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Guilherme Scandiucci
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que o produzem, de tal forma que, inconscientemente, ele se torna
simplesmente seu porta-voz” (Jung, vol.16/1).
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se este atende as demandas do paciente, corre o risco de mantê-lo
dependente por mais tempo.Assim, o trabalho do analista consiste na
interpretação dos motivos por trás de tal dependência chamada de
transferência (Jacoby, 2011).
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O fator mais complexo presente nesta representação é o eixo de relação
entre o inconsciente de P e o inconsciente de A, já que está no escuro para
ambos. É o estado definido por Jung de participationmystique. É importante
para todo psicoterapeuta saber que essa área está sempre presente, para ficar
atento para os sinais que ele tiver a respeito disso.
Por exemplo, ambos podem se tornar presas de um arquétipo (isto é, se
identificarem com ele), que juntos passam a atuar inconscientemente. Tomem
o arquétipo do curador divino. De uma forma ou outra, sempre nos infectamos
com o pedido de ajuda do paciente, e o arquétipo do curador pode já se
constelar. Queremos ajudar. Podemos exagerar ao sugerir coisas que possam
ajudar o paciente a se sentir melhor – ele deveria pintar, fazer imaginação
ativa, deixar o emprego no qual ele tem dificuldades, sair da casa da mãe, etc.
As coisas deveriam se mover, nossas sugestões deveriam iniciar uma melhora
na condição do paciente – então podemos nos sentir ajudando de uma maneira
terapêutica. Às vezes isto pode até funcionar; mas, frequentemente, não
funciona e decepção é o resultado. O analista pode culpar o paciente por não
ter a atitude certa em relação à terapia, ou ele pode se desesperar com suas
próprias capacidades como analista. O sentimento é de que ele simplesmente
não sabe ajudar o paciente. Ora, qualquer analista junguiano sabe que não é
seu trabalho curar. A ajuda só pode vir através da transformação da atitude do
paciente, do encontro de uma relação acertada com seu inconsciente. Mas,
uma vez que o analista é tomado inconscientemente pelo arquétipo do curador,
esse conhecimento pode ser usado de forma exageradamente zelosa e
prematura. A necessidade emocional de ajudar quer um escape (Jacoby, 2011,
pp.42-43).
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Sobre a questão da sexualidade presente na relação analítica, como
aponta Fordham (1974/2016, p.4), Jung concebe
[...] as fantasias sexuais mais favoravelmente como analogias relacionadas à
empatia, à adaptação e a um “impulso em direção à individuação”.[...] Aqui, o
caráter aparentemente sexual da transferência leva até uma ponte rumo a um
maior patamar de empatia, ao valor da personalidade e, deste modo, à “estrada
da liberdade”.
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real personalidade do analista parece ter sido sua particular contribuição. A
ideia de que uma ponte para a realidade pode ser feita com o objetivo de atingir
autonomia moral quando as projeções já foram reconhecidas e resolvidas,
definida mesmo em 1913 como “um impulso rumo à individuação”, é
característica e central no desenvolvimento de sua tese. Os sentidos sociais e
religiosos, morais e éticos da transferência são também muito mais importantes
para Jung do que para Freud.
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transferência”). Leitura densa e pouco penetrável para aqueles que não têm
conhecimento sobre alquimia e sobre as ideias do próprio autor – que, por
sinal, logo adverte que não é um livro para iniciantes. Mas é preciso passar por
algumas reflexões aí presentes.
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ou envergonhado sem que o analista perceba; de fato, seja lá o que possa ser
inferido a partir de seus escritos, a informação que reuni de alguns de seus
pacientes convenceu-me de que esta crítica está desprovida de
fundamentação. Então, o que devemos fazer de sua observação – porque
assim me parece – de que pacientes cuja sexualidade é analisada podem
desenvolver os mais terríveis ressentimentos e romper com a análise: isto seria
devido a um grande erro técnico? É evidente que quando ele usa a palavra
“exclusivo”, ele quer dizer que a transferência arquetípica não foi contemplada,
mas ao mesmo tempo ele não dá qualquer indicação de inveja, ciúme e
possessão que possa ser digna de nota. Se estes componentes da sexualidade
não forem contemplados, os afetos agressivos e frequentemente destrutivos
que são liberados acabam por não ser interpretados, o paciente de fato se
torna confuso e desorientado e rompe com a análise ao modo como Jung
descreve (Fordham, 1974/2016).
Contudo, Jung foi correto em um aspecto muito importante. Não é a
sexualidade enquanto descarga física, orgásmica entre dois adultos que seja o
ponto, mas, ao invés, a necessidade incestuosa de intimidade corporal e
espiritual, irrealizável por adultos por meio da carne, porque ela somente pode
ocorrer entre mãe e filho (Fordham, 1974/2016).
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defensivos e conduzir à negligência dos conteúdos afetivos que os destacam.
Em outras palavras, eles podem cegar o analista com a contratransferência
que o paciente evoca. Para prevenir seu uso defensivo, requerimentos éticos
podem ser proveitosamente colocados para se relacionarem com a parte
infantil do paciente que evoca o amor maternal do analista – mas, deve-se
acrescentar, também com toda a sua sombra. Ao fazer investigações nesta
posição, muito pôde ser aprendido na medida em que não somente o cuidado
amoroso, mas também a raiva, a irritação, a depressão, o desespero e a
desesperança podem partilhar na experiência de analisar pacientes que
demonstram elementos psicóticos em seu Si-mesmo. Se a análise não superar
estes sentimentos, eles podem ser compreendidos como indicadores de
contratransferência e, como tais, são naturais a qualquer análise radical. A
ética analítica não deve então sustentar os elementos benignos da
contratransferência – ele deve estar certo deles como um resultado da análise
–, mas compreendê-los em conjunção com suas sombras e interpretá-los no
tempo em que o paciente pode se servir de suas informações (Fordham,
1974/2016).
Referências
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JUNG, C.G. A prática da psicoterapia. Vol. 16/1. . Petrópolis: Vozes, 1988.
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