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Senhoras e senhores sejam muito bem-vindos a mais uma aula do

Corações e Almas, mais uma aula do nosso módulo Navegar é Preciso .

Na aula de hoje, nós vamos tratar, exatamente, isso: quando nós


nos tornamos adultos, quando nós nos tornamos maduros, quando nós
nos tornamos senhores das nossas almas, quando nós nos tornamos
capitães dos nossos destinos (como a gente falou naquela primeira poesia
da aula que abriu desse módulo, chamada de Invictus. Durante as aulas,
vocês perceberam que eu trouxe para vocês poesias que se conectavam
com a nossa temática, tanto que o próprio nome desse módulo aqui
Navegar é Preciso se baseia numa frase do Pompeu, escrita pelo poeta
Plutarco, lá da Roma antiga, mas também é o nome do livro de um poema
muito tocante do nosso poeta Fernando Pessoa. Sabes que eu agradeço,
muitas vezes, ter nascido no Brasil e falar português, exatamente, para
poder ler Fernando Pessoa na sua língua natural, na sua língua mãe que é
o nosso idioma português. Que alegria é a gente poder ler as poesias nas
suas línguas próprias, é por isso que eu faço questão de aprender outras
línguas na minha vida.

Hoje,cara, eu trouxe para vocês também uma abertura, que se


comunica muito bem com esse tema, que é uma poesia, também do
Fernando Pessoa, chamada Poema em Linha Reta.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.


Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes, não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes, tenho sido ridículo, absurdo, absurdo,
Que tenho rolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho
sofrido enxovalhos e calado
Que quando não tenho calado tenho sido mais ridículo ainda;
Eu que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

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Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenha agachado para fora da
possibilidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda gente que eu conheço e que fala comigo


Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles - príncipes na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal , eu os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, Ó meus irmãos,
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Poderão ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído
Como posso falar com meus superiores sem titubear?
Eu que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Arre, estou farto de semideuses!
Arre, onde é que há gente? Onde é que há gente neste mundo?

Olha essa pérola do Fernando Pessoa, cara! Como ele se acha vil,
mesquinho, baixo e todas as outras pessoas parecem semideuses, todas
as outras as pessoas parecem príncipes, todas as outras pessoas parecem
perfeitas. Olha essa desgraça que ele traz da vida, sem encontrar um
propósito, sem encontrar uma maturidade, sem saber seu lugar no
mundo, sem encontrar pares, se sentido solitário. Esse poema é uma
obra-prima: Poema em Linha Reta. Vale a pena tu examiná-lo; agora
entendendo o que nós queremos dizer com ele. E é sobre esse assunto
que nós vamos tratar na aula de hoje, porque é muito fácil nós
enxergarmos o que é crescer fisicamente, é muito fácil enxergarmos o que
é ser maduro fisicamente, mas o que é difícil de enxergar é o que é crescer
existencialmente, o que é crescer de acordo com nossas emoções. Os
seres humanos, cara, possuem dois anseios dentro de si. O primeiro
anseio deles é o anseio por conexão. O segundo é o anseio por

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autoexpressão. Quando a gente fala de conexão, nós queremos
basicamente fugir da solidão, da vergonha, do isolamento, do qual o
Fernando Pessoa fala nessa poesia, solidão de estar sozinho no mundo
(“Onde há que a gente nesse mundo?”) é solidão das suas vergonhas, ser
vil, ser porco, não tomar banho.

Nós buscamos, através das conexões com as outras pessoas,


onde há gente desse mundo. Nós buscamos, cara, oportunidades de
entendimento, oportunidades de sinceridade, de comunhão, dividir esses
sentimentos com amigos, com amores, com as pessoas que nós vamos
conhecendo no decorrer da nossa vida. Queremos dividir o real significado
de sermos nós mesmos e vivermos profundamente esses sentimentos e
experiências. É isso que a gente busca na conexão; a gente busca alguém
que nos torne próximo, alguém que a gente ame, que a gente consiga
sentir alguma espécie de intimidade, de pertencimento. Podemos
entender o nosso nível de amadurecimento, quando nós nos tornamos
adultos, pelo nível das conexões que nós temos nas nossas vidas: quem
são nossos amigos , quem são nossos amores, quem realmente importa
para nós.

E se nós temos a conexão de um lado, do outro lado nós temos a


autoexpressão. O que é a autoexpressão? É nós entendermos o nosso
foco e externalizar as nossas ideias, externalizar a nossa criatividade,
externalizar a nossa capacidade intelectual. O nosso anseio por
autoexpressão gira em torno do nosso trabalho e das nossas atividades
estéticas, principalmente, na busca por compreensão do que se passa na
nossa mente, no nosso cérebro, nos nossos pensamentos. O
entendimento, cada vez mais amplo , dos nossos valores, dos nossos
prazeres, das coisas que nos agradam. O nosso modo de enxergar o
mundo e conseguir através dessa expressão, dessa autoexpressão, torná-
la pública, compreensível e benéfica aos outros. A nossa vida parece rica
quando conseguimos dar formas as muitas das percepções que
atravessam as nossas almas, quando a gente consegue se comunicar e as
outras pessoas acabam por nos entender. O nosso grande objetivo na
nossa vida é deixar uma marca frutífera nesse mundo. Escrever o nosso
nome na pedra! E quando esses desejos são frustrados, é que vem a nossa

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infelicidade, quando um amigo briga conosco, quando o nosso
relacionamento amoroso acaba, quando não temos mais um trabalho
edificante. E aí, nós temos esse grande sofrimento. É isso que nos impede
de termos a coragem, a força, a inteligência de entendermos e nos
comunicarmos com a nossa essência, entendermos e nos comunicarmos
com a nossa vocação. Abandonarmos de vez a preguiça, abandonarmos de
vez a covardia e sermos esse senhor do nosso destino, sermos o capitão
da nossa alma. Na poesia lá, é o contrário, mas vocês captaram o que eu
quero dizer.

É para isso que nós estamos caminhando nesse módulo do Navegar


é preciso, mas para isso eu tenho que ser o capitão desse barco, ter o
timão na minha mão, saber do que eu quero desviar e saber que destino
eu quero alcançar. É assim que se dá essa grande conexão nas nossas
vidas. É assim que se dá essa grande importância no nosso viver. E quando
nós entendemos como é construída essa relação de conexão e como é
construída essa relação de autoexpressão, nós começamos a visualizar
quem é esse adulto, quem é essa pessoa madura. Como já falamos
anteriormente, é muito fácil nós detectarmos alguém com uma
maturidade física, só ter um corpo ali: tem pelos, está alto, cabelo branco,
o cara que está mais grisalho tem uma certa maturidade na sua vida. Mas,
dentro disso, a gente acaba criando algumas expectativas sobre o que é
aceitável ou não. E aí, meu, tem características de pessoas, que por fora
parecem alguém muito maduro, alguém muito adulto, mas, por dentro
dela, não tem essa maturidade emocional. Ela é uma pessoa imatura.
Quando se trata de maturidade emocional, constantemente, nós nos
surpreendemos com pessoas novas, com quem começamos a andar de
mãos dadas pelas ruas aí, e a gente começa a ver que elas são mais
imaturas do que a gente pensava. Tu sai com uma pessoa adulta, mantém
um relacionamento, é um colega de trabalho e a coisa não flui muito bem.
O mais interessante nesse aspecto aqui, cara, é que essas formas de
imaturidade podem coexistir em todas as armadilhas da vida adulta,
mesmo em pessoas que tenham uma personalidade e atitudes confiantes
e que sejam aparentemente muito inteligentes, sejam aparentemente
muitos capazes, aparentemente com um alto nível intelectual. Às vezes,
nós passamos muitos anos, cara, com colegas de trabalho, ou numa

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relação com amigos, os nossos parceiros emocionais e a gente acaba não
se dando conta que essas pessoas são novatas em relação à maturidade.

Então, vamos aproveitar, aqui, essa aula de hoje e usar essa aula
como um exercício. Nós vamos começar, agora, a analisar as principais
características das pessoas imaturas, de quem não é adulto ainda. É pedra,
não é gente ainda, como diria o Pepeu Gomes. E depois, nós vamos
analisar quais são as características das pessoas maduras. Eu quero que tu
enxergue essas duas coisas e veja em que caminho tu está. Tu está no
caminho da maturidade ou tu está no caminho da imaturidade? Será que
não são essas características da imaturidade que estão te impedindo de
alcançar o teu sucesso na vida, impedindo de tu te comunicar com a tua
essência, de tu alcançar a tua vocação? E dentro dessa observação das
características, que eu vou apresentar para vocês, eu quero que tu
comece a detectar nas tuas relações do dia a dia, se essas pessoas
possuem essas características ou se tu mesmo possui essas características.
Se tu possui essas características, o meu conselho para ti é que tu entenda
uma forma de autoconsciência crescer ou procurar ajuda profissional. Se
são as pessoas que tu convive no teu dia a dia, a minha sugestão é que tu
pegue as tuas coisas e vá embora ((risos)), para de andar ao lado delas,
porque é algo muito, muito triste; então sempre tem essa característica
de sair correndo. Agora, como eu já falei, se tu reconhecer em ti essas
características, é hora de tu fazer um pit stop e começar a refletir em
como se tornar maduro, como se tornar maior, como se tornar melhor.

Normalmente, cara, as pessoas imaturas têm as seguintes


conversas, isso aqui deve soar como um alarme para todos vocês, como
eu já disse. A primeira coisa que essas pessoas falam é assim: “Ah, eu não
sou bom em passar o meu tempo sozinho”. Shopenhauer já nos falava que
é na solidão que o ser humano grande enxerga a sua grandeza e consegue
conviver consigo mesmo. Já a pessoa fraca, a pessoa rasa é na solidão que
ela vê a sua mesquinhez. E aí, quando ela vê a sua mesquinhez, ela não
suporta viver consigo mesmo; isso é o que acontece quando a pessoa é
imatura. A pessoa madura se diferencia da pessoa imatura, exatamente,
por conseguir e, até mesmo, gostar de ficar sozinha, sem distrações,
pensando sobre quem eles são; é nas experiências que a gente consegue

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viver esses momentos de grande alegria, essa experiência, muitas vezes,
solitária, que nós nos descobrimos: fumar um charuto ( ficar quarenta e
cinco minutos fumando, pensando em ti mesmo), tem gente que não
suporta. A pessoa que é madura gosta de examinar como ela se sente; ela
gosta de pensar, raciocinar sobre os seus próprios sentimentos, mesmo
que isso seja muito duro e muito difícil de fazer. Ninguém gosta de tocar
nas suas próprias feridas, lidar com a sua própria raiva, entender e
enxergar que é invejoso, tocar e viver a própria vergonha. Olha o que está
no Poema em Linha Reta, do Fernando Pessoa, essas mesmas dores
ninguém quer isso, é o que ele faz nesse poema, ele está se examinando;
ele não enxerga as respostas, mas ele começa a ver as características que
ele tem. Obviamente, o poeta está fazendo isso de uma maneira
alegórica, mas é disso que nós estamos tratando aqui. Já a pessoa
imatura, constantemente, tenta encontrar alguém ou alguma coisa para
fugir desse risco de ter que entender a sua própria vida, de ter que
enfrentar a sua própria mente. É isso que a pessoa imatura acaba fazendo.

Uma outra característica das pessoas imaturas: “Eu não me lembro


muito sobre a minha infância”. Cara, é muito difícil tu ser um ser humano
que teve uma infância perfeita. Praticamente, difícil uma pessoa que
viveu a sua infância sem viver nenhuma dificuldade, ou que não tenha
vivido uma experiência desagradável. Mesmo sabendo que uma criança
deveria ter uma infância calma, cheia de descobertas, como a gente falava
nas nossas aulas anteriores ( o ser humano virar uma esponjinha dentro
desse grande oceano do conhecimento), a infância em si, cara, é um lugar
cheio de aspectos bons e ruins. E a incapacidade de lembrar muito o teu
passado não quer dizer que isso: “Ah, eu não lembro, porque isso
aconteceu há muito tempo”, não tem nada a ver com isso. Na maioria das
vezes, quer dizer que muitas das experiências da infância sequer
começaram a ser processadas por nossa mente adulta. Nós bloqueamos,
deixou fechado. Isso deveria ser um sinal de alerta para todos nós, as
pessoas que não pensam muito sobre as suas infâncias, sobre esses
traumas que viveram.

Essas mesmas pessoas que são imaturas têm mais uma


características. Quando tu conversa com ela sobre algum assunto mais

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dificultoso, a resposta é: “Ah, eu nunca pensei sobre isso”. Tomara que
vocês não sejam essa pessoa, mas no teu dia a dia tu já deve ter convivido
com pessoas assim. As pessoas que são imaturas existencialmente têm
grande dificuldade em conversar; elas têm grande dificuldade em
manterem diálogos que instiguem a pensar ou analisar o seu entusiasmo,
a pensar e analisar as suas tristezas, a pensar e analisar os seus projetos,
as suas histórias. Eles não têm muito a falar sobre os seus
relacionamentos que passaram, por exemplo, ou sobre os seus trabalhos,
se são ou não são edificantes, eles não sabem nem te dizer o que um
trabalho edificante significa, ou o que elas lastimam sobre as suas
infâncias ( como a gente viu nesse ponto anterior). Normalmente, a
resposta que as pessoas imaturas dão quando chega esse nível de
conversa, quando chega esse nível de profundidade, é dizer: “Ah, eu
nunca pensei sobre isso”. Não quer dizer que eles estão nos despistando,
estão evitando o assunto por querer. Eles de fato, meus amigos, nunca
adentraram nessas dores verdadeiras, dentro desse sofrimento autêntico.
Eles nunca tomaram em suas mãos a vida que eles estão vivendo. Eles
nunca foram senhores do seu destino, nunca foram capitães de suas almas
(inverti novamente aqui),mas é para tu ter noção do que a gente está
falando.

Outra coisa que as pessoas imaturas utilizam sempre: “Ah, para


mim está tudo sempre bom”. Né? Tem um filme, Before Sunset, aquele
que os caras vivem em 1995 e depois em 2005, muito legal – filmezinho
de amor – vocês vão gostar. Tem uma frase, eles estão discutindo ali (é
uma personagem francesa e um personagem americano) e os dois, nesse
diálogo, acabam discutindo como é que um americano e como um
francês falariam sobre os seus problemas. Quando o francês vê o outro e
pergunta: “Como é que tu está?” - o outro: “Minha vida está uma
“merda”, minha mãe está com problema; estou sem dinheiro, meu carro
tem que arrumar”. E assim os caras vão se lamentando. Já os americanos
quando perguntam: “Como é que tu está?” - o outro diz: “Fine, estou
muito bem e você?” “Fine”. Está todo mundo bem lá nos Estados Unidos,
né?

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E aí, cara, olha uma coisa que eu quero que vocês prestem a tenção
nesse ponto, quando a gente fala das pessoas que estão sempre tudo
bem. Primeiro lugar, não tem problema nenhum uma pessoa estar sempre
de bom humor, não tem problema a pessoa ter esse bom humor, ter essa
alegria. O problema, cara, não é nem que essa pessoa é emocionalmente
imatura, vamos dizer assim, o problema é que essa pessoa não percebe a
profundidade dos problemas, o problema é que ela não é capaz de
vivenciar o mau humor. Tudo está declaradamente bem na vida dela:
“Como é que estão os teus pais?” “Está tudo bem, minha relação com
eles está tudo perfeito”. “Como é que está o teu trabalho”? “Está tudo
perfeito.” “Como é que estão os teus amores?” “Está tudo perfeito.”
“Como é que está a tua vida sexual?” “Está tudo maravilhoso.” “Como é
que estão tuas ambições?” “Bah, nota dez.” Não existe isso, cara! Por que
essas pessoas não conseguem se defrontar e ver o que está errado nisso?
Porque eles não têm os recursos emocionais da maturidade para lastimar,
para sofrer nessas situações que exijam mais percepções e nuances
emocionais, para que eles possam entender o que representa
verdadeiramente a raiva, o que representa verdadeiramente a ira, a
perda, a confusão, o reflexo dos seus desejos insatisfeitos. É perceptível
que essas pessoas vivem uma vida rasa, que elas não se dão conta de
quão rasa é a vida delas. É assim que as pessoas imaturas acabam
desperdiçando as suas existências.

Uma outra característica das pessoas que são não maduras, que são
imaturas no caso, quando tu tem uma conversa mais dura com elas, ou
uma conversa mais intelectual, uma conversa mais profunda, uma
conversa mais existencial, a desculpa deles é: “Bah, meu, para com esse
papo de louco”. “Bah, meu, esse teu papo não tem nada a ver”. “Bah,
meu, para com esse papo chato”. “Bah, meu, olha que papo sem pé nem
cabeça.” A pessoa imatura é gaúcha ((risos)), como vocês podem ver pelo
sotaque. Então, logo, meu, que a conversa com essa pessoa que é imatura
se desenvolva e acabe ameaçando a integridade emocional, a pessoa
imatura interrompe o assunto imperiosamente: “Não, não vamos falar
sobre isso”. “Isso é uma grande baboseira”. “Isso aí, para mim não faz
sentido nenhum, está louco não tem pé nem cabeça.” Eles fazem questão
de simplificar tudo, reduzir toda conversa mais dura como uma discussão

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sem sentido. É isso que eles fazem, tu já deve ter passado por diversas
pessoas assim. Tomara que tu não seja uma pessoa dessas. Como se as
origens, quando eles dizem que as conversas não tem sentido, parece que
as origens de todos os problemas residissem em uma coisa só: o fato de tu
pensar demais. Olha só! Pensar demais é um dom, não é um problema. É
o modo como essas pessoas acabaram se acostumando a dizer não às
verdades que podem machucá-las.

As pessoas imaturas, cara, eu quero que tu preste atenção nisso


também, elas até podem ser muito charmosas, muito encantadoras, até
mesmo muito interessantes, para a gente ter em volta, para a gente ter no
nosso convívio, mas regra geral, meu amigo, meu conselho para vocês é o
seguinte: Se tu tem essas pessoas no teu circulo de amizades, dá um
tempo na relação com elas, não precisa ser abrupta, brigando, mas dá um
tempo, começa a te afastar; volta a conversar com elas daqui a uma ou
duas décadas, porque a vida é muito curta, cara. Lembra do Sêneca? A
nossa vida é muito curta, a nossa vida é muito factível de acabar, mas,
mesmo assim, a nossa vida é muito interessante e, ao mesmo tempo, ela é
muito solitária, para nós perdermos tempo com pessoas cuja a falta de
interesse em tentar ser, onde verdadeiramente conta, ser maduro, ser
interessante, eles não se preocupam com isso. É assim que as pessoas
imaturas se comportam, fugindo da realidade, fugindo do desafio, se
escondendo na covardia, se escondendo na preguiça, não querendo
encarar os seus problemas, não se examinando, não botando a sua
atenção a elas mesmas, não querendo ser o senhor de suas almas, nem os
capitães dos seus destinos, agora eu falei certo.

O que nós vamos fazer, a partir de agora, cara, é o contrário. Se


antes nós examinamos as características das pessoas imaturas, agora eu
vou passar para vocês uma série de características das pessoas maduras,
adultos de verdade, quais são os principais pontos das suas
personalidades, como eles agem. E aí, eu quero ver se tu está mais
próximo desse lado da maturidade ou do lado da imaturidade. Começa
analisar, também como as pessoas ao teu redor se comportam, né? Só
para tu entender como a coisa funciona; vai servir muito para vocês esse
exercício. Então, eu tenho aqui uma listagem de algumas características

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que eu vou trazer para vocês: Primeira característica, das pessoas
maduras: Você se dá conta de que a maioria dos maus comportamentos
das outras pessoas, na realidade, tem origem no medo e na ansiedade,
mais do que na maldade e na imbecilidade. Aí é que está, meu, tu deixa de
ser presunçoso em achar que o mundo se divide entre bons e maus; não
existe preto e branco, tudo é meio cinza com o tempo; tu acaba
enxergando que o fato das coisas não serem tão preto e branco assim
torna a vida mais interessantes. As pessoas, ao teu lado, ficam mais
interessantes; todo mundo tem essa coisa do bem e do mal dentro de si.
Lembra do Game of Thrones, como tu adorava aqueles personagens?

Característica número dois: Você aprende que o que está na sua


cabeça pode não ser, automaticamente, compreendido pelas outras
pessoas. Tu te dá conta, meu, que tu tem que articular melhor as tuas
intenções, melhor os teus sentimentos, através das palavras adequadas.
Tu só pode culpar os outros depois de tu tentar falar com calma e deixar
tudo muito claro para eles.

Ponto número três: Tu começa a te dar conta de que tu também,


algumas vezes, entende as coisas de maneira errada. E aí, meu amigo, tu
tem que aprender a ter coragem do quê? De pedir desculpas. Tu tem que
adentrar na arte de pedir desculpas.

Mais uma característica: Tu aprende a ser confiante, não porque tu


está ótimo ou porque tu é genial, mas porque tu aprendeu que todo
mundo tem falhas e assim como tu, todo mundo é meio burro, tem medo,
na maioria das vezes, não tem noção nenhuma do quanto estamos
perdidos. É assim que funciona a nossa vida, cara. Todos nós vamos
aprendendo enquanto nós erramos pela vida e está tudo bem com isso. É
aprender com os erros, aprender com os próprios erros, como nós já
vimos em algumas aulas passadas; as pessoas já não se permitem mais
isso.

Mais uma característica: Você perdoa seus pais. Você entende que
tudo o que você considera como sendo erro dos seus pais era, na verdade,
a mais dolorosa falta de competência necessária para lidar com os
próprios problemas deles, para lidar com os seus próprios erros. Aquela

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música: “Seus pais são crianças como você e o que você vai ser quando
você crescer”. E o que acaba acontecendo, talvez vocês tenham essa
experiência na vida de vocês, é que, num certo momento, essa raiva que
tu tem dentro do teu coração pelo teus pais pode ser convertida, até
mesmo, em piedade e compaixão.

Mais um ponto: Tu te dá conta da enorme influência que as ditas


pequenas coisas exercem sobre o teu humor, horário para dormir,
alimentação, nível de álcool e açúcar no sangue, nível de estresse. E aí,
meu, tu aprende a nunca trazer à tona algum tema importante, algum
tema conflituoso, com uma pessoa que seja querida por ti, um parente,
um amigo, um amorzinho da tua vida, antes que as pessoas estejam
devidamente descansadas. Tu não vai querer brigar quando as pessoas
estão bêbadas; tu não vai querer brigar quando as pessoas estão com
fome no carro, viajando durante horas; tu não vai querer brigar quando as
pessoas estão estressadas demais.

E aí, tem mais um ponto que a gente vive na nossa vida adulta. O
que é, meu? Tu para de ser chato; tu para de ser ressentido. Se alguém
fere os teus sentimentos, tu já não guarda mais raiva dessa pessoa ou ódio
por vários dias, como tu fazia quando tu era criança. Tu acaba te dando
conta que tu vai morrer em breve; tu acaba te dando conta que o ódio é
um veneno que mata mais quem o possui do que o próprio alvo. É isso
que a gente acaba tendo nas nossa vidas. Tu não te ilude esperando que
as outras pessoas venham te pedir desculpas; venham te dizer: “Bah, cara,
desculpa eu não fiz as coisas da maneira certa”. Tu perdoa todos eles; se
eles entenderem, que bom, se não entenderem, tu perdoa igual, só não
convive mais da maneira como tu convivia. É assim que a coisa funciona,
tu acaba seguindo a tua vida.

Mais um ponto, aqui, das pessoas maduras: Tu para de acreditar


que existe perfeição, em todos os sentidos. Meu amigo, ninguém é
perfeito, muito menos existe uma vida perfeita. O que acaba acontecendo
é que tu acaba fazendo o quê? Aquilo que eu digo para vocês. Tu acaba
agradecendo por estar te “fodendo” pouco, essa é a grande parte da
nossa existência. No momento que tu acaba entendendo que não existe
uma vida perfeita, tem mais uma característica. Aprendendo isso, tu

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começa a ser um pouco mais pessimista sobre o que pode acontecer. Olha
o que a gente viu com os estoicos, né? E assim, quando tu é mais
pessimista, mais realista do que pode acontecer, não mais tão cheio desse
romantismo exacerbado, dessa hipersensibilidade, a tua alma fica mais
calma. Tu não te desespera; tu não é mais pego de surpresa; tu fica mais
indulgente; tu fica mais paciente; tu acaba perdendo um pouco do
idealismo, um pouco desse teu romantismo, como a gente falou, dessa
tua hipersensibilidade, mas tu te torna uma pessoa menos enlouquecida,
menos explosiva, menos raivosa.

E com isso tem mais uma característica: Tu começa a ver os dois


lados da moeda. Tu começa a ver que as fraquezas de caráter de alguém
têm algum contraponto positivo. O perfeccionista, que cumpre sempre a
sua palavra, ao invés de olhar só para o lado ruim, tu aprende a olhar para
o todo, para ter uma visão mais sistêmica. Tu começa a ver que uma
pessoa bagunçada pode ter uma visão de mundo e algumas soluções
muito criativas, pode ser uma pessoa muito visionária. E com isso acaba
acontecendo o quê? Tu te apaixona menos, ao menos tu não te apaixona
tão facilmente. Eu sei que é uma coisa dura de dizer para as pessoas, mas
tu aprende que por mais charmosa que seja uma pessoa é sempre um
saco conviver cotidianamente. Por outro lado, tu acaba desenvolvendo
uma lealdade pelas coisas que tu já possui.

Tu também de dá conta, cara, e aí vem mais uma característica das


pessoas maduras, que é um saco conviver contigo. Tu não é tão legal
quanto tu acha; tu começa a perceber, te dar conta e aceitar que tu é um
cara difícil, que tu é um cara cheio de falhas, que tu joga todo esse teu
sentimentalismo sobre ti mesmo e quando tu chega numa relação
interpessoal, no trabalho, parentes, amigos, relacionamentos, tu já
começa dizendo para as pessoas: “Oh, meu, lidar comigo vai ser um pouco
desafiador para ti” ((risos)). O que a gente acaba vendo com tudo isso,
meu, é que a gente acaba aprendendo a perdoar os nossos próprios erros
e a perdoar as nossas próprias bobagens. Tu te dá conta que se punir
pelos seus erros é um atraso na tua vida e não vai te levar a lugar nenhum;
tu começa a te virar contigo mesmo. É claro que tu é um idiota, mas tu é
um idiota digno de ser amado! ((risos)) Tu é digno de ser amado!

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E aí, tu acaba tendo mais uma característica das pessoas maduras.
Tu entende, cara, que o amadurecimento é um processo que consiste em
fazer as pazes com tuas teimosias infantis que sempre permanecerão
contigo. Tu começa a entender que tu deve tentar sempre agir como um
adulto, em todas as ocasiões, mas que, às vezes, nós temos esses
momentos de regressão, que do nada esse teu eu de dois anos de idade
pode reaparecer na tua vida, vez por outra, essa é a parte importante,
mas não mais do que algumas horas. Tu tem que dar a atenção que esse
teu eu de dois anos precisa, mas depois dá um abraço nele forte, guarda
ele dentro e te despede.

E aí, vem mais uma característica das pessoas que são mais
evoluídas, mais maduras. Tu para de colocar tanta esperança em planos
grandiosos para alcançar a felicidade eterna. Tu começa a celebrar as
pequenas coisas que dão certo, meu amigo. Tu começa a se dar conta que
a satisfação está em ganhar alguns minutos de vida e não ter um dia cheio
de aporrinhações, não ter um dia cheio de encheção de saco; tu começa a
achar que as árvores florindo ficam mais lindas, está valendo a pena, o céu
estrelado está valendo a pena. Tudo começa a fazer sentido no momento
em que tu começa a entender também os pequenos prazeres da vida.

Mais uma característica das pessoas maduras: O que as pessoas


pensam de ti deixa de ser um motivo para ti te preocupar. Como é que
acontece isso? Tu te dá conta que a cabeça dos outros é tão embaralhada
quanto a tua, se não é mais embaralhada que a tua, mais confusa que a
tua. E assim, tu para de te esforçar para querer ter uma imagem na cabeça
de todo mundo, para querer agradar a todo mundo. O que vale mesmo,
que tu começa a te dar conta e ter certeza é o que tu acha de ti e quem
verdadeiramente te ama acha de ti. Assim, tu começa a abandonar o quê?
Essa perseguição pela fama e, aí sim, tu está preparado para ser uma
pessoa mais madura, para ter relações cada vez melhores com os teus
amigos, no trabalho e até mesmo num amor. Tudo isso faz parte do teu
crescimento.

E vem mais uma característica: Tu te torna melhor em receber


críticas. Tu para de pensar que todo mundo que te critica está te
perseguindo ou tentando te derrubar. Tu aceita que, de vez em quando, é

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bom tu aceitar as ideias alheias. Tu te torna mais capaz em ouvir os
outros, sem ter que vestir uma espécie de armadura ou tentar negar que
tu havia errado.

E aí, tem mais uma característica das pessoas maduras: Você se dá


conta de que os problemas maiores podem sempre aparecer. Tu começa a
te dar conta de como é bom ter uma perspectiva clara sobre os problemas
e procurar opções para resolvê-los. Tu valoriza as caminhadas para
pensar; tu valoriza ficar na beira da praia, olhando o mar; tu valoriza ficar
sentado na cadeira, olhando as estrelas.

E a partir disso aí, tu dá um passo adiante na tua existência. Tu te dá


conta que como tu encaraste os problemas do passado, reflete nas tuas
ações hoje e assim tu tenta compensar as distorções resultantes. Você
aceita que os teus traumas infantis, ou as tuas decepções amorosas te
deixaram predisposto a exagerar algumas das tuas atitudes e alguns dos
teus comportamentos. Tu começa a desconfiar dos teus próprios impulsos
e tu começa a te perguntar: “Do que será que eu estou fugindo?” “Qual é
o medo que está me levando a agir dessa forma?” Voltamos para a
primeira característica, em que tu aprende a decidir a não dar voz a esses
impulsos, que te fazem te desorientar, que fazem tu não ter mais
confiança em ti mesmo; tu não ter mais coragem; tu não trabalhar com
força, persistência e resiliência; tu ficar escondido na covardia, no medo,
na incerteza.

E aí, tu entende este último ponto da pessoa madura: Tu aprende


que, ao iniciar novas amizades, as pessoas não querem ouvir sobre os
teus feitos e vitórias, mas sim ter uma noção do que te atormenta, de
modo que se sintam menos solitários e mais conectadas contigo. Tu te
transforma, meu amigo, lá no final, num amigo melhor, porque tu passa a
enxergar que a amizade verdadeira consiste em dividir as
vulnerabilidades.

Olha essa listagem longa de características das pessoas maduras,


que eu passei para vocês. Eu espero que vocês tenham mais conexão com
essas características da maturidade do que com características da
imaturidade. Nosso grande objetivo na vida, meu, é nós termos certeza de

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nós mesmos, nós sabermos quem nós somos, sabermos quais são os
limites da nossa existência, como chegar na barreira do nosso
conhecimento e empurrar adiante. Esse é o motivo de nós termos feito
esse módulo especial sobre Navegar é preciso. Se antes, um dia lá atrás,
nós construímos um barco, agora nós temos que navegar. Para aonde
vamos? Qual é a minha vocação? Qual é a minha essência? E aí, o que eu
posso aprender melhor, para desviar dessas pedras? Agora, será que eu
sou um marinheiro arrojado ou quero ficar num porto seguro e não
enfrentar os desafios?

Esse é o questionamento que a gente leva hoje! Nessa aula de hoje,


nós vimos, exatamente, como se dá os caminhos da maturidade, através
da busca por conexões e da autoexpressão, depois as características das
pessoas imaturas, das quais tu tem que te afastar e principalmente não
ser uma delas; agora, ao final, as características das pessoas maduras, que
eu espero que tu tenha te relacionado, tenha visto o que tu tem de
parecido com a maioria dessas características.

Boa noite para vocês, foi um prazer termos tido essa aula!! Agora,
nos vemos na nossa próxima aula.

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