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ENTENDENDO O MODELO COGNITIVO

A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) propõe que as cognições influenciam


as emoções e comportamentos, assim como a maneira de se comportar pode
influenciar significativamente os padrões de pensamentos e emoções. A TCC é
fundamentada em um modelo de processamento, o qual indica que fazemos uma
contínua avaliação das situações que vivenciamos.

A partir do nosso sistema de crenças, interpretamos os eventos do nosso


cotidiano. Ou seja, a partir da forma como tendemos a pensar sobre nós mesmos,
sobre os outros e sobre o futuro, fazemos avaliações da realidade. Como consequência
desse funcionamento cognitivo, nossos pensamentos exercem influência direta sobre
as emoções e as ações subsequentes. Este sistema pensamento-sentimento-
comportamento recebeu o nome de modelo cognitivo.

PENSAMENTO

SITUAÇÃO

COMPORTAMENTO SENTIMENTO

Por exemplo, se diante da situação de fazer uma apresentação em público surge


o pensamento como “eu não vou conseguir, vou passar vergonha”, provavelmente
uma série de sentimentos disfuncionais surgirão.

As emoções estimuladas por esse pensamento podem ser fáceis de prever, como
ansiedade, angústia, além das respostas fisiológicas, como aceleração dos batimentos
cardíacos, tensão física, boca seca e frio na barriga. Na medida em que há a alteração
da forma de compreender e interpretar a situação, e, por conseguinte, das emoções, a
forma de se comportar também sofre influência.

O ciclo se retroalimenta, já que o comportamento desadaptativo, fruto das


emoções e das respectivas distorções cognitivas, reforçam os pensamentos que o
originaram. Tomemos novamente o exemplo usado anteriormente sobre falar em
público. Ao se sentir ansioso, o indivíduo pode se esquivar da apresentação que iria
fazer, ou abreviar sua fala. Ao se comportar desta maneira, os pensamentos de que

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aquela situação era perigosa se fortalecem e pessoa pode considerar que esteve
segura apenas porque se esquivou ou fugiu da situação.

Os comportamentos quando controlados pelas emoções também a fortalecem.


Imaginemos um ansioso que se comporta de tal forma a fim de reduzir sua ansiedade.
Ele não desenvolve um repertório para regulá-la e não age independente dela. O que
ele faz é considerar que ela é perigosa e, ficando sobre controle da emoção, não
aprende a tolerá-la. Em geral, ao se comportar dessa forma, o próprio comportamento
também é reforçado e tende a se manter, pois possivelmente ele produziu uma
diminuição em alguma resposta emocional desagradável.

A TCC propõe ainda que, à medida que este ciclo se estabelece, é possível que
emoções e comportamentos se instalem de maneira que os pensamentos possam
deixar de existir em dadas situações. Dessa maneira, padrões emocionais e
comportamentais são associados e se mantêm de forma automática, sem que haja ou
perceba a presença de pensamentos acerca da situação.

Por outro lado, o ciclo também pode ter início com as emoções, como, por
exemplo, quando passamos por situações em que emoções são diretamente eliciadas
por estímulos. No futuro, estímulos parecidos com os que foram vivenciados
anteriormente serão capazes de gerar o mesmo tipo de resposta emocional. Nestas
situações, é natural que os pensamentos venham a ser regidos pela emoção sentida
naquele momento. Se estivermos tristes ou com raiva, nosso conteúdo cognitivo
acaba sendo influenciado pela forma como estamos nos sentindo. O mesmo ocorre
com nosso comportamento.

Para que a mudança do ciclo ocorra é preciso que as cognições se tornem


interpretações mais funcionais da realidade, as emoções reconhecidas e manejadas, e
o comportamento sejam desenvolvidos em um repertorio mais adaptativo.
Independentemente onde o ciclo comece, é importante saber quais pensamentos,
sentimentos e comportamentos se influenciam entre si, e, para que o ciclo não se
perpetue, é interessante que o seu funcionamento seja compreendido.

Conhecer o nosso funcionamento diante das situações é o primeiro passo para


que essas alterações possam ser realizadas com eficácia. Para isso, é importante o
entendimento do modelo cognitivo-comportamental anteriormente apresentado.

*Fonte: Carla Stor de Aguiar e Nathália Della Santa Melo Dantas

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Distorções cognitivas - a importância de identificá-las e de questioná-las

As DISTORÇÕES COGNITIVAS são basicamente maneiras distorcidas de processar uma


informação, ou seja, são interpretações enviesadas do que nos acontece, criando
diversas consequências negativas.  Quando se sofre de depressão, por exemplo, tem-
se uma visão da realidade na qual as distorções cognitivas exercem um papel principal
(visão de túnel). Todos nós podemos utilizar algum tipo de distorção cognitiva. Saber
detectá-las e analisá-las ajuda-nos a desenvolver atitudes mais realistas e, acima de
tudo, mais funcionais.

1. Pensamento do tipo tudo-ou-nada (também chamado de pensamento preto-e-branco,


polarizado ou dicotômico): você vê uma situação em apenas duas categorias em vez de um
contínuo. “Se eu não for um sucesso total, eu sou um fracasso”.
2. Catastrofizando (também denominado adivinhação) – você prevê o futuro negativamente
sem considerar outros resultados mais prováveis. “Eu ficarei tão aborrecida que não serei
capas de agir direito”.
3. Desqualificando ou desconsiderando o positivo – você irrazoavelmente diz para si mesmo
que experiências, atos ou qualidades positivos não contam. “Eu fiz bem aquele projeto, mas
isso não significa que eu seja competente; eu apenas tive sorte”.
4. Argumentação emocional - você pensa que algo deve ser verdade porque você “sente” (em
realidade, acredita) isso de maneira tão convincente que acaba por ignorar ou desconsiderar
evidencias contrárias. “Eu sei que faço muitas coisas certas no trabalho, mas ainda eu me
sinto como se fosse um fracasso.”
5. Rotulando – você coloca um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou sobre os outros sem
considerar que as evidências poderiam ser mais razoavelmente conduzidas a uma conclusão
menos desastrosa. “Eu sou um perdedor. Ele não presta.”
6. Magnificação/ minimização - quando você avalia si mesmo, outra pessoa ou uma situação,
você magnifica irracionalmente o negativo e/ou minimiza o positivo. “Receber uma nota
medíocre prova quão inadequada eu sou. Obter notas altas não significa que eu sou
inteligente”.
7. Filtro Mental (também denominado abstração seletiva) – você presta atenção indevida a um
detalhe negativo em vez de considerar o quadro geral. “Porque eu tirei uma nota baixa na
minha avaliação (que também continha várias notas altas) isso significa que eu estou fazendo
um trabalho deplorável”.
8. Leitura mental – você acha que sabe o que os outros estão pensando, falhando assim ao
considerar outras possibilidades mais prováveis. “Ele está pensando que eu não sei nada
sobre esse projeto”.
9. Supergeneralização – você tira uma conclusão negativa radical que vai muito além da
situação atual. “Porque eu me senti desconfortável no encontro, eu não tenho o que é
necessário para fazer amigos”.

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10. Personalização – você acredita que os outros estão se comportando negativamente devido a
você, sem considerar explicações mais plausíveis para o seu comportamento. “O encanador
foi rude comigo porque fiz algo errado.”
11. Declarações do tipo “eu deveria”, “eu devo” (também chamadas imperativas) – você tem
uma ideia exata estabelecida de como você ou os outros deveriam comportar-se e você
superestima quão ruim é que essas expectativas não sejam preenchidas. “É terrível que eu
tenha cometido um erro. Eu deveria sempre dar o melhor de mim.”
12. Visão em túnel – você vê apenas os aspectos negativos de uma situação. “O professor do
meu filho não sabe fazer nada direito. Ele é critico insensível e ensina mal”.

*Fonte: Beck, Judith S. (1997). Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed.

Luciana Feitosa
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