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Identificando crenças intermediarias e crenças nucleares (Principais técnicas)

ESQUEMAS
Na teoria cognitivo-comportamental, os esquemas são definidos como matrizes ou regras
fundamentais para o processamento de informações que estão abaixo da camada mais superficial dos
pensamentos automáticos (D. A. Clark et al., 1999; Wright et al., 2003).
Esquemas são princípios duradouros de pensamento que começam a tomar forma no início da
infância e são influenciados por uma infinidade de experiências de vida, incluindo os ensinamentos e o
modelo dos pais, as atividades educativas formais e informais, as experiências de seus pares, os traumas e os
sucessos.
Bowlby (1985) e outros observaram que os seres humanos precisam desenvolver esquemas para
lidar com as grandes quantidades de informações com as quais se deparam a cada dia e para tomar decisões
oportunas e apropriadas.
Foi sugerido por D. A. Clark e colaboradores (1999) que existem três grupos principais de esquemas:
1. Esquemas simples: Regras sobre a natureza física do ambiente, gerenciamento prático das
atividades cotidianas ou leis da natureza que podem ter pouco ou nenhum efeito sobre a
psicopatologia.
2. Crenças e pressupostos intermediários: Regras condicionais como afirmações do tipo se-então,
que influenciam a autoestima e a regulação emocional. Exemplos: “Tenho de ser perfeito para
ser aceito”; “se eu não agradar aos outros o tempo todo, então eles me rejeitarão”; “se eu
trabalhar duro, conseguirei ter sucesso”.
3. Crenças nucleares sobre si mesmo: Regras globais e absolutas para interpretar as informações
ambientais relativas à autoestima. Exemplos: “Não sou digna de amor”; “sou burra”; “sou um
fracasso”; “sou uma boa amiga”; “posso confiar nos outros”.
Crenças nucleares negativas sobre si mesmo recaem em três categorias:
 desamparo (ser ineficiente – ao fazer as coisas, na autoproteção e/ou ao se equiparar a outras
pessoas);
 desamor (ter qualidades pessoais que resultam em uma incapacidade de receber e manter amor e
intimidade dos outros);
 e desvalor (ser um pecador imoral ou perigoso para os outros)
A maioria dos pacientes obtém maior benefício ao reconhecer o conceito geral de que esquemas ou crenças
nucleares têm uma forte influência na autoestima e no comportamento. Ensina-se aos pacientes que todas
as pessoas têm uma mistura de esquemas adaptativos (saudáveis) e crenças nucleares desadaptativas.
Nosso objetivo é identificar e desenvolver os esquemas adaptativos e ao mesmo tempo tentar modificar ou
reduzir a influência dos esquemas desadaptativos.

CRENÇAS INTERMEDIÁRIAS: ATITUDES, REGRAS E PRESSUPOSTOS

Crenças nucleares são o nível mais fundamental de crença; quando os clientes estão deprimidos, essas
crenças tendem a ser negativas, extremas, globais, rígidas e generalizadas. Pensamentos automáticos, as
palavras ou imagens reais que passam pela mente de uma pessoa, são específicos para a situação e podem
ser considerados como o nível mais superficial de cognição. As crenças intermediárias existem entre os dois.
As crenças nucleares influenciam o desenvolvimento dessa classe intermediária de crenças, que consiste em
atitudes, regras e pressupostos (frequentemente não expressos).

Essas crenças influenciam a sua visão de uma situação, a qual


por sua vez influencia como se pensa, sente e age. A relação
dessas crenças intermediárias com as crenças nucleares e os
pensamentos automáticos está representada a seguir:

IDENTIFICANDO ESQUEMAS

Métodos para identificar esquemas

 Utilizar diversas técnicas de questionamento


 Realizar psicoeducação
 Identificar padrões de pensamentos automáticos
 Conduzir uma revisão da história de vida
 Usar inventários de esquemas
 Manter uma lista pessoal de esquemas

Técnica

Seta descendente

O terapeuta escreve o pensamento do paciente no topo da página e depois desenha uma seta
descendente em direção à série de pensamentos ou eventos implicada pelo pensamento.
Descobrir esquemas com técnica da seta descendente envolve uma série de perguntas que revelam
níveis cada vez mais profundos de pensamento. As primeiras perguntas normalmente são dirigidas aos
pensamentos automáticos. Mas o terapeuta infere que está presente um esquema subjacente e constrói
uma série encadeada de perguntas interligadas que desenvolvem um pressuposto (a ser testado e
modificado posteriormente) de que as cognições do paciente estão mostrando uma representação precisa
de si mesmo. A maioria das perguntas segue esse formato geral: “Se esse pensamento que você tem sobre si
mesmo é verdadeiro, o que isso diz sobre você?”. O propósito do questionamento é trazer à tona crenças
nucleares que provavelmente precisarão ser mudadas.

EXEMPLO 1

Um cuidador compulsivo que tenta tomar conta das necessidades de todas as pessoas, e tinha medo de
morrer. Seu medo estava focado no bem-estar de sua esposa e filha, caso ele morresse.

Terapeuta: Em que aspecto o fato de morrer o incomoda mais?


Paciente: Não é a dor física. Eu na verdade não me preocupo com isso. E já fiz coisas suficientes para umas
cinco vidas. O que acontece é que, se eu morresse, ficaria preocupado de não ter cuidado de todos.
Terapeuta: De quem você teria que cuidar? Paciente: Da minha esposa e minha filha. Eu poderia morrer se
soubesse que elas ficariam bem.
Terapeuta: Então você está dizendo que poderia aceitar a morte se soubesse que as pessoas que ama estão
sendo cuidadas?
Paciente: É isso mesmo.
Terapeuta: Você está pressupondo que elas ficariam desamparadas sem você?
Paciente: Acho que sim

Situação: pensar em morrer/medo de morrer



Pensamento automático: ficaria preocupado de não ter cuidado de todos

Crença intermediaria: se eu morrer, minha esposa e filha ficariam desamparadas
EXEMPLO 2

Situação: romper com a esposa



Pensamento automático: Eu estraguei tudo, nunca faço nada certo, nunca vou conseguir ficar com
ninguém

Crença central: Não sou bom em nada, sou inútil, não sou capaz

REFERENCIAS

Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado / Jesse H. Wright, Monica R. Basco,


Michael E. Thase; tradução Mônica Giglio Armando. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática/ Judith S. Beck; tradução: Sandra Maria Mallmann da
Rosa; revisão técnica: Paulo Knapp. – 3. ed. – Porto Alegre: Artmed, 202

Técnicas de terapia cognitiva : manual do terapeuta/ Robert L. Leahy ; tradução: Sandra Maria Mallmann
da Rosa; revisão técnica: Irismar Reis de Oliveira. – 2. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2018.

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