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REPARANDO BRECHAS - 2023 1

Pr. Adenilton Aguiar - SALT FADBA

Texto-chave: Salmo 13:1-6 A) Derramando sobre Deus


as nossas queixas (versos 1-2)

1. Davi começa este salmo falando da angústia


INTRODUÇÃO e tristeza armazenadas no coração. Neste mundo de
pecado podemos passar por momentos de profundo
I. Alguns salmos da Bíblia são muito conheci- pesar. O que fazer nessas horas? Este salmo nos en-
dos pela igreja. Seguramente, muitos de nós sabe- sina que devemos levar nossos pesares a Deus! Não
mos de cor os salmos 23, 46, 91 etc. Outros salmos é difícil imaginar Davi chorando enquanto escreve as
não são tão conhecidos, mas são igualmente belos palavras dos versos um e dois. Ele está chorando no
e apresentam poderosas mensagens de esperança. colo de Deus! Ele tem a forte impressão de que Deus
Um exemplo disso é o Salmo 13. Nesse salmo, Davi se esqueceu dele. Mas pode Deus esquecer? Em Isaí-
encontra-se perplexo porque Deus parece indife- as 49:15 Deus diz que uma mãe pode até esquecer-se
rente. Ele vive um sofrimento prolongado. Em uma do filho que amamenta, mas Ele jamais se esquecerá
comovente oração, ele pergunta a Deus: “esquecer- de nós! Porém, no momento da dor, sentimos a im-
-te-ás de mim para sempre?” (v. 1). Em seguida, ele pressão de que Deus esqueceu. Nessas horas preci-
afirma que tem “tristeza no coração cada dia” (v. 2). samos confiar nas promessas de Deus (Heb 13:5).
Ao mesmo tempo, este salmo também fala de uma
alegria que nasce como fruto da confiança em Deus. 2. Ao se queixar de que Deus o esqueceu Davi
está expressando o seu desejo de que Deus Se lem-
II. Em meio às lutas da vida nossas famílias bre dele. É claro que Deus não pode esquecer. Ele é
podem enfrentar momentos de ansiedade, depres- Deus! O que Davi está querendo dizer não é que Deus
são e perplexidade. O Salmo 13 pode nos ajudar a está com amnésia. Davi usa uma linguagem figurada
atravessar esses momentos. Este salmo fala sobre para expressar sua impressão de que Deus não está
o sofrimento humano e o silêncio de Deus. Porém agindo em seu favor. Em Gênesis 30:22 a Bíblia fala
seu ponto alto é alegria. Como é possível desfrutar que Deus se lembrou de Raquel. Isto não significa
alegria em meio à dor? que Deus estava esquecido e, de repente, lembra-se
de quem é Raquel. O que a Bíblia quer dizer é que
Deus agiria em favor de Raquel, abençoando o seu
ventre com um bebê.

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3. A ideia de ocultar o rosto, que aparece no resposta. Ele está desejoso de nos responder. Ellen
final do verso um, tem o mesmo sentido. Davi imagi- White nos traz uma bela mensagem sobre isto. Ela
na que Deus removeu o Seu favor, no sentido de que diz: “Nenhum suspiro se desprende, nenhuma dor é
Ele não está mais demonstrando a Sua misericórdia. sentida, desgosto algum magoa a alma, sem que sua
Na mentalidade dos escritores bíblicos, apresentar o vibração se faça sentir no coração do Pai” (Desejado
rosto é demonstrar misericórdia (Num 6:25). Assim, de Todas as Nações, 356).
ocultar o rosto significa não demonstrar misericórdia
(Jó 13:24). i. Ao pedir uma resposta de Deus, Davi se dirige a Ele
a partir da frase: “Senhor, Deus meu!”. O mundo de
4. Este salmo nos ensina que falar para Deus Davi está desabando, mas o Senhor ainda é o Deus
tudo que sentimos e pensamos é algo que devemos de Davi!
fazer em nossas orações (v. 2). Devemos derramar
diante de Deus nossas tristezas e angústias. A expres- c. Terceiro, Davi diz: “Ilumina-me os olhos”. Na
são de nossos sentimentos mais profundos é apro- mentalidade judaica, a expressão “iluminar os olhos”
priada na oração. Também aprendemos neste salmo significa renovar o vigor (1 Sam 14:27). Davi sente-
que devemos levar a Deus nossas queixas específi- -se fraco e debilitado. Ele acredita que Deus pode re-
cas. No caso de Davi, como vemos no final do verso cuperar suas forças. Isto se parece com a ideia que
dois, ele está incomodado com a ação de inimigos. encontramos em Isaías 40:31: “os que esperam no
SENHOR renovam as suas forças”. Davi expressa essa
5. Ao derramarmos nossas queixas diante de confiança na terceira parte do salmo.
Deus podemos fazer três tipos diferentes de pergun-
tas. A primeira é “por quê?”. A segunda é “para quê? C) Confiando em Deus em meio
”. A terceira é “até quando?”. A terceira é a melhor às lutas da vida (versos 5-6)
pergunta, porque ela expressa a esperança de que
um dia o sofrimento vai acabar (Zac. 1:12-17). Esta é 1. O verso cinco começa com uma expressão
a pergunta que Davi fez, e é a pergunta que devemos da decisão de Davi de confiar em Deus em meio às
fazer. lutas da vida. Ele diz: “no tocante a mim”. Três coi-
sas merecem destaque nos versos 5 e 6.
B) Apresentando a Deus as
nossas súplicas (versos 3-4) a. Primeiro, Davi diz: “confio na tua graça” (v.
5). A palavra original traduzida como graça também
1. Após derramar seus pesares e ansiedade significa “amor pactual”. Esta é uma palavra comu-
diante de Deus, Davi se concentra em pedidos di- mente usada nos contextos em que a aliança de Deus
retos. Ele apresenta suas súplicas a Deus. Podemos com Seu povo está envolvida. Em outras palavras,
identificar três pedidos. Davi está dizendo que confia no amor que levou Deus
a fazer uma aliança com Seu povo.
a. Primeiro, Davi diz “atenta para mim” (v. 3). Isto é
o mesmo que dizer “olha para mim”. Em outras pa- b. Segundo, é este amor pactual de Deus que pro-
lavras, Davi está pedindo a Deus para não esconder duz alegria no coração. Em linguagem figurada, Davi dá
Seu rosto. Como vimos na primeira parte do sermão, uma espécie de ordem ao seu próprio coração para que
esconder o rosto demonstra remover o favor. Ao pe- se alegre na salvação que Deus concede (v. 5). Graça e
dir a Deus que não esconda o rosto Davi está, na ver- salvação são coisas que andam juntas. Deus nos salva
dade, pedindo para Deus agir. Que bela oração! por meio de Sua graça, por causa do grande amor com
b. Segundo, Davi diz: “Responde-me” (v. 3). Davi quer que Ele nos ama. É importante atentar para o fato de que
uma resposta para as quatro perguntas que ele faz “salvação” neste salmo tem o sentido imediato de livra-
nos versos 1 e 2. Quando apresentamos nossos pedi- mento. Em outras palavras, Davi demonstra sua confian-
dos e questionamentos a Deus podemos clamar por ça que Deus pode nos livrar quando estamos em apuros!

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c. Terceiro, Davi toma a firme decisão de louvar. Ele diz: “cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito
muito bem” (v. 6). Isto parece contradizer o que ele disse nos dois versos iniciais, mas não é este o caso. Como
Paulo, Davi sabe que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rom 8:28, NVI).

CONCLUSÃO:

Neste mundo estamos sujeitos à tristeza, medo e ansiedade. Nossas famílias podem sofrer diante de
tragédias, condições econômicas e outros fatores que trazem desconforto ao ambiente familiar. Nessas
horas, precisamos derramar nossas queixas a Deus, devemos levar nossas súplicas até Ele, e confiar que Ele
nos ama e cuidará de nós. Ao confiarmos em Deus podemos desfrutar de alegria mesmo em meio à dor. Ao
termos a certeza de que Deus nos ama, confiemos que Ele sempre fará o melhor para nós. Então, ergamos
nosso louvor a Ele! Regozijemo-nos e cantemos, pois Ele nos tem feito muito bem!

ANOTAÇÕES

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“E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo,
em testemunho a todas as nações...” (Mateus 24:14)

Louvor:
Eu quero esse poder – Hino 522 - Novo Hinário Adventista

Oração":

Dinâmica:
Telefone sem fio com imagem

Materiais:
1 cartolina branca, uma imagem para as crianças reproduzirem, um envelope e lápis

Execução:
O professor colocará secretamente a imagem no envelope, escolherá uma criança que vai abrir o envelope
para observar a imagem, e sem falar nada às demais crianças, será orientada pelo professor a reproduzir o
desenho na cartolina. A professora dará um pequeno tempo para a criança desenhar sem completar todo o
desenho e convidará outra criança parar prosseguir o desenho sem ver a imagem original. Ela apenas dará
continuidade ao desenho da primeira criança. E assim seguirá sucessivamente até todas colocarem suas im-
pressões no desenho. Ao final o professor comparará as duas imagens e refletirá com as crianças acerca das
diferenças. Provavelmente esteja bem diferente da imagem original e bem confuso. Assim também é quando
utilizamos a comunicação de forma errada, propagando o que não é verdade. É preciso conhecer a respeito
do que estamos falando e expressarmos sempre a verdade, pois só assim conseguiremos por meio de nossas
palavras refletir o amor de Deus.

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História

Temos muitas formas de nos comunicar. Com o avanço da tecnologia a comunicação ficou bem rápida, mas
nem sempre traduz o que realmente deveria, e aí, traz a maior confusão! Vocês já ouviram falar em Fake
News? Fake News são informações falsas que viralizam entre as pessoas como se fosse verdade.

Infelizmente muitos se utilizam desses meios até mesmo para fazer bulling com o outro. Além de ser muito
ruim, afinal a mentira sempre será ruim, ela pode levar a vítima do bulling a sofrer muito. Esse ípo de comu-
nicação, só trás confusão. E falando em confusão, a Bíblia no livro de Gênesis, capitulo 11, versos de 1 ao 11,
fala de um momento que a comunicação entre as pessoas virou uma grande confusão. É a história da Torre de
Babel. Vocês já ouviram essa história? A confusão da torre já começa pelo nome, pois, a palavra ‘‘Babel tem
origem hebraica, vem de balal, que significa confundir. Essa história aconteceu logo após o dilúvio. A família
de Noé vai se multiplicando e se espalhando conforme orientação de Deus. Ela se torna bem numerosa e
constrói bastantes cidades. Nessa época todas as pessoas falavam a mesma língua.

Todos se entendiam. Até que parte dessa povo, se reuniu e tiveram a idéia de construírem uma torre bem
alta para alcançar o céu. Eles queriam com aquela construção ficarem famosos, se tornarem celebridades
importantes. Muitas vezes é isso que leva as pessoas fazerem o Fake News. Elas querem que aquela notícia
mentirosa ganhe fama e fique reconhecida. Mas nosso bom Deus com muita sabedoria, viu que a intenção
daquelas pessoas não era boa e resolveu confundir as suas línguas. As pessoas passaram a falar em idiomas
diferentes e ninguém entendia nada que o outro falava. Toda construção ficou confusa e nada mais deu certo
naquela torre. Deus trouxe por meio da confusão de línguas a intervenção para que aquele problema não
fosse adiante. Nós também temos muitos meios de não permitir que notícias falsas se espalhem e a primeira
delas é: não divulgar!

Deus nos confiou algo muito importante que é o poder da linguagem, da comunicação. Seja utilizando a voz,
ou a língua de sinais com as mãos, não importa a maneira que utilizamos para a nossa comunicação o im-
portante é utilizar esse presente de Deus com sabedoria. E que toda palavra que saia da nossa boca, todo
gesto que expressarmos seja para edificar e não destruir. Precisamos utilizar diariamente a ferramenta da
comunicação para espalhar a mais importante das mensagens – o evangelho do Reino! E depois que todos
conhecerem essa mensagem, virá o fim. Jesus voltará para nos buscar.

Atividade
Aplicar atividade em anexo

Oração

Rosana Almeida

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Mérlinton P. de Oliveira1

INTRODUÇÃO
De ‘onde’ vêm nossas emoções? Qual o impac-
No texto bíblico lemos em Gen. 27:41 : “Passou to de nossas emoções sobre nossas relações familia-
2

Esaú a odiar Jacó...”, e também lemos, em Gen. 33:4: res? Como ‘produzir’ emoções saudáveis?
“Então, Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou; ar-
rojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram”. Nes- COMPREENDENDO:
ses textos encontramos duas atitudes emocionais EMOÇÕES & SENTIMENTOS
manifestadas por Esaú: em uma ele evidencia ódio
por Jacó, na outra ele evidencia afeto por seu irmão. A emoção é um fenômeno complexo e é um
processo que envolve todo o organismo. É uma re-
As emoções são uma parte vital e significativa ação súbita e involuntária a estímulos externos e/ou
da personalidade humana. Emoções saudáveis pro- internos. Podem ser estímulos externos: objetos, ani-
porcionam satisfação e bem-estar, por sua vez, emo- mais, pessoas, situações etc., e os estímulos internos
ções não saudáveis podem ser geradoras de angústia são nossos pensamentos. Assim, uma emoção pode
e sofrimento. De todo modo, de uma forma ou outra, surgir de um evento que acontece naquele exato mo-
as emoções nos afetam e afetam nossa vida e nossos mento (estímulo externo), ou de uma lembrança que
relacionamentos se tem de um evento que já ocorreu (pensamento/
lembrança – estímulo interno).
Ellen White afirma, no livro A Ciência do bom
viver (p. 241), que condições emocionais como “des- Contudo, mesmo as emoções geradas por es-
gosto, ansiedade, descontentamento, remorso, cul- tímulos externos envolvem o pensamento, porque
pa, desconfiança, tendem a consumir as forças vi- toda experiencia vivida é percebida, é notada, é in-
tais, e a convidar a decadência e a morte.” Mas ela terpretada pelo nosso cérebro, onde acontecem os
também declara, no livro O lar adventista (p. 431), nossos pensamentos. Todas as vezes que nos depa-
que, por sua vez, emoções saudáveis como “alegria ramos com algo ou alguma situação em nosso dia a
e esperança, ao mesmo tempo que iluminam o ca- dia, que são o que podemos chamar de estímulos, o
minho de outros são vida para os que a acham e nosso cérebro é provocado a interpretar e reagir, e,
saúde para o seu corpo” (p. 431). como consequência, produz pensamentos acerca da-
quele estímulo. Essa reação, ou seja, os pensamentos
que aparecem, por sua vez geram uma emoção que,
conforme o estímulo apresentado e o pensamento
gerado, pode ser uma emoção saudável ou não. Por
1 Pastor e psicólogo, é professor nos cursos de Psicologia e Teologia da Faculdade Adventista da Bahia - FADBA
2 Versão Almeida Revista e Atualizada
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fim, essa emoção resulta em um determinado com- Como exemplo, pensemos em um rapaz que
portamento, que tem reflexo no nosso jeito de ser numa determinada situação olha para uma moça e
e nas relações que temos. Assim, as emoções estão percebe algo diferente acontecendo consigo: ele não
associadas a um ciclo, que é o ciclo estímulo-pensa- consegue tirar o seu olhar dela, seu coração bate um
mento-emoção-comportamento. pouco mais ‘acelerado’, suas mãos ficam suadas etc...
Ele está vivendo uma reação emocional a um estímu-
Por exemplo, se uma pessoa vai andando em lo (que no caso é a moça a quem está vendo), ele
uma calçada e vê adiante um grande e feroz cachorro está experimentando a alegria de uma determinada
(estímulo), poderá pensar assim: aquele cachorro é experiência, e as evidências de uma paixão que está
grande e feroz, logo, ele é uma ameaça a mim. Como sentindo.
resultado desse pensamento será gerada uma emo-
ção, provavelmente medo, e, em razão dessa emo- Digamos que esse rapaz namore e case com
ção, provavelmente essa pessoa irá para o outro lado essa moça. Esse relacionamento prolongado lhe per-
da rua (comportamento) e continuará sua caminha- mitirá amar essa moça (algo duradouro, mais do que
da na outra calçada, onde se sentirá mais segura. a paixão de um momento) e desfrutar felicidade com
ela (algo duradouro, mais do que a alegria de um mo-
Porém, se uma pessoa vai andando em uma mento). Para tomar a decisão de se casar com essa
calçada e vê adiante um delicado e fofo gato (estí- moça, e, por sua vez, ela com ele, além das emoções
mulo), poderá pensar assim: que gatinho bonitinho e experimentadas os dois precisaram ativar seu com-
fofinho. Como resultado desse pensamento será ge- ponente cognitivo: analisaram suas possibilidades
rada uma emoção, provavelmente alegria por estar pessoais, conversaram para identificar se os projetos
vendo um belo animal, e, em razão dessa emoção, de vida dos dois combinavam, observaram as atitu-
provavelmente essa pessoa continuará caminhando des um do outro e concluíram que se sentiam bem
tranquilamente por esta mesma calçada e talvez até com o jeito de ser do outro etc. Essa ação cogniti-
acaricie o gatinho. va, mais as manifestações de afeto e outras vivências
emocionais, estabelecem o sentimento.
Relembrando, as emoções estão associadas a
um ciclo, que é o ciclo estímulo-pensamento-emo- Assim, enquanto uma emoção ocorre motivada
ção-comportamento. por um determinado estímulo, e logo ‘passa’, poden-
do se manifestar outra vez tão logo um estímulo a de-
Muitas vezes as emoções são confundidas com sencadeie, o sentimento é permanente e nos acom-
sentimentos, mas é interessante destacar que há uma panha ao longo do tempo. E ambos, as emoções e os
sutil diferença entre ambos. Como dito anteriormen- sentimentos, são pilares fundamentais para o nosso
te, a emoção é uma reação súbita e involuntária a comportamento e para a qualidade das relações que
estímulos externos e/ou internos. Por sua vez, o sen- estabelecemos e desenvolvemos no dia a dia em nos-
timento é o resultado de uma experiência emocional. sa família.

O sentimento envolve o componente cognitivo,


a percepção e avaliação de algo ou alguém, e é o re- No relato bíblico sobre Esaú e Jacó lemos em
sultado de uma experiencia emocional. Assim, como Gen. 27:34 e 41 que ao saber (pensamento) da ação
exemplos de emoções podemos citar a alegria, a sur- de Jacó em receber a bênção do pai em seu lugar,
presa, a raiva, o pânico, o medo, a vergonha, entre Esaú sentiu raiva (emoção) de seu irmão, e passou a
outros, e como exemplos de sentimentos podemos odiar (sentimento) Jacó. Essa emoção (raiva) que ge-
citar a felicidade, o amor, o ódio, a inveja, entre ou- rou o sentimento (ódio) motivou em Esaú a intenção
tros. Ou seja, o sentimento tem um aspecto duradou- de matar (comportamento) seu irmão.
ro, algo que se desenvolve e se estabelece, se instala.

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Temos assim o ciclo situação-pensamento-emoção/sentimento-comportamento

Situação Jacó é abençoado (v. 28-29)


Pensamento Esaú: Fui enganado por meu irmão (v. 36)

Emoção-sentimento Raiva/ódio pelo irmão Jacó (v. 41)


Comportamento Planeja matar o irmão Jacó (v. 41)

EMOÇÕES E NOSSAS
RELAÇÕES FAMILIARES

Em todo o capítulo 1 do livro de Gênesis lemos sobre a ação criadora de Deus dia a dia. O relato bíblico
informa que ao final de cada dia o Criador contemplava o que havia feito e exclamava: está bom (v. 4, 10, 12,
18, 21 e 25). Contudo, em Genesis 2:18, o Criador declara que “não está bom”, referindo-se a uma situação
que Ele contemplava, e a situação era que “o homem estava só”.

E POR QUE ISSO NÃO ERA BOM? Infelizmente esse proposito divino foi macula-
do com a opção que a humanidade fez pelo pecado.
No livro Patriarcas e Profetas Ellen White es- Imediatamente após a queda a família foi afetada
clarece que “o homem não foi feito para habitar por relações e emoções que não faziam parte do
na solidão; ele deveria ser um ente social”, ou seja, plano de Deus. No mesmo livro Patriarcas e Profetas
deveria ter relacionamentos. “Sem companhia, as lemos que “não era a vontade de Deus que o casal
belas cenas e deleitosas ocupações do Éden teriam [Adão e Eva]3 sem pecados conhecesse algo do mal.
deixado de proporcionar perfeita felicidade. Mesmo Livremente lhes dera o bem, e lhes recusara o mal.
a comunhão com os anjos não poderia satisfazer Mas, contrariamente à Sua ordem, haviam comido
seu desejo de simpatia e companhia” (p. 29). Para da árvore proibida...”, e, em razão disso, “estariam
resolver essa situação “Deus deu a Adão uma com- sujeitos ao desapontamento, pesares, dor, e final-
panheira, que poderia ser um com ele em amor e mente à morte” (p. 53).
simpatia” (p. 29). Nesta ação criadora Deus estabe-
leceu o casamento e a família, e depois disso decla- Na condição atual, vivendo em uma condi-
rou: “está muito bom” (Gen 1:31). ção de pecado, a família ainda é unidade básica de
crescimento, saúde e felicidade, mas também pode
O plano divino, ao estabelecer a família, in- ser fonte de adoecimento e tristeza, logo, é uma es-
cluía relacionamentos saudáveis, com emoções e trutura que possibilita diversas emoções inerentes ao
sentimentos saudáveis, que contribuiriam para a ser humano, como aceitação, rejeição, amor, raiva,
plena felicidade humana. Ellen White argumenta carinho, medo, apego, ódio, entre outras. Nesta pers-
que “quando os princípios divinos são reconhecidos pectiva, parte dos distúrbios emocionais das pessoas
e obedecidos” na relação familiar é preservada a é gerada da experiência da vida familiar cotidiana e,
“felicidade do gênero humano, providas as necessi- em contrapartida, as vivências emocionais dentro de
dades sociais do homem, e elevada a natureza físi- casa, por sua vez, fortalecem ou enfraquecem as ex-
ca, intelectual e moral” (p. 30). periencias relacionais da vida familiar cotidiana.
Davi Zimerman (1999), um estudioso do com-
3 Inserção nossa.

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portamento humano e escritor, sugere que as experi- É neste mesmo sentido e propósito que pode-
ências do dia a dia familiar desempenham um papel mos entender aplicadas à família e suas experiências
central na estabilização e intensificação das emoções, relacionais e emocionais as palavras do apóstolo Pau-
no favorecimento da satisfação pessoal, no sucesso lo aos Romanos, quando diz: “amai-vos cordialmen-
da integração social e no estímulo de um crescimen- te uns aos outros com amor fraternal” (12:1); “ale-
to da personalidade. Contudo conflitos familiares grai-vos com os que se alegram e chorai com os que
provocam desgastes emocionais como a ansiedade, choram” (12:15); “...quanto depender de vós, tende
estresse, raiva, e outros, que por sua vez geram difi- paz com todos...” (12:18); e, “tende o mesmo senti-
culdades de relacionamento entre uns e outros. Ou mento uns para com os outros” (12:16).
seja, a qualidade da interação familiar pode intensi-
ficar ou diminuir as experiencias emocionais saudá- O psiquiatra e escritor Augusto Cury, no livro O
veis, e as experiências emocionais podem intensificar Mestre do amor, faz a seguinte pergunta: “Sem amor,
ou diminuir a qualidade da interação familiar. que sentido tem a vida? [o homem] é uma espécie
admirável não apenas porque produz ciência e
Uma família saudável é uma facilitadora so- tecnologia, mas, principalmente, porque possui uma
cial do bem-estar, entretanto vale ressaltar que uma emoção capaz de amar. O amor faz-nos ... proteger e
família saudável não é necessariamente aquela na cuidar de quem amamos” (p. 59).
qual não existe conflito, mas aquela cujos membros
desenvolvem e aplicam estratégias que contribuem DESENVOLVENDO E CULTIVANDO
para a resolução dos seus problemas. Uma família as- EMOÇÕES SAUDÁVEIS
sim, que apesar das possibilidades de conflitos se or-
ganiza para preservar experiencias emocionais sau- Provérbios 23:7 informa que “assim como o ho-
dáveis, é uma família significativa e necessária para mem pensa, assim ele é”, e em 4:23 aconselha que
ser geradora e promotora de saúde mental e bem-es- “sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração
tar de cada um dos seus indivíduos [mente], porque dele procedem as fontes da vida”,
ou seja, em geral uma pessoa é como é, age como
A saúde emocional familiar e a busca do bem- age, e se emociona, de acordo com aquilo que está
-estar dos seus membros estão diretamente relacio- em seus pensamentos, logo, o cuidado com a men-
nadas com as experiências mais precoces de uma te e com os pensamentos deve ser prioridade. Viver
pessoa nessa família. Bons níveis de saúde familiar emoções saudáveis e estabelecer relacionamentos
e individual encontram-se associados a relações que familiares que edificam requer um pensar saudável
favorecem a expressão do carinho, da ternura e do e correto.
afeto.
No livro O Lar Adventista Ellen White orienta Como preservar na mente pensamentos que
que “todo lar deve ser um lugar de amor”. E ainda promovam essa experiencia salutar nas emoções e
comenta que “o lar pode ser simples, mas pode sem- nos relacionamentos familiares? Em Filipenses 4:8 o
pre ser um lugar em que se profiram palavras ale- apostolo Paulo aconselha que tudo o que é verdadei-
gres e se pratiquem atos de bondade, onde a corte- ro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo
sia e o amor são hóspedes constantes” (p. 18). Mais o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de
adiante ela recomenda que “paz, harmonia, afeição boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
e felicidade devem ser perseverantemente acaricia- nisso pensai”. Não é a casualidade que estabelece
das cada dia, até que essas preciosas virtudes ha- pensamentos saudáveis na mente, é necessário ser
bitem no coração dos que compõem a família” (p. diligente e esforçar-se. É necessário intencionalmen-
195). Ou seja, os componentes afetivos e cognitivos te alimentar a mente com informações significativas
do bem-estar se estabelecem e se apresentam de para que ela possa estar dedicada às virtudes positi-
forma consistente nas relações familiares ao longo vas.
dos anos, e das situações que ocorrem no decorrer
desse tempo.
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Na prática, a mente é principalmente alimenta- ela comenta que um ambiente de restrição e aspe-
da e pensamentos são formados a partir daquilo que reza arbitrários desenvolve o espírito de obstinação
se vê e se ouve. Isso envolve a leitura que se faz, o fil- e desconfiança, o que resulta em “impulso, impaci-
me que se assiste, a música que se escuta, as conver- ência, orgulho, egoísmo e indevida presunção” nas
sações que se tem, o contato com outras pessoas no relações familiares (p. 264).
dia a dia... ou seja, toda oportunidade que possibilita
a captação de um som ou a captação de uma ima- Por fim, outra atitude significativa para ali-
gem alimenta a mente, que por sua vez elabora os mentar a mente saudavelmente para que ela possa
pensamentos. Tudo isso, é claro, envolve uma base elaborar pensamentos também saudáveis, que vão
neurofísica, mas, que não é o foco das considerações promover emoções saudáveis nas relações familia-
desta mensagem. res, é uma constante e íntima relação com Deus,
tanto como família como cada um dos seus membros
Uma mente intencionalmente e saudavel- individualmente. Em Salmos 34:7 informa-se que “o
mente alimentada, e ao mesmo tempo produtora anjo do Senhor acampa-se ao redor...” da família
de pensamentos saudáveis, não é um amuleto que que honra e serve a Deus, e no livro O lar sem som-
protege das vicissitudes do dia a dia, das dificuldades bras Ellen White comenta que “os anjos se deleitam
e problemas da vida, mas uma mente saudavelmente numa família em que Deus reina, onde Ele é adora-
alimentada e ao mesmo tempo produtora de pensa- do, e os filhos são conduzidos a honrar a religião, a
mentos saudáveis reduz a vulnerabilidade emocional Bíblia e o Criador” (p. 14).
diante de eventos negativos da vida, ou seja, evita
que se possa interpretar as situações que se vive de A presença de Deus e dos anjos no lar implan-
maneira exagerada, negativa, distorcida. ta uma alegria nas relações “que coisa alguma ter-
restre pode destruir” (Ellen White, Ciência do bom
Por sua vez, quando a mente não é intencional- viver, p. 115). A presença de Cristo no lar, e Seu amor
mente alimentada por informações seguras, confiá- nos corações, vivifica a mente, os pensamentos e as
veis e adequadas, existe uma grande probabilidade emoções de tal maneira que ao invés “da culpa, da
de que haja a elaboração de pensamentos distorci- dor, da ansiedade” e da amargura, se experimen-
dos, errôneos, que não correspondem com a reali- ta a “serenidade e a compostura” (Idem, p. 155). A
dade, o que leva a vivências emocionais insalubres e presença do Espírito Santo no lar dignifica a mente,
que induzem a atendermos às situações com menos os pensamentos e as emoções, de tal maneira que
eficiência, com pior desempenho, ou mesmo de for- estas “faculdades são santificadas” e cada uma de-
ma doentia. las “pode atingir a mais alta perfeição” (Ellen Whi-
te, Mente, caráter e personalidade, vol. I, p. 115).
Em razão disso, é importante tomar cuidado,
particularmente, com aquilo que está dentro do lar,
para que aquilo que está no ambiente doméstico seja CONCLUSÃO
fonte de ‘alimento’ seguro e saudável para a mente.
É importante ter bastante cuidado com o ambiente No texto bíblico lemos em Gen. 27:41: “Passou
doméstico. Esaú a odiar Jacó...”, e também lemos em Gen. 33:4:
“Então, Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou; ar-
No livro Ciência do bom viver Ellen White re- rojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram”. Nes-
comenda que no ambiente doméstico não deve ses textos encontramos duas atitudes emocionais
haver nada que incite a maus pensamentos e que manifestadas por Esaú: em uma ele evidencia ódio
estimule emoções desagradáveis, antes o ambiente por Jacó, na outra ele evidencia afeto por seu irmão.
doméstico deve promover “uma atmosfera de pure-
za, de nobres e elevados pensamentos” (p. 133). Já
no livro Conselho aos pais, professores e estudantes

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Uma emoção é a resposta do nosso corpo ao Você consegue imaginar o céu como sendo um
que se passa à nossa volta, através de estímulos (ex- lugar onde palavras grosseiras são proferidas e onde
ternos) que ativam os nossos pensamentos, que são pensamentos maldosos são acariciados? Um lugar
estímulos (internos) que geram emoções. A resposta onde a inveja, as más suspeitas, o ódio e os maus tra-
às emoções é o componente comportamental, que tos se manifestam? Não, essa não é a realidade do
no que diz respeito às relações familiares pode ser céu, antes o céu é um lugar de perfeita harmonia, de
uma vivência relacional satisfatória ou desagradável. paz, de afeições e de abraços.

No primeiro relato (Gen. 27:41) sobre a rela- Você está disposto a fazer do seu lar, naquilo
ção entre os irmãos Esaú e Jacó é possível perceber que depender de você, um céu? Um lugar onde o
uma relação conflituosa e ameaçadora, marcada ambiente seja puro e nobre para que as mentes das
pelo ódio, mas, vinte anos depois (Gen 31:38, 41), pessoas de sua família sempre estejam abastecidas
no segundo relato (Gen. 33:4), os dois irmãos estão dos mais puros e nobres pensamentos? E para que,
se abraçando e se beijando. como efeito disso, as emoções experimentadas em
sua casa sejam as mais agradáveis possíveis? E para
Na última vez quando Esaú e Jacó haviam se que, como resultado, as ações e os comportamen-
encontrado o irmão mais novo havia astutamen- tos de vocês, dos membros de sua família, sejam
te traído o irmão mais velho, que, por sua vez, com sempre bondosos e corteses?
ódio, planejava vingar-se matando-o. Mas vinte anos
depois os dois irmãos encontram-se novamente, des- Lembre-se: “um lar onde
sa vez sem astúcias, sem traições, sem ódio e sem de-
sejo de vingança. Agora, uma relação familiar entre há simpatia e ternura é um
irmãos sustentada pelo perdão, pela harmonia, pela lugar onde os anjos gostam
paz, pelo amor. No livro Patriarcas e Profetas Ellen
White explica que essa segunda situação foi possí-
de estar”
vel porque ao longo dos vinte anos separados “seus
(Ellen White, Lar sem sombras, p. 11).
sentimentos haviam-se mudado grandemente”, de
modo que “não mais eram alheados pela inveja ou
ódio” (p. 207).

As experiencias emocionais de antes, que eram


alimentadas e ao mesmo geravam uma relação fami-
liar insalubre entre os irmãos, agora estavam subs-
tituídas por emoções saudáveis que passaram a ser
alimentadas e ao mesmo tempo gerar uma relação
familiar saudável e feliz entre eles.

“Oh! Quão bom e maravilhoso é que os irmãos


vivam em união” (Sal.133:1), diz a Bíblia. Por sua
vez, no livro Lar sem sombras Ellen White propõe
que cada lar “deve ser um pequeno céu na terra, um
lugar onde se cultivem as afeições, o amor, a simpa-
tia e a verdadeira cortesia de uns para com os ou-
tros” (p. 9).

REPARANDO BRECHAS - 2023 13

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