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Curso Manual

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Psicoterapia EAD

As bases da Psicologia: qual seu referencial teórico?

Talvez o tema “referencial teórico” seja uma das maiores preocupações dos “psis”, e que
vai aumentando a medida que se aproxima da formação. Escuto muitas vezes os alunos
em último semestres preocupado, alguns desesperados, por ainda não terem definido
uma linha para seguir.
Sou daqueles que acredita que não somos nós que escolhemos a abordagem e sim que
ela nos escolhe, mas o que isso quer dizer? Que já temos uma visão de mundo e que
alguma abordagem compactua com essa visão, ou seja, não somos os primeiros a pensar
assim, alguém já pensou antes. Por isso, em supervisão uma das coisas que procuro fazer
é garimpar o tipo de raciocínio que o aluno tem e encaminhar para a abordagem que fala
sua língua.
Não posso deixar de comentar aqui aqueles que tem resistência em gostar de qualquer
coisa, do tipo: “odeio Psicanálise” ; “acho que o Humanismo não tem nada a ver”, etc.
Resolve esses posicionamentos com uma simples pergunta: “Me diga exatamente com o
que discorda de tal abordagem”. Em geral, silêncio. Uma coisa tipo, não sei e não gosto.

Maslow faz uma divisão das Escolas da Psicologia que julgo extremamente útil e
possibilita localizar nossa visão de mundo e consequentemente, nosso referencial teórico.
Maslow divide a Psicologia em 4 Forças:

1a- Psicanálise
2a- Behaviorismo
3a- Humanismo
4a- Transpessoal

As duas primeiras são consideradas como possuidoras de uma visão pessimista de ser
humano, pois estes não tem liberdade de escolha. Na primeira força são determinados
por um desejo inconsciente e na segunda são apenas respondentes aos estímulos
ambientais. A terceira e quarta força já tem uma visão otimista do homem, considerando
o homem como um ser em constante evolução e expansão da consciência. Na terceira se
encontram o humanismo, a fenomenologia e o existencialismo. E por fim, na quarta força,
a Psicologia Transpessoal que inclui aos elementos da terceira força aspectos como
estados alterados de consciência e a espiritualidade.
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Não considero essa divisão completamente correta, pois, por exemplo, na Psicanálise,
existem várias escolas, como a Winnicottiana que tem uma visão otimista de ser humano.
Enxergo que a Psicanálise está em sua grande parte na segunda força mas que seus
dedos de uma das mãos toca na terceira força.

Qual é sua visão de mundo?

Exercício: escute a queixa de alguma pessoa, algum problema relatado por uma pessoa.
Pode ser alguém da família, amigos, parceiro(a) ou até você mesmo. Como você
“explica” a questão. Não de modo teórico, mas com suas palavras.

E nesse curso, por onde seguiremos?

Apesar de reconhecer a importância de todas essas Escolas, usarei a primeira como


Grande Escola Base. Mesmo que seu referencial não seja exatamente o Psicanalítico,
acredito que este treinamento poderá ampliar sua visão clínica e futuramente somar ao
conteúdo do referencial teórico de sua preferencia.

Como dito anteriormente, Maslow considera a Psicanálise uma abordagem de visão


pessimista, eu não a vejo assim, seja na minha análise pessoal, seja na prática como
Psicólogo Clínico, percebo e experiencio o quanto a Psicanálise leva a um
desprendimento de certo controle sobre a vida que se mostra o grande horizonte
libertador. Mas veja só que raciocínio maluco: por considerar que “somos controlados”
por um desejo inconsciente, podemos nos sentir livre, afinal “da morte ninguém escapa”.
Se ficou metafórico demais trago aqui uma outra ideia, um Psicanalista francês ao ser
questionado o que é a Psicanálise responde: “a vida por si só é uma psico análise, é se
dar conta ao envelhecer (de forma saudável) que levaste a vida a sério demais, que amou
de menos, que teve medo demais. Bem, a Psicanálise antecipa essa percepção, já
imaginou chegar a estas conclusões, via experiência, aos 30, 40, 50 anos e ainda ter
muitos anos pela frente?

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7 características da Clínica Psicodinâmica

1- Experiência Subjetiva

Parece existir uma tendência nas pessoas em se universalizar. É muito comum tomar uma
experiência subjetiva e supor que todas as pessoas tenham a mesma experiência, talvez
aqui tenha relação com nossa veia narcísica. Uma criança acha que a sua escola é A
Escola, que todos conhecem A Sua Professora, seu universo se resume ao seu umbigo.
Ao mesmo tempo tem algo de “diluir” sua questão, seu sofrimento, sua fraqueza, seu
defeito, quando encontra outros que passam pela mesmas questões. Já pensou ir ao
médico e ele lhe dizer que sua doença é desconhecida da medicina, por um lado o
narcisismo “diz” - sou especial. Por outro lado a preocupação de não fazer ideia do que
vem pela frente.
Os cliente chegam ao consultório em busca do modelo médico e querem ser
diagnosticados: o que eu sou? O que eu tenho? Ainda que seu quadro se encaixe em
alguma classificação nosológica, a Psicanálise considera que cada um vive seu quadro a
sua maneira. Em outras palavras dentro do universal encontrar o particular.
Assim que enxergo o grande diferencial da psicanálise com relação a psiquiatria, me
parece que essa última se preocupa com o universal, classifica o paciente dentro de um
combinado de transtornos, ao passo que, a Psicanálise se interessa pelo particular do
sujeito. Depressão? Ok, mas como é a SUA depressão?

2- O inconsciente
O inconsciente já é pensado desde muito antes de Freud, mas sempre num sentido
daquilo que “não estes consciente” ou seja, como um adjetivo. A descoberta freudiana é
o inconsciente como substantivo, como um lugar psíquico com leis próprias que o regem,
leis estas diferentes de como se estabelecem na consciência.
Em 1900, Freud propõe um modelo de aparelho psíquico dividido em consciente, pré-
consciente e inconsciente . No consciente está aquilo que, como o próprio nome diz esta
consciente, no pré-consciente o material está inconsciente mas pode ser acessado a
qualquer momento e ser trazido para a consciência e por fim, o inconsciente contendo os
elementos arcaicos do psiquismo e também os elementos recalcados, que por algum
motivo passaram por uma censura no nível pré-consciente e se mantém ali.
Um dos pontos que mais confunde os recém ingressos na Psicanálise é ausência de
contradição que existe neste nível psíquico. Ouço muitas vezes em supervisão e mesmo
da fala dos clientes que tal coisa não tem sentido, que é contraditório. Sim, para a
consciência a contradição é um problema, porém no nível inconsciente a contradição é
quase uma condição. Assim como outras leis confusas, como a atemporalidade. Coisa
que foram vividas há 20 anos atrás pelo cliente convivem com questões de um dia atrás.

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3- Determinismo Psíquico
Lembra daquele assunto da primeira aula da Psicanálise ser pessimista? Eis aqui o grande
ponto que contribui com essa opinião. Somos determinados por desejos inconscientes,
desejos esses que não sabemos exatamente de que mas que buscam a sua satisfação.
"Somos conscientemente confusos e inconscientemente controlados” (Gabbard).

4- O passado é o protagonista
Como foi sua infância? Pergunta clichê quando retratam psicanalistas em filmes, seriados,
livros etc. E claro, isso fica na ficção, pois na prática você nunca pergunta assim direto.
Essa é a fama da Psicanálise, muitas vezes criticada por isso. É claro que isso é um
engano decorrente da ingenuidade, mas não podemos negar que a infância tem uma
importância enorme nessa abordagem, pois nela estão nossas primeiras experiências de
amor, ódio, experiências de abandono, de rejeição, etc. Esses vários elementos deixam
marcas, que por mais que muita coisa mude ao longo da vida, aquelas primeiras marcas
estarão ali.
Uso sempre como exemplo uma árvore que para crescer precisou buscar luz desviando
de uma sombra, e a base de tronco ficou torta. Ainda que depois, encontrada a luz
direta, ela vem crescer para cima, o desvio, a curva na base sempre estará ali. Imagine
que a Psicanálise abordará os momentos da árvore sem luz direta, o esforço do tronco
precisando entortar e depois crescimento.

5- Transferência
A transferencia é uma repetição do passado na situação analítica atual. Ela é condição
para que um processo ocorra, o psicoterapeuta funcionará como um receptáculo das
projeções do passado do cliente. Imagine uma sessão espírita, o analista empresta o
corpo para que os espíritos do passado encarnem nele. E por que isso? Lacan dirá que
todas as cartas enviadas pelo cliente e que não chegaram ao destinatário, chegará agora
na pessoa do passado encarnada no analista. Amor e ódio são sentimentos esperados a
ser nutridos pela figura do psicoterapeuta. Mas lembre-se, não é com você e sim quem
estes sendo projetado em você.

6- Contratransferência
Continuando a ideia do tópico anterior, “não é comigo”, repita isso como um mantra. O
cliente te colocará em um lugar, projetará sobre você as figuras do passado, enviará as
cartas não entregues, mas o analista não pode responder dai, como se fosse uma dessas
pessoas, responder dai seria atuar na contratransferência. Um bom psicoterapeuta, que
faz ou fez seu processo psicoterápico, que estes em supervisão, não responderá dai,
ocupara o lugar para a projeção mas desmontará a repetição antes que seja tarde
demais. Porém, muitas vezes o profissional não se cuidou, não se cuida, e a questão
trazida pelo cliente passa perto da sua, e acaba tomando para si a questão.

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Winnicott traz outra visão sobre a contratransferência, e a considera como uma


ferramenta muito importante em casos fronteiriços. Mas alerta, que casos assim deve ser
deixado para psicoterapeutas com experiência. Nesse curso fico nesse lugar de não
concordar com o uso dela, pois sem experiencia ela pode estragar o processo. Peço para
meus supervisionandos que anotem, percebam, tragam para a supervisão seus
sentimentos contratrasferenciais, mas que se limitem a isso.
Para supervisionandos mais experientes ai sim os oriento e mostro a importância da
contratransferência para trazer um senso de realidade a uma personalidade fronteiriça ou
de falso self.

7- Resistência
A resistência acompanha o processo passo a passo. Resistência de recordar, resistência
de progredir, mecanismos de defesa como resistência, a própria transferencia como uma
forma de resistir ao novo e repetir o mesmo. Freud, no trabalho “Compêndio da
Psicanálise”, deixa claro que numa segunda etapa do processo de “cura” aparecerá um
fenômeno muito difícil de lidar, que é “uma necessidade de sofrer” ou uma necessidade
de estar doente.

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