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A PSICOTERAPIA

A psicoterapia é uma ferramenta que possibilita a expansão da qualidade de vida a todos os


níveis – não simplesmente no campo das psicopatologias individuais, mas também nas
dificuldades de relacionamento interpessoal e até mesmo nas questões existenciais mais
profundas e relevantes para o indivíduo. Assim, a psicoterapia poderá ter uma duração
variável consoante o caso específico a que se destina. Quanto mais precoces forem os
traumas, maior for desorganização psicológica e mais sérios forem os problemas vinculares,
mais prolongada deverá a ajuda psicoterápica prestada ao paciente. Pode ser que em certos
casos a psicoterapia se venha a revelar um apoio indispensável para o resto da vida.

O investimento na psicoterapia tem-se comprovado como vantajoso, mesmo na dimensão


económica, reduzindo a necessidade de internamento e medicação.

Um dos contributos mais significativos da psicoterapia foi trazer à luz a relação mente-corpo
na formação das doenças, ainda disponibilizando ferramentas para atuar na causa psicológica
das enfermidades.

Para que o processo psicoterapêutico se desenrole de forma positiva, é fundamental que se


contrua uma relação saudável com um profissional idóneo, quer técnica, quer eticamente. O
âmbito da psicoterapia é atuar ao nível dos vínculos entre seres humanos, pois é a qualidade
dessa vinculação que influencia diretamente a saúde a todos os níveis, e o sucesso em geral na
vida do indivíduo. Pode até dizer-se que a psicoterapia é, na verdade, um processo de
florescimento de um ser que se procura resolver e recriar.

Os principais benefícios da psicoterapia podem ser enunciados da seguinte forma:

1. A partilha do problema, em si, já representa um potencial alívio.


2. A relação terapêutica cria uma vinculação que favorece a cura.
3. O processo conduz a uma reflexão transformadora.
4. Obtém-se uma perspetiva diferente de um Outro que alarga a compreensão.
5. O psicoterapeuta possui um saber que se traduz na competência de apoiar a mudança
positiva.
6. Este profissional tem aptidões investigativas que lhe permitem sondar os aspetos mais
inacessíveis da personalidade, de onde emergem os sintomas.
7. O psicoterapeuta é um catalisador da transformação profunda pelo
autoconhecimento, auxiliando a compreender a repetição de padrões disfuncionais do
passado.
8. O profissional treinado na psicoterapia auxilia o analisando a conscientizar-se dos
aspetos inconscientes que se manifestam no fenómeno da transferência para o
analista.
9. Traumas do passado podem ser integrados.
10. O psicoterapeuta passou pelo próprio processo transformador, através do qual
conheceu e resolveu as dores que pretende ajudar o paciente a curar.

Uma nota deve ser feita a um relevante psicoterapeuta e autor, Stanley Keleman, um dos
grandes pioneiros da psicanálise bioenergética Reichiana nos estados unidos. Segundo
Keleman, a história de vida do indivíduo fica registada nos padrões somáticos: a forma, a
estrutura, a postura, o movimento e a expressão do corpo. As características morfológicas
somáticas revelam, assim, as vivências mais significativas e marcantes do indivíduo. Dada a
estreita conexão existente entre o psiquismo e o corpo, Keleman supôs que, influenciando
esses padrões somáticos, também poderia precipitar a libertação das cargas emocionais
traumáticas associadas à caracterologia específica do indivíduo. Na abordagem de Keleman,
ocorre assim uma dialética transformacional em que ambos os agentes – psicoterapeuta e
paciente – interagem numa silenciosa, porém significativa, linguagem corporal. Nessa
linguagem se expressam as formas somáticas que o paciente poderá transferir para o
psicoterapeuta, semelhantes a figuras significativas do seu passado infantil.

O terapeuta deve basear a sua atuação em certas estratégias fundamentais, a saber:

1. Identificação com os sentimentos do paciente. Pode conhecer dentro de si os estados


da pessoa que está a acompanhar, através de um processo de empatia que passa pela
colocação no lugar do outro.
2. Compreensão do seu papel para com o outro – a forma como a sua presença é
complementar ao trabalho de transformação pessoal a realizar pelo paciente.
3. Consciência e utilização do fenómeno da contratransferência, sabendo extrair da
relação com o paciente uma aprendizagem sobre os seu próprio passado, emoções e
dores por resolver.
4. Perceção da alteridade do outro – tomando-o como ser único, diferenciado, partindo-
se da identificação para chegar à experiência de uma verdadeira
separação/individuação.

No processo de vinculação com o paciente, o terapeuta apercebe-se dos sentimentos que este
desperta no seu íntimo, e assim ter uma ideia do tipo de respostas emocionais a que tem sido
exposto ao longo da vida. Uma vez na posse desta conscientização, ele pode conter essa
reação que seria suposta, e reeditar a história relacional do paciente: por um lado
confrontando-o com as emoções que tende a despertar nas pessoas, por outro lado ajudando-
o a alterar esses padrões de relacionamento.

Na medida em que o terapeuta precisa de caminhar nesta dialética juntamente com o


paciente, pode acontecer que se chegue a um impasse terapêutico pelo facto de o indivíduo
que exerce a psicoterapia ter atingido um bloqueio pessoal que espelha a dificuldade atual do
analisando. Assim podemos dizer que a terapia é um desafio de crescimento também para o
próprio terapeuta.

Quero citar este excerto da apostila referente ao módulo 9, que me marcou e resume o
fenómeno transformador da psicoterapia:

“A terapia é uma incubadora de processos formativos.”

O PROCESSO PSICANALÍTICO

Na apostila é referido o cuidado que se deve ter relativamente à analisabilidade do indivíduo,


especialmente quando se verifica a Contratransferência Negativa Imediata. Na minha opinião,
o psicanalista deve ter muita parcimónia em rejeitar um cliente apenas porque, tal como é
mencionado na apostila, este pode apresentar “uma postura e característica de personalidade
desfavorável à constituição do Par Analítico”. Sendo que a contratransferência é um fenómeno
extremamente rico em informação útil e suscetível de ser interpretada em favor do
desenvolvimento terapêutico, e sendo este fenómeno um potencial de crescimento para o
próprio psicanalista, acho que este deve pensar duas vezes antes de dispensar um ser humano
que busca ajuda só porque a sua linguagem corporal desperta nele uma erupção de emoções
negativas das quais deseja simplesmente fugir. Que psicanalista será esse, que se acovarda
perante uma reação emocional do Outro e discrimina um ser humano em necessidade, ao
invés de aproveitar esse desafio para se transcender? Por outro lado, admito que quando a
carga emocional negativa é excessiva, encontrando-se o psicanalista sem recursos para gerir
esse estado, o mais sensato e ético poderá ser recusar aceitar esse indivíduo como cliente a
fim de evitar piorar o sofrimento que este já traz consigo.

Outro excerto da apostila ao qual quero apresentar uma observação é este: “Só existe um
tratamento eficaz para as neuroses – Psicanálise.” É verdade que sou estudante de psicanálise
por ter firme convicção a respeito do seu potencial de cura. Mas com certeza existem algumas
das abordagens terapêuticas que sistematicamente têm dado provas inigualáveis do seu poder
transformador: Brainspotting (David Grand), EMDR (eye movement desensitization and
reprocessing – Francine Shapiro), EFT (Emotional Freedom Techniques – Gary Craig), Somatic
Experiencing (Peter Levine), Mindfulness, Havening Techniques (Ronald Ruden) e Programação
Neurolinguística (Richard Bandler e John Grinder), apenas para cintar algumas. Certamente
que devo admitir que muitas destas técnicas, nos momentos cruciais da cura, vêm-se forçadas
a tomar emprestadas certas técnicas de base psicanalítica, e todas estas abordagens se verão,
cedo ou tarde, obrigadas no decurso do tratamento, a pautarem-se pelo modelo topográfico
(1ª tópica) e estrutural (2ª tópica) para interpretarem o material que vai emergindo. Mas
recentremo-nos no estudo da nossa ciência psicanalítica, por agora.

Mais adiante na apostila parecem-me bastante sensatos os critérios de analisabilidade da Dr.ª


Zetzel, que basicamente postulam que o paciente deve ser capaz de tolerar a frustração da
realidade enquanto conserva a confiança básica, e de manter uma distinção entre si e o objeto
com qual se relaciona.

O AMBIENTE IDEAL PARA A SESSÃO PSICANALÍTICA

Aqui as diretrizes são para que a decoração seja simples, neutra, evitando a ostentação. O
espaço deve ter assegurada a limpeza e arrumação com muito zelo e escrúpulo. O divã deve
ser confortável, e a cadeira do psicanalista posicionada atrás do mesmo, para que não exista
contacto visual entre o terapeuta e o paciente.

ANAMNESE

Aqui podemos obter um conjunto de informações globais do estado geral do paciente. Aqui
podemos apurar as condições de analisabilidade do indivíduo.

ENTREVISTA

Na entrevista, o terapeuta já poderá chegar à certeza de que o tratamento psicanalítico é ou


não o mais indicado para essa pessoa. O paciente é convidado a realizar uma expressão
informal e livre dos seus processos mentais, e pontualmente, de algo específico.
A entrevista deve dar primazia ao entrevistado e muito menos ao psicanalista, face a face,
influenciando-se a pessoa somente de forma não-verbal. O psicanalista regista a maior
quantidade de informação possível de forma discreta, evitando diagnosticar e objetiva-se
clarificar se o indivíduo é ou não indicado para ser analisado.

CONTRATO PSICANALÍTICO

Deve ser informal, flexível, evidenciando a responsabilidade do psicanalista, deixando claro


que todo e qualquer comportamento do paciente é objeto de interpretação.

ANOTAÇÕES

As anotações são facultativas, embora se verifiquem úteis como auxilio da memória e como
atestado de credibilidade e consideração para com o que o paciente nos comunica.

FATOR ECONÓMICO

O preço das sessões pode variar consoante o psicanalista, devendo, no entanto, manter-se fixo
logo que seja estabelecido. Em circunstância alguma as sessões devem ser concedidas
gratuitamente, para evitar a cristalização de certos complexos, e mesmo em nome da
valorização do seu trabalho do profissional.

DIVÃ

Embora deva ser considerada, em primeiro lugar, a preferência do paciente quanto ao uso ou
não deste instrumento, devemos adverte-lo das vantagens potenciais dessa opção: maior
relaxamento e acessibilidade ao inconsciente e menor interferência transferencial.

DURAÇÃO DO TRATAMENTO

Em média o tratamento psicanalítico pode durar 5 anos, e por vezes 10. Nalguns casos o
tratamento precisa ser continuado para toda a vida.

FÉRIAS

Devem ser estabelecidas de antemão, podendo coincidir com as necessidades de descanso


financeiro do paciente, o que pode reforçar a transferência e a relação de confiança.

LIVRE ASSOCIAÇÃO

A regra áurea da psicanálise é a de conduzir o paciente a efetuar uma livre associação de


ideias, a fim de trazer o material recalcado no Id à superfície da consciência, para que o Ego se
possa apropriar desse conteúdo, e elaborá-lo. Nesse sentido, é sempre necessário um período
dedicado a ensinar o paciente esta metodologia terapêutica. A livre associação de ideias deve
dar origem a um livre caudal de ideias sem preocupação lógica ou estilística, a fim de abrir
caminhos para o inconsciente.

As sessões as quais o cliente falta devem ser pagas igualmente, a fim de o responsabilizar
melhor e evitar a resistência que se tende a manifestar na evitação dos encontros com o
terapeuta. Uma vez estipulado o número de sessões semanais, também se deve recusar
propostas de aumento das mesmas, o que geralmente é motivado por afetos transferenciais. A
mudança de horários não deve ser proibida nem estimulada.

O psicanalista deve guardar as suas opiniões ou emoções sobre o paciente, apenas ajudando a
pessoa que busca o tratamento a focar-se essencialmente na análise do seu mundo interno.
Assim, o psicanalista não pretende “satisfazer” o paciente, mas estimulá-lo a vencer as suas
resistências profundas. A postura do terapeuta deve transmitir confiança sem distanciamento
ou superioridade. Os juízos críticos ou morais são dispensados na clínica psicanalítica.

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