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BELLACASA

O que escrever em cada capítulo

Capítulo de introdução apresentando o que será abordado no capítulo.


Apresentar a autora Bellacasa e os Principais argumentos de Bellacasa, os conceitos
que ela traz e o porque o conceito de ética natural cultura será acionado na pesquisa.
O conceito de cuidado na abordagem feminista.
de interdependência sugere que vivemos num sistema conectado; a ética da
permacultura; ética do cuidado da permacultura
O pensamento disruptivo do cuidado (BELLACASA, 2012). A autora nos
convida a uma “exploração especulativa do significado de cuidar e viver em
mundos mais que humanos” e toma como ponto de partida para suas análises,
a definição de cuidado desenvolvida por Tronto e Fisher em seu livro Moral
Boundaries [Fronteiras Morais] para desdobrar o significado político do termo
discutido por ela.
Tudo de fazemos para manter, continuar, e reparar “nosso mundo”
para que possamos viver nele da melhor maneira possível. Esse
mundo inclui nossos corpos, nossos eus e nosso meio ambiente, tudo
o que procuramos entrelaçar em uma teia complexa e sustentadora
da vida (p.111).

Tronto e Fisher evidenciam uma noção entendida das agências


abordadas pelo conceito: “tudo que fazemos para” (p.111 tradução pensamento
disruptivo), nesse sentido é algo aberto, se refere a absolutamente tudo que
fazemos; também considera o trabalho de cuidado – “manter”, e a noção
ética/política do cuidado – “vida boa”. Assim como as dimensões éticas e
afetivas envolvidas na preocupação e atenção ao outro, que seriam o “caring
about” e o “taking care of”1 que só são possíveis através de práticas materiais.
Tronto abarca tudo isso em seu conceito de cuidado. Portanto, podemos
considerar que uma política do cuidado envolve muito mais que uma postura
moral; envolve agências afeticas, éticas e práticas com consequências
concretas e materiais. Além disso, tal concepção genérica de cuidado nos
ajuda a compreender o cuidado como imprescindível para o “entrelaçamento
de uma teia de vida” (p.111), assunto mobilizado pela ética feminista que
enfatiza a interconexão e a interdependência, sugerindo a interdependência
1
Em inglês há um jogo de palavras entre caring about e taking care of, que em português traduzimos
aqui como “se importar com” e “cuidar de”.
como o “estado ontológico no qual os seres humanos e inúmeros outros seres
inevitavelmente vivem” (p.111). O cuidado é, portanto, uma obra concreta de
manutenção, com implicações éticas e afetivas e como política indispensável
em mundos interdependentes, onde as dimensões ética/política, ofício/trabalho,
afeto/afeições não estão distribuidas igualmente, nem permanecem juntas sem
tensões. Significa que para seres interdependentes em arranjos mais que
humanos, em algum lugar no interior de cada mundo precisa existir alguma
forma de atenção com o outro para que a vida seja, de fato, possível.
Bellacasa quer discutir o sentido do cuidado para responder demandas
do tempo presente e contribuir para a sua rearticulação, reivindicando o
cuidado sem o purismo de um cuidado moral, afetivo ou político, no fim das
contas, nada está dado. A autora quer apostar em um potencial transformador
do cuidado, e para isso propõe deslocá-lo e envolvê-lo em temas e debates
não levantados até então. O ponto de partida é o pressuposto de que o cuidado
é intrínseco ao tecido cotidiano de mundos problemáticos, considerando seu
carater ambivalente, não se prende às três dimensões ontológicas (afetiva,
prática, ético/política). Muda os significados habituais do cuidado porque são
acionadas em torno de problemas que rompem os limites clássicos com os
quais as políticas feministas de cuidado têm maioritariamente trabalhado na
sua tarefa de reivindicar o significado do termo no mundo social. um
deslocamento de significado que carrega o tríptico do cuidado como “ética-
trabalho-afeto” para o terreno de uma política do conhecimento, para as
implicações de pensar com o cuidado. propõe discussões sobre políticas de
conhecimento em um pensamento que se envolve além das agências
humanas.
busca deslocar as perguntas que têm sido feitas, principalmente sobre o
cuidado como algo que os sujeitos humanos fazem – e algumas pessoas
substitutas, tais como não-humanos considerados capazes de agência e
emoção intencionais. O que significa cuidado quando pensamos e vivemos
interdependentemente com seres que não são humanos, em mundos “mais
que humanos”? Podemos pensar no cuidado como uma obrigação que
atravessa a bifurcação natureza/cultura sem simplesmente reinstalar os
binarismos e o moralismo da ética antropocêntrica? Como o engajamento com
o cuidado pode nos ajudar a pensar “obrigações” éticas em cosmologias
descentradas do humano. mas a essência de seu projeto foi trazer a obrigação
de cuidado como uma forma de contestar as formas dominantes de produção
de conhecimento e ciência em tecnociência. Desta forma, ela revelou o
potencial do significado genérico do cuidado para enfrentar e interromper a
dinâmica destrutiva do conhecimento científico que separa cérebro e mão,
intelecto e prática, do “coração”

Cuidar também pode siginificar manter uma certa distância, como foi O
primeiro, continua Moura, é a surra de cansanção (Jatropha urens), uma planta
urticante que produz uma coceira intensa e que, com golpes vigorosamente
desferidos, pode produzir queimaduras muito dolorosas, que Maria Felipa e
suas companheiras teriam dado nos soldados portugueses.

NESTE PARÁGRAFO EU PRECISO ESCREVER SOBRE:


EXPLICAR ARGUMENTO
TRAZER DADOS
PARÁGRAFO EXPLICANDO A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE CUIDAR PARA
OS ESTUDOS FEMINISTAS.
Puig de la Bellacasa (2017) salienta o quanto “cuidado” soa carregado para as
feministas. Por mais que seja uma categoria acionada há bastante tempo, é, também,
uma categoria desvalorizada, considerada menos importante. A proposta de
Bellacasa é situar o cuidado enquanto centro da análise, para que ele possa
estar atravessado a toda e qualquer questão social ou, melhor, ontológica, para
além daquelas conhecidas socialmente enquanto supostamente mais
“femininas” ou “emocionais”. Desconstruir a categoria de cuidado como algo dado
e natural do gênero feminino.Quem são aquelas pessoas que socialmente se
importam, em um sentido afetivo. Como “concern” pode estar ligado a uma
preocupação mais racional e “care” a uma preocupação mais afetiva/emocional.
O cuidado na abordagem feminista - Finalmente, há uma razão mais “empírica”
pela qual o significado do pensamento crítico especulativo se tornou parte dessa
exploração do cuidado. “o cuidado não é apenas ambivalente ontologicamente,
mas também politicamente.”. Aprendemos das abordagens feministas que o
pensamento e o trabalho sobre o cuidado ainda têm que confrontar as bases
complicadas da essencialização das experiências das mulheres (Hoagland 1991) e a
ideia persistente de que o cuidado se refere, ou deveria se referir, a um reino ético
saudável, agradável, não poluído. Mergulhar no trabalho feminista sobre o tema nos
convida a nos envolvermos substancialmente com o cuidado como um território vivo
que precisa ser constantemente recuperado dos significados idealizados, das
evidências construídas que, por exemplo, associam o cuidado com uma forma de
trabalho amoroso primário realizado por cuidadoras idealizadas. Re-engajamentos
contemporâneos com o cuidado dão continuidade a essa perspectiva quando se
engajam em seguir promovendo o cuidado ao mesmo tempo em que nos alertam
contra uma visão excessivamente otimista de sua prática ao nos incitar a continuar
“desestabilizando” o cuidado (Murphy 2015), ou como convidam Aryn Martin, Natasha
Myers e Ana Viseu, prolongando o chamado de Donna Haraway, para “ficar com o
problema” (Haraway 2016) na forma como nos comprometemos com o cuidado.
Aquelas pessoas envolvidas em pensar em territórios criticamente complexos e lutas
de cuidado por mais de quarenta anos podem achar que não há nada de novo nessas
preocupações. Contudo, não podemos nos conformar com uma ideia de que essas
discussões ficaram para trás. Uma colega me contou recentemente sobre sua reação
à organização de um simpósio sobre cuidado e economia política: “Cuidado? Por que
eu deveria me preocupar com o cuidado?” e, fazendo uma pausa, ela relatou como, ao
se ouvir pensar dessa maneira, pensou: “provavelmente porque tudo me diz para não
me preocupar com o cuidado”. Para além do ponto óbvio de que o que importa para

Maria Puig de la Bellacasa é uma filósofa e acadêmica conhecida por


seu trabalho na área de estudos de ciência e tecnologia, especialmente na
relação ao cuidado entre humanos e não humanos. Por isso ela será
fundamental para meu estudo. Seu trabalho é profundamente inspirado pela
filosofia feminista, pela ecologia política e pela ética do cuidado. Bellacasa
explora como as relações entre seres humanos e não humanos podem ser
compreendidas e reimaginadas sob uma perspectiva de cuidado e
responsabilidade. Alguns dos conceitos-chave em seu trabalho incluem: 1.
**Ética do Cuidado**: Maria Bellacasa defende uma abordagem ética que
coloca o cuidado no centro das interações humanas e não humanas. Ela
argumenta que o cuidado é uma prática ética fundamental que transcende
as fronteiras entre espécies e deve ser aplicada a todas as formas de vida
e ao meio ambiente. María Puig de la Bellacasa (2017, p. 2) levanta sobre o
cuidado ser um problema humano, mas que, no entanto, não é uma questão
apenas humana.

Bellacasa trabalha com a noção de interdependência, tal como utilizada por


Puig de la Bellacasa (2012) e Kittay (1999), sugere que vivemos num sistema
conectado..
Se “care” soa enquanto expressar algum carinho, algo mais emotivo e afetuoso,
podemos relacioná-lo a uma noção social de gênero atrelado ao feminino.

BOM CUIDADO Dialogando com as pesquisas feministas e as teorias do


cuidado (GILLIGAN, 1982) e da ideia de “ética do cuidado”, Bellacasa tenta
desconstruir a ideia de que haveria um suposto “bom cuidado” baseado na
noção de cuidado como uma afeição calorosa e agradável atravessada por
uma atitude moralista do sentir-se bem. Cuidado também pode significar
manter a distancia correta.

Assim, atentar para as práticas de cuidado pode ser uma maneira de se


envolver com vislumbres de alternativas habitáveis relacionalidades, com
outros mundos possíveis em formação (BELLACASA, 2017). Fazer mundos
não se limita aos humanos. Fazer mundos pode ser entendido em diálogo
como o que alguns academicos estão chamando de “ontologia”, isto é,
filosofias do ser. Com a intenção de confrontar o senso comum. Projetos de
fazer mundos, assim como ontologias alternativas, nos mostram que outros
mundos são possíveis. Fazer mundos, no entanto, enfatiza mais as atividades
práticas do que as cosmologias tsin, 66(aqui acho que daria para relacionar
com a prática do cuidado)
O cuidado para além do excepcionalismo humano

pensar com cuidado como forma de elucidar concepções e práticas que o


potencial para interromper a redução do solo a um recurso para os seres
humanos. Atenção às maneiras pelas quais as noções de cuidar com plantas
podem ser potencialmente transformados nestes tempos de instabilidade
ambiental traz à tona ecologias práticas, éticas e afetivas alternativas
possíveis. eu portanto envolver-se com as plantas como questões de cuidado:
relações mulher-plantas de cuidado e ontologias estão emaranhadas.
(belacasa)

. Ainda assim, mais uma vez podemos identificar ao menos duas conclusões
aparentemente contraditórias no seio destes estudos (que, em sua maior parte,
enfocam as ciências da natureza): por um lado, várias abordagens defendem
um conceito de cuidado novo e explicitamente recíproco que supere o
excepcionalismo humano e contribua para o fim do Antropoceno, a atual era
em que uma espécie detém poder e controle desproporcionais. Por outro lado,
a noção de cuidado tem sido associada a uma missão de preservação quase
pastoral e de natureza terapêutica ligada a percepções de totalidade e à
recuperação de funções perdidas. Este uso paliativo adota o cuidado como um
substituto moral para ideias de pureza que evocam tanto aspirações identitárias
quanto nacionalistas (Murphy 2015; Duclos & Criado 2019).
É, no entanto, no cruzamento destes dois ângulos de discussão - ética
ecológica cotidiana e envolvimento natural-cultural pós-humanista - que chego
aos limites da (minha) compreensão do cuidado como uma ética intensificando
a tensão especulativa.
a ética da permacultura é uma tentativa de descentralizar a subjetividade ética
humana, não considerar os humanos como mestres ou mesmo como
protetores, mas como participantes da teia dos seres vivos da Terra.
cuidado, como um processo dinâmico e forma complexa de sustentar
naturezaculturas. Requer movimentos especulativos deslocados que
descentrem a “ética” e a coloquem como uma força distribuída entre as
múltiplas agências que fazem mais do que relações humanas.
Debate sobre a ética do cuidado na permacultura exemplo de caminhos
alternativas na politica de viver com cuidado em mundos mais que humanos. –
Bellacasa chama de alterbiopolítica

Não tem como o humano experimentar a vida se não estiver sendo suprido e
nutrido por toda forma de vida que organismos não humanos proporcionam.
Por exemplo o ar, a agua, as plantas em forma de alimento, remédio...comer é
a evidencia de que a vida não pertence ao humano, ela transita de um corpo a
outro, de uma forma a outra. O humano depende de outras vidas para
permanecer vivo. (coccia)
O cuidado requer escuta, e quando não ouvimos o que os não-humanos estão
querendo nos dizer, o que estão experimentando ou necessitando, a resposta
também pode ter consequencia para nós – desde falhas e erros diários, a
epidemias relacionadas à falhas de cuidado.
SOBRE O CUIDADO COM AS PLANTAS
Agricultura, práticas e saberes que sobreviveram apesar do capitalismo, apesar
da globalização, da agricultura industrializada, da modernização.
Starhawk cita Mabel McKay, uma curandeira Powo: “Quando as pessoas não
usam as plantas, elas ficam escassas. Você deve usá-los para que eles
apareçam novamente. Todas as plantas são assim. Se não forem recolhidos,
ou conversados e cuidados, eles morrerão” (citado em Star Hawk 2004, 9; ver
também Mendum 2009). Mas apesar de ser vital, a agência humana nas
ecologias nas quais nos envolvemos, não está no centro. Ou seja, a forma de
vida da planta depende da interação e cuidado com a forma de vida humana.
Mas existem plantas que não dependem da existencia humana né? Bom, fiquei
na dúvida. Existem espécies espontaneas... Por exemplo, algumas plantas
deveriam ser ignoradas porque não existem para os humanos, mas para outros
– os animais -minhocas, outras substancias no solo. Numa vertente mais recente
da sua investigação, focada em cientistas e outros profissionais que investigam a
senciência das plantas, Myers incentiva o envolvimento em ecologias afectivas com
plantas nas quais o cuidado se torna um fio relacional básico, transmitido pelo amor e
paixão exibidos pelo observador das coisas, através de seu próprio envolvimento
corporal, imerso, no cultivo da afetividade. Através de modos envolventes de
conhecimento e escrita, Myers não apenas modifica nossa percepção do envolvimento
dos cientistas e de seus assuntos, as plantas, mas também nos convida a nos
tornarmos pesquisadores de um tipo diferente: “Aqui eu convido você a cultivar seu
planta interna. Este não é um exercício de antropomorfismo – uma representação de
plantas no modelo do humano. Pelo contrário, é uma oportunidade de vegetalizar o
seu corpo já mais que humano. Para despertar o planta latente em você, você
precisará se interessar e se envolver nas coisas que interessam às plantas ”(Myers
2013).
É, no entanto, no cruzamento destes dois ângulos de discussão - que chego aos
limites da (minha) compreensão do cuidado como uma ética, intensificando a tensão
especulativa. A permacultura convida-nos a pensar com os “limites” – de terras e
sistemas, onde os encontros são ao mesmo tempo desafiantes e diversificados para
além do esperado e administrável. Então vamos lá. Incorporada na interdependência
de todas as formas de vida – humanos e suas tecnologias, animais, plantas,
microorganismos, recursos elementares como o ar e a água, bem como o solo de que
nos alimentamos – a ética da permacultura é uma tentativa de descentralizar a
subjetividade ética humana, não considerar os humanos como mestres ou mesmo
como protetores, mas como participantes da teia dos seres vivos da Terra. E, no
entanto, ou na verdade, de forma correlativa, apesar desta postura não centrada no
ser humano, da afirmação de que os seres humanos não estão separados dos
mundos naturais, a ética da permacultura cultiva obrigações éticas específicas para os
seres humanos. As ações coletivopessoais também são movidas pelo compromisso
ético e pela exigência de resposta neste mundo. Possivelmente, esta forma de
obrigação eticamente descentralizada transmite uma tensão, mas não, creio eu, uma
contradição. Fazer perguntas sobre os compromissos éticos natureza-culturais dos
agentes que “trabalham a natureza” traz questões mais preocupantes em torno da
obrigação de cuidado em mundos além dos humanos: Que noção de ética está em
ação em posturas de princípios que visam descentrar a posição dos humanos na
Terra, ao mesmo tempo em que afirmam sua obrigações específicas? Certamente a
ética não pode ser descentralizada desta forma se permanecer ligada a presidir às
ações morais de sujeitos racionais, individuais e obviamente humanos. Mas então por
que seria necessária algo como “agência” ética se ela é distribuída mais no “trabalho
da natureza” do que nas agências humanas? Isso não é simples antropomorfismo? A
pergunta que fiz no início do livro permanece: em vez de diluir a obrigação à medida
que evitamos a ética centrada no ser humano, podemos redistribuí-la? Em qual quer
caso, afirmar o cuidado, como forma dinâmica e complexa de sus Requer movimentos
especulativos deslocados que descentrem a “ética” e a coloquem como uma força
distribuída entre as múltiplas agências que fazem mais do que relações humanas
A primeira parte do capítulo aborda os significados da biopolítica como uma
abordagem que traz de volta a manutenção cotidiana da vida ao centro de um
cenário de questionamento ético em que uma ética descentralizada do cuidado
poderia fazer a diferença. Éticas não normativas.
uma ética que pretende abranger mais do que agências humanas na teia do
cuidado.
visões feministas de ética do cuidado construídas a partir de pontos de vista
fundamentados em compreensões coletivas do trabalho das mulheres na
manutenção das relações cotidianas. O trabalho pessoal para transformar a
forma como a sociedade lida com o cuidado dos outros no quotidiano foi
provocado por um repensar colectivo tornado possível pelos movimentos de
mulheres. Tal forma de abordar o problema do cuidado como algo que pode
ser feito individualmente, mas está sempre interligado dentro de esforços
coletivos.
Pensar a sobrevivência e o bem estar humana depende diretamente dos outros
seres da Terra, e pensar o cuidado com base em ecosmologias naturais-
culturais não antropocêntricas.
A interferência do não humano entidades animais/orgânicas no ético e no
político tem suas especificidades. Se pensarmos o ético não apenas como uma
categoria abstrata, mas algo prático do cotidiano, ao lidar com agenciamentos
que envolvem entidades organicas entraremos em um mundo povoado por
preocupações específicas e envolvem esferas afetivas associadas a corpos
vivos e sofrimento.
O envolvimento com outras pessoas não humanas do mundo animal/orgânico
produz um conjunto diferente de preocupações éticas do que o envolvimento
com entidades tecnológicas. As coisas não são uma coisa só – como se os
humanos não fossem “o” humano (Papadopoulos 2010).
A ética do cuidado da permacultura baseia-se na percepção de que estamos
inseridos numa teia de relações complexas nas quais as ações pessoais têm
consequências para mais do que nós próprios e os nossos familiares.
É uma prática relacional que envolve formas de conhecer – sobre a
compostagem.
A interdependencia natureza-cultura não é apenas um princípio moral, é uma
questão de fato que nos tornamos conscientes. Torna-se uma questão de
cuidado envolver-se em ações éticas.
Conectar as práticas da ética da permacultura como fazeres ecológicos cotidianos
com uma noção feminista de cuidado desloca moralidades biopolíticas, permitindo-nos
visualizar a alterbiopolítica como uma ética de empoderamento coletivo que coloca o
cuidado no centro da busca das lutas diárias pelo florescimento esperançoso de todos
os seres, da bios entendida como uma comunidade mais que humana.
O que procuro aqui não é delinear um imperativo de cuidado de alcance
universal que definiria as relações humanas com todos os seres da Terra, mas
aprender especificamente com essas práticas de cuidado que incluem relações
práticas, particulares e mutáveis onde os humanos estão envolvidos com
outros seres humanos que não os humanos. humanos de maneiras não
redutíveis a um uso centrado no ser humano e também são radicalmente
natureza-culturais. Sem cuidar de outros seres, não podemos cuidar dos
humanos. Sem cuidar dos humanos, não podemos cuidar das ecologias em
que vivem.
Eu considero essas práticas marcadas por uma forma de ética biopolítica
sintonizada com a consciência natureza-cultural, mas também porque aqui o
cuidado com o próprio corpo não é separável do cuidado com as pessoas e
com a terra. Este movimento exemplifica bem a interdependência das “três
ecologias” – do eu (corpo e psique), do coletivo e da terra – que Félix Guattari
notoriamente apelou com urgência política para o futuro próximo, acreditando
que nenhuma poderia ser realizável sem o outro (Guattari 2000).

Lorena Cabnal, feminista comunitária de Guatemala, define as práticas


de cuidados como um ato de subversão Um cuidado que deixe para trás uma
perspectiva antropocêntrica, e coloquei no centro as relações entre seres
vivos e seres outros que humanos.
A agricultura moldou o comportamento humano – complexas relações de
dependência e interdependência. É possível estabelecer uma relação entre
essa interdependência e a interdependência mobilizada pelos estudos do
cuidado? Plantas são formas de vida que surgem através de relação entre
humanos e cultivares fazem juntos, com trabalho, brincadeira, curiosidade e
amor em que todo mundo muda e mundos são feitos.” (Dooren, 2012 wild
seed, domesticated seed: companion species and the emergence of
agricultura.
As formas pelas quais o cuidado constitui – e organiza – as relações entre as
pessoas e o ambiente natural configura uma perspectiva de pesquisa
antropológica que, essencialmente, retorna aos trabalhos iniciais da disciplina
sobre o animismo e o totemismo. As pesquisas voltadas para a íntima
interdependência social, espiritual e material entre pessoas, animais, entidades
espirituais e paisagens utilizam a noção de cuidado para indicar o
entrelaçamento de vidas que não podem ser resolvidas individualmente
(Kirksey & Helmreich 2010; Orr, Lansing & Dove 2015; Bollig 2018; BirdDavid
1999; Fijn 2011; Kohn 2013, Münster 2017). Em geral, enquanto prática que vai
além dos limites da humanidade e foca no bem-estar sustentável de todas as
formas de existência, o cuidado é visto como aquilo que constitui a essência da
busca coletiva por uma vida melhor e mais saudável no planeta (Puig de la
Bellacasa 2011). Entretanto, foi somente a partir dos anos 2000 que o campo
voltou a sua atenção para o problema de saber se cuidar de outras espécies é
algo constitutivo da existência humana em geral e se os humanos diferem de
outros animais devido à particularidade de suas práticas de cuidado
classificatórias (Shotwell 2016).
a Parte I envolve-se com a política de pensar e saber nos mundos mais que humanos
da tecnociência – principalmente envolvendo “coisas” e objetos ou, em termos gerais,
agências material-semióticas mobilizadas pela ciência e tecnologia (enquanto a Parte
II atende às relações de cuidado em ecologias vivas mais que humanas)bellacasa
explicita a noção que dá título a este livro, “matérias de cuidado”, como aquela que
inscreve o cuidado na materialidade de coisas mais que humanas bellacasa
O Capítulo 2, Thinking with Care [Pensando com o Cuidado], investiga mais a fundo a
imaginação de como um estilo de pensamento pode contribuir para o pensamento
cuidadoso ao viver com não-humanos. Se o processo de fazer o cuidado importar26
começou no capítulo anterior como um requisito para o conhecimento que visa
reapresentar as coisas, aqui o conhecimento é posteriormente concebido como
embutido na materialização dos mundos. Esse capítulo expande a premissa de que
pensar e saber são processos essencialmente relacionais que requerem cuidado. Com
base nessa concepção relacional de ontologia inspirada pela teia de cuidado de
Tronto, eu exploro “pensar com cuidado” como um requisito denso e não inocente do
pensamento coletivo em mundos interdependentes. Essa exploração especulativa de
assuntos sobre pensar com cuidado se desdobra por meio de uma leitura da obra de
Donna Haraway, especificamente sua visão sobre o caráter situado do conhecimento.
Uma noção de pensar com cuidado é articulada ao longo do capítulo como uma série
de movimentos concretos: pensando com, discor
. Em particular, a qualidade única de reversibilidade do toque, ou seja, o fato de ser
tocado por aquilo que tocamos, coloca a questão da reciprocidade no cerne de pensar
e viver com cuidado. Além do mais, a reciprocidade de cuidado raramente é bilateral, a
rede viva de cuidado não é mantida por indivíduos que dão O pensamento disruptivo
do cuidado Maria Puig de la Bellacasa Dossiê Anu. Antropol. (Brasília) v. 48, n. 1,
pp.108-133. (janeiro-abril/2023). Universidade de Brasília. ISSN 2357-738X.
https://doi.org/10.4000/aa.10539 125 e recebem de volta, mas por uma força
disseminada coletivamente. Assim concebida, a complexidade da circulação do
cuidado parece ainda mais onipresente quando pensamos em como ela é sustentada
em mundos mais que humanos. O cuidado é uma força distribuída por uma
multiplicidade de agências e materiais e apoia nossos mundos como uma densa
malha de obrigações relacionais.
O que Bellacasa (2017) pretende fazer é c onectar as práticas da ética da
permacultura como fazeres ecológicos cotidianos com uma noção feminista de
cuidado, e isso desloca moralidades biopolíticas, permitindo-nos visualizar a
alterbiopolítica como uma ética de empoderamento coletivo que coloca o
cuidado no centro da busca das lutas diárias pelo florescimento esperançoso
de todos os seres, da bios entendida como uma comunidade mais que
humana.
Belacasa também vai abordar as temporalidades do cuidado, o ritmo das
relações ecológicas podem estar em desacordo com o ritmo das inovações
tecnocientíficas, o tempo do cuidado surge como uma ruptura de
temporalidades antropocentradas.
Assim como Tsing vai falar do progresso. Estão surgindo ecologias de
cuidado práticas, éticas e afetivas alternativas que perturbam a direção tradicional do
progresso e a velocidade das intervenções tecnocientíficas, produtivistas e orientadas
para o futuro. Entre elas estão as tendências atuais nas concepções científicas de solo
que problematizam uma noção de terra como recurso e receptáculo para a produção
agrícola, enfatizando sua condição de mundo vivo. Nesse contexto, um modelo de
“teia alimentar” de ecologia da terra tornou-se um símbolo de envolvimento
corporificado e cuidadoso com os solos. Focar na experiência temporal desse cuidado
em jogo nessas concepções revela uma diversidade de temporalidades
interdependentes de seres e coisas no coração das escalas de tempo futuristas
predominantes de expectativas tecnocientíficas.
A separação natureza culutra, não é algo natural, na verdade é histórico cultural
ocidental moderna. O humano se tornou o inimigo principal da vida.
O problema do dualismo natureza e cultura, para os modernos, seria, segundo
Strathern, o esvaziamento de agência, de intencionalidade da “natureza”, que poderia,
assim, ser controlada, manipulada pela “cultura”.
A sensibilidade adquirida a partir da proximidade com o “mundo natural” e seus
tempos, poderia afetar as formas de cuidar? A humanidade atribuida aos não
humanos, como as plantas

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