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5º Ano
Discente:
Mocuba
2023
Correia Manuel Armando
Mocuba
2023
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4
ÉTICA E MORAL: DISTINÇÃO E DEFINIÇÕES..................................................................5
EDUCAÇÃO: DIMENSÕES ÉTICAS E PROCESSO REFLEXIVO......................................6
NATUREZA ÉTICA DA PRÁTICA EDUCATIVA.................................................................8
DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO VINCULADA AO SOCIAL.....................................13
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................15
REFERÊNCIAS........................................................................................................................17
INTRODUÇÃO
Para Aristóteles, Ética é a filosofia das coisas humanas, um saber que visa a orientar
“educar a ação”) ela tem de ser ética, principalmente considerando-se que a formação do
sujeito ético depende da educação que ele receber em seu meio acadêmico/familiar/cultural, e
Ao se falar em educar para a vida moral, fala-se em criar condições para que os
educandos venham a se tornar sujeitos autônomos, com capacidade de (re)pensar e decidir por
si próprios.
deve incentivar e buscar tem de ser aquela em que haja a vontade do educando de respeitar e
outros seres da raça humana. Assim, a sala de aula (e todo o ambiente educacional) deve ser
formação, devem ter plena consciência que formar um aluno é muito mais que treinar e
para essa formação, necessita-se de ética e harmonia. Ele complementa, ainda, que ambas –
ética e harmonia – precisam estar vivas e presentes na prática educativa, sendo esta a
responsabilidade do professor.
ÉTICA E MORAL: DISTINÇÃO E DEFINIÇÕES
Questão sempre suscitada quando se fala em ética e moral é se há ou não distinção
entre elas. Autores e filósofos há que defendem a mesma definição para ambas. Outros
defendem haver diferenças cruciais entre uma e outra, posição que aqui se defende.
Segundo Russ (1999, p. 8-9), a etimologia em nada ajuda na tarefa de resolver este
impasse: ta êthé (em grego, os costumes) e mores (em latim, hábitos/costumes) possuem, com
efeito, acepções muito próximas uma da outra e, mesmo sendo o termo “ética” de origem
grega, e o termo “moral” de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos: à ideia de
há de se fazer a distinção entre ética e moral. A primeira é mais teórica que a segunda. A ética
se esforça por desconstruir as regras de conduta que formam a moral, os juízos de bem e de
mal. O que a ética designa, então? Não uma moral, a saber, um conjunto de regras próprias de
uma cultura, mas sim uma doutrina que se situa além da moral, racionada sobre o bem e o
mal, os valores e os juízos morais. Em suma, a ética desconstrói as regras de conduta, desfaz
suas estruturas e desmonta sua edificação, para se esforçar em descer até os fundamentos
Assim, a diferença básica entre ética e moral consiste que na primeira há reflexão
Ainda, segundo Boff (2003, p. 58), a ética é parte da filosofia, a moral é parte da vida
concreta; a ética é da ordem prática e não da teoria, à qual pertence a moral; a ética examina a
Assim, é possível traçar o seguinte quadro quanto à distinção entre ética e moral:
MORAL ÉTICA
Valores humanos (não têm preço); Valores humanos (não têm preço);
Origem no latim more = costume humano; Origem no grego ethos = costume/conduta;
Valores morais – desenvolvidos pelos usos Valores éticos – juízo crítico sobre valores
e costumes de determinada sociedade; que frequentemente estão em
conflito e que implica opção;
Não há conflito; Pode haver conflito/dilema (di = dois / lema
= caminho);
Pode variar de sociedade para sociedade ou Varia de indivíduo para indivíduo;
de uma época para outra (na mesma
sociedade);
De fora para dentro, isto é, da sociedade De dentro para fora, isto é, do indivíduo
para o indivíduo; para a sociedade;
Todo cidadão tem de respeitar porque Não é a sociedade que escolhe, é o
pertence à sociedade; indivíduo, ainda que leve em conta os
valores morais;
Não há reflexão crítica, há aceitação; há Pressupõe dilema, não há aceitação sem
introjecção; é social. reflexão crítica; é pessoal.
Fonte: desenvolvido pela autora, com base em notas de aula (anotações manuscritas). Mestrado em Bioética.
Disciplina: Fundamentos da Bioética (professor William Saad Hossne, 2007).
Segundo Russ (1999, p. 11), uma pessoa é moral quando age em conformidade com os
costumes e valores consagrados na sociedade na qual vive; valores esses que podem até vir a
ser questionados pela ética, e é uma pessoa ética quando se orienta por princípios e
convicções, assumidos mediante reflexão crítica pessoal. Portanto, uma pessoa pode ser moral
(segue os costumes, mesmo que só por conveniência), mas não necessariamente ética (não
Considerando-se que o ser humano não nasce ético, torna-se ético, o papel da
educação nesta formação é crucial. E considerando-se, ainda, que o cotidiano mundial é hoje
marcado por conflitos de toda ordem, que cada vez mais oprimem os educadores/educandos
em formação, é preciso que esses educadores e as entidades educativas, apesar das
dificuldades, pautem suas ações por princípios éticos e vejam a sala de aula como espaço
privilegiado para aprofundar e vivenciar o agir ético (Paviani, 2005), já que a dimensão ética
da educação é inegável.
relações, e o aparente descaso com valores e virtudes, entre eles, o próprio desvalor dado à
vida humana, que é tida como se nada fosse, parecem fazer com que tudo caminhe para um
retorno à filosofia ética, devido à própria necessidade de sobrevivência do ser humano num
Esse retorno e o resgate do ser humano ético deve se dar pelos instrumentos da
Educação e, no Brasil, como no resto do mundo, nas últimas décadas, tem havido intensa
preocupação com a educação em e para valores, que surge como inspiração para muitas
iniciativas, seja na esfera da produção acadêmica, seja no âmbito das práticas pedagógicas.
A necessidade da ética nas relações cotidianas não permite mais uma atitude que
como o educando vivencia esse processo, com orientação do professor/formador que, segundo
Paulo Freire, precisa conhecer um saber necessário ao professor: que ensinar não é somente
transferir conhecimento, mas ensinar precisa ser um processo apreendido por ele e pelos
educandos nas suas razões ontológicas, políticas, éticas, epistemológicas, pedagógicas, que
Nesse momento de crise, a reflexão crítica é o caminho para que se façam as escolhas
certas, norteadas pela ética e, nesse patamar, os princípios e referenciais da Bioética são
instrumento primordial.
Um dos alicerces da Bioética é, sem dúvida, as relações: relações entre pessoas, entre
organismos, entre entidades, entre vidas... e a necessidade da ética nas relações cotidianas e
no processo ensino-aprendizagem não permite mais uma atitude que privilegia o indivíduo em
detrimento da coletividade.
A Educação não tem apenas a dimensão instrumental e técnica que muitos lhe
atribuem. Em sua dimensão (bio)ética, ela é fundamentalmente criadora de valores que podem
tornar os seres humanos melhores e, assim, mais capazes de ser e de fazer os outros felizes.
Não há como negar que à educação cabe sensibilizar as atuais e as novas gerações para
para que possam participar ativamente desse processo de formação. Entendido aqui que esta
que a noção de ética remete a alternativas e escolhas que decidem o destino do ser humano.
individual e coletivo de qualidade e com base nas ações e decisões éticas, a educação atual
não pode ser reduzida à informação factual: ela, por si só, já envolve capacitação de escolha e
juízos e assim deve se apresentar para o educando: como um caminho que leve à reflexão e
Freire deixa claro que a ética a qual se refere é a ética universal e diz que “a melhor
maneira de por ela lutar é vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em
como seres formadores desse mundo. Essa consciência leva a refletir e pensar a vida como
possibilidade “de ser mais e melhor” e Paulo Freire anuncia a solidariedade como forma de
luta capaz de promover e instaurar a “ética universal do ser humano”, o que vai permear,
luta dos professores pela dignidade de sua função não só é democraticamente importante, bem
corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. Deve-se, para isso, preparar cada
mundo”.
Desta forma, para servir como agente instigador dessa transformação, os educadores
devem ter postura ética na vida, no pensar, falar, agir, ensinar e aprender.
características essenciais. Para Freire, ensinar exige rigor metódico; pesquisa; respeito pelos
saberes dos educandos; criticidade; estética e ética; corporificação das palavras pelo exemplo;
risco, aceitação do novo e rejeição de qualquer forma de discriminação; reflexão crítica sobre
respeito pela autonomia do educando; bom senso; humildade, tolerância e luta na defesa dos
Resta claro, portanto, que se, como educadores/formadores, o que se quer é transmitir
(bio)ética desse processo é ação profunda e transformadora, já que se faz necessário que os
valores e as virtudes sejam muito mais do que só transmitidos: eles precisam ser vividos, por
afetiva – repleta de bem querer a esse educando, já que educar não é depositar conteúdo
técnico num ser em formação, é, antes, criar espaços para que o educando possa empreender
ele próprio a construção do seu ser, ou seja, a realização de suas potencialidades em termos
pessoais e sociais.
trabalhem para a construção de uma sociedade mais digna, mais feliz, mais respeitável, e que
contribuam para que os educandos consigam ter uma vida melhor, que leve ao sucesso, com
qualidade, criando sensibilidades que se impõem como novas temáticas para a educação é o
atitudes éticas, cuja concretização deve se dar no indivíduo e, por extensão, na coletividade.
ideias, valores e reflexões sobre as perspectivas futuras. Portanto, é evidente que a ética é
de um mundo possível e desejável tem conduzido “os homens de bem” (Mattos, 2007) a
fazer reflexões e levar a reflexões a fim de tornar possível o princípio da dignidade da vida,
pois a ética é condição essencial para a cidadania. Assim, a Bioética é valioso instrumento de
reflexão e ação para auxiliar o homem a enfrentar os questionamentos sobre o que o angustia.
dessa dimensão micro deve-se caminhar e se expandir cada vez mais para a macro, norteando
Segundo Sime (1999, p. 272), uma proposta educativa que tenha como eixo central a
vida cotidiana e que queira recuperar o valor da vida, no sentido radical, tem de desenvolver
de forma criativa certos aspectos básicos. Para ele:
transforma-se em mundo à parte, que simplesmente ignora o cotidiano social. Mais do que
isso, em muitas ocasiões, sequer há espaço para que os diferentes sujeitos possam se expressar
práticas educativas e a vida parecem ser dois mundos que se ignoram. Romper com essa
Deve-se deixar claro, aqui, que a indignação e a rebeldia não significam estímulo à
violência, à confusão ou ao início de conflitos materiais. Trata-se, isto sim, de superar toda
indiferença diante das violações dos direitos humanos que se multiplicam em nossas
sociedades e que também estão presentes nas práticas educativas, por meio de
questionamentos e de resolução de conflitos que conduzam cada vez mais à defesa e aplicação
ético é fator chave nos processos educacionais. É necessário que se lute para que a educação
suscite valores de responsabilidade pessoal, consideração pelos outros e respeito mútuo face
às diferenças e divergências.
no âmbito individual, seja no âmbito coletivo, podem ser designadas como disposição ética. A
educação tem caráter ético na medida em que orienta a ação dos diferentes sujeitos numa
instituição educacional, pois por meio dela buscam-se soluções e alternativas para os
culturais, valores, tradições e tudo aquilo que se refere a determinado modo de viver em
valores que formam um conjunto social. Esse conjunto social necessita ser, literalmente,
“cuidado” e Leonardo Boff (2003, p. 50) defende que “a ética que cuida e ama é terapêutica
libertadora”.
(re)pensem e (trans)formem não só o ambiente educacional, mas toda a coletividade, para que
Nesse caminho, Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, é uma obra que condensa
Além disso, a educação deve inspirar-se nos fundamentos da ética e se pautar com a
concretização dos referenciais da bioética nas relações, já que a Bioética aspira aos grandes
de vida, a justiça, a autonomia. Educar para a autonomia é ensinar a buscar a realização e não
a destruição. Este é o verdadeiro significado de uma educação voltada para a Bioética e cada
“avassaladora”, lhe chamou Luís Archer, “uma generosa utopia para o século XXI”, definiu
conduzir à “felicidade”, desejo último de qualquer ser humano e defendido, através dos
E apesar de todos nós vivermos os efeitos do sistema de vida atual, que parece
desconhecer os princípios da Ética, é necessário que não se perca de vista o que salientou
brilhantemente Paulo Freire: “Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da
decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-
nos como sujeitos éticos”, nem esquecer “de sublinhar a nós mesmos, professores e
Mesmo com todos os empecilhos para se educar, ainda existem muitos professores
cumprindo com excelência o seu papel, com vocação, o que significa ter afetividade, gostar
do que faz, ter compromisso, competência e, primordialmente, acreditar que mesmo não
poderá germinar, desde que plantada verdadeiramente em bons solos – nossos corações.
sociedade em que se vive, não pode se eximir de refletir sobre seu papel de empreender
esforços para tudo que puder contribuir para melhorar o entendimento e a aplicabilidade dos