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CENTRO UNIVERSITÁRIO ACADEMIA

ANA CLARA PESSOA PENNA


LUÍSA CASTRO DE ALMEIDA

SEGUNDO TRABALHO CLÍNICA JUNGUIANA

Juiz de Fora
2022
ANA CLARA PESSOA PENNA
LUÍSA CASTRO DE ALMEIDA

SEGUNDO TRABALHO CLÍNICA JUNGUIANA

Trabalho apresentado ao Centro


Universitário Academia de Juiz de Fora
como requisito parcial a disciplina Clínica
Junguiana.

Supervisora: Paulo Ferreira Bonfatti.

Juiz de Fora
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................4

2 DESENVOLVIMENTO...............................................................................................5

3 CONCLUSÃO..........................................................................................................10

REFERÊNCIAS...........................................................................................................11
4

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo responder questões acerca de temas
trabalhados em sala de aula.
Para tal, utilizaremos de um estudo de caso, textos complementares e materiais
apresentados em aula, todos esses discutidos e trabalhados em sala de aula.
5

2 DESENVOLVIMENTO
QUESTÃO 1

Correlacionando com o estudo de caso discutido em aula analise e correlacione a


passagem de Jung que se segue:

Se, com o que estou dizendo aqui, eu estiver dando a impressão de que a
única exigência para a terapia especializada é um grande saber, estarei
pecando por omissão. A diferenciação moral da personalidade do médico
[psicoterapeuta] é tão importante quanto esse outro requisito. A cirurgia e a
obstetrícia sabem, há muito tempo, que não basta lavar o paciente: as mãos
do próprio médico têm que estar limpas. Um psicoterapeuta neurótico
tratará infalivelmente de sua própria neurose no paciente. A terapia que não
leva em conta a qualidade da personalidade do médico pode, quando muito,
ser concebida como uma técnica racional; como método dialético, porém,
torna-se impraticável, pois exige que o médico saia do seu anonimato. Em
todo caso, esta última exigência põe à prova a capacidade moral do
psicoterapeuta, o que faz com que sua profissão não seja das mais
invejáveis. O público leigo, não raro, alimenta o preconceito de que a
psicoterapia é a coisa mais fácil do mundo, resumindo-se na arte de
convencer ou de tirar dinheiro do bolso da gente. Mas na realidade, trata-se
de uma profissão difícil e perigosa. Do mesmo modo que o médico, em
geral, está exposto a infecções e outros riscos profissionais, o
psicoterapeuta está arriscado a contrair infecções psíquicas, não menos
perigosas. Assim sendo, por um lado, corre o perigo de envolver-se nas
neuroses de seus pacientes, por outro, ao procurar proteger-se contra a
influência destes sobre si, pode privar-se do exercício do efeito terapêutico.
Entre “Cila e Caribde” é que está o risco, mas também o efeito terapêutico.
(JUNG, 2017, p. 29-30)1

Correlacionando a passagem e o estudo de caso discutido em sala de aula podemos


falar sobre os perigos do trabalho de um psicoterapeuta. Nessa profissão, o
individuo está sob o risco de se envolver psiquicamente, caso ele se deixe ser
afetado pelas questões psíquicas do seu paciente. Essa situação foi discutida e
falada em sala de aula, porque somos humanos, e dessa forma é difícil não nos
afetarmos nesse processo de análise, no conteúdo que o analisando trouxe para o
processo. Também podemos pensar que algumas coisas que o paciente traz para o
processo terapêutico, podem estar ligados a acontecimentos pessoais da vida do
analista, impactando-o psiquicamente. Com isso, é importante que o analista faça
sempre supervisão e também terapia, para que ele consiga trabalhar e externar o

1
JUNG, C.G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 2017. Vol. XVI/1
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porquê desses conteúdos estarem te afetando. Assim, o analista não deixa que a
sessão seja influenciada por seu pensamento e maneira de agir e/ou de se
posicionar diante de um assunto que o impacta de uma forma e impacta o paciente
de outra.

O caso proposto e discutido em sala de aula, é sobre o caso de José e seus sonhos,
este foi relatado pelo seu analista Paulo. Este, nos conta como que se deu o
processo de análise e caminho de individuação através do primeiro sonho do
analisando, este que diversas foi mencionado durante todo o processo de análise do
paciente -que durou 3 anos e meio-. Foi através desse sonho, que o profissional foi
entendendo todo o contexto da vida do José e de que forma foram sendo feitas as
articulações de relacionamentos na sua vida para que chegasse até onde chegou
quando procurou e iniciou o processo da análise.

José estava ligado sob um feminino matriarcal que tinha um grande peso na sua
vida e nas ações que tinha, faltava em si aspectos masculinos para irem contra essa
figura feminina tão presente em sua vida. E esse complexo materno, tornava-se
ameaçador para o sujeito, que encontrou para sua vida como uma única
possibilidade amorosa o homossexualismo, que, para Jung e segundo o caso clínico
é uma das possibilidades de manifestação do complexo materno (BONFATTI, 2022).
Com isso, no contexto da análise de José, que estava enlaçado pelos fenômenos da
transferência dele com o seu analista e da contratransferência do analisa para com o
analisando em um processo dialético entre os dois, (ADLER, 1995), o analista conta
que percebeu camuflado na sua sombra um caminho que já tinha traçado de forma
idealizada por tal, para o seu analisando como solução para questões que ele tinha
trazido para a análise. Essa situação, é a passagem de Jung trazida pela questão
que se referencia sobre o setting: o setting analítico junguiano está permeado por
uma equação pessoal, na qual, não só a consciência do analista e analisando estão
em comunicação durante a análise, como também a instancia inconsciente de
ambos (ADLER, 1995). No caso em questão, observou-se a percepção dos efeitos
terapêuticos que podem surgir num setting analítico. José, encontrou finalmente um
parceiro amoroso, com o qual pudesse seguir seu processo de individuação fora do
ambiente materno e matriarcal das mulheres que permeavam suas maneiras de agir.
E com isso podemos citar o que Gerhard Adler diz sobre como que as emoções
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liberadas no analisando atravessam o analista e vice-versa, sendo todo o processo


analítico de fato dialético e a todo momento comunicativo. (ADLER, 1995).

QUESTÃO 2

James Hillman, autor junguiano, em seu livro O mito da análise2 assevera que: “As
fronteiras da alma [psique] são incertas, e o locus [espaço] do trabalho psicológico
nunca pode ser só você ou só eu, ele diz respeito a nós dois.” (HILLMAN, 1984, p.
30). Correlacionando com o estudo de caso discutido em aula analise e correlacione
essa passagem de Hillman.

A partir da citação de James Hillman, autor Junguiano, deve ser levado em


consideração a questão da transferência e contratransferência no trabalho do
analista. Quando o autor fala que as fronteiras são incertas, este diz respeito a como
no processo analítico o analista e o analisando se afetam. Podemos exemplificar isto
com o modelo relacional analítico junguiano, que explicita sobre isso, levando em
conta que os dois indivíduos em questão, estão em constante interação. Essa
interação é dada como uma vida de mão dupla, uma vez que o analista afeta o
analisando e o analisando afeta o analista, e isso ocorre não somente a nível
consciente, como também inconsciente. Portanto, para a psicologia analítica de
Jung, a transferência tem papel primordial como meio de terapia, mesmo tendo
outros instrumentos que são utilizados nessa psicologia, o fracasso ou o sucesso da
análise está relacionado à transferência. Para a psicologia analítica a transferência
traz a possibilidade de o analisando tornar consciente os conteúdos necessários
para o seu processo de individuação. É importante destacar ainda, que para além de
se mostrar como somente uma relação transferencial, existem também imagens
transpessoais e arquetípicas atuantes. Portanto, a transferência além de ter como
objeto conflitos infantis, também vai tentar trabalhar na irrupção na consciência do
substrato transpessoal, arquetípico da experiência pessoal. Além disso, como já foi
explicado um pouco do termo transferência, devemos levar em conta também a
contratransferência, que é de suma importante como o primeiro termo, considerada
um termo fundamental na teoria e prática da psicologia analítica junguiana. Em
suma, podemos dizer que a contratransferência pode ser vista como uma reação

2
HILLMAN, J. O mito da análise: três ensaios sobre psicologia arquetípica. São Paulo: Paz e Terra,
1984.
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subjetiva do analista, que surge em seu inconsciente na relação analítica. Esta, é um


instrumento inevitável nesse encontro de duas psiques, e extremamente necessária
no processo de análise. Com isso, temos o o modelo racional analítico junguiano,
citado anteriormente que tanto o analista quanto o analisando têm interação a nível
consciente e inconsciente, ocorrendo o processo dialético. Nesse processo de
interação pode-se dar tanto a contratransferência como a transferência de maneira
indesejável. Isso, podemos correlacionar com o caso clinico, onde o Paulo (analista),
depois de algumas movimentações no trabalho terapêutico, ele percebeu estar
sobre um direcionamento inconsciente de um caminho que ele idealizava para o
José, o seu analisando.

QUESTÃO 3:

No estudo de caso, analisem os fenômenos ocorridos diante das possibilidades de


abordagens dos modelos causal-redutivo e sintético-construtivo.

O modelo causal-redutivo tem por característica dividir um conteúdo psíquico em


partes, analisando cada uma dessas partes separadamente, de modo que a junção
da análise destas partes levasse a uma interpretação. Já o modelo sintético-
construtivo, utilizado na psicologia Junguiana, procura fazer uma análise inteira do
conteúdo psíquico como um todo, sem utilizar da livre associação - ou seja, no caso
de um sonho, por exemplo, não seria o ideal buscar significados para cada símbolo
que ali apareceu separadamente dos outros, mas sim compreender de que forma os
diversos símbolos, interagindo entre si, contam uma história.

No caso clínico apresentado, podemos supor a aplicação de ambos os modelos. No


primeiro sonho trazido por José, que retratava uma casa onde viviam as mulheres
da família, para onde era quase que magneticamente puxado, a análise poderia ter
sido feita se observando e interpretando cada um dos elementos. Por exemplo: o
que o ato de evacuar gelo poderia significar para o paciente? E o encontro com o
colega de trabalho? Caso a análise fosse conduzida dessa forma, a conclusão que
se chegaria para o sonho seria uma espécie de junção de diversos significados,
porém sem formar um todo completamente coeso. No entanto, quando se procura
interpretar todos os símbolos juntos, no contexto em que foram apresentados, torna-
se possível analisar a história que ali se apresenta de forma não fragmentada – por
exemplo, compreender toda a temática de uma casa governada autoritariamente por
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mulheres e de um personagem masculino que se sentia compelido a realizar as


vontades delas, sentindo até mesmo dor física quando tentava se afastar daquilo
que lhe era imposto. Pensar o conteúdo psíquico como completo não significa, no
entanto, interpretar os símbolos em sua forma literal. Como já sabemos, as
representações que escolhemos, inconscientemente ou não, para traduzir nossas
angústias e sentimentos, têm relação com os arquétipos e as imagens arquetípicas
que rondam nossa história de vida e nosso inconsciente coletivo.

QUESTÃO 4:

Dentro do percurso feito nesse semestre na matéria Clínica Junguiana, apontem as


contribuições e limitações observadas dentro das propostas dessa teoria.

Quanto às contribuições, acreditamos que a maior e mais valorosa até agora foi a
satisfação em aprender sobre uma teoria psicodinâmica que fizesse mais sentido
para nós. A interpretação dos eventos em uma esfera mais coletiva, compartilhada
por toda a humanidade, com símbolos que mantêm sua importância e significado
desde a antiguidade até os dias atuais, coloca em prática o quanto a Psicologia deve
olhar para a realidade como histórica e, portanto, transformável; ao se observar o
coletivo, os impactos causados por ele e nele causados através dos tempos,
deixamos de adotar uma postura reducionista e de reproduzir um psicologismo que
limita todo e qualquer problema à esfera individual. Por meio dos símbolos coletivos,
é possível estabelecer uma comunicação entre inconsciente e consciente – portanto,
através da simbologia do coletivo, podemos compreender o indivíduo e suas
demandas únicas. Mesmo assim, apesar de entender como os símbolos possuem
significados comuns para diversos indivíduos em uma sociedade, sinto não ter
compreendido muito bem como se dá essa transmissão do significado por meio dos
tempos históricos. Além disso, o processo de individuação como sendo um processo
ininterrupto e instintivo de busca por sentido, que só finaliza no momento da morte,
traz uma ideia muito poética e natural de empenho constante para se alcançar e
aprofundar o autoconhecimento.
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3 CONCLUSÃO

Dado o exposto no desenvolvimento, conseguimos com esse trabalho fixar mais os


conteúdos dados em sala de aula, e explorar mais os materiais teóricos enviados
para leitura. Além disso, o estudo de caso nos deu uma boa base prática da clínica
junguiana, de como os sonhos são analisados, da importância da transferência e da
contratransferência no processo analítico, como também a relevância do
psicoterapeuta participar de supervisões para que auxiliem a não “misturar” seus
problemas com o do seu analisando; além do destaque para aprofundamento dos
modelos causal-redutivo e sintético-construtivo e também as contribuições e
limitações da Clínica Junguiana
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REFERÊNCIAS

ADLER, Gerard. Métodos de tratamento na psicologia analítica. In: WOLMAN,


Benjamin (org.). Técnicas psicanalíticas 3: as técnicas não-freudianas, técnicas
especiais e resultados. Rio de Janeiro: Imago. [1967] 1977.

BONFATTI, Paulo Ferreira. Estudo de caso sobre o processo de individuação.


Juiz de Fora: CES/JF, 2022. Notas de aula.

HILLMAN, J. O mito da análise: três ensaios sobre psicologia arquetípica. São


Paulo: Paz e Terra, 1984.

JUNG, C.G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 2017. Vol. XVI/1

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