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A psicanálise é acima de tudo a arte de superar resistências.

Na
associação livre é quando mais emerge o conflito de forças entre
o desejo de comunicar, do paciente, e a tentativa de manter
ocultos os conteúdos recalcados. Por mais doloroso que
constitua o sintoma que leva o paciente à clínica, haverá sempre
resistência a trazer à consciência aquilo que se julga sobrepujar
as capacidades de gestão do aparelho psíquico.
Podemos enumerar as várias origens da resistência da seguinte
forma:

1. A resistência tendo origem no ego inconsciente.


2. Medo da mudança (apego familiar infantil).
3. Necessidade de expiação oriunda do Superego.
4. Desejo de “vencer” o analista, resistindo à mudança
proposta.
5. Inveja, ciúmes e frustração da transferência.
6. Sadomasoquismo presente na retenção do sofrimento.
7. Tendência ao Acting Out como substituto do relembrar e
verbalizar o trauma/conflito inconsciente
8. Ganhos secundários da doença.

A atenção do analista deve ser flutuante, não seletiva,


acompanhando o paciente na sua livre associação, sem que haja
uma tentativa esforçada de relembrar. Deve-se observar o efeito
que as relações transferenciais estão a exercer nas produções do
paciente.

Cabe ao analista confrontar o paciente com as diversas formas


da sua resistência. Porém, essa intervenção não pode ocorrer
prematuramente, mas no momento em que venha a mostrar-se
significativa. Para tal, é essencial que o psicanalista se encontre
em estado de sintonia empática com o analisando, a fim de ter a
sensibilidade do momento certo para tal operação.
A análise da resistência pode sistematizar-se numa sequência de
3 perguntas especificadoras:

1. O que o paciente está a evitar?


2. Porquê o evita?
3. Como o paciente está a evitar?

Um dos grandes indicadores de emoções que se tentam ocultar,


através da resistência, é a linguagem corporal do paciente.
Medo, vergonha, tristeza ou raiva, entre outras, podem ser
denunciadas pelo comportamento não-verbal da pessoa. Uma
possível estratégia de abordar essa resistência seria questionar o
paciente sobre a possibilidade de estar a sentir a emoção que o
seu corpo parece denotar. Outro caminho possível seria
questionar diretamente o paciente sobre o tipo de afetos que ele
poderia estar a tentar esconder. A linguagem deve ser simples,
clara, objetiva e que melhor reflete o afeto que o paciente está a
sub-comunicar.

Acima de tudo, devemos ter presente que a fonte mais comum


da resistência é a situação transferencial. Isto é verdade porque o
passado conflitivo se atualiza na relação do paciente com o
analista. Os afetos infantis originais, desde há muito sujeitos ao
recalcamento, passam a ser redespertados pela experiência
relacional com o analista.

Essencialmente, o paciente procura esconder a resistência por


dois motivos possíveis: em primeiro lugar, podem ter vergonha
de reconhecer a resistência, sobretudo quando se lhe associam
medos de perda do amor do objeto e de punição; em segundo
lugar, temem a dor que implica tomar consciência do que
realmente está a ser escondido pela resistência.
Outro dos conceitos fundamentais da psicanálise, vital a que a
sua prática dê frutos, é o de Transferência. Este é o fenómeno
através do qual o paciente revive com grande intensidade os
protótipos da sua história infantil, atualizados na relação com o
analista. Essa relação é marcada por um vínculo intenso com o
terapeuta. É importante notar que o ultrapassar das resistências
é uma tarefa difícil, também porque o analista que visa ajudar
nessa operação é aquele que recebe a transferência dos desejos
originais recalcados por parte do paciente. Convém ressaltar que
essa transferência de afetos traz consigo a ambivalência
pulsional sentida pelas figuras parentais.

TRANFERÊNCIA, ID E REPETIÇÃO
Na clínica psicanalítica pode ser observado que o paciente atua
de forma infantil, como quem repete, ao invés de se lembrar, o
guião de um complexo vivido na infância remota. Essa conduta e
respetivas reações emocionais refletem o estágio onde ocorreu a
fixação à qual o paciente regrediu, motivado pela persistência do
Id em realizar desejos interditados.

Implicações da transferência na relação paciente analista


Segundo Sigmund Freud, a transferência constitui-se de
impressões que se atualizam constantemente nas várias relações
humanas e, particularmente, na relação analítica. O papel
decisivo do analista consiste em compreender em que lugar está
a ser inconscientemente colocado pelo paciente no momento da
transferência: se representa o pai, a mãe ou outra figura
significativa de amor remontante a infância do paciente. Através
do silêncio ou do ato interpretativo analista poderá elucidar o
paciente sobre esse fenómeno transferencial.
É importante termos bem presente que a transferência, sendo
uma repetição inadequada do passado, tem origem num impulso
recalcado infantil que persiste em obter a sua satisfação. 
Assim o analista deve cuidar para não propiciar uma possível
transferência amorosa reciproca.
Sendo a transferência absolutamente necessária para que o
processo de cura analítica, ela constitui-se, paradoxalmente,
como uma das principais formas de resistência à cura, já que
prenuncia a aproximação do material recalcado e do respetivo
conflito inconsciente. Conforme citado por Laplanche e Pontalis,
apesar das dificuldades que o fenómeno transferencial coloca ao
analista, este pode ser um instrumento de valor inestimável para
"atualizar as moções amorosas sepultadas e esquecidas". 
Segundo Sigmund Freud, a transferência, ao colocar o analista
no lugar de pai ou de mãe, está também a conceder a este o
poder que o próprio superego dispõe sobre o paciente. Se, por
um lado, isto permite ao analista corrigir os erros educacionais
dos pais, por outro lado também corre o risco de roubar
completamente a independência e a autonomia do paciente, que
acabaria por ficar moldado à imagem e semelhança do
terapeuta. Segundo as palavras do próprio Freud, o médico
deveria refletir, tal qual um espelho, somente aquilo que lhe é
mostrado.

Transferência Positiva e Transferência Negativa:

Na transferência positiva os sentimentos eróticos e de ternura


nutridos pelos pais do paciente agem a favor da mudança
terapêutica, corroborando o trabalho do analista. Já na
transferência negativa, os sentimentos de
hostilidade/agressividade para com os progenitores do paciente
manifestam-se, geralmente, numa resistência ao trabalho
analítico. Não é permitida ao analista a mais ténue gratificação
erótica. Todavia, este deve manter uma postura de delicadeza e
sensibilidade para com o paciente.
Neurose de Transferência:

Em todo o tratamento psicanalítico, a neurose de transferência


vem substituir a neurose clínica. Assim sendo, podemos
considerá-la uma neurose terapêutica, uma vez que é suscetível
de ser analisada e interpretada. Pelas palavras do próprio
Sigmund Freud, a neurose de transferência constitui-se como
uma espécie de "doença artificial" que está ao alcance da
influência do psicanalista. Na neurose de transferência o analista
deixa de ser uma mera testemunha e passa a ser ator.

É importante ressaltar que a utilização clínica da transferência


deve ser combinada com a regra da abstinência através da qual
se veda ao paciente qualquer satisfação substitutiva.

Outra das principais fontes de resistência é oriunda dos traços de


caráter do paciente. Sigmund Freud alertou para esta
inconveniência: muitas vezes o paciente assimilou ao seu ego o
sintoma, passando este a fazer parte da sua identidade essencial.
O paciente fixado, por exemplo, na fase anal irá ter uma conduta
opositora e altamente resistente à mudança terapêutica.

Na verdade, a análise das reações transferenciais deverá situar-


se em primeiro plano no trabalho psicanalítico, exigindo a maior
parte do tempo e do foco.

Por fim, devemos lembrar não é a transferência o único


obstáculo ao sucesso de uma análise. Outra das grandes
resistências são as reações de contratransferência do analista,
Isto é, as reações emocionais despertadas pela pessoa do
analisando.

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