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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto


SUSTENTA no distrito de Gurúe (2017-2019)

Licenciando: Alide Força Amade

Supervisor: Hinervo Marqueza, PhD.

Maputo, Setembro de 2019


Alide Força Amade

Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no


distrito de Gurúe (2017-2019)

Trabalho de fim do curso a ser apresentado ao


Departamento de Ciência Política e
Administração Pública, Faculdade de Letras e
Ciências Sociais da Universidade Eduardo
Mondlane, como requisito parcial para obtenção
do grau de Licenciatura em Administração
Pública.

Maputo, Setembro de 2019.


Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Trabalho de Fim do Curso apresentado em cumprimento dos requisitos exigidos para a


obtenção do grau de Licenciatura em Administração Pública na Faculdade de Letras e
Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.

O Licenciando
(Alide Força Amade)

O Presidente

_______________________________

(Mestre Tomás Heródoto Fuel)

O Supervisor

_________________________________

(Professor Doutor Hinervo Chico Marqueza)

O Oponente

_________________________________

(Mestre Arlindo Manhiça)

Maputo, Setembro de 2019


DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro, por minha honra, que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado, na sua
essência, para a obtenção de qualquer grau académico e que constitui o resultado da minha
investigação, estando indicadas no texto e nas referências bibliográficas, as fontes que utilizei
para sua elaboração.

O Licenciando

___________________________

(Alide Força Amade)

i
DEDICATÓRIA

Aos meus progenitores, os principais responsáveis


pelos meus estudos.

ii
AGRADECIMENTOS

Para realização deste trabalho só foi possível através de auxílio prestado por várias pessoas.
A todas essas pessoas gostaria de manifestar a minha pura e mais profundo agradecimento,
especialmente: Ao Professor Doutor Hinervo Marqueza, meu supervisor, pela abertura que
teve em aceitar a difícil tarefa de supervisionar este trabalho, sobretudo, pelo encorajamento,
pela paciência, pelas críticas, correções, sugestões feitas durante a sua elaboração e por todo
apoio concedido, sem o qual não seria possível a realização deste trabalho. Á todos
professores da Universidade Eduardo Mondlane que ao longo deste curso dispensaram a
devida atenção e me ensinaram os primeiros passos para investigação científica.

Aos funcionários da Direção provincial do Projecto SUSTENTA na Zambézia, especialmente


ao Coordenador provincial José Manuel Gonçalo; engenheiro agrónomo Ismael Assane;
extensionista rural Constantino José da Costa e aos funcionários do Serviço Distrital de
Planeamento e Infra-estrutura e Serviço Distrital de Actividades Económica de Gurué, pela
abertura e disponibilidade no fornecimento das informações.

Aos meus irmãos, Aboo Força Amade; Aibo Força Amade; Isac Força Amade, Abdala
Amade Força, Macassar Amade Força, Rukussana Ismael Saide, meus amigos Abass Inácio,
Sapuea, mana Nelita Inácio Sapueia, mano Vagner, Arafat, Munzala Ussene, Isac Saíde,
Juma Quemua e Ambari Omar, pelos conselhos e encorajamento que sempre me deram para
que eu pudesse seguir com esta difícil tarefa de estudar.

À minha namorada Muanema Alfane Amade e aos meus colegas do curso, especialmente, ao
Leonel Paulo Saimone, Maria Macuacua, José Chiau, Daniel Sónia, Francisco Ricardo,
Zefanias Vasco Cossa, Francisco Cinquenta, Zuhaire Assane, Lucas Catique pelo
companheirismo e sobretudo pelo apoio e encorajamento prestado durante a realização deste
trabalho.

Finalmente, devo uma palavra de agradecimentos ao meu director do colégio Camaria Ittifaq:
Cássimo David; o director adjunto Pedagógico Raja Jamal que incondicionalmente aceitaram
o meu pedido de alojamento durante a minha formação de licenciatura. E meus colegas do
quarto, Marzuk Amade Imbuacura, Guivan Manuel Ajudante, Ibraimo Mucussete, Amade
Assane, Salomão, Nicolau, Charama e Izamodine Juma, pela amizade e companheirismo ao
longo do curso. Meus tios Zeferino Aldes e Ismael Saide e a todos que directa e
indirectamente contribuíram para a elaboração deste trabalho vai o meu muito obrigado!

iii
EPÍGRAFE

A cultura científica permite saber que há formas de conhecer aquilo que não sabemos.

J. Eduardo Carvalho (2009)

iv
RESUMO

O presente estudo debruça sobre a Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento


Rural, caso concreto do projecto SUSTENTA no distrito de Gurué dentro do período de 2017
a 2019”. O estudo tem como objectivos: avaliar a implementação do projecto SUSTENTA na
sua contribuição para o desenvolvimento rural e combate a pobreza; verificar em que medida
os objectivos traçados nesse projecto estão a ser alcançados; mostrar as mudanças e as
melhorias resultantes da sua implementação; e captar percepções do grupo-alvo de que forma
o projecto contribui para o seu desenvolvimento rural. A metodologia proposta situa-se no
plano de um estudo qualitativo-quantitativo, e usou-se uma abordagem indutiva, métodos de
procedimento estatístico e monográfico ou estudo de caso, cuja colecta de dados se
circunscreveu em entrevistas, inquéritos e análise documental; e em termos de orientação
teórica, tivemos Theodoulou e Cahn como referências. Os resultados obtidos confirmam em
primeiro plano que projecto SUSTENTA é relevante na consistência das penúrias da
população do meio rural e a sua implementação contribui no aumento da produtividade
criando condições para que dos cerca dos 100% abrangidos pelo projecto utilizem
fertilizantes ou pesticidas e oportunidade de usar sementes melhoradas. E sobre o
financiamento do agronegócio para actores de cadeia de valor; capacitação e formação dos
PACE’s, PME’s, SUSTENTA foi eficaz na medida em que privilegia a técnica demostrativa
e transfere conhecimentos multidisciplinares para os beneficiários, ao mesmo tempo que
fornece um vasto leque de serviços aos beneficiários. Todavia, as condições relacionadas com
estradas rurais e infra-estruturas de irrigação e a melhoria da expansão da rede comercial
ainda não foram concretizadas.
Palavras-chave: Avaliação de Políticas Públicas; Desenvolvimento rural; Projecto
SUSTENTA; Gurué.

v
ABSTRACT

This research discuss about the Evaluation of Public Policys of Rural Development, in the
specific case of the project SUSTENTA in the district of Gurué from 2017 to 2019”. The
research has as objectives:: evaluate the implementation of the SUSTENTA project in its
contribution to rural development and poverty alleviation; check to what extent the objectives
set in that project are being achieved; show the changes and improvements resulting from
their implementation; and capture target group perceptions of how the project contributes to
its rural development. The proposed methodology is based on a qualitative and quantitative
study, using an inductive approach, statistical and monographic procedure methods or case
study, whose data collection was limited to interviews, surveys and document analysis; and in
terms of theoretical orientation, we had Theodoulou and Cahn as references. The results
obtained confirm in the foreground that the SUSTENTA project is relevant in the consistence
of rural population shortages and its implementation contributes to the increase of
productivity creating conditions for the 100% of the project to use fertilizers or pesticides and
the opportunity to use improved seeds. What about agribusiness financing for value chain
actors; Capacity building and training of PACE's, PME's, SUSTENTA has been effective in
that it emphasizes demo technique and transfers multidisciplinary knowledge to beneficiaries
while providing a wide range of services to beneficiaries. However, conditions related to
rural roads and irrigation infrastructure and improved commercial network expansion have
not yet been met.
Keywords: Public Policy Evaluation; Rural development; SUSTENTA project; Gurué.

vi
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

CV Cadeia de Valor

DCA Desenvolvimento da Cadeia de Valor

DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra

EDR Estratégia de Desenvolvimento Rural

GdM Governo de Moçambique

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INE Instituto Nacional de Estatística

MASA Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar

MG Financiamento Correspondente (Matching Grant)

MITADER Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

MIP Manual de Implementação do Projecto

ORAM Organização de Ajuda Mútua

PA’s Pequenos Agricultores

PACE’s Pequenos Agricultores Comerciantes Emergentes

PEDA Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrícola

PIB Produto Interno Bruto

PME’s Pequenas e Medias Empresas.

PQG Plano Quinquenal do Governo

PROAGRI O Programa Nacional da Agricultura

ROSA Rede das Organizações para a Segurança Alimentar

SDAE Serviços Distrital de Actividades Económicas

SDPI Serviços Distrital de Planeamento e Infra-estrutura

vii
Índice
DECLARAÇÃO DE HONRA ............................................................................................................ i
DEDICATÓRIA ............................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... iii
EPÍGRAFE ...................................................................................................................................... iv
RESUMO.......................................................................................................................................... v
ABSTRACT..................................................................................................................................... vi
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS ..............................................................................................vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................................. iii
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
1.1. Contextualização................................................................................................................ 6
1.2. Problematização ................................................................................................................. 9
1.2.1. A Questão de Partida ................................................................................................ 13
1.2.2. Hipóteses.................................................................................................................. 13
1.3. Objectivos do Estudo ....................................................................................................... 14
1.3.1. Geral ........................................................................................................................ 14
1.3.2. Específicos ............................................................................................................... 14
1.4. Justificativa e Relevância do Tema em Estudo.................................................................. 14
1.5. Delimitação do Tema ....................................................................................................... 16
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 17
2.1. Tipos de avaliação de políticas públicas ................................................................................ 19
2.2. Critérios de Avaliação de Políticas Públicas .......................................................................... 21
2.3. Referencial teórico ................................................................................................................ 23
2.4. Conceptualização .................................................................................................................. 24
2.4.1. Políticas públicas............................................................................................................ 24
2.4.2. Avaliação de Políticas públicas....................................................................................... 25
2.4.3. Desenvolvimento rural ................................................................................................... 26
2.4.4. Projecto SUSTENTA ..................................................................................................... 27
2.4.5. Modelo de Análise ......................................................................................................... 27
CAPÍTULO III: METODOLOGIA.................................................................................................. 30
3.1. Tipo de Pesquisa ................................................................................................................... 30
3.2. Método de Abordagem.......................................................................................................... 31
3.3. Método de Procedimento ...................................................................................................... 31
3.4. Técnicas de Pesquisa............................................................................................................. 31
3.5. População e Amostra ............................................................................................................ 32
3.6. Limitações do Estudo............................................................................................................ 33
CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............... 34
4.1. Breve Caracterização Geral do Distrito de Gurúe .................................................................. 34
4.1.1. Organização Administrativa e Governação ..................................................................... 35
4.2. Descrição do Projecto SUSTENTA ....................................................................................... 35
4.2.1. Natureza dos Beneficiários do Projecto SUSTENTA ...................................................... 36
4.2.2. Critérios de Elegibilidade ao SUSTENTA .......................................................................... 37
4.3. Componentes do Projecto...................................................................................................... 38
4.3. Relevância do Projecto SUSTENTA ..................................................................................... 39
4.4. O Nível de Alcance dos Objectivos do Projecto SUSTENTA ................................................ 44
4.4.1. Financiamento de Agronegócios para Cadeia de Valor ................................................... 44
4.4.1.1. Mecanismos de Co-financiamento ............................................................................... 45
4.4.2. Capacitação e Formação dos PACE’s, PME’s Rurais. ..................................................... 50
4.4.2.1. Fortalecimento Institucional dos Governos Locais ....................................................... 54
4.4.3. Melhoria de Infraestrutura Rural..................................................................................... 55
4.4.4. Principais Culturas Promovidas pelo SUSTENTA no Gurué e seu Impacto no Rendimento
................................................................................................................................................ 58
4.4.5. SUSTENTA na Geração de Emprego e Rendimento ....................................................... 61
4.4.6. Execução Global do SUSTENTA ................................................................................... 65
4.5. Mudanças e Melhorias Resultantes da Implementação do Projecto SUSTENTA .................... 67
4.6. Percepção do Grupo Alvo sobre a Contribuição do SUSTENTA para o Desenvolvimento Rural
.................................................................................................................................................... 68
4.7. Um Olhar Crítico dos Resultados .......................................................................................... 70
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 74
Recomendações............................................................................................................................... 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 77
ANEXOS ........................................................................................................................................ 82
APÊNDICES................................................................................................................................... 84
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras
Figura 1: Modelo de análise………………………………………………………………….26

Figura 2: Ligação de mercado……………………………………..……..…………………..69

Tabelas
Tabela 1: Divisão administrativa de Gurué…………………………………………………..32

Tabela 2: Requisitos de comparticipação ……………………………………….…………...43


Tabela 3: Localização dos beneficiários de financiamento do Projecto SUSTENTA em Gurué
(2017-2019)………………………………………………..…………………………………45
Tabela 4: Matérias de capacitação aos beneficiários………………………………………...49

Tabela 5: Áreas de formação/ funcionários capacitados do distrito de Gurué…………….....77


Tabela 6. Disposição de meios circulantes e informáticos para o reforço a capacitação
institucional……………………………………………………………………………..........51

Tabela 7: Produção por cultura…………………………………………………………..…..55


Tabela 8: Impacto das culturas no Rendimento……………………………………………...56

Tabela 9: Variação da receita por cultura…………………………………………………....57


Tabela 10. Execução global do SUSTENTA……………….……………………..…………63

Tabela 11: Lista dos entrevistados………………………………………….………………..84

Gráficos
Gráfico 1: PACEs e PAs beneficiários de Formação; Capacitação e assistência técnica…....50

Gráfico 2: Opinião dos beneficiários sobre o SUSTENTA na promoção de emprego…...….59


Gráfico 3: Idade dos beneficiários………………………………………………………...….61
Gráfico 4: Nivel de escolaridade dos PACEs e PA……………………………….………….62
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

O Desenvolvimento rural que consiste na melhoria das condições de vida da população que
habita no meio rural, tem sido desde sempre uma prioridade para Moçambique, por isso com
a tomada de posse de um novo Governo em Fevereiro de 2015, após eleições gerais, a nova
administração adoptou o Plano Quinquenal do Governo (PQG) 2015-2019, com forte ênfase
no desenvolvimento rural, através da promoção de actividades produtivas nas áreas rurais
com foco nas províncias centrais e setentrionais, particularmente na agricultura e na
silvicultura 1.

É neste âmbito que surge o projecto SUSTENTA com objectivo de integrar as famílias rurais
na agricultura sustentável e nas cadeias de valor florestal na área do projecto e, no caso de
uma crise ou emergência elegível, dar resposta imediata e efectiva a essa crise ou emergência
elegível.

Dentro desse contexto, o presente estudo tem como título: “Avaliação de Políticas Públicas
de Desenvolvimento Rural. O caso do projecto SUSTENTA no distrito de Gurúe (2017-
2019) ”, cujo objectivo geral é avaliar a implementação do projecto SUSTENTA na sua
contribuição para o desenvolvimento rural e combate a pobreza.

O projecto SUSTENTA tem quatro componentes, nomeadamente: desenvolvimento de


cadeias de valor baseadas na agricultura e na silvicultura. A segunda que é a Garantia dos
direitos de posse da terra e aumentar a resiliência dos recursos naturais; a terceira que
consiste na coordenação e Gestão do Projecto e finalmente, Resposta à Emergência.

Para efeitos da presente pesquisa, longe de avaliar o projecto no seu todo, o estudo situa-se na
primeira componente: “Desenvolvimento de cadeias de valor baseadas na agricultura e na
silvicultura”. Neste sentido, procedemos uma pesquisa qualitativa-quantitativa, com base nos
pressupostos teóricos da Theodoulou e Cahn (2013), Public policy: the essential readings;
quanto ao tipo de avaliação foi de “resultados intermédios”, daí que se tomam como bases
apenas quatro principais critérios de avaliação: relevância, eficácia, eficiência e efectividade,

1
Manual de Implementação do Projecto Sustenta

4
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

estes que constituem instrumentos de mensuração que permitem aferir o nível de alcance dos
objectivos ou resultados de uma política/ projecto ou programa).

Este tipo de avaliação aqui proposto segundo Theodoulou e Cahn (2013) está preocupada
com a implementação do programa, isto é, procura analisar até que ponto o programa está a
atingir o grupo alvo e como é que está a ser gerido.

Em termos de organização, o trabalho é constituído por cinco capítulos fundamentais. O


primeiro capítulo abarca a introdução, que apresenta a contextualização, como forma de
perceber o contexto em que o estudo se insere; a delimitação espácio-temporal do estudo; a
justificativa que mostra as motivações e a pertinência do desenvolvimento da presente
pesquisa. A introdução comporta ainda o problema de pesquisa, os objectivos da pesquisa,
geral e específicos e a hipótese como resposta provisória à pergunta de partida levantada.

O segundo capítulo acolhe a revisão de literatura, onde se apresenta o quadro teórico e


conceptual, aqui apresenta-se o debate teórico dos diferentes autores sobre a matéria de
avaliação das políticas públicas e clarificam-se os principais conceitos que serão
operacionalizados na pesquisa.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia que serviu de auxílio para o desenvolvimento do


estudo. Faz alusão ao tipo de pesquisa, método de abordagem, método de procedimento,
técnicas de pesquisas, população e amostra.

No quarto capítulo é feita a apresentação e análise dos resultados da pesquisa. Deste capítulo
constam três secções. Onde, na primeira secção é feita uma caracterização geral do distrito de
Gurúe e a descrição do projecto SUSTENTA com base no Manual de implementação do
projecto. A segunda secção é dedicada a avaliação do projecto com base nos critérios de
avaliação recomendados pela OCDE, procurando verificar a relevância, a eficácia, a
eficiência e a efectividade do projecto.

Na terceira secção é feita a avaliação dos resultados da implementação do projecto


SUSTENTA sobre o desenvolvimento rural do grupo-alvo. Por fim, o quinto capítulo
apresentar-se-á as conclusões finais resultantes da pesquisa e as respectivas recomendações.

5
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

1.1. Contextualização

O desempenho económico de Moçambique tem sido forte desde o fim da guerra civil em
1992, mas o crescimento não tem sido inclusivo recentemente. O Produto Interno Bruto (PIB)
do país cresceu a uma média de 7,4% de 1993 a 2013, superior à média de 4,4% das
economias não-petrolíferas da África Subsaariana. O crescimento do PIB melhorou os
padrões de vida nos primeiros anos após a guerra, quando a taxa de pobreza caiu de 69% em
1996 para 56% em 2003. No entanto, a pobreza diminuiu ligeiramente de 56 para 52% entre
2003 e 2009. A renda per capita 2014 foi de 586 US$, cerca de um terço da média da África
Subsaariana. O enfraquecimento da correlação entre o crescimento económico e a taxa de
pobreza sugere que o crescimento nos últimos 12 anos tem sido menos inclusivo (MIP, 2016,
p. 22).

Conforme os dados do INE (2015) grande parte da população moçambicana permanece


envolvida na agricultura, no comércio e noutros serviços informais, marcados por baixos
níveis de produtividade e de rendimento das famílias. O último Inquérito ao Orçamento das
Famílias (IOF) 2014/15 revela que, não obstante a diminuição do índice de pobreza (de
54,7% em 2008/9, para 46,1% em 2014/5), o número absoluto de pobres aumentou em cerca
de 700.000 indivíduos (largamente concentrados nas zonas rurais) demonstrando a
incapacidade da economia em absorver o aumento populacional.

Não obstante, de 2007 a 2017, o país cresceu de 20.632.369 para 28.861.863 habitantes,
portanto em 8.229.494 indivíduos, traduzindo-se numa taxa de crescimento anual de 3,5%.
(Censo, 2017). Importa sublinhar que da população Moçambicana que vive no campo, a sua
maioria dedica-se às actividades agro-pecuárias, que é a grande fonte de rendimentos das
famílias.

Em 1995, o Conselho de Ministros aprovou, através da resolução nº 11/95, de 31 de Outubro,


a Política Agrária e suas respectivas Estratégias de Implementação, documento que se
configura como o principal instrumento de orientação em relação às intervenções que devem
ser realizadas e as formas como tais devem ser conduzidas nas áreas de Agricultura, Pecuária
e Floresta na República de Moçambique (MAFAVISSE e CLEMENTE, 2012, p. 11).

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Adicionado a essa política, Mosca (2005) assinala que os grandes objectivos da política
agrária de desenvolvimento económico do país visam a segurança alimentar, o
desenvolvimento económico sustentável, a redução de taxas de desemprego, e a redução dos
níveis de pobreza absoluta.

Porquanto, para promover, coordenar, planificar, monitorar e apoiar a realização de acções


prioritárias que conduzam à melhoria das condições de vida da população dos distritos o
Governo de Moçambique apresentou em 2007 o documento sobre a Estratégia de
Desenvolvimento Rural (EDR). Foi feito com base num outro intitulado Abordagem do
Desenvolvimento Rural aprovado pelo Conselho de Ministros em 2000. A Estratégia do
Desenvolvimento Rural é o documento que melhor aborda o meio rural, de uma forma mais
global e integrada no conjunto da economia e da sociedade e procura reflectir algumas
dinâmicas das sociedades rurais. Para esta estratégia o “desenvolvimento rural significa
transformação da composição da estrutura social, económica, política cultural e ambiental das
áreas rurais” (MAFAVISSE & CLEMENTE, 2012, p. 13)

Para além desta importante política aprovada pelo governo, de acordo com ORAM & ROSA
(2010), existem outros importantes instrumentos programáticos de orientação governativa
que tentaram materializar a ideia do desenvolvimento rural a partir do sector agrário. Em
termo de exemplo temos a destacar: O Programa Nacional da Agricultura (PROAGRI I e II);
Plano Director de Extensão Agrária ; Estratégia da Revolução Verde; a Estratégia de
Segurança Alimentar e Nutricional; a Estratégia de Desenvolvimento Agrário entre outras.

Os autores supracitados sublinham que esta Política Agrária está contida dentro do Plano de
Acção para Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), que constitui um instrumento de política
abrangente e integrado para a redução dos níveis de incidência da pobreza absoluta em
Moçambique (ORAM & ROSA, 2010).

Porquanto, percebe-se que o projecto SUSTENTA surge de certa maneira como um


instrumento com vista a alcançar os mesmos objectivos que as políticas anteriormente citadas
propunham, com enfoque no (Desenvolvimento rural) mas com as abordagens de apoio à
produção, o acesso ao financiamento, a capacitação dos agricultores e a melhoria dos serviços
de extensão rural.

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

No entanto, a emergência desse projecto é vista a partir do momento em que Moçambique


com o novo governo que tomou posse em Fevereiro de 2015, após eleições gerais, a nova
administração adoptou o Plano Quinquenal do Governo (PQG) 2015-2019, com forte ênfase
igualmente no desenvolvimento rural, através da promoção de actividades produtivas nas
áreas rurais com foco nas províncias centrais e setentrionais, particularmente na agricultura e
na silvicultura (MIP, 2016, p. 24). Percebendo-se desta maneira que o projecto SUSTENTA
surge como um dos instrumentos para o apoio a essa nova administração para a concretização
do desenvolvimento rural, efectivado através da promoção de actividades produtivas nas
áreas rurais por meio da agricultura e na silvicultura.

Então, para apoiar a implementação do PQG, o Governo, através do Ministério da Terra,


Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER), articulou uma visão para promover o
desenvolvimento rural sustentável integrado, no seu Programa Estrela, Desenvolvimento
Rural Integrado e Sustentável, 2015-2019. O Ministério da Agricultura e Segurança
Alimentar (MASA) também delineou suas estratégia e prioridades de investimento no sector
agrícola voltadas para o aumento da renda rural e para a melhoria da segurança alimentar no
Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrícola (PEDA), 2011-2020, no Plano Nacional de
Investimentos para o Sector Agrário em Moçambique, 2014-2018, nas Atribuições,
Prioridades e Desafios (PODA), 2015-2019, e o PQG 2015-2019. Portanto a nível sectorial é
aqui onde se enquadra o projecto SUSTENTA. É pertinente esclarecer que o Projecto
SUSTENTA está fortemente alinhado com as prioridades e metas de alto nível do Governo
expressas no PQG (2015-2019).

Ademais, de acordo com o MIP (2016, p. 33), SUSTENTA apoiará o PQG, concentrando-se
no aproveitamento de emprego, produtividade e competitividade para melhorar os meios de
subsistência dos moçambicanos, com ênfase específica na promoção de cadeias de valor
(CV) agrícolas baseadas em abordagens integradas e multissectoriais (Prioridade III,
Objectivo Estratégico (i) (d). A segurança da posse da terra aparece no PQG como chave para
a promoção dos direitos das comunidades locais e dos seus meios de subsistência, bem como
um ambiente mais favorável às empresas em Moçambique, que será apoiado pelo Projecto. O
Projecto apoiará igualmente a gestão sustentável e transparente dos recursos naturais e do
ambiente (Prioridade V), que inclui a melhoria do ordenamento do território e o reforço da

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

responsabilização, do acompanhamento, da supervisão e da execução dos planos elaborados,


Ecossistemas e biodiversidade, e o uso sustentável dos recursos naturais.

O Projecto está também em conformidade com as estratégias e planos de desenvolvimento


agrícola existentes do GdM. Estes incluem o plano sectorial global - PEDA 2010-2019 - e
aqueles alinhados com o mesmo, como o Plano Nacional de Investimento para o Sector
Agrário em Moçambique, 2014-2018; O Plano Director de Desenvolvimento Agro-pecuário
2013-2020.

1.2. Problematização

O desenvolvimento rural e o combate à pobreza estão no centro das prioridades do Governo


de Moçambique. Todavia, de acordo com os indicadores do PNUD (2010), Moçambique
figura na lista dos países mais pobres do mundo, ocupando o lugar 165, num total de 169
países, e a incidência da pobreza em Moçambique é de 46,1%. em 2014-2015.

Por conseguinte, a pobreza tem a sua face mais visível nas zonas rurais, onde ela é mais
acentuada, representando 55%, comparativamente com as zonas urbanas, onde ela representa
52%. De acordo com o Plano Director de Extensão Rural, esta pobreza que incide mais o
campo “é atribuída principalmente ao limitado desenvolvimento agrícola, ao
desenvolvimento limitado dos mercados e aos baixos níveis de produtividade. O potencial
agrícola não é devidamente convertido na geração de receitas e na criação de emprego de
modo tangível” (ORAM e ROSA, 2010, p. 15).

Segundo Nuvunga (2006, p. 18) a agricultura desempenha um papel importante no âmbito do


combate à pobreza, na geração de emprego rural e contribui para a segurança alimentar
familiar e nacional, além de contribuir na redução da pobreza essencialmente rural,
representando, em termos económicos, 20%, do PIB e 80% das exportações. Além disso, a
nível do país cerca de dois terços da força de trabalho encontra-se neste sector, ocupando
cerca de 90% das mulheres activas e 70% dos homens activos.2

2
Resultados obtidos atraves do Plano Director de Extensão Rural: 2007-2016, Maio de 2007; Relatório da
Inspecção de Finanças.

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

No entanto, para que os objectivos da reforma agrária fossem alcançados, a Estratégia de


Desenvolvimento Rural (EDR) previa a valorização e integração das experiências positivas
de Desenvolvimento Rural do passado; políticas e instituições públicas mais inclusivas e que
permitam que os mais pobres tenham voz própria nas suas opções de desenvolvimento,
mobilizando para tal todos os actores de desenvolvimento rural no sentido de colocar o
camponês no centro da luta contra a pobreza (NUVUNGA, 2006, p. 20).

Posto isto, para o alcance desses objectivos, existe um consenso relativamente forte sobre o
que é preciso fazer para alcançar um desenvolvimento sustentável das áreas rurais, que
permita: reduzir a pobreza, reduzir a vulnerabilidade e criar riqueza. Daí que em
Moçambique estas abordagens foram documentadas em vários planos e estratégias como o
PARPA I e II, o PES, o PROAGRI I e II, a Estratégia da "Revolução Verde", “Sete Milhões”,
Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário (PEDSA), Terra Segura, entre
outros3.

Embora haja esforço na implementação dessas políticas públicas acima mencionadas, vários
estudos já vinham apontando o dedo ao relativo fracasso das políticas de combate à pobreza
(Cunguara & Hanlon 2010; Hanlon & Smart 2008, apud Macuane, 2012, p. 61), o que foi
confirmado no Inquérito ao Orçamento Familiar (IOF 2008/9) e no Relatório de
Desenvolvimento Humano 2011, que coloca Moçambique entre os quatro países com menor
desenvolvimento humano no mundo.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), é de 0,418, tendo-se posicionado, no ano de 2015, na 181ª
posição entre 188 países. Este IDH é resultado de uma esperança média de vida de 55,1 anos,
um rendimento nacional bruto per capita de 1.123,40 USD e pelos anos esperados e médios
de escolaridade de 9,3 e 3,2 anos, respectivamente (ALMEIDA et al., 2017).

Aliado a esta penúria, Macuane (2012, p. 79) acrescenta que olhando para o caso concreto
das políticas de combate à pobreza, e tendo em conta o conhecimento produzido nesta área e
os fóruns de debate e participação existente, esta tendência denota claramente ou a falta de

3
Relatório final auditoria de desempenho ao sector agrário (2010, p. 18)

10
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

uso do conhecimento produzido nas decisões sobre as políticas públicas ou a relativa


irrelevância desses espaços de debate.

Ainda sobre o fracasso das políticas públicas de desenvolvimento rural e de combate a


pobreza, José (2014, p. 4), destaca a fragilidade do Programa “Revolução Verde”, o caso da
Jatrofa, camponeses que deixaram de produzir alimento, cultivando a Jatrofa, mas o que se
verificou é que os camponeses ficaram sem mercado para vender o produto e nem fábricas
transformadoras.

Por outro lado, o financiamento destinado à agricultura em todas as modalidades, é aplicado


de forma desarticulada, muitas vezes, sem prestação de contas e avaliação dos resultados no
terreno, o que justifica o fracasso da “Revolução Verde” e do Plano de Acção de Redução da
Pobreza (PARPA) 4.

Ora, os dados estatísticos referem que o sector da agricultura ocupa cerca de 3,3 milhões de
pequenos produtores do sector familiar, com a dimensão média de 1,1 ha de campos de
cultivo5. Os índices de produção da maioria das culturas em Moçambique são baixos. O uso
de insumos modernos e da mecanização é bastante fraco, pois dos cerca de 3,3 milhões de
produtores, apenas 3% usa fertilizantes ou pesticidas, 11% usa a tracção animal e apenas 5%
usa sementes melhoradas.

Na mesma senda, evidencias empíricas demostram que tal como em outros instrumentos, as
estratégias contidas nas duas fases do PROAGRI não conseguiram ser executadas tal como o
previsto, por forma a se alcançarem os objectivos concebidos. Como exemplo temos:

“O PROAGRI I não conseguiu operacionalizar a visão sobre a desconcentração, participação


comunitária e coordenação entre sectores, aspectos realçados na Política Agrária e Estratégia
de Implementação. Isto teve como resultado a centralização, progresso lento no apoio público
para a capacitação das comunidades e dos agricultores, assim como a fraca coordenação com
outros sectores ao nível do Governo local (ORAM & ROSA, 2010, p. 54)”.

Para além dessas fragilidades, os autores apontam outros constrangimentos tais como: a
Estratégia do PROAGRI (I e II) não ter conseguido tornar efectivo o estabelecimento de um

4
Texto de Jeremias Langa, in Jornal “O País” de 22 de Outubro de 2010.
5
PROAGRI II. 2004: Strategy Document. Maputo: (Ministry of Agriculture and Rural Development). March, in
Plano Director de Extensão Rural; Relatório da Inspecção de Finanças, 2010.

11
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Sistema Nacional de Extensão Agrária para facilitar a transformação do sector da agricultura


de pequena escala através da inovação agrária, nos termos da Política de Extensão Agrária.

Adicionado ao fracasso de as políticas públicas de desenvolvimento rural, importa lembrar


que em 2005, o Governo de Moçambique (GdM), através da Lei 12/2005 de 23 de Dezembro,
decidiu alocar fundos de investimentos aos Governos Distritais, em operacionalização da Lei
08/2003 de 19 de Maio, que determina que os distritos são unidades de gestão e execução
orçamental. Estes fundos foram providenciados com o objectivo de criar capacidades locais
de geração de emprego, incluindo auto-emprego, a partir de projectos concebidos localmente,
e que fossem capazes de contribuir para o aumento da produção e da riqueza. Salientar que
esta política foi relevante.

Portanto, algumas evidências empíricas demostram o fracasso dessa política pública. De


acordo com Castel-Branco, os 7 milhões de meticais dos fundos de desenvolvimento distrital
não tem impacto nenhum nos programas distritais pois:

“Primeiro, os ditos "sete milhões" são valores demasiados pequenos para fazer mudanças de estrutura
em Moçambique. Ao todo, os distritos recebem por ano 2% do orçamento geral do Estado (OGE) e
0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique. Porque é que 2% do OGE deveria alcançar o
que os restantes 98% não alcançam?” 6

Ademais, conforme afirmações de alguns membros de uma associação de produtores na Província de


Sofala: o fundo de 7 milhões está muito distante de alcançar um resultado posetivo, porque o seu
acesso era com base em critérios menos claros e (menos) transparentes. Este fundo tinha muitos
problemas nos distritos. Sabe-se que este programa do Governo é muito bom, mas o problema é das
pessoas que manuseavam este fundo. Acontece que existem associações fantasmas que se
beneficiavam deste fundo e que não eram residentes nos respectivos distritos7.

Porquanto, os dados a cima são preocupantes para os Moçambicanos, pois o Sector Agrário é
um dos sectores prioritários do Plano de Acção para a Redução da Pobreza. Assim, se não
houverem resultados na agricultura, não se pode falar em combate à pobreza.

6
Castel-Branco, Nuno. In Jornal Savana, de 08 de Outubro de 2010.
7
Membros de uma associação de produtores, Província de Sofala, Beira, Outubro de 2010 apud ORAM e
ROSA (2010, p. 35-36).

12
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Tal como afirma o estudo da ORAM E ROSA (2010, p. 37), referindo que as conclusões da
auditoria das Finanças mostram que não há resultados na Agricultura, conclusão que foi
confirmada no terreno por parte dos entrevistados, que referiram que, de facto, os níveis de
produção estão a baixar por falta de apoio do Governo aos camponeses.

Entretanto, diante dessa penúria que se verifica na implementação das políticas públicas de
desenvolvimento rural e de combate à pobreza, surgem várias inquietações, por exemplo do
por quê haver um descompasso entre aquilo que é a intenção ou objectivos pré-definidos
nessas políticas públicas com a realidade dos seus resultados? Com base no exposto acima,
este estudo sobre a avaliação das políticas públicas de desenvolvimento rural, se concentrará
no projecto SUSTENTA com vista a perceber se os resultados esperados deste projecto estão
a ser alcançados de forma eficiente, eficaz e efectiva.

Ora, visto que a referida política traz como base uma abordagem ao apoio à produção, o
acesso ao financiamento, a capacitação dos agricultores e a melhoria dos serviços de extensão
rural, há que questionar se de facto mudará a situação das políticas que outrora foram
implementadas que no entanto os resultados não foram dos melhores.

Posto isto, tomando em consideração com os constrangimentos acima expostos que tendem a
mostrar fragilidades na implementação das políticas públicas de desenvolvimento rural, o
presente estudo propõe-se a responder a seguinte questão de partida como o fio condutor da
pesquisa:

1.2.1. A Questão de Partida


 Em que medida a implementação do projecto SUSTENTA contribui para o
desenvolvimento rural e o combate à pobreza no Distrito de Gurué?
1.2.2. Hipóteses

Na tentativa de dar resposta à questão de partida levantada toma-se de base a seguinte


hipótese:

H1: Provavelmente a implementação do projecto SUSATENTA criou o desenvolvimento


rural para os agregados familiares, PACE’s e PME’s na medida em que a sua implementação

13
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

incorpora como base o apoio à produção, o acesso ao financiamento, à capacitação dos


agricultores e a melhoria dos serviços de extensão rural.

H2: Apesar do SUSTENTA trazer uma nova abordagem, a sua implementação não criou o
desenvolvimento rural para os agregados familiares, PACE’s e PME’s.

1.3. Objectivos do Estudo


1.3.1. Geral
 Avaliar a implementação do projecto SUSTENTA na sua contribuição para o
desenvolvimento rural.
1.3.2. Específicos
 Verificar até que ponto os objectivos traçados no projecto SUSTENTA estão a ser
alcançados;
 Apresentar as mudanças e as melhorias resultantes da implementação do projecto
SUSTENTA;
 Captar percepções do grupo-alvo de que forma o projecto contribui para o seu
desenvolvimento rural.
1.4. Justificativa e Relevância do Tema em Estudo

Com a pesquisa realizada, poder-se-á ajudar para a compreensão do contributo das políticas
públicas no contexto do desenvolvimento rural, pois conhecer os resultados da
implementação dessas políticas públicas permite vislumbrar melhor os efeitos das acções do
Governo para o desenvolvimento rural e da própria administração pública. Em Moçambique
já foram alvos de muitos estudos em matéria sobre avaliação de políticas públicas de
desenvolvimento rural, tais como: o fundo dos “sete milhões”, PROAGRI, o Programa
“Revolução Verde” etc, mas para o caso do projecto SUSTENTA, os estudos ainda são
escassos, isto porque se trata de um projecto bastante novo que a sua implementação foi
lançada oficialmente em 2017, daí que esta pesquisa é uma das primeiras que apresenta
resultados da sua avaliação. Por outro lado, são raros os estudos sobre os efeitos das políticas,
dos programas, projectos e das acções estatais voltadas à população rural e/agrícola.

Ademais, a escolha do projecto SUSTENTA está no facto deste ser um projecto com
Destaque no reforço do desenvolvimento Rural com uma abordagem meramente diferente, o

14
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

que coloca esta iniciativa num patamar elevado, quando comparada a outras estratégias
orientadas para o desenvolvimento rurais já levadas a cabo no país.

O que se pretende neste estudo não é falar da Política agrária, mas sim analisar o grau de
implementação do projecto SUSTENTA, olhando para os objectivos que apresenta e a
consistência deste para a solução dos problemas propostos no Sector Agrário com relação ao
desenvolvimento da agricultura, bem como os principais resultados alcançados.

Tal desejo passa necessariamente por analisar o que foi feito em torno deste projecto, o que
está sendo feito, o que ainda se pode fazer, e verificar resultados tangíveis em relação aos
objectivos da implementação do projecto SUSTENTA.

Este estudo é relevante do ponto de vista social e científico. Do ponto de vista social, os
resultados da pesquisa podem ser úteis para as Instituições governamentais chave a nível
subnacional, especialmente para o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural
(MITADER), Ministério de Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) e governos
provinciais e distritais, assim como os outros beneficiários do projecto tais como: agregados
familiares rurais, PACEs, PMEs, visto que os resultados desta pesquisa permitirão reunir
informações sobre o desempenho do SUSTENTA, de modo a auxiliar na decisão de continuar
ou alterar e recomendar o que deve ser feito em torno das melhorias e sucesso na
implementação do projecto.

Do ponto de vista científico, este tema é relevante na medida em que procura trazer
evidências empíricas para o debate sobre o desenvolvimento rural em Moçambique no geral e
em Gurué em particular, através de avaliação deste projecto também contribuirá teoricamente
para o desenvolvimento da literatura em torno de avaliação de políticas públicas em
Moçambique.

A escolha do distrito de Gurúe deveu-se pelo facto deste, fazer parte dos cinco primeiros
Distrito da província da Zambézia onde o projecto SUSTENTA se concentra. Tal como
preconiza a Direcção do Observatório do Meio Rural através do Destaque Rural nº 19 de
Março de 2017, o SUSTENTA concentra-se em cinco distritos de Nampula (Mecuburi,
Laláua, Ribáue, Malema e Rapale) e cinco da Zambézia (Gurúe, Alto Molócue, Ile, Gilé e
Mocuba)
15
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

O segundo factor da escolha da região em estudo deriva do conhecimento prévio acerca das
condições agro-climáticas, e da rede hidrográfica do Distrito de Gurúe. A referida região é
conhecida em Moçambique como o “celeiro” da província da Zambézia, pelo destaque que
apresenta dos bons solos, a precipitação elevada e o clima que são favoráveis para as
actividades agrícolas em geral e particularmente para culturas de rendimento como Chá com
maior expressão, Soja, Feijões, Tabaco, Girassol, Batata reno e Hortícolas que estão a ser
produzidas muito abaixo da capacidade do Distrito.

A razão da escolha do período (2017-2019) reside no facto de que neste primeiro período
(2017) ter sido o ano em que SUSTENTA foi lançado oficialmente pelo presidente da
República, Filipe Jacinto Nyussi, em Ribaué, no dia 17 de Fevereiro de 2017. E (2019) é um
ano que o governo decide expandir o projecto SUSTENTA para todo país e por outro lado, o
SUSTENTA está fortemente alinhado com as prioridades e metas de alto nível do Governo
expressas no PQG que vai em curso até 2019.

1.5. Delimitação do Tema

O objecto de estudo que se propõe avaliar é o projecto SUSTENTA no período compreendido


entre 2017 a 2019 no distrito de Gurúe. Este projecto é composto por quatro componentes a
seguir respectivamente: (i) Desenvolvimento de cadeias de valor baseadas na agricultura e na
silvicultura; (ii) Garantia dos direitos de posse da terra e aumentar a resiliência dos recursos
naturais; (iii) Coordenação e Gestão do Projecto e (iv) Resposta a Emergência. Longe de
avaliar o projecto no seu todo, o estudo situa-se na primeira componente (Desenvolvimento
de cadeias de valor baseadas na agricultura e na silvicultura).

A tipologia de avaliação levada a cabo nesta pesquisa é a avaliação de resultados intermédios,


daí que se tomam como bases apenas quatro principais critérios de avaliação: relevância,
eficácia, eficiência e efectividade, estes que constituem instrumentos de mensuração que
permitem aferir o nível de alcance dos objectivos ou resultados de uma política/ projecto ou
programa).

16
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

Neste espaço apresenta-se o debate, ou seja, as evidências que a literatura existente apresenta
em torno da questão de avaliação de políticas públicas.

De acordo com Rocha (2010, p. 18), os autores considerados clássicos em matéria, de


avaliação de políticas públicas destaca-se nomeadamente, Edward Quade (1975), Analysis for
Public Decisions, e William Dunn (1981), que apresentam modelos semelhantes no que se
refere a avaliação cujos passos se resumem em “definição do problema; previsão de
alternativas; recomendação da acção política, determinação dos outcomes das políticas e
avaliação da performance, ou dos resultados de implementação das políticas”.

Secchi (2013), aponta que a avaliação da política pública é a fase em que o processo de
implementação e o desempenho da política pública são examinados com o intuito de
conhecer melhor o estado da política e o nível de redução do problema que gerou. É o
momento-chave para a produção de feedback sobre as fases antecedentes. A avaliação
compreende a definição de critérios, indicadores e padrões (performances standards). O ciclo
de política pública tem um fim no momento da sua morte ou extinção. Entretanto, algumas
políticas públicas continuam vivas ou são substituídas por outras. As políticas do tipo
redistributivo (por exemplo: décimo terceiro salário) são difíceis de serem extintas, como
também as políticas do tipo distributivo

Como destaca Souza (2006, p. 37), “a política pública envolve processos subsequentes após
sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação”.

Relativamente a essas fases da política pública, a literatura existente não há consenso quanto
ao que seja avaliação de políticas públicas. Ala-Harja e Helgason (2000), esclarecem que o
conceito de avaliação admite múltiplas definições e variedades de disciplinas (economia,
formulação de políticas e procedimentos administrativos, sociologia etc.) e stakholders
abrangidas no universo das avaliações.

Para Cotta (2001), a avaliação é, por definição, pesquisa social aplicada: busca um equilíbrio
entre o rigor metodológico e técnico de uma investigação social e o pragmatismo e
flexibilidade necessários a um instrumento de apoio ao processo decisório. Avaliar significa

17
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

formar um juízo de valor com base na comparação entre uma situação empírica e uma
situação ideal.

De acordo com Theodoulou e Cahn (2013), a avaliação tem como objectivo central
determinar se as políticas/programas/projectos implementados estão a alcançar os objectivos
pré-determinados.

Segundo Thoenig (2000), a avaliação pode ser definida como um meio de aperfeiçoar a
capacidade de aprender como conduzir mudanças bem-sucedidas e definir resultados
alcançáveis nos campos da eficiência e eficácia públicas.

Para Guba e Lincoln (2011) apud Silva et al (2016, p. 1437), argumentam que não existe
nenhuma forma correta de definir avaliação, pois, se fosse possível encontrar esse sentido,
isso colocaria fim, de uma vez por todas à discussão acerca de como a avaliação deve ser
conduzida e sobre quais são seus propósitos. A avaliação, tal como a democracia, é um
processo que, em sua melhor forma, depende da utilização sábia e bem informada dos
interesses pessoais.

Trazendo para este debate Arretche e Brant (2006, p. 88), salientam que avaliação julga,
valoriza, informa, interpreta, identifica os dados a serem alterados na acção das políticas e
programas sociais públicos. É preciso uma concepção totalizante de avaliação que busque
apreender a acção desde a sua formulação até sua implementação, execução, seus resultados e
impactos. Não é uma avaliação apenas de resultados, mas também de processos. Não é
apenas uma avaliação que mede quantitativamente os benefícios ou malefícios de uma
política ou programa, mas que qualifica decisões, processos, resultados e impactos.

Para Theodoulou e Cahn (2013, p. 2), uma forma pela qual os programas ou políticas podem
ser avaliados em termos de prestação de contas é por meio de uma avaliação formal. Assim, o
valor real do programa ou avaliação de política é que ela permite que a capacidade da conta
seja medida empiricamente. A realização de uma avaliação permite que os formuladores de
políticas recebam informações precisas sobre as principais questões políticas que surgem da
implementação de qualquer política ou programa.

18
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

O que diferencia avaliações de políticas de outros tipos de avaliação é, primeiro, seu foco em
resultados ou Consequências. A avaliação de políticas públicas é feita após a implementação
da política. Em outras palavras, a política/programa ou projecto deve ter sido implementado
por um determinado período de tempo. Terceiro, os objectivos da política ou programa são
fornecidos aos avaliadores. O objectivo principal da avaliação é reunir informações sobre o
desempenho de um determinado programa, de modo a auxiliar na decisão de continuar,
alterar ou encerrar (THEODOULOU e CAHN, 2013, p. 2)

Portanto, a partir da literatura acima apresentada percebe-se que a avaliação de políticas


públicas é pertinente na medida em que permite obter resultados da implementação das
políticas/programas ou projectos que possam auxiliar na tomada de decisão por parte dos
decisores ou implementadores das respectivas políticas.

2.1. Tipos de avaliação de políticas públicas

Em relação à classificação dos tipos de avaliação também não há consenso nos autores. De
acordo com Figueiredo e Figueiredo (1986) as pesquisas de avaliação de políticas públicas se
enquadram em dois tipos básicos: a avaliação de processos e a avaliação de impactos. A
primeira refere-se à aferição da eficácia: se o programa está sendo (ou foi) implementado de
acordo com as diretrizes concebidas para a sua execução e o seu produto atingirá (ou atingiu)
as metas desejadas. A segunda diz respeito aos efeitos do programa sobre a população alvo.

Por outro lado, Parsons (2005) apud Sitoe & Lumbela (2013) salienta que é possível ter dois
principais tipos de avaliação: A avaliação formativa e a avaliação sumativa. Assim para
este autor refere que avaliação formativa, normalmente, é aquela que acontece durante a
implementação do programa/projecto e procura analisar até que ponto o programa/projecto
está a ser implementado e se as condições que podem garantir uma implementação de sucesso
estão criadas. Na avaliação formativa monitora-se o modo como o programa/projecto está a
ser gerido, o que no final do dia pode servir para melhorar o desempenho do
programa/projecto e o processo de implementação. Esta avaliação procura ver até que ponto
os objectivos estratégicos estão (ou podem) ser alcançados”.

Avaliação sumativa – é aquela que é feita após a implementação do programa/projecto e que


procura medir até que ponto o programa/projecto teve algum impacto no problema que se
19
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

pretendia resolver. Este tipo de avaliação visa também determinar se o projecto foi
implementado de forma eficiente e se alcançou/atingiu os beneficiários pretendidos (SITOE e
LUMBELA, 2013).

Para esta pesquisa enquadra-se nas tipologias de avaliação apresentadas por Theodoulou
(2013), assim, para ela, sugere três tipos de avaliações, sendo: Avaliação de processo,
resultados intermédios (outcome evaluation) e avaliação de impacto.

Avaliação do processo: Para Theodoulou e Cahn (2013), este tipo de avaliação está
preocupada com a implementação do programa. Procura analisar até que ponto o programa
está a atingir o grupo alvo e como é que está a ser gerido. Uma avaliação do processo procura
olhar para os seguintes aspectos:

 Determinar porquê a política/programa/projecto está com o nível actual de


desempenho;

 Identificar possíveis problemas que ocorrem durante a implementação;

 Desenvolver soluções para os problemas; e

 Melhorar o desempenho através das recomendações

A Avaliação dos outcomes (outcome evaluation): focaliza a sua atenção para o nível em que
a política está a atingir os seus objectivos em relação ao grupo alvo. Está preocupada com os
outputs e até que ponto estes vão assegurar atingir os resultados esperados; Para tal, pode
fazer análise da efectividade, incluindo os custos 8.

Avaliação de impacto: Este tipo de avaliação, normalmente é feita após término da


implementação da política/programa/projecto, procura verificar até que ponto o programa
está a ter impacto na população alvo. (SITOE & LUMBELA, 2013, p.53).

De acordo com Dye (2017), o impacto de uma política também pode incluir seus efeitos
simbólicos. Ainda para o mesmo autor, é um impacto simbólico a percepção que os
indivíduos têm sobre a acção do Governo e suas atitudes em relação a ele.

8
Ibidem

20
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Na perspectiva desse autor o impacto da política não é o mesmo que o "resultado da política".
Essa ideia é consolidada por Sitoe & Lumbela (2013, p.53), ao afirmar que, a avaliação de
impacto difere da avaliação dos resultados intermédios pois esta última está preocupada em
avaliar como é que os objectivos e as metas estão a ser alcançados, enquanto a avaliação de
impacto procura analisar até que ponto o grupo alvo está a ser afectado de algum modo pela
implementação da política.

Tendo apresentado a tipologia de avaliação que a literatura apresenta, importa salientar que o
tipo de avaliação que irá efectivar-se no presente trabalho é a avaliação dos resultados
intermédios, isto porque a preocupação deste trabalho é de perceber o nível em que o projecto
SUSTENTA está a atingir os seus objectivos em relação ao grupo alvo. Deste modo, os
critérios usados na avaliação dos resultados intermédios são: relevância, eficácia, eficiência
e efectividade, que na secção a seguir serão descritos.

2.2. Critérios de Avaliação de Políticas Públicas

Quanto aos critérios de avaliação, Costa e Castanhar (2003), esclarecem que são medidas
para a aferição do resultado obtido. Para esses autores os critérios mais comuns de avaliação
são: eficiência; eficácia; impacto (ou efetividade); sustentabilidade; análise custo-efetividade;
satisfação do beneficiário; equidade; insumos (inputs); carga de trabalho (workload);
resultados (outputs); custos (costs) e qualidade e oportunidade dos serviços (service quality
and timeliness). Secchi (2013), relaciona como os principais critérios: economicidade;
produtividade; eficiência económica; eficiência administrativa; eficácia e equidade.

Porquanto, longe de descrever todos critérios acima mencionados, para este trabalho toma-se
como base a combinação e definições de critérios fornecidos pela OCDE e em particular os
critérios relativos a avaliação de resultados intermédios.

Assim, Relevância analisa até que ponto o programa/projecto em causa é relevante para o
problema e para o grupo-alvo. Esta é a medida em que a actividade de ajuda é adaptada às
prioridades e políticas do grupo alvo. Ao avaliar a relevância de um programa ou um
projecto, é útil considerar as seguintes questões: Até que ponto os objectivos do programa
continuam válidos? Se as actividades e os resultados do programa estão em conformidade
com o objectivo geral e a realização dos seus objectivos? Se as actividades e os resultados do
21
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

programa estão de acordo com os impactos e efeitos pretendidos? (SITOE E LUMBELA


2013, p. 54).

Eficiência refere-se ao esforço necessário para produzir um determinado grau de


efectividade. Eficiência é sinónimo de racionalidade económica. Melhor maneira de
determinar a eficiência é comparar os custos de oportunidade de uma determinada alternativa
versus outra existente. Além de que o programa pode ser ineficiente em termos de custos,
mas ser muito bom em termos de atingir os objectivos de longo prazo, (SITOE E
LUMBELA, 2013, p.54).

A eficiência diz respeito ao grau de aproximação e à relação entre o previsto e realizado, no


sentido de combinar os insumos e os implementos necessários à consecução dos resultados
visados (BELLONI, MAGALHÃES e SOUSA, 2001, p. 62).

Adicionado a isto, para Fagundes e Moura (2009, p. 100) a eficiência de uma política social
ou de um programa social estabelece a correlação entre os efeitos dos programas (benefícios)
e os esforços (custos) empreendidos para obtê-los. Traz como referência o montante dos
recursos envolvidos, buscando aferir a otimização ou desperdício dos insumos utilizados na
obtenção dos resultados. Uma política/programa é eficiente quando tira o máximo partido dos
recursos disponíveis.

Eficácia de acordo com a OCDE (1991) apud Sitoe & Lumbela (2013) é uma medida do grau
de alcance dos objectivos de uma actividade de ajuda. Ao avaliar a eficácia de um programa
ou um projecto, é útil considerar as seguintes perguntas: Em que medida os objectivos foram
atingidos/são susceptíveis de ser alcançados? Quais foram os principais factores que
influenciam a realização ou não dos objectivos? Na eficácia analisa-se até que ponto os
objectivos traçados foram alcançados. (SITOE & LUMBELA, 2013, p. 54).

Para Cohen & Franco (2012, p.102) a eficácia refere-se ao "grau em que se alcançam os
objectivos e metas do projecto da população beneficiária, em um determinado período de
tempo, independentemente dos custos implicados" Desta forma, a eficácia de uma política
pública está relacionada aos resultados que o programa produz sobre a sua população
beneficiária (efeitos) e sobre o conjunto da população e do meio ambiente (impactos).

22
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

No caso desta pesquisa, o projecto SUSTENTA será eficaz se a sua implementação estiver a
alcançar os objectivos pelos quais foram definidos, a demais, se trouxe mudanças e melhorias
e se tais mudanças e melhorias são a solução de problemas (Desenvolvimento rural) que se
propunha resolver.

A efectividade é o conceito que revela em que medida a correspondência entre os objectivos


traçados em um programa e seus resultados foram atingidos (BELLONI, MAGALHÃES E
SOUSA, 2001).

Nesta linha de pensamento, para Fagundes & Moura (2009, p. 100) a avaliação da efetividade
diz respeito, propriamente, ao estudo do impacto do planejado sobre a situação, à adequação
dos objetivos definidos para o atendimento da problemática, objeto da intervenção, ou
melhor, ao estudo dos efeitos da ação sobre a questão, objeto do programa ou política.

A avaliação da efectividade questiona a proposta, os objectivos e a acção desenvolvida, não


em termos de sua capacidade de execução, mas em termos de sua capacidade de dar respostas
adequadas ao desafio posto pela realidade por inteiro (cobertura), no limite do âmbito da
intervenção da acção planejada (BAPTISTA, 2000, p. 32 apud FAGUNDES & MOURA,
2009, p. 101)

2.3. Referencial teórico

Este trabalho insere-se nos pressupostos teóricos apresentados pela Theodoulou e Cahn
(2013), Public policy: the essential readings. Para esses autores a avaliação de políticas
Públicas pode ser melhor definida como um processo pelo qual julgamentos gerais sobre
qualidade, alcance de metas, eficácia de programas, impacto e custos podem ser
determinados. E por outro lado toma-se como base a combinação e definições de critérios de
avaliação apresentados pela OCDE (relevância, eficácia, eficiência e efectividade). A escolha
dos pressupostos teóricos sugeridos por esses autores está no facto de mostrar-se mais
sistemática e de fácil compreensão, e pelo facto do presente trabalho tomar como base uma
avaliação dos “resultados intermédios” este que é por sua vez um dos tipos de avaliação
sistematizados por estes autores.

23
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Segundo a PNUD (2009, p. 56), os resultados intermédios/outcomes fornecem uma visão


clara do que mudou ou mudará globalmente ou em uma determinada região, país ou
comunidade dentro de um período de tempo. Eles normalmente relacionam-se com mudanças
no desempenho ou comportamento institucional entre indivíduos ou grupos. Os resultados
intermédios/outcomes normalmente não podem ser alcançados por uma única agência e não
estão sob controle directo de um gerente de projecto.

A avaliação de resultados intermédios mede os efeitos do programa no público-alvo,


avaliando o progresso dos resultados que o programa deve atingir. O objectivo de uma
avaliação de resultados intermédios é caracterizar até que ponto o conhecimento, atitudes,
comportamentos e práticas mudaram para os indivíduos ou entidades que receberam a
intervenção ou que foram alvos da política em relação aos que não foram (THEODOULOU E
KOFINIS, 2004).

Os resultados intermédios (outcome) descrevem as mudanças pretendidas nas condições de


desenvolvimento resultantes das intervenções dos Governos e outras partes interessadas,
incluindo agências internacionais de desenvolvimento como o PNUD. São resultados de
desenvolvimento de médio prazo criados através da distribuição de outputs e das
contribuições de vários parceiros e não parceiros (PNUD, 2009, p. 56).

Porquanto, esses pressupostos ajudam a perceber que a avaliação do projecto SUSTENTA,


permitirá reflectir os efeitos dos resultados imediatos ou de médio prazo deste projecto para
os agregados familiares, PACEs, e os PMEs e todos beneficiários em geral do projecto.

2.4. Conceptualização

Os principais conceitos da presente pesquisa são: Políticas públicas, Avaliação de Políticas


públicas; Desenvolvimento rural, Resultado intermédio e Projecto SUSTENTA.

2.4.1. Políticas públicas

Para Souza (2006), não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja política
pública. Pode-se resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao
mesmo tempo, “colocar o Governo em acção” e/ou analisar essa acção e, quando necessário,
propor mudanças no rumo ou curso dessas acções.

24
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Segundo Secchi (2013), qualquer definição de política pública é arbitrária. O autor afirma
que política pública é um conceito abstracto que se materializa por meio de instrumentos
variados (projectos, leis, campanhas publicitárias, esclarecimentos públicos, decisões
judiciais, gasto público directo, contratos formais) e que a forma mais didáctica de esclarecer
um conceito é utilizar exemplos. Assim, são exemplos de operacionalizações de políticas
públicas nas diversas áreas de intervenção: saúde; educação; segurança, gestão; meio
ambiente; saneamento; habitação; previdência social etc.

As políticas públicas para Guba e Lincoln (2011), são as acções realizadas,


predominantemente e directa ou indirectamente pelo Estado para atender a demanda dos
diferentes grupos sociais, seja beneficiando alguns ou prejudicando outros.

Assim, percebe-se que políticas públicas são decisões que são tomadas pelos governos para a
satisfação das necessidades da colectividade. Sendo que o projecto SUSTENTA como uma
política publica surge para apoiar as comunidades rurais na melhoria do desenvolvimento
rural e contribuindo na satisfação das suas necessidades para o combate a pobreza.

2.4.2. Avaliação de Políticas públicas

A avaliação de políticas consiste em revisar uma política implementada para ver se está
fazendo o que foi mandatado. As consequências desses programas de políticas são
determinadas pela descrição de seus impactos ou pela verificação de sucesso ou falha de
acordo com um conjunto de padrões estabelecidos (THEOUDOULOU, 2013, p. 1).

Ala-Harja e Helgason (2000, p. 8) definem avaliação em termos simples, afirmando que “o


termo compreende a avaliação dos resultados de um programa em relação aos objectivos
propostos”.

O Comité de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE assinala que o propósito da


avaliação é determinar a pertinência e alcance dos objectivos, a eficiência, efectividade,
impacto e sustentabilidade do desenvolvimento. A avaliação deve proporcionar informação
que seja crível e útil para permitir a incorporação da experiência adquirida no processo de
tomada de decisão. A avaliação deve ser vista como um mecanismo de melhoria no processo
de tomada de decisão, a fim de garantir melhores informações, sobre as quais eles possam

25
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

fundamentar suas decisões e melhor prestar contas sobre as políticas públicas (ALA-HARJA
E HELGASON, 2000).

De acordo com Dye (2017), avaliação de política pública é a aprendizagem sobre as


consequências de uma política pública. A aprendizagem referida pelo autor significa,
portanto, a verificação das acções implementadas com o intuito de perceber até que ponto
estas acções estão em conformidade com os objectivos pré-determinados na
política/programa/projecto. É de salientar que esta aprendizagem sobre as consequências de
uma política pública constitui um exercício científico, daí que deve ser feito de forma
objectiva, sistemática e empírica.

Para esta pesquisa adoptou-se o conceito de avaliação proposto por Dye (2017) visto que da
avaliação do projecto que se pretende fazer espera-se perceber até que ponto as suas acções
estão em conformidade com os objectivos pré-determinados na política/programa/projecto,
conforme como sugere o autor.

2.4.3. Desenvolvimento rural

De acordo com a CONDRAF (2013, p.13) o conceito de desenvolvimento está associado à


ideia de criação de capacidades - humanas, políticas, culturais, técnicas etc.- que permitam às
populações rurais agir para transformar e melhorar suas condições de vida, por meio de
mudanças em suas relações com as esferas do Estado, do mercado e da sociedade civil.
Porquanto, o desenvolvimento rural deve ser abordado necessariamente como um processo
social multifacetado e multidimensional de melhoria das condições de trabalho e de vida das
populações rurais, de eliminação das desigualdades económicas e sociais no campo e de
preservação do património ambiental existente para as novas gerações9.

Adicionado a esse conceito, de acordo com Mosca (2005), o Desenvolvimento Rural é


entendido como “o processo da melhoria das condições de vida, trabalho, lazer e bem-estar
das pessoas que habitam nas áreas rurais”

Porquanto esse autor sublinha que o desenvolvimento rural não é uma etapa de curto prazo,
nem um mérito somatório de objectivos e intenções, ou simples acumulação de recursos e

9
Idem, (2013, p. 14)

26
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

capacidades no campo. É um processo de mudança de longo prazo, cheio de variados


conflitos, compromissos e opções, muitos dos quais mutuamente exclusivos, que requerem
decisões selectivas” (MOSCA, 2011).

Importa sublinhar que este conceito de desenvolvimento rural apresentado por Mosca (2005),
é pertinente para este trabalho, tendo em conta que o estudo objectiva analisar até que ponto o
projecto SUSTENTA contribui para o desenvolvimento rural, do conceito apresentado por
autor supracitado permitirá perceber se SUSTENTA contribui para a melhoria das condições
de vida, trabalho e bem-estar dos agregados familiares, PACE’s, e as PME’s que habitam nas
zonas rurais e que constituem grupo alvo deste projecto.

2.4.4. Projecto SUSTENTA

O projecto SUSTENTA materializa os objectivos e metas do Programa Nacional de


Desenvolvimento Sustentável e consiste na gestão Integrada de agricultura e recursos
naturais. O objectivo do SUSTENTA é estimular a economia rural, através da integração das
famílias rurais no desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis, com base agrícola e
florestal, de forma a melhorar a sua renda e qualidade de vida, com respeito pela conservação
ambiental. A estratégia de implementação do projecto passa pelo apoio à produção, acesso a
financiamento, capacitação dos agricultores e melhoria dos serviços de extensão agrícola 10.

O SUSTENTA é uma iniciativa de âmbito nacional que será implementado ao longo de 5


anos, cuja primeira fase abrange as províncias de Nampula e Zambézia. O Projecto pretende
criar impacto no desenvolvimento da agricultura familiar e visa atingir mais de 125.000
famílias rurais, que representam cerca de 700 indivíduos, 200 pequenos agricultores, 50
pequenas e médias empresas de agro-negócio e as instituições governamentais locais. 11

2.4.5. Modelo de Análise

De forma a orientar a fase de recolha e análise de dados, partindo da hipótese estabelecida


para o desenvolvimento do estudo, construiu-se um modelo de análise, composto pelas
variáveis dimensões e indicadores.

10
Comunicado de imprensa 14 de fevereiro de 2017
11
Direcção do Observatório do Meio Rural. Destaque rural nº 19. SUSTENTA, oportunidades e riscos, (2017).

27
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Antes de apresentar o modelo de análise, importa explicar a natureza e perspectiva da nossa


pergunta de partida, que é: “Em que medida a implementação do projecto SUSTENTA
contribui para o desenvolvimento rural e o combate à pobreza?”.

Por conseguinte, entendemos o projecto SUSTENTA, como variável independente e o


desenvolvimento rural e o combate à pobreza, como uma variável dependente, isto é, o
projecto SUSTENTA como variável que influencia directamente o desenvolvimento rural e o
combate à pobreza, e por isso afirma-se, que quando forem cumpridos os objectivos do
projecto SUSTENTA, então este projecto contribuirá para a melhoria da qualidade de vida do
grupo-alvo, e o inverso seria, quando não forem cumpridos os objectivos do projecto
SUSTENTA, então este não contribuirá para a melhoria da qualidade de vida do grupo-alvo.

Para isto, com base nos critérios selecionados para esta pesquisa tomamos a efectividade
como a dimensão principal entendido como a correspondência entre os objectivos traçados no
projecto e seus resultados foram atingidos; a medida do grau de alcance dos objectivos
macros, ou por outra, os efeitos produzidos sobre o grupo-alvo do projecto SUSTENTA.
Tanto a eficácia assim como a eficiência foi operacionalizada pelos seguintes indicadores:
Financiamento de agronegócios para cadeia de valor; custos administrativos envolvidos;
capacitação e formação dos PACE’s, PME’s rurais; critérios de elegibilidade dos
beneficiários do projecto, principais culturas e trabalhos levados a cabo pelos agricultores,
empregos criados pelo projecto, melhoria de Infra-estrutura Rural.

28
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Figura 1: Modelo de análise

Variáveis Dimensões Indicadores

 Capacitação e formação dos PACEs, PMEs rurais;

Projecto SUSTENTA Eficácia  Culturas promovidas pelos agricultores;

(Variável independente) Efectividade  Empregos promovidos pelo projecto;

 Melhoria de Infra-estrutura Rural.

Eficiência  Financiamento de agronegócios para cadeia de valor;

 Custos administrativos envolvidos


Desenvolvimento rural
e combate a pobreza

(variável dependente)

Fonte: Elaborado pelo autor.

29
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

CAPÍTULO III: METODOLOGIA

Neste capítulo, se pretende mostrar como será desenvolvido o estudo, partindo das diversas
técnicas com vista ao maior entendimento do assunto em discussão. Através da adopção de
uma metodologia qualitativa e quantitativa, este capítulo é constituído pelos itens referentes
ao tipo de pesquisa, método de abordagem, método de procedimento, técnicas de pesquisa,
população e amostra e limitações do estudo.

3.1. Tipo de Pesquisa

Segundo os critérios de classificação de pesquisa apresentados por Prodanov e Freitas (2013),


o tipo de pesquisa levado a cabo para este estudo classifica-se quanto à natureza e a
abordagem do problema.

Sendo assim, quanto à natureza: o estudo é uma pesquisa aplicada, que é aquela que
“objectiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas
específicos, envolvendo verdades e interesses locais” (PRODANOV e FREITAS, 2013, p.
51). Seguindo esta lógica, o proveito deste estudo é a sua aplicação prática, na tentativa de
dar algum contributo no que concerne ao desenvolvimento rural e combate a pobreza e
especialmente no processo de avaliação das políticas públicas em Moçambique.

Quanto à abordagem do problema: o estudo é uma pesquisa qualitativa e quantitativa.


Qualitativa por ser uma pesquisa em que a maior preocupação é a interpretação dos
fenómenos e a atribuição de significados (PRODANOV E FREITAS, 2013). Então, servindo-
se das técnicas qualitativas, será possível interpretar e comentar os resultados da
implementação do projecto SUSTENTA na sua contribuição para o desenvolvimento rural.
Quantitativa, na medida em que se recorrerá ao uso de técnicas estatísticas, convertendo as
opiniões dos beneficiários ou o grupo alvo deste projecto e todos os intervenientes na
implementação do SUSTENTA em dados numéricos.

Desta forma, de acordo com Fonseca (2002), entende-se que a utilização conjunta de
pesquisa qualitativa e quantitativa permite com que o pesquisador recolha mais informações
do que se poderia conseguir utilizando as duas pesquisas isoladamente.

30
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

3.2. Método de Abordagem

O método de abordagem que foi usado neste estudo é o hipotético-dedutivo. Para Karl
Popper apud Prodanov; Freitas (2013), o método hipotético-dedutivo parte de um problema,
onde deve ser oferecido uma solução provisória, uma teoria-tentativa, passando-se depois a
criticar a solução, com intuito de eliminação do erro.”, o que pressupõe que, através deste
método se estabeleceu uma hipótese, e avaliou-se o projecto SUSTENTA partindo do
problema verificadas na implementação das politicas publicas de desenvolvimento rural.

3.3. Método de Procedimento

Os métodos de procedimento adoptados para o desenvolvimento do estudo, são: o método


estatístico e método monográfico ou estudo de caso. O método estatístico, que constitui
importante auxílio para a investigação em ciências sociais, fundamenta-se na aplicação da
teoria estatística, onde é possível determinar em termos numéricos o acerto de determinadas
conclusões (GIL, 2008). Sustentando-se deste método, será aplicada a técnica estatística para
a aferição de opiniões dos beneficiários ou o grupo alvo do projecto SUSTENTA,
particularmente o inquérito por questionário, que será convertido em dados numéricos na sua
descrição.

Quanto ao método monográfico ou estudo de caso, que “parte do princípio de que o estudo de
um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de
todos os casos semelhantes, que podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades,
etc.” (Gil, 2008, p. 18), por meio deste método, o distrito de Gurúe constituirá o centro de
desenvolvimento do estudo, onde será efectivada a parte empírica da pesquisa.

3.4. Técnicas de Pesquisa

Para o desenvolvimento do presente estudo, aplicou-se as seguintes técnicas de recolha de


informação: bibliográfica, pesquisa documental, entrevista semiestruturada e inquérito
por questionário.

Na pesquisa bibliográfica recorreu-se ao material já escrito sobre avaliação das políticas


públicas e o desenvolvimento rural onde abrangeu livros, artigos científicos, dissertações e
teses. Na pesquisa documental recorreu-se aos documentos publicados pelas diversas

31
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

instituições credíveis. Podendo ser documentos de primeira mão, que são aqueles que ainda
não receberam qualquer tratamento analítico; e os documentos de segunda mão, que são
aqueles que, de alguma forma, já receberam algum tratamento analítico (GIL, 2008).

Assim, nos documentos de primeira mão, o principal destaque vai para o Manual de
Implementação do Projecto SUSTENTA, PQG (2015-2019). Quanto aos documentos de
segunda mão, o destaque vai para os relatórios publicados em diferentes instituições e outros
documentos oficiais sobre as políticas de desenvolvimento rural com mais destaque o sector
agrário tais como: Os relatórios da implementação de SUSTENTA, Estratégia de
Desenvolvimento Rural (EDR), PROAGRI I e II, FDD entre outros.

Em segunda instância, foram usadas as fontes relativas à documentação directa, através de


observação directa intensiva (Marconi e Lakatos, 2009), que consiste na realização de
entrevistas focalizadas, onde o enfoque é um tema bem específico, neste caso avaliação do
SUSTENTA, permitindo com que o entrevistado fale livremente sobre o assunto (Gil, 2008).
A técnica de entrevista foi aplicada para poder colher de forma profunda as opiniões dos
implementadores do SUSTENTA, e as opiniões dos beneficiários do mesmo.

Esta técnica foi combinada com a observação directa extensiva (Marconi e Lakatos, 2009),
por meio de inquérito por questionário, que foi dirigido ao grupo alvo, com vista a colher o
maior número de opiniões possíveis sobre a contribuição do SUSTENTA para o
desenvolvimento rural.

3.5. População e Amostra

Partindo da compreensão de que a população ou o universo é um conjunto de indivíduos que


possuem mesmas características definidas para um determinado estudo, neste caso, a
principal característica deste estudo é beneficiar-se do projecto SUSTENTA. Assim, a
população do presente estudo passa a ser composta por todo grupo alvo do projecto
SUSTENTA no distrito de Gurué que utiliza recursos agrícolas e florestais para a sua
subsistência em um número de 317 indivíduos.

Quanto à amostra como um subconjunto da população, se definiu uma amostra total de 50%
que corresponde a 158 indivíduos do grupo-alvo no distrito de Gurué, seleccionada com base

32
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

na amostragem estratificada proporcional. Com base neste tipo de amostragem, se dividiu a


população em 3 estratos: (i) Pequenas e Médias Empresas (PMEs); (ii) Pequeno Agricultor
Comercial Emergente (PACE) e (iii) o Pequeno Agricultor. Com vista a trazer a fundo a
nossa análise, para além dos três estratos acima, selecionou-se também as Instituições
governamentais-chave responsáveis pela implementação do SUSTENTA para a recolha de
dados, dessas instituições as entrevistas foram aplicados em 2 (dois) técnicos do MITADER;
1 técnico do MASA; 1 técnico dos Serviços Distritais de Actividade Económica (SDAE); 4
técnico do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estrutura (SDPI) de Gurué; 2 (dois)
responsáveis da Direcção Provincial do SUSTENTA em Mocuba; e 4 extensionistas rurais do
SUSTENTA em Gurué.

O tipo de amostragem que se emprega é probabilista, de carácter aleatório simples esta, que
de acordo com Quivy & Campenhoudt (2008), baseia-se na escolha aleatória dos
pesquisados, significando o aleatório que a selecção faz-se de forma que cada membro da
população tenha a mesma probabilidade de ser escolhido. A escolha deste tipo de
amostragem justifica-se pelo facto de este permitir a utilização de tratamento estatístico dos
dados colhidos, que possibilita compensar erros amostrais e outros aspectos relevantes para a
representatividade e significância da amostra.

3.6. Limitações do Estudo

Tomando em consideração que nesta pesquisa a nossa posição foi de avaliadores externos,
enfrentamos algumas dificuldades quanto ao acesso das informações durante a recolha de
dados no Distrito de Gurué. A título de exemplo, alguns extencionistas rurais não se
disponibilizaram para a realização das entrevistas.

A outra dificuldade foi relativa a administração do questionário aos PACEs e aos PAs.
Prevíamos administrar 158 questionários, mas concretizamos apenas 148, por razões de
ausência dos beneficiários no período da pesquisa.

33
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Na primeira secção deste capítulo faz-se a apresentação e descrição do distrito de Gurúe e do


projecto SUSTENTA, para tal, usaram-se como bases para a descrição do projecto os
principais elementos presentes no Manual de implantação do mesmo. Depois dessa secção
seguirão outras dedicadas à avaliação do projecto com base nos critérios recomendados pela
OCDE e a avaliação dos resultados da implementação do projecto SUSTENTA sobre o
desenvolvimento rural do grupo alvo.

4.1. Breve Caracterização Geral do Distrito de Gurúe

O distrito de Gúruè localiza-se a Norte da Província da Zambézia, na região da Alta


Zambézia, fazendo limite com os distritos de Milange, Namarroi, Errego e Alto Mólocuè na
mesma província; e limitando-se ao norte pelos distritos de Malema, na província de
Nampula e de Mecanhelas na província de Niassa 12.

A superfície do distrito é de 5.664 km² e a sua população está estimada em 420.869


habitantes, 100.086 agregados familiares, 102. 119 Casas e com uma densidade populacional
aproximada de 39, 12 hab/km² (CENSO, 2017).

Em termos de recursos naturais, as bacias hidrográficas apresentam grandes potencialidades


para a prática da piscicultura, agricultura e pecuária, por possuírem terras férteis. Os rios
oferecem condições naturais para a construção de represas de água para irrigação e de
barragens para a produção de energia hidroeléctrica. Nas montanhas há uma série de
nascentes de água natural que podem ser exploradas para a captação de água mineral, de
propriedades reconhecidas (MAE, 2014, p. 3).
Sobre a economia e serviços, no distrito de Gurué a agricultura é a actividade dominante e
envolve quase todos os agregados familiares. De um modo geral, a agricultura é praticada
manualmente em pequenas explorações familiares em regime de consociação de culturas com
base em variedades locais (Idem, p. 5).

12
Perfil do Distrito de Gurúe Província da Zambézia, edição de 2014.

34
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

4.1.1. Organização Administrativa e Governação

O distrito tem dois Postos Administrativos: Lioma e Mepuagiua que, por sua vez, estão
subdivididos em 10 Localidades como mostra a tabela a baixo:

Tabela 1: Divisão administrativa de Gurué

Posto administrativo Localidade

Lioma – sede

Magige

LIOMA Nintulo

Mualijane

Tetete

Mepuagiua – sede

Incize

MEPUAGIUA Nicoropale

Nipive

Mugaveia

Fonte: MAE (2005)

O Governo Distrital é dirigido pelo Administrador de Distrito e, está estruturado na Secretaria


Distrital e nos seguintes Serviços Distritais:

 Actividades Económicas;
 Saúde, Mulher e Acção Social;
 Educação, Juventude e Tecnologia; e
 Planeamento e Infraestruturas.

4.2. Descrição do Projecto SUSTENTA

O objectivo principal do projecto SUSTENTA é de integrar as famílias rurais na agricultura


sustentável e nas cadeias de valor baseadas na agricultura e na silvicultura na Área do

35
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Projecto e, no caso de uma Crise ou Emergência Elegível, dar resposta imediata e eficaz a tal
Crise ou Emergência.

4.2.1. Natureza dos Beneficiários do Projecto SUSTENTA

Os beneficiários directos do Projecto para a primeira fase avaliada neste estudo é de 20.100
agregados familiares rurais que representam 100.500 indivíduos, nos distritos alvo que
utilizam recursos agrícolas e florestais para a sua subsistência. Esses beneficiários incluem:
agregados familiares rurais, incluindo mulheres e jovens, que dentre outros benefícios o
projecto apoia com um maior acesso ao mercado, melhor segurança da posse de terra e
recursos naturais mais resilientes através do acesso à assistência técnica, novas competências,
melhorias nos insumos produtivos, novas tecnologias e mecanização, financiamento, títulos
de terra (Individuais e comunitários), infra-estrutura produtiva e oportunidades de mercado 13.

O segundo grupo-alvo são os Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes (PACEs) que o


projecto prevê dar assistência para aceder a subvenções e financiamento comercial para o
desenvolvimento de negócios14. Essa assistência inclui por exemplo, (desenvolvimento de
planos de negócios, técnicas agronómicas e inteligentes para o clima, gestão financeira e
contabilidade, gestão de operações, marketing, dinâmica de facilitação de grupos), facilitação
do estabelecimento de vínculos a montante (ou seja, fornecedores de insumos/Agro-
revendedores) e a jusante (isto é, comerciantes, processadores) nas suas respectivas cadeias
de valores; e suporte para obtenção de DUATs 15.

O terceiro grupo alvo directo são as Pequenas e Medias Empresas de agronegócios, que o
projecto apoia na elaboração de planos de negócios para acesso à concessão e financiamento
comercial para expandir seus negócios e aumentar o número de pequenos agricultores que se
beneficiam de seus serviços.

Constituem beneficiários também, as instituições governamentais chave a nível subnacional,


especialmente MITADER, MASA e governos provinciais e distritais, que são apoiados na
capacitação (por exemplo, planeamento geográfico, Desenvolvimento de Cadeia de valor;

13
O projecto prevê um apoio de 20.000 agregados familiares em cada distrito onde esta ser implementado.
14
Entrevista ao extensionista rural do SUSTENTA da localidade de Mgige-Gurué.. Data: 11 de Julho de 2019.
15
Idem

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

gestão baseada em resultados); assistência técnica para projectar e implementar políticas,


regulamentos e sistemas; apoio à modernização de escritórios (instalações e equipamentos); e
apoio para programas de divulgação e comunicação 16. E finalmente são beneficiários também
todas as partes interessadas na área do Projecto que beneficiarão de infra-estruturas
melhoradas, em especial de estradas rurais melhores, mas também de instalações
comunitárias de irrigação.

Em busca de compreender a fundo a natureza dos beneficiários, a questão que se coloca é:


Que diferença existe entre o Pequeno Agricultor (PA) e o Pequeno Agricultor Comercial
Emergente (PACE)? Sob ponto de vista dos gestores do projecto, o Pequeno Agricultor (PA)
é aquele que tem na agricultura a sua principal fonte de renda, utilizando tecnologias
rudimentares (uso de variedades de sementes tradicionais, baixo nível de fertilizantes e
pesticidas mínimos) e com baixa produtividade numa área cultivada de menos de 10 hectares
com culturas permanentes anuais. Ao passo que o Pequeno Agricultor Comercial Emergente
(PACE) é o agricultor que produz orientado para o mercado. Fazem parte deste grupo
pequenos agricultores com área produtiva entre 10 a 50 hectares17.

O SUSTENTA considera pequeno agricultor em transição, aquele que tenha área mínima de
produção acima de 7 ha. Por outro lado, na perceção dos técnicos e extensionistas rurais, o
PACE é aquele agricultor que o seu maior interesse é o crescimento económico; aquele que
anteriormente conseguia cultivar no máximo 10 hectares, e agora com o apoio do
SUSTENTA consegue cultivar acima de 20 hectares.

4.2.2. Critérios de Elegibilidade ao SUSTENTA

Para ser uma PME elegível ao projecto SUSTENTA é necessário que tenha algumas
características mínimas. Em primeiro plano, são entendidas como PMEs processadoras de
agronegócio as que participam nas cadeias de valor de milho, soja, feijão, gergelim, entre
outros, para complementar seus esforços trazendo inovações, oportunidades substanciais de

16
Entrevista ao Supervisor da área de extensão do SDAE-Gurué. Data: 11 de Julho de 2019. Distrito de Gurué.
17
Entrevista ao Constantino José da Costa. Data: 11 de Julho de 2019.

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

crescimento e novas formas de fazer negócios nas cadeias de valor agrícolas nas áreas do
projecto. Os requisitos essenciais para a elegibilidade ao SUSTENTA são: 18

 Ser uma PME de agronegócio formalmente registada;


 Ter entre 2-10 trabalhadores;
 Ter uma capacidade instalada de produção de pelo menos 2 toneladas/dia;
 Ter um volume de negócios anual mínimo de 300.000,00 MZN;
 Possuir experiência de pelo menos um ano na área de negocio que pretende operar; e
 Não ter incumprimentos com terceiros (bancos/Estado) por parte da entidade
incluindo os sócios e/ou accionistas maioritários.

Para os PACEs os principais requisitos para a sua elegibilidade devem possuir uma área
mínima de 5ha devidamente regularizada; deve ser praticante de culturas orientadas para o
mercado; praticar o uso de tecnologias e insumos; mostrar disponibilidade de trabalhar com
outros PAs; ter capacidade financeira (10%) do valor monetário do fundo que pretende ser
financiado; não ter incumprimentos com terceiros (bancos/Estado); cumprir com as cadeias
de valor promovidas pelo SUSTENTA; devem ser residentes na unidade territorial onde se
pretende implementar o projecto e com residência confirmada pelas autoridades locais, operar
no território onde se pretende implementar o projecto, ser constituídas por cidadãos
nacionais, e por fim possuir documentos tais como: NUIT, BI, uma conta bancária 19.

Apesar dos critérios apresentados não fazerem nenhuma referência a critérios específicos
para mulheres, constatamos no terreno junto dos nossos entrevistados que o SUSTENTA leva
em consideração as questões de género na elegibilidade dos beneficiários 20.

4.3. Componentes do Projecto

Esta política pública é constituída por quatro (4) componentes nomeadamente: (1)
Desenvolvimento da Cadeia de Valor Baseada na Agricultura e na Silvicultura; que tem
como objectivo de aumentar a participação dos pequenos agricultores (PA) e dos Pequenos
18
SUSTENTA: Projecto de Gestão Integrada de Agricultura e Recursos Naturais. Anúncio de Solicitação para
Manifestação de Interesse (2019).
19
Ismail Assane, Engenheiro Agrónomo do SUSTENTA na cidade de Mocuba. Entrevista do dia 23 de Julho de
2019.
20
Ismael Assane. Entrevista do dia 23 de Julho de 2019 na Direcção Provincial de SUSTENTA. Cidade de
Mocuba.

38
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Agricultores e Comerciais Emergentes (PACE’s) em cadeias de valor agrícolas e florestais


fundamentais na área do Projecto.

A segunda componente (2) preconiza a garantia dos direitos de posse da terra e aumento da
resiliência dos recursos naturais. Esta componente tem como objectivo a promoção da gestão
integrada da paisagem, assegurando a restauração de habitats naturais essenciais na área do
Projecto.

A terceira componente diz respeito a coordenação e Gestão do Projecto, e finalmente


componente quatro (4) pressupõe a resposta a emergência, e o seu objectivo é de Apoiar os
beneficiários no caso de uma potencial necessidade de recuperação de desastres, fornecendo
resposta imediata a uma crise ou emergência elegíveis.

4.3. Relevância do Projecto SUSTENTA

Num contexto em que a pobreza nas zonas rurais é uma realidade e, a precariedade do
desenvolvimento agrícola e o facto do potencial agrícola não ser devidamente submetido na
geração das receitas assim como na geração de emprego constitui um factor crucial que
justifica a necessidade de criação e implementação de políticas públicas viradas para o
desenvolvimento rural.

Na mesma senda, no caso concreto do distrito de Gurué assim como outras regiões de
Moçambique, apesar de a existência das bacias hidrográficas que apresentam grandes
potencialidades para a prática da piscicultura, agricultura e pecuária, e por possuírem terras
férteis, é notável que a pobreza rural deve-se, sobretudo ao limitado desenvolvimento
agrícola e a fraca produtividade das culturas alimentares, impactado pelo deficiente acesso a
tecnologias, serviços financeiros e mercado. Daí que, a intervenção feita por meio do
SUSTENTA com vista a superar as penúrias acima descritas é uma mais valia para o público-
alvo.

Por conseguinte, lembrando que a relevância de uma política pública analisa até que ponto o
programa/projecto em causa é relevante para o problema e para o grupo-alvo, torna-se
necessário admitir que SUSTENTA é uma política pública relevante para os seus
beneficiários, na medida em que concebe a integração das famílias rurais na agricultura

39
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

sustentável e nas cadeias de valor florestal na área do projecto e, no caso de uma crise ou
emergência elegível, dar resposta imediata e efectiva a essa crise ou emergência elegível.

Porquanto, num contexto em que muitas regiões de Moçambique são propensas a desastres
ou calamidades naturais, há que sublinhar a pertinência do projecto na componente de dar
resposta à crise ou emergência elegível visto que isto garante a segurança aos agricultores no
seu desempenho para o desenvolvimento das suas actividades.

Por outro lado, a actividade agrária sendo a principal fonte de rendimento para a maioria da
população rural, em que cerca de 3, 9 milhões de famílias praticam agricultura em regime de
sequeiro no seu local de residência, entende-se que esta actividade desempenha um papel
fundamental na redução da pobreza 21. Visto que em Moçambique 69, 4% da população reside
nas zonas rurais e desta, cerca de 99% pratica agricultura familiar, que representa cerca de
82% da economia rural, percebe-se que a implementação do SUSTENTA é um passo
pertinente para o desenvolvimento das famílias rurais e na criação de oportunidades do bem-
estar para os seus beneficiários na medida em que apoia os seus beneficiários na prática de
boas maneiras agrícolas e sobretudo uma agricultura mecanizada e virada para a geração de
empregos e rendimentos sustentáveis22.

Outro aspecto pertinente neste projecto consiste em levar a cabo o aumento do número de
agregados familiares rurais que participam nas cadeias de valor da agricultura e da
silvicultura; do acesso ao financiamento para os participantes de cadeia de valor agrícolas e
da silvicultura; aumento do número de agregados familiares rurais com acesso a infra -
estruturas rurais; aumento do número de hectares de recursos naturais protegidos e /ou
restaurados, demostrando a consistência dos seus objectivos para o desenvolvimento rural.

Ademais, a abordagem que SUSTENTA trás de apoio à produção, o acesso ao financiamento,


à capacitação dos agricultores e a melhoria dos serviços de extensão rural, os seus
beneficiários verificam isto como forma de criar condições que permitam desenvolver as suas
actividades com segurança e criando o alicerce para o aumento do nível de vida das famílias
no meio rural mediante um acesso melhorado aos insumos agrícolas, serviços básicos ao

21
Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. Balanço do SUSTENTA 1º Ciclo Produtivo
(Fevereiro de 2017-Julho de 2018)
22
Entrevista ao Constantino José da Costa. Data: 11 de Julho de 2019. Distrito de Gurué.

40
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

nível agrícola, informação, formação e uso sustentável e rentável dos recursos naturais do
distrito23.

Olhando para a percepção dos implementadores do SUSTENTA sobre a sua relevância,


entende-se que eles olham a relevância do mesmo ao trazer uma abordagem minimamente
diferente doutras políticas públicas levadas a cabo no sector agrário em moçambique, isto é o
projecto SUSTENTA não se limita apenas numa única actividade de financiar ou apoiar os
pequenos agricultores com o crédito. Ademais, nos distritos onde o SUSTENTA é
implementado, no Gurué em particular, este estimula a economia rural através da integração
de famílias das comunidades locais no desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis,
com base agrícola e florestal com vista a melhorar a sua renda e qualidade de vida, com
respeito pela conservação ambiental.

A esse respeito, um quadro sénior ligado a implementação do SUSTENTA afirmou que o


SUSTENTA aumenta a renda dos agricultores, diminuindo as situações de desnutrições e
erradicação da fome, promovendo o aumento da produção dos alimentos duma maneira
integrada e de forma sustentável, isto é, aumentar a produção dos agricultores olhando para
questões ambientais, sociais, cadeias de valor, acima de tudo o SUSTENTA ajuda melhor a
controlar locais de produção, na medida em que ensina os agricultores o uso de pesticidas
que sejam aceites de acordo com a lei vigente em Moçambique sobre a preservação do
ambiente. De certa forma isto concorre para a diminuição da prática de agricultura
itinerante promovendo a prática duma agricultura mecanizada e sustentável. Ademais, os
beneficiários conseguem ver quais são as principais culturas que aumentam a renda e com
base nisso, produzem olhando para o mercado24.

A opinião do entrevistado supracitado também é partilhada pelo Director do Serviço Distrital


de Planeamento e Infraestrutura de Gurué acrescentando que, no sector de agricultura o que
impulsiona qualquer agricultor é ter condições estáveis para escoar os seus excedentes
agrícolas. Neste caso, olhando para as redes de vias que existem a nível do distrito de Gurué
algumas delas estão quase intransitáveis, portanto, o SUSTENTA ao nível do sector de
infraestrutura actua no ramo de estrada como maneira de intervencionar as estradas

23
Entrevista ao Constantino José da Costa. Data: 11 de Julho de 2019. Distrito de Gurué.
24
Entrevista ao Coordenador Provincial do Projecto SUSTENTA. 23 de Julho de 2019.

41
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

cruciais para catapultar a agricultura, porque o agricultor tendo as condições óptimas de


escoar os seus excedentes agrícolas, obviamente vai alargar as suas áreas de cultivos
pensando desta forma na prática duma agricultura virada para o mercado e de geração de
rendimentos. Por outro lado, impulsiona a comercialização agrícola, porque há outros
agricultores que estavam em diferentes pontos onde não haviam condições de
transitabilidade que agora já podem se deslocar e escoar os seus excedentes agrícolas para
diferentes regiões do distrito de Gurué assim como outras regiões dos distritos das
províncias circunvizinhas 25

As informações acima revelam que o projecto SUSTENTA mais do que um programa do


governo, permite uma certeza ao produtor de uma renda sustentável e o crescimento da sua
produção. Permite a consequente melhora da qualidade de vida e investimento na produção.
Adicionado a isto, só no primeiro ciclo de produção o SUSTENTA já concedeu crédito aos
Pequenos Agricultores no valor de 37.200.000.00 Mt em espécies através de Kits de insumos
(sementes melhoradas, fertilizantes e agroquímicos) para 0.5 hectares com regime de
reembolso em espécie no fim da campanha 26.

Os profissionais do SDAE são de opinião de que com o SUSTENTA os pequenos


agricultores poderão reforçar a segurança da posse da terra das comunidades rurais e dos
indivíduos e aumentar a sua capacidade de negociar com os investidores que necessitam de
terrenos e de participar em cadeias de valor. De um modo mais geral, espera-se que o
projecto apoie a emissão de cerca de 150.000 DUATs que contribuam significativamente
para a meta de 5 milhões estabelecidas em Terra Segura para o período 2015-2019, isto ajuda
actualmente as famílias rurais que enfrentam situações de indefinição quanto a titularidade da
terra 27.

Os resultados constatados no terreno a respeito dessa actividade demostram que no período


em análise, foram registadas 33. 343 parcelas e delimitadas 43 terras comunitárias, foram
igualmente elaborados 69 planos de restauração em igual número de propriedades dos PACE,

25
Entrevista ao Director do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estrutura de Gurué. Data: 24 de Julho de
2019.
26
MITADER-Relatório SUSTENTA-2018
27
Entrevista ao supervisor da área de extensão dos Serviços Distritais de Actividades Económicas de Gurué.
Data: 17 de Julho de 2019

42
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

dos quais foram restaurados 180ha de terras degradadas em 6 propriedades 28. No entanto,
percebe-se que esta actividade promove a cidadania através da segurança de posse de terra e
maior responsabilização do seu uso.

Por outro lado, a delimitação comunitária constitui um primeiro passo para a promoção de
novos investimentos baseados em cadeias de valor, que trazem benefícios reais para os
agregados familiares rurais, juntamente com a gestão sustentável dos recursos naturais. Por
conseguinte, isto trará aos donos destes imoveis a segurança jurídica além de
desenvolvimento económico e social e, consequentemente, a paz para milhares de famílias
rurais, visto que o conflito de terra ainda continua prevalecendo no seio das famílias
Moçambicanas29.

Contudo, em torno das acções acima descritas revelam a pertinência e a consistência do


SUSTENTA para o desenvolvimento rural, pois as abordagens que este trás, coadunam com
os pressupostos de muita literatura segundo a qual favorece a idéia de que o desenvolvimento
rural não deve ser exclusivamente econômico, mas deve incluir aspectos sociais e
ambientais30. Ademais, em conformidade com Van Depoele (2000), “uma política de
desenvolvimento rural deve ser multissetorial e, com base num enfoque territorial, contribuir
para uma maior coesão econômica e social: a) na criação e manutenção de uma agricultura
competitiva onde for possível (Função Alimentar); b) na proteção da paisagem onde for
necessário (Função Ambiental); c) no aumento da viabilidade e da qualidade de vida das
áreas rurais (Função Rural)”.

Portanto, não basta o projecto ser relevante ou os seus objectivos serem consistente com as
penúrias e as preferências do grupo alvo, é importante que estes objectivos sejam
concretizados havendo uma intervenção ou uma acção real com vista a aferir o alcance das
metas que o projecto propõe. Neste sentido, a análise da eficácia é pertinente para o projecto
de modo a perceber até que ponto os objectivos pré-definidos estão a ser alcançados.
Portanto, a seguir é feita esta análise em torno do projecto SUSTENTA.

28
MITADER-Relatório SUSTENTA-2018.
29
Entrevista ao Supervisor da área de extensão de Gurué: Data: 16 de Julho de 2019.
30
Autores como Van Depoele (2000); Mollard (2003); Kinsella et al (2000) reconhecem que o desenvolvimento
rural deve se basear a multifuncionalidade do espaço rural. Ou seja, as políticas públicas viradas para o
desenvolvimento rural devem buscar um “equilíbrio entre valores econômicos, sociais e ecológicos”.

43
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

4.4. O Nível de Alcance dos Objectivos do Projecto SUSTENTA

Para aferir o nível da eficácia do SUSTENTA, aqui fez-se uma análise dos resultados obtidos
através das acções desencadeadas pelos implementadores do projecto de modo a perceber o
grau em que se alcançam os objectivos e metas do projecto do grupo alvo ou população
beneficiária, dentro dos três anos delimitados.

4.4.1. Financiamento de Agronegócios para Cadeia de Valor

A matéria sobre o financiamento de agronegócios é muito relevante na avaliação das políticas


públicas viradas para agricultura em Moçambique. Pois, a experiência de muitas políticas
públicas revela que fracassaram porque muitas das vezes o seu financiamento dependia de
doações externas e do Orçamento do Estado, que por vezes quando não houvesse cabimento
orçamental as políticas públicas não eram viáveis 31.

De forma a entender sobre o mesmo assunto, a seguir faz-se uma análise sobre os principais
mecanimos de financiamento de agronegocios de cadeia de valor no projecto SUSTENTA no
distrito de Gurué.

Os dados disponíveis no Manual do projecto SUSTENTA (2017), ilustram que o Projecto


apoia o crescimento dos agronegócios das PME’s, incluindo PACE’s, particularmente no
processamento de commodities agrícolas, prestação de serviços logísticos aos pequenos
agricultores (por exemplo, armazenamento, triagem, classificação e transporte) e
fornecimento de insumos.

Neste sentido, as PME’s de agronegócios dependem de vínculos e relações de negócios com


pequenos agricultores e é, portanto, do interesse das PME’s que os produtores melhorem sua
capacidade produtiva. Os PACE’s e as PME’s de agronegócios são a ligação crítica entre o
grande número de pequenos agricultores e os poucos grandes agronegócios 32.

Entretanto, esta actividade visa atender tanto as restrições de demanda quanto de oferta que
impedem o crédito aos agronegócios dos PACE’s e das PME’s. É neste sentido que o

31
ORAM & ROSA . Estudo sobre o Impacto da Política Agrária em Moçambique. Pesquisa Realizada em:
Maputo cidade; Província de Maputo; Província de Sofala; Província de Manica e Província de Tete (2010).
32
Dados disponíveis no Manual de Implementação do SUSTENTA.

44
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

projecto tem expandido o acesso a finanças e serviços financeiros para PACE’s e PME’s nas
principais cadeia de valor que são apoiadas. O acesso ao empréstimos comerciais estao
virados para duas actividades nomeadamente: aquisição de activos e capital circulante 33.

Em termos de aquisição de ativos, concentra-se nos bens tais como: equipamentos, tractores,
micro irrigação e unidades de armazenamento, que permitam aos PACE’s e as PME’s de
agronegócios (a) ter uma garantia aceitável para os bancos; (b) melhorar a produtividade,
permitir o processamento e gerar renda adicional; e (c) permitir a prestação de serviços aos
pequenos agricultores (por exemplo, contratar um tractor ou alugar espaço de
armazenamento) 34.

No que concerne ao capital circulante para PACE’s e para PME’s de agronegócios, permite o
financiamento de insumos e custos operacionais adicionais e aprimorados de máquinas e
outros activos e assim para aumentar a produtividade e os rendimentos. Os PACE’s também
podem facilitar o financiamento para pequenos agricultores/clientes por meio de
financiamento de insumos e cooperativas de poupança e crédito.

4.4.1.1. Mecanismos de Co-financiamento

O Projecto apoia as Empresas para promover o crescimento e criar oportunidades para estas
acederem a insumos melhorados e de qualidade, ao processamento, armazenamento e
oportunidades de mercados através duma das ferramentas que é o “Esquema de Subvenção
Comparticipadas (Matching Grant Scheme-MGS)”. O SUSTENTA, através do MGS, procura
dar suporte às empresas de agro-negócios para aumentar os seus investimentos e promover
adição de valor para PME’s (e não só) bem como proporcionar maior acesso à capacitação e
transferência de tecnologia 35.

O esquema de subvenção Comparticipadas consistem em co-financiar investimentos de


PACE’s e de PME’s de agronegócios para aquisição de activos de longo prazo, como
equipamentos, tractores, micro irrigação, estufas e unidades de armazenamento. Esses activos

33
Entrevista ao Coordenador provincial do SUSTENTA. Cidade de Mocuba. Data: 23 de Julho de 2019.
34
MOCAMBIQUE: Projecto de Gestão Integrada de Agricultura e Recursos Naturais (20017)
35
Entrevista ao Coordenador provincial do SUSTENTA. Cidade de Mocuba. Data: 23 de Julho de 2019.

45
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

permitem que os PACE’s e as PME’s de agronegócios fortaleçam as ligações com os muitos


pequenos agricultores na sua cadeia de valor local 36.

O SUSTENTA prevê que o valor global médio dos projectos ou planos de negócio sejam de
aproximadamente 10.000.000, 00 MZN (dez milhões de meticais) e as propostas deverão ter
um valor mínimo de 6.000. 000, 00 MZN (Seis milhões de meticais) e máximo de
12.000.000, 00 MZN (doze milhões de meticais). A tabela a seguir apresenta os requisitos de
comparticipação, e demostra que o SUSTENTA apoia num cofinanciamento de 60% e os
restantes 40% é da comparticipação da PME beneficiária.

Tabela 2: Requisitos de comparticipação

Subvenção Comparticipação

(SUSTENTA) PME Beneficiária

60% 40%

Fonte: MOCAMBIQUE-Projecto de Gestão Integrada de Agricultura e Recursos Naturais.


Anúncio de Manifestação de interesse 2019.

Os dados do anúncio de manifestação de interesse de 2019, revelam que o processo de acesso


à subvenção é competitivo e está sujeito a uma comparticipação da entidade requerente. Por
tanto, entende-se que este mecanismo contribui para o combate de qualquer tipo de esquema
fraudulento e de corrupção 37. A comparticipação/contribuição referida deve ser em dinheiro,
e deve estar disponível no momento da implementação do projecto. Não pode ser em forma
de equipamentos existentes ou utilizados, nem de investimentos previamente realizados. Mas
sim, poderá ser realizada com recursos próprios ou através de créditos bancários a contrair
entre outras formas de mobilização financeira desde que se achem disponíveis no momento

36
Entrevista ao extensionista rural do projecto Sustenta no Gurué. Data: 16 de Julho de 2019.
37
Avaliamos positivamente no que diz respeito a esse aspecto, porque quando recordamos por exemplo outras
políticas públicas anteriores, verificava-se que não havia transparência no acesso ao fundo de financiamento. A
respeito desse assunto, segundo a ORAM e ROSA (2010, p. 36) entendiam que o Orçamento de Investimento de
Iniciativas Locais (OIIL) desde que foi instituído, vinha sendo alocado de forma imprópria às comunidades,
quer dizer, desde que se iniciou com a atribuição dos fundos aos distritos, para projectos de desenvolvimento
local, registavam-se dificuldades no processo de sua gestão, dificuldades estas que acabavam por afectar os
resultados que se esperavam obter com estes recursos. No conjunto das dificuldades, existem aquelas de maior
impacto, notava-se por exemplo que a transparência na identificação e selecção dos projectos que beneficiam
do financiamento dos sete milhões de meticais não eram efectiva, havendo casos em que se remetia ao
compadrio com os membros das administrações distritais para se beneficiar destes fundos.

46
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

do desembolso da subvenção38. Com base nessas condições percebe-se que os candidatos ao


projecto SUSTENTA devem ter uma base de potencialidade financeira. Tomando este
propósito nota-se que o SUSTENTA não é um projecto de todas as camadas socias.

Adicionado a isso, o que se pode notar é que nas regiões rurais não existem muitas empresas
que possuem o poder de comparticipar com 40% equivalente a 2.400. 000, 00 MZN (dois
milhões e quatrocentos mil meticais) do crédito mínimo de 6.000.000, 00 MZN (seis milhões
de meticais), mas sem querer questionar o nível de abrangência do público-alvo levando a
cabo as condições acima descritas, salientamos que esses mecanismos podem ajudar a
selecionar candidatos comprometidos nos seus objectivos, acima de tudo experientes em
gestão de empresas e negócios de grande volume 39. Isto obviamente pode precaver as
situações de financiar indivíduos que não tem noções de gestão de negócio e não tem planos
de negócios claros, muito menos experiência em gestão de projecto. Algumas políticas
públicas, o caso do vulgo “7 milhões” fracassaram porque não tiveram em consideração esse
aspecto. Por vezes, alguém era financiado para um tipo de negócio, recebido o dinheiro
financiado poderia aplicar para outros fins em detrimento daqueles previstos. No final de tudo
nada resultava positivamente, e o reembolso do valor tornava-se deficiente ou mesmo
inexistente. De certeza que são essas inconveniências que provavelmente o SUSTENTA
acautela.

Previa-se que em 2017, os potenciais beneficiários do MG fossem identificados para incluir:


uma rede de 100 PACE’s e 25 PME’s de agronegócios, a serem identificados nos primeiros
12 meses de implementação do Projecto isto é, de Fevereiro de 2017 a Janeiro de 2018, e
incluindo fornecedores de meios de produção, compradores, processadores e cooperativas40.

Entretanto, os resultados da implementação do projecto SUSTENTA no período em análise


no que concerne ao financiamento de agronegócios para cadeia de valor no distrito de Gurué
demostram que dos 100 PACE’s e 25 PME’s previstos para o seu apoio em financiamento de

38
Anúncio de solicitação de manifestação de 2019, p. 4.
39
O OIIL de certa forma falhou porque um dos constrangimentos verificados na sua implementação foi de
muitas vezes os grupos beneficiários dos fundos não possuirem conhecimentos de administração ou gestão
financeira (ORAM e ROSA, 2010, p. 36). Portanto, salientamos que as formações e capacitações que o
SUSTENTA promove em matérias de planos de negocio ajudam a minimizar esses constrangimentos.
40
MOCAMBIQUE: Projecto de Gestão Integrada de Agricultura e Recursos Naturais (20017)

47
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

agronegocios de cadeia de valor seis (6) Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes


(PACE’s) tiveram esse apoio no caso particular de Gurué, conforme mostra a tabela a seguir.

Tabela 3: Localização dos beneficiários de financiamento do Projecto SUSTENTA em


Gurué (2017-2019)

Distrito Posto Administrativo Localidade Povoado PACE PA

Tetete Mavota 1 55

Gurué Lioma Sede Nova 1 56

Tetete-sede 3 94

Ruace 1 54

Magige 1 52

TOTAL 6 311

Fonte: Elaborado pelo autor

A tabela acima demostra que no período em análise, tiveram acesso ao credito com juros
bonificados no distrito de Gurué seis (6) Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes
(PACE’s), e um total de 311 Pequenos Agricultores (PA). Desses beneficiários, todos estão
localizados no Posto Administrativo de Lioma, nas localidades de Tetete, Ruace e Magige, e
encontrando-se nos povoados de Mavota, Sede-Nova, e Tetete-Sede.

Dos seis (6) Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes foram financiados em dois ciclos
do projecto SUSTENTA, onde o primeiro que decorreu no período entre 2017 a 2018
beneficiaram-se três (3) PACE’s e no ciclo de 2018 a 2019 beneficiando-se igual número de
três (3) PACEs. No entanto, com base nos dados verificados no terreno e com a confirmação
dos nossos entrevistados41, notou-se que durante a implementação do SUSTENTA no período
em análise no distrito de Gurué não se beneficiou nenhuma PME.

41
Entrevista ao Extensionista rural do SUSTENTA no Gurué. Data: 11 de Julho de 2019.

48
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

De acordo com o relatório do SUSTENTA sobre a avaliação do seu desempenho até em


2018, dos 100 PACE’s que o projecto previa identificar para financia-los nos primeiros 12
meses nos dez (10) distritos onde o SUSTENTA opera, foram alcançados todos em 100%.
Por conseguinte dos 20.100 beneficiários directos que o projecto previa alcançar, o número
superou as espectativas, tendo atingido um total de 32.444 beneficiários.

Portanto, os resultados demostram que em termo de alcance das metas previstas, o


SUSTENTA pelo menos nesta actividade está a ser eficaz. Todavia, constatou-se que na
província da Zambézia, em particular no distrito de Gurué, até no primeiro semestre de 2019
ainda não tinha sido co-financiada nenhuma PME, apenas tinha sido feito o lançamento do
concurso e as propostas estavam em avaliação 42. Com relação a esses resultados, a questão
que se coloca é: nos três anos da implementação do SUSTENTA, o que influenciou na fraca
abrangência das PME’s?

Na tentativa de responder essa questão os técnicos ligados a implementação do projecto


SUSTENTA no Gurué reconhecem que, neste distrito em particular, a maior parte das
PMEs não estavam em condições para se candidatar ao SUSTENTA, por outro lado, houve
lentidão no tratamento e na submissão dos requisitos para beneficiar-se do projecto, pois no
Gurué há empresas que não estão 100% legais, todavia o projecto SUSTENTA só financia as
empresas que estão completamente legalizadas (…) mas um dos problemas que se notou foi o
facto de as pessoas deixarem tudo para mais tarde, isso influenciou a não conseguirem
completar os requisitos que eram exigidos para a sua devida elegibilidade ao SUSTENTA 43.
Relativamente as questões de legalidade das PMEs concorrentes, o coordenador do
SUSTENTA na Zambézia, acrescenta que as empresas candidatas devem estar formalmente
registadas, não ter incumprimentos com terceiros (Banco/Estado) por parte da entidade
incluindo os sócios e/ ou accionistas maioritários.

A análise sobre a disposição de financiamento de agronegócios de cadeia de valor no distrito


de Gurué, revela que o SUSTENTA foi eficaz na abrangência dos PACE’s, e ineficaz na
abrangência das PME’s. Percebe-se que os mecanismos de receber o co-financiamento do
SUSTENTA apesar de trazer uma garantia do reembolso dos empréstimos e uma garantia de

42
Entrevista ao Cordenador Provincial do SUSTENTA. Mocuba. Data: 23 de Julho de 2019.
43
Entrevista ao Extensionista rural do SUSTENTA no Gurué. Data: 11 de Julho de 2019

49
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

aumentar o desempenho dos beneficiários na sua produção, ainda constitui um entrave para
abranger a maior parte dos PME’s. Por conseguinte, entende-se que esta pode ser uma
oportunidade das empresas moçambicanas pautarem na sua legalização efectiva.

4.4.2. Capacitação e Formação dos PACE’s, PME’s Rurais.

A discussão sobre a capacitação e formação dos PACE’s, PME’s rurais, tornou-se importante
devido ao facto de ser uma actividade que permita gerar planos de negócios e projectos
financiáveis para financiamento através do mecanismo MG (Esquema de subvenção) do
projecto e bancos comerciais, no qual os beneficiários terão a capacidade de adopção de
insumos melhorados (sementes/mudas, fertilizantes e pesticidas), replantação de antigas
árvores (principalmente castanha de caju), mecanização, agregação e capacidade de
armazenamento, financiamento de cadeia de valores e desenvolvimento de ligações de
mercado (por exemplo, sistemas de produção).

Quanto aos mecanismos de capacitação e formação dos agricultores já foram assuntos de


debates em algumas políticas públicas do sector agrário, no caso do PROAGRI, que durante a
sua implementação em certa medida teve como resultado a centralização, progresso lento no
apoio público para a capacitação das comunidades e dos agricultores, assim como a fraca
coordenação com outros sectores ao nível do Governo local 44. Complementado o exposto
acima, a avaliação deste estudo procura mostrar a forma como esta actividade está a ser
implementada no distrito de Gurué.

O argumento é estruturado partindo do pressuposto de que, para que o SUSTENTA possa


contribuir para o exercício da capacitação e formação que, de alguma forma, vai implicar na
própria melhoria dos serviços dos seus beneficiários, deve se estabelecer os respectivos
mecanismos de forma efectiva. Nesta perspectiva, a situação desta actividade no distrito de
Gurué revela que há um ganho significativa no estabelecimento de transferências de
tecnologias para os seus beneficiários tais como: Pequeno Agricultor, Pequeno Agricultor
Comercial Emergente e Governos Locais.

44
in Plano Director de Extensão Agrária (2007-2017), Maputo, Maio de 2007.

50
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Olhando para os pressupostos estabelecidos no projecto SUSTENTA, o objectivo de


capacitação e formação dos PACE’s e as PME’s rurais consiste no apoio de treinamentos em
boas práticas agronômicas (isto é, produção de sementes, novas técnicas de uso da terra) e
habilidades de negócios e marketing (isto é, planeamento de negócios e desenvolvimento de
negócios).

Por conseguinte, a abordagem "Formação de Formadores" é adoptada para que os PACE’s


possam ainda treinar e ajudar os seus clientes agricultores. Os PACE’s são apoiados para
estabelecer parcelas de demonstração eficazes para treinar pequenos agricultores sobre os
benefícios das novas tecnologias. As parcelas de demonstração, criadas pelos PACE’s com o
apoio do Projecto, são ferramentas chave para demonstrar os efeitos dos novos pacotes de
tecnologia por safra tanto para os agricultores como para os extensionistas do governo ou
ONG.

Assim, em termos de resultados relativamente a essa actividade constatou-se que o


SUSTENTA adoptou um modelo de extensão rural, baseado no agente de desenvolvimento
rural, que privilegia a técnica demostrativa e transfere conhecimentos multidisciplinares para
os beneficiários, ao mesmo tempo que fornece um vasto leque de serviços com destaque 45:

 Demostração de métodos e de resultados em campos produtivos;

 Escola na machamba do camponês;

 Ligação de mercado;

 Restauração de áreas degradadas; e implementação de boas práticas agrícolas.

A tabela mostra as diferentes competências da capacitação dos agricultores no período em


análise.

45
MITADER-Relatorio SUSTENTA-2018

51
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Tabela 4: Matérias de capacitação aos beneficiários.

Capacitação aos beneficiários

Área/tipo PACE PA

Identificação de necessidades de investimentos 167

Elaboração de planos de negócio 147

Técnicas de salvaguarda socio-ambientais 63 1.274

Técnicas de restauração de áreas degradadas 63

Fomento agrícola 31

Técnicas de uso e manutenção de maquinaria 21


agrícola

Práticas sustentáveis de produção 31 6.433

Técnicas de maneio integrado de pragas 31 1.274

Troca de experiencia internacional (Brasil) 2

Fonte: Relatório do SUSTENTA 2018

A partir da tabela acima, quanto a capacitação dos agricultores, observa-se que todos PACEs
tiveram a capacitação em matérias sobre a identificação de necessidades de investimentos,
147 PACEs tiveram noções de elaboração de planos de negócio, 63 deles teve a capacitação
sobre as técnicas de salvaguarda socio-ambientais e de áreas degradadas, um total de 21
PACEs, beneficiou-se de informações a cerca de técnicas de uso e manutenção de maquinaria
agrícola, 31 dos quais privilegiou-se na assimilação de matérias sobre as práticas sustentáveis
de produção e técnicas de maneio integrado de pragas, finalmente 2, tiveram a oportunidade
de troca de experiencia internacional no Brasil.

O gráfico a seguir revela o nível de abrangência de formação, capacitação e assistência


técnica aos beneficiários directos no distrito de Gurué.

52
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Gráfico 1: PACEs e PAs beneficiários de


Formação; Capacitação e assistência técnica.

100% 100%
200

150

100

50 2%

0
Formação Capacitação Assistência
técnica

Fonte: Elaborado pelo autor

A informação patente no gráfico mostra que os 100% dos PACE’s e PA’s inquiridos
confirmam de beneficiarem de capacitações e assistência técnica dos extensionistas rurais do
SUSTENTA, e apenas 2% dos quais participou em formações promovidas pelo SUSTENTA
em matérias tais como: Identificação de necessidades de investimentos; elaboração de planos
de negócio; técnicas de salvaguarda socio-ambientais; práticas sustentáveis de produção e
técnicas de maneio integrado de pragas.

A respeito desses benefícios um dos PACE em nossa entrevista afirmou, sinto-me satisfeito
pela assistência que nos é dada pelos extencionistas do SUSTENTA, pois esta constitui uma
forma de nos ajudar a partir da produção, conservação até a comercialização 46. Por
conseguinte, com base na afirmação entende-se que esta seja uma das grandes melhorias que
o SUSTENTA traz, pois, resolve um dos constrangimentos que identificava-se no OIIL, em
que os distritos careciam de técnicos qualificados na área de concepção e elaboração de
projectos comunitários, que fossem capazes de assistir aos diversos grupos, na monitorização
dos fundos, que recebiam incluindo a sua gestão eficaz 47.

46
Sidónio Wilson Luís. PACE da localidade de Tetete-sede, Gurué. Data: 25 de Julho de 2019.
47
Uma pesquisa realizada pela ORAM e ROSA (2010) identificou a a faltade técnicos qualificados que
poderiam ajudar os agricultores que recebiam fundos.

53
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

4.4.2.1. Fortalecimento Institucional dos Governos Locais

Durante o período em análise, em matéria sobre a capacitação, SUSTENTA buscou o


fortalecimento institucional dos governos locais através da capacitação dos seus funcionários
em várias áreas. Assim, para entender melhor sobre esse item, a tabela (5) nos anexos,
resume sobre as áreas de formação assim como os funcionários capacitados.

Com base nessa tabela, no período em análise, SUSTENTA assegurou a capacitação de 63


funcionários públicos em 8 áreas. Os funcionários participantes nessas actividades
reconhecem a consistência da mesma na medida em que permitiu a aquisição de experiencias
em matérias de restauração de terras, mapeamentos entre outras áreas.

Em conformidade com o chefe de repartição de ordenamento territorial do SDPI de Gurué,


em nossa entrevista confirmou que de facto, com o projecto SUSTENTA, a partir de 2017
beneficiamo-nos de capacitação sobre sistemas de informação geográfica, fomos munidos de
bagagem sobre ordenamento territorial, que nos permite a realização do mapeamento das
áreas de intervenção de modo a evitar que áreas de protecção não sejam ocupada, pois
qualquer projecto deve ser implementado de forma sustentável, respeitando as questões
sociais e ambientais48.

A informação do entrevistado supracitado é partilhada com o director do SDPI de Gurué,


acrescentando que a capacitação institucional não se limitou apenas com a capacitação dos
funcionários, ademais, esta reforçou a capacidade institucional dos governos locais,
incluindo o fornecimento de meios circulantes e equipamentos informáticos, e o SDPI de
Gurué teve este apoio institucional49.

As instituições responsáveis pela coordenação do SUSTENTA tais como o SDAE e SDPI a


nível das duas províncias e nos dez (10) distritos, que opera o SUSTENTA beneficiaram-se
de meios circulantes motorizados num total de 30, e meios informáticos tais como: 30
computadores: 24 impressoras; 24 Tablet e 24 receptor de GPS. Como se pode observar, a

48
Entrevista ao chefe de repartição de ordenamento territorial do SDPI de Gurué. Data: 24 de Julho de 2019.
49
Entrevista ao director do SDPI de Gurué. Data: 24 de Julho de 2019.

54
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

tabela 6 que expõe os meios circulantes e informáticos e as respectivas quantidades que as


instituições se beneficiaram.

Tabela 6. Disposição de meios circulantes e informáticos para o reforço a capacitação


institucional

Capacitação Institucional

Items Instituição Quantidade

Motorizadas SDAE, SDPI 30

Computadores SDAE, SDPI, SPGC e INIR 30

Impressora SDAE, SDPI, SPGC 24

Tablet SDAE, SDPI, 24

Receptor GPS SDAE, SDPI, SPGC 24

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados das entrevistas e Relatório do SUSTENTA
2018

No tocante a essa intervenção percebemos que isto resultou positivamente na medida em que
permite flexibilizar as actividades dos técnicos na realização das suas actividades e na
interação com os PACE’s e dos PA’s. Portanto, a avaliação sobre a formação e capacitação
dos agricultores e fortalecimento dos governos locais revela que, devido à consistência e
inclusão de muitos actores nessa actividade e a pertinência das áreas levadas a cabo nas
capacitações, favorece uma avaliação positiva no alcance do objectivo previamente definido.
De certa forma, esses resultados acabam contribuindo de forma positiva no cumprimento dos
objectivos do SUSTENTA e revertendo os constrangimentos verificados nas políticas
públicas de desenvolvimento rural anteriores.

4.4.3. Melhoria de Infraestrutura Rural.

A melhoria de infraestrutura rural é fundamental para se alcançar melhorias nas condições de


vida das populações rurais. Por conseguinte, o debate sobre o mesmo assunto na realidade

55
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

moçambicana em alguns estudos evidenciou-se ser um dos constrangimentos que dificulta o


desenvolvimento do sector agrário em Moçambique 50.

Neste cenário, a discussão actual sobre as políticas de desenvolvimento rural ou de apoio e de


fortalecimento de agricultura foca-se, essencialmente sobre o alcance e a pertinência dessas
iniciativas que tendem fragilizar o desenvolvimento da agricultura virada para o
desenvolvimento rural. 51

Por isso, o projecto SUSTENTA vendo a pertinência dessa actividade previa no seu plano
melhorar a agricultura e as cadeias de valor baseadas na floresta, disponibilizando factores
relacionados com estradas rurais e infraestruturas de irrigação. E para o alcance desse
objectivo seria necessário: (a) identificação e resolução de obstáculos de infra-estrutura chave
na área do Projecto; (b) financiamento de estudos preparatórios para identificar os elos mais
críticos numa rede rodoviária de abastecimento (rede principal), explorar as vulnerabilidades
das diferentes intervenções para mantê-la em condições estáveis e fornecer às partes
interessadas informações transparentes para priorizar as intervenções mais robustas; e (c)
financiamento da reabilitação e manutenção de estradas mais críticas e reabilitação da
irrigação e novas necessidades do sistema.

Nesta senda, observando que área irrigada no país é insignificante, 52 está claro que a
necessidade do país e da região em foco, no caso de Gurué é uma política pública visando
oferecer recursos e técnicas para que os pequenos agricultores tenham acesso a sistemas de
irrigação apropriados para viabilizar e melhorar a sua produtividade agrícola e a sua renda.

De acordo com os dados recolhidos no terreno com os nossos entrevistados, constatou -se que
na área geográfica em estudo foi construída uma ponte, que viabiliza a transitabilidade no
posto administrativo de Lioma na localidade de Nintulo (Lioma-sede) no troço entre Impissa-

50
A ORAM e ROSA (2010) evidenciaram que as vias de comunicação para o escoamento de produtos em
muitas regiões de Moçambique incluindo Gurué encontram-se em estado deplorável, o que dificulta a
movimentação dos compradores de produtos agrícolas para as zonas de produção. O mesmo estudo constatou
igualmente que existe fraca rede de infraestruturas para o processamento e distribuição dos produtos agrários e
fraca rede formal de comercialização dos excedentes agrícolas.
51
SILVEIRA, et all. Politicas Publicas de Desenvolvimento Rural e do Combate a Pobreza no Campo, 2016, p.
7.
52
Agenda 2025 (2003, p.50)

56
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Nintulo. Constatou-se também que foi feito o levantamento para obras de reabilitação para 4
regadios no Gurué numa área de 82 ha.

Entretanto, outras acções pertinentes relacionadas com a melhoria das infra-estruturas, tais
como: área abastecida com irrigação e serviços de drenagem e estradas mantidas ou
reabilitadas, os nossos entrevistados revelaram que ainda não houve resultados concretos,
mas sim fez-se um concurso público que permitirá a concretização dessas actividades53.

Os resultados tendem a demostrar alguma intervenção em torno dessa actividade, todavia,


percebendo a precaridade existente na área das infraestrutura nas zonas rurais ainda há
necessidade de mais trabalho para a minimização do problema das infraestrutura, neste caso,
a construção de apenas uma ponte, apesar de trazer algumas melhorias por um lado não
revela que os resultados sejam alcançados, pois as estradas terciárias que ligam os diferentes
pontos do distrito de Gurué ainda continuam como constrangimento para a deslocação e
escoamento dos excedentes agrícolas dos pequenos agricultores.

Adicionado a esse argumento, em conformidade com os nossos entrevistados, a falta de vias


de acesso nas zonas rurais tem sido um dos grandes constrangimentos que o Distrito de
Gurué tem registado desde as grandes enxurradas de 2015, que em certas circunstâncias
dificulta o contacto com a maior parte da população-alvo do projecto. Por conseguinte, o
projecto SUSTENTA ainda deve intervir de forma prioritária na resolução desse
constrangimento, construindo pontes e reabilitando estradas de modo a facilitar o trabalho
dos extensionistas no contacto com os PACEs e os pequenos agricultores e principalmente no
escoamento dos produtos54.

Nesta ordem de ideias, no âmbito do desenvolvimento de infra-estruturas, é de particular


importância que o SUSTENTA leve em consideração a maximização da utilização dos
sistemas de regadio existentes e promoção da utilização do potencial de irrigação, prestando
particular atenção às regiões agro-ecológicas de Gurué.

Assim, partindo do princípio de que a avaliação que empreendemos neste estudo são
estudados não apenas os efeitos directos, resultantes da intervenção, mas também seus efeitos

53
Entrevista ao técnico de edifícios do SDPI-Gurué. Data: 24 de Julho de 2019.
54
Idem.

57
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

indirectos, sejam eles relacionados à intencionalidade da acção, sejam eles efeitos perversos,
isto é, efeitos que, imediatamente ou mediatamente, são contraditórios em relação ao intento
da acção, constatamos que o SUSTENTA durante o período em análise não foi eficaz nesta
actividade, pois os seus resultados não reflectem grandemente o que tinha sido previsto.
Salientamos que o melhoramento de infra-estruturas é um grande desafio neste processo,
principalmente para escoar o excedente agrícola da zona norte e centro do país para as
províncias deficitárias no sul de Moçambique.

4.4.4. Principais Culturas Promovidas pelo SUSTENTA no Gurué e seu Impacto no


Rendimento

Os pressupostos do SUSTENTA são de promover cadeias de valor agrícolas (aviculturas,


milho, gergelim; castanhas de caju; feijões fruteiras) e produtos florestais provenientes de
plantações e produtos florestais não madeireiros (moringa, cogumelos, mel, óleos naturais,
etc.).

No período em análise, SUSTENTA levou a cabo a produção de quatro (4) principais


culturas nomeadamente: milho, soja, gergelim, e feijão boer. Por conseguinte, percebe-se que
actualmente essas culturas são de rendimento, por isso a sua promoção seja maior com vista a
permitir para que os PACEs tenham um impacto positivo no rendimento. A tabela 7 resume a
produção das quatro (4) culturas promovidas pelo SUSTENTA.

Tabela 7: Produção por cultura

Produção por cultura

Província Milho (t) Soja (t) Gergelim (t) Feijão Boer

Zambézia 1.110, 20 492,80 157,83 668,80

Nampula 1.627.70 280,00 278,36 774,80

Sub total 2.737,90 772,80 436,19 1443,60

Total de produção 5. 390, 49

Fonte: MITADER-Relatório do SUSTENTA (2018)

58
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Os dados do relatório do SUSTENTA (2018) revelam que a produção da primeira e segunda


campanha do SUSTENTA influenciaram num impacto positivo do rendimento e num
incremento da eficiência produtiva dos pequenos agricultores. Das quatro (4) culturas levadas
a cabo, os Kits de Gergelim e Soja, mostraram ser os mais rentáveis. A tabela a seguir mostra
o impacto das culturas promovidas antes e depois do SUSTENTA no primeiro ciclo
produtivo.

Tabela 8: Impacto das Culturas no Rendimento

Indicadores de Rendimento

Cultura Sem SUSTENTA Com SUSTENTA

Produtividade Preço Rendimento Produtividade Preço Rendimento


(t/ha) (MT/kg) (MT/ha) (t/ha) (MT/kg) (MT/ha)

Milho 0.64 8 5.120, 00 1.24 8 9.920, 00

Soja 0.414 23 9.522, 00 1.19 23 27.370, 00

Gergelim 0.365 70 25.550, 00 0.98 70 68.600, 00

F. Boer 0.379 10 3.790, 00 1.24 10 12.400, 00

Fonte: MITADER-Relatório do SUSTENTA (2018)

A tabela mostra que com a intervenção do SUSTENTA a produtividade aumentou


aproximadamente duas vezes em cada tonelada por hectar, e isto resultou no aumento do
rendimento em 94% na produção do milho, 187% na produção de soja, 168% na produção de
Gergelim e Feijão Boer aumentou em 227%.

Os dados que observamos do SUSTENTA nos remetem a uma percepção de que é um


projecto que tende a melhorar e aumentar as receitas dos PACE’s e PA’s como resultado da
sua implementação. A título de exemplo, o relatório supracitado indica que a receita esperada
com a comercialização da produção dos PA e PACE é de 84.647.256, 00 Mt contra a anterior
de 28.597.308, 00 Mt. O crescimento foi de cerca de 196% quando comparado com o ano

59
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

anterior. A tabela a seguir mostra a variação da receita por cultura com base na análise e
comparação feita através da linha de base 55.

Tabela 9: Variação da Receita por Cultura

Receita por cultura

Cultura Linha de base SUSTENTA Variação

F. Boer 3.565. 200, 00 14.436.000, 00 305%

Gergelim 8.961.540, 00 30.533.720, 00 241%

Milho 11.131.088, 00 21.903.136, 00 97%

Soja 4.939.480, 00 17.774.400, 00 260%

28.597.308, 00 84.647.256, 00 196%

Fonte: MITADER-Relatório do SUSTENTA (2018)

Tendo em consideração os dados acima sobre o impacto das culturas no aumento da receita e
do rendimento, verifica-se uma melhoria significativa da intervenção do SUSTENTA no
distrito de Gurué. Comparativamente aos anos anteriores por exemplo, os agricultores apenas
produziam para a sua subsistência, muitas vezes sem olhar para o mercado. Mas com razão
por um lado, pois há que salientar que por mais que tivessem iniciativas de produzir em
grandes quantidades e olhando para o mercado, enfrentavam certas limitações. De certeza que
não tinham condições favoráveis que lhes permitissem produzir em grandes quantidades.
Todavia, actualmente com as maquinarias 56 e os insumos que os pequenos agricultores
dispõem com apoio do SUSTENTA influencia para o aumento da produtividade e
consequentemente no aumento do rendimento.

55
Linha de base é uma referência que é usada como base para medir ou comparar valores actuais e passados. Por
exemplo uma Empresa que queira medir o sucesso de uma das suas linhas de produtos pode usar o número de
unidades vendidas durante o primeiro ano como uma linha de base para avaliar o crescimento das vendas
subsequentes. A baseline pode ser considerada o ponto de partida contra o qual todos os valores futuros são
medidos. É um ponto de partida claramente definido de onde uma nova estratégia é implementada, uma
melhoria existente é julgada ou uma comparação entre dois períodos é feita.
56
Vide em anexo o tipo de maquinaria financiada pelo SUSTENTA.

60
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

De acordo com a entrevistada 57, o projecto SUSTENTA trouxe todas as maquinarias que
faziam falta para aumentar a produção. Actualmente os PACEs tem charrua; semeadora;
debulhadora, entre outras maquinarias. Essas maquinarias ajudam porque em pouco tempo
é possível preparar o terreno do cultivo. Em menos de uma semana conseguimos trabalhar
50 a 100 hectares e ficamos em casa a fazer outras actividades. Com a debulhadora por
exemplo, em menos de 12h conseguimos debulhar 100 secos. Ademais, anteriormente
carregávamos os secos na cabeça, agora temos o tractor que nos facilita.

No mesmo contexto, o outro PACE também confirmou que, SUSTENTA é um projecto que
veio ajudar, porque anteriormente nós alugávamos as maquinarias e mesmo assim chegavam
tarde, por vezes perdíamos o tempo apropriado para a produção enquanto esperávamos as
maquinarias. Agora com o SUSTENTA estamos facilitados 58. Portanto, com base nos
depoimentos acima dos nossos entrevistados, salientamos que o projecto SUSTENTA é
consistente aos problemas dos seus beneficiários e consequentemente ajuda na minimização
de muitos problemas que afectavam o desenvolvimento da agricultura.

4.4.5. SUSTENTA na Geração de Emprego e Rendimento

O crescimento inclusivo e uma redução do índice de pobreza alimentar e vulnerabilidade no


país acompanhado do desenvolvimento económico sustentável, redução do desemprego e
aumento da produção e produtividade agrária de modo a reduzir a fome, e aumentar a
monetização das zonas rurais; minimizar o problema de falta de mercado de crédito e gerar
oportunidades de emprego e insegurança alimentar são objectivos do governo de
Moçambique plasmados em algumas políticas públicas de desenvolvimento rural (PARP
2014; FIIL, 2007; EDR 2007). Neste contexto, há consenso nessas políticas públicas que para
atingir esses propósitos seja equacionado a promoção massiva do emprego.

É com base nesses propósitos que nesta secção do trabalho procuramos entender em que
medida SUSTENTA contribui para a geração de emprego e rendimento. Tomando em
consideração que o maior objectivo do governo é de melhorar as condições de vida da
população, em particular das zonas rurais por serem alvos de muita pobreza, insegurança

57
Angelina Morresse Marreta-Pequena Agricultora Comercial Emergente da localidade de Tetete-sede
58
Sidonio Wilson Luis. PACE da localidade de Tetete-Gurué. Povoação de Sede Nova. Data: 25 de Julho de
2019

61
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

alimentar acompanhado de desnutrição crónica, é pertinente que as políticas públicas viradas


para o desenvolvimento rural, o caso do SUSTENTA, promovam um emprego que contribua
para o alcance desse objectivo.

Nesta senda, o nosso argumento é de que o SUSTENTA estará a contribuir no alcance desses
objectivos, se de facto promover empregos que influenciam na melhoria do padrão de vida
dos pequenos agricultores, pois este é o maior problema da população do meio rural.

Quando inquiridos os beneficiários do SUSTENTA, de acordo com o gráfico a seguir, os


dados revelam que, dos 100% inquiridos 70% afirma que o SUSTENTA contribui na geração
de emprego e 30%, são aqueles que acreditam que o projecto promove o emprego
parcialmente, portanto não houve uma resposta negativa sobre a mesma questão.

Gráfico 2: Opinião dos beneficiários


sobre o SUSTENTA na promoção de
emprego.

30%
Sim
0% 70%
Não
Parcialmente

Fonte: Elaborado pelo autor.

Embora os dados acima demostrem que o SUSTENTA contribui na geração de emprego e


rendimento, ainda não respondem a questão se de facto estes sejam empregos que melhoram
a qualidade de vida dos beneficiários. Pois, o emprego em si pouco diz sobre a melhoria do
padrão de vida das pessoas, e evidencias empíricas tem demostrado que há pessoas que,
mesmo estando empregadas, vivem abaixo da linha da pobreza; os chamados trabalhadores
pobres (ATKINSON, 1998, p. 80 apud WUYTS, 2010).

Na tentativa de entender a fundo sobre a promoção do emprego levado a cabo pelo


SUSTENTA um dos PACEs entrevistado afirmou que, a partir do momento que recebemos
apoio do SUSTENTA não foi possível trabalhar sozinho, tornou-se necessário contratar três

62
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

trabalhadores permanentes e outros em número de 50 a 70 que são contratados para


trabalhos temporários nas machambas em diferentes fases da produção59. Relativamente a
mesma questão, o coordenador provincial do SUSTENTA acrescentou que, os PACEs
actualmente, com o aumento da produtividade virada para o mercado que é o seu desafio, de
certeza que são obrigados a contratar um contabilista para auxiliar a sua demostração
financeira de modo a saber os possíveis sucessos e insucessos da sua produção. Ademais,
com as maquinarias que dispõem, constituem um ganho para dar emprego aos operadores
dessas máquinas com vista a flexibilizar o trabalho60.

Perante a estes factos, apesar de, em termo de geração de emprego e rendimento o


SUSTENTA tenha resultados visíveis, é notável que o tipo de emprego referido nesses
depoimentos que abrange maioritariamente o público-alvo não é sustentável. Primeiro,
verifica-se que a mão-de-obra é mais procurada apenas para um curto período do tempo
(Tempo em que há actividades nas machambas), o que faz entender que se não existem
trabalhos nas machambas a maior parte da população ainda fica desempregada. Segundo,
notamos que o tipo de emprego promovido abrange somente para uma camada social, que são
os agricultores muitas vezes idosos sem envolver na sua maioria jovens. Porque em termos de
idade em conformidade com o gráfico a seguir, dos 100% dos nossos inquiridos 2% estavam
no intervalo de 20 a 30 anos, a seguir a minoria também de 5% no intervalo de 30 a 40 anos;
seguindo dos 25% no intervalo de 40 a 50 anos e a maioria que corresponde a 68% tinha mais
de 50 anos.

Gráfico 3: Idade dos Beneficiários


2% 5%

25% De 20 a 30 anos
68% 30 a 40 anos
40 a 50 anos
Mais de 50 anos

59
Sidonio Wilson Luis. PACE da localidade de Tetete-Gurué. Povoação de Sede Nova. Data: 25 de Julho de
2019.
60
Coordenador Provincial do SUSTENTA. Cidade de Mocuba. Data: 23 de Julho de 2019.

63
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Fonte: Elaborado pelo autor

De salientar que, a redução da pobreza não está, apenas, associada a criação de emprego aos
ganhos de produtividade e ao acesso de bens básicos de consumo (especialmente comida),
mas também aos níveis elevados de educação e ao acesso de serviços de saúde e saneamento
de qualidade61. No tocante aos níveis elevados de educação, salientamos que é um desafio
enorme para a maioria da população rural, especificamente os beneficiários do SUSTENTA
no Gurué. Em conformidade com o gráfico a seguir sobre o nível de escolaridade, revela que
89% dos beneficiários directos no Gurué (PACE e PA) não tem nenhuma formação escolar,
os 11% são aqueles com nível básico, e portanto nenhum dos inquirido durante esta pesquisa
tinha o nível médio ou superior.

Gráfico 4: Nivel de escolaridade dos PACEs e PA.


0% 0%
11%

Nenhuma formação
Nível Básico
89% Nível Médio
Nível Superior

Fonte: Elaborado pelo autor

Portanto, considerando que o capital humano é o cerne de qualquer desenvolvimento num


país, salientamos que é preciso conjugar o aumento dos ganhos da produtividade, o emprego
e o acesso a bens de consumo com a expensão do acesso de serviços de educação de
qualidade, pois desta forma sim haverá promoção da qualidade de vida da população e
consequentemente influenciará na redução da pobreza. Como não obstante, olhando para
essas penúrias, consideramos que as actividades de formação, capacitação dos agricultores
promovidas pelo SUSTENTA são pertinentes na espectativa de ajudar os pequenos
agricultores na prática de agricultura sustentável.

61
IBRAIMI, Yasfir. Reflexões sobre Emprego e Redução da Pobreza no PARP: Desafios para uma abordagem
alternativa (2012, p.378).

64
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

De tudo exposto, salientamos que seria necessário que o governo apostasse na promoção da
indústria transformadora nas regiões onde são implementadas as tais políticas públicas de
desenvolvimento rural, pois assim para além de permitir a expansão do mercado de
comercialização dos agricultores para a venda dos seus excedentes nas tais industrias, seria
uma oportunidade de empregar várias camadas sociais (jovens, velhos) em diferentes
actividades para não se limitar ou depender apenas de trabalhos temporários nas machambas.

Com a instalação de uma fábrica transformadora do óleo no Gurué por exemplo, o gergelim,
e a soja que são uma das cultura mais produzida e por conseguinte promovida por
SUSTENTA, os PACE’s teriam um foco a quem vender no final da produção, reduzindo
desta forma os constrangimentos relativos a rede de comercialização.

4.4.6. Execução Global do SUSTENTA

Tomando em consideração que a análise de eficiência verifica se os recursos mobilizados


produziram os resultados, efeitos e impactos pretendidos numa política pública 62, nesta
secção faz-se uma análise da execução global do SUSTENTA com vista a aferir a sua
eficiência ou ineficiência. Para tal, baseamo-nos com os investimentos efectuados e o valor
alocado, assim como a sua execução nas principais actividades de investimento com forme a
tabela a seguir.

62
SANTOS, Anabela; SERRANO, Maria Manuel; Neto, Paulo. Análise da Eficácia, Eficiência e Valor
Acrescentado de Politicas Públicas Place-based - Uma aplicação a territórios Rurais. Brasília: 2015.

65
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Tabela 10. Execução global do SUSTENTA

Fonte de Banco Mundial Instituições


financiamento financeiras

Alocação Execução % Alocação


Execução

Transferência de 379.878.000, 00 123.539.686, 66 33%


tecnologia

Financiamento 636.468.000, 00 133.097.248, 20 21% 369.470347, 00


Investimento
Mercados 36.000.000, 00 9.361.564,32 26%

Infraestruturação 425.557.600, 00 188.366.987,12 44% 70.200.000,00

Salvaguardas 297.516.000, 00 83.285.042,40 28%

Ordenamento 422.727.000, 00 436.656.156, 60 103%


Produtivo

Funcionamento Coordenação e Gestão 239.123.400, 00 225.226.185, 80 94%

Sub-Total (Mt) 2.437.270.000, 00 1.199.532.871, 12 49% 439.670.347,


00

Total (Mt) 1.639.203.218, 12

Fonte: MITADER-Relatório do SUSTENTA 2018.

Ao longo do período em análise foram alocados 2.437.270.000, 00 (Dois biliões,


quatrocentos e trinta e sete milhões e duzentos setenta mil meticais), para o investimento de
actividades tais como: Transferência de tecnologia; Financiamento; Mercados;
Infraestruturação; Salvaguardas; Ordenamento Produtivo; Coordenação e Gestão. Desse
investimento alocado, o total executado foi de 1.199.532.871, 12 (Um bilião, cento noventa e
nove milhões e quinhentos e trinta e dois mil e oitocentos e setenta e um metical e 12
centavos, correspondente a 49%. O investimento executado e o investimento alocado pelas
instituições financeiras foi equivalente a cerca de 1.639.203.218, 12 (Um bilião, seiscentos e
trinta e nove milhões, duzentos e dezoito mil e doze centavos).

Observando o nível do alcance dos resultados num período de três anos e com uma
percentagem de 49% da execução dos recursos envolvidos para a concretização das

66
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

actividades planificadas das componentes do SUSTENTA, entende-se que os recursos foram


utilizados da melhor maneira possível. Analisando os recursos gastos para cada uma das
actividades, verifica-se que dos 100% do fundo alocado para cada uma das actividades houve
uma maximização dos recursos, excepto o investimento do ordenamento produtivo que
atingiu 103%. Mas de forma geral, consideramos uma eficiência do SUSTENTA na
perspectiva da utilização dos recursos. Ademais, dos 100% dos beneficiários dos fundos
alocados por SUSTENTA afirma que conseguiu reembolsar o crédito.

4.5. Mudanças e Melhorias Resultantes da Implementação do Projecto SUSTENTA

Olhando para um contexto que em Moçambique foram implementadas várias políticas


públicas de desenvolvimento rural que por um lado tiveram sucessos e por outro lado
insucessos, há que questionar qual é a novidade que o SUSTENTA traz que outras políticas
pública não levavam em consideração? Quais são as mudanças e melhorias resultantes da
implementação do SUSTENTA? Em busca das respostas dessas questões a partir dos dados
dos nossos entrevistados, verifica-se que é evidente que a implementação do projecto
SUSTENTA no distrito de Gurué trouxe mudanças e melhorias ao nível do agronegócio para
aumentar a participação das famílias rurais no desenvolvimento de cadeia de valor.

Os beneficiários do SUSTENTA em Gurué reconhecem que o projecto trouxe um grande


ganho na medida em que promove uma agricultura mecanizada e moderna que tende a
aumentar cada vez mais as áreas de cultivo, desta forma permitirá criar condições de
reaproveitamento das vastas áreas férteis que existem no Gurué em particular que outrora não
eram aproveitadas adequadamente 63.

Verificou-se igualmente que o SUSTENTA inovou na componente da capacitação e


assistência técnica dos agricultores, pois esta componente permite que os agricultores
consigam desenvolver os seus planos de negócios, por conseguinte, percebe-se que esses
planos definirão seu modelo de negócios e detalharão como eles proverão assistência técnica,
acesso a insumo e determinarão quais equipamentos de mecanização serão necessários para
fornecer serviços mecanizados aos clientes de seus pequenos agricultores.

63
Entrevista com Supervisor da área de extensão do SDAE-Gurué. Data; 16 de Julho de 2019.

67
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Entretanto, o mais fundamental é que o projecto promove os agricultores no abandono duma


agricultura de subsistência para a prática de uma agricultura mecanizada e virada para o
mercado64. Visto que os elementos-chave que esta capacitação leva em conta é sobretudo a
participação dos agricultores na identificação de ideias empresariais e avaliação da
viabilidade, sustentabilidade e rentabilidade da concepção do projecto; o tratamento
sistemático das considerações sobre o mercado/procura, as considerações ambientais, a
assistência Técnica e os aspectos de gestão, a avaliação dos fluxos financeiros, a avaliação
adequada dos rendimentos em espécie e dos custos, a fim de avaliar devidamente a
viabilidade e a sustentabilidade e a avaliação adequada dos retornos incrementais (situações
com-Projecto versus situações sem-Projecto).

4.6. Percepção do Grupo Alvo sobre a Contribuição do SUSTENTA para o


Desenvolvimento Rural

Perante as entrevistas feitas aos beneficiários do SUSTENTA no Gurué constatamos que o


SUSTENTA contribui para o desenvolvimento rural, pois olhando para as realizações feitas,
nota-se que o SUSTENTA criou apoio ao produtor familiar, com tractores, máquinas,
sementes e fertilizantes, de modo que este grupo possa aumentar sua produtividade passando
a abastecer o mercado interno e externo e aumentando o seu rendimento 65. Outro aspecto
importante do desenvolvimento rural que os beneficiários destacam, está relacionado com a
criação de mecanismos de assistência técnica ao Pequeno Agricultor Comercial Emergente.
Adicionado a isto, consideramos uma relevância sobre a criação do sistema de créditos que
prevê a emergência de uma crise.

Com a implementação do SUSTENTA, os PACEs se beneficiaram de financiamento de


insumos modernos e da mecanização bastante alta. Pois, dos cerca dos 100% abrangidos pelo
projecto usa fertilizantes ou pesticidas e todos tem a oportunidade de usar sementes

64
Segundo a ORAM e ROSA (2010) salientam que um dos grandes constrangimentos do sector de agricultura
está na produção familiar, que é basicamente de subsistência, pois esta é caracterizada por ser de baixa
produtividade, e os agregados familiares apresentam uma capacidade limitada de geração de poupanças e
permanentemente vivem uma situação de insegurança alimentar. Disso percebe-se que as iniciativas de
SUSTENTA estão viradas para a minimização desse constrangimento, focalizando-se na prática duma
agricultura sustentável virada para a comercialização.
65
Entrevista com Manuel da Costa. PACE da localidade de Tetete-sede. Data: 5 de Agosto de 2019.

68
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

melhoradas. E como resultado disso os índices de produção da maioria das culturas no Gurué
promovidas pelo SUSTENTA são altas, condicionando para que os PACEs possam sair da
condição de subsistência para ser comercial abastecedor do mercado interno e externo.

Considerando que o SUSTENTA traz uma abordagem multisectorial e multifuncional, isto é,


apoiando o desenvolvimento da cadeia de valor baseada na agricultura e na silvicultura, levar
acabo também as praticas agrícolas sustentáveis (Salvaguardas ambientais e sociais) e
restauração das áreas degradadas, entendemos que é um projecto que se enquadra nas
perspectivas do desenvolvimento rural segundo a literatura actual sobre este domínio. Pois, o
desenvolvimento rural tem de específico o fato de referir-se a uma base territorial, local ou
regional, na qual interagem diversos setores produtivos e de apoio, e nesse sentido trata -se de
um desenvolvimento multissetorial.

Quando se fala de desenvolvimento rural, não se pode olhar apenas o aumento da


produtividade. Como sugere uma parte da literatura, é necessário tomar em consideração
outras dimensões tais como a função produtiva, antes restrita à agricultura, que passa a
abranger diversas atividades, desde o artesanato e o processamento de produtos naturais até
aquelas ligadas ao turismo rural e à conservação ambiental; a função populacional, que a
partir do desenvolvimento de infra-estrutura, serviços e oferta de empregos assegurem a
retenção da população na área rural; a função ambiental passa a receber mais atenção após as
fases iniciais da industrialização (inclusive do campo) e demanda do meio rural a criação e
proteção de bens públicos e quase-públicos, como paisagem, florestas e meio ambiente em
geral66. Nesse sentido, o desenvolvimento rural, além de multissetorial, deve ser também
multifuncional. Portanto, olhando para esses pressupostos e comparando com as componentes
e as realizações do SUSTENTA é evidente que tende a contribuir para o desenvolvimento
rural.

Ainda em busca da percepção dos beneficiários do SUSTENTA em Gurué, reconhecem que


este projecto chegou a um bom momento, e reparando pelas acções que o SUSTENTA tem
levado a cabo verifica-se que directa ou indirectamente tende a contribuir para a melhoria
da qualidade de vida para os agricultores. Pois, olhando para as mudanças climáticas ou

66
KAGEYAMA, Angela (s/d). Desenvolvimento rural: conceito e um exemplo de medida.

69
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

variação de clima que tem ocorrido, com as iniciativas do reflorestamento que tem-se levado
acabo e sendo uma actividade-chave para o sequestro do carbono, verifica-se que isto
influencia para o desenvolvimento rural por um lado, visto que as famílias do meio rural não
tem o hábito de replantar as arvores que são por elas destruídas, SUSTENTA tende a
melhorar esses problemas, consciencializando a comunidade no sentido de mudar de
comportamento. Ademais, actualmente encontramos agricultores que não conseguiam
cultivar três hectares com a “enxada de cabo curto”, e com o SUSTENTA já é possível fazer
um cultivo a cerca de 10 a 20 hectares, além disso, os resultados do projecto demostram a
superação da fome no Gurué67.

4.7. Um Olhar Crítico dos Resultados

No presente trabalho, procurou-se avaliar o projecto SUSTENTA que apesar de os seus


resultados serem positivos, não são mil maravilhas. O projecto SUSTENTA tem promovido
os pequenos agricultores na melhoria da produtividade em termos quantitativos e qualitativos,
mas ainda não atingiu um dos maiores objectivos tanto dos PACEs assim como do próprio
SUSTENTA. Por mais que os agricultores tenham muita produtividade a sua finalidade é a
comercialização dos seus excedentes. Durante o período em analise da implementação do
SUSTENTA ainda é notável no Gurué assim como em outras regiões de Moçambique
problemas relacionados com a expansão da rede comercial, apesar de esta constituir como
prioridade do Governo, e esta componente encontrar-se destacada na Politica Agraria e em
outros instrumentos normativos, o que se nota é que tal expansão ainda é bastante lenta.

Além disso, os poucos operadores comerciais licenciados, que estão espalhados pelas zonas
de produção, estão, na sua maioria, sem capacidades financeiras para operarem na
comercialização dos excedentes dos camponeses. E não existe nenhuma instituição financeira
capaz de estimular tal prática. 68.

Assim, um dos constrangimentos que ainda existe que por conseguinte SUSTENTA pretendia
melhorar é a expansão da rede comercial. Segundo os beneficiários do projecto SUSTENTA,
a falta de compradores confiáveis dos seus excedentes constitui uma preocupação que

67
Entrevista ao tecnico de Gestao Ambiental do SDPI-Gurue. Data: 25 de Julho de 2019.
68
ORAM & ROSA. Estudo sobre o Impacto da Política Agrária em Moçambique. Pesquisa Realizada em:
Maputo cidade; Província de Maputo; Província de Sofala; Província de Manica e Província de Tete (2010).

70
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

esperavam uma intervenção rápida e eficaz, que no entanto SUSTENTA ainda não superou, o
que leva os agricultores a percorrer dezenas de quilómetros de distância em busca de locais
para a venda dos seus excedentes. Os outros camponeses vendem seus produtos aos
comerciantes ambulantes que, na sua maioria, impõem preços baixos, preços esses que
acabam sendo aceites pelos camponeses, com o receio de não verem seus produtos a se
deteriorarem69.

Salientamos que a expansão da rede de comercialização seria uma das prioridades do


SUSTENTA, visto que, os camponeses mesmo produzindo em grandes quantidades, mas sem
mercado favorável cria desânimo na realização das suas actividades. O mesmo
constrangimento não afecta somente Gurué, em Tete por exemplo, apesar do SUSTENTA
não tenha abrangido por enquanto, os camponeses que vivem ao longo das fronteiras,
recorrem aos países vizinhos, onde vendem os seus produtos a preços extremamente baixos, e
o que faz com que o país perca milhares de toneladas de produtos agrícolas por ano, em
benefício daqueles países. Importa referir que, quantidades ilimitadas de milho produzido nos
distritos fronteiriços de Niassa, Zambézia e Tete, são vendidos no Malawi sem nenhum
controlo, outras quantidades são vendidas na Zâmbia e no Zimbabwe.

Por outro lado, no sul do país, muitos produtos agrícolas são importados da África do Sul.
(FRANCISCO (2010, apud ORAM e ROSA, 2010). Olhando para essas penúrias,
salientamos que o SUSTENTA deveria intervir de forma eficaz no que diz respeito a essa
actividade.

Não obstante, o SUSTENTA preconiza o estabelecimento das ligações entre o PACE e outros
actores de cadeias de valor, nomeadamente: os Pequenos Agricultores (PA) provedores de
insumos e mercados. Esta actividade consistiria na identificação dos mercados e assistência
na negociação de preços e comercialização. A figura a baixo mostra como funciona a relação
de mercado que o SUSTENTA dispõe.

69
Entrevista com pequeno Agricultor beneficiario do SUSTENTA. 18 de Julho de 2019

71
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Figura 2: Ligação de mercado

Venda Venda
PA PACE MERCADO
Compra Compra

Produção/ Insumos

Fonte: MITADER- Relatório do SUSTENTA 2018

Em conformidade com a figura acima, o propósito do SUSTENTA é de facilitar a expansão


do mercado, a ideia é de que os PACE’s compram os insumos com as empresas âncoras que
por sua vez dão a crédito aos pequenos agricultores para receber o reembolso no fim da
campanha de produção em valor monetário ou em espécie. E com base nos extensionistas
rurais do SUSTENTA negociariam com certas empresas para a compra dos excedentes dos
PACEs. No entanto, segundo os PACE’s esta iniciativa ainda não foi concretizada. Ademais,
o SUSTENTA preconiza que cada PACE deve apoiar outros pequenos agricultores num total
de 200 (duzentos) até no fim da primeira fase do SUSTENTA, mas esta relação entre o
PACE e PA constatamos que há certos constrangimentos dos PAs não honrarem com os seus
compromissos. Todos PACE’s de Gurué salientam que os insumos que deram a crédito os
seus PA’s para receber o reembolso no final da campanha, poucos conseguem reembolsar
devidamente.

Por outro lado, a expansão do mercado para a comercialização não constitui o único
constrangimento que SUSTENTA deve superar, no que tange a melhoria das infra -estruturas
apesar de existir uma intervenção, salientamos que ainda é preciso uma eficácia dessa
actividade no sentido de melhorar e facilitar os serviços dos pequenos agricultores e os
demais beneficiários. Se o objectivo é de promover a melhoria da agricultura e as cadeias de
valor baseadas na floresta, seria ideal que as condições relacionadas com estradas rurais e
infra-estruturas de irrigação fossem concretizadas.

No Gurué notou-se que O SUSTENTA financiou a construção de uma ponte, apesar dessa
iniciativa ajudar bastante na transitabilidade daquela população, salientamos que não tendo
sido construídos novos sistemas de irrigação, o actual uso e aproveitamento dos sistemas de
irrigação ainda continuará muito baixo sendo uma das razões o fraco envolvimento dos

72
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

beneficiários no processo de planificação e execução dos projectos de rega, portanto, para um


país que elegeu a agricultura como a base de desenvolvimento, essas infra-estruturas de
irrigação seriam prioritárias. Outro constrangimento que constatamos é a fraca abrangência
dos PME’s no Gurué, até ao momento da realização dessa pesquisa verificou-se que nenhuma
PME de Gurué beneficiou-se do SUSTENTA.

Apesar dos constrangimentos acima referidos, no que concerne ao Fornecimento de


Formação e Assistência Técnica para PACE’s e financiamento do agronegócio para atores de
cadeias de valor, SUSTENTA apresenta resultados positivos. Com base nessas actividades as
populações têm beneficiado da devida capacitação por forma a ter o domínio no processo de
identificação de áreas que devem merecer atenção no direccionamento dos fundos
financiados pelo SUSTENTA, em suas comunidades, anteriormente era notável os
agricultores receberem fundos doutros programas e por falta de conhecimentos de
administração ou gestão financeira influenciava no fracasso dos seus projectos.

Antes os distritos careciam de técnicos qualificados na área de concepção e elaboração de


projectos comunitários, que fossem capazes de assistir aos diversos grupos, na monitorização
dos fundos, incluindo a sua gestão eficaz, e actualmente SUSTENTA dispõe aos agricultores
técnicos agrónomos, oficiais de negócios entre outros extensionistas rurais que assistem
directamente os beneficiários do SUSTENTA na monitorização dos seus fundos.

73
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

CONCLUSÃO

Procuramos nesta pesquisa avaliar a implementação do projecto SUSTENTA na sua


contribuição para o desenvolvimento rural e combate a pobreza. Feita a análise e
interpretação dos dados, neste ponto apresenta-se as principais conclusões alcançadas.

Acredita-se que o governo ao implementar políticas públicas de desenvolvimento rural tem


propósitos de melhorar as condições e qualidade de vida da população do meio rural. Neste
contexto, pode-se afirmar que o SUSTENTA segue esses propósitos trazendo uma
abordagem que consiste no apoio à produção, o acesso ao financiamento, à capacitação dos
agricultores e a melhoria dos serviços de extensão rural com vista a criar alicerce para o
aumento do nível de vida das famílias no meio rural mediante um acesso melhorado aos
insumos agrícolas, serviços básicos ao nível agrícola, informação, formação e uso sustentável
e rentável dos recursos naturais dos distritos beneficiários. Esses pressupostos mostram a
relevância do projecto com a consistência das penúrias da população do meio rural.

Olhando para as intervenções ou as acções reais que o projecto propõe alcançar, permitem
concluir que em termos de financiamento do agronegócio para actores de cadeia de valor
SUSTENTA foi eficaz, pelo simples facto de conseguir alcançar os beneficiários previstos.
Como consequência, avaliando o seu desempenho, até em 2018, dos 100 PACE’s que o
projecto previa identificar para financia-los nos primeiros 12 meses nos dez (10) distritos
onde o SUSTENTA opera, foram alcançados todos, apesar de não abranger as PME’s no
distrito de Gurué. A mesma eficácia também constatamos que existe ao nível da Capacitação
e formação dos PACE’s, PME’s na medida em que SUSTENTA privilegia a técnica
demostrativa e transfere conhecimentos multidisciplinares para os beneficiários, ao mesmo
tempo que fornece um vasto leque de serviços aos beneficiários.

No entanto, há que salientar que essa eficácia não foi uniforme para todas as actividades
previstas, no que concerne a melhoria das infra-estruturas as condições relacionadas com
estradas rurais e infra-estruturas de irrigação ainda não foram concretizadas. Na mesma
senda, um dos constrangimentos que SUSTENTA ainda não alcançou é a melhoria da
expansão da rede comercial, pois, a falta de compradores confiáveis dos excedentes agrícolas

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

constitui uma preocupação, que os agricultores esperavam uma intervenção rápida e eficaz,
que no entanto SUSTENTA ainda não superou.

Não obstante, SUSTENTA trouxe mudanças e melhorias resultantes da sua implementação,


isto é, para além de promover a geração de emprego apesar de não sustentáveis, contribui
para o aumento da produtividade criando condições para que dos cerca dos 100% abrangidos
pelo projecto utilizem fertilizantes ou pesticidas e oportunidade de usar sementes melhoradas.
Em função disso os índices de produção da maioria das culturas no Gurué promovidas pelo
SUSTENTA são altas, condicionando para que os PACE’s possam sair da condição de
subsistência para ser comercial abastecedor do mercado interno e externo.

De forma geral o projecto contribui para o desenvolvimento rural e a redução da pobreza, isto
pela constatação da promoção do apoio ao desenvolvimento da cadeia de valor baseada na
agricultura e na silvicultura, levando acabo as práticas agrícolas sustentáveis (Salvaguardas
ambientais e sociais) e restauração das áreas degradadas.

Recomendações

Com base na avaliacao feita e resultados chegados recomendamos:

 Para os Gestores do SUSTENTA devem optar por outros meios de comunicação para
a divulgação e expansão dos mecanismos de elegibilidade ao SUSTENTA. Para além
das rádios e televisões, jornais que são os meios frequentes usados pelo SUSTENTA,
recomendamos que os extensionistas rurais divulguem as informações sobre esses
mecanismos durante as suas actividades diárias e por meio de palestras nas
comunidades;

 Os gestores do SUSTENTA ainda devem concretizar a expansão do mercado para a


comercialização negociando com algumas empresas nacionais e estrangeiras
interessadas na compra das culturas promovidas pelo SUSTENTA para que sejam
compradores fiéis dos excedentes agrícolas dos PACEs;

 O governo deve promover a instalação de indústrias transformadoras nos distritos-


alvo dessas políticas públicas para que sirvam de foco de venda dos excedentes
agrícolas, assim como fonte de emprego para a maior população do meio rural.

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

 Deve-se concretizar a construção de novos sistemas de irrigação e a reabilitação de


estradas para a melhoria das infra-estruturas rurais.

 As PMEs devem optar pela sua legalização efectiva com vista a se tornarem capazes
de ser potenciais candidatos do SUSTENTA com menos probabilidade de exclusão;

 Os extensionistas rurais devem apoiar os PACEs assim como os PAs para que haja
mais coordenação no seu funcionamento, para que os PA’s honrem com os seus
compromissos no reembolso do crédito.

 Os PACEs devem acatar e implementar as técnicas e os conhecimentos transmitidos


pelos extensionistas rurais.

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

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Maputo, 2008.

81
Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

ANEXOS

Tabela 5: Áreas de formação/ funcionários capacitados do distrito de Gurué

Capacitação institucional

Área/tipo Instituições Técnicos

Ordenamento do território SDAE e SDPI 39

Sistema de Gestão de Informação sobre Terras (SIGIT) SPGCs de Nampula e Zambézia 37

Sistema de Informação Geográfica SDAE e SDPI 39

Implementação de instrumentos de salvaguardas Técnicos da ANE Zambézia 10


ambientais

Ferramentas de restauração Técnicos do SDAE e SDPI 63

Validação dos resultados de restauração Plataforma de diálogo 56

Colecta e Partilha de informação espacial Plataforma de diálogo (Nampula e 37


Zambézia)

Troca de experiencia internacional (brazil) Técnicos do SDAE e SDPI 2

Fonte: Relatório do SUSTENTA 2018

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

APÊNDICES

Universidade Eduardo Mondlane


Guião de entrevista dirigido aos gestores e implementadores do projecto SUSTENTA ao
nível Central (MITADER; MASA e Provedor de serviços (PS)

A presente entrevista, dirigida por Alide Força Amade, tem como objectivo recolher
informações para sustentar o estudo de Trabalho de Final do Curso de licenciatura em
Administração Pública, subordinado ao título “Avaliação de Políticas Públicas de
Desenvolvimento Rural. O Caso do Projecto SUSTENTA no Distrito de Gurúe (2017-2019)”.
Então, pede-se a sua colaboração através de respostas às questões estabelecidas, que serão
usadas apenas para fins estritamente académicos, garantindo-se o seu anonimato.
Identificação do entrevistado (nome e função).

1. O que é Projecto SUSTENTA?


2. Acha que o projecto SUSTENTA é relevante?
Sim Não

Porque?________________________________________________________________

3. De que forma são identificados os PACEs, MPMEs rurais de Agronegócios e


pequenos agricultores em cada região?
4. Quais são os critérios de elegibilidade dos PACEs, MPMEs rurais?
5. Qual é o apoio que o projecto já efectuou aos PACEs e as MPMEs de agronegócios
para aumentar a participação das famílias rurais no desenvolvimento de CV?
Objectivo especifico 2: Finanças de Agronegócio para agentes de CV

1. Dos 100 PACEs e dos 25 MPMEs que o projecto pretende financiar com apoio
técnico, quantos já foram financiados? (NºPACEs __________e Nº de MPMEs____)
2. Quais são os critérios usados para a elegibilidade ao fornecimento de apoio técnico?
3. Quem se beneficia do acesso ao crédito?
4. Quais são os critérios usados para ter acesso ao crédito?
5. Quantos beneficiários de agronegócios-chave tiveram acesso ao crédito no distrito de
gurúe?
Objectivo especifico 3: Melhoria de Infra-estrutura Rural

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

1. O projecto já identificou os principais aobstáculos da infra-estrutura na área do


Projecto? Sim____ou não_________se não porque?
2. Já foram realizados os estudos preparatórios para identificar os elos mais críticos na
rede rodoviária afluente?
Sim Não Parcialmente

3. Quais são as estradas rurais críticas necessárias para o transporte da produção para os
mercados que se beneficiaram de reabilitação e manutenção? (Se ainda não, o que
faltou?)
4. Já foram realizados estudos de viabilidade e de projectos para águas subterrâneas e
superficiais para avaliar e priorizar a infra-estrutura de irrigação mais relevante
necessária para apoiar o desenvolvimento de CV seleccionados? (Se Sim, quais são os
resultados? Se não por quê)?
5. Já foi efectuada a reabilitação e execução de regimes de irrigação prioritários na área
do Projecto (Se não, porque?)
6. Quantos Km de estradas foram reabilitados?
7. Quantos novos sistemas de irrigação foram construídos?
8. Quantos hectares de sistemas de irrigação foram reabilitados?
Questões adicionais:

1. Acha que o projecto SUSTENTA contribui para a criação de emprego no Gurúe? Se


sim, quantos empregos foram criados nos anos seguintes?
2017________, 2018_____________, 2019____________
2. Que melhorias resultantes da implementação do projecto SUSTENTA?
3. Quais são os resultados que o MITADER e o MASA tem colhido quando avalia o
PROJECTO SUSTENTA?
4. Quais são os principais constrangimentos enfrentados pelo MITADER que
impossibilitam a gestão e implementação do projecto de forma eficiente e eficaz?
5. Em função dos problemas e constrangimentos verificados em relação a gestão e
implementação do SUSTENTA o que se pensa fazer ou está sendo feito?
6. Fazendo um balanço geral, acredita que o SUSTENTA trouxe mudanças e melhorias
ao nível do desenvolvimento rural ou agronegócios para aumentar a participação das
famílias rurais no desenvolvimento de Cadeias de Valor? Se sim, quais são?

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Universidade Eduardo Mondlane


Guião de entrevista dirigido aos Serviços Distritais de Actividade Económica
(SDAE); Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estrutura (SDPI) e Extensionistas
responsáveis pela coordenação do SUSTENTA no Gurué

Identificação do entrevistado (nome e função)___________________________________

1. Quais são os objectivos do projecto SUSTENTA?


2. Na sua opinião qual é a relevância do Projecto SUSTENTA?
3. Quantos beneficiários directos do projecto existem a nível do distrito de Gurúe?
(Número__________)
4. Dos tais beneficiários quantos femininos______ e quantos masculinos______
5. Quantas famílias rurais integradas na agricultura sustentável e nas cadeias de valor de
silvicultura na paisagem visada? (Número________)
6. Dessas quantas pequenas famílias agrícolas (_______),
7. Quantos Pequenos Agricultores Comerciais Emergentes (PACEs) existem neste
distrito? (Número________),
8. Quantos MPME de Agronegócios (Número________),
9. Quantos hectares da Área restaurada ou reflorestada? (Número_________)
10. Quantos actores de Cadeia de valor, PACEs, MPMEs rurais de Agronegócios e
pequenos agricultores já tiveram formação/capacitação e assistência
técnica?________
11. Qual é o critério que tem maior predominância no processo de acesso ao crédito?
12. Quantos beneficiários de agronegócios-chave tiveram acesso ao crédito no distrito de
Gurúe?
13. Quais são os critérios de elegibilidade que mais reprovam candidatos ao projecto
SUSTENTA?
14. Quais são os custos administrativos envolvidos no processo de apoio aos PACEs e as
MPMEs?
15. O projecto já identificou os principais aobstáculos da infra-estrutura na área do
Projecto? Sim____ou não_________se não porque?
16. Já foram realizados os estudos preparatórios para identificar os elos mais críticos na
rede rodoviária afluente no distrito de Gurúe?
Sim Não Parcialmente

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

17. Quais são as estradas rurais críticas necessárias para o transporte da produção para os
mercados que se beneficiaram de reabilitação e manutenção? (Se ainda não, o que
faltou?)
18. Já foi efectuada a reabilitação e execução de regimes de irrigação prioritários na área
do Projecto (Se não, porque?)
19. Quantos Km de estradas foram reabilitados?
20. Quantos novos sistemas de irrigação foram construídos?
21. Quantos ha de sistemas de irrigação foram reabilitados?
22. Como decore o processo de monitoria dos PACEs?
23. Acha que o projecto SUSTENTA tem contribuído para a geração de emprego e
rendimento?
Sim Não Parcialmente

Se sim, quantos empregos foram registados provindos do projecto SUSTENTA.

24. Qual é o nível de informação da comunidade com relação ao projecto SUSTENTA?


25. Que melhorias trouxe a implementação do projecto SUSTENTA?
26. Quais têm sido os problemas/constrangimentos que o Distrito de Gurúe tem registado
resultantes da implementação do projecto SUSTENTA?Como é que têm sido
resolvidos estes problemas e constrangimentos?
27. Em função dos problemas e constrangimentos verificados em relação à gestão e
implementação do SUSTENTA o que se pensa fazer ou está sendo feito?
28. Fazendo um balanço geral, acredita que o SUSTENTA trouxe mudanças e melhorias
ao nível do desenvolvimento rural ou agronegócios para aumentar a participação das
famílias rurais no desenvolvimento de Cadeias de Valor?
Sim Não Parcilamente
Se a resposta é sim, quais são as mudanças ou melhorias?

Universidade Eduardo Mondlane


Questionário Administrado ao grupo alvo do Projecto SUSTENTA (PME, PACE e PA).

Identificação do entrevistado (nome e função).___________________________________

Dados básicos

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

Idade ______ Género: Masculino Feminino

1. Nível de escolaridade do beneficiário

Básico Médio Superior Nenhum

1. Ouviu falar do Projecto Sustenta? (Somente para agregados familiares)

Sim Não

2. Este Projecto é relevante para os vossos problemas?

Sim Não Parcialmente


Porque?____________________________________________________________________

3. Antes da implementação do SUSTENTA, como é que funcionava o processo


agrícola?
4. E quais eram os problemas que decorriam?
5. Com a implementação do SUSTENTA, estes problemas foram resolvidos
efectivamente?
Sim Não Parcialmente
6. Quais foram os requisitos necessários para se beneficiar desse projecto?
7. Como beneficiário desse projecto se sente satisfeito com a qualidade dos serviços que
lhe é oferecido?
Sim Não Parcialmente
4. Com base neste projecto já se beneficiou de:

 Formação; Sim Não


 Assistência técnica; Sim Não
 Capacitação. Sim Não
8. Já se beneficiou de acesso ao crédito proveniente de SUSTENTA?
Sim Não
9. A partir da implementação deste projecto já teve financiamento de apoio técnico?
Sim Não

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Avaliação de Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural: caso do projecto SUSTENTA no
distrito de Gurúe (2017-2019)

10. Quais têm sido os problemas/constrangimentos que o Distrito de Gurúe tem registado
resultantes da implementação do projecto SUSTENTA?
11. Como é que as entidades responsáveis resolvem estes problemas e constrangimentos?
12. familiares rurais almejavam?
Sim Não Parcialmente
Explique-se
Acha que o projecto SUSTENTA contribui para o desenvolvimento de Gurúe?
Sim Não Parcialmente
Tabela 11: Lista dos entrevistados

Nome Instituição Cargo ou função Data da entrevista


José Manuel Gonçalo SUSTENTA Coordenador Provincial da 23 de Julho de 2019
Zambézia
Ismael Assane SUSTENTA Engenheiro Agrónomo 23 de Julho de 2019
José Nhamacha SDAE Supervisor de áreas de 16 de Julho de 2019
Salvador extensão
Leonel Veloso SUSTENTA Oficial De Negocio e 28 de Julho de 2019
Sebastião Contabilidade
Rocha Salimo SUSTENTA Extensionista Rural 26 de Julho de 2019
Franquina Beto SUSTENTA Extensionista Rural 19 de Julho de 2019
Constantino José da SUSTENTA Extensionista Rural 11 de Julho de 2019.
Costa.
Egíldo Muela SDPI Técnico de Gestão 24 de Julho de 2019
Ambiental
Augusto Juaia SDPI Chefe de Repartição de 24 de Julho de 2019
Ordenamento territorial
Adriano dos Santos SDPI Técnico de Edifícios 24 de Julho de 2019
Olímpio Fernando João SUSTENTA PACE 25 de Julho de 2019
Angelina Morresse SUSTENTA PACE 25 de Julho de 2019
Sidónio Wilson Luís SUSTENTA PACE 25 de Julho de 2019
Manuel Amisse SUSTENTA PACE 1 de Agosto de 2019

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distrito de Gurúe (2017-2019)

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