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Junguiana

v.35-2, p.23-36

Escolha profissional na meia-idade:


Psicologia e individuação

Marcia Aparecida Lopes Amorim Silva*


Simone Rodrigues Neves**

Resumo Palavras-chave
Esta pesquisa propõe-se a investigar o senti- Universitários,
do da escolha pelo curso de Psicologia em alunos educação,
na segunda metade da vida, tendo como referen- Psicologia,
meia-idade,
cial teórico a psicologia analítica, proposta por
individuação.
Carl G. Jung. Observando o número significativo
de alunos universitários no curso de Psicologia
entre 40 e 55 anos e compreendendo que nes-
ta etapa do desenvolvimento humano ocorrem
transformações e questionamentos existenciais
profundos, buscamos entender a vivência dess-
es estudantes, os determinantes da escolha,
as expectativas e o projeto de vida. Assim, nos
apoiamos numa pesquisa qualitativa fenome-
nológica realizada com seis alunos de Psicologia
* Psicóloga pela Faculdade Pitágoras de Uberlândia. História
matriculados em uma instituição particular na
pela Universidade Federal de Uberlândia. Especialista em cidade de Uberlândia. Optamos pela entrevista
Gestão de Trabalhos Pedagógicos e Psicanálise e Educação.
Professora de História na rede Municipal e Estadual de Ensino. aberta e, posteriormente, procuramos identificar
E-mail: <marcia.ppsi@gmail.com> as unidades de significado apresentadas. Veri-
** Psicóloga pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre em
Medicina Social pela USP/Ribeirão Preto. Especialista em Psicologia ficamos que os fatores que influenciaram a es-
Clínica Analítica pela Unicamp/IPAC. Professora do curso de Psico-
logia e da Pós-graduação da Faculdade Pitágoras de Uberlândia.
colha pelo curso de Psicologia correlacionam-se
E-mail: <sipsineves@gmail.com> com o processo de individuação. ■

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Escolha profissional na meia-idade: Psicologia e individuação

1. Introdução tos, ações e dos acontecimentos da sua vida”


(HUGHES, 1958 apud MAGALHÃES, 2005 p. 69).
Eu não queria ser doutor, eu só queria Com respeito aos indivíduos que se encon-
ser... (BARROS, 2003) tram na meia-idade, é comum que passem por
uma reavaliação quanto à sua carreira, questio-
As pessoas que se encontram na faixa etária nando suas opções iniciais que, por vezes, se-
entre 40 e 60 anos fazem parte de um segmento guiram o curso em atender às expectativas dos
de mercado de trabalho que historicamente in- familiares e às necessidades de sobrevivência.
tegra a população economicamente ativa e têm Manoel de Barros nos ilustra o desafio de assu-
uma representatividade significativa, devido à mir o chamado vocacional poético da sua alma
experiência profissional. O cenário contempo- na seguinte situação:
râneo reflete mudanças no comportamento das
pessoas na meia-idade, em relação ao trabalho Hoje eu completei oitenta e cinco anos.
e a carreira. O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião
Com o envelhecimento da população brasi- escrevi uma carta aos meus pais, que mo-
leira, verifica-se que a força produtiva dos idosos ravam na fazenda, contando que eu já deci-
tem aumentado significativamente. Esses dados dira o que queria ser no meu futuro. Que eu
sugerem que as pessoas irão trabalhar por mais não queria ser doutor. Nem doutor de curar
tempo e vivenciarão os desafios e oportunida- nem doutor de fazer casa nem doutor de me-
des oferecidas pelo exercício profissional, inclu- dir terras. Que eu queria era ser fraseador.
sive a mudança de carreira no meio da trajetória. Meu pai ficou meio vago depois de ler a car-
Na meia-idade, a mudança de carreira pode ta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria
estar associada ao processo de desenvolvimen- ser fraseador e não doutor. Então, o meu ir-
to do indivíduo, representando o encontro com mão mais velho perguntou: Mas esse tal de
novos significados a trajetória de vida. Nesse fraseador bota mantimento em casa? Eu não
momento, faz-se necessário rever o legado fami- queria ser doutor, eu só queria ser fraseador.
liar, os valores culturais e a tirânica competição Meu irmão insistiu: Mas se fraseador não
econômica, que são elementos importantes no bota mantimento em casa, nós temos que
momento de escolha da carreira. botar uma enxada na mão desse menino pra
O termo carreira sofreu, ao longo da história, ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça
inúmeras interpretações, de acordo com as ques- um pouco mais. O pai continuou meio vago.
tões econômicas e sociais. Pode ser definida Mas não botou enxada. (BARROS, 2003, VII).
como a trajetória profissional e deverá ser rein-
ventada de tempos em tempos, à medida que A vocação para a poesia se manifestou bem
o indivíduo e o ambiente mudarem (QUISHIDA, cedo na vida de Manoel, mas as imposições da
2009). Em termos psicológicos, a carreira pode família sustentadas em uma realidade de sobre-
ser considerada um processo contínuo de busca, vivência concreta questionam o sonho e o dese-
construção e renovações de significado. Subjeti- jo do jovem poeta.
vamente, uma carreira é a “perspectiva mutante Muitos são aqueles que seguem o curso da
através da qual o sujeito vê a sua vida como um vida mantendo um status previamente determina-
todo e interpreta o significado dos seus atribu- do, enquanto outros buscam resgatar um sonho

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antigo e/ou ampliar o sentindo da vida, abrindo Este momento é marcado por “inquietações”
caminhos para outras possibilidades, a fim de relacionadas ao processo de desenvolvimento
não “viver o entardecer da vida de acordo com o interno que se confronta com as conquistas al-
programa de seu amanhecer” Jung (2000, p. 166). cançadas em fases anteriores.
Além disso, Quishida e Casado (2009) asse- Nesta fase, são comuns questionamentos de
guram que na meia-idade o indivíduo se volta dimensões existenciais que demandam respostas.
para aspectos que antes estavam inconscientes, A busca de sentido da vida e a ressignificação de
tais como desejos que não puderam ser realiza- valores são questões que marcam o início desse
dos anteriormente. A energia psíquica, anterior- processo, no qual costuma mobilizar uma “crise de
mente aplicada a adaptações ao ambiente exter- meia-idade”. Isso que Jung vai denominar de me-
no, tais como o exercício profissional, família e tanoia, referindo-se ao momento de grandes trans-
participação na comunidade, passa a se centrar formações e mudanças que leva o indivíduo adulto
na interioridade visando a autorrealização. a “olhar para dentro” e reconhecer que “aquilo”
Como parte desta busca por um significado e que não foi vivido não poderá mais sê-lo, pois o
realização pessoal e profissional, e/ou o resgate tempo não retorna (SCHWARZ, 2008).
de um sonho, encontram-se os cursos de gradu- O meio da vida, se é que se sabe o que é o
ação e, dentre estes, o curso de Psicologia. meio, está cheia de paradoxos. É a fase em que
Este estudo se justifica pela mudança de in- alguns indivíduos vivenciam turbulências emo-
teresses que os indivíduos nesta faixa etária têm cionais, causada por situações de dúvidas e an-
apresentado em relação ao trabalho e a carreira. siedades, ao colocar em xeque os valores que
Apesar de a meia-idade ser uma fase marcada serviram de direcionamento e sustentação à sua
por transformações no que se refere ao trabalho vida até o momento; ao mesmo tempo, criam-se
e carreira, verifica-se ainda uma carência em pes- possibilidades para que novas oportunidades
quisas na área do desenvolvimento humano nes- possam emergir, mudando a direção do percurso.
sa faixa etária. Muitos buscam, nesse momento, De acordo com Papalia et al. (2010), o termo
uma segunda formação acadêmica, ou a primeira, meia-idade é um constructo social, surgido no iní-
na busca de ampliação das possibilidades profis- cio do século XX, com significado peculiar para cada
sionais. Esse trabalho buscou investigar o sentido cultura. Em termos cronológicos, pode ser definido
da escolha pelo curso de Psicologia, em alunos pelo período etário entre 40 e 65 anos, marcado por
na segunda metade da vida. O caminho escolhido diversas mudanças físicas e psicossociais.
para desenvolver o presente estudo foi a pesqui- As transformações biológicas nessa fase evi-
sa qualitativa fenomenológica. denciam o processo natural do envelhecimento
Para tanto, optamos pela entrevista aberta do ser, porém, em nossa cultura, envelhecer
tendo como pergunta disparadora: “Fale-nos so- está associado a uma representação negativa
bre a sua vivência como estudante de Psicolo- de diminuição de produtividade e decadência.
gia na fase atual da sua vida”. Os depoimentos Segundo Hillmann, o “pensar” ocidental con-
foram gravados e transcritos, e, posteriormente, temporâneo sobre a duração da vida “tem sido
procurou-se identificar unidades de significado emboscado num ‘idadeísmo’ depreciativo – um
apresentadas em forma de títulos. conceito de classificação que relega todos os
idosos a uma categoria com limites definidos”
2. “Não vou me adaptar”: (HILLMANN, 2001).
construindo um novo caminho Os problemas emocionais experienciados
O estranhamento de si e o sentimento de não nesta fase da vida, ou seja, relacionados à cri-
ter percebido o tempo passar atravessam o su- se da meia-idade, dito comumente, têm sido
jeito que transita pela segunda metade da vida. largamente estudados pelas ciências psicoló-

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gicas, devido ao significado atribuído ao enve- ses, desenvolvendo a capacidade para tolerar
lhecimento. Geralmente tem-se a perspectiva as ambiguidades que existem no nosso mundo
de que o indivíduo entra num período crítico da interior e no mundo que existimos.
vida, marcado pelas ideias de declínio e finitude. A autora descreve ao final do texto que reen-
Nesse momento o sujeito se vê diante de duas contra a sua criança perdida, essa é um “menino
cruciais possibilidades: viver de forma inautên- lobo grunhindo”. Em uma perspectiva da Psi-
tica, negando as marcas de sua existência, ou cologia Simbólica, podemos considerar que a
assumir a responsabilidade pelo modo com que criança citada no poema, é a representação da
construiu sua existência, vivendo a angústia ge- criança primitiva arquetípica, protegida no plano
rada por suas escolhas. Adélia Prado, no poema da inconsciência, que “clama” por ser reconhe-
Salve Rainha, reflete sobre a angústia do enve- cida e integrada à consciência. Dessa forma, as
lhecimento e a consequente finitude da vida: características de Sênex (velho) e Puer (infan-
til) deverão ser integrados. Conforme propõe
A melancolia ameaça [...] Hillmann, a alma não é nem jovem nem velha,
Chorando seus casamentos é ambos. Sênex e Puer são polaridades comple-
vejo mulheres que conheci na infância mentares de um mesmo arquétipo: “[...] atrás de
como crianças felizes. tudo isso há uma divisão arquetípica entre puer
A vida é assim, Senhor? e senex, começo e fim, temporalidade e eterni-
Desabam mesmo dade” (HILLMANN, 1998, p. 21).
pele do rosto e sonhos? Na perspectiva junguiana, um ganho da me-
Não é o que anuncio tanoia é a possibilidade de ampliação da cons-
- já vejo o fim destas linhas, ciência de si mesmo a partir da integração das
isto é um poema - tem ritmo, experiências vividas.
obedece à ordem mais alta Partindo de sua própria experiência, Jung (2001)
e parece me ignorar. conclui que a segunda metade da vida seria o mo-
Me acontecem maus sonhos: mento de desenvolver os aspectos que permane-
A casa tem uma porta, cem subdesenvolvidos na primeira fase da vida
Casa-prisão, paredes altas, adulta, levando a uma grande transformação da
cômodos estreitos. personalidade, através do contato do ego com os
Chamo pelo homem, ele já se foi, aspectos irracionais e sombrios da psique. A per-
quem se volta é um negro, sonalidade está destinada à individuação, assim
indiferente. como o corpo físico a envelhecer, como elucida:
A criança que se perdera,
ou deixei perder-se de mim, A individuação é uma tendência natural
é um menino-lobo, de desenvolvimento psíquico, direciona-
eu a encontro grunhindo, da pelo Self, centro unificador da perso-
com um casal velho de negros [...] nalidade [...] Individuação, portanto, é um
(Prado, 2007, p. 13) processo de diferenciação, tendo por meta
o desenvolvimento da personalidade indi-
O poema destaca a dor do não vivido, as per- vidual. Esse processo inicia-se na infância
das, a “queda” da pele e dos sonhos e a desa- e tornar-se-á evidente a partir da segunda
celeração da vida, que agora segue o ritmo mais metade da vida do homem (2001, p. 267).
lento, obrigando o sujeito, na lentidão de seus
passos, a encontrar um sentido profundo para Silveira (1997), ao se referir ao processo de
sua vida e a abandonar antigos valores e interes- individuação, enquanto expressão do desen-

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volvimento humano, que marca, sobretudo, a 3. “Uma vida não basta apenas ser
segunda metade da vida, define: “O caminho vivida. Precisa também ser sonhada”
que leva o indivíduo a confrontar o inconsciente (QUINTANA, 2003)
e consciente pode ser longo, pois não se trata A contemporaneidade, tecnicamente mais
de um ‘desenvolvimento linear, mas de um mo- eficiente, movida pelo incentivo ao individu-
vimento circunvolução, para chegar a um novo alismo e por um discurso consumista, exibe
centro psíquico - o Self’” (SILVEIRA, 1997, p. 77). sua fragilidade quando não consegue acolher
Jung alerta que esta é uma tarefa complexa e exi- integralmente o homem em sua condição de
gente; um processo contínuo e não um objetivo desamparo. A valorização cultural da jovia-
a ser alcançado. lidade e da beleza estética e a negação da
No início da vida, o indivíduo se encontra finitude e do envelhecimento surgem alicer-
num estado de totalidade indiferenciada; pos- çadas no materialismo, no qual o reconheci-
teriormente através das vivências integradas mento social passa pelo consumismo e pela
na dinâmica psíquica – consciente e incons- acumulação de bens. Logo, “envelhecer se
ciente, a personalidade se desenvolve rumo a tornou vergonhoso, tido como desleixo, fa-
diferenciação e unidade. As realizações obtidas zendo com que o indivíduo que vive essa
na primeira metade da vida estão relacionadas transição da vida adulta para a velhice tenha
às exigências impulsionadoras do ego, que im- um sentido de morte simbólica pela ameaça
pelem o sujeito a se ater às necessidades ex- ao sentido de pertença à sociedade” (FÄR-
ternas, assumindo papéis sociais produtivos e BER, 2012, p. 14). Dessa forma, a crise dessa
socialmente aceitos. fase é demarcada por uma negação social do
Na segunda metade da vida, o indivíduo ini- processo de envelhecimento.
cia um novo processo de desenvolvimento inter- Os objetos e valores com os quais o homem
no em direção à integração e ao desenvolvimento contemporâneo se relaciona são descartáveis e
subjetivo, não sendo mais a sua existência regi- frágeis em significados. Assim, este padece pela
da pelos princípios de outrora. Nesse momento, racionalidade e pela perda da criatividade sim-
o indivíduo é convidado a atender ao clamor de bólica. Essa forma superficial de se relacionar é,
sua vida interior, questionando o significado da por vezes, traduzida por perturbações psíquicas
vida, indagando-se se não haveria algo a mais a e desequilíbrios orgânicos.
ser conquistado: Jung (2008), ao escrever sobre “o homem e
seus símbolos”, alerta que o homem “racional”,
[...] Para o jovem constitui quase um peca- no seu processo de civilização, apartou a consci-
do ou, pelo menos, um perigo ocupar-se ência “das camadas instintivas mais profundas
demasiado consigo próprio, mas para o da psique humana, e mesmo das bases somá-
homem que envelhece é um dever e uma ticas do fenômeno psíquico” (p. 60). Essa cisão
necessidade dedicar atenção séria ao seu acarreta em prejuízos significativos para o pro-
próprio Si-mesmo. Depois de haver es- cesso de individuação.
banjado luz e calor sobre o mundo, o Sol Vale ressaltar que a individuação, enquanto
recolhe os seus raios para iluminar-se a si potencial humano, não ocorre passivamente,
mesmo (JUNG, 2000, p. 167). pois o desenvolvimento do indivíduo se dá no
plano simbólico, e como tal, não há garantia do
Porém, o indivíduo terá como desafio con- que vai acontecer. A luta por tentar romper as
frontar-se com as exigências de uma sociedade barreiras das imposições sociais pode gerar um
frenética e massificante, em contraponto as suas descontentamento pessoal. A pessoa situa-se,
necessidades internas. desta forma, diante de um problema paradoxal,

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por um lado, inserida numa sociedade que pre- experiência simbólica de passagem e renas-
coniza uma cultura de consumo massificada, cimento para outro lugar de posicionamento
onde se consome tudo, desde objetos à ideolo- existencial.
gia, sugerindo uma falsa identificação entre indi-
víduo e sociedade, enquanto, por outro lado, há 4. Método
o desejo em diferenciar-se. Neste estudo, optou-se pelo método qua-
Como bem observou Jung, o processo de litativo de coleta de dados numa perspectiva
individuação é um caminho de diferenciação fenomenológica, pois atenderia melhor ao ob-
psíquica, a partir da integração dos conteúdos jetivo da pesquisa, em virtude de apresentar
inconscientes da psique. Logo, o indivíduo é consistência e legitimidade em estudos cien-
inquirido a entrar em contato com os velhos tíficos que enfatizam a experiência vivida do
padrões, levando-o a olhar para dentro, em di- homem, principalmente quando não é possível
reção ao sentido da própria existência. Nesse explicá-la por uma relação de causa e efeito ou
movimento se torna imperativo assumir a res- conceitos previamente estabelecidos (OLIVEI-
ponsabilidade por suas escolhas que frequen- RA; CUNHA, 2013).
temente podem levar à mudanças na vida, re- Trata-se de um estudo exploratório que
estruturando o modo de estar no mundo, os utilizou depoimentos gravados e transcritos
valores, as prioridades, a carreira, os relaciona- posteriormente, com a finalidade de se obter
mentos, enfim, tudo que não oferece significa- uma diversidade de percepções sobre o tema.
do à existência. Segundo a literatura disponível, Oliveira &
Entretanto, as escolhas exigem, o reconheci- Cunha (2008); Triviños (1987); Minayo (1993),
mento das imagens arquetípicas inconscientes as pesquisas qualitativas de caráter explora-
como potenciais a serem atualizadas, através tório estimulam os entrevistados a pensar,
da experiência individual. escrever e falar livremente sobre algum tema,
Na segunda metade da vida, surge o impe- objeto ou conceito. Elas fazem emergir aspec-
rativo de romper com a tirania egoica, pois o tos subjetivos e atingem motivações não ex-
indivíduo será despertado por um desejo mais plícitas, ou mesmo não conscientes, de forma
intenso de se tornar uno e indiviso. Faz-se im- espontânea. Tal metodologia mostrou-se coe-
portante entender, conforme propõe Hollis rente com uma interpretação sustentada teo-
(2011) que neste estágio da vida é preciso ricamente pela Psicologia analítica proposta
aprender morrer simbolicamente para não mor- inicialmente pelas autoras.
rer em plena vida. A pesquisa foi realizada no primeiro semestre
A pessoa na meia-idade, atendendo às exi- do ano de 2012, com alunos do curso de Psicolo-
gências externas e internas, vivencia a expe- gia, em uma faculdade particular localizada em
riência arquetípica de morte e renascimento. Uberlândia, Minas Gerais.
Esta fase demanda vivências ritualísticas de Primeiramente, foi feito um levantamento
passagem e iniciação, pois insere o indivíduo dos alunos que se encontravam na meia-ida-
em uma nova realidade psíquica, mais ampla, de, entre 40 e 60 anos, aproximadamente.
que podem ser alcançados através de “rituais” Após esse levantamento (Quadro 1), foi feito o
de morte e renascimento, tão importantes e convite de participação na pesquisa e realiza-
necessários nos momentos de transição que da uma explicação sobre esta, a fim de conse-
encontramos pela vida, por se tratar de uma ne- guir voluntários que se dispusessem a partici-
cessidade psíquica (GIMENEZ, 2009). par da coleta de dados.
O ingresso na universidade após os 40 Foi escolhida a entrevista aberta para cole-
anos é uma oportunidade de vivência de rica tar dados, por seu caráter de valorizar a descri-

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Quadro 1. Identificação dos estudantes de meia-idade.

Nº de Alunos(as) 8
Feminino Masculino
Sexo
5 3
Casado(a) Divorciado(a) Solteiro(a)
Estado Civil
4 2 2
Nível superior Primeira formação superior
Escolaridade Inicial
5 3
Faixa Etária 40 a 57 anos

ção verbal dos entrevistados para a obtenção Feitas as transcrições, iniciou-se a organi-
de informações com relação às experiências zação dos dados e o procedimento de análise
que estão expostas. Para tanto, foi-lhes dirigi- destes, seguindo a trajetória fenomenológica, a
da uma questão norteadora: “Fale-nos sobre a descrição, a redução e a compreensão.
sua vivência como estudante de Psicologia na Seguindo o critério de sigilo dos colaboradores
fase atual da sua vida”. Os depoimentos fo- na pesquisa, seus nomes foram preservados, sen-
ram gravados e transcritos posteriormente, e do utilizados nomes fictícios para identificar o en-
procurou-se identificar unidades de significa- trevistado quando necessário. Tendo como critério
do, sendo buscadas suas convergências, diver- para identificação o período que está cursando e a
gências e idiossincrasias. idade, do menor para o maior (Quadro 2).

Quadro 2. Identificação dos colaboradores.

SEXO IDADE PERÍODO


Pedro Masculino 45 2º
Marina Feminino 47 2º
Elza Feminino 54 2º
Júlio Masculino 45 4º
Clara Feminino 42 5º
Arnaldo Masculino 48 7º
Ana Feminino 57 7º
Luiza Feminino 45 8º

5. Resultados e discussões passos propostos pela Técnica de Elaboração e


Para o exame dos resultados foi utilizado o Análise de Unidades de Significado.
método da análise de conteúdo, que consiste Como resultado da pesquisa, foram identifi-
numa ferramenta para compreensão da cons- cadas as seguintes unidades de significado, as-
trução de significado que os participantes ex- sim apresentadas: 1. Crise criativa: a formação
teriorizaram no discurso. Na elaboração das em Psicologia enquanto sentido e significado
análises de significados foram seguidos os três existencial; 2. Reavaliando escolhas: a angústia

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com a passagem do tempo e o exercício da pro- A maioria dos entrevistados revela o que es-
fissão; 3. A busca pelo curso por valores altru- tudos apontam sobre a questão de mudança de
ístas; 4. A crise de transição: a angústia com a carreira na segunda metade da vida (Jung, 2012);
passagem do tempo versus o aumento da expec- (Hollis, 2011), que está relacionada, muitas vezes,
tativa de vida; 5. As limitações cognitivas impos- ao confronto crítico e criativo com os eventos que
tas pela idade versus ganhos com a experiência. impulsionaram a primeira escolha. Movida por
uma energia criativa, vem a compreensão dos mo-
5.1 Crise criativa: a formação em tivos e significados de ter deixado para trás aqui-
Psicologia enquanto sentido e lo que realmente gostaria de fazer. Jung (2000,
significado existencial p. 165) em sua obra “A natureza da psique” diz
O tema de convergência, que primeiro se que “[...] o vinho da juventude nem sempre se cla-
destacou, refere-se a uma crise criativa e de uma rifica com o avançar dos anos; muitas vezes até
escolha permeada por investimento afetivo. Para mesmo se turva”. Isso certifica de que o indivíduo
os entrevistados, a ideia de cursar Psicologia faz
traz consigo um impulso para a individuação, e
parte de um projeto de vida, presente em suas
todos nós teremos de lidar com isso em nossas vi-
vidas desde a juventude, quando estes tiveram
das, tendo de escolher em permanecer nas situa-
que optar por outras profissões que lhes propor-
ções já conhecidas e confortáveis, ou enfrentar os
cionariam meios de sobrevivência:
riscos de experienciar algo novo ainda não vivido.

A Psicologia sempre foi uma área de in-


teresse... tenho a Odontologia como pro-
5.2 Reavaliando escolhas: a angústia
fissão, mas que não me satisfazia total- com a passagem do tempo e o ex-
mente, não estava feliz com que estava ercício da profissão
fazendo. E daí ficando mais velha... pensei A experiência de estar na segunda metade da
se não fizesse agora (referindo-se ao cur- vida leva o indivíduo a questionar o seu tempo,
so de Psicologia) não faria mais (Clara). como sugere esta unidade. Essa questão surge
nas falas dos entrevistados de forma antagôni-
Eu escolhi fazer a Psicologia como primei-
ca, apontada, por um lado, como elemento an-
ra opção de curso ainda na adolescência,
gustiador e, por outro lado, como possibilitadora
só que por ‘N’ razões eu não fiz e fiz o cur-
de experiência:
so de Educação Física (Luiza).
Estar fazendo Psicologia é resultado de [...] eu gostaria de ter tempo para me dar
anos de terapia. Fiz Letras e agora surgiu mais ao que gosto, que é o estudo... Vejo
a oportunidade de fazer o curso (Marina). que de expectativa é ampliar minha for-
mação não somente intelectual (Arnaldo).
Foi percebido o quanto o processo de decisão
passa por situações que envolvem eventos de na- [...] vejo que não posso mais perder tem-
tureza socioeconômicas e culturais, como também po. Mas meu tempo é agora e eu quero
a percepção que se tem sobre o curso e a reali- aproveitar o possível (Marina).
dade. Porém, os entrevistados relatam que, ape-
sar de os fatores externos limitarem e, em alguns A contemporaneidade é marcada pela acele-
momentos, determinarem a escolha profissional, ração do tempo, em descompasso com o ritmo
a força da mobilização interna da escolha primeira individual e subjetivo. “Tudo é temporário”, isto
permanece acessa, consciente ou não, aguardan- é, as instituições, quadros de referência, estilos
do o momento oportuno para sua manifestação. de vida, crenças e convicções mudam antes que

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tenham tempo de se solidificar em costumes, tais como status e dinheiro; preocupação com as
hábitos e verdades (BAUMAN, 2005). necessidades alheias mais do que com ambições
O imediatismo do dia a dia não possibilita pessoais e apreciação empática. Um estudo reali-
contemplar o que foi realizado, O tempo, nesse zado com 146 alunos no primeiro ano do curso de
sentido, emerge como elemento coercitivo, po- Psicologia, em duas universidades do estado do
dendo provocar sentimentos de angústia e in- Rio Grande do Sul, procurou interpretar, o perfil
satisfação. Conforme reflexão de Pedro: “[...] A do estudante de Psicologia. Os resultados apre-
gente pensa muito quando formar o que vai fazer sentaram como motivos da escolha da Psicologia
como vai fazer... é a questão do tempo. Quando como profissão: o desejo de ajudar, a busca de
eu estiver formando, estarei com 50 anos”. crescimento pessoal, o fascínio pelo conhecimen-
Embora os entrevistados revelem uma pre- to psicológico e a busca de competência interpes-
ocupação com o tempo cronológico, externo soal (MAGALHÃES et al., 2001).
e sequencial, como se este fosse seu algoz, A fala dos entrevistados nos asseguram isso,
principalmente, quanto ao exercício da profis- o que nos levou à terceira unidade de significa-
são, existe um desejo de poder gozar do tem- do: a busca pelo curso por valores altruístas, po-
po presente, pois ele aponta possibilidades dendo ser observada, por exemplo, no discursos
de realização de projetos, de produção, como de Elza e Arnaldo:
estabelece Clara: “Como a gente tem a questão
da idade né?... a gente não tem muito tempo... [...] Eu trabalhei como voluntária durante
ainda tem a questão da casa, dos filhos, e as muito tempo [...] esses projetos a nível
outras ocupações, para mim é... é muito caro [sic] de pessoa voluntária, como psicólo-
estar aqui... [referindo-se à faculdade].”. A fala ga voluntária, esse é um projeto que eu
da entrevistada afirma a ideia de um tempo quero fazer, mas não é um projeto que eu
criativo, dando-se conta de que a grande am-
tenho vaidade de estar falando (Elza).
bição do momento é a própria realização. Na
segunda metade da vida, a energia psíquica [...] pretendo também atuar em alguns seg-
constela a regência de Kairós, o tempo irregu- mentos sociais, uma ONG talvez, para levar
lar, interno, qualitativo e oportuno, marcado a Psicologia mesmo para aqueles que não
pela fluidez e criatividade. tenham condições necessárias para fazer
uma consulta particular (Arnaldo).
5.3 A busca pelo curso por
valores altruístas Percebe-se que a escolha pelo curso de Psi-
A Psicologia se caracteriza como um tipo de cologia, para os entrevistados, está relacionada
profissão voltada às questões sociais, isto é, a um engajamento social e uma relativa despre-
possui aspectos de altruísmo, cuidado, confian- ocupação com recompensas financeiras. Impor-
ça e cooperação. Logo, podemos supor que se tante destacar que esses indivíduos já possuem
trata de um curso que atrairá indivíduos que se outras fontes de renda e, possivelmente, por esse
identifiquem com esses aspectos. motivo, o retorno financeiro não seja prioridade.
Várias pesquisas, como Bedford, Bed- A ambição, para eles, nesse momento, está as-
ford, 1985; Holmstrom, 1975; Kadushin, 1976; sociada a realizações internas mais profundas.
Polansky, 1959; Rosenberg, 1957; Rutheford, A possibilidade de mudança social relaciona-se a
1977 (apud Magalhães et al., 2001), procuraram atitudes pessoais. Nesse sentido, o investimento
demonstrar isso, ao concluir que pessoas envolvi- em uma carreira profissional como a Psicologia
das em profissões de ajuda possuem como carac- implica um processo de tomada de consciência e
terísticas a desatenção às recompensas externas, transformações pessoais constantes.

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5.4 A crise de transição: a angústia envelhecer e aproveitar melhor esta fase caracte-
com a passagem do tempo versus o rizada por momentos valiosos de introspecção.
aumento da expectativa de vida/As lim- Cabe considerar que cada fase da vida tem suas
itações cognitivas impostas pela idade restrições e prazeres: quanto maior a consciên-
versus ganhos com a experiência cia de si mesmo, melhor o indivíduo vivenciará a
Os participantes dessa pesquisa apontaram etapa da vida em que se encontra. Como bem as-
que a vivência como estudante de Psicologia, severa Jung (2000, p. 416), “não podemos viver a
tarde de nossa vida segundo o programa da ma-
nesta fase da vida, é uma atividade prazerosa,
nhã, porque aquilo que era muito na manhã será
e eles se revelaram muito motivados. Contudo,
pouco na tarde, e o que era verdadeiro de manhã
a queixa mais comum se refere a um sentimento
será falso no entardecer”. As falas dos entrevis-
de letargia, sendo a experiência de vida um faci-
tados revelam que o processo de individuação
litador do aprendizado, como podemos conferir:
vivenciado, quando percebem que o tempo pre-
sente é o momento oportuno para apropriarem
A gente pensa muito quando formar, o que
da sua própria história, integrar as experiências
vai fazer [...]. Também tem a questão que a
anteriores e transformar as exigências externas e
gente fica um pouco mais atrás dos colegas
os complexos emocionais em competências e re-
mais jovens. [...] As teorias, as abordagens,
alizações pessoais. Tal movimento relaciona-se
o curso... é... a gente vai direcionando a
ao abandono da fantasia de imortalidade e à
maneira de pensar, e ver as pessoas de
onipotência presente nessa fase da vida. O reco-
forma diferente, pensar de forma diferen-
nhecimento das próprias limitações, que muitas
te... Está sendo muito bom para mim. Mas
vezes é demarcado por crises e sentimentos de
a experiência ajudou um pouco... é muito desilusão, pode ser mobilizador de “renasci-
bom... (Pedro) mentos” por meio de novos projetos de vida.

As mudanças cognitivas, que ocorrem nessa 6. Considerações finais


fase, não são regras válidas para todos os indi- Com a ampliação da expectativa de vida,
víduos que chegam a esta fase da vida, pois é as pessoas na meia-idade têm questionado
preciso levar em conta os aspectos culturais e os seus valores, buscando alternativas para lidar
hábitos de vida adotados no decorrer da história de forma mais realista com as questões cotidia-
das pessoas. Além disso, destaca-se também a nas, desenvolvendo estratégias para fazer suas
maneira com que esse sujeito enfrentará essas escolhas e se apoderando da responsabilidade
mudanças, as quais determinarão os resultados, da própria vida. Paradoxalmente, o sentido da
que poderão ser positivos ou negativos. Com res- meia-idade relaciona-se ao envelhecimento,
peito a essas discussões, vejamos a fala da Luisa: fenômeno esse associado, por um lado, a inse-
gurança, lentidão e improdutividade em uma so-
Eu sinto a diferença de quando eu fiz minha ciedade voltada a uma busca frenética de uma
primeira graduação pela maturidade com “eterna juventude”, incentivando um padrão de
relação a esta que estou fazendo agora. Eu vida infantilizado. Por outro lado, verificam-se
acredito que estou aproveitando mais a fa- indivíduos mobilizados pela própria energia psí-
culdade e os conteúdos pela minha experiên- quica, a rever os valores e escolhas realizados
cia de vida, pelo conhecimento que eu tenho. em momentos anteriores da vida. A crise, que
ainda hoje é percebida como algo negativo, Jung
É importante que o ser humano saiba viver já apontava, em meados do século passado,
distintamente as fases de sua vida, para saber como sendo uma transição necessária e arquetí-

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pica, como parte da condição humana capaz de Os possíveis ganhos de maturidade deste
mobilizar os indivíduos a buscarem transforma- estágio da vida deverão então ser considera-
ções profundas e significativas. dos como marcas fundamentais do processo
Por meio deste estudo, procurou-se explorar de individuação.
os motivos que levaram pessoas, que se encon- O que este trabalho desvela é apenas
tram na segunda metade da vida, a escolher o uma pequena faceta do fenômeno estudado,
curso de Psicologia. Para tanto, propôs-se uma que foi analisado e compreendido a partir de
revisão bibliográfica que contemplasse a esco- uma atitude fenomenológica. Sob a perspec-
lha de carreira, a meia-idade e as discussões em tiva da compreensão sobre a segunda fase
torno dessas temáticas numa perspectiva da Psi- da vida, este estudo colabora para elucidar
cologia Junguiana. sobre o desenvolvimento dessa etapa, como
Verificou-se, por meio das entrevistas realiza- também compreender motivos subjetivos
das, quais os fatores que influenciaram na esco- da escolha do curso de Psicologia. Torna-se
lha pelo curso de Psicologia e quais deles foram essencial que os pesquisadores do desen-
mais relevantes, preponderando questões de volvimento humano se empenhem na cons-
cunho existencial. Esses indivíduos esperam tri- trução de conhecimentos e práticas contex-
lhar uma nova trajetória de vida profissional, mo- tualizadas que possam ajudar os indivíduos
bilizados pela necessidade de se apropriarem do a compreenderem os conflitos vivenciados e
que realmente são e integrarem experiências an- terem suporte para tomar decisões de manei-
teriores com novas aprendizagens. Eles relatam ra consciente.
que a aprendizagem acadêmica nesse momento Há muito o que se pesquisar neste campo.
da vida relaciona-se à busca de um novo senti- Sugere-se, por exemplo, em estudos futuros,
do, atendendo a exigências mais internas e in- verificar o contexto de atuação dessas pessoas
dividuais. Dessa forma, a escolha, mostra-se em após terem concluído o curso e seu espaço de
consonância com o processo de individuação, atuação. Enfim, o tema é instigante e convida a
proposto por Jung, como um movimento natural reflexões e debates. ■
e espontâneo do desenvolvimento psíquico e di-
recionado pelo Self, centro unificador da psique. Recebido em: 15/08/2017 Revisão: 13/11/2017

Abstract

Professional choice at middle-age: psychology and individuation


This research seeks is to investigate the mean- these students’ experience, the determining choice
ing of the election of the Psychology graduation factors, their expectations and life projects. We sup-
course by middle-aged students, having Carl G. ported our analysis on a phenomenological quali-
Jung’s analytical psychology as theoretical frame of tative research conducted with six Psychology stu-
reference. Having observed the significant number dents enrolled in a private university in Uberlândia.
of undergraduate Psychology students aged 40 to We used an open interview and, later, identified the
50, and understanding that this stage of human de- meaning units presented. We verified that the influ-
velopment is marked by transformations and deep ential choice factors for the course were related to
existential questions, we sought to understand the individuation process. ■

Keywords: Undergraduates, education, Psychology, middle-age, individuation.

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Resumen

Elección profesional en la mediana edad: psicología e individuación


Esta investigación propone buscar el sentido antes, los determinantes de la elección, expecta-
de la elección del curso de Psicología por parte de tivas y proyectos de vida. Nos apoyamos en una
alumnos en la mediana edad, teniendo como ref- investigación cualitativa fenomenológica realiza-
erencial teórico la psicología analítica, de Carl G. da con seis alumnos de Psicología matriculados
Jung. Observado el significativo número de alum- en una institución privada en Uberlândia. Opta-
nos universitarios cursando Psicología entre los mos por la entrevista abierta. Luego, buscamos
40 y 55 años, y comprendiendo que en esta etapa identificar unidades de significado presentadas.
del desarrollo humano ocurren transformaciones Se verificó que los factores que influenciaron la
y cuestionamientos existenciales profundos, se ha elección del curso de Psicología se relacionan con
buscado comprender la vivencia de estos estudi- el proceso de individuación. ■

Palabras clave: Universitarios, educación, Psicología, madurez, individuación.

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