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MANUEL JOSSALDO NOMALIA, DOUTORAMENTO EM

INOVAÇÃO EDUCATIVA, UNIVERSIDADE CATÓLICA


MOÇAMBIQUE.

Resumo
Este trabalho, tende averiguar a Ética e Deontologia dos
professores moçambicanos para a sustentabilidade dos
conceitos na aplicação prática na vida dos moçambicanos,
assim como o objectivo de apresentar uma reflexão em torno
das práticas docentes na vertente da Ética e Deontologia
dos professores em Moçambique.

centrado no estudo da Moral ética e profissional em geral,


sob olhar analítico e crítico as possíbilidades e decisões
ás medidas eficázes do que é o molde a da sociedade
internacional e humanidade, sob ponto de vista da
imoralidade e suas formas de erradicar nas funções publicas
e politicas, sendo estes.
A Escolha como local alvo necessário a inovar e apostar na
transparência e prestação de contas, na criação de uma
sociedade participativa e vigilante, numa perspectiva de
consciencializar valores morais menos favorável a pratica
da corrupção e que possibilita-se o desenvolvimento mais
sustentável no pais.
Palavra Chaves:observância, ética, Deontologia e Profissão.
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada, tem o epicentro na importância da
observância da ética e deontologia profissional, onde
concebemos a situação baseando nas observações empíricas da
conduta ou atitude de alguns funcionários de uma
determinada empresa (escola), que não respeitam os
direitos dos outros sem ter em conta o cumprimento dos seus
deveres na instituição. A investigação está limitada a um
grupo de sujeitos entre eles professores e funcionários
administrativos de uma escola primária, Uige-Angola. Pois
que, á estes está dada a responsabilidade de cooperação ou
seja inter ajuda para observância da ética e deontologia
profissional facto que contribui no desenvolvimento humano.
O estudo está estruturado em seis (06) secções, depois do
resumo partimos com a primeira que é a introdução;
sequencialmente a revisão da literatura, a metodologia, os
resultados, as considerações finais e a bibliografia.
«A revisão da literatura envolve quatro partes: descrição :
das teorias e trabalhos empíricos relevantes ao tema;
avaliação: destas teorias e trabalhos empíricos;
comparação: das teorias e trabalhos empíricos; dedução da
Hipótese a partir da avaliação e da comparação» (HILL e
HILL, 2016).
Elaboramos na segunda secção do trabalho a revisão da
literatura (importância da observância da ética e
deontologia profissional), onde consultamos alguns autores
com maior experiencia na temática. Nisto, abordamos a
situação no contexto da ética e deontologia nos processos
sociais e educacionais, a ética e deontologia no
desenvolvimento intelectual, alguns elementos que
influenciam neste processo, alguns princípios essenciais
para ética e deontologia, o clima escolar e o impacto da
ética e deontologia na profissionalização do individuo.
Apresentamos a metodologia utilizada partindo do tipo de
pesquisa descritiva, baseado no modelo qualitativo e
quantitativos. Neste caso, utilizamos alguns métodos
utilizados como questionário, bibliográfico, observação, e
apresentamos algumas questões colocadas aos professores e
administrativos para recolha de dados. Nos resultados
apresentamos alguns elementos essenciais e os seis
princípios indispensáveis como condições necessárias de
observância da ética e deontologia da profissionalização.
Na quinta secção que são as considerações finais
apresentados algumas conclusões e na ultima secção a
bibliografia que são algumas obras consultadas. Tudo isto
fez perceber que é importante a observância da ética e
deontologia profissional nas empresas (escolas).

1. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONTEMPORÂNEA FRENTE AOS


PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS NORTEADORES

a improbidade administrativa, desde seu contexto histórico


até os dias actuais, se tem pautando por um melhor conceito
de sua caracterização diante da sociedade contemporânea.
É notório que nos dias actuais, a administração pública
exerce grande influencia sob seu povo, tomando decisões que
afectaram a vida de toda aquela colectividade de pessoas
objecto de seus planeamentos. Os gestores, chamados
juridicamente de chefes de governo, são responsáveis por
essas decisões, entendidas como derivação da função
política do estado democrático de direito.

Nessa linha, esses governantes, que participam da linha de


frente de tais planeamentos, devem respeitar certos
limites, legalmente previstos, onde não poderá, sem
autorização legal, o fazê-lo. Dentro desta temática, se não
forem observados tais limites, o referido gestor político,
sofrerá certa intervenção do estado, para que seja
demonstrado o motivo de sua conduta, a princípio,
ilegítima, embora os actos praticados pelos entes federados
sejam considerados, via de regra, legítimos.

O meio legal de se fazer justiça face das decisões ilegais


dos gestores públicos, é através da acção civil pública,
impetrada pelo Ministério Público, com a finalidade de se
determinar a ocorrência do tema “improbidade
administrativa”.

Segundo a USAID no seu Relatório AVALIAÇÃO DA CORRUPÇÃO em


MOÇAMBIQUE 16/12/2005

dizia, Moçambique registou um enorme avanço, em particular


desde a assinatura do acordo de paz em 1992 e das suas
primeiras eleições multipartidárias em 1994. Sob muitos
aspectos, o país constitui uma história de sucesso do
desenvolvimento e o governo e os seus parceiros doadores
estimularam um crescimento económico impressionante embora
de um ponto de partida muito baixo – que parece ter tido um
impacto positivo na redução da pobreza no geral neste país,
que se situa entre os mais pobres. Contudo, a história do
desenvolvimento de Moçambique é ensombrada por uma
corrupção generalizada e persistente. Esta corrupção é um
sintoma de desequilíbrios estruturais mais profundos dentro
da ténue democracia moçambicana e constitui uma ameaça que
potencialmente pode minar o futuro progresso de Moçambique.
São necessários esforços profundos a longo prazo para
introduzir reformas no sistema político e fazer face à
corrupção de modo a garantir a estabilidade, o crescimento
económico e a democratização do país. Ainda não está claro
que os dirigentes de Moçambique estejam dispostos a
efectuar estas mudanças.
A corrupção tem vindo a alastrar-se rapidamente ao longo
dos últimos 20 anos, tendo agora atingido praticamente
todos os sectores, funções e níveis do governo. O nível e o
âmbito da corrupção em Moçambique atingiram níveis
alarmantes e potencialmente representa um risco para a
governação democrática nascente no país. A corrupção é tão
endémica que se tornou norma para os cidadãos e homens de
negócios, os quais a toleram para conseguir que os assuntos
sejam resolvidos e ter acesso aos serviços públicos
básicos. Os funcionários do Estado de escalão inferior
utilizam a corrupção como suplemento das suas magras
receitas, enquanto que os funcionários de nível sénior
recorrem à corrupção para aumentarem a sua riqueza e
fortalecerem o poder político, enquanto que as elites
económicas utilizam-na para consolidarem a sua posição e
impedirem a concorrência.
A corrupção no sector público em Moçambique tem
consequências devastadoras na vida económica, política e
social do país. Ela afasta os investidores nacionais e
estrangeiros, cria vantagens injustas para alguns e reduz
as perspectivas para os pobres. A corrupção constrange a
governação democrática, pois mina o processo judicial,
desmantela o estado de direito e reduz a prestação de
serviços públicos essenciais, em particular para os pobres.
Penetra de tal forma no tecido social e cultural do país
que parece que os moçambicanos estão resignados a viver com
a corrupção penetrante porque não vêem de que forma a podem
evitar.

A expressão da corrupção de Robert Klitgaard – de que ela é


resultado do monopólio do poder, mais o poder
discricionário dos funcionários, menos a responsabilização
constitui uma rubrica útil para entender a corrupção em
Moçambique, onde:

 O poder se encontra altamente concentrado num único


partido político e poucos grupos da sociedade são
razoavelmente capazes de contestar esse poder;
 O poder discricionário dos funcionários do Estado
não é controlado e o estado de direito é respeitado
apenas minimamente; e
 Existe pouca responsabilização (quando existe) dos
funcionários perante os cidadãos (Klitgaard,
Maclean-Abaroa e Parris, 2000).

Embora existam leis e regulamentos no papel que constituem


o quadro para uma boa governação, poucos mecanismos de
controlo foram estabelecidos ou funcionam na prática
garantir que este quadro funcione de uma forma honesta,
transparente e para o bem do público.
Esta dinâmica funciona ao nível da elite e administrativo.
Contudo, é a grande corrupção ao nível da elite que define
e limita a capacidade até mesmo dos indivíduos corajosos
que pretendem fazer a diferença.
Constituem motivo de preocupação contínua em relação à
corrupção em Moçambique as alegações da possível
conivência, ou mesmo envolvimento activo de indivíduos do
governo ou do partido no poder em actividades criminosas,
nomeadamente no tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e
desvio de fundos públicos. Os assassinatos de pessoas
importantes parecem estar directamente ligados aos esforços
de silenciar os que
pretendem desmascarar esta actividade. Esta atmosfera de
ilegalidade não melhorou nos últimos anos e exacerba ainda
mais a capacidade reduzida de governação.
A capacidade e a responsabilização serão particularmente
importantes num futuro próximo, à medida que Moçambique for
desenvolvendo e expandindo as suas indústrias de extracção
e metalúrgica. O alumínio, a energia, o carvão e o gás
natural tornaram-se recentemente nas novas fontes de
receitas de que o país tanto necessita.
Elas já representam mais de 75 por cento das exportações
nacionais brutas de Moçambique.
Estas “vacas leiteiras” representam novas oportunidades de
corrupção e aumentam interesse de controlo por parte do
Estado, em especial se estes empreendimentos forem
controlados por poucas empresas ou ministérios. À medida
que estas indústrias se vão expandindo e novas são
desenvolvidas, será crucial garantir que o seu
funcionamento e as suas receitas sejam transparentes e
conhecidos e que os seus proventos beneficiem todos os
cidadãos de Moçambique.
O uso abusivo dos cargos públicos para ganhos particulares
em Moçambique é incitado por vários factores no ambiente
institucional e político, nomeadamente:

• O domínio, por um único partido, de todos os braços do


governo, facto que mina o conceito e a prática de controlo
e fiscalização.
• Uma falta de responsabilização directa perante os
cidadãos e mecanismos de controlo inadequados para detectar
os abusos.
• A impunidade dos que têm riqueza e ligações com os
poderosos ao nível político.
• A aplicação arbitrária da lei para favorecer pessoas com
ligações políticas.
• A inexistência de um envolvimento considerável e
significativo da sociedade civil no governo e a fraca
capacidade da sociedade civil.
• Um ambiente de secretismo e opacidade penetrantes no
governo e nos partidos políticos.

“A soberania do Estado democrático de Direito impõe,


necessariamente, a protecção da moralidade e da probidade
administrativa nos actos administrativos em geral,
exaltando as regras de boa administração e extirpando da
gerência dos negócios públicos de agentes que ostentam
inabilitação moral para o exercício das funções públicas.
(Thomas Hobbes in Política e Moral 1588-1678)”

“Entende-se por acto de improbidade má qualidade,


imoralidade, malícia.
Juridicamente, alega-se ao sentido de desonestidade, má
fama, incorreção, má conduta, má índole, mau caráter”.
De Plácido e Silva, em seu Vocabulário Jurídico, p. 431,
trilhando o mesmo caminho, diz que: “improbidade revela a
qualidade do homem que não procede bem, por não ser
honesto, que age indignamente, por não ter caráter, que não
atua com
decência, por ser amoral.” Autores existem, por outro lado,
que, distinguindo nitidamente as duas noções, entendem ser
a moralidade o gênero do qual a probidade seria uma
espécie.
Tal é o entendimento de Marcelo Figueiredo, em seu livro
Probidade Administrativa(São Paulo : Malheiros, 1995. p.
21), quando ensina:
“Entendemos que a probidade é espécie do gênero ‘moralidade
administrativa’ a que alude, v. g., o art. 37, capute seu §
4º da CF. O núcleo da probidade está associado (deflui) ao
princípio maior da moralidade administrativa, verdadeiro
norte à administração em todas as suas manifestações. Se
correta estiver a análise, podemos associar, como o faz a
moderna doutrina do direito administrativo, os atos
atentatórios à probidade como também atentatórios à
moralidade administrativa. Não estamos a afirmar que ambos
os conceitos são idênticos. Ao contrário, a probidade é
peculiar e específico aspecto da moralidade
administrativa.”
De nossa parte, divergindo dos que assim pensam,
entendemos: a) moralidade e probidade administrativas são
noções bem claramente distintas, que se não podem confundir
ante os textos legais que, a partir da Constituição
Federal, a elas se referem; b) por esses mesmos textos, é
forçoso reconhecer, como demonstraremos a seguir, que a
probidade é que é o gênero, do qual a moralidade é espécie,
haja vista a maior amplitude e o maior alcance emprestados
à primeira, pela Constituição Federal e pela legislação
ordinária.
De fato, examinando-se o que a Constituição de 5 de outubro
de 1988 e a legislação infraconstitucional contêm a
respeito dos princípios aqui aludidos, verifica-se que
probidade e moralidade administrativas são conceitos que se
não podem confundir, e que a segunda dessas noções está
contida na primeira.
Repassemos os dispositivos que mencionam, expressamente,
os dois conceitos.
Ao tratar da administração pública, apontando-lhe os
princípios fundamentais (art. 37, caput), a CF indica,
entre estes, a moralidade, sem referência à probidade:
“A administração pública direta, indireta ou
fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e, também, ao seguinte:”.
Já no § 4º do mesmo artigo 37, a Carta Magna alude à
improbidade administrativa, sem aludir à moralidade, ao
determinar que:
“Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.”
Em outro dispositivo da CF (art. 5º, LXXIII) está dito
que:
“qualquer cidadão é parte legítima para propor acção
popular que vise a anular acto lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e a
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;”.
Definindo os crimes de responsabilidade do Presidente da
República, a Lei Maior (art. 85,V) considera como um
deles o ato daquela autoridade que atentar contra a
probidade na administração.
A Lei nº 8.429/92, por sua vez, complementando as
disposições constitucionais, classifica os atos de
improbidade administrativa em três tipos:
I) actos de improbidade que importam em enriquecimento
ilícito;
II) actos de improbidade administrativa que causam prejuízo
ao erário;
III) actos de improbidade administrativa que atentam contra
os princípios da administração pública.

Os dispositivos constitucionais e legais acima apontados, a


par de evidenciar a distinção que deve existir entre
probidade e moralidade, servem para fundamentar o nosso
entendimento, acima manifestado, de que a probidade
administrativa contém a noção de moralidade administrativa,
ou seja, é conceito amplo, de modo a abarcar em si o
conceito de moralidade administrativa.

A Prática do Estado de Direito Democrático em Moçambique

Moniz, S.21/12/2020

A dignidade é considerada como um princípio da liberdade,


da justiça, da paz, que coloca a pessoa como o fim superior
do Estado de direito democrático, sendo que o Estado se
compromete a respeitar a Constituição cumprindo com rigor a
lei, e a justiça.
Em Moçambique, o Estado nasce em 1975, com a Independência
do país e existência de um texto legal escrito, ou seja, a
Constituição da República Popular de Moçambique (CRPM). É,
no entanto, na Constituição da República de 1990 que se
introduz o Estado de Direito Democrático, pela inclusão
clara no texto fundamental dos direitos, liberdades e
garantias fundamentais dos cidadãos. Porém, a prática do
Estado de Direito Democrático em Moçambique, é segundo
nossa análise um desafio, visto que não há separação entre
o Estado e o Governo no poder. O presidente da República é
de acordo com o artigo 145º da Constituição, Chefe do
Estado, Chefe do Governo, Comandante-Chefe das forças da
defesa e serviços de segurança, conforme o nº 04 do artigo
262º, assim como, presidente do partido, que dirige o
governo no poder. Entendemos desta forma que os agentes
das forças da defesa e segurança do Estado, que ao abrigo
da lei se subordinam-se ao Presidente da República, ao
invés de proteger os cidadãos, agem em defesa dos
interesses do partido que, ao mesmo tempo, é governo no
poder e Estado. Conforme o nº 2 do artigo 225º da
Constituição da República de Moçambique de 2004, revista em
2018, as nomeações do Presidente e Vice-Presidente do
Tribunal Supremo, assim como, do Presidente do Tribunal
Administrativo, segundo o nº 2 do artigo 228º; do
Presidente do Conselho Constitucional, segundo a alínea a)
do artigo 241º e do Procurador e Vice-Procurador da
República de acordo com o nº 1 do artigo 238º, são feitas
pelo presidente da República.
Isto em nosso entender faz com que os Tribunais e a
Procuradoria da República não sejam efectivamente
independentes, para agir contra os ilícitos praticados por
membros, seja do Estado, do Governo, ou do partido no
poder, tendo em conta a forma como os seus representantes
são nomeados para o exercício da função. Assim, em nossa
análise a Constituição moçambicana e, em vigor, é
contraditória no que diz respeito a separação de poderes,
pois embora esta tenha sido estatuída no artigo 134º, é o
Presidente da República que concentra todos os poderes,
inibindo assim a liberdade dos diferentes órgãos de exercer
o seu poder com independência. Portanto a Constituição de
Moçambique e, em vigor, é mais política, ou seja, defende
mais os interesses políticos do partido e do governo no
poder, para além de absorver muito a cultura ocidental.
Neste sentido, entendemos que não representa a vontade do
povo moçambicano (individual ou coletivamente) ou seja, não
reflete os elementos fundamentais do povo moçambicano na
sua diversidade cultural e outras tendências colectivas
fundamentais de que se servem os cidadãos para se conduzir
e que podiam servir de base para a elaboração da
Constituição, para que o povo se sinta reflectida nela. Em
nossa análise o cidadão moçambicano não é submetido a igual
tratamento, perante a lei. A justiça moçambicana é forte
para os fracos e fraca para os fortes.

Ética e Deontologia Profissional na Educação (Conceitos,


princípios e exemplos concretos do quotidiano).
Do ponto de vista etimológico, a palavra ética tem origem
grega: ethos, que significa morada coletiva e vida
coletiva. Por isso que o conceito de ética é usado para
ações que promovam o bem comum ou a justiça no meio social.
Os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que
privilegiassem a boa vida e o bem viver entre os cidadãos,
e isso atrelou à ética o significado de modo de ser ou
caráter. Ou seja, um modelo de vida a ser adquirido ou
conquistado pela humanidade por intermédio da disciplina
rígida que lhe formaria o caráter e que seria transmitida
aos jovens pelos adultos.
Na Grécia o homem aparece no centro da política, da
ciência, da arte e da moral, visto que, para sua cultura,
até os deuses eram humanos com seus defeitos e suas
qualidades. O primeiro filósofo a escrever sobre Ética foi
Aristóteles: Ética a Nicômaco (que era filho dele) e Ética
a Eudemo (que era aluno dele).
Os filósofos gregos sempre subordinaram a Ética aos
conceitos de felicidade da vida presente e de bem soberano.
Nos textos antigos, Ética quase sempre parece estar
relacionada com desejo inato ao homem de buscar a
realização do bem supremo.
A filosofia grega se preocupa com a reflexão sobre Ética
desde o princípio. Haja vista que Ética, ou a sede de
justiça, se constitui como uma das três dimensões da
filosofia. As outras duas seriam a teoria e a sabedoria.
Em Roma, Ética passa a ser denominada: “mores”; que
significa “moral”. No direito romano a palavra ética se
refere a normas de conduta ou a princípios que regem a
sociedade, ou um determinado grupo, e em uma determinada
época. Isso funcionaria como uma espécie de Lei.
A ética é histórica, uma vez que está solidificada em
noções de valor, que mudam à medida que se descobrem novas
verdades. O agir ético não será apenas um simples acto de
reproduzir ações das gerações anteriores, mas uma atividade
reflexiva que oriente a ação a seguir num determinado
momento da vida pessoal.
Na medida em que surgem questionamentos sobre a validade de
determinados valores ou costumes, e a realidade exige novos
valores que possam orientar a ética, surge a necessidade de
uma teoria que justifique esse novo agir, visto que é
impossível a ação ética sem que o agente compreenda os
aspectos racionais desta ação. Neste momento aparecem os
filósofos que produzem uma reflexão teórica que oriente a
prática, ou a crítica do viver ético.

ÉTICA E DEONTOLOGIA DOS PROFESSORES MOÇAMBICANOS

Samuel,J.2003

Ética é um princípio que deve nortear a qualquer indivíduo


dentro do seu contexto para o garante da socialização amena
nas relações inter e intra-pessoais. Por isso, actualmente,
no mundo profissional, a ética se associa à Deontologia que
é a base fundamental da execução e prática profissional de
um profissional, uma vez que ele (profissional) deve ser
dentro do seu sector. É neste prisma que se propõe em
estudar a Ética e Deontologia dos professores moçambicanos
para averiguar a sustentabilidade destes conceitos na
aplicação prática da vida dos moçambicanos, com o objectivo
de apresentar uma reflexão em torno das práticas docentes
na vertente da Ética e Deontologia dos professores em
Moçambique.

MAZULA (2005:36) afirma que não é possível esgotar a


reflexão sobre a ética e nunca se esgotará, pois, o
percurso histórico mostra que a ética foi e é uma
preocupação da humanidade de todos os tempos. A Ética, numa
perspectiva filosófica, “é concebida como parte da
Filosofia que se ocupa de costumes, da moral, dos deveres
do Homem; ciência que trata da ambivalência entre o bem e o
mal e estabelece o código moral de conduta.
Posto isto, OLIVARES (2009), considera Ética como uma
ciência que estuda os valores e virtudes do homem
estabelecendo um conjunto de regras de conduta e de postura
a serem observadas para que o convívio em sociedade possa
se dar de forma ordenada e justa. Por isso, vários
estudiosos na matéria afirmam que a Ética não é uma opção,
mas uma necessidade, visto que ninguém pode viver sem uma
normativa ética.

valor da ética nos documentos da igreja a luz da doutrina


social da igreja

MORAL CRISTÃ DO OCIDENTE: A BASE DO DIREITO?

GONÇALVES, J

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 consagra como


direito fundamental a liberdade de religião, afirmando que
o Brasil é um país laico. Nesse sentido, o Estado deve se
preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de
perfeita compreensão religiosa, na tentativa de evitar a
intolerância e o fanatismo. Deve haver uma divisão muito
acentuada entre o Estado e a Igreja (religiões em geral),
devendo, entretanto, o Estado prestar proteção e garantia
ao livre exercício de todas as religiões.
Essa laicidade do Estado funciona perfeitamente no papel.
No entanto, na prática, o País tem assistido a inúmeras
ações embasadas na moral religiosa. O Supremo Tribunal
Federal determinou a permissão do uso das células-tronco
apenas para fins de pesquisa e não para tratamento livre –
após ouvir diversos setores da sociedade civil, sobretudo,
líderes religiosos – e tal pesquisa não abrange as células-
tronco embrionárias.
O Congresso Nacional às vezes tem evitado discussões acerca
da união estável entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que
as bancadas católicas e evangélica temem perder os votos
dos praticantes confessos de tais crenças. Votar
favoravelmente a um projeto desses poderia gerar perda de
votos em um novo
pleito, já que a decisão implicaria choque com o conceito
bíblico que dá à homossexualidade o status de pecado.

Situação similar ocorre com a questão do aborto.


Estudos mostram que clínicas clandestinas de aborto acabam
por ter procedimentos perigosos e nocivos à população. Os
parlamentares omitem posicionamento para a legalização do
aborto, receosos de perderem votos nas próximas eleições
daqueles que acreditam que só Deus pode dar ou retirar a
vida humana. Mas a associação do Direito com a religião
acompanha o Homem há muito tempo.
Em toda a história da humanidade, o ser humano demonstra
ter se alicerçado na experiência religiosa, sobretudo, como
condutora e norteadora das suas relações sociais (família,
grupo de amigos etc.). Isso porque, desde os primórdios, o
Homem procura projetar no transcendente(divindade) todos os
seus anseios e temores, expectativas e limitações. Emmanuel
Kant afirma em sua obra Crítica da Razão Pura3 que nós
somos seres criadores de Deus e não seres criados por Ele.
Kant diz: como posso conceber um ser cuja essência
extrapola os domínios e limites da minha existência? Ou
seja, se eu não tenho acesso a Deus pelos sentidos, se eu
não posso tocá-lo, cheirá-lo, ouvi-lo, olhá-lo, degustá-lo,
como posso dizer que Ele existe? Daí a ferrenha crítica ao
pão como corpo de Cristo, proposto pelo Cristianismo
Católico de Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
Ressalte-se aqui que, mesmo antes, durante a Antiguidade
Clássica, com o predomínio do pensamento grego, os
filósofos, mesmo com intenção inicial de distanciamento da
divindade, metaforicamente ofereciam subsídios da
existência de um outro plano perfeito, referindo-se ao
nosso mundo real como cópia deste mundo ideal. Platão em O
mito da caverna aborda que só conhecemos as sombras da
realidade do mundo das ideias.
Ele usa a metáfora de homens acorrentados dentro de uma
caverna virados de costas para a entrada que, diante da
escuridão que os cerca, conseguem enxergar apenas as
sombras da realidade, passando a ter acesso apenas a uma
cópia do mundo ideal. Neste mito, Platão sugere a Filosofia
como possibilidade de quebra de destas correntes para que o
homem tenha acesso ao mundo das ideias, longe dos dogmas e
dos paradigmas. Ele que foi aluno de Sócrates e mestre de
Aristóteles, em sua obra República (PLATÃO, 2001), trata de
encontrar uma definição filosófica da justiça, para
contrapô-la às definições da opinião comum.
Segundo o pensamento de muitos estudantes de mestrado e
doutorado em Platão ou na Filosofia Grega, hoje se admite
que este tal mundo das ideias, em que tudo é perfeito, é a
base que orientou várias crenças e religiões para
fundamentarem o conceito de divindade como Ser Perfeito, e
nós, puras cópias imperfeitas (imagem e semelhança segundo
a Bíblia cristã).
Claro que com enfoque diferente e também disfarçado de
discurso científico não teológico. Heidegger, já na
contemporaneidade, dirá que as coisas se mostram e se
apresentam a nós como são em si, enquanto essência.
E nós precisamos entender com profundidade o que elas
realmente são, não tentando avaliar o que achamos das
coisas, mas sim o que elas são essencialmente e como elas
se mostram.
Cabe aqui evidenciar a Teoria do Conhecimento que orienta a
distinção entre ôntico e ontológico. O ôntico é a
aparência, o periférico, a visão superficial das coisas, já
o ontológico é a essência, o ser em si. Viés também de
ordem metafísica é o que aparece na afirmação heideggeriana
de que: o homem é um ser para a morte, a única certeza que
a humanidade tem é que começa a morrer no dia em que
nasceu, estando sujeita à morte em qualquer momento
(HEIDEGGER, 2000).
Sem esse passeio pela História da Filosofia – desde Platão
(mundo das ideias enquanto ideal de perfeição), passando
por Agostinho (1988) – evidência do transcendente a partir
da crença – e Tomás de Aquino (comprovação científico-
teológica da existência de Deus a partir de cinco causas),
depois por Emmanuel Kant (não é possível alcançar Deus
pelos sentidos), até Heidegger (a humanidade é falível,
imperfeita, só está certa da morte) – é impossível tentar
entender a experiência religiosa nas relações sociais. O
homem, directa ou indiretamente, sempre se norteou pela
sistematização do pensamento proposta pela Filosofia ou
Teologia. Quer para assumir divindade ou para questioná-la.
Por mais que acreditemos (crença) que Deus (ou o
Transcendente) existe e nos criou, não podemos deixar de
reparar que se trata de uma cômoda visão (E. Kant), na qual
posso projetar num ser ideal todas as minhas qualidades e
limitações, agradecendo-Lhe quando consigo algo positivo
(Obrigado, Senhor!), ou pedindo quando necessito (Ajude-me,
Senhor!), ou ainda criticando quando algo dá errado (Meu
Deus, por que me abandonastes?).
Ressalve-se ainda que o Direito e a forma política, na qual
se organiza a nossa sociedade (MACHIAVELLI, 2001), possuem
o estatuto moral – geralmente alicerçado em valores
religiosos, sobretudo cristãos – como base da ética que
norteia as leis que nos julgam, enquanto sociedade. Daí a
afirmação de que há experiência religiosa nas relações
sociais. Julgamos as pessoas de nosso convívio geralmente a
partir do conjunto de crenças que possuímos.
A preocupação em estudar a relação do Direito com a
Religião não se constitui numa tentativa recente, segundo
Palma (2006, p.16): “os pioneiros desta formidável
conjugação teórica foram, muito provavelmente, os famosos
teólogos espanhóis Francisco de Vitória e Francisco Suarez.
Posteriormente, pensadores como Montesquieu (em O Espírito
das Leis) e Samuel Puffendorf, igualmente, trataram de
enveredar por esta esfuziante trilha.”
Também os juristas tendem a estabelecer os muitos pontos de
contato existentes entre esses dois campos do saber e isso
é perceptível em alguns clássicos da ciência jurídica. O
jurista italiano Pasquale Stanislao Mancini (2003, p.93)
defendia que o Direito deveria se condicionar inteiramente
a certas leis cujo legislador é Deus. Assim também pensam:
Francesco Carnelutti (em As misérias do processo penal,
p.84); Michel Villey (em Filosofia do Direito: definição e
fins do Direito, p.88); Dalmo de Abreu Dallari(em A
afirmação histórica dos Direitos Humanos, p.17).
Para João de Oliveira Filho (em Origem cristã dos direitos
fundamentais do homem), é justamente a religião cristã a
responsável pela gênese dos direitos fundamentais.
Há um manancial profícuo que percorre as entrelinhas das
Sagradas Escrituras. “Muitas das pregações de Cristo
estavam intimamente associadas a um contexto onde as
divergências de cunho legal imperavam.
[...] os ensinamentos de Cristo, em grande parte,
encontram-se situados na órbita do Direito.” (PALMA,
2006,p.18-21)19
Ressalte-se que se observará que as leis possuem
considerável relação com o Decálogo. Palma afirma que estes
famosos “Dez Mandamentos”, considerados por Bobbio (1992,
p.56-57) “o código moral por excelência do mundo cristão”,
tornaram-se a síntese jurídica de todas as leis que compõem
o vasto universo da Torah (o Pentateuco Cristão).
O adultério, por exemplo, é crime-pecado: “previsto no
corpo da Torah, consistia numa das mais graves infrações
enunciadas pelo Direito Hebraico.” (PALMA, 2006, p.37) E já
“era considerado crime nas legislações orientais dos povos
circunvizinhos a Israel. (...) Em relação ao mesmo delito,
a Lei Judaica, por sua vez, era mais severa, pois não
admitia qualquer possibilidade de remissão.” (PALMA, 2006,
p.38). Em última análise, pode-se inferir sim que o
estatuto moral religioso – as se considerar todo o percurso
pela história das religiões e suas leis internas aqui
estudado evidencia-se como a base do Direito. Arriscaria
até afirmar que os sentimentos religiosos se projetam na
orbe jurídica.
Claro que essa análise tem por base o Direito no Brasil.
Será que se essas reminiscências do sagrado não fossem a
base das nossas leis, alguns assuntos polêmicos (sob o
ponto de vista da religião) já não estariam com legislações
específicas, como o aborto, a legalização do uso de drogas
ou o tratamento por células-tronco? Aqui não se quer
sugerir que o País deva ou não se abrir a tais discussões,
mas pretende-se questionar a postura manifesta de Estado
laico.

Referencias bibliográficas
AGOSTINHO. Confissões. 9. ed. (tradução de J. Oliveira
Santos e A. Ambrósio de Pina). Petrópolis: Vozes, 1988.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CARNELUTTI, Francesco. As Misérias do Processo Penal.
Traduzido por José Antônio Cardinalli. 2.ed. Campinas:
Bookseller, 2002. DALLARI, Dalmo de Abreu. A Afirmação
Histórica dos Direitos Humanos. 2.ed. São Paulo: Saraiva,
2001.
HEIDEGGER, Martin. Conferências e Escritos Filosóficos.
(tradução e notas Ernildo Stein). São Paulo: Nova Cultural,
2000.
MACHIAVELLI, N. O príncipe. 34. ed. (tradução, prefácio e
notas Lívio Xavier). Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
MANCINI, Pasquale Stanislao. Direito Internacional. Ijuí:
Inijuí, 2003.21 MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis (Título
original Del'Espirit des Lois revisto por Saulo Krieger).
Trad. Jean
Mealville. 15. ed. São Paulo: Martin Claret, 2005.
OLIVEIRA FILHO, João de. Origem cristã dos direitos
fundamentais do homem. Publisher, Forense, 1968.Original
from University of Texas.
PALMA, Rodrigo Freitas. O Julgamento de Jesus Cristo:
Aspectos Histórico-Jurídicos. Curitiba: Juruá, 2006.
PLATÃO. República. (tradução e adaptação em Portugues de
Marcelo Perine; coordenação de António Valverde) São
Paulo: Scipione, 2001.
Brasília a. 34 n. 136 out./dez. 1997 Revista de Informação
Legislativa

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