arrogância que não é senão a fachada compensatória de um sentimento de inferioridade). Segundo Freud,
a pedra de toque estaria, primeiro, na “medida excessiva” das emoções presentes nos pensamentos e
atitudes do analisando, no tamanho da excitação irracional, na grandeza da desproporção entre a energia
gasta e a racionalmente necessária. Mas não só nisso, pois, como ressaltou Peter Gay, entre os
comportamentos normais “há lugar para uma indignação ou para uma admiração apaixonada”, de sorte que
“onde há fumaça, nem sempre há fogo”. Para que a intensidade do afeto seja um indicativo sólido de que
se está diante de um estratagema defensivo, ela deve ter também um “caráter compulsivo”, ou seja, é
preciso que se apresente de forma persistente e reiterada, como “padrão” comportamental e de um modo
tal que o paciente, a despeito de todo esforço consciente, mostre-se incapaz de dissolvê-lo ou de se
desembaraçar dele.

Em prol desse discernimento, também vale observar se há ou não contradição reiterada entre intenção e
resultado, entre linguagem verbal e a não-verbal ou corporal, além do que é mister estar sempre atento às
manifestações neurovegetativas — de difícil controle pela consciência — que acompanham o pensamento
e a ação.

Essa maneira de avaliar o comportamento humano não é uma invenção de Freud. É algo que, numa versão
grosseira, sempre integrou o bom senso das pessoas. Por haver muita competição nas comunidades em
que vivemos, a evolução nos muniu com uma forma de raciocínio, denominado por Charles S. Peirce de
“raciocínio por abdução”, mediante o qual tanto armamos tramas contra nossos semelhantes como
desmontamos aquelas feitas contra nós. Trata-se de uma forma de elaborar juízos que se desenvolveu na
esteira da dialética malandro-otário. A propósito, o termo “abdução” relaciona-se ao fato de que, nesta
modalidade de raciocínio, os atos e julgamentos possíveis de quem cogita figuram como premissas
(realmente, é preciso ter malícia para enxergar maldades veladas).

Acresce dizer que, se somos capazes de enganar os outros para auferir vantagens, também somos
capazes de enganar com as melhores das intenções (às vezes mentimos para um amigo apenas para
erguer o seu moral) e, também, de cometer auto-enganos deliberados. Afinal, numa batalha, o guerreiro
que não vacila é aquele que “reprime” o medo e age como o mais valente dos mortais. Ademais, para que
uma idéia se converta eficazmente em ação, é necessário alijar da consciência qualquer pensamento que
suscite dúvidas. E quando somos muito dependentes de uma pessoa (econômica e/ou emocionalmente),
convém esconder de nós mesmos as lembranças muito ruins que temos dela e o intenso ressentimento
associado a essas recordações. Tal auto-engano deliberado é, a princípio, uma virtude. Mas o que é um

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vício a não ser um excesso de virtude? Da mesma forma que o sistema imunológico, os mecanismos de
defesa do ego, até uma certa medida, são úteis à sobrevivência (do indivíduo, do grupo, dos genes). Por
outro lado, assim como o sistema imunológico pode voltar-se contra o próprio organismo e dar origem a
doenças auto-imunes, os mecanismos de defesa também podem ocasionar efeitos tóxicos, mortificantes,
como é o caso dos sintomas neuróticos.

Tanto o conhecimento da natureza baseado no senso comum quanto o conhecimento científico-natural


valem-se dos raciocínios por indução e por dedução. E, conforme indicamos acima, quando o objeto a ser
investigado é a intenção e o comportamento humanos, o senso comum também faz uso do “raciocínio por
abdução”. Deve as ciências do homem e mais particularmente a psicologia humana negligenciar esta última
forma de raciocínio? Obviamente que não. Pelo contrário, às ciências humanas interessa que esse tipo de
raciocínio seja tratado da mesma forma que Aristóteles tratou a dedução e Francis Bacon a indução, ou
seja, é preciso dedicar ao processo abdutivo de raciocínio todo um capítulo da “Lógica”. Em outras
palavras, é importante estudá-lo, esquematizá- lo, depurá-lo das idiossincrasias individuais para que essa
técnica que empregamos pré-conscientemente (de uma forma antepredicativa, intuitiva) se converta num
instrumento de análise cientifica.

Agora, voltemos ao que Popper disse a respeito da psicanálise. Em seu livro “A Lógica da Investigação
Científica”, o filósofo afirma estar convencido de que existe um mundo inconsciente e que as análises dos
sonhos de Freud são fundamentalmente corretas. Diz inclusive que a obra “A Interpretação dos Sonhos” é
um grande sucesso. No entanto, nega à psicanálise o estatuto de ciência por se tratar de uma teoria
irrefutável; pois, segundo suas próprias palavras, “não se pode dar qualquer descrição, seja qual for, de
qualquer comportamento humano LOGICAMENTE POSSÍVEL (o grifo é meu) que se mostre incompatível
com as teorias psicanalíticas”. (O Conhecimento Objetivo; Ed. Itatiaia; pág. 336)

Trocando em miúdos, se o paciente age de uma maneira “A”, isso comprova a interpretação psicanalítica. E
se age de uma maneira inversa (“não-A”), isso também confirma o diagnóstico. Ora, vimos que as coisas
não são bem assim. De acordo com a psicanálise, um ato de negação do analisando nem sempre é um
“sim” camuflado, e se é possível discernir uma recusa lúcida de uma denegação reativa, jamais podemos
saber “com absoluta certeza” se discernimos corretamente, uma vez que, mesmo depois de caracterizada
como um mecanismo de defesa, a denegação do paciente pode de repente vir a se apresentar sem
sobrecarga emocional e sem compulsão, o que lançaria uma dúvida razoável sobre o resultado da
investigação psicanalítica. Por conseguinte, contrariamente ao que supunha Popper, a psicanálise admite
comportamentos humanos LOGICAMENTE POSSÍVEIS capazes de refutar não só interpretações
aventadas no decorrer da análise como até mesmo o diagnóstico final.

Diga-se a bem da verdade que Freud, muitas vezes em suas experiências clínicas, deparou-se com
comportamentos humanos capazes de refutar inclusive segmentos importantes do seu ‘corpus’ teórico. E
sua atitude diante desses casos não foi a de um oráculo decidido a demonstrar que qualquer coisa que
aconteça está, no fundo, de acordo com suas proferições. Ao contrário, quando percebia não haver mais
meios plausíveis de salvar a teoria, não vacilava em abandoná-la mesmo que isso lhe custasse muito. Foi
assim que, em setembro de 1897, Freud renunciou definitivamente à sua “teoria da sedução”.

Enfim, a experiência clínica revelou-lhe que, em contraste com esta teoria, muitas das lembranças
reprimidas dos pacientes são, na verdade, memórias fictícias, ou melhor, “fantasias”, e que são
fantasmáticas — isto é, distorcidas pelos desejos conflituosos do doente — mesmo quando baseadas em
traumas reais. A capitulação resignada aos fatos e o pesar da renúncia estão presentes numa de suas
cartas endereçadas a Wilhelm Fliess, a chamada “Carta do Equinócio”. Nessa missiva, Freud escreveu:
“Não acredito mais em minha neurótica (...) Eis-me obrigado a ficar sossegado, permanecer na
mediocridade, fazer economia, ser atormentado por preocupações. ( ...) Rebeca, tire o vestido, você não é
mais a noiva”. (A ironia é que, atualmente, a crítica mais consistente do ceticismo cientificista à psicanálise
é a que tem por foco a teoria da sedução.)

Ao contrário do que afirmam seus detratores, Freud não foi um intelectual inflexível, falacioso e que
buscava no material clínico apenas confirmações de suas hipóteses. Em outros termos, a teoria
psicanalítica não é a extensão de um ego narcisista para o qual o “argumentum ad hoc” funciona como

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estratagema de defesa. Para o fundador da psicanálise, a experiência é uma autoridade que ora confirma,
ora refuta. Mas, por não ser um empirista ingênuo, mantinha uma postura cética — mas nunca
‘irracionalmente’ cética, como é comum entre os seus opositores — tanto frente às confirmações como
diante das refutações. Foi com esse ceticismo metódico que Freud ergueu o seu edifício teórico. “A história
da psicanálise” — escreveu Peter Gay — “é, nas suas quatro primeiras décadas, em grande medida, a
história de Freud modificando os seus pontos de vista sobre a estrutura da mente, sobre a ação
terapêutica, sobre a natureza dos instintos, sobre a sexualidade feminina e sobre a ansiedade”.

De resto, quanto à teoria da repressão e do recalque (que, para Freud, é a pedra angular da psicanálise),
além das muitas observações e experiências realizadas no âmbito da própria clínica, corroboram-na
também vários testes experimentais feitos com base em outras técnicas: sugestão pós-hipnótica, testes
projetivos, entrevistas controladas e aqueles executados com instrumentos de precisão como o
taquistoscópio, a tomografia computadorizada, etc. Há, por exemplo, os testes realizados no começo do
século passado pelo psicólogo austríaco Herbert Silberer, o experimento de Saul Rosenzweig (British
Journal of Psychology, nr. 24, 1934, p. 247-65), o de Jerome Bruner e Leo Postman (1947), o de Michel
Anderson e Collin Green (2001) e o recente experimento de M. Anderson e J. Gabrielli (2004) em que se
fez uso da ressonância magnética funcional.

Claro que não se trata de provas terminantes, conclusivas. São provisórias, como o são os resultados de
quaisquer testes experimentais. E não é correto exigir da psicanálise o que nem mesmo a ciência mais
dura poder fornecer

5-CORRENTES PSICANALÍTICAS

(Reproduzimos o texto do SINPESP, que analisa muito bem as correntes


psicanalíticas na palavra do renomado Prof. Zimerman )
No mês de abril tivemos a honra de recebermos o Prof. Davi Zimerman no Simpesp. Na
ocasião ele falou sobre O MOMENTO ATUAL DAS PSICOTERAPIAS
PSICANALÍTICAS. Comentou que a essência dos ensinamentos de Freud está
conservada, mas com inúmeras modificações na prática. Propõe que encaremos o
momento atual como o da aurora, momento de integrar os opostos de noite e dia.
Lembrou o início do seu trabalho com a hipnose e a descoberta importante daí
derivada, de que “existia um mandamento no fundo da mente”, algo ficou lá por dentro
dando ordem. Dentro deste cenário surge o superego, como uma censura interna fruto
dos personagens que vão ficando incorporados no nosso interior, mas que tem um lado
bom. Propõe uma nova metáfora, a do iceberg, onde a parte visível é o consciente e a
grande parte submersa é o inconsciente, as zonas ocultas da mente, onde “os titanics
se espatifam”. Zimmerman recomenda guardar esta regrinha – tudo o que é bom,
porém em sendo demais, já deixa de ser bom, já entra no campo da patologia. Isto vale
para o narcisismo, antes visto como negativo e hoje como necessário no sentido de
orgulho pelo que realizamos. O mesmo acontece com a inveja que empurra a pessoa
para a realização, estimula a vontade de ser igual. Até mesmo a percepção do amor
maternal passou por revisões a partir da Psicanálise, uma vez que se reconhece o
malefício trazido pelo excesso, provocando uma infantilização do filho e o risco de
torná-lo impotente frente aos desafios da vida.

Um outro ponto levantado é a questão da “má fama da Psicanálise”. Zimerman propõe


desmistifica-la. Explicar ao paciente que existe um inconsciente cheio de escuridão a

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que ele não tem acesso e a nossa proposta de botar um pouco de luz na obscuridade
na mente. In = dentro de sight luminosidade dentro de.◊= luminosidade Fala também da
grande descoberta de Freud sobre o papel dos sonhos como mensagens em código de
tudo o que se passa no inconsciente. Alerta para o cuidado com interpretações mais
estereotipadas dos símbolos e propõe que sempre é preciso ver o que a pessoa quer
dizer ou associar com uma imagem que aparece no sonho: “A coisa é o contexto – é
conversar com o paciente.” Zimerman fala que Freud está em parte está superado,
porque não saiu do Édipo. Reconhece que ele foi até camadas mais primitivas,
incluindo o conceito de narcisismo, mas não há como negar que a cultura e os valores
mudaram. Recorre à metáfora de uma árvore que tem raízes fortemente plantadas no
chão e que formam um tronco, que dá galhos, ramos, que, por sua vez dão folhas, e
flores, que deixam cair novas sementes. Os ramos representam as novas escolas, que
lançam as sementes dos futuros.

Zimerman fala de 7 correntes psicanalíticas:

1. Escola de Freud, que trabalha basicamente a repressão e a proposta de trazer para


o consciente o que está preso no inconsciente por ser desprazeroso, como se fosse
“socar no fundo do poço o que não é agradável”.

2. Escola da teoria das relações objetais – Melanie Klein, Ferber. Objetos são pessoas
que entram pra dentro da gente, podem ser boas ou más. Klein falda de uma inveja
primária (inveja do seio da mãe). Os fatos que são penosos, que a criança quer negar,
ela dissocia, como se despedaçasse e projeta no outro, o que Klein denomina
identificação projetiva.

3. Escola da Psicologia do Ego, que começou com Hartmann e que aborda as funções
da mente – atenção, concentração, pensamento, juízo crítico.

4. Escola da psicologia do Self de Hans Kohut;

5. Escola estruturalista francesa de Jacques Lacan, que propõe um tempo da castração


simbólica que interfere no tempo de sessão. Zimerman diz aprendeu em Lacan que o
inconsciente não é só fonte de pulsões e repressões e que o discurso dos pais, o
desejo dos pais vai entrando no inconsciente da criança.

6. Winnicott

7. Bion - entrou com o conceito de contemporaneidade. Fala de um campo analítico,


onde analista e paciente estão se influenciando reciprocamente, interagindo: “2
pessoas igualmente angustiadas, porém espera-se que uma menos que a outra.”
Zimerman fala que a Psicanálise tem 3 gênios, que trazem um novo paradigma: Freud

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(foi inventar que a criança tinha fantasias sexuais); Klein, que recuou no tempo e
percebeu que desde recém-nascidas já tinha fantasia e reações e Bion com a idéia de
campo analítico.

Fala da análise contemporânea e do processo de avaliação mútua. 1º a comunicação, a


entrevista inicial para equacionar as coisas É preciso avaliar a reserva de capacidades
positivas.Lembra de que existe uma criança dentro de si não está dando conta do
projeto adulto. Soterrado sob uma massa de neurose, psicose, existe uma criança que
quer ter o direito de nascer e viver. Revê conceitos que antes eram vistos como
negativos: a contratransferência, também tem seu lado positivo, bem como os actings,
atualmente entendidos como tendo valor semelhante ao sonho.

Na Psicanálise contemporânea temos o pensar. Ora pensa contra o pensamento do


outro (histérico), o passivo que não pensa. Oram pensam patinando em torno do
mesmo lugar (obsessivos), ora pensa evitando (fóbicos), pensa orbitando o próprio
umbigo (narcisista). Ajudar o paciente a saber pensar – é juntar pedaço com outro
pedaço. Isto forma um setting, a partir da figura do analista que vai além das
interpretações. É um momento sagrado para o paciente, um espaço onde vai poder
reproduzir as experiências mal resolvidas

Finalmente fala da patologia do vazio, onde existem carências, temos que suprir
complementar, preencher vazios. A análise é um momento sagrado para o paciente, um
espaço onde vai poder reproduzir as experiências mal resolvidas. Hoje a transferência é
vista como uma necessidade de repetição, onde o paciente mostra as carências dele.
Para finalizar, alinha-se mais uma vez com Bion, chamando de crescimento mental o
resultado da análise. Opta por falar em término de uma análise, mas não cura, pois a
vida continua mudando e trazendo outros contornos

AVALIAÇÃO ELABORAR UMA RESENHA SOBRE A DISCIPLINA MINÍMO


3 PÁGINAS (O QUE VOCÊ ENTENDEU DA DISCIPLINA)

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