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O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz

dos fatos”
Epitetus – Sec. I

Esta frase proferida há tanto tempo atrás sintetiza a premissa básica da


Terapia Cognitivo-Comportamental que é: “o que importa é a  forma como
entendemos as diversas situações impostas pela vida e não estas situações
em si mesmas.” Colocado de outra forma: diferentes pessoas podem ver um
mesmo evento e suas conseqüências de formas muito diversas, sendo uma,
por exemplo, extremamente pessimista e outra, do contrário, bastante
esperançosa.
Um jeito mais didático de aprendermos o que isto significa é comparar
este modo particular de enxergar os fatos como uma espécie de óculos que
ganhamos quando nascemos… Estes óculos têm uma cor  característica
decorrente de aspectos genéticos/ biológicos (nossas tendências inatas, nosso
temperamento), mas, no decorrer dos anos, ele vai ficando mais embaçado ou
mesmo arranhado devido às nossas vivências com pais, professores, amigos e
sociedade em geral. Vamos dar um exemplo para facilitar: alguém nasce com
uma “tendência” genética  para a Depressão (com uns óculos mais
acinzentados) e, no contato com pais e amigos sempre lhe foi dito que ele “não
era capaz de fazer as coisas direito”. Isto pode arranhar a sua lente
acinzentada, fazendo com que ele tenha uma crença de que é incapaz. Este
sujeito, quando adulto,  se separa da sua esposa que o trai com seu melhor
amigo e, sua “lente” que já era cinzenta e arranhada lhe “diz” que esta situação
é impossível de ser superada e que ele deve desistir de tudo, ficando muito
deprimido e isolado. Sua crença de incapacidade está lhe afirmando isto!
As  lentes, portanto, através das quais o homem deprimido vê a realidade  são
lentes distorcidas pela depressão, da mesma forma que um ansioso, vai
encarar a vida com lentes distorcidas pela ansiedade, e assim por diante.
A meta da Terapia Cognitivo-Comportamental é tornar as lentes dos
pacientes mais transparentes, para que os fenômenos possam ser vistos sem
distorções, já que estas distorções cognitivas influenciam  os PENSAMENTOS
que, por sua vez, desencadeiam EMOÇÕES e COMPORTAMENTOS. No caso
do exemplo acima, o indivíduo, por pensar que sua vida não terá jeito sem a
esposa, sente-se triste e age se isolando das outras pessoas.
Podemos sintetizar estas informações apresentando os objetivos principais
deste tipo de terapia:
 Ensinar o paciente a reconhecer as cognições (Pensamentos) de conotações
negativas e as conexões entre cognição, afeto e comportamento;
 Substituir  cognições distorcidas  por interpretações mais orientadas para a
realidade.

O trabalho terapêutico não  se trata de  estimular que o paciente tenha


“pensamentos positivos”, mas sim de fazer uma análise acurada da realidade,
pois ele pode partir de pressupostos “contaminados” por suas crenças a
respeito de si mesmo, do mundo e do futuro, as quais podem estar muito
distorcidas. O terapeuta irá levantar hipóteses acerca de como cada indivíduo
construiu a sua realidade (aquilo em que acredita, suas crenças) e analisar,
assim, os padrões de pensamento gerados por estas crenças, que, quando
inadequados ou disfuncionais, criam conflitos e sofrimento para a pessoa.
Todo este trabalho de desfazer as distorções é realizado pela dupla
paciente e terapeuta, sendo que este último necessita ter um comportamento
dinâmico/ ativo, que avalie cada etapa do processo terapêutico em conjunto
com o paciente.
Pensamento Automático :
Como já explicamos, o foco do trabalho terapêutico na Terapia
Cognitivo-Comportametal é o pensamento, o qual pode ser funcional ou
disfuncional.
Em um nível mais  acessível, está o que chamamos de “Pensamento
Automático”. Este tipo de pensamento funciona como um telegrama ou torpedo
de celular, sendo rápido e resumido. Ele é o pensamento “que pula” quando
nos deparamos com alguma situação e que, quando não estamos treinados,
nem nos damos conta, mas à medida em que vamos prestando atenção
acabamos ficando “mestres” no seu reconhecimento.
No início do tratamento, os pensamentos automáticos muitas vezes são
identificados apenas após gerar alguma emoção (como a ansiedade), alteração
fisiológica (como o coração disparado) e comportamento (como gritar), no
entanto a meta é identificá-los, examiná-los e corrigi-los (se necessário) antes
de ocorrerem estas consequências. Vamos dar um exemplo: se estou me
atrasando para uma aula posso ter os seguintes Pensamentos Automáticos:
“Vou me atrasar”, “Vão rir de mim”, os quais vão gerar ansiedade, meu coração
vai disparar e posso desistir de ir para a aula.
Crenças Intermediárias e Centrais
Além dos pensamentos automáticos, as crenças são objeto de estudo da
Terapia Cognitivo-Comportamental. Elas podem ser de dois tipos:
 Crenças Centrais: , como regras inflexíveis e hipergeneralizáveis
que regem a vida do indivíduo e determinam a maneira dele
entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente,
independente do momento ou da situação. Vamos voltar para
aquele exemplo do marido que foi traído: ele tem crenças de que
“é um fracasso” e de que “é incapaz” e estas idéias vão aparecer
mesmo se ele ganhar o Prêmio Nobel!

 Crenças Intermediárias: são também crenças que o indivíduo tem


relacionadas a diversos aspectos da vida que aparecem
como pressupostos, regras e atitudes. Elas não são tão rígidas e
hipergeneralizáveis como as crenças centrais. Elas se conectam
com as Crenças Centrais.
Vamos ver um exemplo de Pressuposto… Se alguém tem uma Crença
Central que diz “Não sou digno de ser amado”, pode ter uma Crença
Intermediária que oriente: “Se fizer tudo que os outros querem, posso ser
amado (Positiva). Se não fizer, vou ser desprezado (Negativa). Enquanto este
indivíduo conseguir se auto sacrificar e tiver “uma chance” de ser amado (parte
Positiva do Pressuposto), poderá se manter funcional, mas no momento em
que isto não dá certo, a parte negativa do Pressuposto entra em ação e ele fica
deprimido. Um exemplo de Regras é, neste mesmo caso, o sujeito pensar:
“Deveria me auto sacrificar sempre” e, de atitude, “Vou me auto sacrificar”.
Durante a terapia, você e seu terapeuta trabalharão para identificar suas
Crenças Centrais e Intermediárias para que seja possível “limpar as distorções
de seus óculos” e, assim, você possa avaliar os eventos de uma forma mais
próxima à realidade, não tendo mais pensamentos, emoções e
comportamentos disfuncionais.

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