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Graduação em Psicologia
Teorias e Técnicas Psicoterápicas 1
Felipe Orofino
Leandro Cunha
Tatiana Oliveira
Vanessa Monteiro
Victor Gripp
Victor Alves
INTRODUÇÃO
O discurso do método Psicanalítico
1) A Avaliação Clínica
Subjetivação
2) A localização subjetiva
Retificação
3) Introdução ao inconsciente
A AVALIAÇÃO CLÍNICA
Sobre a Avaliação Clinica inicia dizendo que não se tratam de coisas difíceis; a
dificuldade está no grau e precisão que se quer obter: um efeito de direção do
tratamento.
Segundo ele, as entrevistas preliminares se colocam para o analista como um
meio de se fazer o diagnóstico, sendo capaz, portanto, de concluir previamente
algo a respeito da estrutura clínica da pessoa. As seguintes perguntas devem ser
respondidas: Trata-se de um caso de neurose? De psicose? Ou de perversão?
Há até uma frase interessante no texto, dizendo: “Não cabe dizer que há certa
neurose, com algo de perversão que pode beirar a psicose.” Logo, do ponto de vista
lacaniano, não se pode pertencer a duas estruturas, não havendo, desse modo,
recobrimento das estruturas.
Existem casos em que tal diferenciação é uma tarefa extremamente difícil. Por
vezes, após a entrevista preliminar, o analista fica em dúvida, e isso pode levá-lo
tanto a recusar a demanda, prolongar o tempo das entrevistas ou, ainda, assumir
um risco mais ou menos calculado.
Ora, por que se diz que o analista ‘assumiria um risco’ aceitando determinado
caso? Quanto a este aspecto, Miller salienta a questão da psicose. A avaliação
clínica é ainda mais fundamental quando se constata a possibilidade do paciente ser
psicótico.
Quando a psicose já é deflagrada, o problema é este: o analista deve decidir se
aceitará o caso com base nas suas possibilidades de curá-lo ou não, de fazer algo
por ele ou não.
No entanto, pacientes de estrutura psicótica podem ainda não apresentar surto
psicótico. Em outras palavras, muitas vezes a psicose está camuflada, não estando,
ainda, deflagrada. Ao aceitar a análise de um paciente cuja estrutura é
suspeitosamente psicótica, o profissional assume o risco de desencadear um surto a
partir de algum elemento (palavra, gesto, sinal) durante a análise; isto, porém,
pode ocorrer no início ou mesmo após um longo período de análise, talvez até
mesmo anos.
Por este aspecto, segundo a prática lacaniana, é realmente essencial que o
analista conheça a fundo a estrutura psicótica. É importante que saiba reconhecer
os pré-psicóticos, além dos casos deflagrados, pois há uma regra – seguida por
determinadas linhas – que explicita a necessidade de recusar a demanda de análise
dos primeiros justamente pelo risco do desencadeamento.
Interessante ponderar que não são todas as formas de psicanálise que seguem
esta mesma linha. Miller aponta um exemplo no qual Winnicott afirma que, caso o
paciente aborreça o analista, pode ser encaminhado ao hospital psiquiátrico e, caso
contrário, pode ser conservado em análise.
Melhor explicando, a psicanálise inglesa considera os sentimentos do próprio
analista para com o paciente, ou seja, a contratransferência, como um indicador do
direcionamento do tratamento: “Winnicott toma-se por uma placa sensível e lê em
si mesmo como um paciente, que se o aborrece, significa que tem algo de errado
em sua estrutura clínica” (MILLER). Sendo assim, o analista observa as próprias
reações diante de seu paciente, considerando que estas fazem conhecer a estrutura
do paciente mesmo.
Contudo, segundo Miller esta prática pode ser errônea, visto que possibilita
diagnósticos equivocados e isto se torna um grande problema, afinal há um sujeito
em análise. É por isto que a prática lacaniana não toma os sentimentos do analista
como a lente segundo a qual se percebe ou não uma psicose; Lacan apóia-se em
um diagnóstico que se calca no saber clínico. Isto demonstra a relevante diferença
entre ‘possuir a sensibilidade com relação ao desejo do Outro’ e ‘buscar os
fenômenos elementares de uma estrutura psicótica’ para um diagnóstico preciso.
Diz-se “fenômenos elementares”, na linguagem da psicanálise francesa, com
relação aos fenômenos psicóticos que podem preceder o delírio e o
desencadeamento da psicose. Estes elementos podem não existir na atualidade do
paciente, mas podem já ter aparecido em seu passado – por isto é fundamental
apurar a escuta para encontrar um possível elemento camuflado na narrativa do
paciente.
Quando o analista constata a psicose a partir de sua avaliação, constitui a
“assinatura clínica”, mas se suspeita de uma pré-psicose, deve buscar
metodicamente os fenômenos elementares. Estes fenômenos são de automatismo
mental; de automatismo corporal; e concernentes ao sentido e à verdade.
Os fenômenos de automatismo mental fazem referência à irrupção de vozes
alheias, de discursos imaginários que ocorrem na realidade psíquica do paciente.
Estes podem ter aparecido poucas vezes no passado do paciente e depois ter se
calado, mas podem também já ser evidentes – como no caso de psicoses já
deflagradas. De uma forma ou de outra, o analista deve focar sua atenção neste
sintoma.
Um outro elemento importante ao diagnóstico diz respeito ao modo como o
paciente compreende sua própria composição corporal, incluindo a questão do
estranhamento do próprio corpo (estranheza), da sensação de que partes do corpo
não lhe são próprias (desmembramento) e da distorção ao perceber o tempo ou o
deslocamento espacial.
Por fim, buscar os fenômenos concernentes ao sentido e à verdade também é
de fundamental interesse ao analista. O analista deve estar atendo às falas do
pacientes quanto ao seu testemunho “de vivências inefáveis, inexprimíveis ou de
certeza absoluta e, mais ainda, a respeito da identidade, da hostilidade de um
estranho” (MILLER). Por exemplo, quando o paciente afirma absolutamente que
determinada pessoa na rua o olhou com hostilidade e o perseguiu para fazer-lhe
mal, caso seja detectado o caráter ilusório, o analista deve considerar fortemente
este elemento em sua avaliação clínica. Pacientes psicóticos dizem ler no tempo
signos que lhe são destinados; ouvem nos objetos vozes que lhe falam; e não
conseguem trazer esta significação de forma precisa para o real, pois são de
caráter imaginário.
É delicado o diagnóstico que se faz em uma avaliação clínica, até mesmo
porque muitas vezes sintomas histéricos e psicóticos podem se confundir,
principalmente com relação aos fenômenos corporais de distância ou estranheza do
corpo.
Lacan mesmo já se confundiu, pois é comum que as mulheres não consigam,
por vezes, expressar o que sentem e com o que gozam, podendo aparentar uma
psicose. E não só isso, mas também a afeição histérica pelo desejo do Outro – tal
como o fato de pacientes histéricos levarem para a consulta traços de outro –
contribuem para uma proximidade com os automatismos mental e corporal,
principalmente com relação ao que pertence a si e ao que é outro.
Embora algumas ‘semelhanças’ se apresentem algumas vezes, é possível
distinguir os psicóticos dos histéricos, desde que o analista saiba reconhecê-los. Da
mesma forma, é possível distingui-los dos neuróticos obsessivos, ainda que hajam
aspectos parecidos quanto à obsessão dos neuróticos e à automação mental dos
psicóticos.
Por sua vez, para que o analista não confunda, também, psicose com
perversão, deve investigar a vida sexual do paciente; não exatamente em relação à
sua conduta sexual em si, mas sim ao seu desejo, até porque: “a estrutura
perversa não é o mesmo que a conduta pessoal perversa, mesmo porque sendo o
gozo sexual, perverso, no sujeito o desejo sexual pode perfeitamente ser neurótico”
(MILLER).
É interessante manter o foco neste tema por um momento. Miller constata que
o paciente de estrutura perversa conhece sobre o seu gozo e se trai quando busca
análise a fim de satisfazer sua pulsão voyeurista. Assim, considera esta uma
demanda recusável. No entanto, o neurótico cujo gozo é perverso procura a análise
por não se satisfazer com seu gozo (perverso) e também para entender o sentido
de seu desejo (neurótico); busca não normalizar, mas conciliar seus dois lados.
Nesta situação, o analista deve seguir uma ética quanto a aceitar ou não a
demanda do paciente que deseja apenas melhor conviver com estes dois lados ao
invés de corrigi-los.
Fazendo uma retomada de tudo o que foi apresentado quanto à avaliação
clínica, o diagnóstico não se basta apenas por esta, principalmente devido à
possibilidade de duvida do analista quanto à estrutura do paciente. Quanto às
distinções entre essas estruturas, para se chegar a uma conclusão mais precisa
deve-se passar da avaliação clínica à localização subjetiva, que investiga o que está
ao nível da linguagem, ou seja, na enunciação.
A modelização do dito
Há uma diferença entre o dito e a posição que o sujeito toma frente a ele,
sempre há um índice subjetivo do dito. Para exemplificar tomamos o exemplo
freudiano em que o paciente diz a respeito de uma personagem em seu sonho “não
é minha mãe”. No exemplo há o dito e o modalizar da negação, a denegação. O
paciente em questão acrescenta ao significante “mãe” um índice negativo que
modifica sua relação com o que foi dito. Um traço importante na neurose e a
relação com o desejo, não pode aceita-lo sem colocar uma marca negativa.
É de suma importância para o analista distinguir entre enunciado e enunciação,
e entre o dito e o dizer. Uma coisa é o que o sujeito diz, e outra é o que ele faz com
o que diz. Não há uma só frase ou palavra que não traga a posição subjetiva do
sujeito quanto ao que diz.
As diferenças entre enunciado e enunciação são decisivas para interpretação
analítica. Voltamos ao exemplo de Freud, dizer “não é minha mãe” é a prova de
que é. Pode parecer uma lógica sem sentido no registro da objetividade, o sentido
aparece quando é colocada a função do sujeito. Como diz Lacan “você o disse, eu
não fiz você dize-lo”. Deve-se apresentar ao sujeito suas próprias palavras. É como
faze-lo “comer o que disse”.
Dito e Citação
Atribuição subjetiva
Miller atribui grande importância a uma frase de Lacan: “Para cada cadeia
significante questiona-se a atribuição subjetiva”. Não há uma única cadeia
significante em que não se pergunte ao sujeito, de quem fala, e de que posição
fala. Do ponto de vista da enunciação, não há unidade na cadeia significante. A
cadeia significante é polifônica, sempre modificando a posição subjetiva.
Por exemplo, um histérico pode alucinar, mas sua posição frente às alucinações
é diferente de um psicótico. Para o psicótico se constituiu um ponto de certeza. O
histérico pode aparentemente não duvidar, mas ao falar pode-se perceber que não
há um ponto de certeza.
Frente ao que o sujeito apresenta o analista deve saber o que deve e o que não
deve ser levado a serio. O analista não deve participar emocionalmente dos
problemas do paciente, incompreensão frente aos afetos do outro é muito
importante.
INTRODUÇÃO AO INCONSCIENTE
QUESTIONAMENTO DA
POSIÇÃO TOMADA POR LOCALIZAÇÃO DO
DITOS QUEM FALA DIZER
Remete ao próprio sujeito -
De direito (o lugar
De fato; para ele, é verdade ou
do INC);
mentira?
A verdade que Distância entre ele e o A verdade que não
conhecemos; dizer; podemos conhecer;
O que o analista tem a
dizer, nada tem a ver com
A enunciação direito
o lógico, com a boa
- ficção simbólica
Enunciado. vontade como: "você tem
(estrutura o sujeito
tudo para ser feliz"; e sim:
no mundo)
"o que você quer dizer com
isso?".
Miller cita Lacan dizendo que o bem-dizer é essa diferença entre o dito e o dizer
e essa é a chave da ética na psicanálise: fazer o paciente encontrar uma maneira
de dizer que não se confunda a posição subjetiva com o dito. Mas reintroduzir a
pessoa na posição de sujeito implicam amplos riscos que concernem à ética da
psicanálise.
Um bom exemplo é o caso de uma mulher que chega ao consultório de Miller se
apresentando dizendo: “Sou uma alcoólatra”. Durante dez anos essa mulher fez
parte dos alcoólicos anônimos, que se curam entre si e se apresentam dessa forma
e logo depois começam a falar sobre a dificuldade do alcoolismo. Ela freqüentava a
reunião quatro vezes por semana, nesse período de dez anos. Chegou dizendo “Sou
uma alcoólatra” e, detalhe: a partir desses dez anos ela não bebeu mais álcool,
mas continuava alienada ao significante “sou uma alcoólatra”, identificada a ele
sem distância alguma, não conseguindo se apresentar de outra maneira.
Miller se questionou se aceitaria ou não trata-la, algo da ordem ética, pois
haveria de distanciá-la do significante que permitia a ela não beber. Admiti-la seria
reabrir a distância entre ela e o significante. Depois de dois anos a mulher
recomeçou a beber. A principio o resultado foi contraterapêutico. Depois de cinco
anos encontrou um bom resultado.
CONCLUSÃO
Retificação subjetiva