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ÉTICA, MORAL E
DEONTOLOGIA
Professor (a) :

Dr. Raul Tavela Zermiani

Objetivos de aprendizagem
• Entender os conceitos de ética, moral e cidadania.

• Aprender a distinguir situações éticas de valores morais.

• Compreender a relação entre ética e educação social.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• O papel da educação social

• Ética, Moral e Deontologia

• Ética: desenvolvimento histórico

Introdução
Nosso objetivo é entender o que é ética, o que é moral, como esses conceitos se diferenciam, se
relacionam e se aplicam. Para tanto, é preciso entender os aspectos históricos e os fundamentos teóricos
que envolvem as discussões éticas e morais.

Essa primeira discussão não se esgota em si mesma, ou seja, ela resolve somente problemas prévios sobre
a interpretações sobre ações éticas e valores morais, evitando confusões e falácias.

Em um primeiro momento, apresentamos algumas observações e pressupostos que servem muito mais
para levantar questões do que apontar soluções imediatas sobre os problemas das sociedades
contemporâneas.

Na sequência, buscamos diferenciar de maneira clara o que é ética, moral e deontologia.

No final deste estudo, apresentaremos um panorama histórico sobre a definição e o conceito de


cidadania.

Esperamos, com isso, oferecer os fundamentos das questões de ética e cidadania para, ao longo do curso,
estruturar sua aplicação na educação social.
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O papel da educação social


Muito embora pareça ter se perdido em meio a debates estéreis, retóricas vazias e discursos
convenientes, mais do que nunca chegamos a uma situação geral em que indivíduos e sociedades
precisam aprender a se entender e se respeitar mutuamente; que esse respeito seja mais que tolerância,
que seja capacidade de auxiliar e promover a todos e a própria convivência. Em especial, depois da virada
do milênio, o mal-estar da condição humana torna-se evidente.

A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta. Blaise Pascal

Perdidas entre egoísmos, lacunas, ausências de explicação ou sentido, as sociedades do início do século
XXI carecem, com alguma urgência, de rumos a seguir, de caminhos explicativos, esclarecedores e de
entendimento sobre a própria inevitabilidade do convívio, aparentemente cada vez mais complexo e, por
isso, difícil ou confuso. O que poderia parecer mera questão de respeito, remete ao desafio
contemporâneo de promover o convívio responsável e a cidadania.
A racionalidade contemporânea, muito baseada no pensamento iluminista do século XVIII, quis dar
autonomia ao ser humano. Quis valorizá-lo e fazê-lo destacado no contexto dos demais seres da natureza.
Essa iniciativa bem intencionada, entretanto, pode não ter produzido os resultados desejados, pelo menos
não na intensidade pretendida. A vida no mundo ocidental contemporâneo, enfaticamente, é marcada por
uma série de fragmentações.

Primeiro, uma fragmentação da própria racionalidade. Tida classicamente como melhor mecanismo de
pensamento e compreensão da realidade, alguns autores entendem que não foi bem isso que ocorreu. É o
caso, por exemplo, da tese partilhada no início do século XX pelos criadores da “Escola de Frankfurt”,
Adorno e Horkheimer.

Segundo eles, a razão ocidental passou por um processo degenerativo, exatamente pela interferência do
Iluminismo: o raciocínio logicamente organizado, teria sido vítima de uma compreensão excessivamente
estreita.

Tomada inicialmente como forma totalizante de compreensão, dizem os frankfurtianos, rapidamente se


desvirtuou em um instrumento para a realização de objetivos centralmente pessoais e egoístas. Nesse
sentido, a razão se tornaria centralmente tecnicista, criadora de nada mais que técnicas e tecnologias para
facilitar uma vida ligada a produtividade e ao consumo.

É interessante complementar nossos estudos entendendo as complexas relações que


as pessoas estabelecem com a imprensa. Por meio da fonte indicada, fica claro que os
indivíduos tendem a atribuir credibilidade aos conteúdos veiculados pela mídia.
Todavia, as questões éticas por trás da atuação da imprensa sugere observação
cautelosa por parte do público, assim como chama a atenção para os profissionais da
comunicação para problemas relevantes causados por falta de cuidado em sua própria
atuação.

Fonte: Bucci (2000).

Segundo, a fragmentação da racionalidade produziria o fracionamento da condição humana, ou seja, teria


transformado o individualismo (típico do pensamento humanista e antropocêntrico da modernidade) em
egoísmo.

Terceiro, os objetivos de vida dos indivíduos seriam fragmentados a ponto de serem todos
descaracterizados, fazendo as pessoas crerem que somente uma prioridade é realmente necessária, justa
e fundamental: a vida consumidora.

Não interessa a nossos objetivos nos delongar nessa crítica e, menos ainda, em esmiuçar outras várias. Só
mencionamos as observações de Adorno e Horkheimer para levantar um primeiro problema: se é verdade
que o mundo contemporâneo ocidental tem graves problemas estruturais (como seria o caso da própria
racionalidade), como podemos falar em uma educação ética engajada na promoção da cidadania?

A princípio, parece que corremos o risco de fazermos coro com as críticas aos problemas efetivamente
existentes na vida em sociedade nos dias de hoje. Claro que situações problemáticas existem aos montes
em nossa realidade. Não estamos aqui para negá-los. O que norteia nossos estudos, entretanto, é outra
posição.

Dados os incontáveis infortúnios, desmandos, negligências, omissões e até maldades que poderíamos
lamentar, façamos diferente: o que podemos fazer para auxiliar na construção de soluções? Qual o papel
da educação social em um mundo acentuadamente difícil e complexo? A primeira providência já está
sendo tomada: problemas na realidade atual existem, e não são poucos. A complexidade do mundo
contemporâneo já está aceita, a princípio.

Dito tudo isso, agora é hora de encarar problemas. Ver caminhos de solução; pensar alternativas de
encaminhamentos para a resolução de questões e conflitos. É hora de aceitar um desafio que alguém
precisa se responsabilizar. Não é pouco, nem fácil, nem rápido. Todavia, estamos em posição privilegiada:
Declarar que a educação é caminho parece lugar comum. Seremos obrigado a reformar esse
entendimento. Educação é meio preferencial da resolução de problemas sim mas, em nosso caso, esse
papel está verdadeiramente a alcance das mãos.

Perceba o forte componente ético da formação correta de um profissional da educação


social. Mais do que uma disciplina, a ética é a base norteadora da atuação do educador.
Em especial no que se refere à promoção de uma democracia efetiva, entendida como
pressuposto ético fundamental para a vida em sociedade no mundo contemporâneo.
Detalhes sobre isso podem ser encontrados na seguinte referência:

SANTOS, B. de S. (Org.). Democratizar a democracia – os caminhos da democracia


participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Fonte: o autor.

A educação, vista como um todo, possui tantas prioridades, subáreas, objetos e objetivos de estudo que
não seria inadequado dizer que esperar dela, como um todo, providências imediatas às agonias atuais
pode ser demais. Em nosso caso, estamos diante de uma área da educação em específico; área esta que,
por excelência, é dada e orientada ao enfrentamento dos dramas humanos – a educação social.
Ética, moral e deontologia

As discussões sobre ética são várias e, frequentemente, desencontradas. Para não incorrermos em erro, é
necessário frisar que para discutir ética, é necessário certo cuidado para abordar com propriedade o
tema. Assim, antes da discussão sobre ética propriamente dita, vamos delimitar seu entendimento. Em um
dicionário comum encontraríamos o termo “ética” definido como “estudo dos juízos de apreciação
referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto” (FERREIRA, 1986, p. 733). Esta definição,
contudo, não é suficientemente adequada, porque é muito vaga.

Se fossemos insistir numa visão dicionarista, poderíamos somar à definição anterior o conceito anotado
em dicionários etimológicos, que usualmente apontam que a palavra ética vem do latim éthicus, derivado
do grego éthikós e que corresponderia ao “ramo do conhecimento que estuda a conduta humana”
(CUNHA, 1982, p.336). Chauí, ampliando o conceito para “ética”, ressalta que “embora ta ethé e mores
signifiquem o mesmo, [...] ethos, no singular, é o caráter ou temperamento individual [em relação aos]
valores da sociedade e ta ethiké é uma parte da filosofia que se dedica [...] ao caráter e conduta dos
indivíduos” (CHAUÍ, 1998).

Se ainda percebemos imprecisão de conceitos tão gerais, sua comparação com as definições de moral e
deontologia pode ser reveladora. Moral poderia ser conceituada, genericamente, como os termos mentais
que regem e avaliam os comportamentos e a atribuição de valores dos seres humanos às suas ações,
independentemente de suas culturas e épocas. Nesse sentido, a ética toma como “ponto de partida a
diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, não se
identifica com os princípios e normas de nenhuma moral” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1998, p.10), muito
embora não possa adotar uma atitude indiferente diante destas.

A ética poderia ser compreendida, portanto, como ponto de partida para a análise do comportamento
moral dos sujeitos em suas respectivas sociedades. A deontologia, por sua vez, pode ser entendida como
conjunto de códigos formais que arregimentam a conduta ética, ou seja, o estabelecimento por escrito de
princípios éticos
Apesar de serem semelhantes, em suma, a moral é notada e pode ser reconhecida como o “conjunto de
regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de homens”, já a ética “ou filosofia
moral é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que
fundamentam a vida moral” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 274).

Do ponto de vista histórico, a ação ética está relacionada inicialmente com as ações em acordo com os
pressupostos religiosos. Nesse caso, por exemplo, os dez mandamentos seriam uma forma de código
deontológico (até porque são expressos de maneira clara e apresentados na forma escrita). De acordo
com Sánchez Vázquez, “a ética cristã parte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das
relações do homem com o seu criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a
salvação no outro mundo” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1998, p. 243).

Assim, podermos realmente considerar os dez mandamentos “como uma primeira tentativa bem sucedida
de delimitar essa esfera da vida social. [...] Durante largo período da cultura ocidental as regras morais
eram entendidas como aqueles preceitos tornados válidos por inspiração religiosa” (PAIM, 1992, p. 21).
Foi só na modernidade que ocorre a independência da moral e a religião no Ocidente. O mesmo
acontecerá com a ética, também separada do pensamento religioso a partir do final da Idade Média.

No caso da ética cristã, Marilena Chauí observa que o Cristianismo se organiza como religião em que os
indivíduos“ não se definem por seu pertencimento a uma nação [...], mas por sua fé num [...] único Deus [e,
neste sentido a] ética do cristão não será definida por sua relação com a sociedade, mas por sua relação
espiritual e interior com Deus” (CHAUÍ, 1998, p. 343).

A desvinculação do conceito de ética como virtude moral religiosa ocorre, em grande medida, pelas
correntes filosóficas modernas e contemporâneas. É o caso do Iluminismo. A secularização do
pensamento e dos padrões morais e éticos assumem formas distintas (e as vezes muito diversas) de
interpretação.

É possível resumir esta diversidade quando da análise da ética como questão filosófica ao argumentar que
existem muitas correntes filosóficas que abordam ética, mas em geral tendem a sustentar “a
racionalidade, a liberdade e a responsabilidade do sujeito, de forma que suas palavras e suas ações
possam ser medidas por ele e compreendidas e aceitas como válidas por aqueles que o cercam” (BUCCI,
2000, p. 15-16).

Ao agir de forma ética, enfim, cada indivíduo objetiva ser virtuoso por meio da construção do bem para si
e para os outros (o chamado “bem comum”) de acordo com seu contexto histórico.
Ética - desenvolvimento
histórico

Historicamente, encontramos na Grécia Antiga os primeiros estudos sobre a ética. Ainda nos séculos VI e
V a.C, os gregos estudavam o comportamento humano e a vida em sociedade. Os filósofos Sofistas
consideravam a comunicação como meio preferencial de persuasão. Para eles, não havia formas de agir
realmente falsas ou verdadeiras. As normas sociais seriam todas passageiras.

Considerado fundador da ética como área da filosofia que analisa os valores morais, Sócrates (V a.C.) a
definiu como o campo no qual as obrigações poderiam ser estabelecidas. Para ele, “é sujeito ético moral
somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas
intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais” (CHAUÍ, 1998, p. 341). Cerca de um século
depois de Sócrates, Aristóteles começou a analisar a construção do pensamento, iniciando a
desvinculação do raciocínio mitológico do raciocínio filosófico. Chegou à conclusão de que o maior valor
humano seria a própria racionalidade. É por essa constatação que Aristóteles passa a ser conhecido como
“pai do racionalismo filosófico”. Para ele, os homens deveriam agir de acordo com aquilo que chamava de
“virtude” que, em nosso caso, podemos entender como suas experiências de vida, onde deveria ocorrer o
balanceamento de opostos. Sempre deveríamos agir pelo “caminho do meio”, evitando extremos em
termos de comportamento e ação.

O princípio da ética aristotélica defende que a sociedade é o meio para a existência do ser moral.
Enfaticamente, o homem deveria obrigatoriamente viver em sociedade, não podendo levar uma vida
moral apenas como ser individual. Nesse sentido, a ética deveria ser constituída como um saber prático.

Na modernidade, a ética passa por novos aprofundamentos, dada a organização definitiva do pensamento
efetivamente antropocêntrico. A Igreja Católica, que dominou a Idade Média até em termos filosóficos,
perde sua hegemonia, principalmente em virtude da atuação dos movimentos de reformas religiosas.
Lentamente, o homem como ser único e singular passa a ter novo valor e interesse.

Para indicar a reorientação moderna da ética, basta exemplificar o trabalho de alguns filósofos modernos,
como é o caso de René Descartes que, no século XVII, “já [...] esboça claramente a tendência de basear a
filosofia no homem” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1998, p. 248).

Na primeira metade do século XVIII o empirismo filosófico-científico será definitivamente organizado,


defendendo a importância da aquisição do conhecimento por meio de realização de experimentos já que,
para os empíricos, as experiências, a vida prática e a realização de testes seriam a forma mais precisa de
organização do conhecimento.

David Hume será um dos nomes mais importantes do empirismo. Em sua obra, está clara “a denotação dos
termos éticos não permite descobrir nem os fatos observáveis nem relações lógicas; estes termos
veiculam um sentimento de aprovação [que] não se refere a objetos julgados, mas aos sentimentos de
quem julga” (KREMERMARIETTI, 1989, p. 114).
O Iluminismo (séc. XVIII) contribuirá muito para as discussões sobre ética. Ao falar sobre o Século das
Luzes, é inevitável recorrer ao pensamento de Immanuel Kant, filósofo expoente do período. Kant
pretendia criar uma ética universal, ou seja, válida e igual para todos os indivíduos ao mesmo tempo. Para
esse pensador “o homem como consciência cognoscente ou moral é, antes de tudo, um ser ativo, criador e
legislador, tanto no plano do conhecimento quanto no da moral” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1996, p. 248).

Muitos outros iluministas trataram do tema. Um dos fundadores do pensamento liberal inglês, por
exemplo, John Locke (XVIII) postulou a fundamentação da ética no interesse dos indivíduos. Para ele, os
valores morais seriam apreendidos pela própria experiência dos seres humanos. Um dos autores clássicos
do Iluminismo, Voltaire, considerou que valores universais para as ações deveriam valer para todos os
homens, sem exceção. Rousseau considerou todos os valores morais como o próprio conjunto das leis da
natureza.

De toda maneira, enfatizaremos aqui o pensamento Kantiano que, nesse caso, podemos considerar como
autor símbolo do pensamento iluminista nas questões que se referem à ética. Nessa área, Kant
conceituou seu famoso “Imperativo Categórico” que, resumidamente, defende a ética como produto
universalizável da razão, devendo o conhecimento universalizado ser aceito por todos os seres racionais
com autonomia e independência. Isso configuraria o pressuposto básico para a existência da lei moral, que
o filósofo chamou de “liberdade”.

Os fundamentos para a existência da lei moral estaria no próprio conceito Kantiano de liberdade. A
liberdade é uma propriedade da vontade humana. Segundo o próprio Kant, “todo ser que não pode agir de
modo diverso que não seja debaixo da ideia de liberdade, é por isso mesmo verdadeiramente livre no
sentido prático” (Kant, s/d. p. 40).

A liberdade na obra de Kant pode ser entendida como a autonomia da vontade em relação à natureza,
também conhecida como “vontade em si”. A vontade seria moral quando não tivesse intenções ocultas (as
tais “segundas intenções”), já que “tomar o homem como meio parece a Kant profundamente imoral,
porque todos os homens são fins em si mesmos e, como tais, formam parte do mundo da liberdade ou do
reino dos fins”. Em resumo, por enfatizar que a conduta moral pertence ao ser humano “autônomo e livre,
ativo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de uma ética na qual o homem se define antes
de tudo como ser ativo, produtor ou criador” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1998, p. 250).

No mundo contemporâneo imediato, a partir do início do século XX, filósofos como Jürgen Habermas
intensificaram ainda mais a formalização do sentido da ação ética. Para ele, a noção de racionalidade não
se refere a um saber único e universalmente válido, mas “à forma pela qual os agentes empregam
socialmente a pluralidade dos conhecimentos disponíveis na prática cotidiana de suas ações”, sempre
objetivando agir de maneira justa, honesta e correta (PRADO, 1996, p.146).

Para construir seu raciocínio e a justificativa de uma racionalidade profundamente ética, Habermas criou
o conceito de “Ética Discursiva”. Nele, há uma norma que deveria ser um resultado de um processo social
consensual mediado pela linguagem que será universalizável. Esse seria chamado por Habermas de
“Princípio U”, enunciado da seguinte maneira: Toda “norma válida tem que preencher a condição de que as
consequências e efeitos colaterais que previsivelmente resultem de sua observância universal, para a
satisfação dos interesses de todo indivíduo possam ser aceitas sem coação” por parte dos outros
(HABERMAS, 1989, p. 147-148).

Já que Habermas fala em uma universalidade possível para as ações éticas, é importante percebermos a
aproximação de sua filosofia com o pensamento Kantiano, já que ambas são formalistas e pretendem
construir uma ética universal.
Uma diferença, entretanto, deve ser indicada: somente Habermas entende a sociedade como coletivo
plural, ou seja, dentro de uma mesma sociedade existem sistemas de valores diferentes em constante
mudança. Nesse caso, portanto, a concepção de totalidade é inviável para a aplicação na sociedade
contemporânea, o problema poderia ser resolvido ao evidenciar a racionalização contínua das sociedades
atuais; racionalização essa que viabilizaria a coordenação deliberada das ações humanas, dada que a
própria racionalidade possui, caracteristicamente, potencial crítico.

O objetivo de Habermas seria estabelecer especificamente pela comunicação o que é o consenso. Nesse
sentido, a linguagem acaba sendo abordada como fator de mediação e de extensão de normas dentro do
processo de socialização nas sociedades contemporâneas. É nessa perspectiva que surgiriam as
abordagens pós-modernas (que chegam, inclusive a criticar o racionalismo de modelo Iluminista). Aqui já
ficam evidentes as limitações para a existência de uma racionalidade única na vida em sociedade.

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ATIVIDADES
1. Leia o trecho a seguir:

“De acordo com a ética do Discurso, uma norma só deve pretender validez quando todos os que possam
ser concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um Discurso prático, a
um acordo quanto à validez dessa norma” (HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo .

Tradução de Guido A. de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989, p.86).

Com base nesta leitura e nas discussões desse material sobre a ética para Habermas, assinale a
alternativa correta :

a)O princípio que produz o consenso entre as pessoas deve garantir que vontades particulares devem ser
entendidas como princípios éticos universais.

b) Nos discursos éticos, basta que o indivíduo reflita se pode concordar com uma norma.

c)Os problemas éticos são dilemas individuais que estão submetidos a uma negociação argumentativa
para convencer outros de sua validade.

d) O princípio “U” de Habermas trata-se de uma cópia do imperativo categórico de Kant.

e) Para Habermas, uma norma só é correta se todos os envolvidos a legitimarem.

2. Leia o texto a seguir:

“A pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá
pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo
determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a
simesma: Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida
a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado
e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá” (KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos
Costumes São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 130).
.

De acordo com o texto e com nossos estudos sobre a ética kantiana, assinale a alternativa correta:

a) Para Kant, uma falsa promessa não pode valer como lei universal.

b)Kant considera que uma falsa promessa é justificada quando um indivíduo pretende com ela resolver
problemas práticos da vida cotidiana.

c) A falsa promessa é moralmente aceitável porque existe como promessa.

d) A falsa promessa é moralmente reprovável porque contraria a sua consciência e seria reprovada pelos
sujeitos atingidos por ela.

e)A falsa promessa é automaticamente detectada pela sociedade, já que uma ética universal existe
previamente nas consciências dos indivíduos.

3.A Ética como filosofia moral é um tipo de saber normativo, isto é, um saber que pretende orientar as
ações dos seres humanos. Com base nessa afirmação e na ética aristotélica, é correto afirmar que a ética:

a) É pautada pelo procedimento formal de análise de regras socialmente aceitas, como meio de verificação
da legitimidade da ação.

b) Entende que o comportamento ético é ideal, ou seja, só existe na teoria..

c) Defende que os princípios éticos universais e verdadeiros são todos religiosos.

d) Entende que a ética busca realização plena dos prazeres humanos.

e) Baseia-se na subjetividade individual, levando em consideração as emoções e desejos dos indivíduos.

Resolução das atividades

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RESUMO
É importante notar que a formação do educador social, antes de mais nada, é uma formação humanística e
ética. Compromissado com a promoção da qualidade de vida e com a justiça social, esse profissional
precisa entender que a ética é supramoral, ou seja, superior aos valores morais (na medida em que os
avaliam).

As condutas éticas podem ser arregimentadas em códigos formais, como em conjuntos de leis e princípios
escritos, entretanto, a ética propriamente dita é mais ampla que o teor das regras escritas, já que é parte
integrante da filosofia e, como tal, é capaz de avaliar as atitudes humanas até nos casos em que
determinados comportamentos não estejam sequer previstos em códigos legais e manuais de conduta.

Como área da filosofia, inclusive, é importante que a ética passou por uma série de modificações
conceituais e redefinições de atribuições. De pressupostos que deveriam ser apreendidos
individualmente, como salientava a ética na antiguidade clássica, passando por interferências morais
religiosas durante a Idade Média, a ética refundou-se na modernidade ao voltar a avaliar os valores
exclusivamente humanos e, a partir da obra de Kant, chegou a ser considerada como referência universal
da valoração para as ações humanas.

Nem mesmo com o advento da psicanálise, que retirou parte importante do poder atribuído às
consciências individuais, fez a filosofia moral abandonar seus propósitos. Em meio a constantes
redefinições, ela continua tentando validar as ações humanas nos termos da honestidade, na justiça, da
correção e retidão moral.

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Material Complementar

Leitura
Ética

Autor: Adolfo Sánches Vásquez

Editora: Civilização Brasileira, 1998

Sinopse: a ideia de que a ética deve ter suas raízes no fato


da moral, como sistema de regulamentação das relações
entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade,
orientou este estudo.

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REFERÊNCIAS
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39, out. 1998. ______. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo:
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APROFUNDANDO
É interessante notar que na distinção entre ética e moral, é comum ser argumentado que o moral é
contextual, ou seja, os valores morais dependem do lugar e do tempo em que estão localizados para se
estabelecer. A ética, por sua vez, não teria esse condicionante. Trata-se de uma área da filosofia que, em
tese, não muda de posições de acordo com o local e a época que se pretende analisar.

As posturas éticas e antiéticas, portanto, não mudariam de lugar para lugar ou de época para época. Em
parte tal acepção é verdadeira, mas vale a pena ressaltar que uma situação em específico dificulta a
criação dessa “regra”: trata-se da Idade Média.

Ao longo do período medieval, a Igreja Cristã Católica tratavam “valores morais” e “comportamentos
éticos” quase como sinônimos. Essa atitude é compreensível, já que as autoridades católicas do período
precisariam justificar os valores de interesse da própria igreja com os valores que deveriam ser encarados
como corretos.

Tratava-se de uma estratégia deliberada porque, como Instituição que se fez hegemônica no ocidente por
quase mil anos, era necessário estender o domínio das “coisas de Deus” para as “coisas dos homens”.
Enfaticamente, para os padres e filósofos medievais, haveria uma única maneira correta de agir: agindo de
acordo com o que a própria igreja medieval entendesse como justa, honesta, correta e verdadeira.

Na modernidade, entretanto, a redução da ética ao respeito de determinado grupo de valores morais


deixa de existir. O Renascimento e o Iluminismo, nesse caso, são muito claros na defesa da independência
da ética em relação aos valores morais.

PARABÉNS!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação


.

a Distância; ZERMIANI Raul Tavela.


,

Cidadania e Ética. Raul Tavela Zermiani

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.


27 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Cidadania. 2. Ética. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 170

CIP - NBR 12899 - AACR/2

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ALGUMAS
PROPOSTAS PARA
A ÉTICA E A
CIDADANIA
Professor (a) :

Dr. Raul Tavela Zermiani

Objetivos de aprendizagem
• Dominar os problemas éticos atuais.

• Compreender o conceito de cidadania.

• Entender a relação entre cidadania e a construção de direitos.

• Visualizar os problemas na construção de direitos.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Caminhos de uma ética possível

• Desenvolvimento histórico da cidadania

• Cidadania e Construção de Direitos

Introdução
Neste módulo visamos entender o conceito de cidadania, suas implicações e seu desenvolvimento
histórico. Trata-se de trilhar o caminho do domínio dos problemas humanos e sociais.

Começamos orientando a compreensão de conceitos éticos possíveis, no sentido de serem aplicáveis à


vida cotidiana. De fato, se não houver algum cuidado com o encaminhamento de definições práticas,
corremos o risco de cumprir com o problema evidenciado na unidade anterior: criar debates pouco úteis
ou relevantes.

A compreensão do processo que leva à ampliação do conceito e das demandas de cidadania é


fundamental para educadores, em especial àqueles que se propõe a zelar pelo desenvolvimento humano
em termos sociais.

Na última aula deste estudo, evidenciamos a relação entre cidadania e direitos, Nosso objetivo é
descrever em detalhes como a cidadania promove direitos, em que termos esses direitos se dão.

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Caminhos de uma ética possível


Para viabilizar a utilização efetiva da ética na promoção da educação social e da cidadania, é necessário
continuar no esforço de delimitar ainda mais nosso campo de análise. Para isso, é importante evidenciar
que a ética trata, de forma ampla, da análise de problemas “que se apresentam nas relações efetivas,
reais[...]. Trata-se [então] de problemas cuja solução não concerne somente à pessoa que os propõe, mas
também a [...] outras pessoas que sofrerão das consequências [...] da sua ação” (SÁNCHEZ,1998, p. 06)

Muito embora a cidadania tenha sido estendida teoricamente a todos os indivíduos nas
sociedades ocidentais contemporâneas, tal condição já foi tratada como privilégio
restrito à grupos sociais extremamente restritos, em especial no que se refere ao
acesso à democracia. Para saber mais, procure a seguinte referência:

Fonte: Jaguaribe (1982).

A abordagem racional da ética, entretanto, não é a única concepção filosófica da moral. O chamado
“emotivismo” ético, por exemplo, aborda as questões éticas de maneira a entender as ações morais como
produto das emoções. Baseados em Rousseau, os defensores dessa perspectiva entendem que os
sentimentos são as causas das normas e valores éticos.

Ao mencionar essa abordagem, permitimos a compreensão de que existem outras concepções e que,
portanto, a posição racionalista de Kant e Habermas sobre a ética não é única. Um caso extremo desta
variedade conceitual seria, por exemplo, a concepção chamada de “irracionalista”.

O irracionalismo ético é frequentemente atribuído a pensadores como o filósofo Friederich Nietzsche. Em


nosso caso, e dados nossos objetivos, basta mencionar que esta abordagem “contesta à razão o poder e o
direito de intervir sobre o desejo e as paixões, identificando a liberdade [somente individual e irrestrita]
com a plena manifestação do desejante e do passional” (CHAUÍ, 1998, p. 352).

Em que se pese a possível multiplicidade das abordagens éticas, entretanto, em nosso caso, não é útil nos
estendermos nessas questões. Nosso esforço de delimitação aponta para outra direção: podemos tratar
os problemas éticos em duas esferas distintas - a esfera filosófica geral (como temos realizado até o
momento) e a esfera deontológica. A ética deontológica pode ser definida como “ética profissional”, que
trata da regulamentação das ações humanas no mundo do trabalho e da atuação profissional, em geral
arregimentada em códigos formais escritos.

O estudo da ética filosófica em abordagens tradicionais, como temos indicado, funcionaria como prática
questionadora de pressuposições éticas que não se sustentam desde o final do século XIX, dada a
repercussão da obra e do pensamento de Sigmund Freud, pois o pai da psicanálise “abalou [...] algumas
convicções a respeito das relações do homem com o Bem, exigindo que se repensassem os fundamentos
éticos [...] a partir da descoberta das determinações inconscientes da ação humana” (KEHL, 2002, p. 07-
08).

Com o advento da própria psicanálise, aconteceram mudanças importantes nas concepções atuais de
ética. Os estudos psicanalíticos introduzem o conceito de “inconsciente”, que compromete severamente
as abordagens anteriores. O inconsciente seria capaz de limitar o poder da consciência,
consequentemente, da própria razão. A psicanálise evidenciará que todos nós somos objetos de “impulsos
e desejos inconscientes e [que estes] desconhecem barreiras e limites para a busca da satisfação
[,inclusive] burlando e enganado a consciência” (CHAUÍ, 1998, p. 355).

Em uma tentativa de diluir os problemas produzidos pela descoberta de um pretenso inconsciente, a


própria psicanálise tratou de produzir uma solução ética. Nesse novo momento, os autores
contemporâneos começaram a propor que, além de existirem valores e condutas éticas e antiéticas,
existem aquelas que são simplesmente amorais. A proposição de uma “nova moral” partiria, portanto, a
harmonização dos comportamentos de acordo com as possibilidades criadas por desejos inconscientes e
com as necessidades sociais racionalmente observáveis.

Novos conhecimentos trarão ainda mais problemas. Ao longo do século XX, novas questões irão entrar em
conflito com o racionalismo da modernidade tradicional (que tanto defendeu a universalidade da ética,
como fizeram Kant e Habermas, por exemplo). A obra do filósofo Jean-François Lyotard será um desses
casos de novas complexidades.

Ao tratar da possibilidade de existência de uma “linguagem” (chamada literalmente de “metalinguagem”)


anterior aos idiomas que seria comum a quaisquer sociedades, Lyotard escreve que “o princípio de uma
metalinguagem universal é substituído pelo da pluralidade dos sistemas formais (...) [, sendo estes
sistemas] descritos numa metalinguagem universal, mas não consistente” (LYOTARD, 1993, p. 79).

Lyotard acaba concluindo que não existe, nem poderia existir, uma única teoria sobre a verdade. Se
levarmos suas observações em consideração, não podemos falar em um conceito para a verdade, então a
atitude moral ou ética também não são universalizáveis. Não existiria o consenso em relação aos
procedimentos humanos. Para ele, toda relação social pressupõe o inter-relacionamento de regras
práticas heterogêneas.

Ainda no século XX, o Existencialismo também contribuiu com as críticas ao pensamento ético moderno.
Kierkegaard, ainda no século XIX, entendeu o ser humano como ser concreto que responde,
precisamente, à sua subjetividade. Portanto esse “ser” não poderia estar exposto às universalizações (que
aqui enfatizamos em Kant e Habermas).

Na sequência da crítica à ética universal, o Pragmatismo filosófico do começo do século XX defendido por
James Dewey, por exemplo, pensa a ética com finalidades práticas e utilitaristas, focalizando o sucesso
pessoal. Nesse caso, Dewey rejeitaria “a existência de valores ou normas objetivas, apresentando-se
como mais uma versão do subjetivismo [constante, por exemplo, no existencialismo] e do irracionalismo
[de Nietzsche]” (SÁNCHEZ, 1996, p. 248).

Reunidas, as teses contemporâneas da psicanálise com as críticas pós-modernas sobre a impossibilidade


de haver uma razão singular e única, sem que seja possível detectar uma unidade básica entre eles, o
pensamento pós-moderno, postula a pluralidade de pensamento e comportamento humanos, o que acaba
por refutar o pensamento moderno de Kant, por exemplo, já que entende que não é possível criar
máximas universalizáveis efetivas. Essa pluralidade típica da condição humana, então, não permitiria que
tais padrões de conduta universalmente válidos fossem aplicados

Desenvolvimento histórico da
cidadania

Podemos entender, inicialmente, a cidadania como capacidade conquistada pelos indivíduos de se


apropriarem dos direitos social e historicamente criados. É importante destacar que tal criação é
eminentemente histórica, na medida em que a soberania popular, a democracia e a cidadania devem
sempre ser pensadas de acordo com seus contextos como conceitos aos quais a própria história oferece,
continuamente, novas e variadas contribuições.
Com efeito, a cidadania não é presenteada a todos os indivíduos de maneira ampla e geral. Sua conquista é
resultado de embates permanentes dentro um processo histórico de longo e frequentemente traumático
(já que esses embates normalmente envolvem o enfrentamento de pessoas com menos poder – em todos
os sentidos – com grupos e/ou instituição concentradoras de poder – também em todos os sentidos).
Obviamente, a cidadania não nasceu no mundo moderno, muito embora seja nela que encontrará os
caminhos de sua elevação ao posto de questão central da vida em sociedade. As primeiras discussões e
propostas sobre a cidadania ocorreram na Grécia Antiga, provavelmente entre os séculos V e IV a.C.

Aristóteles, expoente filósofo grego do Período Clássico, definiu o cidadão como aquele que tinha o
direito e o dever de participar da formação do governo, atuando das assembleias cidadãs, nas quais
tomavam as decisões que envolviam a coletividade, frequentemente exercendo até cargos que
executavam tais decisões. Entretanto, é importante registrar que, mesmo nas situações em que tivemos as
Cidades-Estado mais democráticas (como no caso de alguns períodos na cidade de Atenas no século V
a.C.), era proibido o acesso à cidadania aos escravos, às mulheres e aos estrangeiros (que eram,
enfaticamente, a maioria dos habitantes das cidades).

Ademais, o próprio conceito de cidadania era bastante restrito: os direitos naquele contexto envolviam
somente direitos políticos, ou seja, direitos de participação e atuação junto ao governo, excluindo o que
hoje chamamos de “direitos civis” (como o direito à liberdade de ir e vir, direito de expressão e livre
pensamento, direito à ampla e livre manifestação) em que se pesem as limitações ao conceito de
cidadania.

Entretanto, é precisamente na Grécia Antiga onde surgiram as primeiras práticas – e a primeira definição -

de cidadania. Transpondo a questão para o mundo moderno, a noção e a prática da cidadania também são
umbilicalmente ligadas à noção de direitos.

Todavia, na modernidade, tais direitos estarão ligados a problemas individuais ou civis. Isso fica claro, por
exemplo, na obra do filósofo iluminista liberal John Locke. Para Locke a política e, por extensão, a
cidadania, existe a partir de direitos naturais.

Para o iluminista, as pessoas, como indivíduos independentes, possuem direitos (no sentido de não
dependerem mais da Cidade-Estado, ou membros de determinado estamento, como na Idade Média) e,
para assegurá-los, deveriam acordar entre si sobre a criação de um Estado, pois os chamados direitos
naturais estariam ameaçados em um estado natural (chamado por todos os contratualistas, como o
próprio Locke, de Estado de Natureza. E precisamente para o contratualismo liberal lockeano, o papel do
governo seria precisamente a garantia dos direitos naturais, que são fundamentais em sua perspectiva.

Entre os direitos inalienáveis ao homem, Locke prioriza o direito à propriedade privada, acompanhada do
direto à vida e à liberdade. Essa seria a base do que esse filósofo chamará de “Estado Democrático de
Direito” (EDD). Esse “Direito” deveria ser entendido como “direito natural”: direitos de todos os
indivíduos, independentemente da posição que ocupam na sociedade em que vivem.

Enfaticamente, a proposição do EDD possuiu papel fundamental na história moderna e contemporânea,


pois consagrou a liberdade individual contra as pretensões autoritárias, típicas do despotismo absolutista.
Todavia, essa versão liberal do contrato social, é importante evidenciar que as defesas de tais contrato,
redundaram na construção da ideologia burguesa (em especial pela ênfase dada ao direito fundamental à
propriedade). Críticos ao liberalismo, aqui representado por John Locke, argumentam que sua proposta
acaba por produzir uma nova forma de desigualdade entre os homens e, mais ainda, o equívoco seria
profundo: a defesa de que existem direitos naturais.
Ora, os indivíduos não nascem com direitos, já que os direitos são fenômenos sociais e históricos. As
demandas sociais por direitos só serão satisfeitas quando assumidas pelas instituições que asseguram a
legalidade. Mais ainda: os direitos tidos hoje como inalienáveis, tais como o direito à saúde, à educação e
ao trabalho, não estavam previstos entre os direitos naturais defendidos pelos filósofos liberais.
Entretanto, há de se reconhecer que há um mérito no pensamento do jusnaturalista: a defesa que o
direito antecede o direito estatuído na deontologia, ou seja, nos códigos de leis, manuais legais, códigos de
ética e constituições.

Cidadania construção de
e
direitos

O sociólogo britânico T. H Marshall apresenta importante contribuição para a compreensão da dimensão


.

histórica da cidadania, quando – este define três níveis de direitos de cidadania (MARSHALL, 1967).
Resumidamente, basta mencionarmos que Marshall propôs uma ordem cronológica para o surgimento
dos direitos modernos: começando pela aquisição de “direitos civis”, passando por “direitos políticos” e
chegando, por último, aos “direitos sociais”.

Claro que esta ordem cronológica não se materializou, nessa mesma ordem, do mesmo modo, em todos os
países, mas Marshall tem o mérito de não só delimitar essas três determinações “modernas” da cidadania
(quais sejam: civil, social e política), mas também situar os conceitos e as práticas da cidadania em seus
contextos.

Ainda, segundo Marshall, os “direitos civis” surgiram a partir do século XVIII, na Inglaterra -cujas bases
remontam à constituição da monarquia constitucional inglesa, produzida pela “Revolução Gloriosa” do
final do século XVII. Aliás, os ditos “direitos civis” elencados pelo sociólogo são exatamente mesmos os
direitos que Locke chamou de “direitos naturais inalienáveis” (os tais direitos à vida, à liberdade e à
propriedade).
Reiteramos que, nos dias atuais, está claro que não se tratam de direitos naturais, mas de demandas de
construção contextual, histórica. Aparecem como exigências de uma burguesia em ascensão. Tratou, por
conseguinte, de criar um novo tipo de “Estado”, fundado no consenso em um contrato firmado entre os
cidadãos e os governantes. Tal contrato, em tese, seria legitimado no fato de respeitar os direitos
“naturais” que todos os indivíduos detinham.

A confirmação e a garantia dos direitos civis implicaria em uma limitação do poder do próprio Estado, ou
seja, seriam direitos que os homens devem usufruir em sua vida privada, sem a intervenção injustificada
do governo. Nesse ponto, podemos argumentar que já existe uma significativa diferença em relação ao
conceito grego de cidadania (para quem ser cidadão não é algo que se refira à vida privada, mas, ao
contrário, à vida pública).

Aliás, cabe, neste momento, comentar que fora exatamente a natureza individual e privada dos tais
“direitos civis modernos” levou Karl Marx (XIX) a caracterizar os direitos civis como um todo aos meios de
consolidação da sociedade burguesa capitalista.

Com efeito, Locke define o direito de propriedade como o direito aos frutos do nosso trabalho; mas que
também é lícito e compreensível adquirir força de trabalho de outros que, traduzindo, torna-se “direito
burguês” que, na crítica de Marx, estaria restrito aos proprietários dos meios de produção.

Haveriam, portanto, cidadãos de segunda classe (mão de obra assalariada, trabalhadora, operária) e
cidadãos de primeira classe (proprietários burgueses).

Em se tratando de um recurso que visa a conduzir a uma discussão que envolva a promoção da cidadania
orientada à educação social ética e responsável, promotora dos direitos, em geral, e da justiça, é
importante dar alguma atenção às críticas de Marx sobre os direitos civis, pois ele os considera
insuficientes para realizar a cidadania plena, que chamou de “emancipação humana” plena (criadora de
indivíduos realmente capazes de se realizar em vida, para além das questões de posse e riqueza).

Nesse sentido, é importante enfatizar que, de forma aparentemente contraditória, o direito de


propriedade não é negado por Marx, mas é dado a ele outro estatuto: para que o direito a posse privada se
tornasse possível a todos universal, a propriedade não poderia ser um privilégio de poucos. Ao contrário,
precisaria ser socializada, tornada finalmente universal.

Em se tratando da vida ocidental, hegemonicamente ditada pela economia capitalista, a dominação


burguesa garantiu os direitos civis, ou pelo menos parte deles, mas também será - pelo menos, também
em parte - verdade que não ocorre o mesmo em relação aos direitos políticos (que vão além do direito ao
voto até o direito de livre organização e associação). Se observarmos historicamente, como temos
defendido, ao menos até fins do século XIX, foram negados à grande parte das populações ocidentais os
mesmíssimos direitos políticos mencionados logo acima - já que muitas constituições liberais de até então
restringiram o direito ao sufrágio, concedendo-o apenas aos proprietários, como ocorreu inclusive no
Brasil.

Pensadores, como Kant, não titubearam em justificar em sua filosofia a limitação do sufrágio, pois para ele
só deveriam votar os indivíduos que respeitassem a plena “independência” que enunciou, já que seriam os
únicos dotados de juízos livre e autônomos. Nesse ponto é importante evidenciarmos que, para o
pensamento kantiano (em alguma coisa liberal), essa independência possuiria base econômica.

Kant proibia em sua obra o direito ao voto tanto as mulheres – dependentes de homens segundo ele
mesmo - quanto os trabalhadores assalariados - que dependeriam de outros homens para poder realizar
seu trabalho. Assim, o direito ao voto e ser votado seria exclusivo de proprietários e produtores
autônomos ou artesãos (KANT, s/d).
Seguindo pela história ocidental, a primeira Constituição liberal produzida a partir da Revolução Francesa
(promulgada em 1791) chegou a fazer constar a diferença entre cidadãos “ativos” e “passivos”. Os
primeiros, com direito a votar e ser votado; os segundos, contariam apenas com direitos civis. Na
constituição revolucionária seguinte (1793), essa distinção desaparece, entretanto voltará a ocorrer nas
constituições francesas posteriores até pelo menos o ano de 1848, ou seja, até meados do século XIX.
Aliás, a mesma restrição ocorrerá até essa mesma época em várias constituições (como mencionamos
logo acima ao citar o caso brasileiro).

O direito ao voto estendido a todos, o tal “sufrágio universal”, se confirmará, no Ocidente, somente no
século XX. Em alguns casos muito tardiamente. Em nosso próprio país, será somente com a promulgação
da Constituição de 1988, que o sufrágio realmente universal se consolidará, permitido o voto de
analfabetos. Nesse ponto da discussão, nos cabe antecipar a importância da atuação de movimentos
sociais na promoção da ampla cidadania desde pelo menos o começo do século XIX. Em vários países
europeus, os trabalhadores se organizaram, fazendo eclodir conflitos, greves gerais e enfrentamentos em
geral. Daí muitos autores contemporâneos afirmarem que a ampliação de direitos e a promoção da
cidadania ampliada ser resultado direto da atuação de trabalhadores, frequentemente operários. O
próprio movimento operário cartista inglês (início do século XIX), por exemplo, reivindicava o sufrágio
universal (além das demandas especificamente ligadas à atividade laboral).

Em grande medida, portanto, foi pela luta de trabalhadores contra o liberalismo burguês, contra suas
teorias e práticas, que se transformaram em direitos plenos da cidadania moderna os tais “direitos
políticos”. Então, nos cabe evidenciar, também, que os governos liberais, frequentemente, proibiram os
sindicatos, sob a alegação de que violavam as “leis de mercado”, tão celebradas pelo grande teórico da
economia liberal, Adam Smith.

Fora também por conta da atuação dos movimentos operários, de trabalhadores em geral, que se criou
uma outra forma de organização democrática, muito presente nos dias de hoje: os partidos políticos de
“massa”. Ora, antes da atuação de tais movimentos, o modelo liberal de partidos era exclusivamente
parlamentar (que chamamos antes de “cidadãos de primeira classe”). Como exemplo de mais essa
mudança, basta evidenciar a criação do Partido Social-Democrata Alemão do final do século XIX. Tal
partido tornou- -se símbolo e estimulou a multiplicação de partidos operários, como ele se estruturou.

Muita gente acha que política é uma coisa e cidadania é outra, como garfo e faca, e não
é. Política e cidadania significam a mesma coisa.

(Mario Sergio Cortella)

Exposto todo esse cenário, falar em uma grande, aberta e total democracia burguesa parece um tanto
questionável. Podemos afirmar que o liberalismo, como teoria e regime político, é claramente burguês,
para bem e para mal. Exemplos: bem, se considerarmos o acesso do direito ao voto e, eventualmente, à
organização. Mal, se relevarmos os aspectos deliberadamente concentradores de riqueza e poder.
Sobre os “direitos sociais”, é forçoso mencionar que englobam aspectos civis e políticos em sua origem, e
só foram melhor delineados e, em alguma medida, implantados de forma em algo satisfatório no século
XX, pois direitos sociais são exatamente os que permitem ao cidadão o acesso (mesmo que restrito) à
riqueza econômica, material e cultural criada pela vida em sociedade. Claro que a acessibilidade a tais
benesses não é (ou está) totalmente generalizada, mas ela é minimamente mais viável se comparada à
condição das classes subalternas de até o século XIX.

A ênfase que damos à essa limitação (até severa), mesmo que até severa, infelizmente parece persistente
até no começo desse novo milênio. Somos obrigados a admitir a hegemonia do projeto neoliberal no
Ocidente dos dias atuais (muito embora sistemas alternativos subsistam no próprio capitalismo, como a
Social Democracia). Enfaticamente, defensores mais animados do Neoliberalismo de Estado Mínimo
alegam que os aqui chamado “direitos sociais” estimulariam a vadiagem e a preguiça; violam leis de
mercado, criam o clientelismo e geram o paternalismo de Estado.

De toda maneira, entretanto, subsistem iniciativas de direitos sociais, mesmo que em crise no caso de
diversos países, como o próprio Brasil. É o caso, por exemplo, do direito à educação pública, gratuita,
universal e laica, promovida a partir do início da Idade Contemporânea, a Revolução Francesa. Cerca de
um século depois da Revolução, outros direitos sociais foram sendo estruturados – com maior ou menor
eficiência: direito à saúde, à previdência pública, à assistência social.

Outros direitos sociais, entretanto, permanecem restritos, como, por exemplo, o direito social à
propriedade. Para produzir um exemplo geral e prático, tal seria o caso da proposição e da implantação do
Estado do Bem-Estar Social (Keynesianismo). Implantado inicialmente nos EUA na década de 30, a partir
do New Deal, e disseminado na Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Keynesianismo, com
sucessos maiores e menores, dependendo do contexto de implantação, conseguiu fazer avançar a
assistência e a previdência social, a assistência de saúde, por exemplo. O direito à propriedade,
entretanto, parece deixado à margem, com algumas poucas exceções.

Aliás, tal como ocorre em direitos civis e políticos, os direitos sociais podem até conseguir
reconhecimento legal mas, para torná-los efetivos, não será tão simples assim. Ora, a redação desses
direitos nas Constituições, seu reconhecimento legal, não garante automaticamente a sua efetiva
materialização. No caso brasileiro isso fica bastante óbvio, até com a atual Constituição.

Atenção para a divisão dos direitos entre direitos políticos, sociais e civis. Muito
embora estejam conectados, são diferentes. Surgem e são demandados em tempos
diversos por razões variadas. Encontre detalhes na obra de Marshall, “Cidadania, classe
social e status” de 1967.

Fonte: o autor.

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ATIVIDADES
1. Leia o texto a seguir:

“Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios
interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos
na crença de que não é o debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo
debate antes de chegar a hora da ação” (TUCÍDIDES, 1987).

Segundo Tucídides, célebre historiador da Antiguidade Clássica, a cidadania a qual se refere era
determinada:

a) Por questões de riqueza.

b) Por questões de disponibilidade de tempo para participar das assembleias.

c) Por questões de direitos de participação política.

d) Por critérios de inteligência.

e) Por critérios estéticos.

2. Ao longo da história, a cidadania foi concedida a, restritos, pequenos, grupos, desde homens de Atenas
até ingleses ricos do século XIII, mas, posteriormente, o título será continuamente ampliado. Até abarcar a
quase totalidade do indivíduos no ocidente. Considerando esta observação e de acordo com seus
conhecimentos sobre o assunto, podemos afirmar:

a) A cidadania moderna está vinculada à atuação dos Estados nacionais.


b) A cidadania é um conceito típico da Idade Moderna, já que não existia antes da ascensão da burguesia.

c)Em especial, a partir dos últimos 200 anos, podemos afirmar que a incorporação de novos grupos ao
estatuto da cidadania foi realizada, não apenas por concessões, mas também por conflitos sociais que
reivindicaram o acesso a novos direitos.

d) Em todos os períodos históricos, os direitos de cidadania foram produzidos como privilégio exclusivo de
elites econômicas.

e) A cidadania se concentra, atualmente, no direito ao voto.

3. Sobre a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” promulgada pela ONU e utilizando seus
conhecimentos sobre o tema “cidadania: direitos sociais, civis e políticos” que abordamos na obra de
Marshall, assinale a alternativa correta:

a) A Declaração Universal dos Direitos Humanos visa promover a justiça, a solidariedade, a igualdade e a
tolerância entre os povos.

b) A existência da democracia é a garantia definitiva de que os direitos humanos sejam assegurados a


todas as pessoas.

c) Há uma relação direta entre direitos sociais e o direito ao voto.

d) Os direitos à cidadania se referem ao bem-estar econômico da população.

e) No Brasil, os direitos sociais são mais reconhecidos e efetivos que os direitos civis.

Resolução das atividades

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RESUMO
A ética como área da filosofia não propõe debates apenas teóricos. É uma área da filosofia que lida com
situações práticas que dizem respeito a, não somente, pessoa que os propõe, mas também aos outros
atingidos pelas consequências das ações de outros. No início deste novo milênio, já está claro a
heterogeneidade da condição humana. A racionalidade não é uma e única. De toda maneira, a convivência
precisa ser viável e estar assentada em sua melhor forma. Nesse sentido, compreender as diferenças
significa aceitá-las e incluí-las, exatamente de modo que as relações sociais sejam justas e responsáveis.

A definição e o direito à cidadania se ampliou bastante nos últimos dois milênios. Inicialmente
resguardada a grupos privilegiados, atualmente é vista como ferramenta fundamental de acesso a direitos
legítimos e necessários. Enfatizamos que a ampliação dos embates para a conquista plena de direitos se
intensificou, em especial, a partir da transição da Idade Moderna para o mundo contemporâneo.

Fizemos questão de evidenciar que os direitos possuem naturezas diversas, entre direitos civis, políticos e
sociais; de trazer à consciência que o reconhecimento de direitos não basta para efetivá-los. O desafio
está exatamente na necessidade de repensar a própria cidadania.

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Material Complementar

Na Web
Cidadania e modernidade. COUTINHO, C. N. Notas sobre
cidadania e modernidade. Revista Ágora: Políticas Públicas
e Serviço Social, Ano 2, n. 3, dez. 2005.

Acesse

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REFERÊNCIAS
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ZAJDZNAJDER, L. Ser ético. Rio de Janeiro: Grypus, 1994.

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APROFUNDANDO
Vamos começar falando sobre o termo “ globalização ”, po É interessante notar que, na distinção entre
ética e moral, é comum ser argumentado que o moral é contextual, ou seja, os valores morais dependem
do lugar e do tempo em que estão localizados para se estabelecer. A ética, por sua vez, não teria esse
condicionante. Trata-se de uma área da filosofia que, em tese, não muda de posições de acordo com o local
e a época que se pretende analisar. demos considera-la como o fenômeno que acabou com as fronteiras
entre países.

As posturas éticas e antiéticas, portanto, não mudariam de lugar para lugar ou de época para época. Em
parte, tal acepção é verdadeira, mas vale a pena ressaltar que uma situação em específico dificulta a
criação dessa “regra”, pois se trata da Idade Média.

Ao longo do período medieval, a Igreja Cristã Católica tratava “valores morais” e “comportamentos éticos”
quase como sinônimos. Essa atitude é compreensível, já que as autoridades católicas do período
precisariam justificar os valores de interesse da própria igreja com os valores que deveriam ser encarados
como corretos.

Tratava-se de uma estratégia deliberada, porque, como Instituição que se fez hegemônica no ocidente,
por quase mil anos, era necessário estender o domínio das “coisas de Deus” para as “coisas dos homens”.
Enfaticamente, para os padres e filósofos medievais, haveria uma única maneira correta de agir: agindo de
acordo com o que a própria igreja medieval entendesse como justa, honesta, correta e verdadeira.

Na modernidade, entretanto, a redução da ética ao respeito de determinado grupo de valores morais


deixa de existir. O Renascimento e o Iluminismo, nesse caso, são muito claros na defesa da independência
da ética em relação aos valores morais.

REFERÊNCIAS

KREMER-MARIETTI, A. A ética. Trad. Constança Marcondes César. Campinas: Papirus, 1989.

LYONS, D. As regras morais e a ética. Trad. Luís Alberto Peluso. Campinas: Papirus, 1990.

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação


.

a Distância; ZERMIANI Raul Tavela.


,

Cidadania e Ética. Raul Tavela Zermiani.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.


26 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Cidadania. 2. Ética. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 170

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

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CIDADANIA E
CONSTRUÇÃO DE
DIREITOS
Professor (a) :

Dr. Raul Tavela Zermiani

Objetivos de aprendizagem
• Entender as relações entre ética, cidadania, direitos humanos, da justiça e da responsabilidade social.

• Tornar conscientes os desafios da cidadania frente ao fenômeno da priorização do consumo.

• Entender como se articula a relação entre cidadania e consumo nos dias atuais
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Reconhecimento e Efetividade de Direitos

• Relações Entre Cidadania, Ética, Direitos Humanos e Justiça

• Consumo e Cidadania no Século XXI

Introdução
Neste estudo temos que evidenciar como ética e cidadania se articulam na promoção dos direitos
humanos, da justiça e da responsabilidade social. Como pretendemos compreender a atual conjuntura,
objetivando criar cidadãos e profissionais ativos e atuantes na intervenção e melhoria da realidade social,
tal articulação será dada de maneira a enfatizar os aspectos práticos de tais inter-relações, suas
aplicações e objetivos.

Na sequência, propomos um debate sobre as relações entre cidadania e consumo, temáticas


aparentemente diferentes. No início do século XXI parece claro que a qualidade de vida e a cidadania
estão, bem ou mal, muito ligadas à capacidade dos indivíduos de consumir, de obter conforto material e
comodidade na vida cotidiana. Além de apontar eventuais contradições, proporemos o estabelecimento
de uma correlação entre consumo e cidadania da maneira mais harmoniosa possível, levando em
consideração a realidade socialmente comprovada (e até em oposição a idealismos estéreis).

Acreditamos que um dos grandes dilemas sociais é produzido, exatamente, por uma confusão entre
cidadania, aquisição de direitos e satisfação de vontades consumidoras. Esperamos que tal problema seja
devidamente evidenciado até o final desta discussão.
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Reconhecimento e efetividade
de direitos
O reconhecimento legal de direitos é um primeiro passo em direção à cidadania, porque abre caminho
para torná-los efetivamente um dever do Estado. Não seria de se estranhar, portanto, que em projetos
neoliberais sempre ocorram movimentos para suprimi-los, inclusive retirando-os dos códigos e
constituições. Quando não é assim, outras vezes, direitos tidos como sociais são quase impostos à
população, sem que haja conexão com os anseios das classes subalternas e/ou trabalhadoras. Mais uma
vez, o caso brasileiro atual é evidente.

Assim como no caso do direito ao sufrágio universal, também no caso das políticas sociais, nada garante
sua plenitude. Em boa medida, tais políticas sequer possuem capacidade emancipatória. No terreno da
efetividade dos direitos, talvez seja o caso de mencionar a inevitabilidade da pressão, do embate pela
realização concreta da cidadania.

De fato, há uma série de desafios e contradições que se apresentam no processo de efetivação dos
direitos: Grupos de interesse hora são forçados a recuar e fazer concessões, mas sem deixar de tentar agir
em seu favor. De qualquer forma, a longo prazo, podemos argumentar em favor da ampliação, mesmo que
lenta, do acesso à cidadania plena. Conquistas do outrora Estado de Bem-Estar Social subsistem, assim
como problemas produzidos por ele (tais como o acesso à propriedade, a dívida pública etc.
Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.

(Albert Camus)

Obviamente, não existe sistema político-econômico perfeito, mesmo entre países capitalistas e
socialistas. Sobre as nações capitalistas, é forçoso mencionar que a estrutura social de classes cria,
simultaneamente, possibilidades, mas também privilégios. Investimentos sociais criam, quase sempre,
déficits. Nos países socialistas, as tentativas de igualação frequentemente são mal sucedidas. A extinção
de um modelo de classes parece inviável (mesmo que substituindo o critério de poder econômico por
outro, como poder político). Investimentos sociais, se verdadeiros e volumosos, também geram déficits.

As liberdades individuais podem ser profundamente cerceadas. Não há modelo ideal, entretanto, há
providências a serem tomadas para a expansão e realização plena de direitos (nas três esferas descritas
por Marshall).

O fato é que, em maior ou menor grau, entre capitalismo e socialismo, a partir do final do século XIX
ocorreu, efetivamente, relativa ampliação do espaço para atuação cidadã e política. Um número cada vez
maior de indivíduos passou a fazer parte da política, seja pela ampliação do direito ao voto em alguns
casos, seja por meio do ingresso em organizações (como sindicatos, partidos, e movimentos sociais) que se
iam constituindo.

É precisamente nesse contexto que poderemos falar em “sociedade civil” com mais clareza. O que surge a
partir final do século XIX, sempre com intensidades diferentes, e se reforça no século XX é a concepção de
“esfera pública”, tão cara à obra de Habermas, mas já muito presente na obra do neomarxista italiano
anterior Antonio Gramsci. Para o jovem filósofo seguidor de Marx, existe um espaço público situado entre
a economia e o governo. Uma esfera que, sem tomar parte formal nos governos, exerce influências diretas
sobre o Estado.

Gramsci faz questão de evidenciar que, na medida em que essa “sociedade civil” materializa e representa
os interesses variados em que se divide a sociedade como um todo, o Estado capitalista mais amplo não
pode mais, simplesmente, manter-se estável e se reproduzir indefinidamente pelo recurso exclusivo à
força. Agora, diz o filósofo, será necessário obter consentimento dos “cidadãos”; consentimento este que
se opera, fundamentalmente, no seio da “sociedade civil”.

Nesse sentido, o Estado deverá fazer concessões e negociar posições, sendo obrigado a permitir a
representação e a satisfação de interesses sociais, outrora profundamente negligenciados. Não que a
“sociedade civil” encampará todas as esferas do Estado, nem conseguirá lhe impor todos os seus anseios,
mas um “campo de batalha” e negociação não será mais só previsto. Obrigatoriamente teria que ser
viabilizado.

Assim, Habermas diria que será possível, em função da correlação de forças, impor limites à
implementação de interesses de grupos restritos (especialmente uma elite econômica capitalista) e, no
limite, impor algumas demandas que contrariam interesses profundamente sectários e, simultaneamente,
atendam a demandas das classes menos favorecidas.
Dito isso, será preciso conceber a participação cidadã contemporânea pelo viés obrigatório da ampliação
e da universalização da cidadania, marcada pelo compromisso (mais ou menos intenso, entretanto real) de
promover a plena emancipação do homem. Claro que todas as promessas de emancipação criadas no
contexto atual ainda não foram realizadas. As questões de cidadania, emancipação e direitos estão longe
de ser esgotadas, mas isso não nos autoriza a abandonar esses problemas e simplesmente desistir. Esses
seriam os maiores retrocessos que poderiam ser cometidos.

Incorporando as características das sociedades contemporâneas, tais como o papel central adquirido
pelos meios de comunicação, a importância dada às tecnologias, às subjetividades, o surgimento de novos
atores sociais, de novos direitos em demanda, a ampliação do espaço de embate político, o projeto de
emancipação cidadã deve reconhecer o caráter intrínseco da transformação cultural no que diz respeito à
construção da democracia plena. Assim, a “nova cidadania” inclui itens e mecanismos uteis e necessários
rumo à plena democratização.

Esse projeto emancipador significa, também, uma mudança (ou ampliação?) ética, moral e intelectual: um
processo de aprendizagem social, de construção de novos tipos de relações sociais, que remete à
produção de cidadãos como sujeitos socialmente ativos e responsáveis. Significa também, por meio da
educação social, aprender a viver de maneiras diferentes em relação a cidadãos emergentes que podem,
inclusive, se recusar a permanecer nas condições sociais, culturais, econômicas e políticas que se
encontram.

Enfatizamos que as críticas aos modelos político-econômicos capitalistas têm sido uma
constante em alguns momentos nas discussões sobre direitos. Neste estudo
trataremos de evidenciar alguns argumentos de nomes expoentes associados ao
socialismo. Cabe evidenciar, entretanto, que não se trata de apologia ou crítica
irrestrita de um sistema ou outro. Chamamos a atenção para o fato de que o mundo
globalizado é essencialmente capitalista (em termos de relações econômicas). Como
tal, as críticas precisam florescer. Tais questionamentos, então, frequentemente,
aparecem pelas obras de intelectuais acentuadamente críticos em relação a regimes
capitalistas. Queremos destacar que, tais críticas, são úteis. Por isso, ela e seus
respectivos criadores possuem espaço destacado em algumas passagens. Que fique
claro: não existem sistemas político-econômicos ideais; o que podemos fazer é apontar
para problemas em todos, eventualmente indicando caminhos de resolução.

Fonte: o autor
Relações entre cidadania, ética,
direitos humanos e justiça

É preciso entender que os problemas de Direitos Humanos não são apenas sociais, políticos e jurídicos.
Antes de mais nada, é necessário enfatizar que existe ligação íntima entre direitos e a ética (como vimos
nas duas unidades anteriores). Ora, se podemos dizer que compete aos poderes judiciários o impedimento
à violação de Direitos Humanos; se do ponto de vista político-social podemos dizer que é necessário
considerar quais políticas públicas e de Estado são as “melhores” para garantir o acesso tais, também será
verdadeiro (e fundamental) dizer que existe, antes mesmo, um compromisso ético em relação aos Direitos
Humanos.
Enfaticamente, a conquista de direitos precisa ser entendida como importante ferramenta de
transformação social, cujo objetivo principal precisa ser a construção de sociedades efetivamente justas,
solidárias e responsáveis. E no fundamento dos direitos humanos, deve estar clara uma determinada
postura ética, aninhada a uma concepção clara de homem.

Abordando eticamente, então, possuir Direitos Humanos significa defender valores como o direito à vida,
à paz, à dignidade, à justiça legal, à justiça social, à liberdade e, enfaticamente, à democracia. Mais do que
isso, é preciso alimentar uma “cultura” de Direitos Humanos que valorize obrigatoriamente a tolerância, o
diálogo, o entendimento, a aceitação, a cidadania e a diversidade.

Nossos problemas não são apenas coletivos mas, antes mesmo, individuais. Como diria Morin (2002), é
necessário entender a condição humana, suas restrições e capacidades, em uma análise profundamente
consciente e, por isso mesmo, essencialmente ética. Uma “política” para os Direitos Humanos precisa
estar assentada na ética e na participação cidadã que, na esfera econômica, garanta às pessoas uma
razoável condição econômica, com condições de manutenção de saúde e segurança. Na esfera política,
que viabilize a cidadania participante; na esfera cultural, que promova a consciência sobre as relações de
poder.

Só há Justiça onde houver justiça social. O direito pleno não seria mais que a expressão de princípios
éticos, como guia de organização da vida social livre e fraterna. Hegel, expoente filósofo alemão do século
XIX, nos legitima na observação de que há importante ligação da ética com os instrumentos da justiça,
quando afirma que as ações éticas se materializam em seu contexto histórico, social e político; contexto o
qual a liberdade se dá na existência concreta organizada por meio das instituições sociais, como o próprio
poder judiciário.

Para Hegel, a moralidade é institucionalizada junto à família, à sociedade civil e ao próprio Estado,
devendo o indivíduo saber da existência e da necessidade de atuação consciente junto a estas instituições.
O “paraíso” ético hegeliano, por sua vez, seria dado quando fosse possível a ocorrência da vida totalmente
livre dentro de um Estado livre; que simultaneamente preservasse os direitos dos indivíduos e cobrasse
deles seus deveres, de maneira que a consciência moral das pessoas e as leis do direito (Estado) não
fossem nem superadas umas em relação as outras, nem postas em contradição.

Dito de outra maneira, para o filósofo alemão, a existência do Estado e da sociedade civil depende,
obrigatoriamente, da existência prévia de indivíduos dotados de liberdade de ação, conscientes da
responsabilidade que essa liberdade os determina e condiciona.

Por tudo isso podemos argumentar que os direitos humanos não podem ser confundidos com os “textos”
que os contêm. Não são sinônimos. Também não podem ser tidos como sinônimos das ideias filosóficas
que se propõem a fundamentá-los, tampouco podem ser compreendidos como os valores a que eles se
referem ou mesmo com as instituições com que tentam representá-los.

Os direitos humanos são, outrossim, produto diretos dos conflitos sociais concretos, frutos da experiência
turbulenta da contínua humanização, intimamente ligada ao processo de produção histórica da própria
cidadania.
Parte importante do longo processo de obtenção e confirmação de direitos, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia
Geral das Nações em 1948, não é objeto particular de análise deste Curso, mas trata-se
de marco fundamental para entender como e de que maneira a luta por direitos se
tornou uma prioridade nas agendas de diversos povos, em diversos contextos, em
especial ao longo dos útlimos 70 anos. Sugerimos a leitura da Declaração integral, aqui
indicada pela menção com breve comentário no sítio da UNICEF/ONU.

Para saber mais, acesse o link disponível em:


< https://www.unicef.org/brazil/t/resources_10133.htm >.

Fonte: o autor.

Consumo e cidadania no século


XXI

Como vimos anteriormente, o conceito de cidadania passou, e ainda passa, por uma série de
reelaborações, reduções e ampliações. Um ponto da questão foi propositalmente suprimida naquele
momento, mas agora é hora de revelá-lo: a noção de cidadania também está diretamente relacionada a
problemas práticos da vida cotidiana ligados à pobreza, à miséria e à carestia. Ora, como deve ser óbvio,
muitas reivindicações – inclusive em termos de direitos – possuem ligação com os problemas mais básicos
de manutenção da vida, desde o surgimento da vida em sociedade. O problema, então, não é nada novo.

Ocorre que a pobreza, em suas variadas formas, sempre ditou demandas cidadãs e, ao menos até o século
passado, faziam parte da rotina pela demanda de igualdade de direitos. Com o advento da “Era da
Informação”, convenientemente identificada com os últimos 20 anos do século XX (exatamente porque
será nesse momento que as tecnologias de informação e comunicação ganham o estatuto de prioridade
em termos de investimento e popularização, com a invenção do computador pessoal e dos sistemas
informáticos interligados, como a internet e telefonia móvel), a pobreza e a miséria perdem bastante
espaço na agenda dos debates sobre cidadania.

Pelo menos em parte, devido à eminência de projetos neoliberais, globalizados junto com as tecnologias
de comunicação, as questões de carestia em relação a necessidades básicas perdem lugar para outras
necessidades, reais ou imaginadas. De um lado, afirmando-se a redução importante dos problemas de
miséria em parte “importante” do mundo, de outro lado declarando-se que as questões de pobreza são
fundamentalmente ligadas a problemas de iniciativa individual, ao esforço, ao mérito, grande parte das
sociedades do século XXI fez (ou permitiu) levantar-se um “afunilamento” do problema, as vezes tratado
como principal drama humano: a possibilidade do consumo para além das necessidades de manutenção da
vida.

Não é de toda falsa a alegação de que a pobreza extrema reduziu-se bastante em escala global, pelo
menos nos últimos 250 anos. Mas essa observação infelizmente deixa o problema quase que
completamente a um segundo plano. Os grandes dilemas, agora, serão outros. A maioria deles, ligada
àquilo que chamaremos provisoriamente de “consumismo ampliado” (e que detalharemos nos próximos
parágrafos).

O processo de intensificação de trocas ditado pela globalização, que nos parece um fenômeno irreversível
(CANCLINI, 2001), reorganiza tanto a lógica de produção, a dinâmica de consumo, quanto a maneira de
pensar e agir no mundo contemporâneo. Não obstante, atinge também o universo da cidadania, por um
lado multifaceta (daí falarmos hoje numa cidadania cultural, cidadania de gênero, de raça etc.) no contexto
global, mas por outro lado, bastante atomizada, já que alguns projetos políticos (como no caso do
neoliberalismo) ainda tentam reforçar apenas a dimensão política da cidadania, frequentemente impondo
um estreitamento à compreensão da política, tratada como sinônimo de “direito ao voto”.

Em nosso caso, nos interessa em especial revelar um dos aspectos mais importantes da cidadania no
mundo globalizado, que diz respeito às mudanças socioculturais geradas por esse cenário, ao
deslocamento da cidadania como representação civil, para uma cidadania cujo objetivo central estará
centralizada no desfrute de alguma qualidade de vida; qualidade essa muito ligada a possibilidade de
consumir.

Como observa Canclini, a posição ideológica de uma globalização neoliberal defende que será normal
aceitar que “os direitos são desiguais [e] as novidades modernas aparecem para maioria apenas como
objeto de consumo” (CANCLINI, 2001, p. 54), o que leva o autor a afirmar que, como consumidores,
realmente estamos no século XXI, mas como cidadãos, parece que estamos presos aos dilemas do
Iluminismo do século XVIII.

Mais ainda, uma cidadania globalizada, levará à redefinição internacional do público, o que produz
discussões curiosas, como aquelas que defendem que, hoje, poderemos falar em uma “sociedade civil
mundializada” que produziria uma “cidadania global”. O primeiro problema dessas definições reside no
fato de que elas omitem problemas e questões locais, regionais e nacionais. O segundo carrega um
sentido intrínseco de conexão entre cidadania e possibilidade de consumir. Nesse sentido, será mais
“cidadão” aquele que tiver maior acesso a bens de consumo, então, quem não o tiver, deve se sentir (e ser
tratado) como um destituído, pobre no sentido pleno do termo.

De forma mais ou menos proposital, portanto, a cidadania passa a ter muito pouca relação com questões
políticas, éticas e sociais: “as sociedades civis aparecem cada vez menos como comunidades nacionais [e]
manifestam-se principalmente como comunidades [...] de consumidores” (CANCLINI, 2001, p. 285) com
identidades tornadas comuns pelo próprio consumo. Abusando na metáfora, é como se prevíssemos a
criação de uma espécie de regime político-econômico “absolutista de mercado”. A afirmação logo anterior
é grave, e ensejará questões que repercutirão em nossos estudos.

Por outro lado, em que se pesem as críticas a uma cidadania ligada ao consumo, ainda é necessário relevar
que a associação dos indivíduos por padrões de consumo também pode gerar a coesão social necessária
para que novas reivindicações efetivamente cidadãs, possam prosperar.

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ATIVIDADES
1. Leia o excerto a seguir: “E justiça é aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por
escolha própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um outro, seja entre dois outros, não
de maneira a dar mais do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e inversamente no relativo ao
que não convém), mas de maneira a dar o que é igual de acordo com a proporção; e da mesma forma
quando se trata de distribuir entre duas outras pessoas” (ARISTÓTELES, 1987, p. 89). De acordo com o
texto, é correto afirmar que:

a)É necessário que haja uma posição intermediária para que se produza justiça, exatamente no meio
termo entre o egoísmo e o total altruísmo.

b) A justiça não pode ser considerada um meio-termo, já que deve ser imposta a todos os homens.

c) A justiça deve ser aplicada de acordo com as capacidades individuais.

d) É necessário que haja uma imposição institucional da justiça, por meio da força repressiva do Estado.

e) A justiça é totalmente relativa, no sentido de ser ambígua em relação a quem a exerce.

2.De acordo com as discussões de Marshall (1967) sobre direitos e cidadania, podemos afirmar que é
cidadão pleno nos dias atuais aquele que:

a) Habita em um país e que possa exercer em voto nas eleições.

b) Mora no território de qualquer país cuja nação seja reconhecida.

c) Mora em um país por um longo período de tempo e consegue exercer o direito ao voto.
d) Consegue que todos os seus direitos – políticos, civis e sociais – sejam ao mesmo tempo reconhecidos e
respeitados.

e) Consegue conquistar qualidade de vida e garantir a segurança de seu patrimônio dentro de um país.

3. Leia o texto a seguir, sobre a globalização no contexto da “Era da Informação”: “A globalização é, de


certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. [...] No fim do século XX e
graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação,
que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema
técnico uma presença planetária. Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de
técnicas. Ela é também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global,
responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes” (SANTOS, 2000, p. 23-24). De
acordo com o texto e com seus conhecimentos sobre os impactos da globalização na sociedade
contemporânea, assinale a alternativa correta:

a) A globalização é um processo exclusivamente tecnológico ligado ao surgimento da internet.

b)A globalização é um fenômeno exclusivamente econômico, com impactos no aumento da riqueza e do


consumo em escala global.

c)A globalização se tornará ideal a partir do momento que for um processo totalmente livre de
regulações.

d)O consumismo foi transformado em dimensão importante da vida cotidiana, muito promovido pelo
avanço das tecnologias de informação e comunicação.

e) A intervenção no mercado e a criação de barreiras alfandegárias criaram o mundo globalizado.

Resolução das atividades

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RESUMO
É preciso entender como a cidadania efetiva está ligada à promoção dos direitos humanos, da justiça e da
responsabilidade social. Os direitos humanos não são fornecidos espontaneamente pelos Estados
Nacionais ou por autoridades governamentais e, antes de mais nada, passam por uma interpretação ética
do que e como devemos defender como direitos fundamentais para garantir uma qualidade de vida
mínima aos cidadãos.

A justiça, baseada na relação ética entre os indivíduos e as instituições sociais, deve ser entendida como
alicerce garantidor do respeito de todos os direitos, em que a cidadania é viabilizada e conduz ao
desenvolvimento socialmente responsável.

Nos dias atuais, também, é preciso considerar a conexão importante que tem sido estabelecida entre
cidadania e consumo, já que a possibilidade de realizar o consumo acaba se tornando sinônimo de
qualidade de vida e, em certo sentido, de ter direitos e garantias individuais respeitados

Com isso, acabamos por compreender que um grandes dilemas sociais são criados por uma confusão
entre cidadania, aquisição de direitos e satisfação de desejos pessoais em torno da capacidade de
consumir.

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Material Complementar

Leitura
Consumidores e Cidadãos

Autor: Nestor Garcia Canclini

Editora: URFJ

Sinopse este livro analisa as mudanças culturais nas


:

formas de fazer política - as campanhas eleitorais migram


dos comícios para a televisão, das polêmicas ideológicas
para o confronto de imagens e para as pesquisas de
“marketing”. O autor explica estas mudanças a partir das
transformações da vida cotidiana nas grandes cidades e da
reestruturação da esfera pública gerada pelas indústrias da
comunicação. Também analisa o modo neoliberal de
globalização e discute sua maneira de tratar as diferenças
multiculturais agravando a desigualdade.

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REFERÊNCIAS
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ZAJDZNAJDER, L. Ser ético Rio de Janeiro: Grypus, 1994.


.

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APROFUNDANDO
Perceba que no atual cenário do mundo globalizado, em que projetos políticos-econômicos guiados pela
abertura de mercados e aumento da produção e do consumo se tornam hegemônicos, a obtenção da
cidadania e o assegurar dos direitos civis, políticos e sociais deixam de ser prioridade para grande parte
das instituições sociais, em especial àquelas vinculadas aos Estados nacionais. Claramente interesses
econômicos e políticopartidários (de maneiras mais ou menos conscientes) tentam se sobrepor aos
interesses sociais e populares.

Nesse caso, chamamos a atenção para a responsabilidade que os movimentos sociais (e civis) organizados
possuem, querendo ou não, para assegurá-los. Sem muitas alternativas, bem ou mal, está nas mãos da
própria sociedade civil demandar e conquistar melhores condições de vida, não só em termos
econômicos, mas em todos os aspectos da vida humana. Historicamente, as demandas de cidadania não
são promovidas por altruísmo das instituições político-governamentais, mas cumpridas por elas dada à
pressão contínua e sistemática da própria sociedade.

Por outro lado não é exagero afirmar que, nos dias atuais, a cidadania também precisa ser repensada;
adequada às crescentes demandas consumidoras, mas sem desconsiderar a supressão de direitos mais
básicos, como o direito à vida, à liberdade, à saúde e à educação. Ora, a atuação da forma com que os
movimentos sociais tradicionais se organizaram entre os séculos XVIII e XX já não contemplam mais a
dinâmica da realidade deste novo milênio.

Consequentemente, o papel dos educadores na promoção da ampla cidadania nas sociedades


globalizadas se torna fundamental. Não como tem sido nos últimos séculos, em que a educação esteve
centralmente compromissada com uma formação conteudista (muito ligada à alfabetização e à atribuição
de conhecimentos e técnicas a serem utilizados no mundo do trabalho), mas dirigida à promoção social,
eticamente responsável e engajada na promoção da cidadania efetiva (abrangendo direitos humanos,
civis, sociais e políticos).
E não pode tratar-se de uma retórica vazia. Discursos prontos, cheios de uma argumentação rasa que
defenda genericamente a educação como caminho de salvação não fazem prosperar medidas concretas e
pontuais de melhoria da condição de vida, objetivamente falando. Não se trata de encarar a educação e os
educadores como paladinos e profetas, mas como instância promovida por profissionais absolutamente
conscientes e comprometidos com os problemas da realidade imediata de cada contexto.

Em sentido prático, aos educadores sociais cabe a promoção da consciência, do pensamento crítico,
abastecido de providências concretas, exequíveis e pontuais de democratização do conhecimento, da
capacidade de intervenção social e de autonomia individual.

Das atividades lúdicas mais informais, passando pelas relações na vida cotidiana e chegando aos
conteúdos mais formais do processo de formação escolar, o educador social precisa estar comprometido
com o desenvolvimento de capacidades criadoras, criativas e críticas. Que este esteja engajado com a
alteridade, o respeito e a inclusão do outro para, no limite, auxiliar no crescimento de pessoas tolerantes e
conscientes, cidadãos plenos, democráticos e democratizadores.

Daí para a formação de sociedades civis organizadas e movimentos sociais engajados teremos apenas
mais um passo. A democracia poderá estar plena quando todo este processo estiver engendrado e for
constantemente alimentado.

REFERÊNCIAS

SANTOS, B. de S. (org.). Democratizar a democracia – os caminhos da democracia participativa. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação


.

a Distância; ZERMIANI Raul Tavela.


,

Cidadania e Ética. Raul Tavela Zermiani.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.


25 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Cidadania. 2. Ética. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 170

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

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Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

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SOCIEDADE CIVIL,
ESTADO E
CIDADANIA
Professor (a) :

Dr. Raul Tavela Zermiani

Objetivos de aprendizagem
• Compreender as condições gerais de organização e atuação da sociedade civil nos dias atuais.

• Ser capaz de detectar desafios e prioridades da educação social frente à cidadania e a promoção da
qualidade de vida.

• Perceber e criar estratégias para abordar os principais problemas sociais contemporâneos.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Expressões da sociedade civil no século XXI: desafios e perspectivas

• Ética, Cidadania e Educação Social

• Desafios Éticos na Educação Social Contemporâneo

Introdução
Enquanto que a atuação da sociedade civil até o início do século XX esteve muito ligada à conquista de
direitos básicos (como a vida, a propriedade e a liberdade), nos dias de hoje os desafios se multiplicaram.
Claro que direitos fundamentais e mínimos continuam em pauta (até porque em boa parte do mundo
ainda são problemas reais), mas agora outras demandas são apontadas: acesso a bens de consumo, à
tecnologia, ao bem-estar etc.

E como tais questões são relativamente novas do ponto de vista histórico, alguns desafios da sociedade
civil hoje precisam ser diagnosticados para poderem ser diluídos. Em nosso caso específico,
direcionaremos esses problemas para a área de Educação, enfatizando os dilemas a serem enfrentados
pela educação ética e socialmente engajada, responsável por definição a responder à lacunas ainda
existentes nas sociedades contemporâneas.

Será o caso de direcionar tais demandas à Educação Social, que no final dessa discussão encontrará um
capítulo que, à título de conclusão, ao invés de apresentar resultados teóricos para observações
igualmente teóricas, apontará para alguns caminhos práticos de resolução de problemas; problemas reais,
mas ainda à margem no cenário da educação formal.
Claro que tais situações não permanecerão negligenciadas para sempre, nem mesmo pela escola. O fato é
que o desafio precisa, em algum momento, ser lançado.

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Expressões da sociedade civil no


século XXI: desafios e
perspectivas
As ideias de “sociedade civil” e “cidadania” nos dias atuais mantêm entre si relação obrigatória e estão
aqui relacionadas, porque entendemos que esses são os elementos centrais que constroem o principal
mecanismo de disputa político-social que se trava nas democracias contemporâneas.

Tal destaque que atribuímos a esses conceitos acontece, porque eles possuem papel fundamental na
origem e na consolidação do projeto participativo e, simultaneamente porque são eles que constituem,
fundamentalmente, os canais de mediação entre a ética e a política.

As disputas em torno de direitos, entretanto, exigem redefinir a noção de sociedade civil e a que ela se
refere, em especial no contexto da globalização atual que, como vimos anteriormente, permite a
hegemonia do projeto neoliberal (exatamente porque é o sistema político-econômico que, bem ou mal,
mais rapidamente se adapta, aproveita e alimenta a própria globalização).

Tal hegemonia pode ser observada no atual contexto de aparecimento e rápido crescimento das
Organizações Não-Governamentais (ONGs), a constituição do dito “Terceiro Setor”, de projetos
filantrópicos previamente orientados e, simultaneamente, da marginalização dos movimentos sociais,
outrora tão importantes na definição inicial da própria noção de “sociedade civil”.
Como produto de tal cenário, somos obrigados a salientar os atuais processos de identificação entre
“sociedade civil” e as “ONGs”; processos estes que levam o termo “sociedade civil” a se restringir, cada vez
mais, e a designar apenas tais organizações, tornando os dois conceitos sinônimos ou, mais ainda, ambas
definições serem engolidas pela designação “Terceiro Setor”.

Tal fenômeno nos obriga a cogitar uma hipótese hoje famosa sobre as consequências desse fenômeno: a
pseudotransformação dos movimentos sociais em ONGs (em termos da maneira de organizarem-se e
agir). A atuação de organismos internacionais evidenciam esse deslocamento.

Ora, se é verdade que os movimentos sociais estão sendo reestruturados, nesse sentido, no mundo
contemporâneo imediato, a atuação dos próprios movimentos, também serão afetados pela necessidade
de assegurar sua própria sobrevivência. Nesse caso, fica a dúvida sobre os procedimentos e prioridades
estabelecidas pelos próprios movimentos. É fato que, como já vimos, foram (e são) importantes na
dinâmica da produção, respeito à cidadania e aos direitos civis.

Em que medida eles efetivamente continuam ligados às causas civis? O quanto de sua integridade e
funcionalidade estão preservadas? Os movimentos sociais continuarão sendo agentes de transformação
da realidade social? Não podem eles se absterem de produzir mobilizações em torno da criação de novos
direitos? Não podem, mais ainda, se resignarem frente à injustiças ou se omitirem na cobrança pela
observação de direitos humanos?

O contrário ainda também pode ser verdadeiro: os movimentos não poderiam também ter sua capacidade
de atuação potencializada? Não poderia sair, daí, uma nova dinâmica de produção e reprodução de
direitos?

Todas essas perguntas são provocativas, ou seja, apontam para questionamentos reais, preocupações
práticas e efetivas, mas cujas respostas não estão prontas precisamente, porque são fenômenos
relativamente novos e estão em andamento. Na prática, nos cabe alertar sobre essas possibilidades. Cabe
chamar a atenção do educador social sobre a real ocorrência dessas questões, seus procedimentos e
resultados.

Mais ainda: também é importante chamar a atenção para o papel dos diferentes governos locais, em todas
as esferas que, dependendo de seus respectivos projetos político-econômicos, podem buscar parceiros de
resistência e/ou temer a politização da interlocução com movimentos sociais. Nesse caso, os governos
estariam promovendo entraves à promoção da própria cidadania.

A conexão entre sociedade civil e Estado pode ser, em maior ou menor grau, prejudicada. No limite, cisões
entre sociedade e Estado podem ocorrer e, se ocorrerem, podem promover incidentes tão importantes
quanto devastadores. A quem os Estados e governos devem reportar? O que os autoriza a existir e agir?

Mais uma vez, novos questionamentos aparecem, exatamente com a contingência apresentada para as
questões anteriores. Novas realidades geram novas ações e relações; novas perguntas exigem novas
respostas.

Ao longo da presente discussão veremos que a cidadania atualmente está muito ligada
a possibilidade de consumir. Evidenciamos que há outros desafios, para além de uma
vida consumidora. Isso não quer dizer, entretanto, que as demandas de acesso à
mercadorias seja irrelevantes, pelo contrário. É verdade que a vida contemporânea
pode viabilizar mais comodidade, mais conforto e, com isso, auxiliar na produção de
qualidade de vida. Só devemos ficar atentos para o fato de que qualidade de vida,
entretanto, não é sinônimo perfeito de abundância material.

Fonte: o autor

Ética, cidadania e educação


social

Em resumo, o conceito de cidadania passou por muitos processos de deslocamento de significado, desde a
Grécia Antiga aos dias atuais. Inicialmente atrelada ao direito da participação política nas Cidades-Estado
(Pólis) gregas, bem como benefícios legais acessórios a seus portadores, a cidadania esteve atribuída a
uma pequena minoria de homens gregos, nascidos na respectiva cidade grega em que obterão o título
após certa idade (que variará de acordo com a Pólis).

O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.

(Immanuel Kant)

O caso romano não será muito diferente. Muitos critérios levarão a cidadania a uma situação exclusivista.
Permanecerá a dificuldade na obtenção do título de cidadão. Na Idade Média ocorrerá pouca mudança na
abrangência do conceito, até porque a divisão social medieval em estamentos não torna a discussão
central na medida em que atribui ao estamento superior (nobres e clérigos) a exclusividade de privilégios
políticos, legais e econômicos.

A modernidade e o mundo contemporâneo passarão a orientar a cidadania em relação ao interesse e às


prioridades burguesas, no sentido de adequarem à cidadania, à produção e aperfeiçoamento do
capitalismo como modelo hegemônico (pelo menos no Ocidente) que, simultaneamente, permitisse o
desenvolvimento econômico e humano.

Em nosso caso será desnecessário insistir, mais uma vez, na inevitabilidade da relação entre ética e
cidadania. Esperamos que esteja claro que é das ações éticas que se motivam as justas demandas cidadãs.
É do respeito a si e aos outros, coletiva e socialmente, que se nutrem as reivindicações por direitos
efetivamente justos e honestos.

Em se tratando de promover a educação socialmente engajada, podemos afirmar que uma democracia
totalmente ampla de soberania popular pode ser o ideal, articulando a atuação dos cidadãos, do Estado,
dos governos, das instituições e organismos sociais representativos.

Entretanto, nesse caso, somos obrigados a notar certa limitação estrutural da democracia produzia pela
ótica burguesa na modernidade, eventualmente reforçada no mundo contemporâneo. É óbvio que, nesse
caso, o problema é gigante. A solução, extremamente complexa.

De outra maneira, não podemos nos furtar no compromisso de criar uma prática relevante de
transformação da realidade social. Assim, é necessário pensar de forma crítica entre o que seria ideal e o
que é real, o que é “real e o possível, distinguir entre a globalização e a modernização seletiva, reconstruir,
a partir da sociedade civil e do Estado, um multiculturalismo democrático” (CANCLINI, 2001, p. 289).

Produzir um mundo diverso, que respeita a diferença e a diversidade; que as promova e permita a
humanidade a dar um salto de qualidade de vida (relacionado também o consumo, mas para além dele, em
todas as dimensões da vida humana).

Desafios éticos na educação


social contemporânea
Essa última parte poderia ser entendida como uma conclusão de toda a presente discussão. Essa síntese,
entretanto não será trabalhada como retomada, mas apontará direções a seguir. Esses caminhos
indicados, entretanto não serão dispostos como manual. Ou seja, aqui não apresentaremos respostas
rápidas e uniformes para a promoção da educação social eticamente responsável, dirigida à cidadania, aos
direitos humanos e à justiça social.

Como o título dessa seção entrega, trabalharemos desafios. Primeiro, é necessário que tenhamos claro
que a educação social só é real quando apoiada em pressupostos éticos profundos; pressupostos estes
fundados no princípio geral da justiça, da honestidade e na promoção da qualidade de vida humana,
fazendo mais do que viabilizar a sobrevivência. Trata-se de realizar a vida em sua plenitude, promovendo a
consciência política, a integração cultural e o acesso às benesses econômicas.

Nesse sentido, defendemos uma visão “contra ideológica”, no sentido de não assumir uma perspectiva
política como totalmente correta ou incorreta. Nosso primeiro fundamento está no entendimento de que
não há sistema político-econômico perfeito. Não há instituições incorruptíveis e infalíveis. Pelo contrário,
há de se aceitar a falibilidade dos homens, dos sistemas e subsistemas produzidos por nós.

O segundo fundamento está na atitude quase que oposta ao primeiro: previstas as possibilidades de erros
e falhas humanas, não podemos nos curvar a eles e permitir que subsistam eternamente. Agindo sempre
pautado em uma consciência ética profunda, deliberada e clara, é necessário indicar caminhos e trilhá-los
na solução de problemas sociais, dramas humanos e injustiças.

Em se tratando de um capítulo que pretende a apontar caminhos para uma educação social efetivamente
transformadora, para bem, seguem as iniciativas que propomos a serem tomadas por todos os educadores
com os compromissos anteriormente firmados.

A primeira coisa a ser produzida é uma consciência diferenciadora, no sentido de tornar claras as
distinções entre valores morais e ética, entre justiça e conveniência, entre verdade e manipulação, entre
prioridades e desejos dos homens.

A segunda coisa a ser promovida é a consciência sobre erros. Eles existem e, mais do que as más
intenções, sempre subsistirão. O importante é saber lidar com eles, superá-los, quando possível resolvê-
los, mas conscientes de que outros erros sempre ocorrerão.

Tal consciência deve ser apoiada, também, na promoção de conhecimentos úteis e relevantes para a
promoção da qualidade de vida humana, claramente a partir de pressupostos éticos obrigatórios.

Uma terceira providência sintetiza parte dos anseios que influenciam as propostas da Organização das
Nações Unidas para a Educação, aqui representadas e sintetizadas a partir do pensamento de Edgar
Morin (2002): é necessário que se ensine aquilo que Morin chama de “condição humana”.

O Ser Humano é um produto contextual, um ser constituído cultural, social e historicamente. Também é
um ser finito, em termos de capacidades e vitalidade. Precisa entender sua identidade de forma
consciente, assim como ter claro os aspectos comuns de sua identidade que seja comum a outros seres
humanos (conectando-os profundamente pela própria condição humana).

É preciso que seja ensinada a “identidade terrena” (Morin, 2002). Às pessoas deve estar acessível uma
“história planetária”, que permita aos indivíduos reconhecer a finitude dos recursos naturais e considerar
os impactos das atividades humanas. Nas palavras do próprio Morin, “a educação deve conduzir à
‘antropo-ética’, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo
indivíduo/ sociedade/espécie” (Morin, 2002, p. 17).

A ética não pode ser ensinada por meio de lições de moral (que cuidamos de propor a diferenciação aqui
como primeira providência). Só poderá ser incorporada pelos sujeitos se estes estiverem conscientes
precisamente sobre a condição de todos sermos, simultaneamente, indivíduos, seres sociais e membros
biológicos de uma mesma e única espécie.

Devemos “estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia
e conceber a Humanidade como comunidade planetária” (MORIN, 2002. p. 18). Tais são os principais
desafios. Aqui estão sugestões para um caminho que acreditamos ser, simultaneamente, bastante prático
e necessário.

Uma das maiores preocupações desta disciplina está em apontar caminhos para a
educação social. Nesse caso, sugerimos com ênfase a leitura atenta às sugestões dadas
pelo filósofo, sociólogo e antropólogo Edgar Morin. Na referência aqui proposta, Morin
foi provocado pela UNESCO para apontar os maiores desafios à educação desse novo
milênio: MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
Cortez, 2002.

Fonte: o autor

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ATIVIDADES
1. No início deste novo milênio, uma série de consequências ditadas pela própria globalização capitalista
atinge o universo da sociedade civil. Sobre elas é correto afirmar:

a) As Organizações Não-Governamentais (ONGs) perdem muita influência e capacidade de ação.

b)O chamado “Terceiro Setor” deixará de existir, engolido pelos projetos governamentais. c) Não há uma
contaminação de prioridades e mecanismos de ação de ONGs na constituição da sociedade civil.

d) O crescimento do Terceiro Setor leva ao fortalecimento de todos os movimentos sociais.

e) ONGs, Terceiro Setor e sociedade civil acabam sendo frequentemente tratadas como sinônimos.

2. Historicamente, a atuação dos movimentos sociais pode ser entendida como fundamental no processo
de obtenção de direitos e na ampliação do acesso à cidadania. Atualmente, entretanto, a dinâmica deles
tem sido profundamente alterada. Sobre o assunto é correto afirmar:

a)A uma certa crise na forma de se organizar e agir dos movimentos sociais, hoje muito afetados pela
atuação das Organizações Não-Governamentais.

b) Os movimentos sociais sempre se estruturaram como ONGs.

c)Não é mais possível falar na atuação de movimentos sociais no mundo contemporâneo. A própria
globalização os extinguirá.

d) A atuação dos movimentos sociais não foi atingida no contexto global contemporâneo.
e) Os movimentos sociais devem se tornar ligados à governos, para assim desempenhar de forma
satisfatória o processo de conquista de direitos.

3. Sobre o papel da educação social na promoção da qualidade de vida, podemos afirmar:

a) É prioridade fornecer financeiras para levar à cidadania plena.

b)A educação social caminha em paralelo às questões de cidadania, já que não é seu dever envolver-se
com ela.

c) A educação social auxilia a promoção da cidadania, na medida que traz os problemas e os dilemas
sociais contemporâneos ao debate.

d) A educação social deve ser exclusivamente formal, isto é, trabalhar os conceitos ligados à ética,
cidadania e direitos.

e) Ética, cidadania e direitos são temas estranhos aos debates sociais, devendo serem resguardados às
análises econômicas.

Resolução das atividades

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RESUMO
A sociedade civil está no centro das disputas político-sociais nas democracias contemporâneas. Seu papel
é trazer à tona problemas sociais, em especial no que se refere à proposição e alcance pleno de direitos
em geral, além de resguardar direitos previamente conquistados se estes ainda forem necessários à
condição humana.

Nesse caso, nos preocupa entender como sua atuação é moldada no cenário atual de crescimento de
poder de ONGs e Institutos ligados ao Terceiro Setor que, mesmo sendo frequentemente úteis e
importantes, por vezes se submetem a programas previamente concebidos por projetos político-
econômicos. Preocupa também a eventual transformação de movimentos sociais em porta-vozes do
Terceiro Setor pelo mesmo problema.

A cidadania, que historicamente foi sendo ampliada, não pode ser estagnada. Novos problemas vão
surgindo contextualmente. Novos desafios precisam ser evidenciados e vencidos. O acesso à cidadania,
não poderá ser mais restringido, assim como a atuação cidadã.

Um multiculturalismo democrático está na base de uma cidadania que deve se estabelecer no início deste
novo milênio. Os desafios são muitos, mas frequentemente estão claros e, por isso mesmo, podem ser
enfrentados, a saber: a promoção da liberdade, do exercício da consciência, das identidades particulares e
sociais, da identidade na condição humana e terrena, da finitude dos recursos naturais, da existência e
possibilidade dos erros, da urgência de um projeto ético individual, social e humano.

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Material Complementar

Leitura
Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro

Autor: Edgar Morin

Editora: Editora Cortez

Sinopse: o livro indica uma postura diferente dos exageros


da sociedade do conhecimento. Este pequeno grande livro
aborda temas fundamentais para a educação
contemporânea, por vezes ignorados ou deixados à
margem dos debates sobre políticas.

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REFERÊNCIAS
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à filosofia. 2. ed. São
Paulo: Moderna, 1993.

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Moderna, 1995.

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CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.

CHAUI, M. S. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.

______. Como se faz uma tese. 14. ed. Trad. Gilson Cardoso César de Souza. São Paulo:
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COUTINHO, C. N. Cidadania e modernidade São Paulo: Perspectivas, 1999.


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CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa Rio de .

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FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.


HABERMAS, J. Consciência Moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
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KANT, E. Crítica da razão prática . 4. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

______. Fundamentos da metafísica dos costumes. Rio de Janeiro:


Ediouro, s/d.
KARAM, F. J. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997.

KEHL, M. R. Por que articular ética e psicanálise? In: KERL, Maria Rita. Sobre ética e
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KRAMER, D. Alguém pediu sua opinião? Revista Imprensa São Paulo, , n. 173, pp. 12-
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KREMER-MARIETTI, A. A ética. Trad. Constança Marcondes César. Campinas:


Papirus, 1989.

LYONS, D. As regras morais e a ética. Trad. Luís Alberto Peluso. Campinas, SP:
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MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez,


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OLIVEIRA, F: PAOLI, M. C (orgs.). Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e


hegemo nia global. São Paulo: Vozes, 1999.

PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da filosofia. 17. ed. São Paulo:


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PAIM, A. Modelos éticos: Introdução ao estudo da moral. São Paulo: Ibrasa, 1992.

PRADO, J. L. A. O pódio da normalidade: considerações sobre a teoria da ação


comunicativa e a psicologia social. In: Psicologia e Sociedade , v. 8, n. 1. São Paulo:

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REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990.

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APROFUNDANDO
É interessante retomar a proposição de que a ética está no fundamento das ações humanas socialmente
responsáveis. Seu ensino deve dirigir-se a uma prática consciente e cotidiana, ou seja, é preciso
demonstrar que indivíduos éticos produzem um mundo melhor para os outros, mas também para si
mesmos. No limite, todos ganham em prazos mais curtos do que se pode supor com ambientes justos em
que os direitos humanos, civis, políticos e sociais estejam sendo observados e salvaguardados. Não se
trata de socialização de uma bondade transcendental ou metafísica, mas da criação de meios objetivos
para a consolidação da qualidade de vida para todos.

A atuação ética, entretanto, não pode mais ser resguardada a atitudes individuais. Obviamente devem ser
socialmente partilhadas. Acreditamos que isso é possível, em que se pensem ações profundamente
antiéticas que temos observado cotidianamente. A ação ética, para vencer aos malfeitos, precisa estar
constantemente generalizada em formas já conhecidas.

Tal partilhamento é absolutamente possível, no contexto de um mundo globalizado onde as tecnologias de


comunicação e informação estão se generalizando e conquistando cada vez mais espaço na vida cotidiana
para um número crescente de pessoas em escala planetária (em maior ou menor grau).

Movimentos sociais, ONGs, entidades do Terceiro Setor e a sociedade civil podem estruturar-se de
maneira a criar uma ética supremamente humana, ou seja, profundamente arraigada no cotidiano das
pessoas; primeiro, porque são instâncias coletivas; segundo, porque possuem grande poder de influência
em todas as Instituições Sociais (incluindo Estados e governos); terceiro, porque são representativas no
contexto das sociedades globais. Apreendido aquilo que Edgar Morin chama de “condição humana”, este
caminho se torna mais fácil, e mais factível.

Claro que a dificuldade em se produzir um pacto social pela cidadania é grande, todavia os benefícios de
uma vida socialmente segura, com qualidade e liberdade, se sobrepõe a qualquer desafio. Se esse caminho
for potencialmente alimentado, a sobrevivência de curto, médio e longo prazo das pessoas em nosso
planeta está assegurada e, mais do que isso, uma “supervivência” pode ser realizada, onde o desfrute de
todas as dimensões da vida seja tão possível quanto a própria sobrevida. Não se trata de apenas estar
vivo, mas de se fazer vivo em todos os aspectos da vida cotidiana.

Este “se fazer vivo”, inclusive, não precisa sequer soar como promessa relegada a um horizonte distante. A
partir do momento que a qualidade de vida vai se ampliando, atingindo cada vez mais gente, mesmo quem
não está sendo impactado diretamente por este ganho conseguirá perceber melhor condição de vida,
exatamente, porque o contexto em que está inserido está melhorando.

É o caso, por exemplo, nos locais onde a pobreza extrema é severamente combatida e provoca
rapidamente melhora nas condições de segurança pública (e sua percepção). Ora, quem não gostaria, de
qualquer condição social, viver em um lugar onde se ganha tranquilidade para exercer suas atividades
cotidianas? É isso que, dentro de uma determinada concepção econômica, chamam de lógica “ganha X
ganha”.

Não se trata, sequer, de bondade abstrata. Antes mesmo, significa incorporar a consciência ética,
profundamente humanizada. Tal condição já nos é própria, mesmo que inconsciente ou negligenciada. A
despeito de questões e problemas político-econômicos, a natureza humana é uma e única, falha e finita.
Humana em todas as suas formas.

REFERÊNCIAS

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002.

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Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação


.

a Distância; ZERMIANI Raul Tavela.


,

Cidadania e Ética. Raul Tavela Zermiani.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.


24 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Cidadania. 2. Ética. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 170

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

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Fotos Shutterstock
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