Você está na página 1de 23

O QUE É SER PSICANALISTA?

Entrevista
Carlos Augusto Monguilhott Remor

Este artigo procura ser uma pequena mostra do que se passa na prática clínica e na
formação psicanalítica e suas dificuldades. Sua forma originou-se de uma entrevista, que
duas alunas do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina, Ana Cristina Fernandes Pacheco e Lorena Toaldo, solicitaram como parte de um
trabalho escolar, em 1998. Foi feita uma revisão e ampliação atualizada para esta ocasião.
Em meio a muitas teorias ‘psi’, pretende-se marcar o lugar da Psicanálise, distinto e
singular diante das psicologias.
Como as entrevistas preliminares, esta também foi realizada de forma não
estruturada e buscou elucidar vários aspectos da psicanálise, mostrando que não há regras a
se seguir, à exceção de uma, a da escuta da fala do analisante, de modo a que se estabeleça
a transferência e se inicie a análise propriamente dita.
Agradecemos às entrevistadoras Lorena Toaldo e Ana Cristina Fernandes Pacheco
pela disponibilidade da transcrição desse trabalho que possibilitou a revisão do autor e
proporcionou essa explanação acerca da teoria e prática da psicanálise, de forma clara e
simples.

Mini Currículo

Psicanalista Freudo-lacaniano. Especialista em Clínica Psicanalítica e em Dinâmica de


Grupo; Mestre em Literatura (UFSC) e Doutor em Engenharia de Produção (UFSC-2002).
Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (1982);
Professor Associado do Departamento de Psicologia da UFSC (de 1985 até aposentar-se
em 2017); professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento (UFSC). Foi professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFSC. Exerceu os cargos de Coordenador do Curso de Graduação em Psicologia,
Coordenador de Estágios (UFSC), Coordenador do Serviço de Atendimento Psicológico
(UFSC), Subchefe do Departamento de Psicologia (UFSC), Chefe do Departamento de
Psicologia (UFSC). Fundador (1984) e ex-Presidente (por 3 mandatos) da Maiêutica
Florianópolis-Instituição Psicanalítica (2005 a 2010). Organizou os livros: Por que não há
relação sexual? (2006) e O Psicanalista, o que é isso? (2008). Autor do livro: A

1
Interpretação na Clínica: da Hermenêutica à Psicanálise (2008) e publicou vários
capítulos de livros e artigos sobre temas da psicanálise.

Entrevista

1. Fale sobre a formação Psicanalítica.


R: A formação Psicanalítica se baseia em três pilares, que liga os registros da
experiência psíquica do imaginário, do real, do simbólico e mais-um, que é a Instituição
Psicanalítica, segundo os ensinos de Freud e Lacan.
Os três elos da formação são: análise pessoal, análise de controle e o estudo teórico.
São ligados, porque se tiramos um apenas, os outros dois se desenlaçam, assim como o nó
de Borromeu. Este nó é formado por três anéis ligados de tal forma que, ao rompermos
qualquer um deles, os outros dois se soltam. Na análise de controle, trata-se de controlar o
“desejo do analista”, para que a análise seja balizada por esse conceito, porque o desejo de
um analista é de uma pessoa e o “desejo do analista” é a função do analista, de analisar.
Qualquer desejo que não seja o de analisar, atrapalha. Então, é nesse sentido que a
análise de controle serve para mantermos o desejo direcionado somente para a função do
analista. O lugar do analista é o de “não desejante”, lugar de resto. É um lugar difícil e,
para ocupá-lo se precisa, junto com a análise pessoal, da análise de controle. Um correlato,
nas outras teorias que não a psicanalítica, usam chamá-la de supervisão, mas isso só dá
uma ideia aproximativa porque não é a mesma coisa. A supervisão não é o lugar do
analista, pois é feita por alguém que teria uma visão maior. Em geral, nela, se diz o que o
psicólogo deve fazer ou dizer, parte-se de uma visão mais abrangente, um super visão de
um caso. Neste sentido, o que falamos de análise de controle não é supervisão, e também
não se trata de visão, pois a episteme da psicanálise é a da escuta.
A chamada Formação Psicanalítica é permanente por que a aprendizagem também
o é, não se pode saber nem o suficiente, que diríamos de saber tudo! A formação
permanente é caracterizada por uma vida inteira de atividades nesta direção, embora não
seja, então, somente quando termine a formação que se possa começar a atender. Daí surge
a dúvida: então, quando? – quando o sujeito se sentir em possibilidade de escutar e de
sustentar essa escuta ante os colegas e analisantes. Por exemplo, em minha trajetória, eu
comecei fazendo parte de um grupo de estudos, em, 1981. Era estudante universitário e não
tinha prática clínica nenhuma. Como estudante universitário da primeira turma de

2
Psicologia da UFSC, que também era a primeira de Santa Catarina, haviam muitas
curiosidades sobre os caminhos que os colegas estavam tomando para a vida profissional.
Assim, minha formação foi muito comentada, mesmo porque fui o primeiro a me decidir
pela psicanálise. Isso gerou um certo mal estar generalizado na turma, e muitos
comentários pesados, como; “você vai ser carne de divã” e por aí afora. Numa disciplina,
chegaram a propor discutir a minha escolha pela psicanálise, como se fosse algo a ser
colocado como pauta de uma discussão e não uma decisão de foro íntimo. É de se notar
que as escolhas pelas teorias eram difíceis, mas quase obrigatórias. Para trabalhar,
precisamos saber o que vamos seguir. Daí que minha escolha foi muito mal vista, também
porque eu fui o primeiro a me decidir e isso, provavelmente causou muitos sentimentos nos
colegas de turma. Muitas vezes fui acusado de ser muito parcial e reducionista, com
palavras menos elegantes do que estas.
Em 1983 terminei a graduação e abri um consultório com dois colegas, mas não
haviam pacientes, então eu ficava no consultório lendo, principalmente Freud. Foram três
ou quatro anos de muita leitura. Em 1984, esse grupo fundou uma Instituição Psicanalítica.
Nesse meio tempo eu iniciei minha análise pessoal. Foram três tentativas, com três
profissionais; o primeiro não era analista, ele mesmo declarou e, logo após umas cinco
entrevistas, me deu alta. Isso me causou um misto de sensações, por um lado, aliviado de
não ser um “neurótico”, mas por outro, minhas dificuldades continuavam as mesmas. A
segunda tentativa durou aproximadamente 2 anos. Cheguei dizendo que queria só saber
como era uma análise, mas que iniciaria no ano seguinte e ele marcou a entrevista seguinte
para uns poucos dias depois – iniciei a segunda tentativa. A terceira, creio ter durado uns 6
meses. Eu cheguei a comentar com o colega de consultório, que levava broncas do analista
e saia das sessões, no mais das vezes, muito mal com isso. A terceira foi realmente minha
análise. Quando o mesmo colega perguntou sobre a diferença entre as duas análises, eu
respondi que não havia mais aquelas broncas que só aumentavam minhas culpas. Além
disso, essa análise ocorreu fora dos padrões temporais comuns. Foram realizadas 10
sessões, de dois em dois meses, em três dias consecutivos. O analista era o Dr. Robert
Harari, que vinha de Buenos Aires e trabalhava três dias aqui em Florianópolis. Eu me
analisava e participava dos seminários ditados por ele; foram 25 anos de seminários
bimensais sobre psicanálise. Nos primeiros anos, aconteceu o que se chama de autorização,
quando o analista se autoriza a ser psicanalista, mas mesmo assim muitas dificuldades
continuavam.

3
Primeiramente, os atendimentos poucos e penosos, eram cansativos. Se eu
atendesse mais de um, numa tarde, ficava extremamente cansado, se fosse mais de dois,
ficava esgotado. Anos depois, comentando isso com um colega, ele me confirmou que
também acontecera com ele.
Além da dificuldade de se encontrar um analista, que não é pouca coisa, pois temos
de nos acertar com horários preço, etc., ainda tem o maior de todos, que é a dificuldade da
transferência com o analista. Esta transferência, também pode ser, aqui, sinônimo de
resistência, já que nela se vê com clareza a dificuldade do analisante em se analisar. Claro
que uma tarefa analisante não é pouca coisa, é para a vida toda e em todos os sentidos. Não
se pode fazer uma análise para resolver algum problema específico, uma característica
incômoda ou mesmo um só sintoma. Freud já nos advertiu de que os sintomas são parte
integrante de nossa personalidade, que nós nos identificamos com ele de maneira que
estamos ligados a ele por todas as nossas características. Além do que, por vezes, temos
sintomas que não reconhecemos como sintomas, ou nem os reconhecemos como
características nossas.
Voltando à autorização, ela implica um reconhecimento conquistado através dos
colegas e que tem como consequência o início dos atendimentos, já que se você se mostra
assim, os analisantes vão lhe procurar. Derivada dessa ideia, o Harari afirmou, num destes
seminários, que o consultório de um analista sempre está cheio. Não há falta de pacientes,
se isso acontece, será por resistência do analista. E isso, de fato aconteceu. No início,
haviam poucos analisantes, mas meio que de repente, o consultório encheu de gente
procurando análise.
As dificuldades são múltiplas, por exemplo, minhas queixas de que haviam poucos
analisantes. Essa é resistência pura, embora só percebida e aceita anos depois. Acontece
que “o consultório de um analista está sempre cheio”, segundo nos disse Harari. Está
sempre cheio porque os horários vazios são a mostra do tamanho da resistência do analista,
ou seja, não há falta de procura, há resistência. Na prática isso não é percebido com clareza
e, por isso mesmo permite que se reclame, como se fosse uma situação da qual seríamos
vítimas passivas e onde não teríamos nenhuma responsabilidade sobre o acontecido. Mas,
em se tratando de psicanálise, há que se notar que isso é efeito de nossa resistência, ou seja,
atendemos tantos analisantes quanto conseguimos atender. Antes eu falava do cansaço pelo
número de atendimentos seguidos, depois, a mesma resistência mostrou-se no número de
analisantes. O importante é constatar que as maiores dificuldades são nem mais nem menos

4
do que efeitos da resistência à psicanálise, em função de nossa insistência em não
reconhece-los como nossos, de não aceitarmos nossa história, nossa ancestralidade, nossas
dependências e interdependências, nossos limites.

2. A Análise de Controle só pode ser feita por um psicanalista?


 R: Sim. Quem não tem prática clínica não é psicanalista; pode ser um estudioso, um
filósofo ou um literato da psicanálise. A psicanálise não é uma teoria, é uma práxis. Lacan
insiste nisso e Freud também, na ideia de que a psicanálise é o que se passa entre o divã e a
poltrona, portanto só pode ser feita por psicanalista.
3. Como é o primeiro contato com o paciente?
 R: É ‘sem tato’. É assim, pois não é com-tato. Nisto se baseava a resposta anterior, em
que falamos da episteme da psicanálise, referente à escuta e não ao tato. Quando se usa a
metáfora de que alguém está “em boas mãos”, não se trata de um dito literal. A primeira
escuta se dá via entrevista. São entrevistas porque são “entre as vistas”, ou seja, não se usa
o divã; depois do uso do divã, chama-se de sessões. Nelas, se faz a mesma coisa que se
fará depois, só que com específicas diferenciações. Há que se escutar, mas a transferência
ainda não está estabelecida. Não se sabe o que o pretenso candidato a analisante quer, e
nem se ele quer mesmo uma análise. Não se sabe nada até que o paciente fale, então, para
podermos vir a saber o que ele quer, precisamos escutá-lo. Não há roteiro. No início, a
realização de determinadas perguntas já seriam direcionadoras, por isso precisamos escutar
antes, para sabermos o que perguntar depois. Não há contrato, isto não é da psicanálise.
Não sabemos o que ele quer, não há sentido em enquadrá-lo num contrato. E, considerando
que a análise se sustenta no desejo, não pode haver contrato, desejo e contrato são
contrários e incompatíveis.
4. Como fica a questão do setting, sigilo, preço, férias; não se combina no começo?
 R: Não. Que começo? Não se sabe se está começando ou terminando. Uma primeira
entrevista pode não ser a primeira, pode vir a ser a única, e como já querer combinar
férias? Se precisa ter consideração pelo paciente, pois muitas pessoas falam em terapia
centrada na pessoa, no cliente sentado no sei lá o quê. Deixemos como me saiu – não será
apesar de mim – e sentam onde quiserem, alguns se sentam até em almofadas, no chão.
Isso é muito engraçado, pois o fato é que não consideram muito o paciente como uma
pessoa que tem mais ou menos um certo discernimento – já diz o dito popular: ele pode ser
louco, mas não é burro. Todo mundo sabe, é lei federal neste país, que as pessoas tem

5
direito a um mês de férias por ano. Então, se o sujeito não é um deficiente mental, sabe
disso, e se for um deficiente mental, não será tratável por um psicanalista.
5. Existe algum tipo de paciente que não pode fazer análise?
 R: Claro, um mudo por exemplo. Como vou tratar um mudo, precisaria criar uma outra
técnica, que eu não conheço. Há quem fale em LIBRAS, mas já não seria a mesma coisa,
não seria exatamente a escuta, e ademais, eu não conheço essa linguagem. Há também os
que não querem análise e os que não podem, por muitos motivos. Os que não querem, em
geral, me refiro aos que mantém a resistência em mais alto grau do que o desejo e, mesmo
tendo prejuízos com isso, acreditam que estão bem assim, afirmam “que não querem sair
de sua zona de conforto”, claro, mas se fosse de ‘conforto’ seria muito razoável. O que não
se entende é por que essa chamada zona de conforto seja tão desconfortável.
6. Uma pessoa em perfeitas condições físicas, eu digo.
 R: O que se diz clinicamente na psicanálise, é que o sujeito precisa fazer metáforas.
Mas essa frase já é em si mesma uma metáfora, porque a rigor, não há linguagem que não
seja metafórica. Se é assim, aqueles que falam, fazem metáforas. Mas a questão não é
assim simples, pois a possibilidade de se fazer metáfora já é uma frase metafórica, e por aí
precisa ser entendida. É a possibilidade que o sujeito tem de se articular com outros
sentidos que não os literais, com a possibilidade de que o sujeito, pretenso paciente, tenha
de ouvir além daquilo que está literalmente dito. Não só do dito pelo analista, mas também
do que ele mesmo diz. Porque, afinal de contas, uma análise sempre produz um analista.
Uma análise produz um analista e por isso não se aceita aquilo da IPA (International
Psychoanalytic Institution) do chamado, analista didata. Não há análise didática, se não é
análise não é nada. Nem didática nem coisa nenhuma. Então, é absurdo falar em análise
didática porque toda análise produz um analista. Como, um analista? Não um analista por
profissão, um analista como capacidade de escuta de si e dos outros, mas se essa pessoa
que procura uma análise não tiver possibilidade nenhuma de escuta, não há como acontecer
a análise, e se não tem como você trabalhar, então fica-se no literal, e aí vamos ouvir
comentários como esse, você faz uma intervenção e o paciente lhe responde: “Ah, você
acha é?” Bom, né? Não sei que caminho poderá haver aí, muito difícil, fica numa pretensa
discussão de opiniões. A possibilidade de fazer metáfora, é a possibilidade de ultrapassar o
discurso do eu-tu . É presentificar um ele, um Outro, como diz Lacan, um terceiro, que no
seu dizer repetido em toda sua obra, de que o inconsciente é o discurso do Outro.
7. Se não se combina nada, como ficam as questões de preço, periodicidade das

6
entrevistas/sessões, entre outros?
 R: Em princípio, não se combina nada, menos ainda, por contrato. Mas, é claro que se
poderá combinar, se o paciente perguntar, se mostrar que quer.
8. Como se combina, então?
 R: Vamos ver. Alguém que lhe chegue a pedir uma análise, e diz que quer muito, que
está necessitado, que tem muito interesse e depois não marca uma segunda entrevista além
da primeira. Aí você se pergunta onde está o interesse, não marcou nenhuma outra! Ele
tem desejo de continuar? – creio que não! Parece-me que seria melhor deixa-lo telefonar de
novo, para marcar outra entrevista. Ele é que vai se dar conta do que está fazendo, a análise
já começou. Quando eu disse que as entrevistas preliminares já seguem a linha da
psicanálise, é nesse sentido. Não é um brincadeira de ver como é e depois começar a
trabalhar. Já se começa por aí, ele diz que está interessado, mas não marca nada, não
pergunta quanto é, sai sem pagar e com isso mostra-se. Por um lado, você pode dizer:
“Não, espere; tem que pagar!” e ouvir: “Mas você não disse!” e você continua: “E nem
você perguntou; sabe que isso é um serviço profissional!”. Por outro lado, você pode
deixá-lo ir, para que ele possa se dar conta de tudo isso e voltar. Ou então, que se vá, pois,
na medida em que não se dê conta de nada do que fez, não haveria condições para
acontecer uma análise mesmo. Seria neste dar-se conta do que fez que se mostraria a
metáfora do desejo em ato – isso é a possibilidade de fazer metáfora – pois o desejo nos
confere uma postura, ou o que chamamos de posição subjetiva.
9. Por que a Psicanálise não fala cliente e sim paciente?
 R: Cliente é da Psicologia, do comércio em geral. Uma instituição pode ser um cliente,
mas uma instituição não vai para o divã, então não é um cliente para a psicanálise. Paciente
é da Medicina, por valor histórico, e por isso também usa-se na psicanálise. Diferenciamos
também as entrevistas das sessões de análise porque, nas entrevistas, ainda não se trata de
um analisante, daí que usamos o termo emprestado, paciente. Quando o paciente vai para o
divã, aí sim usamos o termo analisante. O nosso termo técnico é ‘analisante’, aquele que se
analisa e está em análise. Também não é analisado, pois não há nada de acabado, que
ficaria designado pelo particípio passado do verbo analisar.
10. Mas as outras abordagens falam, sem ser instituição, em clientes.
R: Falam, mas veja bem, é como a questão da hipnose, do divã; a psicanálise tem um
caráter histórico aí. O termo cliente não comporta o que outras abordagens provavelmente
vão questionar, exatamente o contrário, a autoridade. Cliente é quem manda, não se

7
submete, o ditado diz que “o cliente sempre tem razão!” E tem que haver submetimento
sim, é pelo submetimento do analisante ao seu próprio desejo. Freud fala que nós
costumamos brigar, não aceitar, combater nossos desejos 1 e a análise procura mostrar que
isso é mais pesado do que vantajoso.
11. Então a Psicanálise é um método diretivo? No sentido que o analista detém o
saber.
 R: Diretivo, sem dúvida, mas não no sentido que o analista detém algum saber ou
poder. Diretivo no sentido de que o analista está no lugar da chamada “ignorância douta” 2;
a análise é dirigida pelo inconsciente e não por nenhum poder do analista. Depois, não
existe saber que o analista possa deter, pois o analisante ainda não é conhecido, não há o
que se possa saber. Só se pode ‘saber escutar’ – esse é o único saber do analista. Se
pensarmos no que o analista vai fazer com o que escutou, aí sim, o analista deve devolver
(falar) ao analisante, o que escutou, pois sua função é a de ‘parteiro’. O parteiro retira o
bebê do ventre da mãe e o entrega, não é o pai, nem gerador nem deve dar palpite. Sua
função é como a do narrador da história, da qual não participa.
12. Isto é paradoxal. Diretivo vem de um lado só. O psicanalista detém o saber.
Explica isso.
 R: Se é assim, não! O analista não tem, nem detém saber – só sabe escutar. O paciente
se submete à análise, não ao analista. E, se não quiser se submeter à análise, vai continuar
se submetendo ao desejo recalcado que lhe retorna como sintomas e lhe retira suas
energias, disso não se consegue fugir.
13. Mas quem detém o tratamento é o analista?
R: Não é! Esse é o ponto. O lugar da “ignorância douta” 3 é o lugar de quem reconhece
que não sabe. Isso é socrático, Sócrates dizia isso. Já falamos, na pergunta 3, sobre o não
saber do analista: precisamos escutar antes, para sabermos o que perguntar depois. Se há
algum saber no analista é o saber escutar, que pode gerar um saber no analista, para ser
transmitido ao analisante.
Essa pergunta remete à preocupação, muito comum, sobre quem controla a análise.

1
FREUD, S. “Observações sobre o amor transferencial”. In: Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. 12, Rio de Janeiro: Imago,
1976. p. 218.
2
LACAN, J. Seminário 1 – Os escritos técnicos de Freud. 3a Ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1983. p. 317
3
LACAN, J. Seminário 1 – Os escritos técnicos de Freud. 3a Ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1983. p. 317

8
Ninguém controla, o inconsciente controla. Análise não é lugar de poder, muito menos de
“empoderamento” como estão usando hoje. O analista só pode conduzir ao desejo e, ainda
assim, somente quando o analisante o manifesta. Podemos concluir que quanto mais
controla e houver menos análise haverá.
A insegurança, comum nos novatos, pode gerar mais essa dificuldade. Pensando
que pode ser controlador de uma análise, procurar esse suposto poder, essa condução que
levaria o analisante a algum lugar determinado por ele. Mas isso é condução da vida do
sujeito, é indicação do que se acha melhor, sugestão, hipnose, não é análise. A análise
procura gerar condições para que o analisante possa decidir sua vida por si só.
Aqui reside uma grande dificuldade de se chagar a ser psicanalista. A tentação de
poder precisa ser renunciada. E, sabemos que renúncias não são fáceis, a rigor não
acontecem, sempre se coloca algo no lugar do que foi renunciado, então é uma troca. Por
isso, a análise pessoal é o que de mais importante existe na formação de um analista e de
mais difícil. Constitui, claro, a maior dificuldade de alguém se tornar analista, pois implica
nestas “renúncias” a qualquer tipo de poder, entre outras.

14. Mas o analista vai reconhecer para seu paciente que não sabe?
R: Sim, claro, não pode fazer nada além disso. Mas, o curioso é que isso faz um efeito
enorme e produtivo. Os novatos creem que isso poderia tirá-los do lugar de analista por
fazerem-no cair desse suposto lugar de saber e poder. Mas, quando creem que o analista
tem um lugar de poder, já caíram do lugar do analista. Pode parecer estranho, já que
incomum, mas a autoridade do analista se dá pela caída do pretenso lugar de poder. E, na
verdade, como não é um discurso do eu-tu, os dois, tanto analisante como analista, estão
submetidos ao discurso do Outro, que é o Inconsciente; tanto o analista quanto o paciente.
Agora, do lugar do analista, estar submetido é sabido; do lugar do analisante, este
submetimento é desconhecido. Essa é a diferença. Esse é o saber que o analista tem, ao
qual o analisante precisará se submeter. Nesse sentido, a análise é diretiva, pois tem o saber
ao qual ele deve se submeter, e ao qual resiste. Quem tem o saber é o paciente, o saber
sobre si. Por isso o analista é só o parteiro desse saber. Ele o retira do analisante e lhe
entrega, como uma parteira que retira a criança e a entrega para a mãe. É um instrumento,
como um martelo. O martelo não tem saber, você pode bater tanto no prego quanto no
dedo, o martelo não opina nem decide.
15. Quem segura o martelo então? O cliente?

9
 R: Não sei. Diria que quem segura é o inconsciente. Aí vocês perguntariam: O
inconsciente de quem? Eu diria, com Lacan: o inconsciente é transindividual, nem de um,
nem de outro, posto que está no discurso que constitui a ligação mesma entre os falantes.
Como os dois estão submetidos ao inconsciente, já não se pode dizer de quem é, fica
impreciso, mas há uma diferença, o analista sabe disso.
16. Da relação?
 R: Sim, da relação estabelecida pela fala. Lacan diz que a fala é o que estabelece laço
social.
17. Como fica a questão da neutralidade, muitas pessoas criticam o analista por ser
frio demais, por não ter contato? Por ser neutro?
 R: Primeiro, frieza não é o mesmo que neutralidade, nem seu oposto. É de outra
ordem.
Vamos por parte, com relação a frieza, o analista não é frio. Mas se ele não faz
contato ele é frio? Por quê? Tudo isso é crença! Crenças sobre a psicanálise, não da
psicanálise, são crenças externas resistenciais e preconceituosas sobre a psicanálise. Medos
que se criam em cima e contra a psicanálise. A psicanálise é muito usada como “um bom
apoio”, já que, como teoria bem sustentada, ela pode ser usada para sustentar também, de
carona, muitos preconceitos. O mito do Édipo é um deles, nem é complexo, é um mito.
Agora veja bem, o que é frieza? A sua pergunta é interessante, pois mostra um
paciente que procura amor. E o que faz o analista? Aponta o desejo do analisante de ir ao
analista para pedir amor. Alguns já começam com a pergunta assim: “Ah, eu quero a
indicação de um analista.” E vamos supor que é uma moça e quer um analista homem.
Bom, analista não tem sexo. Se ela quiser um homem, há que procurar em outro lugar. Há
quem diga que o analista é frio. Eu pergunto: é frio quem considera o outro, em lugar de se
preocupar consigo mesmo em seus sentimentos?, quem se dirige ao outro e não ao seu
umbigo?, quem só se interessa pelo que o outro tem a dizer, em lugar de falar de si?
Na mesma direção, sim, não se pode transar com o analisante, é proibido – é frieza?
Agora, não entenda transar no sentido literal só. Entender transar só nesse sentido literal
estaria entre o burro e o mal intencionado.
18. Não existe a afetividade sem a sexualidade, para a psicanálise?
 R: Essa pergunta nem procede. Há um erro de origem. São o mesmo. Esse erro ocorre
porque as pessoas pensam em alguém para dar apoio ou ter compaixão e, podem conseguir
isso com amigos ou familiares, mas a psicanálise tem outros objetivos. Dizendo desse

10
modo, podemos ver com clareza a similaridade entre essa função de apoio e compaixão
com a prostituição. E, além disso, esse é só o ponto de vista da consciência, e não é isso
que se trabalha. Assim, sempre se vai chegar na sexualidade, pois isso é a demanda, não é
o desejo. E a pergunta é a mesma que Lacan fez no seminário XXIII, “Agora sei por que
demorei tanto para fazer, reeditar a minha tese, se chamava – Da psicose paranoica em
suas relações com a personalidade4; porque resisti tanto em editar minha tese, claro, não
tem relação nenhuma”. Como a sua pergunta, não tem relação nenhuma – porque é o
mesmo. O Eu (a personalidade) é um sintoma, o sintoma humano por excelência, é neste
sentido, que o Eu é a sede da personalidade, e é um sintoma, tem toda a estrutura de um
sintoma. Isso é o dito por Lacan em quase todos os seus seminários iniciais.
19. Sintoma é queixa?
 R: Não. Para a psicanálise a partir da queixa se pode inferir sintomas, mas em geral,
isso de chamar de sintoma o que vem de fora é discurso psiquiátrico, não é psicanalítico,
seria: Tu tens um tal sintoma, e, por causa disso ou daquilo! Sintoma é, em geral, aquilo
que o sujeito reconhece como estando mal em si mesmo; a identidade é também, nesse
sentido, um sintoma.
20. E o que a psicanálise faz com a queixa que o paciente traz num primeiro contato?
R: Perfura-a, atravessa-a, passa através dela, por dentro dela, porque além dela há
muita coisa, isso é apenas o retorno do recalcado, é derivado, não é a coisa em questão. O
sintoma, muitas vezes, nem é reconhecido como tal. Precisaremos de um trabalho para que
o analisante o reconheça como sintoma e como derivado de algo de seu desejo.
21. Em que ponto do tratamento se passa de entrevistas preliminares para análise?
 R: É uma pergunta complexa, mas em termos básicos, é quando o analisante vai para o
divã. É quando começa a análise, é quando se vê que o sujeito quer realmente submeter-se
à tarefa analítica. Quando ele está mais disposto a investir na análise do que no seu
sintoma.
22. Qual a diferença dessas entrevistas preliminares e a análise em si?
R: Essa segurança de que ele é analisável e de que quer análise.
23. As intervenções teriam mais espaço agora do que antes?
R: Sim, aí sim! Claro, porque considera-se que ele agora esteja transferenciado com a
psicanálise, com o analista. Na verdade, a transferência constitui-se numa atribuição,

4
LACAN, J. De la psychose paranoïaque dans ses rapports avec la personnalité. Paris:
Seuil, 1975.

11
primeiro, ao saber. Saber sobre o quê? – Sobre sexo e morte. É isso que o paciente, quando
vê a inexorabilidade de seu sintoma, por esse sintoma não ceder, ele atribui a existência de
um saber sobre isso que seja o sintoma, o sexo e a morte, e depois atribui esse saber a
alguém, por isso que Lacan usou a expressão “Sujeito suposto ao Saber” (S.s.S).
24. Se não tem contato, qual a diferença do que a Psicanálise chama de transferência,
e o que as pessoas interpretam como o contato que é feito entre o paciente e o
analista?
R: Em termos metafóricos, seria essa relação que um analisante constrói com a escuta
de um analista. Embora não seja nem com o analista, é com a escuta, isso é um serviço
profissional, contato é um contato de amor. É claro que o paciente pede amor, mas o
analista precisa frustrar a demanda, não é porque seja antipático, ou queira puxar o tapete
dos outros, é que precisamos suportar esse lugar, de não ser bonzinhos, simpáticos,
agradáveis, nem apoiadores, acolhedores. Se conseguirmos isso, poderemos entrar na
questão que importa, a do desejo, não a da demanda. Então se você frustrar a demanda
aparecerá o desejo, se você satisfaz a demanda, não aparecerá mais nada, não há análise.
25. E o porquê do divã?
R: Muitas coisas. O divã é usado por muitas razões. Primeiro porque é uma maneira de
se evitar que essa função escópica interfira na fala. É muito comum que as pessoas pensem
que controlam o que é dito pelo que olham, pela reação que provocam no outro e, por essa
ilusão imaginária de que possam controlar, isso fica fora. Segundo, o analisante fica numa
posição deitada, na qual ele não precisa se preocupar com a sustentação física, senão que
apenas de fala – é o que importa – a escuta; a fala dele e a escuta. A escuta do analista só
vai ser mostrada como escuta, quando o analista falar. Pois aquela pretensa conversa em
que o analista fica sempre calado, isso não é análise, é uma porta! E eu não posso me
analisar com uma porta. Analista que não diz nada é uma porta, neste sentido a porta
também me “escuta”.
26. Mas o analista tem vários momentos de silêncio, não tem?
R: Tem, e o paciente também tem. E esse silêncio não é um só, é uma coisa múltipla.
Tem diversos silêncios. Há um silêncio que você faz porque já interpretou e o analisante
mantém-se resistindo, querendo racionalizar, fugir para a realidade, há também o reflexivo,
o resultado de um espanto e outros.
27. O silêncio não é sinônimo de surdez, de não estar ouvindo?
 R: Em princípio não, mas poderá ser também, há múltiplos silêncios, em algum

12
momento poderá ser: o horror ao ato do analista dizer, a resistência do analista, também a
resistência do paciente.
28. Horror ao ato?
R: Isso que você disse antes, de ter que ser bonzinho, e eu falei ao contrário, de ter que
ser diferente do bonzinho, e suportar um lugar que na cultura é visto como antipático, para
dizer coisas, que também na cultura são vistas como agressivas. Por exemplo, dizer ao
paciente que o que ele está dizendo é mentira. Na cultura, seria chamar de mentiroso e é
considerado ofensa. Um psicólogo, em geral, não faz isso, – isso seria grosseria! Quando
você chega a poder dizer isso a um paciente, ele sabe que não está sendo chamado de
mentiroso, ele já está em condições de reconhecer que essa é uma mentira na qual ele está
preso – e não que o analista esteja dizendo que ele é mentiroso; é outra coisa. Isso é uma
possibilidade de fazer metáfora, isso é um bom exemplo da capacidade de metaforização,
requisito para uma análise.
29. Se o analista só lida com as palavras, de alguma forma ele analisa a postura
corporal num divã?
R: Faz falar. Freud já disse isso, a respeito dos sonhos: “Sonhos são imagens, mas é
uma fala também”. Aquilo está no lugar de um dizer. Então o que se precisa fazer é essa
desmontagem do sonho, colocar as palavras onde estão as imagens, e daí mostrar o desejo
que está em pauta no sonho. Então também, por um acaso, se o analisante deitar com um
pé no divã e outro fora você pode apontar isso. Está com um pé dentro e outro fora da
análise. Esse ato fala. Mas claro que você não interpreta o ato em si, vai fazer o paciente
falar disso, você apenas aponta e faz aquilo que era um ato mecânico passar para o
simbólico – botar palavras nesse ato mecânico.
30. E a questão do preço, como é para a Psicanálise lidar com preço, dinheiro?
R: Sabemos que as pessoas lidam com dinheiro com o mesmo pudor e melindre com
os quais lidam com as questões sexuais.5 Lidar com dinheiro é lidar com questões sexuais,
dinheiro é sexual também. Ora, o lidar com o dinheiro para o analista tem de ser alguma
coisa tranquila para o analista, aliás, o dinheiro já é parte da análise, por isso não é
admissível que um analista faça com que uma secretária cobre a sessão. Isso não é
possível. Por quê? – Porque o problema do sujeito em questão pode ser exatamente o como
lidar com o dinheiro. Aí o sujeito vai se analisar com a secretária? Não se pode deixar de

5
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago: 1976. Vol. 12. p. 173.

13
fora essa parte da vida. A cultura, depois do troca-troca (escambo) passou a um nível de
simbolização através da moeda. O dinheiro toma o lugar de muitas coisas, e essa
simbolização é fundamental na vida das pessoas na cultura de hoje. Nós sabemos de muita
gente que diz, de algum familiar, de parentes que tinham um grande talento em
determinadas tarefas mas que viveram e morreram pobres porque nunca souberam cobrar.
Esse é um fator determinante de muitas coisas na vida de uma pessoa. Se você não sabe
cobrar vai pagar um preço alto, porque quando um serviço profissional é feito, alguém o
paga, se um não paga, o outro paga. Se analisante não paga, o analista paga. Quem vai
pagar essa hora? – O analista, certo?
31. Há possibilidade de ter diferentes valores de sessão?
R: Não há porque ser igual, não que não se possa cobrar um mesmo valor, mas não há
regras, de novo.
32. Então não tem preço preestabelecido? Vai de cliente para cliente?
R: Vai de analisante para analisante, cada caso é um caso! Mas isso não pode ser
levado para um outro extremo, uma outra visão, que seria assim: “Uma fobia custa tanto,
uma neurose obsessiva custa outro, uma psicose um pouco mais, a histeria de conversão
um pouco menos...” Entramos numa caricatura! O fato é que precisamos avaliar a cada
vez, ou seja, levar à sério o fato de que cada analisante é um analisante, é único – então não
pode haver regras que igualem a todos.
33. Não no sentido de classificar os pacientes pela queixa, pelo sintoma, mas sim pela
possibilidade de atender um empresário, que tenha muito dinheiro, e uma pessoa que
esteja precisando também, mas não tenha poder aquisitivo.
R: Mas nós não podemos tomar a realidade como parâmetro. É fugir para a realidade.
Um empresário milionário pode ser um “tio Patinhas”, cujo sintoma é essa retenção anal,
quase insuportável, mas não se pensa que esse milionário, talvez não possa pagar. Mais do
que alguém da classe média, ele pode ter dificuldades pessoais de pagar. Não porque não
tenha, senão porque não possa. Esse é o problema dele. Essa é a questão, essa é a neurose,
então não se pode cobrar mais do empresário por causa disso. E nem menos do outro, pelos
mesmo motivos. São coisas complexas, não podem ser levadas apenas no sentido
fenomenológico, descritivo, da realidade. Há que ter em conta a realidade psíquica, Freud
insiste nisso, na realidade “interna”6, em contraposição à externa. A consideração à

6
FREUD, S. “O Futuro de uma Ilusão”. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago: 1976. Vol. 22. p. 37.

14
realidade “externa” é onde reside a resistência.
34. Mas há acordo de preço na primeira sessão?
R: Pode haver sim, se ela for a primeira, mas ela pode ser a única, enfim, pode haver
apenas algumas. Pode haver acordo de preço sim, agora, terá de ser visto além da situação
prática, externa. Como você disse, um ganha bem, tem poder aquisitivo alto em termos
gerais, e outro baixo. Além disso, há de ser vista a outra questão, que é a mais
fundamental. Eu mesmo já tive uma impossibilidade de tratamento, porque cobrei menos
do que deveria e há um preconceito muito grande de que a psicanálise seja cara. Se nós
tivermos uma noção mais metafórica disso, eu diria que realmente a psicanálise é cara e
deve ser cara. Deve ser cara e só pode haver psicanálise cara. Psicanálise barata não existe.
A Psicanálise é cara, mas não é cara só em dinheiro, é cara em muita coisa. Como diz
Freud,7 muito mais cara do que a Psicanálise é a ignorância e a estupidez, que o sintoma
gera, claro; pois o que nos deixa burro é o sintoma, não existe burro e inteligente, existe
mais sintomático e menos.
35. Mas esse mito de que a Psicanálise é cara, afasta muitas pessoas de tratamento.
Por quê?
R. Eu diria que as pessoas fogem para esse mito. Muitas pessoas dizem que a
Psicanálise é cara sem nunca ter ido perguntar quanto custa, em termos de dinheiro.
36. Mas você acabou de dizer que a Psicanálise é cara.
R: É cara, mas não é em termos de dinheiro e sim, na responsabilização pessoal que
implica.
37. Como fica a questão da alta?
R: Essa é uma questão bastante complexa. O fim da análise não é dado
unilateralmente, do analista para o paciente. Diria mais, que é o paciente que se dá alta,
mas não como algo consciente, assim: “Ah, eu já estou bom...” Isto acontece nas primeiras
sessões, quando o paciente chega e diz: “Ah, melhorei tanto, tô tão bem...” É bom até a
gente perguntar: “Ah, então não precisa mais se tratar? Você está indo embora, beleza!, se
é por falta de adeus, tchau!” Agora, o que se passa é o seguinte, quando o analista passa a
ser dispensável para o analisante, quando acontecem muitas coisas. Como por exemplo,
quando o analisante já fez “sinthome”, já dissolveu seu sintoma, e já sabe fazer com ele,
como diz Lacan, fez-se “sinthome”, aí, em diferença ao sintoma, já sabe fazer algo

7
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago: 1976. Vol. 12. p. 176.

15
diferente com ele, já sabe usar aquela energia que era usada sintomaticamente, para obter
vantagens disso dentro da cultura. Então aí ele está num momento que a Psicanálise já fez
o que podia por ele. Isso vai acontecendo paulatinamente, e as pessoas envolvidas na
psicanálise, tanto o analista quanto o paciente, vão se desligando.
38. Decidem juntos?
R: Não, não é decidir juntos, porque pareceria uma coisa de discussão. Eu vou decidir
junto com o outro: eu dou a minha opinião, o outro dá a opinião dele e isso entra na
discussão fenomenológica, na discussão racional. Não é isso. O analisante vai dando
deixas de que a coisa já está assim, e daí acontecem atos falhos que mostram, ou outro
fenômenos do gênero. Eu conheço um caso assim, da literatura, do Harari, em que a
análise acabou quando o paciente deu para o analista uma caixa de chocolate mofado,
como presente. Ali, aquilo representou o fim da análise. Não foi porque o analista ficou
bravo, pois para ele, pouco importava se o chocolate estava mofado, mas aquilo mostrava o
fim da análise. É um caso complexo, esse, de fim de análise.
39. Como ele ia saber, que o chocolate estava podre?
R: Quando ele abriu e viu... Não precisa ser ali, naquela sessão, o fim de análise.
Depois que viu, voltou para outra sessão, e assim vai, mais algumas sessões e acaba a
análise. É um percurso que acaba, não é uma sessão que acaba.
40. Mas e o paciente, ele não sabia que estava dando chocolate podre para o analista?
R: Ele sabe ler, não sabe? Tem escrito o vencimento nas caixas de chocolate.
41. E a supervisão, todo analista necessita de uma supervisão?
R: Não. De um controle, sim! Senão é renegar o pai, ser o próprio Freud. Alguns
filósofos, muito acertadamente dizem, que é um filho sem pai, no sentido de que não há
precursores de Freud. Freud criou, começou quase do zero. Claro, sim, tem sim,
precursores muito longínquos, mas que já estavam para todos. Foi Freud que fez deles
precursores. Não foram eles que precederam Freud, senão Freud que deu esse significado
de precursores a eles. Ora, filho sem pai, mesmo ele reconhecia os outros. Lacan, em
Caracas, quando lhe disseram: “Ah, fizemos uma reunião Lacanoamericana em tua
homenagem”, respondeu: “Se vocês querem ser Lacanianos, que sejam, eu sou Freudiano.”
Ou seja, ele reconheceu um outro. Agora, que analista é esse, que não reconhece um outro?
Ele vai ler só os livros que ele mesmo escrever?
42. No caso da alta, do fim de análise, se ele não é decidido por nenhuma das partes,
ele é decidido por quem detém o saber, o inconsciente?

16
R: Exatamente. Mas o saber do inconsciente não é o mesmo saber na consciência. O
saber da consciência, é o saber referencial. O saber do inconsciente é o saber textual e é
esse saber que é do inconsciente. É o saber como possibilidade de escuta, é um certo estado
de alerta. Lacan disse: “a humanidade dorme.” E o que faz a Psicanálise é despertar.
43. Qual é a diferença entre esses dois saberes?
R: O saber referencial é aquele que tem referente. O que é uma tampa de caneta? É
isso que eu tenho na mão. A tampa daquela caneta ali. E esse saber aqui é o textual. É o
saber do inconsciente, como possibilidade de uma escuta, um estado de alerta, um saber
escutar e não um saber sobre algo específico.
44. Encaminhamentos, como se dá isso para a Psicanálise?
R: O que é isso? Muitas vezes algumas pessoas pedem indicações, o que ainda não é o
mesmo que encaminhamentos. Encaminhamento eu não sei o que é, parece pegar na mão e
levar a outro. Encaminhamento é o que faz o meio fio, do carro. Eles encaminham o carro
para ele não subir na calçada, pois se subir, está desencaminhado. Na psicanálise, a gente
não pode andar muito na linha, senão o trem pega, esse é o ponto. Então, há que sair pela
metáfora mesmo. Agora, quanto ao encaminhamento, eu não sei. Alguns pedem
indicações. É uma coisa complicada porque você não pode deixar de ouvir a demanda. Se
alguém pedir para você uma indicação, já está pedindo para você, então você já foi eleita, a
indicada. Isso não pode deixar de ser ouvido pelo analista. Muitos pacientes vem a nós
pedindo uma indicação por vergonha de colocar claramente que já estão pedindo uma
análise. Esse é o ponto, entende? Então a primeira coisa que tem que ser trabalhada é isso.
Porque pedes a mim. Se pedes a mim dirigindo-te a outro, ou pedes de outro dirigindo-te a
mim.
45. Mas no caso prático, não tens horário?
R: Sim, claro, aí tudo bem, se trabalha isso e se faz uma indicação. Pode-se indicar,
fazendo essa transferência andar por tabela, por assim dizer, pois em geral, não anda muito
bem por tabela, mas é o que dá para fazer, é uma impossibilidade da questão prática, o
sujeito não tem mais horário, então ele tem que indicar outro. Agora, encaminhar, seria
levar na mão até outro. Dizer assim: “Olha, eu conheço esse fulano de tal que é bom e tens
que ir nele.” Isto já seria mais perto do que você chamou de encaminhar. O caminho quem
faz é cada um. Aliás, se eu não posso atender, simplesmente diria que eu não posso
atender. Se ele me pede outra indicação, aí sim, posso sugerir, mas se não pede, também
não sugiro. Porque ele pode querer comigo, “sem-migo”, nenhum. Então tudo bem, fica

17
sem nenhum. Espera-se até quando ele quiser.
46. No caso de ficares doente, estando impossibilitado de atender, como fica?
R: Ele espera, não há outra possibilidade; ou, se não puder, procura outro analista.
47. Não informas?
R: Ah, informo, claro! O fato de esperar não significa que não seja informado disso. A
falta que o paciente vê de um analista tem que ser informada, claro! Quando o analista
falta, em geral tem que combinar isso, mas quando não pode, acontece alguma coisa
inesperada, avisa pelos meios que for possível isso, que a cultura permite. Hoje tem até
telefone celular. Agora, se for um tempo muito grande, um ano por exemplo, aí você
informa o analisante e vê o que ele quer fazer. Se ele diz que não pode esperar, pode
procurar outro.
48. É isso que eu quero saber, então você pergunta qual é o desejo dele?
R: Claro, toda a psicanálise é baseada nisso, no desejo dele.
49. E se ele pedir uma indicação?
R: Aí eu dou. Por quê não? Se eu estou impossibilitado e ele pede uma indicação...
50. Ah, mas não dá o encaminhamento, e sim uma indicação. O pedido tem que partir
dele. Seria essa a diferença?
R: Isso mesmo, isso muda tudo.
51. Para não ficar um encaminhamento, e sim uma indicação?
R: Claro, claro! Se eu não tenho mais de um nome que eu confie, tudo bem, eu posso
dar um, mas também não me comprometo com este um, como tendo que ser a obrigação,
de minha responsabilidade para ele, ou seja: “Vai nesse que esse eu confio, e ponto. Tens
que ir nesse.” Tudo bem, se eu não tenho outro, eu posso até indicar esse, mas não é que eu
vou estar por aí, tentando fazer um encaminhamento no sentido de “vá para onde eu quero
que vá.” Esse é o ponto. Não vou dirigir a vida do paciente.
52. E no caso das pessoas que tomam remédios, pacientes psiquiátricos, por exemplo,
como é que o analista lida com essa parte orgânica no tratamento?
R: Sobre a parte orgânica eu diria que não sabemos e não tratamos. Essa é a parte de
outros profissionais, os médicos. O analista não é médico nem bioquímico, não pode se
meter nisso. O que podemos fazer é verificar o que leva o sujeito a procurar sair da
realidade, da castração, por exemplo, com o entorpecimento das drogas. Bom, a questão de
drogas nesse sentido, não é tratada. O significante não é um produto da química.
53. Mas fazes um trabalho junto com um psiquiatra?

18
R: Não, junto não. Poderá ser simultâneo, mas não é junto. São coisas diferentes.
54. Mas e a responsabilidade do remédio?
R: Não é minha. Eu não estudei química nem bioquímica e sei que o significante não é
produto da química.
55. A Psicanálise não acredita, então, no poder da química?
R: Tu achas realmente que psicanalista não toma antibióticos, por exemplo?
56. Antibiótico é uma coisa, e psicotrópico é outra. O antibiótico não causa
alucinação, o psicotrópico causa, e neste caso?
R: Sim, mas e daí? A química é a mesma e bem eficiente nos dois casos – você
perguntava sobre a crença na química. Depois, qual é o problema da alucinação? Se o cara
quiser alucinar, vai conseguir um meio para isso, com ou sem química.
57. Trabalhas a alucinação dele?
R: Não. Trabalho o porquê dele procurar isso, ou o que ele procura com isso.
58. Ah, então esperas a alucinação passar?
R: Claro, alguém intoxicado que venha a mim, não dá para tratar. Aí pode haver um
bom lugar para um psiquiatra administrar remédios. Mas em geral o que se faz é um
trabalho de desintoxicação, o próprio Freud disse, e antes mesmo de Lacan: “A neurose é
tóxica”. Tudo bem, como significante encarnado, aí intoxica, mas não é uma química que
vem de fora, são coisas diferentes. E nós tratamos disso, dessa neurose que também
intoxica. Agora, sabemos que as drogas não são exatamente tratamentos, as drogas tratam
somente dos sintomas. Em geral, servem para aplacar um pouco as crises, a agitação
motora, a angústia, dando uma certa sonolência, esse tipo de coisa. Mas tratamento, é outra
coisa. Quando você tem uma dor de barriga, não sabe qual é a causa, toma um analgésico,
sabe que não está sendo tratada, está tomando alguma coisa para não sofrer o efeito da dor,
apenas. É assim que funcionam os psicotrópicos.
59. Periodicidade, tempo de duração da sessão e da análise, como é?
R: Bom, vocês falaram em tempo. Vocês sabem que é princípio básico da psicanálise
o inconsciente, e que o inconsciente é atemporal. Isso por si só, responde todas as
perguntas.
60. Mas precisa ter um setting, um enquadre.
R: Enquadre é moldura, certo? É aquilo que se bota num quadro, que o delimita, para
ser visto. Esse é o discurso psiquiátrico, não o psicanalítico. Nós não trabalhamos assim. A
psicanálise não se pauta por enquadre nenhum. Aliás, o que se faz o tempo todo é

19
desenquadrar, desadaptar, despersonalizar.
61. Mas marcas um horário específico, respeitas aquele horário, tens uma
periodicidade?
R: Isso se chama condição, compromisso, não enquadre. Se você marca com um
amigo, namorado, por exemplo, de estar em tal lugar a tal hora, e não vai é porque está se
fazendo desejar, ou outras coisas do gênero. Mas isso não é um enquadre. Se você marca
um encontro com um namorado e não vai, eu vou dizer; “Sim, por quê não te submetesses
ao enquadre?” – Não é isso.
62. Dizem que alguns analistas atendem em casa, esse “setting” não é um pouco
comprometedor, ainda mais para um psicanalista?
R: Nenhum analista atende em casa, poderá ter o consultório em casa. É imaginário
pensar que o paciente entra na casa do analista. Ainda que seja a casa do analista, para o
paciente, é o consultório. Não há setting algum, a não ser esse do imaginário que o
paciente cria, de que pode entrar na casa do analista. Agora a respeito do tempo de duração
e da periodicidade, se o inconsciente é atemporal, o tempo de duração de uma sessão não
vai seguir só o relógio, vai seguir o que se passa na sessão. Em geral, os analistas atendem
hoje, por volta de trinta a quarenta minutos. Há sessões de Lacan que não chegaram a um
minuto. Tratou-se um ato apenas.
63. Pois é, isso as pessoas criticam muito. Fale sobre isso, sobre o ato analítico, as
críticas a ele pelo tempo da sessão ser muito curto.
R: O tempo não é curto, o tempo é o tempo necessário. Quando a coisa se deu, acabou.
Não há que ficar repetindo o mesmo, para fugir para realidade, para racionalizar. O corte
da sessão é dado para se evitar isso tudo.
64. Dá um exemplo de ato analítico.
R: De Lacan: O paciente ia para sessão com um livro na mão, toda vez o colocava
sobre a mesa, e deitava no divã. Um dia, o paciente bateu na porta, Lacan abriu, pegou o
livro e mandou ele embora. Está feita a sessão, entende? Ele levava toda vez esse livro para
mostrar para Lacan. Uma hora Lacan ouviu isso e disse, tá bom, está aqui o livro, está feita
a sessão.
65. Mas isso não é responder a demanda do paciente?
R: Aí a sua questão é: qual era a demanda. Foi uma sessão, isso.
66. A demanda de querer que ele ficasse com o livro?
R: Está bom, mas quando ele fica com o livro, ele corta a sessão aí. Esse é o ponto.

20
67. Ah, entendi, se ele tivesse continuado a sessão.
R: Quanto à periodicidade, é a possível de cada um. E isso também está envolvido
com a possibilidade do analista, do paciente, da possibilidade de pagamento do paciente,
está envolvido com muitas coisas. Por exemplo, se eu só posso pagar uma sessão por
semana, eu não posso fazer duas, eu só posso pagar de quinze em quinze dias, e assim vai.
Freud não era Melanie Klein, que diz...
68. Então fazes um acordo?
R: Combinado, combina-se alguma coisa.
69. Ele assume um compromisso?
R: Claro, o que ele puder, mas sempre lembrando que o único compromisso que se
pode sustentar é o compromisso com o desejo.
70. O que mesmo a Melanie Klein dizia?
R: Os Klein anos definem o que é psicanálise e o que não é, pela frequência. Dizem
que, se for diária, ou até quatro ou cinco vezes por semana, é psicanálise; se for de três a
duas é psicoterapia, e uma por semana não é nada.
71. Ah, quer dizer que a psicanálise Lacaniana não tem esse...
R: Freudo-Lacaniana. Não, não tem. Sendo Freudiana, respeita o fato de que o
inconsciente é atemporal, mas não se faz disso uma palavra vazia, que serve na teoria e na
prática é outra coisa. Temos de fazer valer isso, levar a sério.
72. Quer dizer que pode existir uma análise a cada quinze dias?
R: Olha, a minha análise pessoal, começou com uma sessão a cada sessenta dias e logo
passou a dez sessões a cada sessenta dias.
73. Então isso é um mito?
R: Sim. Muito se fala sobre a psicanálise, hoje diríamos, talvez, fake news.
74. Por causa do custo?
R: Por causa do custo da minha resistência. Um Kleiniano diria que isso não é nada,
nem resistência. Esse é o ponto, ficamos impossibilitados de ouvir a resistência. Só que eu
não faço mais uma sessão a cada sessenta dias, isso mudou bastante. Para uma escuta
kleiniana, isso não seria nada, mas foi. E digo que foi porque mudou, foi a partir dessa
minha grande resistência, sendo submetida à intervenção analítica durante algum tempo,
que permitiu a mudança. E para quem considera isso nada, porque os kleinianos dizem
assim; há depoimentos de pessoas que procuraram kleinianos e disseram que a pessoa, por
telefone mesmo, atendeu e disse: “Eu tô mal, quero uma sessão, uma hora...” Ao que

21
responderam: – “Sim, mas o que você quer, porque se é para vir aqui uma vez por semana
só, não adianta. Cinco, quatro vezes, é psicanálise; três e duas é psicoterapia, e uma não é
nada, de forma que, ou você vem para uma análise, ou não vem” E não houve atendimento.
A pessoa não foi, pois nem sabia o que queria. Simplesmente estava mal, de forma que dali
poderia começar um tratamento, mas não houve possibilidade. A pessoa não queria entrar
num enquadre, ela queria ser ouvida, mas não foi. Ainda diria aquilo que em termos
clássicos se chama consulta, claro que nunca é consulta, não é assim – consultar sobre –
mas poderia ser ouvida, porque como se vai saber, já por telefone, se ela quer ou não uma
análise? Se, para uma análise, Freud diz que se precisa de um período chamado de
“entrevistas preliminares”. Se ela não faz nem as entrevistas preliminares, não há nada.
75. Dás o telefone para os teus pacientes?
R: Sim. Em geral, eles já o possuem, ligam para marcar horário.
76. No caso de um depressivo, assim que...
R: Ah, que vai pedir amor a todo o tempo... Há um caso interessante, de um analista
conhecido, que tirou férias, deu o telefone da casa dele, e deu a mancada de dizer que, se o
paciente precisasse, poderia chamá-lo e eles marcariam um horário nas férias. É claro, o
paciente ouviu essa sedução, e, no meio das férias do analista, pediu para ser atendido e o
paciente foi lá atender...
77. O paciente foi atender?
R: Já vai aparecer o porquê da inversão, o ato falho já mostra a situação: o analista
interrompeu suas férias mas esqueceu o horário do paciente.

Bibliografia complementar
1. Freud S. “Uma dificuldade no caminho da Psicanálise”. In: Obras Completas. XVII,
Rio de Janeiro: Imago, 1976. pp. 171-179.
2. Harari R. Psicoanálisis in-mundo. Buenos Aires: Kargieman, 1994.
3. Freud S. “O inconsciente”. In: Obras Completas. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1976.
pp. 191-233.
4. Lacan J. Seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
5. Lacan J. Seminário 19 – ...ou pire. In: Lacan 2000. [CD-ROM]. Buenos Aires: R.D.
Ediciones Electrónicas, 2000. Inédito. (Publicação para circulação interna)
6. Lacan J. Seminário 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

22
23

Você também pode gostar