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ONANHO “TIA

ST
TÁBUA DE MATÉ RIAS
mm

VIL GÉNERO

Introdução

Sexo, género e preferência sexual

Género e cultura

8.1. Natureza dos estereótipos de género


3.2. Variações nos estereótipos de género
8.3. Activação dos estereótipos de género
ES.1. A pessoa-alvo
E3.2. A pessoa que percepciona
3.3. A situação
ro
3.4. Agentes de socialização dos estereótipos de géne
34.1. Família
3.4.2. Escola
3.4.3. Colegas
3.4.4. Meios de comunicação social
3.5. Os estereótipos de género são verdadeiros?
3.6. Mudanças
3.7. Efeitos dos estereótipos de género
“NAR Atribuições de sucesso e de fracasso
87.2. Saúde
3.7.3, Profissão
3.8. Ideologias do papel de género

4. Comparações de género
4.1. Análise das diferenças de género de Maccoby e Jacklin
4.2. Diferenças cognitivas
43. Diferenças emocionais
43.1. Depressão
4.3.2. Bem-estar
Objectivos
4.4. Diferenças nos comportamentos sociais
44.1. Agressão * Definir sexo, género e preferência de género;

4.4.2. Influenciabilidade e conformidade * Definir estereótipos de género e evidenciar algumas das suas varia-
44.3, Comportamento de ajuda ções;
44.4. Comportamentos não-verbais * Evidenciar agentes de socialização dos papéis de género;
4.4.5. Comportamento em pequenos grupos
* Contextualizar as problemáticas do fundo de verdade e das mudanças
4.5. Diferenças de género: conclusões e prec dos estereótipos de género;
auções
* Assinalar algumas das consequências dos estereótipos de género;
Teorias acerca do papel de género
5.1.
* Diferenciar estereótipos de género de ideologia do papel de género;
Teorias biológicas

5.2. Teorias da aprendizagem social * Examinar a possibilidde de diferenças cognitivas e emocionais de


género;
Sa. Teoria cognitivo-desenvolvimentista
* Descrever diferenças de género nos comportamentos sociais;
5.4. Teoria do esquema de género
* Apresentar teorias sobre o modo como as diferenças de género têm
sk Teoria do papel social
sido explicadas;
5.6. Teoria da auto-apresentação
* Explorar as relações entre género e selí,
5.7. Qual é a teoria correcta?
Í
* Examinar medidas preconizadas i
para se concretizar a igualdade en tre
os géneros.
6. Género e self

6.1. Género e auto-estima

6.2. Género e personalidade


6.2.1. Às primeiras escalas de masculinidade-fe
minilidade
6.2.2. Masculinidade e feminilidade consider
adas dimensões separadas
6.2.3. Para além da androginia

Aplicações: Em busca da igualdade entr


e os géneros

Sumário

Para ir mais longe

Actividades propostas
a]
q
oginponu] “TI
“om
«On ne naít pas femme, on le devient»
Simone de Beauvoir

«We are all partly male and partly female»


Virginia Woolf

O pai morreu de
O filho e o seu pai tiveram um grave acidente de automóvel.
oriou-o
imediato e o filho ficou gravemente ferido. Uma ambulância transp
da
para o hospital que estava mais próximo e uma pessoa famosa foi indica
na sala de
para realizar uma operação cirúrgica de imediato. Ao entrar
filho.»
bperação, a pessoa exclamou: «Não posso operar este rapaz. E o meu
À questão que se levanta é a seguinte: «Como é que isto pode acontecer?»

Se não conhece esta história e dá como resposta que se tratava de um padrasto,


de um pai adoptivo, de uma reincarnação, de umerro, ou de algo semelhante,
faz parte do que pensa a maioria das pessoas portuguesas segundo as quais a
profissão de cirurgião é para os homens. À resposta ao enigma é simples: a
pessoa em causa é a mãe do rapaz. O facto de que a maioria das pessoas não
advinhe a resposta mostra a difusão e a força de certos estereótipos de género,
na ocorrência, dos profissionais.

Neste capítulo exploraremos a natureza sócio-psicológica dos estereótipos e


papéis de género. Tais papéis e estereótipos têm um grande impacte nas
nossas vidas. Influenciam o comportamento, o auto-conceito, as escolhas
profissionais e as percepções das outras pessoas.

Já se viu no primeiro volume que a Psicologia Social é o estudo científico de


como o contexto social afecta os pensamentos, os sentimentos e os
comportamentos da pessoa. A Psicologia Social do género dá conta da
investigação sobre o género enquanto norma social promovida pela cultura e
pelas nossas tendências naturais de processamento de informação. Representa
um exemplo do poder das normas e papéis sociais. Permite ilustrar alguns
dos conceitos mais importantes da Psicologia Social que vimos no primeiro
Volume, tais como atitudes, representações sociais, normas e papéis,
Preconceito e discriminação, percepção social, auto-estima, e cognição social.
Para além disso, o estudo psico-social do género ilustra a mudança social e o
papel desta disciplina na promoção da igualdade.
E de notar, todavia, que se a Psicologia Social tem uma longa história de
interesse pela abordagem de estereótipos, preconceitos, e discriminação
(LaPierre, 1934), o estudo psico-social do género e das mulheres enquanto
BXUPO social discriminado, só apareceu com certa visibilidade quando os
movimentos das mulheres em finais dos anos 60 e nos anos 70 questionaram
profundamente os papéis de género tradicionais.

Neste capítulo examinaremos o impacte que tem o ser-se do sexo feminino


ou do sexo masculino sobre os encontros sociais. Focalizar-nos-emos em
particular em quatro tópicos da investigação sócio-psicológica: a) diferenças
no modo em como os homens e as mulheres são etiquetados através do
processo de estereotipia; b) diferenças no comportamento dos homens e das
mulheres; c) teorias que visam explicar essas diferenças; e d) enfim, o modo
como género e self se relacionam. Antes de examinarmos estas questões,
voltemo-nos para a definição de sexo, género e preferência sexual.

ual
2. Sexo, Género e Preferência Sex
são muitas vezes utilizados como sendo
Os termos sexo é género
pensa que
intermutáveis. Todavia um número crescente de investigadores
intuito de uma melhor
estes dois conceitos deveriam ser distinguidos com o
ou mulher (Deaux, 1993; Unger &
compreensão do que é ser homem
uto biológico de ser
Crawford, 1993). Neste texto, sexo referir-se-á ao estat
dades e
homem ou mulher e género referir-se-á às significações que socie
pess vas dão ao ser-se home
m ou mulher. Por outras palavras, sexo refere-se
ão cultural.
à construção biológica e género à construç
s e mulheres
O sexo é um fenómeno biológico, a divisão das pessoas em homen
em diferenças
de modo genético. Esta divisão está baseada em parte
s. Para os
eromossómicas. Todos os seres humanos têm 46 cromossoma
ssoma X da
homens, os cromossomas sexuais são compostos por um cromo
s
mãe e por um cromossoma Y do pai. Para as mulheres os cromossoma
Sexuais são compostos por dois X, um do pai e um da mãe. Existem cinco
utros indicadores do sexo biológico: sexo gonádico, os homens tendo
festículos e as mulheres ovários; sexo hormonal, os homens tendo sobretudo
androgénios e as mulheres estrogénios e progesterona; sexo dos órgãos
reprodutores internos, os homens tendo próstata, canais deferentes e vesículas
seminais, e as mulheres tendo útero e trompas de Falópio; e o sexo dos
órgãos reprodutores extemos, os homens tendo pénis e escroto, e as mulheres
tendo clitóris, lábios e vagina.

À confusão que as pessoas fazem muitas vezes na compreensão da distinção


entre sexo e género é que geralmente pensam que vão conjuntamente:
mulher = feminino e homem = masculino. Ora pode acontecer que
comportamentos considerados masculinos numa cultura possam ser julgados
femininos noutra cultura. Por exemplo, Margaret Mead (1935) mostrou que
na Nova Guiné, os Tchumbali esperavam que os homens fossem artistas,
elumentos e dependentes emocionalmente, ao passo que se esperava que as
mulheres fossem dominantes, impessoais e responsáveis. No mundo
acidental, se essas crenças têm muito em comum com os estereótipos de
enero, elas são, no entanto, o inverso das dos Tchumbali.

Tendo em conta a definição apresentada, o sexo não é uma variável em que


há um amplo leque de diferenças individuais. As pessoas ou são homens ou
mulheres (à excepção de hermafroditas). Ao invés, as pessoas podem
Bpresentar uma ampla variação no género. Por exemplo, mesmo quando as
pessoas são socializadas para pensar, sentir e agir de modo julgado natural
Ee desejável para o seu sexo, muitas vezes não se conformam com estas
Expectativas tradicionais. Os homens podem apresentar características
consi ideradas femininas,
ini e as mulheres podem apresentar características
ísti
consideradas masculinas.
A preferência sexual designa
se uma pessoa é heterossexual,
atraída por membros do sexo sexualmente
oposto, ou homossexual, sexual
por membros do mesmo sexo mente atraída
. Tal como as pessoas hom
ossexuais e
heterossexuais apresentam um
amplo leque de comportament
de género. Por exempl os de papéis
o, existem muitos homens homoss
fortes, e independentes, tal como exuais agressivos,
há muitos homens heterossexuais
e gentis. passivos

Após havermos distinguido


sexo , género e preferência sexual,
agora para a análise dos estereóti voltemo-nos
pos de género e da ideologia do
género, papel de

3. Género e Cultura

38
Imagine que efectuou uma longa viagem à volta do mundo, tendo visitado
um certo número de países diferentes de todos os continentes. No final da
viagem decide desfolhar as notas que foi tomando no diário para relembrar
um pouco o que aconteceu. Numa dada altura anotara no diário que durante
a estadia no Paquistão observou que os homens eram altamente visíveis nas
actividades do dia a dia. As mulheres raramente se viam nos lugares públicos,
e quando se viam, pareciam estar em tarefas específicas e vestiam-se muitas
vezes de modo que era difícil dizer muita coisa acerca delas. Raramente viu
homens e mulheres jovens a passear conjuntamente, disfrutando o que em
Portugal seria chamado de namoro. Saltando algumas páginas do diário
encontra as notas tomadas aquando da sua estadia na Suécia em que os homens
e as mulheres pareciam participar igualmente em muitas actividades diárias.
Casais heterossexuais estavam por todo o lado e muitas pessoas jovens
vestiam-se de modo semelhante com um estilo unissexo.

Ao reflectir sobre as várias experiências que teve no Paquistão, na Suécia e


nos outros países visitados, chega à conclusão que há diferenças nas
percepções culturais e nos papéis aceites de homens de de mulheres em
diferentes países.

Estas questões suscitam dois aspectos distintos, se bem que relacionados, do


modo como mulheres e homens são vistos em diferentes culturas. O primeiro
aspecto diz respeito aos estereótipos de género que são as perspectivas
populares de como homens e mulheres diferem na sua maquilhagem
psicológica. Por exemplo, diz-se muitas vezes que os homens são mais
agressivos que as mulheres, enquanto que estas são mais emotivas que os
homens. O segundo aspecto diz respeito à ideologia do papel de género, isto
é, a crenças acerca das relações de papéis apropriados entre homens e
mulheres. Por exemplo, é apropriado para os homens dominarem as mulheres
ou deveriam os dois sexos relacionar-se um com o outro de modo mais igual?
Apresentaremos relativamente a estes dois aspectos dados portugueses,
perspectivados interculturalmente.

À investigação intercultural pode ser valiosa quando se observam diferenças


do género porque fornece um leque mais vasto de crenças e de papéis que
estudos efectuados numa só cultura. Com uma maior variação advém a
oportunidade de se procurarem possíveis causas de diferenças de género.

3.1. Natureza dos estereótipos de género

O documento 7.1 contém cinguenta adjectivos. Percorra essa lista e responda


no local apropriado tendo em conta se considera o atributo em apreço mais
característico dos homens ou das mulheres. Cada atributo só deverá ser
pensa que um atributo particular se aplica) E ra conte o número de vezes que marcou as características ímpares (1, 3,
= Ag Enio sendo masculinas e as pares (2, 4, 6, etc.) como
sendo femininas.

a
O máximo por coluna através desta contagem é vinte e cinco. Há fortes

[bis
Documento 7.1, «1, —— P:Para mrobabilidades para que se é homem cu mulher obtenha a pontuação de
cada um um dos seguintes
atributos indique se pensa Vinte ou mais, para os atributos ímpares que sejam masculinos e vinte ou

ge. | mad
que são mais característicos
dos homens ou das mulher
e S mais para os atributos que sejam femininos. Compare os seus resultados
(co
locando uma cruz na col
rom os de mais alguém. Porque é que avalia as características desse modo?

dd
una apropriada)
e das

&
Muito provavelmente porque há estereótipos acerca dos homens
mulheres que são muito consistentes.

A natureza e o conteúdo dos estereótipos têm sido desde há muito tempo

h
alvo da atenção dos psicólogos sociais (Lippman (1922). Embora a maior

E
E
'

5
o
ka
1. Aventureiro parte do trabalho sobre os estereótipos esteja relacionado com crenças e
2 - Afectuoso atitudes acerca de grupos étnicos, investigações mais recentes têm focalizado
os estereótipos de género. Tais estudos têm mostrado que crenças
estereotipadas dos papéis e características masculinas e femininas persistem,
=
a
q
|
Q
a
o

apesar da existência de movimentos que lutam pela igualdade dos dois sexos.
5- Mandão Do
Por exemplo, estudantes universitários nos Estados Unidos continuam a ver
6- Dependente Do] os homens como sendo agressivos, ambiciosos, rudes, e orientados para a
7- Vigoroso [o tarefa; as mulheres são vistas como sendo gentis, fracas, sensíveis e orientadas
para as pessoas (ver, por exemplo, Bem, 1974; Broverman, Vogel, Broverman,
Clarkson, e Rosenkrantz, 1972; Williams, e Best, 1977). Estas crenças acerca
das características masculinas e femininas são tão universais que aparecem
de modo consistente num estudo com crianças e adultos em 25 países da
Europa, África, América, Ásia e Oceania (Williams e Best, 19903).

Os estereótipos são sistemas de crenças que se atribuem a membros de grupos


simplesmente pelo facto da pertença a esses grupos. Trata-se de generalizações
=

Tgo

através das quais se procura o sentido num meio social complexo. Numa
<L
Bo
s

15- Robusto
48. Dio revisão das definições dos estereótipos de género utilizadas pelos
RBG coa Evestigadores, Ashmore e Del Boca (1979) identificaram 4 características
EEE que são geralmente aceites: um estereótipo de género é usualmente
42- Lamuriento byni osaskitesvai | considerado como relevando do domínio cognitivo, é um conjunto de crenças,
Has

43. Rápido trata com que espécie de homem e de mulher se é, e é partilhado pelos
membros de um grupo particular.

Os estereótipos de género referem-se a sistemas de crenças a propósito dos


homens e das mulheres, podendo-se conceptualizar a dois níveis: estereótipos
dos papéis de género e estereótipos dos traços de género.

Os estereótipos dos papéis de género são crenças sobre a apropriação de


vários papéis e actividades aos homens e às mulheres. Já os estereótipos dos
traços de género são constelações de características psicológicas que se pensa
caracterizarem os homens mais ou menos frequentemente que as mulheres.
Intimamente associados aos estereót
ipos de género encontramos os papé
de género, isto é actividades com is Quadr
it) o 7.1“ — Predizer um conjunto de características
significado social em que os dois
participam actualmente com frequência diferent sexo s estereotipadas de outro
e. Assim, os papéis de género
- como, por exemplo, há mais hom
ens que mulheres na construção civil -
são muitas vezes explicados em
referência aos estereótipos dos papé
género - os trabalhos da construção civil is de Qualidade masculina descrita
devem ser efectuados por homens -
que por sua vez são «explicados» em
referência aos estereótipos dos traços Característica predicta Traços Papéis Ocupação Aparência
de género - os homens são robustos
, fortes, etc., e por isso estão mai
adaptados para os trabalhos de construç s Traços masculinos
0,79 0,72 0,75
ão civil.
Traços femininos 0,62 0,58 0,57
Se bem que a maior parte da inve
stigação sobre estereótipos de géne
tenha focalizado em traços de pers ro se Papéis masculinos 0,79 0,75 0,74
onalidade, tem sido mostrado que
estereótipos de género existem pelo os Papéis femininos 0,54 0,47 0,48
menos em três outras áreas (e.g., Dea
e Lewis, 1984; Spence e Sawin, 1985 ux 0,64
). Não só se pode falar de traços Ocupação masculina 0,56 0,57
masculinos e femininos, mas também se pode falar
de papéis masculinos e Ocupação feminina 0,48 0,47 0,36
femininos, profissões masculinas e
femininas e de características físicas Característica física masoulina 0,65 0,65 0,70
masculinas e femininas. Os quatro com
ponentes, embora relacionados, podem
operar de modo relativamente indepe Característica física feminina 0,52 0,50 0,39
ndente,
Heterossexual 0,80 0,81 0,75 0,76
Por exemplo, uma investigação de
Deaux e Lewis (1984) chama-nos
para o facto a atenção 0,25 0,22 0,28 0,30
de que masculinidade e feminilidade Homossexual
poderem ser vistos como
um vasto conjunto de traços, papéis,
ocupaç ões e aparência física. Os autores
encontraram que os seus sujeitos, estudant
es universitári
os, utilizavam
facilmente a informação de um com
ponente para efectuarem julgament
inferências acerca de outro compon os e
ente. Qualidade feminina descrita
Comunicava-se, por exemplo, aos
sujeitos que uma pessoa tinha os
seguintes: ind
traços Característica predicta Traços Papéis Ocupação Aparência
ependência, competitividade, autoconfiança, tenacidade,
habilidade em tomar decisões, é habilida Traços masculinos 0,63 0,65 0,48
de em aguentar-se sob pressão. Com
base nesta informação, os sujeitos ava
liavam a probabilidade de que a pessoa Traços femininos 0,74 0,67 0,74
descrita desempenhasse papéis mas
culinos ou femininos, trabalhos Papéis masculinos 0,58 0,61 0,46
masculinos ou femininos, tivesse uma
aparência masculina ou feminina e
preferên
cias heterossexuais ou homossexu Papéis femininos 0,70 0,65 0,66
ais.
Ocupação masculina 0,39 0,29 0,26
Uma categoria de informações este
reotipadas influenciava fortemente
Julgamentos acerca os Ocupação feminina 0,62 0,51 0,62
de outras categorias (quadro 7.1). Qua
era descrita como tendo característi
ndo uma pessoa Característica física masculina 0,55 0,55 0,54
cas masculinas, a probalidade estimada
de que a pessoa desempenhasse papé
is masculinos era de 0,79 (e soment Característica física feminina 0,63 0,58 0,56
0,54 que a pessoa desempenhasse papé e
is femininos). Podemos observar entr Heterossexual 0,75 0,73 0,68
outras coisas nesse quadro que o fact e 0,73
o de que uma pessoa tivesse um trab
masculino ou feminino não tinha fort alho Homossexual 0,32 0,72 0,35 0,39
es implicações acerca dos traços de
uma pessoa, dos papéis ou aparências.
Todavia, traços, papéis e aparências Fonte: Deaux e Lewis, 1984.
tinham muitas veze s implicações acerca dos trabalho
s atribuídos aos sexos.
Note-se igualmente que a aparênci
a física desempenhava uma infl
importante sobre os julgamentos uência
noutros domínios.

45
Es:

substancial
3.2. Variações nos estereótipos de género «vel da análise dos itens encontrou-se uma variância comum
aaa
entr e OS pr
Stipos de género em Portugal e no grupo
Ea do afectivo dos estereótipos focalizados dos 25 países. A
mostrou que E
Crianças desde muito novas mostram alguma consciência dos estereótipos análise d
Ae masculino era mais forte e mais activo que o eesbénstiço
de traços sexuais adultos. Encontrou-se alguma evidência da aprendizagem Portugal Éo este te mais favorável que o
de estereótipos em crianças com 2 e 3 anos (Kuhn, Nash, e Bruchen 1978). inino, o estere tereótip o feminino era ligeiramen
femini
o igura 7.1).
Todavia poucas investigações sistemáticas têm examinado o desenvolvimento estereótipo masculin (f
de tal conhecimento.
600
Um projecto de investigação intercultural foi implementado por Williams e
Best (1990a) que desenvolveram uma técnica «picture story» conhecida como
580 |
a Medida dos Estereótipos de Género (Sex Stereotypes Measure, SSM), 560 L
baseada nos estereótipos masculinos e femininos definidos por estudantes 540 H o
universitários (Williams e Bennet, 1975). O objectivo geral desse projecto
foi obter informações sobre estereótipos dos traços sexuais em crianças

520 |

S9109S
adultos num grande número de países representando tantas culturas quanto 500 | U
possível. Os dados obtidos deveriam ser examinados em relação às
semelhanças, que seriam indicativas de generalidade pancultural nos ago |
estereótipos e em relação às diferenças, que poderiam ser atribuídas à variação ago | F K
cultural.
440
Pelo menos três características distinguem esse projecto de estudos 420 |
interculturais anteriores em relação aos estereótipos sexuais. Em primeiro
400 -
lugar, foi efectuado num grande número de países (30) em várias partes do
mundo. Em segundo lugar, sempre que possível recorreu-se a amostras com y

sujeitos adultos e crianças. Em terceiro lugar, foram utilizados diversos está |


métodos novos para resumir os dados de investigação e estudar os estereótipos Avaliação Actividade Potência
de género com variados enfoques teóricos.
Figura 7.1 - Scores médios de avaliação da Avaliação, da Actividade e da Potência õos
dos
Williams e Best (1990a) observam que os países incluídos no seu estudo estereótipos masculinos (M) e femininos (F) em Portugal ( e ) e gama
são scores médios nos 25 países. Fonte: Neto e Williams, 1989.
culturalmente diversificados e do ponto de vista geográfico dispersos, não
podendo todavia considerar-se representativos de todas as culturas do mundo À análise dos estados do ego efectuada em Portugal através do Fecurso à
e recomendam que os estudos sobre os estereótipos de género se alargassem Análise Transaccional evidenciou que o estereótipo feminino era mais elevado
a outros países e grupos culturais. Assim, temos vindo a efectuar estudos em
para o pai afectuoso e a criança adaptada, GRAVATA, ANO EStSISAUDA
Portugal sobre os estereótipos de género junto de jovens adultos (Williams, masculino era mais elevado para o estado do ego pai crítico, adulto e criança
Best, Ward, e Neto, 1990) e crianças (Neto, Williams, e Widner, 1991; livre em Portugal (figura 7.2).
Neto,
1997b).
Os resultados portugueses confirmam assim a perspectiva geral do ao
A amostra de jovens adultos é constituída por 100 estudantes universitários efectuado por Williams e Best (19902), isto é, a existência de um notáve
a quem se pediu de agirem como repórteres culturais e de indicarem, entre Brau de generalidade internacional nas características psicológicas associadas
300 adjectivos, quais eram tipicamente associados aos homens e às mulheres. às mulheres e aos homens. Apesar de os autores terem verificado variações
A lista dos atributos do documento 7.1 provém desta investigação. São aí Com interesse de país para país, estas diferenças são sempre pelasamente
referidos os atributos em que havia maior consenso para caracterizar os Pequenas em relação à semelhança geral entre países. aê resultados são
homens e as mulheres. consistentes com o ponto de vista de que há estereótipos de género

46 47
panculturais que são evidentes em todas as culturas, mas que são modificados m aumento mais pequeno e não significativo dos oito aos onze anos.
de certo modo por influências culturais específicas. Os dados portugueses Re os são geralmente congruentes com os dados de outros países onde
são congruentes com essa interpretação do corpo total de conhecimento
relacionado com os estereótipos de género. sãos esta faixa etária (Williams e Best, 19904). Nestes países, é claro
que o desenvolvimento de estereótipos de género é um processo gradual
E ciando-se antes dos cinco anos e estendendo-se até cerca dos onze anos.
Estudos feitos nos Estados Unidos indicam que alguns dos aspectos mais
eubtis dos estereótipos de género continuam a aprender-se durante a
adolescência (Williams e Best, 1990a).

O conhecimento dos estereótipos de género mostrou-se influenciável pelo


nível sócio-cultural da família na qual a criança é educada: em todas as
faixas etárias, o conhecimento dos estereótipos de género foi maior entre as
oBa Op OpeIsa3 Op susBejusd12d

e iL
F crianças de nível sócio-cultural mais alto, seguindo-se as crianças de nível
25 | sócio-cultural médio e menor nos de nível sócio-cultural mais baixo. Houve

15 e
E também uma tendência para as crianças de nível sócio-cultural mais alto e
médio terem maiores ganhos no conhecimento dos estereótipos de género
dos 5 aos 8 anos, enquanto os de nível sócio-cultural mais baixo tinham mais
ganhos dos 8 aos 11 do que os outros dois grupos. Uma das maiores fontes
de aprendizagem de estereótipos de género entre as crianças na América do
Norte é a televisão e outros meios de comunicação (e. g., McGhee e Frueh,

res
1980; Sternglantz e Serbin, 1974) e é possível que as crianças portuguesas

4
de classe alta e média estejam mais expostas aos meios de comunicação do

da
=
que as crianças da classe baixa. Além disso, o nível sócio-cultural está
Á frequente-mente correlacionado com a inteligência nas crianças e pode ser
] | | ] ]

A
Pai Pai
que as primeiras aprendizagens sobre os estereótipos de género seja atribuível
Adulto Criança Criança
crítico afectuoso livre adaptada ao facto das crianças do nível sócio-cultural mais alto serem algo mais
Figura 7.2 - Percentagens de egogramas portugueses ( » ) e
brilhantes do que os grupos de nível sócio-cultural baixos.
gama dos scores das
percentagens do estado do ego associadas aos estereótipos masculin
os é Enquanto os dados do vasto estudo de Williams e Best (1990a) não revelaram
femininos em 25 países. Fonte: Neto e Williams, 1989.
nenhuma tendência intercultural geral, tanto dos itens de estereótipos

e
femininos como dos masculinos, para serem mais conhecidos por crianças


Mais novas, Tarrier e Gomes (1981) referem que as crianças brasileiras
Relativamente a estudos efectuados em Portugal com crianças foram a
. parecem conhecer melhor os itens de estereótipos femininos do que os
evidenciados efeitos significativos da idade, do nível sócio-cultural
.

, da
4 masculinos, efeito que também aparece entre crianças venezuelanas e chilenas
residência urbana-rural e da migração. (Williams e Best, 19904). Os resultados do presente estudo são consistentes
Som estes dados: há uma tendência para as crianças portuguesas conhecerem
Uma amostra de crianças (Neto, Williams, e Widner, 1991) era constituída melhor os estereótipos femininos do que os masculinos. As semelhanças
por 444 sujeitos de cinco, oito e onze anos de idade. Administrou-se aos Culturais entre o Brasil é Portugal sugerem que os comentários de Tarrier
e
sujeitos a Medida dos Estereótipos de Género II (SSMII ), na qual a criança Gomes a Propósito dos dados brasileiros podem também ser aplicados aqui.
selecciona o perfil masculino ou feminino para uma pessoa descrita numa KAs crianças... têm grande quantidade de contacto com os membros femininos
história breve que contém características muito conotadas com os sexos S Com as mulheres, em geral. Os agentes de educação pré-primária são quase
(agressivo, emocional, etc.). Exclusivamente do sexo feminino, e em famílias abastadas os cuidados da
Os dados apontam para um aumento significativo no conhecimento dos Criança são provavelmente prestados por empregadas. Nos Estados Unidos
estereótipos de género nas crianças portuguesas da idade dos cinco aos oito
ambos os pais têm um papel activo na educação, com ênfase na preparação

48
49
:
da criança :
para o seu futuro (Weitz, ali zação e
1977), de tal modo que a sociali é Nos Estados
rocesso de aculturação. i ém temot sido
a aprendizagem dos traços e papéis sexuais ocorram cedo» (Tarrie Unidosaii ai eviden
difereciado
m do
r e Gomes, E e existem diferentes traços estereotipados ue g » x ac

do
t
1981, p. 20). à que é fundamentalmente uma pessoa branca,
protótipo ale cristão. Por exemplo, os estereótipos de homens e de
Não houve nenhuma evidência de que as respostas dos 5 mulheres
aos 8 anos de idade heterossexu e cristão. ais semelhantes em termos de expre ae
nas crianças portuguesas e brasilHa eiras fossem mais. ssividade e de
M e semelhantes entre si É do afro
-americanos são m
RA que os estereótip E :
que entre os dados típicos de crianças de
idade semelhante em outros países; ê os de homens e de mulheres anglo-americanos
Por outro lado, parece haver um aumento na semelhança portuguesa/brasil eira . Rumpe com as
qe (Smith Oj
ith e Midlarsky, 1985). As mulheres negras, quando
no sends-nenos comp aradas
passivas, dependentes,
dos 8 aos 11 anos de idade. Quando estes dados são emparelhados com a mulheres E Ea sprêacio aire On
clara evidência de uma maior semelhança entre os estereótipos brasileiros e E ivas dos:
€ com. os DO neo Es lattes sora
rim ráeis
idênci óti lei
Portugueses na idade adulta (Williams et al., 1990), pode-se pôr a hipótese qua O onto de visiz esnocionsi + menos competitivos e indepen
de que, nas idades estudadas, as primeiras aprendizagens . ... . a
Ô Í á n

da criança exp ress


j

; imei i ê estão=
principalmente relacionadas com aspectos ; e ntes.
panculturais dos estereótip os de
género, e as aprendizagens posteriores reflectem influências cultura e
is A Dispõe-se de menos investigação nos Estados Unidos sobre os ET
específicas. Este ponto de vista é consistente com as conclusões R
gerais de de género de outros grupos raciais ou étnicos, no entanto, às fo
Williams e Best (19902) de que as evidências interculturais E E é
em relação aos culturais de mulheres sugerem que existem outras variações.
estereótipos de género podem ser incluídas num modelo que o Gn
especifica as mulheres hispânicas tendem a ser vistas como SEIO e í oi
características interculturais gerais dos estereótipos mascul
e ino
femininos,
s que as mulheres «brancas» em termos de submissão e
que são então modificados num grau relativamente modesto SE ência de dependê
a: por influ s (Vasquez-Nuttal, Romero-Garcia,> e De Leon, 1987). Exist i e um e stereótipo
culturais específicas. * lhante da mulhe p
seme o
r asiática, acrescentando-se-lhe, no entanto, sexu alidade
Em trabalho ulterior verificou-se haver Ta exótica (Chow, 1985).
um maior conhecimento dos
estereótipos de género em crianças de origem
portuguesa residentes em França
que em crianças portuguesas residentes em
Portugal quer em zonas urbanas Para além de diferenças raciais nos estereótipos de género há também
quer rurais com oito e onze anos (Neto, 1997b diferenças de classe social e de preferência sexual (Del Boca e Ashmore,
). A comparação com os dois
tipos de residência em Portugal foi efectuada 1980). Por exemplo, mulheres da classe trabalhadora são estereotipadas rd
na medida em que as zonas
rurai
s eram o lugar de origem dos pais dos filho sendo mais hostis, confusas, e irresponsáveis que mulheres da classe média;
s de migrantes e as zonas
urbanas eram o lugar de residência dessas homens homossexuais são estereotipados como possuindo traços femininos,
crianças no estrangeiro.
ão passo que lésbicas são estereotipadas como possuindo traços masculinos.
A questão que se pode levantar é se à criança
de origem portuguesa, nascida
no estrangeiro e que lá viveu os primeiros
anos do seu desenvolvimento,
O que estas variações deixam filtrar é que cada um de nós se situa num
mas que acompanhou os seus pais aquando Espaço psico-social em que se cruzam diversas categorias, como por exemplo,
do regresso, manifesta também
um maior conhecimento dos estereótipos de genero, raça, etnicidade, idade, classe social, preferência sexual que interagem
género, que crianças nascidas
em Portugal e que sempre viveram nesse país. Fumas com as outras de modo complexo.
Pode ser posto em evidência
(Neto, 1993b) um maior conhecimento dos estereótipos
E j Ê
E
de géne ro em crianças Pelas «sete partidas do mundo» O ACID neninas,
portuguesas que, pelo menos, durante os cinco prim dt
eiros anos do seu
são feitas disti
nções entre meninos E à
Ç . homense mulheres.A questãoRa áti os
desenvolvime nto viveram em França em zonas urbanas, e que, quando os E em, mas como é: que pode
exist
não é de se saber se os estereótip ie énero
[aa
;
Seus pais regressaram a Portugal vieram viver
; :
m ser activados, os agentes de soci iza ç
para zonas rurais; que em À irc pe pç
MES contribuem para a sua inter x 1 êm mudado
crianças que nunca emigraram residentes quer em zonas
rurais quer urbanas.
iorização, se são verdadeiros, se têm n
& OS seus efeit os.
Os estudos que acabamos de referir efectuad
os em Portugal apontam para
um acordo geral sobre um certo número de traços estereotipados
de género,
se bem que ocorram variações no conhecimento dos
estereótipos de género
segundo a idade, o nível sócio-cultural, e resid
ência e a passagem por um

51
3.3. Activação dos estereótipos de género DA situação
reótipos de género. Deaux :
1

Uma das questões a que os psicólogos sociais têm procurado dar resposta é ções que também podem activar OS este
de cabeleireira o
ade se saber em que condições os estereótipos de género são mais susceptíveis E m que contextos, tais como um salão
ona a fazer
aticamente a pessoa que percepci
de influenciar as nossas percepções sociais. Segundo Deaux e Major (1987, O es
há três factores que determinam se os estereótipos de género são activados: a oo Se tem a ver com o facto de o sexo da
pessoa-alvo, a pessoa que percepciona e a situação. E Ni re AR em tais contextos. Relembremos o
É De “a HBO Por exemplo, uma mulher é mais
E À aê Pies an rica num grupo de trabalho constituído
ado sexo está em
j oro e Em gtupos em que um determin
nção ERR
E l o sexo em minoria não só é alvo de ate
de modo
3.3.1. À pessoa-alvo E como também é mais susceptível de ser avaliado
1985).
ipado quanto ao género (Lord e Saenz,
Há diversas características da pessoa-alvo que podem contribuir para activar ilustrar este aspecto.
os estereótipos de género. Uma característica que se tem revelado do efectuado por Taylor (1981) permite ns
gravada de um grupo de seis pessoas. Algu
e avaliavam a discussão
particularmente importante relaciona-se com as pistas de aparência física, outros grupos ergm
um só homem e outros uma só mulher,
Os indivíduos que são altamente masculinos ou femininos na sua aparência ouvirem a gravação,
física são mais susceptíveis de ser percepcionados pelas outras pessoas como
dos por tantos homens como mulheres. Após
tivamente, a contribuição
s avaliavam os membros do grupo. Efec
possuindo de igual modo traços de personalidade (Deaux e Lewis, 1984) os equilibrados quanto
só era idêntica à de cada membro dos grup
Assim um homem com costas largas é mais susceptível de ser considerado ndo mais e dando
pessoas sós eram percepcionadas como fala
como uma pessoa activa, forte, independente. Noutros estudos em que se librados quanto
ssão mais forte do que os membros dos grupos equi
tem em conta não tanto a aparência física, mas a informação comportamental, is, afectuosas, O
s mulheres sós eram vistas como sendo «materna
encontrou-se que a informação comportamental acerca de homens e de os como «figuras
se retárias». Os homens sós eram percepcionad
mulheres específicas que vão contra a corrente dos estereótipos de género) o acentuava O
ch fes, ou tipos machistas». A composição do grup
tendiam a eliminar os efeitos dos estereótipos (Locksley et al., 1980). mento
pe soa só e suscitava percepções estereotipadas do comporta
a só.
) aspecto da situação susceptível de activar os estereótipos de género
são temporal. Os estereótipos de género são mais susceptíveis de
angimentos
3.3.2. À pessoa que percepciona ni percepção social quando as pessoas estão sob constr
O (Jamieson e Zanna, 1989).
As pessoas que se conformam com as expectativas de género são, segundo
Bem (1981), esquemáticos no género. Estas pessoas em geral percepcionam
o mundo com lentes masculinas e femininas. Por outro lado, as pessoas: “e
aesquemáticas no género são as que em geral não processam informação.
segundo as qualidades masculinas ou femininas percepcionadas. As pessoas. 4 g entes de socialização dos estereótipos de género
LI
esquemáticas são mais susceptíveis que as aesquemáticas de descrever OS
movimentos corporais das pessoas de modo masculino ou feminino e de los agora a examinar al guns dos principais agentes de socialização
prestar mais atenção ao sexo da pessoa para determinar as suas outras $ dos quais os estereótipos de género continuam a ser transmitidos à0s
características (Frable, 1989). Uma das consequências de se ser esquemático Se às mulheres. Dada a prolongada interacção, as diferenças er poder
no género que se associa com os estereótipos, é que se tende a identificar Isidade dos laços entre pais e filhos, os país constituem os prunetos
mal diferentes membros do outro sexo (Frable e Brem, 1985). Para as pessoas
ais agentes de socialização na nossa sociedade. A criança também
formação acerca do mundo social fora de casa. Uma vez começada
esquemáticas os membros do outro sexo parecem geralmente semelhantes.

53
a escola, professores e colegas tornam-s 4 ialização das crenças
e cada vez mais importantes. Dado
que os meios de comunicação reflectem e — Paraalém E s irmãos contribuem também para a soda mação cor dm
modelam a sociedade são Ra: én: ero. - Os irmãos, iá em particular, , os mais velhos, = E E
extremamente influentes, muito especialment reotip
e Junto de crianças que não: z us O

podem diferenciar de modo claro a fantasia


da realidade. delameos com SR e interesses estereotipados de género ( y
A informação proveniente do meio ambi
ente é um poderoso factor que
contribui para aquisição dos estereótipos.
Esta influência ambiental pode ser
encarada em si mesmo ou interpretada segundo outra
s teorias que veremos
mais adiante, como, por exemplo, a teori Escola
a de aprendizagem social que encara.
essa informação como um fundamento para
a modelagem e a teoria cognitivo-
a irte
importan
desenvolvimentista encara-a como assi
nalando o que cada sexo deveria fazer olas estarem a mudar, ainda desempenham um papel
, E o Ea do papel de género tradicional. Houve mesmo quem E
p is de género tradicionais «o segundo curr
iculum» nas esc
%ensinDO o de papé

34.1. Família A

Muito antes da criança nascer, as crenças dede género:


estereotipadas afectam a preferência q os (Barros, Barros, ótipos
e Neto, 1993). Os estereótipos
dos pais por um(a) menino(a). Os pais têm
estereotipados para os seus filhos, Desd
percepções, expectativas e valores
" res os professores a tratar alunas e alunos de pampa
e que a criança nasce as crenças
acerca do género estão tão profunda E ei
RU AUR supos muitas
mente enraizadas que começam a | er E »Oé Hall,eme
1982). Em primeirout , de ponto o a
influenciar o comportamento dos adul
tos. Quando uma criança nasce as es com seus alunos de modo a PRIDE OS O SeTES HP
primeiras palavras que se ouvem alto pasa
e em bom som são: «É menino(a)!»
Imediata mente se atribui à criança recém-nascida um orecer os O OO an A TONA
nome apropria
do ao indo intelectualmente mais competentes FoeAo alunas. E ER as
seu sexo e seguem-se prendas também
apropriadas com o sexo. É de referir Rem por vezes utilizar estereótipos
de género, como
a estepropósito um estudo efectuado com pais pela A o das
primeira vez que foram nulheres são «maternais», para concluir que as aspiraçõe RE
entrevistados nas 24 horas que se segu
iram ao nascimento (Rubin, unas não são tão sérias com as dos alunos. Será pra pa casresdo
Provenzano, e Luria, 1974). Não havia diferenças entre
os recém-nascidos professores percepcionarem as alunas como mais susCepa Tels DN ante
do sexo feminino ou masculino na altur
a, no peso € noutros aspectos da sua acaé emicamente e de prosseguirem carreiras que encorajam a a BESUS
aparência física. Apesar disso os pais das
meninas avaliaram-nas como mais mais os rapazes. Tal diferença no tratamento pode observar-se
afáveis, mais pequenas, enquanto que RsRalaés
os pais dos meninos descreviam-nos pre-primária à secundária (Vandell e Fishbein, 1989). Assim, Em ea
como mais fortes, maiores, mais activos. Pode-se duvi
dar da possibilidade fala muitas vezes mais com os rapazes que com as raparigas nas à Su
de haver efectivamente diferenças que
só os pais pudessem percepcionar. (Eccles e Blumenfeld, 1985) e colocam questões mais complexas aos o E
Quando se estuda como é que os pais trat = que às raparigas. Quando estudantes pôem questões, os professores resp
am os seus filhos o quadro emergente
não é claro. Os pais referem geralmente dem muitas vezes mais a questões dos rapazes.
que tratam os seus filhos e filhas de
modo semelhante (Antil), 1987; Mac
coby e Jacklin, 1974). Numa meta- Em segundo lugar, os(as) professores(as) dãox muitas
i ais poder e
vezes he Ri caio
análise em que se coligiram 172 estudos não houve
diferenças sistemáticas estatuto aos alunos que às alunas devido a estereótipos de género. á ba
no tratamento geral dos pais em relação
a filhas e filhos (Lytton e Romney, FP OS alunos podem ocupar lugares melhores que as alunas par
1991). Todavia, do ponto de vista lógico, as cren
ças dos pais deveriam afectar demonstrações laboratoriais.
o seu comportamento em relação aos
seusfilhos, muito embora os efeitos mg eo

pudessem ser subtis. Tal parece ser 0 caso E Emterceiro lugar, os estercótipos de género podem levar
(McGillicuddy-De Lisi, 1988)e a minitas Di e
maior evidência de tratamento diferente dos pais emer professores avaliem alunos e alunas
ge nas reacções
ao de modos muito
comportamento da criança na escolha
de brinquedos e na atribuição das alunas podem ser julgadas tendo mais em conta ú sua aparência es
bathe os:
tarefas domésticas. FP alunos a sua competência. Os estereótipos de género pode
m ma
54
55
-

sua emergência quando se avalia de modo negativo mulheres que enveredam ças res ponderem a outras criançaso , como também a
i
aam maneira das € rian
por campos de estudo considerados tradicionalmente masculinos. Assim as tade em utilizar outras crianças como modelo:
a von E vç
mulheres ainda estão subrepresentadas em campos científicos, tais como esa ope ica-se quando
eça na
na escol
escola a pré pré -pre intensif
imá ria
engenharia e arquitectura. *segr
é egaç á
ão sexua l com
s preferem grupos isapadio
mo
. Ambos os sexo
escoedad
acriança en! tra emna soci es ária
la prim
ocidentais como em sociedades não ocidem
Ja ni

is
) i
o '. ra

Considere-se, por exemplo, o caso dos computadores. Um inquérito em vinte


é que rapa rig
e três campos de férias com computadores servindo mais de 5 000 alunos E“4. dwar ds, 1988). O resultado da segrÊ egação sexual t es
colegas, em diferent
mostrou que os rapazes eram três vezes mais numerosos que as raparigas, e ese” dem a crescer em diferentes meios de
n, 1987).
diferença que aumentava com o custo, o nível de ensino e o nível de culturas (Maccoby e Jackli
dificuldade do campo (Hesse e Miura, 1985). Há pelo menos dois motivos
para esta diferença sexual. Em primeiro lugar, os computadores na escola - CUM
Ev...

são muitas vezes introduzidos através da matemática, matéria em que os


rapazes recebem mais apoio que as raparigas dos pais e dos professores
à,a Meios de comunicação social
(Chipman, Brush, e Wilsonm 1985). Em segundo lugar, a investigação sugere
nai ai Fr E
que o software educacional é planeado sobretudo tendo em mente os rapazes
—— modos de transmissão dos RE
A
(Huff e Cooper, 1987).
a cociedade é através das imagens de m ra
os dc Runes ção as E ARA So
Pode ainda levantar-se a questão se a sala de aula se pode tornar mais agradável s de
tereóti é
para as alunas. Sem dúvida que a resposta pode ser positiva, caso
or, ia PNR Images, 1975). Em diferentes meios de
professores(as) e escolas se apercebam de que há um problema a resolver e maisj papéiÉs € sobretudo papé apéis
nunicação social os homens desempenham
ênciaia q que
nd uênc
rar a infl
ve as mulheres. Vamos pro curar ilust
de que as escolas necessitam de enveredar por políticas susceptíveis de educar j influ
i i
os(as) professores(as) acerca dos seus estereótipos de género e de apontar
e ; s de comunicação social sobre os
ter os meio « reótipos|
s este ais sexu
dem
]
para um tratamento mais igual entre homens e mulheres na sala de aula. livros para
vídeos s de música roeck
isão. vídeo
1 : televisão,
minando três desses meios

tante na De oleo
te evisão, em particular, desempenha um papel impor
uso
s estereótipos de género. Gerbner e Gross (1976) e
3.4.3. Colegas lados básicos 3
mo tendo uma capacidade única para cultivar os postu
status quo, às SU
a natureza social na medida em que reflecte e aumenta o
fazem um vasto €
Os colegas são também agentes importantes de socialização. Tornam-se cada
imagens são retratadas com grande realismo, e as pessoas
vez mais importantes durante os anos da escola. Muitas vezes a pressão de uso dela. Bandura ( 196 9) suge i
2 riu que a tele V. 1são
I compe te |
com
+lectitivo
colegas é mais forte e eficaz que a dos pais, ou de outros adultos, em especial is e professores em propiciar modelos de papel para er
ve tigação sugere que os meios de comunicação social são p
durante a adolescência. arte da

s cialização do papel de género e análises da televisão sugerem que o qu


que
Desde a escola pré-primária à adolescência, as crianças que enveredam por
| --,serve
4
de modelo na televisão são imagens masculinas e femininas tradicionais
formas tradicionais de comportamento de papel de género são mais bem |
-
|| eestereotipadas.
aceites socialmente pelos seus colegas que as que não adoptam comporta-
1969 e Eu
mentos tradicionais (Martin, 1989). Há três comportamentos que são muito -—s Signorielli (1989) analisou programas teatrais difundidos entre
especialmente afectados pelas respostas de colegas: agressão, assertividade E E encontrou que aproximadamente 71 por cento das pessoas e o
e passividade. Encontrou-se que as raparigas dos 9 aos 14 anos esperam Pdas personagens principais eram masculinas. Análises de tendências
menos desaprovação de colegas por comportamento passivo e mais desapro- “mostraram relativamente poucas mudanças ao longo do período de 16 anos.
vação por comportamento agressivo do que os rapazes (Connor et al., 1978). As mulheres na televisão eram em média mais jovens que os homens, mais
A assertividade também é vista como sendo mais desejável para os rapazes atra tivas, retratadas em contextos com interesses românticos, em casa e em
que para as raparigas. Esses estereótipos de género podem influenciar não família, e mais susceptíveis de serem vitimizadas. Só três em cada dez

57
56
PR
Lei
personagens femininas casadas trabalha
vam fora de casa e quando as mulheres ens agrada
trabalha vam ocupavam geralmente profissões ão também veiculados nas mensag
televisão das crianças. Os rapaze
Ati nos de género
femininas tradicionais, Ag ramas de
invés, os homens eram retratados não só de panham os prog
modo significativo mais do que as raparigas. Havia mais
frequentemente à trabalhar, como eram — em mais anúncios de as os
os équed
íncibrin raparigas eram apresentadas como
também retratados em profissões
com estatuto elevado, como médico s ou em trabalhos masculino
e advogados je rapa riga
passiv ass que
nos aanunci
a
azes DO(Feldsteini e Eni
|
Perante
Fe Idstein,1982ta). ioga
Ls i
|
m estes O
Es es ines e prefiram brinquedos associados com o seu
Os
S
um anúncios
retre difundidos entre a programação da televisão fornece també
ato de a
homens e de mulheres . Estes anúncios são filmados com cuida xo. Um certo apoio desta expectativi a é apresentado no Docume nto
para associarem produtos específicos :
com fantasias e ansiedades das pessoa
e ao longo dos ;
anos os anunciantes têm sem cessar reco
rrido
aos estereótipos
de género para vender os seus produtos
. Nos anos 70, 70% dos homens e Ss a que Ja n

anúncios americanos eram mostrado


s como peritos que conheciam os facto reotipadas?
acerca dos produtos a ser vendidos, s
ao passo que 86% das mulheres eram
mostradas como utilizadoras de prod
utos (McArthur e Resko, 1975). Este
mesmos anúncios prometiam recompens s By
as diferentes para homens e para
mulheres que compravam os produtos anunciad =
os: aos homens prometiam-
-se-lhes avanços na carreira e regalias
sociais, ao passo que às mulheres:
prometia-se-lhes que a sua família E 7.2 — Cartas ao Pai Natal
ou os homens em geral gostariam
delas. mais) Ho

É
ide estereótipos de género em petaae eles têm
e a que E
pe: sugere
Mais recentemente parece que os este ) 1 jalizaç
social ã . A análisise e de c
ização o
reótipos de género nos anúncios nesse
país e nout
ros diminuiram em certo grau. Por exemplo, :
evelou krelaç o com 0: sexof
i uedos em relaçã
a suaA preferênciai po r brinq
estudos nos Estados!
Unidos e na Itália encontraram que um 19983).
9 iníci de Dezem! bro os professores pe iram
No início FE a crianç
número crescente de homens erá
apresentado como cuidando dos filhos e as mulheres is € oito anos para escreverem cartas ao Pai Natal
eram retratadas num: idas
i s pessoaisj só foram is
leque mais amplo de profissões (Bretl avam para o Natal. Por meio de entrevista
e Cantor, 1988; Ferrante, Haynes €
a,s cartas de crianças que acreditavam no Pai Natal para a an
+ á
] «
E

Kingsley, 1988).
» Os rapazes pediam brinquedos masculinos e neutros a ses
Se pretender verificar pessoalmente à exis - , não pedindo quase nunca brinquedos lorena Aa Ipem
tência de estereótipos de género,
passe algumas horas a ver televisão é preste a maior preferência por brinquedos neutros, uma pre A eriaçe
atenção ao sexo da voz que |
anuncia um prod uto quando essa personagem não aparece em e dos femininos, mas o que menos desejavam eram bring
pessoa no | de modo estereotipado aos rapazes. Os estereót andei
anúncio. A «voz da autoridade» é quase semp ipos ego e
re um homem. Quando ouvira.
voz de uma mulher preste atenção ao produto que E temente mais fortes nos rapazes que nas rapa
está a ser vendido. Durante | rigas, es na
o dia há grandes probabilidades que se trate de algo ade, a maior parte das crianças mostravam uma
que tenha a ver com preferência ada
preparação de comida, cuidado de cria Equedos associados de modo estereotipado com o
nças, ou usos de cosméticos. Os! seu género, ar
estereótipos de género não morreram rapa
e ze
bones
cas para as raparigas.
como pudemos verificar recentemente
num estudo em Portugal (Neto e Pinto
, 1998). Examinou-se o retrato de
home ns e de mulheres numa amostra de anún
cios dos quatro canais de
televisão existentes em Portugal. Foi
feita a análise de conteúdo de 304
anúncios. Os atributos de cada uma das figur
as centrais foram classificadas
em Ii categori
as: género, modo de apresentação,
credibilidade, papel, lugar, o
idade, argumento, tipo de recompensas, tipo
de produto, meio e comentário | gens mediáticas dos homens e das mulheres podem ser ii sob
tesns
final. Foi obtida uma clara evidência de
diferenças na apresentação das Ds demasiado subtis para serem percepcionados, como
personagens masculinas e femininas.
O 6, podendo suscitar o viés denominado de face-ismo.

58
estereotipado no Jogo
Pode-se levantar a questão se as pessoas são efectivamente influenciadas ri
t í
buía par a au mentar um comportame: nto
nel O con
pela televisão. Um certo número de estudos respondem positivamente à n, 1983). |
essa questão. Segundo Kimball (1989) as crianças que vêem televisão têm Ede crianças (Ashto
i s de aeicação En social
mais atitudes estereotipadas de género que as que não as vêem. Noutros , a família, a escola, os colegas e os meio
l a quanto ao género àsàs
ormação estereotipad cri a s. Para ço
estudos encontrou-se uma relação positiva entre exposição ao conteúdo Em É inf
em
e
modo diferente na famí
estereotipado quanto ao género de meios de comunicação social e E “E azes e raparigas são tratados de
rem men
percepções estereotipadas de género, atitudes e comportamentos == A odas essas instituições os estereótipos esta
(e.g., McGhee é Frueh, do que duas déca
edu indaa são frequentes apresentações
Ê das atrás, aind
1980; Steeves, 1987). Todavia nestes estudos “vin cado s
de género.
correlacionais a direcção da causalidade é desconhecida. Será que ver muita estereotipadas dos papéis
televisão causa um aumento de estereótipos de género? Ou são porventura
as pessoas mais tradicionais que são mais suceptíveis de construir uma
maior quantidade de actividades culturais tradicionais, como ver muita
televisão?
deiros:
s >

Os estereótipos de gênero são verda


4 a.

Vários estudos experimentais encontraram que modelos televisivos podem


influenciar as percepções do género. Ruble et al. (1981) encontraram que as tão difu
-se tão pá mos
Os pode
difundidos que nos
i - ero encontram-se
crianças jogavam menos com um brinquedo neutro após verem um anúncio stigação sobre
por o são verdadeiros. Com b ase em inve
A
mrogar até quee pont
O
de televisão em que uma criança do outro sexo estava a brincar com ele é
eram mais suceptíveis de considerar esse brinquedo apropriado para um irmão roepodem é Ea ç lificando
E : simpeg
e reót
2 os este a de géne
Eipos Ea
do sexo oposto. Em estudos experimentais efectuados por Geis et al. (1984)
todavia essa verdade (Eagly, 1987; Maccobye Jacklin,
e Jennings et al. (1980) encontrou-se que o visionamento de anúncios
ex
pets au
E “o e Helmereich, 1985). Como veremos mais
estereotipados quanto ao género influenciava as aspirações na profissão, à lizada nas tar ERsçaA
» um pouco mais agressivos, competitivos & foca
conformidade e a autoconfiança das mulheres. sensíveis, cooperativas € Ee
ulheres. As mulheres são um pouco mais
ce que as Ene a
Vídeos de música rock estão imbuídos ainda de estereótipos de género mais às pessoas que os homens. Apesar disso, pare
dantes que as Pp
fortes que anúncios de televisão. Estes suportes tendem a apresentar as iferenças sexuais são mais acentuadas € abun
mulheres como emotivas, ilógicas, frívolas, dependentes e passivas. Os iferenças.
homens são caracterizados ste aspecto pode ser ilustrado por uma investigação da Es pa
como sexualmente agressivos, racionais, €
aventureiros (Freudinger e Almquist, 1978). Há experiências que indicam sexos uma : ista dic
1987). Apresentava-se a adultos dos dois
que o visionamento de vídeos de música rock pode influenciar as percepções fereotipados masculinos, femininos ou neutros. Pedia-se- o a É
que as pessoas têm das mulheres (Hansen, 1989; Hansen, e Hansen, 1988). A um ou go ;
Ssinalarem os traços que os descreviam verdadeiramente.
para as
Após o visionamento de homens machistas e de mulheres submissas le “sujeitos apresentava-se a mesma lista e era-lhes pedido
sexualmente, as pessoas tendiam mais tarde a percepcionar um alvo feminino para quem era a ae
icentagem de homens e de mulheres em geral
pe e
como sendo mais submisso que as pessoas que não eram expostas a vídeos Bada traço. Mediante a comparação de percentagem de sujeitos
au
estereotipados quanto ao género. masculino e do sexo feminino que encontraram os traços como sendo
descritivos com as percentagens avaliadas, encontrou-se que às expectativas
Nos livros de crianças, manuais e outros livros, o sexo feminino também um
fexcediam a realidade. Muito embora os traços masculinos, só fossem
está subrepresentado e apresentam perspectivas estereotipadas de ambos os das mulheres,
E O
o O mais auto-descritivos dos homens, e os traços femininos
sexos. Às personagens da maior parte dos livros de crianças são masculinas.
havia diferenças de vulto nas percentagens avaliadas.
Apesar de actualmente os livros tenderem para um tratamento mais igualitário E sobreavaliar
Note-se no entanto que as pessoas parecem não i a mod
pao
dos dois sexos, mesmo assim livros planeados para não serem sexistas
mostram personagens femininas que são menos activas, e mais emotivas que
Niforme as diferenças sexuais. Pelo menos no caso dos ad e ig
$ sobreavaliações não ocorrem necessariamente. Swim (1994) en
os rapazes, reforçando assim alguns estereótipos (Davis, 1984). Num estudo
experimental encontrou-se que a exposição a livros estereotipados quanto ao j as d iferençaÇ s.
Ga tendência dominante era para estar certo ou para subavaliar

61
60
As pessoas estavam certas ou subavaliavam difer
enças sexuais em seis áreas
(inquietação, capacidades matemáticas, ajuda
em caso de emergência,
felicidade, influenciabilidade, e olhar durante as
conversas). Só em duas áreas
se verificou sobreavaliação. Os sujeitos sobre
avaliavam a tendência dos
homens a serem agressivos € as capacidades verbais das
mulheres.

3.6. Mudanças

Nas décadas de 70, 80 e 90 os movimentos feministas


têm feito ouvir a sua
voz em todo mundo ocidental. Apesar das suas
lutas pelos direitos das
mulheres e da igualdade de sexos, teriam diminuído
os estereótipos de género?
À resposta que nos é dada pela investigação a este propós
ito, é que, se algumas
das características dos estereótipos tradicionais se
atenuarem, outras ainda
perduram. Trata-se pois de uma resposta simultanea
mente positiva e negativa.
Mason, Czajke e Arber (1976) estudaram as muda
nças nas atitudes dos
papéis sexuais das mulheres em três períodos:
1964, 1970 e 1973-74. O
primeiro destes intervalos de tempo ocorreu antes
do advento do
movimento das mulheres nos Estados Unidos e o
segundo coincidiu com
o período em que esse movimento começou a
contribuir para a tomada
de consciência do estatuto das mulheres e a ter uma
influência política e
social. No período de dez anos, os sujeitos apres
entaram um aumento na
crença de oportunidades iguais para homens
e mulheres no local de
trabalho e uma divisão equitativa das tarefas domésticas
. Já num outro estudo
que mediu as atitudes em relação às mulheres em 1972,
76 e 80 (Helmreich,
Spence, e Gibson, 1982) embora se tenha encontrado uma
liberalização dessas
atitudes entre 1972 e 1976, entre 1976 1980 apareceu uma ligeira mudança
para crenças mais tradicionais.

Se nos voltarmos para o assunto específico dos


estereótipos de traços de
género há algumas indicações de que podem ter mudad
o. Parece, por exemplo,
haver a tendência a valorizar-se a expressão emocional
nos homens e a
competência nas mulheres. Num estudo com estudantes
universitários se os
homens e as mulheres ainda tinham os estereótipos
tradicionais, traços
femininos que antes eram vistos de modo negativo
são agora encarados de
modo positivo (Der-Karabatian é Smith,1977). Outro
s estudos observaram
que novos estereótipos femininos da mulher independente se
tinham juntado
a outros mais tradicionais da mulher doméstica
€ objecto sexual. Faziam
parte da constelação deste estereótipo traços Re:
como «activa, agressiva, LDA
Pois de género estão-se a tornar mais flexívei SIPRISA
consciente, ambiciosa, competitiva, persistente e indep
endente» (Clifton, s e já lá vão os tempos em que a mul her só efectuava o
» doméstico.
McGrath, e Wick, 1976).

62
63
Uma
em investigação mostrou todavia até que
ponto as pessoas Rob
a cai eds segund o os sexos acreles
di ; tete s dos estereótipos de gén
E
ero
ram em medida cinquenta e quatro adiectivocs
Edo EE ASR tipicamente masculino e feminino. Cinque pensar que os estereótipos de género são exemplos engraçados,
dn go traços apresentaram diferenças entre
nta por pessoas desporvidas de sentido crítico. Todavia, à semelhança
o
a ulino e feminino. Os estereótipos era
o sujeit ce com a maior parte dos estereótipos, os estereótipos de géner
m partilhados isso alguns
OS sexos sendo a percentagem de acor
do entre os sujei
linda mais fortes sobre os seus objectos. Vejamos por
masculino e feminino de 85%. às efeitos dos estereótipos de género.
“2
A aa
Rd onça nos estereótipos de género pôde tamb
de
ém g;
SO E a é do ada replicando o estudo q
- Us resultados sugerem
buições de sucesso e fracasso
que em muita
ER ga ar mudança nas duas décadas. Os
E)

TR de a
SEO er hora como mais fortes, independente apítulo 3 que as pessoas estão motivadas para explicarem o seu
s, rud to e o dos outros em termos causais. Diversos estudos têm
Et Pois E eres; e as mulheres continuavam a ser vista
o a E ucadas e submissas que os home
s corr ência que as atribuições causais efectuadas pelos observadores
ns. Por outro lade
para ES E várias mudanças nos estereótipos. Em fadas pelos estereótipos de género. Um estudo de Goldberg (1968)
particul; ência que atribuições diferenciais para o sucesso podem ser
pa S, os Fesultados sugerem que os estereótip
gi o mais favoráveis em relação às mulh
os mudarar or um nome masculino ou feminino. Pediu-se a estudanies
eres e mengo para avaliarem artigos sobre diversos tópicos escritos quer por
ação aos homens,
p» quer por «Joan Mckay». Os artigos de «John» foram avaliados
Os trab alhos a que temos vindo
: a fazer alusão situam-se dentro de um mesm is favorável que os de «Joan». Este estudo sugere pois que as
ifestavam preconceitos em relação a outras mulheres. Estudos
as a = que examinou a evolução dos estereótipo ugeriram que os homens também manifestavam preconceitos
Rn: E ogia de Williams e Best (19904), a que já nos referima
obrigadoa: Si ra a resposta matizada que os psicólogos sociais sã às mulheres.
inline nes Ep seito da evolução dos estereótipos. Bjerke, de mais de uma centena de estudos como o que se acaba de
Bergei
instrumentos ou uma fraca evidência de que as pessoas em geral avaliam o
populações nos E. e ais licaram utilizando os mesmos homens de modo mais positivo que trabalho equivalente realizado
recolhidos em Te 8 Haidos em 1988 (os primeiros dados neste país foral
datando de 1977) he e na Noruega em 1987 (os primeiros dados neste pa S(Swim, Borgida, Maruyama, e Myers, 1989). Para além disso,
uma mudança j pç dos Estados Unidos não põem em evidênci mo os de Goldberg apresentam muitas vezes problemas
masculino a E durante o período de 16 anos, o estereótip cos por utilizarem nomes masculinos que são mais atractivos do
mas menos favorávê inimos, e deste modo os efeitos de atractividade do nome são
que O estereóti a >a mo mais forte e mais activo, os com o viés no género (Kasof, 1993).
significativas dur Ea eco A Na Noruega observaram-se mudançã
de co E dez anos, o estereótipo masculino mudandê
mais favorá na eaÉ menos PViês avaliativo poder não ser tão frequente quanto se pensava
MedGES dA fada favorável que 9 estereótipo feminino e u E
ao estereótipo E e a A do estereótipo mascul ino relativamentt A sugere que pode haver um «padrão duplo» quando
dez anos de intervalo (1977-1987
réplicacomcomcrianças
foi também ef ectuada na Noruega litibuições de sucesso e de fracasso.
de cinco anos que mostrol :
serem as mudan : Es dência das pessoas em reclamarem as realizações com sucesso e
19904). sas nesse intervalo de tempo mínimas (Williams e Besk qm à responsabilidade do fracasso. O sexo dos sujeitos apresenta
n efeito sobre a amplitude destes viés. Os sujeitos masculinos
Em gaas
EE suma, E e stando perante dados que LS fortemente O sucesso a factores internos, como a capacidade
não são totalmente convergentes, , nã não
data “a is concluir com segurança que os estereótipos de género tenhail S femininos tendem a atribuir o sucesso a factores externos como
Uido nas duas últimas décadas. Yamente ao fracasso, os sujeitos femininos interpretam-no como

64
65
ami aicões posteri ores confirmaram e ampliaram as conclusões do estudo
s também
puderam ser observadas em crian eman et E 70). Assim as crenças dos estereótipos acerca das
(1
E desempenham um p apel na terapia (Sherman, 1980).
4

nse todavia que Os estereótipos de género de que são alvo as


: só lhes acarretam desvantagens. Pense-se na imagem do homem
exemplo, num estudo e d ne spendente. Ora verificamos efectivamente que em cada estádio
Urna e Emswiller ( 1974) os sujeitos a li o sexo masculino é mais susceptível que o feminino de sucumbir
asculino quer femini Valar: vá — 4.3 :
Airinai E:
ou feminina. Relativamente Inino e i 78). Em 1980 um indivíduo do sexo masculino em
à o te gRcitana hem O me b E nascimento, poderia esperar viver cerca de 69
:
Eos Pai doi SEXOS atribuiam o Sucesso do indivíduoamSMAi omen o
PR Observador e: E ivíduo do sexo feminino cerca de 76 anos (Cónim e Carrilho
tice sso do indivíduo
imaliszí Eta
feminino à sorte. Os culi
as à E o
e : 1 ;
E mbora haja quem atribua essas diferenças a factores genéticos,
aderiram a Oresnos.femininas
estas Percepções tão fort emente como os masculi Em uma parte importante que pode ser atribuída aos estereótipos
Relati ro masculinos e ao stress a que estão associa
dos. Waldron (1976)
7 que 75% da diferença da expectativa da vida entre os sexos era
fla a aspectos do papel sexual masculino. Se por um lado os homens
Brizados a procurar a independência, o sucesso o que pode suscitar
e rível ansiedade perante o fracasso, por outro lado são considerados
!
abilidade para comunicar as suas emoções. Não causa pois
lheza que o stress tenha consequências fatais no homem. Refira-se
D comportamento Tipo A, um padrão comportamental que é
Eterizado pelo esforço constante e pela tendência a fazer cada vez
IS coisas em menos tempo, afecta particularmente os homens. Os
Nem só os estudantes estão imbuídos d. Es hens têm tendência a começar a fumar mais cedo, a fumar mais cigarros
Broverman, Clarkson, Rosenkra t é de estereótipos de género. Broverman Hinalar mais o fumo que as mulheres. O fumar parece estar associado à
utz, e Vogel (1970) pediram a 79 té cada pertensão e a outros riscos para a saúde. Do mesmo modo, o alcoolismo
or nos homens que nas mulheres. Estes e outros riscos somados
em com que os estereótipos de género tradicionais constituam uma
idadeira armadilha para a saúde dos homens.

3.7.3. Profissão

sn od, Mia do Sexo feminin o A E Re está subrepresentado em quase todas as profissões com
sibe Be Mio à aparência e mais excitável Es qua po e E E mulheres não têm sobressaído tanto como os homens no campo
sexo masculino quer do o a para os técnicos de saúde o a E - Por exemplo Gardfield (1982) coligiu o número de mulheres nas
eminino, há a tendência Re quer do Brnias nacionais de vários países (quadro 7.2) e a diferença entre os dois
DP S$xos não é favorável às mulheres.
66

67
Quadro 7.2 — Número de mulheres
em várias academias o era uma pessoa com licenciatura que se chamava quer
nacionais de ciência Re a rriss. Numa versão da descrição, Ken ou Kate tinham
“aD) o Ih ; fi perfil masculino e numa segunda versão trabalhos
Roo “a E Após a leitura das descrições, os sujeitos indicavam as
Membros Total “ga Eu a personalidade das pessoas à procura de emprego e
Academias
do sexo
feminino
de E DO robabilidade de serem entrevistados para três empregos: gestor
membros RE” E E uma companhia de máquinas (trabalho eee na
qua ce E 130 | ministrativo num banco (trabalho neutro elemento E Snes
Re ncionista de dentista (trabalho feminino). Os resulta nçiá
Royal
o a Societyann
of London e
(Inglaterra) -
29 Fo Ê EE bora as características individuais tivessem uma influência na
909
Five State Academies in the Federal “A EO nar os homens eram favorecidos para os trabalhos ditos
13
PA sculinos, e as mulheres para os trabalhos ditos femininos.
Deutsche Akad
o emie der Naturforscher
21 = | É estutudos a que acabamos de fazer referência a profissão era mantida
“nos
*1000
Leopoldina (RDA) stante e comparada com julgamento acerca dos dois sexos, os homens e
Academy of Sciences (U.S.S.R) nt Eres repartem-se de modo desigual entre as diferentes profissões.
3 * 700
q jor parte dos médicos, dos engenheiros civis, dos carpinteiros, por
* Número aproximado
Fonte: Gardield, 1982.
i
mplo, são do sexo masculino, i parte de professore s
enquanto que a maior
ários, assistentes sociais, e enfermeiras são do sexo feminino.

sposta à questão de porque é que os homens e mulheres nen por


iras diferentes é muito complexa. Provavelmente isso deve-se à prática
Diversos estudos puseram em evidência
à existência de viés no emprego de Ocialização para os dois sexos, e a estereótipos que perduram sobre as
mulheres. Fidell (1970) enviou um «curriculum
vitae» a directores de! cidades relativas dos homens e das mulheres. Sejam quais forem os
departamentos de psicologia pedindo-
lhes para o avaliarem para eventual pismos implicados tal pode resultar de diferenças no valor subjectivo
professor no departamento. Foram utilizad
as duas formas em tudo idênticas, Pelos dois sexos a propósito de diferentes profissões (Parsons, Adler, e
excepto no sexo, sendo enviada cada uma
a metade da amostra. Os resultados ce, 1984). Os autores interrogaram uma amostra de alunos e encontraram
mostrara m que aos homens oferecia-se geralmente uma
posição mais elevada! as raparigas avaliavam o inglês como sendo mais importante que a
que às mulheres, apesar de igualdade do
seu trajecto profissional. Não se imática, ao passo que os rapazes consideravam as duas disciplinas com
pense todavia que só os psicólogos estã
o enviesados, pois Lewin e Duchan sma importância.
(1971) encontraram resultados semelhantes
em departamentos de físic
a. Num
estudo simulado de emprego, Terborg apari gas manifestaram igualmente maior interesse em seguir cursos e
e Ilgen ( 1975) encontraram que as
mulheres eram colocadas tão frequentemente como is que os rapazes. É sabido que muitas profissões requerem um grande
os homens, mas eram- ecimento em matemática e que muitos quadros de
-lhes oferecidos salários mais baixos para chefia provêm dessas
começar. Uma vez colocadas
atribuía-se a estas mulheres mais frequentemente tarefa 5. Estamos assim perante uma virtual
s rotineiras. | pam muitas vezes um estatuto secundáriorazão de porque é que as mulheres
no mundo do trabalho: escolhem
Os resultados destes estudos suscitam ques
tões relevantes. Nos anos 90 ainda as que levam a profissões menos recompensadoras.
existe discriminação no trabalho? No caso
de Tesposta positiva, porquê e em
que condições? Um estudo de Glick, Zion às mulheres podem ser vítimas de discriminação no mundo do sp
e Nelson (1988) dá-nos alguns
elementos de resposta a essas questões PImens que transgridem os estereótipos de género também podem
. Foi previsto que as mulheres com sa a
traços masc ulinos competiriam com os homens BÉ a discriminação. Podem até ser mais punidos do
para trabalhos ditos que as mulheres.
masculinos, e que os homens com tação das mulheres tem feito com que a violação dos estere
traços femininos competiriram com ótipos de
mulheres para trabalhos ditos femininos. Para testar esta IO Seja em parte socialmente aceite. O que não é o caso dos homens que
hipótese enviaram
-
-Se descrições sumárias fictícias a 212 utam papéis femininos.
empregadores reais. A pessoa que

68
69
3.8. Ideologias do papel de género . é
ando trab alho ante Hot (Kiskpatrick, 1936; Nadler é Morrow , 1959),,
Voltemo-nos agora para a ideologia do papel de 14 q s anos setenta (e. g, Kalin eTilby, 1978; Spence e Helmreich,
género, isto é, crenças sobr
relações de papel adequadas entre mulheres
e homens. Enquanto que q » nos à E
E oitenta (e.g., Benstoion e Vince nt, 1980; Rombough e
A
idas da ideologia do género.
estereótipos sexuais são crenças consensuais 3; senvolveram várias medidas - .
mantidas acerca de característio:
dos homens e das mulheres, a ideologia do papel e = a fidelidade e a validade de medidas da ideologia
sexual consiste e o MO mendo a estratégias múltiplas que incluem chrrelatos
prescritivas acerca do comportamento apropriado
às mulheres e ao S home
Efectivamente uma parte importante do
ci E. psicológicos (e.g., Etaugh, 1986) e avaliando a variação
o 1ÇOS

processo de maturação tem a ye


com o desenvolvimento de crenças, de atitudes e de ltural do construto (e.g.. Kalin, Heusser, e Edwards, 1982; Williams e
valores a propósito dos 990b).
direitos, papéis e responsabilidades de mulheres
e de homens. As pessoa
que acreditam que não há diferenças sexuais
inerentes, is to é, as diferença ante examinámos as características psicométricas de uma meo
sexuais observadas são o resultado de apre
ndizagem e de influências societals E ja do pape! sexual (Sex-Role Ideology Scale — SRIS; Kalin e Ti y
são descritos como tendo valores de papéis faso
sexuais mais igualitárias. Aquel; Fo de uma população portuguesa (Neto, 1998).A SRIS mede
pessoas que pensam que mulheres e homens
são diferentes por causa do se bi dos papéis sexuais com base em cinco áreas: 1) papéisdi E
género e por isso deveriam assumir os direi ns e de mulheres; 2) responsabilidades parentais de ia ere ri
tos, papéis e responsabilidade
apropriadas ao seu género são descritas como 3) relações pessoais entre mulheres e homens; 4) papéis especí
ten do orientações de papéis d
género mais tradicionais. res: e 5) matemidade, aborto e homossexualidade.
Toda uma abundante investigação tem sido cond
uzida a propósito das crenç
a fes universitários completaram um questionário com afirmações pobre
dos papéis de género. Tem também havido
uma variedade de meios pa sentre mulheres e homens. Por exemplo: «A mulher deve A
distinguir crenças de papéis de género
tradicionais das mais liberais er ajudar a carreira do marido do que em ter uma carreira própria»;
er deve ter exactamente a mesma liberdade de acção que o homem».

ados dos questionários foram obtidos de modo que resultados


ndicassem uma ideologia igualitária, enquanto que os resultados
licassem uma ideologia do homem dominante ou «tradicional».
fados da ideologia do papel foram examinados separadamente para
mulheres e no quadro 7.3 apresentam-se os dados portugueses
do com os obtidos em 14 países por Williams e Best (1990b). Pode-
de Portugal se situa no meio da distribuição de países, com a Itália,
ela e os Estados Unidos. As ideologias do papel sexual mais
jas foram encontradas na Holanda, na Alemanha e na Finlândia, ao
as ideologias do homem mais dominante ou tradicionais
aram-se na Nigéria, no Paquistão e na Índia. Em geral os scores mais
los foram obtidos em países com desenvolvimento socioeconómico
Mente elevado, uma proporção elevada de Cristãos (e uma baixa
ão de Muçulmanos), uma elevada percentagem de mulheres
fora de casa e a estudar ao nível universitário. Ao contrário

To
P8é encontrou com os estereótipos de género em que eram
ae

ente universais, a ideologia do papel de género apresenta uma


neo DAP

ampla
»
o

É
Vi
Nem todas as famílias encorajam papéis de géner
o tradicionais durante à O 7.3 ilustra diferenças interculturais nos papéis de género.
socialização.

70
nte as
s soc ied ade s as j as eram educadas consoa
est as trê s AS aSEque TE OS papéis de género não são O
Quadro 7.3 — Média dos scores da SRIS de mulheres Em cada uma tur destas três soc iedade
mo ns tr
E al o que de
e de homens em 14 países e em Portug expectativas cul ais ,
nados pela cultura ou
ere nça s bio lóg ica s, mas são determi
resultado de dif ctuado com
Se é ed uc ad o. To da via este estudo foi efe
pela sociedade em que aram que Mead pode ter rec
orrido
dores argument
algumas falhas e os investiga hados.
tivas nos seus ac
País Homens Mulheres a interpretações subjec
Ea
Holanda d+ 5.72
E—"
(Mais igualitário)

Alemanha 5.35 5.62


530
Finlândia este 5,69

Inglaterra 4.73 SAS

semelhança do que se
dh
Jália
e que em Portugal, à
4.90
p
a su rp re en de nt ivas
es tendiam a ter perspect
Talvez não sej
Portugal 4.48 4.69
a dos paí ses , as mu lh er
4.90 verificou na grande maiori em bo ra às diferenças fossem
pequenas.
Venezuela 4.51 £
ho me ns , mu it o
» mais modernas que 08
,
s na ideologia
Estados Unidos 4,05 4.66
cul tur a pa re ce con tri buir mais para variaçõe
Se E
Efectivamente, à ordo entre homens €
Canadá 4.09 4.54 l
gén ero do que o gén ero, havendo mai s ac
do papel de erentes
439
po cul tur al que ent re homens € mulheres de dif
* mulheres no mesmo gru
Singapura 3,61
sn
Malásia REA 4.01
grupos culturais.
3.70 Pi tão,
Japã
Ra al, como Finlândia, Paquis
381 3.88 Em suma, em países tão di ferentes de Portug rdo intercultural
ezuela, aparece um aco
Índia
Canad 4 e Ven
Nova Zelândia, Nigéria, heres.
Paquistão 3.34
3,3 3,30
que S e crê dif erenciarem homens € mul
3.39 nas características psicológicas ça geralmente antes dos
estereótipos de gé nero come
Nigéria 3,11
(Mais tradicional)
A aprendizagem dos e da adolescência. O pro
jecto
e continua através da infância
cinco anos mite-nos concluir
Fonte: Williams e Best, 1990b, com excepão dos dados portugueses
apresentado sobre Os estereótipos de género per
intercultural
dos estereótipos de género, cuja existência
* que existe um modelo pancultural
culturais estudados, com variações
é evidente em todos os grupos ncias culturais.
ultantes de influê
Telativamente menores res
udos interculturais
,

ocumento 7.3 — Papéis de género em est


as
erentes
ente partilhados nas dif
D

1 : Se os estereótipos de género 5 ão amplam io), parece no entanto


Relativam têm mostrado grandesta países tradicionais quer igualitár
aa de género há estudos que culturas (quer em
homens e das mulheres
em
ne do apropriado para 08]
considera haver uma avaliação muito diferente dos mais
homense para as aa Ra a Guiné] gumas sociedades são
dae) narvan três tribos na Nov Sociedades tradicionais e igualitárias. Al
e encontrou haver diferença d ds
es
mais 1 mportantes que às mulher
: : ts de género entre as tribos.
Na tribo Arapesh E iradicionais, acreditando que os homens são s igualitárias
homens e mulheres e tis e cuidadosas, e ambos! | ao passo que outras 5 ão mai
as 1 ass Is brandas, gen E que têm o direito de as dominar, são igualmente importantes € que
Os
sexos partilhavam et de cuidar das crianças, ao passo
os
ques E assumem que homens e mulheres
essivos e altameNaB homens não as deveriam domina
r.
uns ei Ee omens e mulheres eram esagrna terceira tribo, 98
competitivos Ega Homens e mulher
usei substancial nas crenças sobre
es, “5 à efectivamente uma variação 1 ntercultural
ens e para as mulher parecendo que
E iferentes para os homr na sociedade tradicional) riado s ent re homens e mulheres,
ea e a pe dos papéi s aprop
a Raia RR acaoera
Seu " felaç ões inuum entre OS países
dominadoras e chamavam a si a gestão Prtugal ocupa um lugar intermédio n este cont
da famili ai que os homens tinham menos responsabilidade, elR
ENE Studados.
S das mu heres e tendiam a gastar a maior parte do seu tempo a faze
gravura, a pintar, a praticar a dança e a cuidar dos omamentos dos ceu cabejil 73
ODU9L) OP sogdcIeduio?) fp
os abordado neste capítulo os estereótipos de género e a ideologia
“género que distinguem claramente os homens e as mulheres.
de
E ta essas crenças e as experiências de género de crianças e
as
à talvez esteja a pensar quão grandes deverão ser as diferenç
éneros no comportamento social quotidiano. Todavia quais
nte as diferenças entre o comportamento masculino e feminino
e ade?

ler à essa questão a investigação tem assumido muitas formas.


js por apresentar uma síntese de um marco na análise das
à vénero - o trabalho de Maccoby e de Jacklin (1974) e, em
aminaremos sobretudo meta-análises. Examinaremos a
"de diferenças psicológicas entre os géneros em três áreas:
btiva € comportamento social.

se de diferenças de género de Maccoby e Jacklin

Stuada por Eleanor Maccoby e Carol Jacklin (1974) contribuiu


perspectiva sobre o género em psicologia. Tendo efectuado
mais de 1 000 estudos e examinado mais de 100 traços
ais, defenderam que só havia algumas áreas do funcionamento
n que as diferenças de género podiam ser documentadas. Essas
nças de género eram as seguintes:

eres têm maior capacidade verbal;

mens têm maior capacidade visual-espacial;


1

mens têm maior sucesso em testes de matemática;


É

mens são mais agressivos.

isso Maccoby e Jacklin concluiram que havia pouca evidência


5 seguintes crenças acerca das diferenças de género:

Mulheres têm maiores necessidades sociais que os homens;

mu lheres são melhores em tarefas cognitivas simples e


ilivas, ao passo que os homens são melhores em tarefas
Complexas;

omens são mais analíticos;

lhlheres são mais sensíveis a estímulos de público e os


HS Ieagem mais visualmente:

7
=
E”

5. as muilheres têm necessidade de realização mais baixa; h rita, etc, por parte da mulher. Esta superioridade pode ser o resultado da
RReSCila, Lit
6. as mulheres têm auto-estima mais baixa: experiência social.
A confirmação é fornecida por uma revisão (Rosenthal e Rubin, 1982) que
7. as mulheres são mais afectadas pela biologia, ao passo que os E, E pôs em evidência que a grandeza das diferenças entre o sucesso masculino e
homens são mais influenciados pelo meio.
2 E tino diminuiu nos últimos vinte anos. Uma meta-análise sugere que
E: diferença na capacidade verbal geral já não existe (Hyde e Linn,
Poucos anos após a publicação deste trabalho de Maccoby e Jacklin, os 1988),
p= : — esta
psicólogos recorreram a um novo método para rever e sintetizar a investi gação, podendo haver contudo diferenças de género que favorecem as mulheres em
mae € certas capacidades verbais específicas, tais como a fluência (Mann, Saranuma,
a meta-análise. Armados com este sofisticado método começaram
|

a fazer
uma nova análise da investigação passada sobre diferenças de género. A meta- gakuma, e Maraki, 1990).
análise permite realizar três objectivos: 1) determina quando uma diferença o)

de género se encontra de modo fidedigno em muitos estudos; 2) permite o sexo masculino obtém geralmente melhores resultados que o sexo feminino
= em testes quantitativos e espaciais (e. g., Maccoby e Jacklin, 1974).
identificar o tamanho destas diferenças, 3) e informa-nos se as diferen
género dependem de outras variáveis.
ças de "Encontrou-se numa população de pré-adolescentes portugueses por meio de
"um teste de raciocínio não-verbal (R. N. V. 1) que os rapazes tém um sucesso
"maior que as raparigas (Mullet e Neto, 1983; 1986). Esta diferença pode
também ser o resultado de influências ambientais, na medida em que pais e
E professores afastam as raparigas de actividades relacionadas com a matemática
a ciência. Para além disso, através de treino, estas diferenças podem-se
4.2 Diferenças cognitivas
reduzir (Newcomb, Bandura, e Taylor, 1983). Acontece mesmo que esta
Ediferença não aparece em amostras de esquimós no Canadá (Berry, 1966). A
Poder-se-á interrogar porque é que se está interessado em capacid interpretação avançada por Berry é a de que as capacidades espaciais são
ades
cognitivas num manual de Psicologia Social. Podem-se entrever pelo altamente adaptativas para ambos os sexos nesta sociedade e quer os rapazes
menos
duas razões para tal. Em primeiro lugar, tais diferenças podem contrib quer as raparigas têm um amplo treino e experiências que promovem a
uir
para os estereótipos de género e influenciar os papéis de género criados pela “aquisição da capacidade espacial. Tal pode denotar que as diferenças de género
sociedade para os homens e as mulheres. Em segundo lugar, os Jem tarefas espaciais podem não ser universais, nem inevitáveis.
tamanhos
das diferenças de género nas capacidades intelectuais podem ser úteis
para
se comparar com os tamanhos das diferenças de género em comportamentos Se as teorias que tentam explicar as diferenças de género nas aptidões
sociais, tais como agressão, comportamento de ajuda e conformidade “Cognitivas apontam, quer para a influência dos factores ambientais, quer
.
E para a influência dos factores biológicos, como nos lembra Simões (1983),
A investigação actual não deixa transparecer diferenças globais entre
o sexo E não existe uma teoria satisfatória para explicar essas diferenças.
feminino e o masculino na capacidade intelectual, caso se avalie por meio de Ra >

testes de QI, de aptidão, de criatividade, de solução de problemas gerais. E necessário ser cauteloso quando se utiliza a informação das diferenças de
Encontram-se todavia determinadas diferenças em relação a capacidades * género cognitivas nas três áreas — capacidade verbal, quantitativa e espacial
específicas. E: “ - para Se tomarem decisões sobre casos particulares. Pode, por exemplo,
E
aver à tentação de em orientação vocacional se aconselharem os homens
O sexo feminino é muitas vezes superior na capacidade verbal e línguística. para não escolherem profissões que exijam capacidade verbal, ou aconselhar
Maccoby e Jacklin (1974) enumera as seguintes fases do desenvolvimento "as mulheres a afastarem-se de profissões que exijam capacidades espaciais e
das capacidades verbais: 1º) antes dos três anos: não se registam quaisquer à quantitativas. Por um lado, as diferenças entre os sexos são mais pequenas
tipos de diferenças; 2º) dos 3 anos até à adolescência: a realização dos | que dentro de cada sexo (Frieze, Parsons, Johnson, Ruble, e Zellman, 1978).
dois sexos é muito parecida (se diferenças há, tendem a favorecer as raparigas Pory outro lado, as conclusões de Maccoby e Jacklin sobre as diferenças de
e a aparecer sobretudo em populações desfavorecidas; jénero na capacidade matemática são hoje em dia controversas (Feing
3º) a partir da old,
adolescência: a diferenciação torna-se evidente — maior riqueza do voca- O 8).

bulário, fluência verbal, compreensão de analogias, criatividade na linguagem

78
79
em capacidades cognitivas ; am ições externas que internas sobre ascansa mil o a
4 as explicações levam muitas vezes a que se sm En Ee á ge
ma situação. O desânimo aprendido (Seligman, 1 ) leva p é
a mressão. Este desânimo aprendido ancora-se muitas ease nare ita dh
Valor médio de d(x) (valores
Comportamentos Fonte positivos denotam que as |Número de estudos têm menos controlo sobre as suas vidas que os homens.
nlhe s 1
uma mãe com dois ou mais filhos em que à relação conjugal se
= .

epgnitivos mulheres . obtêm resultados | que foi calculado d ” E


CASO
tre perturbada Se a uma insegurança psicológica se junta a insegurança
: A. : "
ncebraieetos = OT
num fundo de
E
s atribuições externas assentam para essa mãe
Verbal Hyde e Lim Al 165 E
nr mómica, à

dade na percepção da situação.


Matemática Hyde (1981) -43 16

Visual-espacial Hyde (1981) -45 10 E

Este quadro mostra os resuitados de meta-análises sobre diferença de género. São indicados os
valores médios de d (a diferença entre a média das mulheres e a média dos homens dividida pelo
2. Bem-estar
desvio-padrão destas distribuições) de tados os estudos que examinam uma determinada variável e
o número de estudos de que os valores médios de d foram calculados.
significar sentir-
" -estar é um termo relativo. Para umas pessoas pode
lia, com Os
Fealizado profissionalmente ou sentir-se bem com a famí
outras ainda o
Ds. Para outras significa riqueza, poder ou prestígio. Para
de um dia
lestar pode consistir em disfrutar de uma copiosa refeição ou
ofrimento.
4.3. Diferenças emocionais E
olha.
contece com a beleza, o bem-estar está nos olhos da pessoa que
dem
Examinaremos seguidamente o caso da depressão e do bem-estar e, no. star, felicidade, satisfação, em suma, qualidade de vida, depen
capítulo 10, estudaremos a solidão. X
kpectat ivas de cada pessoa e dos seus padrões de comparação.

e: ligação tem posto em evidência três componentes do bem-estar


ivo: afectividade positiva, afectividade negativa e satisfação com à
4.3.1. Depressão indrews e Withey, 1976). Os dois primeiros componentes referem-se
Ectos emocionais do construto e o terceiro refere-se a aspectos cognitivos,
1
Não restam dúvidas de que há uma maior incidência da depressão entre as | é mento.
mulheres do que entre os homens Í
(Doherenwend e Doherenwend, 1976;
Weissman e Klerman, 1977; Nolen-Hoeksema, 1987). A partir de uma revisão as revisões sobre o bem-estar não são consistentes entre elas. Uma
de estudos foi evidenciado que as mulheres sofriam cerca de duas vezes ão que incluia 13 estudos comparando os julgamentos de satisfação
mais que os homens de depressão (Culbertson, i a e de felicidade de homens e de mulheres não encontrou diferenças
1997). Esta incidênciaé
particularmente maior nas mulheres casadas que nos homens ou nas pessoas | is médios de bem-estar positivo (Diener, 1984). Em contrapartida,
visão meta-analítica mais vasta de 93 estudos mostrou uma ligeira
que nunca se casaram (Bernard, 1972). Levanta-se todavia a questão de se
saber porquê. ncia para os homens manifestarem maiores níveis de bem-estar que as
eres (Haring, Stock, e Okun, 1984). Talvez os resultados deste estudo
Se a explicação biológica para as diferenças na depressão entre os sexos tem reilexo do facto de neles se incluir o bem-estar positivo e, negativo. Já
sido avançada por psicólogos, ela não é todavia cabal. Uma via de explicação lormente foi realizada uma revisão meta-analítica que incluia só uma
também pode tomar em consideração o contexto social em que se ligam Ide bem-estar positivo para os homens e as mulheres (Wood, Rhodes,
papéis, neste caso mulheres casadas, e um resultado psicológico — depressão 1, 1989). Foi antecipado que as mulheres manifestavam maior
— mediante o processo psicológico dos padrões atribucionais.
81
80
me
bem -esni du
jecti “o a ia Esta hipótese foi fundamentada à
Re
feminino prescreve maior a
e = re ee auto-afirmação, mas o comporta-
disso, o estabelecimento do papel pré A emocional e expressão. Para , opsic caça, O combate e a guerra são
ólogos não meça
E E
que o dos hom ens de lhes pre RS e capacidades consistentes
ae ividades masculinas. São os home ns mais agressivos que as
o cod cs da E cum Se os dois sexos, O sexo
ee agir o aa di ah É em-estar felicida de, sati sivo em 52, O Sexo feminino era mais agressivo em
examinadas em relação a quatro Medida
co mà via also posveoum o à gor Éi heteroogénEea Css
ii E essoos emnão 2.
N S agres havi0a diferenças significativas (Maccoby €
cafe
ça SoM Cio ci ipótese avançada as mulh 5 estud | |
o&m duas meta-análises também se encontrou e dl O sexo
ideas e oc om avi da que os homem agressivo que O feminino, quer na agressão física quer
eco positivo reveloo Di E en ficativa na mesma dih
Aim ça entre Os sexos pen maior para à agressão
meio de ção rev Rs resultados mais a
e

mbora a diferen 1986). A partir destes estudos pode-se


effen, 1986; Hyde,
difícil a i
e estudosE incluída neste exo masculino é mai o
agrupamento de medida torna maior prontidã
E ter uma base bioló gica que cria uma
A dão
à difícil a interpretação exacta dos achadg sexo
mulheres. Esta tendência do
Refira-
casas espa E com os resultados deste estudo meta-an minino surge cedo no desenvol-
a no com a vida em população portuguesa não fg
Enf
oa Herenças segundonteso sexo com professores (À
difismnongade ae pari araer migra (Neto, 1995). Só encontrá
19932). Estes dados sa do is masculino com adolescentes (N

ida PR RE geralmente em consonância cor


que se obtêm por utilizado para medir a satisfaçãol
a vida. Embora as ed Dai
oiii sas es evoq uem mais o afecto negativo, também paré
atores alegrias, de tal modo que se encontra geralmente po
diferença entre os sexos i ação4 global (Diener, Emmons, Li se
Griffin, 1985). na satisf

cio i
Seja como as E ini am E praga postas em evidência a propósil
Calelicidade no estud ;
o de Wood et al. (1989) ) pá paré
ser mais: pequen
que se encontram na literatura so
depressão. R É E erenças
Aa lo j mais .
investigação ara aclarar os mecanismo
Pp Os
i
interferem no bem-estar subjectivo.

vu

Ex

çê D mostra que homens e mulheres são muito mais


4.4. Diferenças no comportamento soci fes que diferentes no seu comportamento social. As
al
E erenças que se têm encontrado são explicadas por
Apresentar: listas sociais por factores biológicos, ao passo que
áE o o sita algumas comparações entre o comportamento
: a € feminino. Faremos sucessivamente referência à agi* tam influências psicológicas, sociais e culturais.

aê & 40 comportamentos de ajuda, aos comportamentos


ao comportamento em pequenos grupos
83
vimento humano e tem sido amplamente constatada em diversas culturas, nformidade
idade e conf
142. Influenciabil 7
Na sua revisão de muitos º estudos interculturais abordando diferenças de
género, o antropólogo Ember (1981) observou que a diferença intercultural ndentes e
os re tr at am as mulheres como sendo mais condesce
mais consistente e mais documentada no comportamento interpessoal é que estereótip papéis Sociais
ta s qu e os h omens. Segundo Eagly (1987) os
os rapazes exibem maior agressão depois dos 3 anos. formis seriam menos facilmente
io na is de ix am transp arecer que os homens |
adic dos psico-sociais investigaram
Muito embora na nossa sociedade o sexo masculino seja geralmente mais luenciad a osDos queco as mu dGae ió .NE Os estu
lh eres
oratório em que um sujeito interage com
agressivo, isso não é verdade em todas as situações, nem tão pouco todos os:
membros do sexo masculino são igualmente agressivos. Se os homens se o
descrevem como sendo mais agressivos que as mulheres, as medidas dade é
revi são da investigação sobre a conformi
ly (1987) efectuou uma
comportamentais mostram poucas diferenças segundo os sexos (Frodi, mulheres são mais facilmente
Macauly, e Thome, 1977). As mulheres são mais susceptíveis que os homens tou amplam ente a hipótese de que as
rou que diferenças na conforma
nciadas que os homens. Encont
de terem simpatia com as vítimas de agressão, não sendo todavia claro se homens € às mulheres sã a: ro
essa habilidade age como dissuasor de agressão. Há também situações em. narecem quando as tarefas dadas aos a c
E ambos Os Sexos. A investigaç
que a agressão é percepcionada como sendo uma resposta positiva € certa, | mente à sua familiaridade para
ontrou outros resu Itados implicava muitas vezes tarefas matemátic
em que as mulheres podem ser tão agressivas como os homens. ' epção em que, como já se viu, os homens apresentam muitas vezes
os estudos que sssigatendo
As mulheres sentem mais culpa e ansiedade quando se comportam de modo cem. Eagly encontrou também que
|uentes antes de
agressivo (Eagly e Steffen, 1986). A sociedade é mais tolerante com a as mulheres eram mais conformistas eram mais freq
(1981) puseram em
agressividade nos homens que nas mulheres. A agressão é apropriada ou em mosteriormente. Numa outra revisão, Eagly € Carli
muito pequenas.
todo o caso é um comportamento esperado no sexo masculino, mas ência que as diferenças na conformidade eram
inapropriado para o sexo feminino. As reacções negativas que a agressão 41; e efectuada por Becker (1986) encontrou muita i nconEar
sis-
suscita nos outros por parte das mulheres, pode contribuir para inibir ou: 'meta-anális
tipo de influência s
reprimir esse comportamento. Esta perspectiva encontra o seu suporte no ia nos estudos, os resultados variando segundo o
ar disso eneonironi E
Fionalidade dos sujeitos e outros factores. Apes
facto de as mulheres exibirem tanta agressão como os homens em privado, tendência o E
mas não em público (Mallick e McCandless, 1966). Em situação de
estudos de persuasão e de pressão de grupo, há uma
influencia a aa
> embora significativa, para as mulheres serem mais
competição, as mulheres alvo de agressão por parte dos homens respondiam o sólida a propósito
imens. É difícil actualmente avançar uma conclusã
com choques fracos quando estava presente um observador, recorrendo sido efectuados no
E assunto. Dado que quase todos os estudos têm
todavia a choques mais fortes quando ninguém estava presente a observar quotidiana em
atório com estranhos, não é fácil generalizar para a vida
(Richardson, Bernstein, e Taylor, 1979).
| na escola ou no trabalho.
Se tomarmos em consideração factores situacionais que podem afectar O
comportamento agressivo, deparamo-nos, pois, com diferenças de género
bastante complexas.
e

E3. Comportamento de ajuda

I e Crowley (1986) efectuaram uma revisão meta-analítica de 172 estudos


Fcomportamento pró-social. Encontraram que os homens eram mais
Septíveis que as mulheres de oferecerem assistência. Todavia os autores
essa conclusão geral. Antes de mais, a maior parte dos estudos
Sociais de ajuda analisaram a intervenção do espectador que oferece
à um estranho em situação aflitiva. Está-se aqui perante um modo
limitado de abordar o comportamento pró-social, pois exclui-se um

85
84
=
vasto leque de comportamentos de ajud u que as
a como seja o tratar das crianças, dos s informações não-verbais.
idosos, o reconforto de um amigo. camente , Hall (197
gi 8) defe ndeu ,a
A investigação existente pouco nos
para A
n exO beies
acerca da ajuda nas relações privadas diz das mães
experiéiências íveis com os seus bebé pode exigir ne Era
s m
entre amigos e parentes. Foram às ameaças extern as dos seus filhos. Assim a
sensíveis às à
assinalados cinco estudos por Eagly
e Crowley em que as mulheres eram
mi odo ma is
mais susceptíveis que os homens em Pres E
des envo Ivem à habilidade em percepcionarem o mundo de m
tar favores pessoais a amigos e to ique OS home ns.
conselhos acer ca de problemas pessoais. Para term E” ecc para responderem de um modo mais: em otiv. o € P
os um quadro mais
completo das diferenças de sexo no comp si
ortamento de ajuda será necessário
dispor de estudos em diversos contextos, para além da intervenção do
espectador.

ma delas
LÃ .
as

=
4
4.4.4. Comportamentos não verbais

ES
=
E de= 4-6 6 4
Apesar de Maccoby e Jacklin não tere
m encontrado quaisquer diferenças de
género claras no comportamento não-verb
al, meta-análises evidenciaram que
as mulheres eram significativamente
mais versadas que os homens neste

od]
domínio. 44.5. Comportamento em grupos pequenos

Os estereótipos a respeito da «intuição» E : a ámero


idosde
feminina deixam filtrar que o sexo Diferenças de género têm também sido evidenciadas ga
feminino pode descodificar melhor o comportament aspectos do comportamento em grupos pespregao (Car » re
o não verbal que o sexo tais
masculino. Num estudo típico os sujei em média mostram mais comportamentos sócio-emocionais UBNA sônio
tos vêem
um vídeo de uma pessoa que
manifesta emoções, tais como a feli como agir de modo amigável, concordar com outras pessoas, nine para à
cidade, embaraço ou medo. Após o
visionamento de cada fragmento do filme emocional. Os homens mostram mais comportamentos a EA Tais
, os sujeitos dizem entre as várias
emoções aquela que está a ser expressa. tarefa, tais como dar e pedir opiniões, ontar-fosoivos a tarefa e ns
Hall (1978) fez uma revisão de 75
estudos desse género. Em 68%, as mulheres diferenças podem denotar que as mulheres são mais eficazes q E
descodificaram melhor que os
homens; em 13%, os homens eram melhores em tarefas que exigem uma grande discussão e negociação, dadas (Wood,
que as mulheres; e em 19% não
havia diferenças segundo o sexo. Por meio podem ser mais eficazes em comportamentos orientados para a
do recurso à meta-análise estes
resultad
os puderam ser confirmados (Hall, 1984). 1987).
As mulheres em média
são superiores aos homens na desc
odificaç ão de pistas não verbais, em Homens e mulheres apresentam também algumas diferenças ia íderes.
particular, as expressões faciais. As mulh
eres riem mais e têm mais contacto :
ocular durante as interacções sociais que os home Os homens são um pouco mais susceptíveis de surgir como o a tda
ns. Por outro lado, os homens laboratoriais do que as mulheres. Os homens são mais suceptíveis modideres
mantêm maior espaço pessoal e são mais expansiv
os nos seus movimentos Como líderes de grupos orientados para a tarefa e as mulheres co EUROS de
corporais e e nas posturas. Os homens dão
mais erros na linguagem que as Sociais e emocionais (Fagly e Karau, 1991). As mulheres em po AE
mulheres e utilizam mais as pausas de
preenchimento («ah» e <«hum»...) liderança adoptam mais um estilo democrático e participativo que
quando falam. Como mostram os valores
no quadro 7.5, as diferenças de (Eagly e Johnson, 1990).
género nos comportamentos não verbais
são muitas vezes bastante grandes.
Em suma, estas diferenças no comportamento os
A tendência para o sexo feminino superar o em gru po sug ere m ê
masculino na descodificação do homens estão mais focalizados na concretização de tarefas ede recompA rd
comporta mento não verbal encontrou-se em crian
ças, jovens e adultos. Várias É às mulheres são mais tocadas pelos aspectos
explicações têm sido avançadas para expli
car estas diferenças. Uma hipótese sociais da interacção
Manter sentimentos itivos
pos entre os membros do grupo.
sugere que o sexo feminino tem uma sensibil
idade «programada» geneti-

86 87
Quadro 7.5 - Meta-análise de diferença
de género nos
comportamentos sociais : tudos indicam diferenças no comportamento entre o Sexo feminino
e
o A É preciso todavia precaver-se na interpretação de diferenças
Valor médio de d(x)
Comportamentos Fonte (valores positivos denotam Número de estudos E O ta E e comportamentos. A investigação neste domínio pode
sociais
que as mulheres obtêm
em que foi
E E: E p E itdo de resultados enviesados. Os estudos do comporta-
calculado d
resultados mais elevados) o A em avaliações subjectivas encontram diferenças maiores
Agressão Hyde (1986) -0,50
E E ue recorrem a técnicas mais objectivas (e.g. contagem de
69
(mediana de d) O am Fc Os problemas suscitados pelas avaliações subjectivas são
Conformidade ao | Becker (1986)
0,28 E O ento Egios por uma experiência efectuada por Condry eCondry
grupo 35
o Estudantes universitários visionaram um vídeo de um bebé de
Comportamento de Eagly e Crow- 4 “a e avaliaram o seu comportamento em termos de prazer,
ajuda
e
ley (1986)
Global " medo. Antes de se apresentar o vídeo era comunicado a alguns estu autos
0,34
Quando estando
99 j que o bebé era rapaz e a outros que era rapariga. Os estudantes que pens vam
-0,74 mosirando mais ra nas
observado I6 "que o bebé era rapaz avaliaram-no como
Quando não es- prazer e menos medo que os estudantes que julgavam que o be é era uma
0,02
tando observado 41
Prapariga. É obvio que não havia diferenças comportamentais, pero o
Comportamentos Hall (1984) * mostrava sempre o mesmo bebé. Os estudantes precepcionavam di ç
não verbais
"pelo facto de «conhecerem» o sexo da criança.
Habilidade em
0,43
descodificar 64 E Para além disso, as diferenças que se encontram entre os Sexos têm por
Riso social undamento médias de grupos e não a realização de um indivíduo. Pode-se
0,63 15
Quantidade de assim cometer a falácia da média, isto é, a tendência a fazer-se e
0,68 30
olhar acerca de casos particulares com base em médias de grupos não se tomando
Espaço pessoal
«0,56 * em conta o número de pessoas que estão acima ou abaixo da média. Madame
Expansividade
-1,04
Curie era certamente mais analítica que a maior parte dos membros do sexo
de movimentos
* masculino e Camões tinha um melhor manejo da linguagem que a maior
Pausas de preen-
“119 = parte dos membros do sexo feminino. A grandeza das diferenças de género
chimento
que estão mais bem documentadas tem posto em evidência que os homens e
Comportamento em | Carli (1982) "as mulheres são mais semelhantes que diferentes quaisquer que sejam as
pequenos grupos
Características psicológicas consideradas. As diferenças dentro dos sexos são
Comportamentos
sócio-emocionais
0,59 17 maiores que entre os sexos.
positivos
7 Caso se ultrapassem as dificuldades em efectuar investigações sem viés, à
Comportamentos h ;
orientados para à
-0,59 I0 FP “dência não
investigação põe surpreendentemente em evidência nã tanto as diferenç as
tarefa de género, mas as semelhanças.
R .-

DP Enfim, refira-se uma última consideração sobre os estudos que tratam das
— à diferenças de género: eles não nos informam necessariamente porqueé que
| Existem diferenças de género, As diferenças de género são biológicas
Este quadro mostra os resultados de um
certo número de meta-análises sobre diferença * (genéticase hormonais)? Ou são aprendidas dos nossos pais, da nossa cultura?
São indicados os valores médios de d (a de género.
diferença entre a média das mulheres e
dividida pelo desvio-padrão destas distribuições) de todos
a média dos homens * Ousão impostas pela estrutura da sociedade e pelos contextos sociais? Para
os estudos que examinam uma determi- "86 obter uma melhor compreensão em que é que mulheres e homens são
nada variável e o número de estudos de
que os valores médios de d foram calcu
lados. PSemelhantes e em que é que são diferentes, vamos examinar algumas das
Principais teorias que tentam explicar os papéis de género.
88
89
5. Teorias acerca do Papel de Género
vezes mais atenção
que as diferenças entre grupos suscitam muitas
— Dado sido dispendido para explicar
s semelhanças, um grande esforço tem
que a mento dos homens € das mulheres algu
mas vezes
porque é que o comporta ns e
pessoas chegam a comportar-se como home
difere. CO mo é que as ade,
mulheres? Como é que
ser homem ou mulher se liga a traços de personalid
não verbais, capa cida des
agressão, conformidade
, comportamentos
certo número de teorias que
cias profissionais? Há um
cognitivas, pre ferên
iantes. Examinaremos seis
entam respon der a essas questões desaf
ndizagem social, teoria
hordagens: teorias biológicas, teorias da apre
a do papel
É ynitivo-desenvolvimentista, teoria do esquema de género, teori
teorias não são mutuamente
social e teoria da auto-apresentação. Estas
lexo tópico do género.
wclus

ivas. Cada uma ilumina um pouco O comp

1. Teorias biológicas
inatas entre homens
teorias biológicas defendem que existem diferenças
biologia, defende
mulheres. Edward O. Wilson (1978), paí da moderna socio
da história evolutiva
ue é porque as mulheres foram responsáveis ao longo
ças que evoluíram
qnossa espécie por dar à luz, amamentar € cuidar das crian
is por caçar
fa serem mais afectuosas, e porque os homens eram responsáve
capacidade
tar que evoluíram para serem mais agressivos e terem melhor
sexos têm
pé jo-visual. Para além disso, Wilson sugere que ambos os
tir que
fratégias reprodutoras diferentes. Se as mulheres devem garan
vivam, OS
ativamente poucos dos óvulos entre os que produzem sobre
um
mens, produzindo milhões de espermatozóides, podem ser pais de
ero indefinido de filhos. Em consequência disto, as mulheres evoluiram
à serem mais recatadas e desejando relações estáveis, ao passo que 0s
ns evoluiram para serem sexualmente mais agressivos € promíscuos.

a
vez a melhor evidência das diferenças de sexo com origens biológicas
venha da agressão (Maccoby e Jacklin, 1980). A evidência de causas
| Ógicas das diferenças de género noutros comportamentos sociais, para
pen da agressão, tais como comportamentos não verbais, comportamento
ie ajuda e influenciabilidade, são muito mais fracas. Como já se observou,
iSsas diferenças são muitas vezes determinadas por factores situacionais, O
JUS Sugere mais determinantes sociais que biológicos.

| Plicação sociobiológica não deixou de suscitar controvérsia € foi criticada


à Ser politicamente reaccionária (Caporael e Brewer, 1995). Foi avançado
à sociobiologia foi usada historicamente como explicação € justificação
m enças e práticas sociais que tornam mais difícil para os homens e para
mulheres abandonarem os seus papéis de género tradicionais. '

93
iu
nt
5.2. Teorias da aprendizagem social ndo activamente implicadas na aquísiç
sição do pap
iSiçã É
papel de género. Es ta
impli
Ê a
rte da ideia de que a identificação sexual e o comportamento
Se as teorias biológicas sublinham diferenças E
.
inatas entre mulheres e homens, g xE apropriado só podem ocorrer quando a criança dir ia
ci
as teorias da aprendizagem social sublinha : :
Os pais, o sistema socia eo
m diferenças aprendidas.
Walter Edio cr ico de desenvolvimento cognitivo.
Mischel (1970) defendeu que as diferenç nitivo da criança estão na base da socialização do papel de género.
as no comportamento dos homens cog
e das mulheres podem ser explicadas pelo condicio aco :
namento clássico, pelo E ropôs que o acto de autocategorização de género ( «Sou rapaz»
condicionamento operante e pela modelagem. Por exemplo, o cond no
iciona ERP ariga») leva a criança a desenvolver comportamentos mascu in
mento clássico pode ajudar a explicar porque é que um rótulo como
«maricas» E B E E modo estereotipado. Segundo Kohlberg sa teoria cognitiva
adquire um valor diferente para os dois sexos
. Em geral a palavra «maricas»
ridiculariza o rapaz e por isso torna-se um rótulo muito desagrad E E sequência: “Sou rapaz, por isso quer
ável. O á oportunidade de fazer coisas de rapaz... o é fazer coisas de CALA
o ea ido » no
condicionamento operante também pode levara diferenças
de género. Ocorre E E aprendizagem social defende uma sequência dife
quando os comportamentos dos rapazes e das raparigas rente: des
são recompensados. impensas, sou recompensado por fazer coisas de ni
e punidos sistematicamente de modos diferentes is Ep E a
. Por exemplo, a Mariana paz» (Kohlberg, 1966, p. 89). Este autor E
pode ser alvo de sorrisos e de elogios quando brinca o dias
com bonecas, e o António impensas que fazem o rapaz masculino, mas é a identi
pode receber desaprovação quando executa exac rh a Pp
tamente o mesmo homem que faz as actividades masculinas recompensado
comportamento. Enfim, as crianças pode ras.
m adquirir comportamentos:
apropriados com o seu género através da
aprendizagem por observação. As
crianças aprendem muitas vezes os comp be
ortamentos «masculinos» e:
«femininos» sem serem directamente E.
recompensados ou punidos, mas.
simplesmente observando os seus amigos, * Teoria do esquema de género
pais e familiares e os retratos de
várias personagens nos meios de comunica
ção social. Esses modelos são!
particularmente influentes quando têm uma
relação educativa com as crianças Soria do esquema de género amplia a análise cognitiva de Kohlberg aos
e têm controlo social sobre elas (Bandura e
Huston, 1961). tos e incorpora também aspectos da teoria da aprendizagem En
Éjema de género
stativas refere-se à organização que as pessoas têm de aa é
Segundo a perspectiva da aprendizagem social, nas a propósito do seu papel de género. Segundo Bem (
sociedades em que as. a
expectativas do papel de género estão clara
mente definidas, como, por | das que internalizaram os papéis de género tradicionais têm EE a
exemplo, na Arábia Saudita, há uma grande consistência
no modo como r nte um esquema de género mais forte do que aquelas que têm pó Re
cada sexo modela o comportamento apropriado
. Por conseguinte, os papéis . s menos tradicionais. Pode ser mostrado que as pessoas com papéis de
de género tradicionais são mais susceptíveis
de passarem de uma geração à ero+ tradicionais processavam a informação mais rapidamente.
outra em virtude de modelagem consistente
e do reforço do comportamento
apropriado. Nas sociedades em que as expectativas ”uema de género é utilizado como um padrão e a auto-estima é afectada
do papel de género estão
em mutação e não estão tão claramente defin ) modo como uma pessoa se compara com o padrão. SAlgças avaliam
idas, como acontece em Portugal,
a criança terá muitas vezes modelos contr r ormação acerca delas próprias pelo seu esquema de género. Quando as
aditórios para imitar. Em.
consequência da diversidade de papel de género, acterísticas de uma criança correspondem ao esquema, a sua auto-estima
o próprio papel de género |
da criança terá mais probabilidade de se De, Se não há correspondência baixa.
distinguir que em culturas E
tradicionais.
uito embora haja um grande debate sobre a medida e as consequências is
iquemas de género (Payne, Connor, e Colleti, 1987), a maior parte os
Pestigadores aceitam o princípio geral de que os esquemas de género das
$ss0as podem influenciar os seus comportamentos relacionados som o
5.3. Teoria cognitivo-desenvolvimentista
Énero e os processos de pensamento. Entre as três teorias não biológicas
Essentadas até aqui, a vantagem da teoria do esquema de género sobre a
A teoria cognitivo-desenvolvimentista, ao invés da | ri da aprendizagem social e do desenvovimento cognitivo é a combinação
teoria da aprendizagem
social que coloca a criança num papel passi e faz dos melhores aspectos das duas numa explicação do desenvolvimento
vo, encara as crianças como

94
95
do papel de género. Em consonância com a teoria da aprend
defende que o esquema de género é um fenómeno aprendido. À
izagem Social diferenças de gé nero no comportamento não verbal? Segundo a teoria do
medida que É mulheres estão mais atentas às pistas não verbais das outras
as crianças crescem, aprendem as significações culturais pel social, As mais vezes respostas 5 ocialmente «calorosas», tais como
de se ser homem
ou mulher. Para além disso, a teoria do esquema de género — eg ausa da sua posição de subordinação na sociedade, em
também sugere a
teoria do desenvolvimento cognitivo ao enfatizar como é que e or a homens. O facto das mulheres recorrerem, mais
os processo;
de pensamento da criança encorajam o desenvolvimento do papel a o Ras não verbal constitui uma tentativa para
de género,
DO a msitor os sentimentos das pessoas, para aumentar O conforto
À oa a explicação está de acordo com investigação que mostra
k mer que seja o género, as pessoas que têm papéis ai id
5.5. Teoria do papel social der são mais sensíveis aos sentimentos dos seus superiores que O
nodgrass, 1992).
Na maior parte das culturas homens e mulheres ocupam
papéis bastante ma
diferentes (Barry, Child e Bacon, 1957). Os homens são mais E além de explicar diferenças de género no comportamento
responsáveis. E na
por caçar, pescar e lutar e, nas actuais sociedades industrializad iência de Eagly e Steffen (1986) mostrou o poder que no
as, pelo ais para modelar representações estereotipadas deitiercê e tener
ordenado que advém do trabalho, se bem que este aspecto tenha
mudado. te trabalho, os participantes liam uma breve descrição e uma Br
drasticamente nas últimas décadas. As mulheres são mais respon
sáveis pelas a aos
práticas educativas das crianças e pelas tarefas domésticas. Esta f mulo (homem ou mulher) que era ou doméstica, trabalhadora
divisão do leitura es
trabalho com base no sexo que ocorre em quase todas cial fora de casa, ou empregada a tempo completo. Após a
as sociedades, leva
descrição, as pessoas participantes em todas as condições Ea a
necessariamente a diferenças de género no comportamento
e a percepções
estereotipadas diferentes para as mulheres e para os homens (Eagly, soa-alvo num certo número de traços instrumentais (por exemp E
Tendo como guia os seus papéis sociais no competitivo mundo
1987). linante, independente) e de traços expressivos (por exemplo, amável,
do trabalho, q ensivo). Como mostra o quadro 7.6, ambas as pessoas-alvo do sexo
os homens mostram comportamentos competitivos e agressivos
o que levaa, ulino e feminino eram julgadas segundo os estereótipos de género
que as pessoas percepcionem os homens como sendo mais compet
itivos e. indo não era fomecida informação sobre o trabalho: as mulheres eram
assertivos. Tendo como guia os seus papéis sociais para educar as criança
s é liadas como sendo mais expressivas, e os homens como sendo mais
tomar conta do lar, as mulheres mostram comportamentos mais
e as pessoas por sua vez percepcionam-nas como sendo mais afectuo
afectuosos, mentais.Ao invés, quando as pessoas participantes recebiam informação
Eagly afirma, no entanto, que estas diferenças comportamentais
sas. fe O trabalho eram mais susceptíveis de avaliar homens e mulheres pelos
função de papéis que de género.
são mais papéis sociais e não pelos estereótipos de género. Por outras palavras,
ns e mulheres com trabalho doméstico eram percepcionados como
Esta teoria, se bem que não se focalize nas diferenças inatas entre mulhere do mais expressivos que instrumentais, ao passo que as pessoas
s
e homens, não rejeita que tais diferenças possam existir A teoria de Eagly regadas a tempo inteiro eram percepcionadas como sendo mais
enfatiza o poder dos contextos sociais na orientação dos comportamentos | entais que expressivas. Para Eagly e Steffen estes resultados sugerem
sociais e da percepção. Assim, contextos que tornam os papéis de E Os estereótipos de género estão baseados em observações de papéis
género.
particularmente salientes e que atribuem estatuto diferente aos homens blissionais das pessoas e não tanto em diferenças inatas entre homens €
e às:
mulheres deveriam criar acentuadas diferenças no comportamento das. ilheres (ver Quadro 7.6).
7

mulheres e dos homens. Já contextos que não tornem os papéis


de género) Iso a teoria do papel social esteja coirecta, os estereótipos de género
salientes e que atribuem estatuto igual às mulheres e aos homens deveriam
levar a mostrar comportamentos semelhantes. Neriam enfraquecer quando as mulheres prossigam profissões his
idicionais e os homens se tornem mais implicados nos cuidados dos filhos
Na actualidade, mulheres e homens comportam-se de modo
diferente por
causa dos seus diferentes papéis sociais? Muitas diferenças de
género, como”
no comportamento não verbal, agressão, comportamento de
ajuda, €
conformidade, podem ser interpretadas tendo em conta os papéis de homens
e de mulheres. Por exemplo, como é que a teoria do papel social pode explicar |

96 97
Quadro 7.6 — Papéis sociais e estereotipia de género pelo
comportamentos de género são muitas vezes determinados Amri
que OS
ontexl o situacional, o comportamento dos outros, e as nossas proprias
Avaliações médias de atributos estereotipados de mulheres de de homens colhas.
esentação explorou como é
-Fi estudo que apoia esta abordagem da auto-apr
para se conformar com
Profissão da pessoa estímulo E algumas mulheres modificam as suas vozes
t h reótipos tradici ionais de género.
ar Montepare e Vega
A AFA(1988
) gravaram
Sexo da Descrição Emprego a Emprego a Trabalho versas ao telefone de universitárias quer com amigos íntimos quer com
pessoa Dimensão não tempo tempo de ionais. Quando as mulheres falavam com os seus namorados, O seu
as
profissional
Curso apresentava características significativamente mais «femininas»:
estímulo inteiro parcial casa
Feminino Expressiva 3,82 3,23 3,66 420 ) e vozes eram mais altas em intensidade, mais semelhantes às dos bebés,

Instrumental 3,06 3,60 2,96 2.88


|is agradáveis,
Eai is
e mais variáveis no
variáveis no tom.
Para além disso, os ]juízes avaliaram
ivamente mais « submisso»
curso destas mulheres como sendo significat
Masculino Expressiva 2.99 3,28 ados. Muitas
esconcentrado» quando conversavam com os seus namor
3,28 4,11
res mostram
A mulheres estavam conscientes desta mudança. As mulhe
Instrumental 341 3,40 2,58 2,88
Quando era fornecida informação profissional, elementos de ambos os sexos tendiam a ser percepcionados mais em tes características vocais dependendo do contexto social e da imagem
Es . . ã sugere
termos de papéis profissionais que em termos de género. | queriam projectar. Por consequência, a teoria da auto-apresentação
públicos.
s exibições do género são muito variáveis segundo contextos e
Fonte: Adaptado de Eagly e Steffen (1986). -
ivestigação que também mostra que os homens mudam os seus compot
êntos relacionados com o género consoante a situação e quem está
nte. Por exemplo, estudantes universitários heterossexuais mostram um
portamento significativamente mais masculino quando falam com um
em descrito como homossexual que quando interagem com um homem
5.6. Teoria da auto-apresentação D como heterossexual (Kite e Deaux, 1986).

Todas as teorias que examinámos anteriormente tentam explicar como é que!


concluímos que características conhecidas constituem o género: o género é
determinado pela biologia, pelas primeiras relações com os pais, pel Qual é a teoria correcta?
condicionamento e pela modelagem, pela rotulagem cognitiva, pelos
esquemas e pelos papéis sociais. Seja qual for a abordagem que considere adro 7.7 mostra as abordagens teóricas examinadas e os seus aspectos
pertinente, o género nestas teorias é uma «coisa» real que as pessoas concluem pais. As teorias biológicas enfatizam a evolução e a fisiologia das pessoas
possuir de uma forma fixa. xplicações para as diferenças de género. As teorias da aprendizagem
Il acentuam o condicionamento e a modelagam enquanto processos
Em contraste com essas teorias, uma perspectiva mais radical afirma que 04
K Sáveis pelos comportamentos relacionados com o género. As teorias
comportamento relacionado com o género é flexível e mutante, e não
tivas focalizam-se no modo como nos rotulamos a nós próprios,
representa nada de «real» dentro das pessoas (Bohan, 1993). Em vez do]
ânto homens ou mulheres, é nos esquemas que temos acerca do género.
género ser uma qualidade pessoal, esta abordagem do construtivismo sociall
Fa do papel social descreve diferentes estatutos e tarefas atribuídas às
considera que as pessoas «constroem» género quando interagem com uma! Se aos homens na maior parte das sociedades e as suas consequências
outra pessoa. Deaux e Major (1990) afirmam que a investigação da autos
Ógicas. E, enfim, a teoria da auto-apresentação defende que mostramos
-apresentação pode levar a uma melhor compreensão dos papéis de género amentos relacionados com o género como uma espécie de gestão da
dos comportamentos relacionados com o género. Muito embora não negando teóricas, pode estar a
ão. Perante esta diversidade de abordagens
que possa haver algumas regularidades no comportamento masculino & Se: mas afinal qual é a teoria correcta?
feminino devido à biologiae à socialização do género, Deaux e Major afirmar

98
99
Quadro 7.7 - Abordagens teóricas sobr sã de ocodo
ão são
óri as examinadas não
e diferenças IC ar qu árias abordagens teóric
sexuais e de género
am
jo mutua E nte exclusivas. Por exemplo, os rapazes podem se rm
parte por causa de factores
mente que as raparigas em
as fisicaE
Teoria
is diferenças
1 podem por vezes coser
. amplificadas o
Focalização principal E Ea e por auto-rotulagem. A agressividade
ão: masculina po os
Teorias biológicas s uma estratégia de auto-apr
er por veze o idadesen
tes podem mostrar agressiv tação:
e para por exemplo,
tentar impress ionar
Teorias evolutivas Pressões olescen
evolutivas sobre mulheres e homens
históricos nigos «machistas».
Factores fisiológicos
seguin
Teorias da aprendizagem social
o género está ligado à auto-estima e à personalidade.
Condicionamento clássico Rótulos como «maricas» adquirem fortes conotaçõe
emocionais
Condicionamento operante Diferentes comportamentos Fecompensados e punido
para Os rapazes e para as raparigas
Aprendizagem por observação Crianças imitam pais, colegas e modelos
mediáticos
Teoria cognitivo-desenvolvimentista
A auto-rotulagem como homem ou
mulher leva;
comportamentos relacionados com o géner
o
Teoria do esquema de género Os esquemas de género incluem crenç
as culturais ace :
do género; as pessoas esquemátic
as de género guiam
seu próprio comportamento e o dos outros
em relação
masculinidade e à feminilidade

Teoria do papel social


Diferentes papéis sociais ocupados pelos
homens e pela
mulheres levam a estereótipos de géner
o é a compo
tamentos diferentes nos homens é nas mulhe
res |
Teoria da auto-apresentação
O género é uma realização social que varia
consoante 08
esquemas de género, o contexto e à
audiência

Muito embora haja uma diversidade de opiniões


sobre qual destas teoria
representa melhor o estado actual do conhecimento
, o facto é que exi
evidência em favor das seis teorias examinadas.
Pelo menos,
agora por
nenhuma teoria apresenta uma clara vantagem
dentro da psicologia social

100
LO i
IPS ? 0RU9L) “9
“énero € auto-estima

anância com o sen


so comum seria de esperar que as pessoas alvo de
ima mais baixa. Todavia, como vimos no
Mitos tivessem uma aut o-est
isso. Como se viu, as
a investigação nem sempre tem confirmado
os homens, e as
“têm muitas vezes um estatuto mais baixo que
relação aos homens.
s SãO pOr VEZES alvo de estereótipos negativos em
mais baixa que os
rá a que as mulheres tenham uma auto-estima

diferenças
parte das revisões da literatura não encontraram
(Maccoby e
s na auto-estima global de homens € de mulheres
e algumas
974: Wylie, 1979). Em estudos mais recentes encontra-s
a diferença à favor do sexo masculino, em particular durante a
a adolescência (Richards, Gitelson, Petersen, € Hurtig, 1991).

lo-estima global de pessoas adultas dos dois géneros muito


es
mente não é muito diferente, a natureza da auto-estima de mulher
Por
mens e os comportamentos em que se baseiam podem variar.
uma auto-
3 encontrou-se que as mulheres de todas as idades têm
mais baixa que os homens acerca da sua aparência física e do seu
iner, Chaiken, e Flett, 1990).
3

todavia, que a conclusão de que a auto-estima, global das mulheres


mens não difere, se baseou em grande parte em estudos efectuados
lados Unidos. Poder-se-á generalizar esse resultado para outros países?
posta a esta questão, John Williams e Deborah Best (1990b)
ai a estudantes universitários dos dois sexos em 14 países para
quais entre 300 adjectivos os descreviam. Cada adjectivo tinha sido
mente avaliado até que ponto era positivo ou negativo, € podia-se deste
T até que ponto a auto-representação de cada sujeito era positiva.

is países (por exemplo, Finlândia e Venezuela) as mulheres tendiam a


ler-se mais positivamente que os homens, ao passo que noutros países
ísia e Índia) os homens descreviam-se de modo mais positivo que as
bres (quadro 7.8). Os dados para os Estados Unidos replicam estudos
ne,

dores, isto é, mulheres e homens não diferem muito na sua auto-estima

105
enças de género existirem
Quadro 7.8 — Diferenças na auto-estima de homens = a atenção para o facto das difer
e de mulheres em catorze países. variarem de sociedade para sociedade.
E
contexto social, e de, po r vezes,

19, 6
Malásia

e
Índia
1 2, 6 Género e personalidad
de papéis
Kália 7,7 ológicos, de aprendizagem, cognitivos, ou
devido a factores bi onalidade
traços de pers
Japão 73 ie O certo é que muitas pessoas possuem nal, àsas
icionat.
cion É ro. Segu
Mados com o géne Seg ndo a perspectiva traddicio
mc
ser separadas.
Singapura 34
à rístiças masculinas € femininas deveriam
oginia encoraja as pessoas à
. sta abordagem, O conceito de andr
3.1
masculinas. Contudo a
ambas as características, femininas €
Alemanha
E
Nigéria 04 Roinia não é a alternativaperfeita. Em vez dela, a resposta parece estar

0,6
anscendência dos papéis de género.
Holanda

Paquistão 27

Estados Unidos -3,2


lidade
DAs primeiras escalas de masculinidade-femini
Canadá Sá
traço de personalidade
Inglaterra 12,2 k ida da masculinidade e da feminilidade como
ão psicológica. oo
fia longa e algo controversa história na investigaç
166 rine Cox Miles (19 )
Finlândia n, um pioneiro em testes de inteligência, e Cathe
minilidade,
-29,4
volveram uma das primeiras medidas de masculinidade-fe
Venezuela se as pontuações
éscala com 910 itens, e efectuaram investigação para ver
s traços
sculinidade-feminilidade dos sujeitos se relacionavam com outro
ossex ual e
Fonte: Williams e Best (1990b). sa nalidade, de inteligência, e com o comportamento heter
s
Nota: Números positivos significam que os
ss kual. Após o trabalho de Terman e de Miles, muitos outros inventário
homens têm uma maior auto-estima; números ulinidade-
feresses e de personalidade incluíram escalas de masc
negativos significam que as mulheres têm uma
maior auto-estima. hilidade (e.g, Campbell, 1966; Strong, 1943).
Fimeiras escalas de masculinidade-feminilidade assentavam em dois
ada s fundamentais: os comportamentos, atitudes e interesses masculinos
tininos são bastante consistentes e coesivos no seio das pessoas, e
Encontram-se diferenças nas sociedades em que as mulheres ou os homens Ulinidade e feminilidade são pólos opostos de uma só dimensão bipolar,
têm maior auto-estima. Em geral, as mulheres tendem a ter elevada auto se mostra na figura 7.3. Por outras palavras, qualidades masculinas e
estima relativamente aos homens em sociedades em que havia maio inas eram assumidas serem mutuamente exclusivas e não podiam
desenvolvimento económico e social, com uma maior percentagem de É Simultanemente na mesma pessoa. Para além disso, estas primeiras
protestantes (em comparação com católicos e muçulmanos), com maio tendiam a promover a ideia de que é bom para as pessoas ter
percentagem de mulheres frequentando as universidades e a trabalhar fora ções de masculinidade-feminilidade apropriados ao seu sexo, sendo
de casa, e menos autoritárias e mais liberais nas suas ideologias do papel d e
Fel para as mulheres serem «femininas» e para os homens serem
género. Para além de serem intrinsecamente interessantes estes resultados HINOS».

107
106
BSRI
nento ento 7.4*.+—— Itens semelhantes aos do
semelhantes aos 60 i
itens do «Beme
Feminilidade alta nos seg u intes itens que são
Masculinidade alta = c a ou q quase
(masculinidade baixa)
| Inven E ry«:
E to (BSRI). Utilize uma escala em gue. L=nun
(feminilidade baixa)
erdadeir:
e 7= = sempre ou quase sempre
V O.
erdad eiro
erdade l

7. Gosta de comer
sradável
Figura 7.3 - À perspectiva bipolar
da masculinidade e da feminilidade 8. Afectuoso
pnesto
É
9 a Autoconf tante sn
u ne ndente

10. Gosta de actividades femininas


E' NC ioso

tivo 11. Tradicional


Todavia,Í apósÓs meiomei século de Investig
i i ação, muitos
j aspectos desta concep 12. Gosta de actividades masculinas
foram questionados (Reinisch, ente convencido pelos
Rosenblum, e Sanders, 1987):
interess
es e traços masculinos e femininos atitude ha

nem sempre são coesivos (Spene ros


e Sawin, 1985); o conteúdo dos
testes de masculinidade-feminilida
como o conteúdo dos estereótipos, mos de, ; à leitura do capítulo para as instr
j õ em como ob ter O seu score.
uções
trou ser multidimensional (Lunnebor
1972): e, enfim, a «masculinidade»não é necessari
amente sem
pre boa par
os homens, nem a «feminilidad
e» sempre boa para as mulher
Humphreys, 1990). es (Lubinski dk

e as avaliações para os itens femininos (1, 6, 8, 10) prque er m


à Escala de Feminilidade. Adicione as avaliações = nie
hos (3, 5, 9, 12) para obter um score na Escala nei Ren, de
6.2.2. Masculinidade e feminilidade cons
ideradas dimensões separada
gitens são de despistamento não sendo considerados p
Nos anos 70, vários métodos novo
s para avaliar os papéis de géneri
apreenderam a atenção dos psicólogos.
Estes métodos Tejeitam a noção de fornece pois scores numa Escala de Da ia nico Rescala
que masculinidade e feminilidade hilidade para cada pessoa que se avalia pelo teste. vs De Mia
constituem pólos opostos de uma sé
dimensão e pro puseram que masculinidade e fem então comparado com um grupo para cada uma das Doi dr quatro
inilidade deveria N
ser medidas com escalas separada tra como os scores de cada uma das escalas podem Jev
s, independentes (Bem, 1974; Heilbmu
1976; Spence Helmreich e Stapp, 1974). fias de pessoas:
Por exemplo, Sandra Bem (1974,
desenvolveu o «Bem Sex-Role Inventory»
(BSRD. Antes de continuar a ler) | A um score baixo
i em mas culinidade e
tente preencher o documento 7.4 "Pessoas indiferenciadas que têm
que contém itens semelhantes aos “em feminilidade;
BSRI. do

| Pessoas femininas que têm um score alto na escala de femi inilidade e


“baixo na escala de masculinidade;

Pessoas masculinas que têm um score alto na escala de mas culinidade


É baixo na escala de feminilidade;
q

Pessoas andróginas que têm scores altos em ambas as esc alas.

108
109 |
Es.
diu-se
Ju-:
a estudantes para
.
pipe” lizar. Os homens masculinos e as mulheres femininas
cual

à preferiam realizar. e tereotipada


Alta masculinidade “era m susceptíveis de escolher uma actividade que era estereotip
/ a Esp óprio género, mesmo quando eram pagos menos por essa
. do ç o : RA
| actividade que pela actividade não estereotipada. Ao invés, ae pessoas
E dróginas eram mais flexíveis e susceptíveis de realizar actividades
an
).
Masculino Andrógino | não estereotipadas (Bem e Lenney, 1976
ma» que estava a
As pessoas andróginas ajudavam mais uma «víti
e as mulheres
Baixa
Alta à sufocar com comida que os homens masculinos
feminidade
feminidade | femininas (Senneker e Hendrick, 1983).
:
ionais
Indiferenciado As pessoas andróginas aceitavam mais trabalhos não tradic
Feminino são mais
(Motowidlo, 1982). Para além disso, os homens andróginos
que as
susceptíveis que outros grupos de homens de acreditar
mulheres americanas eram razoavelmente andróginas, mais que
Baixa masculinidade à simplesmente femininas (Hudak, 1993).
se

PAs pessoas altas em masculinidade têm uma tar auto-estima,


auto-representações mais positivas € melhor adaptação que as outras
pessoas (e. g., Lee e Scheurer, 1983; Whitley, 1988). Se bem que
Figura 7.4 — Um modelo bidimensional da masculinidade e da feminilidade. Uma pessoa | haja estudos episódicos que mostram que à feminilidade propícia
com muitos traços de personalidade masculinos é pouco femininos ser vantagens (Steenbarger e Greeenberg, 1990), os scores de femini-
classificada como tendo um papel de género masculino. Uma pessoa com lidade não se relacionam em geral com as opiniões que as pessoas
muitos traços de personalidade femininos e pouco masculinos seriá “têm do seu próprio valor. Por isso as pessoas andróginas (que são
classificada como tendo um papel de género feminino. Como classificaria
"altamente femininas e masculinas) não se consideram geralmente
uma pessoa com muitos traços de personalidade masculinos e femininos? E
“mais positivas que pessoas que são altamente masculinas mas nada
se tivesse poucos traços masculinos e femininos? 2x

à femininas.

E quadro é suficiente para delinear a complexidade da questão. Em


S casos as pessoas andróginas realizam melhor que outras pessoas.
Bem e outros investigadores defenderam que as pessoas não deveriam ser
DS casos a masculinidade e não tanto a androginia parece ser mais
encorajadas a conformar-se com padrões antiquados em que os homens
tante. E ainda noutros casos a androginia não está de modo consistente
tinham de ser tradicionalmente masculinos e as mulheres tinham de se
Bionada com o comportamento.
tradicionalmente femininas. Em vez disso, homens e mulheres deveriam
: os nos seus papéis b,
encorajar-se para serem flexíveis E de género, ou andróginos
Ea . anoso 90 os psicólogos
ind A cada vez maisis evi
têm i o as falhas do
evidenciad
eito de androginia. A androginia não é a combinação ideal que parecia
Em breve a androginia foi difundida e não ficou confinada nas revistas dê
jcomeço da investigação. Refiramos alguns dos problemas relacionados
psicologia. Escolas, empresas e terapeutas começaram a defender o conceito
ÀS resultados empíricos e com a teoria.
de androginia.

O BSRI e outros métodos de medida da androginia foram utilizados em


“Beralmente fraca. Para além disso, uma pessoa que é andrógina numa
centenas de estudos sobre os papéis de género. Refiramos tão somente alguns
desses estudos para se ver como a androginia está ou não relacionada com O Blluação pode não o ser noutra situação.
comportamento. Ru

Ho mt
2. Muitos testes dos papéis de género reivindicam ter escalas para avaliar -
tivo e agressivo. Ou por outras palavras, se a uma pessoa que
a masculinidade e a feminilidade. No entanto os itens masculinos e. os papéis de género se lhe for posta a questão: «E masculina ou
focalizam-se nas realizações e os femininos na expressão de

er na?»
nina 2, ela responderá que não é nenhuma delas (Sedney, 1989).
sentimentos (Deaux, 1984). Por conseguência, em geral
estes testes da androginia (Heilbrun
só medem uma parte limitada do comportamento relacionado como | bém têm s ido sugeridas concepções alternativas
género (Blanchard-Fields et al., 1994). Não será por consequência ulqueen, 198 7. O que é certo é que se as
pessoas devem andas, as
surpreendente que estas difinições limitadas dos scores dos testes ituições também o devem. Actualmente instituições, tais como socos.
o desafio me e cone
não se relacionem com diferentes comportamentos masculinos e presas e igrejas incentivam estereótipos de género.
lnoentiar p
femininos. 4 o de modificar as instituições para que elas possam
da igualdade.
» auto-realização em todas as pessoas em busca
3. O conceito de androginia sugere que todas as pessoas adultas devem
ter dois padrões: devem ser simultaneamente masculinas é feminina
Trata-se provavelmente de padrões irrealistas para a maior parte das
pessoas.

4. A androginia tenta fazer crer que a solução para os viés quanto ag


género está na mudança individual. Contudo, a androginia não resolve
os problemas actuais de discriminação contra as mulheres nem q
sexismo institucional. É necessário melhorar a situação e não
simplesmente os indivíduos (Gilbert, 1981).

6.2.3. Para além da androginia

Os psicólogos estão hoje em dia de acordo em que a androginia suscita


problemas. Todavia não têm sido sugeridos muitos modelos alternativos;
Muitas das pessoas que criticam a androginia voltam-se para o artigo de
Rebecca et al. (1976) que defende a transcendência do papel de género, O
que significa que as pessoas não combinam simplesmente papéis de género,
como é recomendado pela androginia, mas em vez disso vão para além destes,
papéis de género, por eles já não serem por mais tempo relevantes.
As pessoas
que transcenderam os papéis de género são livres de exprimir as suas]
qualidades humanas, sem se preocuparem com a violação de estereótipos:
Escolhem estratégias com sentido para elas, em vez de se forçarem a
seguir)
comportamentos apropriados quanto ao género.

A androginia enfatizava que as pessoas podiam ser flexíveis, ou masculinas!


ou femininas consoante era pedido pela situação. O conceito de trancendência!
vai para além disso. Por exemplo, muitas profissões hoje em dia parecem
exigir um estilo competitivo e agresssivo para se vencer. Uma pessoa
andrógina comportar-se-ia de modo «masculino», tornando-se competitiva
e agressiva. Todavia uma pessoa que transcenda os papéis de género pode
escolher mudar a sua interpretação dessa profissão, já não actuando de modo!

112 113
E ICAÇÕES: EM BUSCA DA IGUALDADE ENTRE OS GÉNEROS

zada a igualdade entre os géneros?


me se pode fazer para que seja concreti sociais é O
importante nas relações
a muitos cientistas sociais o mais é
igualdade completa entre homens
nómico. Para eles só haverá uma
nómica. Segundo esses cientistas
neres quando se realize a igualdade eco ais
mediante reformas legais e soci
ais à iguald ade só será concretizada ização do
tenham impacte no mer cado de trabalho e mediante à social
| de género.
igualdade entre os sexos tem
= cientistas sociais defendem que a des
nte a família patriarcal ou ambos os factores, o patriarcado € a
er mudanças na família e no
omia. Na opinião destes autores terá de hav
entre Os Sexos.
na económico para que se concretize a igualdade
é que muitas das pessoas
à quais forem as últimas soluções, o que é certo
suas vidas de modelar o
em este texto terão oportunidade durante as
podem advir das ciências
mento da geração seguinte. Que conselhos
não se conformarem
sobre o modo de como encorajar as crianças a
ulino ou feminino?
à limitadas definições sociais do que é ser masc
ças mais com base
professores necessitam de aprender a tratar as crian
diferenças quanto ao
as diferenças individuais do que nas presumidas
ro da criança pode
. Neste capítulo foi evidenciado que o géne
respeito, € isso
lar as expectativas dos pais e dos professores a seu
no seu género.
" a! a um tratamento diferenciado da criança com base
s quanto ao
: S crianças podem desenvolver habilidades diferenciada
m as suas
Fe quanto às auto-representações susceptíveis de limitare
potencialidades.
de
am-se de seguida cinco técnicas para contrabalançar Os efeitos
if numa cultura estereotipada quanto ao género.
A

Criar meios neutros quanto ao género para as crianças. Pais e


ao género na
Pprofessores encorajam muitas vezes segregação quanto
escola e em casa e isso suscita mais categorização segundo o género.
e pais criem
A accoby e Jaklin (1987) recomendaram que professores
as crianças,
Ee modo deliberado meios neutros quanto ao género para
e modo a encorajá-las a participar em jogos mistos (e.8., raparigas
interacções
Jogar futebol e rapazes a aprender a jogar à macaca),
om estatuto igual. Dado que as habilidades espaciais e matemáticas,
E (como a empatia são atributos cuja posse é desejável indepen-
interesses
temente do género, pais e professores deveriam suscitar
115
em todas as crianças para enveredarem por
jogos que levem “dispo íveis1 para venda e aluguer retratam os géneros de modo
desenvolvimento dessas qualidades. .
4 ; es
a estereotipado. j Para além disso, dado que esses filmes
Ensinar pelo exemplo. Como Já se notou um “são mui tas vezes vistos repetidamente, podem ser potentes agentes
dos modos em como:
spectivas.
crianças aprendem os papéis de género é atrav
és da observaçã de interiorização de tais per
Também se referiu que as categorizações cognitivas . + . 2 + P «

dos géneross
interiorizadas na infância, período durante o mrofessores podem ensinar às crianças que as crenças acerca do género
vu té 8
qual vemos homens
mulheres em diferentes papéis sociais e enco Ro
ntramos o género com ó de cultura para cultura, como também ao longo
sendo uma categoria social útil para orientar o nosso
comportament do tempo.
Tal deixa transparecer que a divisão igual do
trabalho nas noss
casas não atribuindo determinadas tarefas como
sendo apropriad E “va da igualdade, a sociedade nunca está estagnada. Qualquer
para os homens e para as mulheres reduziriam as
significações d; a sua posição s ba esta temática, o certo é que as normas dos
Dos
distinções de género para a criança. As crianças que
vêem o seu p ide género estão e m mudança na nossa sociedade. Cada vez Tais
e a sua mãe revezando-se a preparar as refeições,
a lavar a loiça, es e homens procuram a igualdade para toda a humanidade, e a posição

STA amo sendo adversários diferentes, a igualdade completa não pode ser
não é inevitável.À estereotipia ;
é natural tendo em conta à roliferaçã se
de pistas relacionadas com P o género na nossa cultur P
R á
a, as criançaS E
aprendem os estereótipos de género existentes r
na nossa cultura
Todavia a adopção de tais estereótipos não
são inevitáveis, muit
especialmente se as crianças são expostas a mode
los não estereo:
tipados.

Ensinar à criança a diferença entre sexo e género.


Como se viu neste
capítulo, sexo e género são muitas vezes consi
derados termo
equivalentes, pois para certas pessoas homem é
igual masculino &
mulher é igual a feminino. Pode-se ensinar às crianças
que apesar de
terem um pénis ou uma vagina, esta diferença bioló
gica só acarreta
restrições num leque assaz limitado de comportame
ntos, como seja
a reprodução. Tal não significa que não possam dar
curso a um amplo.
leque de actividades que determinadas pessoas cons
ideram
apropriadas a um sexo.

Vigiar o divertimento das crianças nos meios de comunica


ção social.
Muitos meios de divertimentos das crianças (cinemas,
jogos de vídeo,
livros, programas de televisão) dissiminam mensagens
mais ou menos
subtis que lhes ensinam como é que os rapazes
e as raparigas
enveredam por diferentes espécies de comportamento social.
Infelizmente retratos tradicionais de género predominar
ão enquanto
se continuem a vender esses produtos e haja espectadores ou
leitores.
Entretanto, as pessoas adultas deveriam avaliar criticamen
te esses
meios de comunicação que as crianças vêem para reduz
ir a exposição |
das crianças a modelos estereotipados quanto ao
género. Por exemplo,
Junn et al. (1994) encontraram que os filmes
para crianças Disney
116
117
À
: as míni mas nas capacidades verbais, quant
itativas €
am-se diferenç a maior parte dos homens e das mulheres
SUMÁRIO os ;
mas até nesses aspect
e diferenças.
mais semelhanças qu
SR
nas mulheres que nos homens pode
o idência da depressão ões mais exte E
Sexo refere-se ao estatuto biológico de se ser homem ou mulher; gér; te pelo fac to das
mulheres fazerem atribuiç
ade,
desânino pode ter um fundo de verd
refere-se às definições sociais de se ser homem ou mulher. A investiga; “mais o desâni mo. Este os
vezes menos controlo das suas vidas que
psico-social sobre sexo e género tem-se focalizado em dois tópicos princir ulheres têm mu itas
como é que as pessoas representam homens e mulheres, e à existência Relativamente à sat isfa
ção com a vida e à felicidade as diferenças
o.
quenas que as que se encontram na depressã
não de diferenças de género. » parecem ser mais pe
álises recentes indicam que homens € mulh eres em média mostram
Os estereótipos de género referem-se a sistemas de crenças a propósi é juda
to q
homens e das mulheres. Dados portugueses confirmam a perspectiva ge E no comportamento não verba
e l, agressão, comporta mento dE
m que em contexto
ncia de um notá s mostra
do estudo efectuado por Williams e Best (1990): a existê bilidade à influência social. Meta-análise
p
grau de generalidade internacional nas características psicológicas associar “as mulheres enveredam Ena isÉ
de género são activadk D e comporir com o
tamentlíde resi rume
os instde enos
pequntai edsão;
Os oshomnoens
s.i grup ã ide
às mulheres e aos homens. Quando os estereótipos s por
po
as pessoas tendem a fazer avaliações enviesadas das capacidades e da rea 4
zação dos outros, embora não em grau tão elevado como antes se pensay O eres
“mulh génerso umnãopouc
nçasramde estilo
feremost noança.
de lider
noso diferentes te do a
cons gan

a:
Família, escola e colegas são
o .
agentes importantes de socializaç 0 3
ão d

E: E E E
estereótipos de género. Os meios de comunicPSA ação social são
A
també +
resentadas seis teorias , .
para explicar o modo como se desen volvem
transmissores importantes das percepções de género. Influenciam as crenc SErg RiS
de género das pessoas quer reforçando noções tradicionais de género qu
AÀ degéner As teoria
o. ção,
evolu hereds itari edade tenta
biológicas e fisiol todas nçãa
ogia. carDe asfiese
m expli as difer enç

espalhando opções de comportamento. “documentadas no comportamento social, à evidência


mais o
à E Ss
Alguns dos estereótipos de género são verdadeiros, mas a maioria não o si to grau de causas biológicas é na diferença quanto
géne E
| aprendizagem social defendem que as diferenças de
s dos
As lutas pelos direitos das mulheres e da igualdade de sexos, teriam diminui mentos relacionados com o género são apreendidos atravé
nte e se
os estereótipos de género. Todavia os dados de que se dispõe não sã & de condicionamento clássico, do condicionamento opera
sta de
totalmente convergentes, pelo que não se pode concluir com segurança q agem por observação. A teoria cognitivo-desenvolvimenti
e
os estereótipos sexuais tenham diminuído nas duas últimas décadas. defende que após nos rotularmos de homens ou de mulheres,
o
procuram comportar-se de modo consistente com à rotulagem
A internalização dos estereótipos sexuais acarreta um certo número de efeito! o | Outra teoria cognitiva que combina aspectos importantes da teoria
Pode ter um impacto sobre aspectos das atribuições de sucesso e de fracasso lizagem social e da teoria cognitivo-desenvolvimentista, ea cora
da saúde, da profissão. ma de género. Segundo esta abordagem, os autoconceitos as
tornam-se assimilados num esquema de género que por sua vez é
Há variações interculturais importantes no modo como diferentes sociedades
> como um padrão para o seu próprio comportamento. A teoria do
defendem papéis tradicionais de género. Todavia, em geral, em todo o mundo Gial defende que os papéis diferentes atribuídos a mulheres e ahomens
as mulheres são mais igualitárias que os homens quando se tem em conta Ss as sociedades levam a percepções estereotipadas e a comportamentos
ideologia do papel de género. e nos homens e nas mulheres. Em coníraste, com algumas teorias
as
Apesar das crenças populares que as diferenças de género são grandes, há sideram o género como sendo uma «coisa» real que as pesso
ide uma forma fixa, a teoria da auto-apresentação sustenta que os
suficiente evidência actualmente para se concluir que homens e mulheré
mentos relacionados com o género são muitas vezes determinados
são muito mais semelhantes que diferentes. Não se têm encontrado diferençã
Xto situacional, pelo comportamento dos outros, € pelas nossas
profundas nas capacidades intelectuais do sexo feminino e masculino
pessoais.
19
118
rpg E

Se nos Estados Unidos a investigação tem mostrado que homens e mulhere:


não diferem na auto-estima global, no entanto, a relação entre género e ante RA IR MAIS LONGE
estima varia segundo as culturas. Países em que as mulheres têm auto-esti
alta relativamente aos homens tendem a ser mais industrializados, mai
protestantes, com mais mulheres a trabalhar e a frequentar a universidade K.
MORE, R. D., e DEL BOCA. F.
sistemas políticos menos autoritários, e-ideologias do papel de género meng e tions. New York: Academic
The social psychology offemale-mal rela
tradicionais. 1987
Press.
os peritos no domínio.
Nas primeiras escalas de personalidade masculinadade e feminilidade fora É apresentada uma série de artigos escrit por o
os sexuais, atitudes em relaçã
conceptualizadas como sendo uma só dimensão bipolar e pensava-se entã Os tópicos abordados são esterótip |
que as mulheres estavam mais bem adaptadas quando obtinham resultado za
aos papéisi sexuaisi e nature relaçõões sexo/masc ulino no trabalho
das
|
«femininos» nessas escalas e os homens quando obtinham resultado e na vida pessoal.
«masculinos».
rei ps
Concepções mais recentes defendem que masculinidade-feminilidade sã À. E. e STERNBERG, R. 1. (Eds.)
3. (Eds. À
duas dimensões independentes. Escalas de avaliação desenvolvidas nas dua )3 The psychology of gender. New York: Guilford Press.
O estudo dos
últimas décadas identificaram quatro papéis de género: masculino, feminint Todos os capítulos deste livro são relevantes para
e Markus
andrógino e indiferenciado. estereótipos de género; os capítulos de Geis e de Cross
cognição social a
fornecem sínteses claras sobre a abordagem da
nagndroaio ne cooriEaaaaa propósito dos estereótipos.
Segundo evesnas
flexibilidade s aobes andro
to
iigaescolhas giuiaas Rosso
de actividades, ajudam mais, manifestam um
atitude mais positiva em relação a empregos não tradicionais e pensam q
as mulheres são andróginas. j LAH.
on. |
7 Sex differences in social behavior: A social-role interpretati
Já noutra investigação, a androginia não aparece vantajosa em relação: I
Hillsdale, NJ: Erlbaum.
masculinidade; as pessoas masculinas têm resultados mais elevados que outr , |
Para além de uma revisão da investigação por meio da meta-análise |
na auto-estima. o género.
o livro apresenta uma perspectiva do papel social sobre
Os problemas com a androginia incluem: a androginia não está correlaciona d
com o comportamento; as escalas recobrem só uma parte limitada do géner 1P, S., e CONSTANZO, M. (Eds.) |
a androginia força as pessoas a defrontarem-se com padrões impossíveis;!
Gender issues in social psychology. Newbury Park, CA: Sage.
mudança das instituições é mais apropriada que a mudança das pessoas.
quem tenha defendido como alternativa à androginia a transcendência do A teoria e a investigação sobre questões de género são discutidas por
papéis de género. investigadores proeminentes no domínio.

Como se pode concretizar a igualdade entre os géneros? As opiniões variam Es)


Alguns psicólogos sociais pensam que a chave está na igualdade económica , RE. É BEST, D.L.
Outros pensam que o patriarcado, ou este conjuntamente com o sistem O Measuring sex stereotypes: A multination study. Newbury Park, CA:
económico são os responsáveis pelas desigualdades. Para encorajar as criançê R Sae.
a não se limitarem a um leque limitado de definições de género, as pessoa É apresentado um vasto projecto de investigação intercultural sobre
adultas podem utilizar várias técnicas, tais como criar meios neutros quê , Os estereótipos sexuais junto de crianças e de jovens em mais de 30
ao género para as crianças, ensinar pelo exemplo, vigiar o consumo que? RR nações.
crianças fazem de retratos estereotipados quanto ao género nos média.
'

121
120
VIDADES PROPOSTAS
oO

base na informação
(Como é que define os estereótipos de género? Com
o são representações
de que dispõe, pensa que os estereótipos de géner
resposta.
certas da realidade? 5 ustifique a
para se examinar como
Serão as profecias de auto-realização relevantes
mento? Identifique
que os estereótipos de género influenciam O comporta
o seja mais estereotipado
ma área em que o seu próprio comportament
que uma profecia de
quanto ao género do que deseja e assinale como é
quto-realização pode ser relevante.
caricatura) que
scolha uma imagem (fotografia, anúncio, ilustração,
s, das
xpresse algo que encontre que seja si gnificativo acerca dos homen
va à
aulheres ou de construtos de género discutidos neste capítulo. Escre
gua reflexão sobre essa imagem.
6 programas
enha uma folha de papel junto de si durante Os próximos
nos programas
E televisão que veja. Registe o número de pessoas que vê
de homens. Utilize
nos anúncios e contraste O número de mulheres e
ados a
údigos para registar o número de homens e de mulheres mostr
a efectu ar
abalhar fora de casa (T), a fazer o trabalho doméstico (D) e
mas actividades com/para outros membros da família (F). Para além
D, registe o número de vezes em que se recorre à vozes masculinas
| femininas em anúncios em que os seus corpos não aparecem. Pode
lidenciar alguns padrões nas representações de homens e de mulheres?

le um anúncio de televisão não sexista para um produto imaginário.

Sboce uma experimentação em que se observem diferenças de género.


for exemplo: diferenças de género no comportamento de fumar no bar,
ferenças de género nas saudações (quem toca quem e onde).
Descreva e compare duas teorias que tentam explicar as diferenças de
género.

pra maneira para investigar padrões duplos é dizer às pessoas que «o


Manuel é muito activo sexualmente e dormiu este ano com seis mulheres»
| «a Manuela é muito activa sexualmente e dormiu este ano com seis
“SA Peça a um certo número de pessoas para escreverem algumas
pas à descrever o que pensam do(a) Manuel(a). Há uma diferença nas
Crições do Manuel e da Manuela? Há alguma diferença se são os
mens ou as mulheres que fazem as descrições?

123
OVGNTOS 'X
LO€
ÁBUA DE MATÉRIAS

SOLIDÃO

Introdução

O que é a solidão?
Definir a solidão
Formas de solidão
O que se sente quando se está só

Abordagens teóricas da solidão


Abordagens teóricas
Síntese comparativa

Avaliação da solidão
Desenvolvimento da escala de solidão da UCLA
Adaptação portuguesa da escala de solidão da UCLA

Quem são as pessoas sós?


Idade
"Sexo
Estado civil
Outras características

Fontes de solidão

Influências situacionais
Características pessoais
Atribuições causais da solidão

Confronto com a solidão

O que fazem as pessoas quando sentem a solidão


Como ajudar as pessoas a sentirem-se menos sós

309
RE

Variações interculturais ectivos

Aplicações: Quebrar os muros do isolamento social Definir solidão;


Sumário Distinguir diferentes formas de solidão;

Para ir mais longe Identificar algumas das principais abordagens teóricas da solidão;

Assinalar abordagens conceptuais para avaliar a solidão;


Actividades propostas
Delinear uma cartografia social das pessoas sós;

e Identificar as causas da solidão;

* Examinar estratégias de confronto com a solidão;

Referir efeitos interculturais na solidão.

310 311
oginpomuy *T
nes PRE CT
LR Open ias ato SÓ
Ai do Lusíada, coitado,
Que vem de tão longe, coberto de pó,
Que não ama, nem é amado,
Lúgubre Outono, no mês de Abril!
Que triste foi o seu fado!
Antes fosse pra soldado,
Antes fosse pró Brasil...

António Nobre

Platão fala de «hermafrodite», um ser mítico que habitou a terra antes de haver
mens e mulheres. Esta criatura tinha características humanas, mas continha
nbos os sexos num corpo. Dado ser completo em si mesmo, era tão poderoso
he rivalizava com os deuses. Por isso Zeus tomou um dos seus raios e dividiu
| hermafrodite em dois sexos. Desde esse tempo, segundo o mito, homens e
nulheres foram forçados a procurar-se um ao outro e a juntar-se para ultrapassar
sua imperfeição.
D mito de hermafrodite é uma tentativa poética em relação à necessidade de
ontacto humano que estudaremos neste capítulo. Dado que «nenhum homem
uma ilha intacta» como escreveu o poeta John Donne, não encontramos o
osso sentido para à vida sós. Pelo contrário, encontramos o nosso sentido
à vida na relação com outras pessoas, membros da família, amigos,
amorados.

À solidão constitui um lado perturbante da atracção. Trata-se de uma


periência dolorosa que se tem quando as nossas relações sociais não são
dequadas.
a

À propósito do quadro de Vincent Van Gogh «Os comedores de batatas»,


na composição de lavradores à volta de um prato de batatas, Lubin (1981,
5927-528) anotara: «Esta pintura era um sermão sobre o tratamento injusto
Os lavradores pela classe dominante holandesa e uma ode ao sofrimento do
rador. Mas é mais. Enquanto que o quadro representa um grupo familiar
tado à volta de uma pequena mesa unido pelos raios de uma única lâmpada
Dr cima deles, a sua proximidade é só física. Emocionalmente, estão
lastados uns dos outros, incapazes de comunicar, sós». Vincent identificou-
Som o sofrimento e a solidão destes lavradores. Esse mesmo sentimento de
lidão reflecte-se em muitos dos quadros do artista. Tais são algumas das
ensagens transmitidas pelo quadro «Comedores de Batatas».
O

ha pintura de Vincent Van Gogh ou na obra poética de António Nobre se


Hecte a solidão vivida pelos artistas, nem só artistas sofrem com ela.

315
À solidão é um fenómeno espalhado e um tema central na literatura, nafi idão é um fenómeno complexo. Quem pretender compreendé-la e
e na psicologia (Mijuskovic, 1979).A solidão é muito frequente naner ja confronta-se com diversas abordagens teóricas e metodológicas.
em geral. Num inquérito efectuado nos Estados Unidos, 26% dos/
iversidade de abordagens tem posto em evidência variadas causas e
declararam terem-se sentido «muito sós ou afastados das outras estações da solidão. O conhecimento obtido pela investigação psico-
durante as últimas semanas (Bradburn, 1969). Talvez 10% da n “sobre a solidão pode ser utilizado para melhorar as técnicas de a aliviar.
sofra de solidão grave e persistente (Peplau e Perlman, 1982).

A solidão é experienciada pelo ser humano em qualquer que seja o lu


habite. É porventura difícil imaginar uma pessoa que não se tenha.
sozinha alguma vez na sua existência. Os primeiros tempos pass
escola, na fábrica, na caserna, porventura a mudança do seu país de re:
para um país receptor de imigração (Neto, 1993b, 1997a), o fim
relacionamento íntimo... são ocasiões em que as pessoas podem expe
a solidão.
À solidão é um tópico que tem suscitado um interesse crescente noi
ocidental. Os jornais e as revistas publicam cada vez mais artigos;
solidão; é um tema que aparece na literatura da ciência de ficção rece
o foco de livros de divulgação de auto-ajuda psicológica. Mas apesa
interesse pelo tema da solidão, os cientistas sociais ainda estão a cor
explorar a sua natureza. Os psicólogos, em particular, se bem que há?
se interessem pelo tópico da solidão (Fromm-Reichmann, 1959).
investigação efectuaram neste domínio até aos anos 70. Em comp
com outros problemas do relacionamento social a solidão foi até
negligenciada pelos psicólogos. Por exemplo, foram efectuadas an
minuciosas da agressão, da competição, do sobrepovoamento e de.
factores negativos do relacionamento social.
x
Encontramos pelo menos dois factores que contribuiram para que os ciet
sociais só tivessem começado recentemente a investigar a solidão
primeiro lugar, o facto de se sentir a solidão, é percepcionado com
| estigma susceptível de afectar os cientistas que estudam a solidão
olhados com uma certa desconfiança como se talvez a sua investi gação ti
sido despoletada por problemas pessoais não resolvidos. Um segundo fi
é que a solidão, ao invés da agressão, da competição e do sobrepovoame
por exemplo, não pode ser facilmente manipulada no laboratório. E 3
que os psicólogos têm muitas vezes idealizado o método experimental €
sendo a abordagem mais válida para o estudo da realidade. Concorda
com a opinião de Russell, Peplau e de Cutrona (1980) segundo os quê
tarefa crucial para os investigadores neste domínio não é tam
desenvolvimento de um paradigma experimental para produzir a solidã
diferentes graus sob condições controladas, como o desenvolvimente
instrumentos para pôr em evidência variações na solidão que ocorre na y
quotidiana.

316 317
iogpios e 2 9nb O “Z
maior parte das
| idão é um termo que tem um significado intuitivo para a
inquéritos de vasta
coas. Por exemplo, quando se interrrogam pessoas em
se sentem
a sobre se à solidão é para elas um problema ou quantas vezes
ymaior parte responde, sem necessitar que esses termos sejam clarificados
o significado
Jau e Perlman, 1982). Seria, todavia, um erro defender que
o
nlidão é o mesmo para todas as pessoas. À semelhança do amor, a solidã
.
con to vago, revestindo-se de muitos significados
“concei

— Definir a solidão

+: autores têm tentado definir a solidão (cf. revisões feitas por Apple-
n, 1978: Peplau e Periman, 1982; Sadler, 1978). No documento 10.1 são
entadas algumas dessas definições. Se bem que diversas definições
m tido um grande impacte no desenvolvimento teórico e na estimulação
balho empírico, não há uma definição que seja universalmente aceite
5 especialistas. Essas diferentes definições são o reflexo de diferentes
tações teóricas que se relacionam com alguns aspectos importantes nos
Ds de conceptualizarmos a solidão. Estas diferenças focalizam-se em
cular à volta da natureza da deficiência social experienciada pelas pessoas

definições apresentadas há um acordo em três aspectos gerais que também


ilhados por outras definições avançadas na literatura (Peplau e Perlman,

a) a solidão é uma experiência subjectiva que pode não estar


"relacionada como isolamento objectivo;

esta experiência subjectiva é psicologicamente desagradável para


o indivíduo;

asolidão resulta de alguma forma de relacionamento deficiente.

lidão não é muito simplisticamente o que se sente quando se está sozinho.


ddemos sentir a solidão quando estamos sozinhos, no caso de querermos
com alguém, também se pode sentir quando estamos com outras pessoas,
desejássemos antes estar com mais alguém. O âmago da solidão é a
; Sfação em relação ao nosso relacionamento social. Se bem que a solidão
À por vezes atingir proporções psicopatológias, a população em geral é
tudo atingida por amplitudês «normais» de solidão.

3 21
gen

A solidão aparece sempre como sendo uma resposta à ausência de


algum tipo particular de relação ou, mais precisamente, uma resposta
à ausência de alguma provisão relacional particular.»
K

“De Jong-Gierveld (1978)


o
[po «A solidão (é) a experiência de um hiato entre as relações interpessoais
concretizadas e desejadas como sendo desagradável ou inaceitável,
em particular quando a pessoa percepciona uma incapacidade pessoal
para concretizar as relações interpessoais desejadas num período de
tempo razoável.»

Periman e Peplau (1981)


«A solidão é uma experiência desagradável que ocorre quando a rede
de relações sociais de uma pessoa é deficiente nalgum aspecto
importante, quer quantitativa quer qualitativamente.»

Derlega e Margulis (1982)

«Na nossa perspectiva a solidão é causada pela ausência de um parceiro


social apropriado que possa ajudar na realização de importantes
objectivos dependentes de outras pessoas, e o desejo continuado de
| tais contactos sociais.»
Se podemos sentir a solidão quando estamos sozinhos, no caso de querermos estar com
alguém, também se pode sentir quando estamos rodeados de pessoas, caso desejássemos
Young (1982)
antes estar com mais alguém. E «Defino solidão como a ausência ou a ausência percepcionada de
relações sociais satisfatórias, acompanhada de sintomas de malestar
psicológico que estão relacionados com a ausência actual ou
percepcionada... Proponho que as relações sociais possam ser tratadas
como uma classe particular de reforço... Por isso, a solidão pode ser
vista como uma resposta à ausência de reforços sociais importantes.»
Documento 10.1 — Definições da solidão
Ho
Dok (19844)
Sullivan (1953) l A

«Uma condição estável de malestar emocional que surge quando uma


«A solidão... é a experiência excessivamente desagradável e motfl
pessoa se sente afastada, incompreendida, ou rejeitada pelas outras
ligada a uma descarga desadequada da necessidade de intimidad
A pessoas e/ou lhe faltam parceiros sociais apropriados para as actividades
humana, de intimidade interpessoal.» :A0
desejadas, em particular actividades que lhe propiciam uma fonte de
Lopata (1969) integração social e oportunidades para intimidade emocional.»

«A solidão é um sentimento sentido por uma pessoa


(experienciando) um desejo por uma forma ou um nível de interaos
diferente do que se experiencia no presente.» a
4

Weiss (1973)

«A solidão é causada não por se estar só, mas por se estar sem alg
relação precisa de que se sente a necessidade ou conjunto de relações
[o
a

2.2 Formas de solidão “Poucos estudos investigaram se diferentes défices relacionais produzem
Ê diferentes espécies de solidão. O estudo de Russell et al. (1984) é uma
Têm sido utilizadas várias tipologias para distinguir diferentes formas de solidã excepção, demonstrando que medidas de solidão social e emocional estavam
ligadas, respectivamente, à falta de amizade e de relações íntimas, A solidão
Um primeiro factor de classificação foi avançado por Moustakas (1961 social € emocional partilhavam um núcleo comum de mal-estar, mas tinham
fazendo a distinção entre ansiedade-solidão e ansiedade existencial. Segu Rr também elementos únicos de experiência subjectiva.
o autor, a ansiedade-solidão é aversiva e resulta de «uma alienação bás
entre homem e homem», ao passo que a solidão existencial faz parte integra
da experiência humana, implicando momentos de autoconfrontação
: :
roporcionando autocrescimento.
23 O que se sente quando se está só
Se
Um segundo factor de classificação tem sido o tempo. A solidão pode se
encarada enquanto traço de personalidade, sendo as pessoas solitárias as q | Juando uma pessoa se sente sozinha, experiencia angústia, insatisfação e
referem uma longa história de sentimentos frequentes e intensos de solidã, clusão. Tal não significa que sintamos a solidão sempre do mesmo modo,
Pode também encarar-se enquanto estado psicológico em que as pes k ois diferentes pessoas, perante diferentes situações, podem experienciar
experienciam solidão durante diferentes lapsos de tempo em diferem liferentes sentimentos de solidão. Um estudo que foi efectuado com pessoas
momentos da sua existência. O indivíduo pode ter uma curta experiência i vas permite ilustrar a abundância de sentimentos que acompanham a
solidão, ou pode ser uma «pessoa só». xperiência de solidão (Lopata, 1969). Para essas senhoras a solidão
gnificava um ou mais dos seguintes sentimentos:
Contribuições conceituais e empíricas para compreender as diferenças enti
solidão situacional e crónica foram dadas por Shaver e a sua equi * Desejar estar com o marido
(Rubenstein e Shaver, 19824; Shaver e Rubenstein, 1980; Shaver, Furman
* Querer ser amada por alguém
Buhrmester, 1985). Shaver et al. referem quer a cronicidade quer a gener;
lização a diferentes contextos como características que diferenciam a solid * Querer amar e tratar de alguém
enquanto traço, da solidão enquanto estado. Em consonância com es!
perspectiva, num estudo com caloiros, Shaver, Furman e Buhrmester (198: * Querer partilhar experiências quotidianas com alguém
encontraram que estudantes que obtiveram pontuações elevadas numa medi
* Querer ter alguém por casa
de solidão enquanto traço, eram incapazes de aproveitar das oportunidades €
campus para encontrar outras pessoas e formar amizades. Esses estudant * Precisar de alguém para partilhar o trabalho
tinham sofrido de solidão antes de entrar na universidade e permaneciam sé
no novo contexto. Ao invés, os estudantes caracterizados pela solidão enquan * Desejo de uma forma prévia de vida
estado, não tinham estado sós na escola secundária e fizeram uma adapta
* Experiênciar falta de estatuto
social com sucesso na universidade após um período inicial de solidão.
* Experienciar falta de outras pessoas, como consequência de ter
Um terceiro factor de classificação tem sido o défice social implicado. Wei E .
perdido o marido
(1973) distinguiu a solidão social em que uma pessoa se sente insatisfeita
só por causa da falta de rede social de amigos e de pessoas conhecidas, é * Temer a sua incapacidade para fazer novos amigos
solidão emocional, em que se está insatisfeito e só por causa de uma rela
pessoal, íntima. Segundo Weiss, não é possível aliviar uma forma de solidã É, pois, que a solidão inclui desejo do passado, frustração com o presente
substituindo-a por outra forma de relação. Por exemplo, se um casal atá dos acerca do futuro.
de emigrar para um novo país onde não conhece ninguém, passará pé
Mo em pessoas que não experienciaram a perda do marido, a solidão
experiência da solidão social, mesmo se no casal houver uma mútua relaçé
aparecer associada a uma vasta gama de sentimentos. Rubenstein e Shaver
íntima. Do mesmo modo, uma pessoa pode ter uma extensa rede social, Ml
<a), a partir de um inquérito efectuado na população em geral, encontraram
apesar disso sentir-se só porque não tem uma relação romântica. Weiss Pé
"HO Conjuntos de sentimentos que as pessoas dizem ter quando estão sós:
que a solidão emocional é a forma mais dolorosa de isolamento.

324 325
ss
TESS o Sd

H
A solidão pode aparecer associada a uma vasta gama de sentimentos,

desespero, depressão, aborrecimento impaciente e autodepreciação.


diferentes sentimentos podem ser observados no quadro 10.1. Podemos as
aperceber-nos da complexidade da solidão, pois encontramos toda uma séi
de sentimentos susceptíveis de a ela se associarem.

Quadro 10.1 - Sentimentos associados à solidão

Desespero Depressão Aborrecimento impaciente | Autodepreciação

Desespero Triste Impaciente Pouco atractivo

Aterrorizado Deprimido Aborrecido Severo consigo

Desamparado Vazio Desejo de estar noutro local | Estúpido

Assustado Isolado Inquieto Envergonhado

Sem esperança Pesaroso Zangado Inseguro

Abandonado | - Melancólico Incapaz de se concentrar

Vulnerável Alienado

Desejo deestar com uma


pessoa particular

Fonte: Rubenstein e Shaver, 1982a.

326
Ao longo dos anos, vários psicólogos e sociólogos conceptualizaram a solidão.
Damos um breve resumo de algumas das mais importantes contribuições
teóricas.

31 Abordagens téoricas

“Modelo psicodinâmico

Os teóricos da abordagem psicodinâmica (Sullivan, 1953; Fromm-Reichmann,


1959) percepcionam a experiência da solidão como uma força dinâmica,
“provocadora e patológica. Consideram as pessoas solitárias como apáticas,
passivas, deprimidas, e atribuem a solidão a experiências da infância. Muito
embora possa ser de natureza interpessoal, insiste-se mais no modo como os
factores no interior de um mesmo indivíduo, tais como traços e conflitos
EF trapsíquicos, podem provocar a solidão.

Perspectiva fenomenológica
Nesta abordagem (Rogers, 1973; Moore, 1976), a solidão é percepcionada
como a manifestação de um mau ajustamento.A solidão produz-se quando os
indivíduos, deixando cair as suas defesas para entrar em contacto com o seu
Self» interno, receiam contudo a rejeição de outrém. Assim as causas da
solidão encontram-se no interior do indivíduo, não sendo tão necessário
procurá-las na influência da infância.
pt:
bordagem existencialista

)s existencialistas (Von Witzleben, 1958; Moustakas, 1961; 1972) partem do


onto de vista de que os seres humanos são fundamentalmente pessoas sós.
; nguém pode sentir os nossos pensamentos e sentimentos, pois O estar
“parado é uma condição essencial da nossa existência, Os que estão de
cordo com esta perspectiva abordam muitas vezes o modo como as pessoas
dem viver com a sua solidão e como a utilizar de modo positivo. Para esta
Dordagem, por conseguinte, a solidão é percepcionada como uma condição
acilitante e criadora, apesar de ser dolorosa.

aplicações sociológicas

É sman, Glazer e Dennney (1961) e Slater (1976) são representantes da


Ordagem sociológica da solidão. Os primeiros autores defendem que os
lericanos se tornaram «comandados» (other-directed) e procuram a
Pvação social, conformando-se e ajustando-se continuamente ao seu meio

329
penaisen Er
=
De div

rativa é a propósito da
interpessoal para determinar o modo como devem comportar-se. As pesso; está formulada a teoria. A segunda questão compa
al? Uma experiência
«comandadas» estão cortadas do seu «Self» interno, dos seus sentimento natureza da solidão. É uma condição normal ou anorm
causas da solidão.
das suas aspirações.
;4 positiva ou negativa? A terceira questão é a propósito das
ências actuais ou
À Situam-se dentro da pessoa ou no meio? Resultam de influ
nto?
Pelo contrário, para Slater (1976), o compromisso perante O individualism passadas/d esenvolvimentais no co mportame
na sociedade americana cria o sentimento de que cada pessoa prossegue o 5;
próprio destino, levando à solidão.
+
l j

Nesta abordagem, a solidão é percepcionada como normativa: um atriby Quadro 10.2 — Síntese comparativa de seis abordagens
teóricas da solidão
distribuído normalmente no seio da população. As causas da solidão situar
-se fundamentalmente fora do indivíduo, de modo que um aconteciment

como o divórcio, pode provocar a solidão. Psicodinâmica
Fenomeno-
lógica
Existencialista Sociológica Interaccionista Cognitiva

e
q
Análise social Trabalho clínico Investigação

Perspectiva interaccionista | perspectivas ligadasa Trabalho clínico Trabalho clínico Trabalho clínico

| Natureza da solidão
Ê
o emocional
O fundamental desta perspectiva é a distinção entre a solidã
| Não Sim Não Não
Não
“oa
solidão social proposta por Weiss (1973). Segundo ele, como já vimos, a solid; Paiológica Universal Normativa Normal
Patológica
Normal ou patológica

emocional está baseada na ausência de relações pessoais e íntimas, e a soli d | Causas


Condição humana | Sociedade
solid
social na falta de laços sociais ou na falta de pertença à comunidade. A Pessoa
pE-
| Dentro da pessoa ou situação | Pessoa

social é uma mistura de sentimentos de rejeição, de não-aceitação, €


Perpétua Ambas Corrente
* História infantil vs. comente Infantil Corrente

aborrecimento e é suscitada por situações correntes.

Para Weiss, a solidão não é só uma função de factores de personalidade ouc


onte: Adaptado de Perlman e Peplau, 1982.
factores situacionais. A solidão é o produto dos seus efeitos combinados. "

!
Abordagem cognitiva

Periman e Peplau (1981) são os promotores da abordagem cognitiva da solidã


trabalho
Esta abordagem põe o acento na cognição como um factor mediad
or entre À maior parte da especulação teórica sobre a solidão está ligada ao
falta de sociabilidade e a experiência de solidão. Com base na teoria
« línico ou resulta da teoria existente. Os autores vêem normalmente à solidão
atribuição, explica-se como as causas percepcionadas da solidão pessoal podei o uma experiência desagradável, e só uma minoria a discutem como uma
no experienciado
influenciar a intensidade desta experiência e a probabilidade percepciona sposta patológica. Para a maior parte, trata-se de um fenóme
e
de ver a solidão persistir no tempo. Assim, a solidão existe na medida em qt Dr uma vasta camada da população. Só a abordagem psicanalítica defend
satisfatório clusivamente os antecedentes da infância na solidão. A maior parte das
os contactos sociais do indivíduo são, quer restritos quer menos
em relação ao seu desejo. Em suma, a solidão reflecte uma divergência
ent bordagens teóricas salientam o papel de factores correntes como causas da
os níveis de contactos sociais desejados e realizados. olidão.

Apesar da diversidade destas abordagens, parece existir um consenso sobre


ma característica da solidão, ou seja, a sua dimensão temporal: pode sentir-
em relação ao passado, ao presente ou ao futuro. As pessoas sentem-se sós
3.2 Síntese comparativa A M relação a uma pessoa, um objecto, um acontecimento, um
meio familiar
interacção ou uma recordação do passado.
concepçº
Podemos ver no quadro 10.2 uma síntese comparativa das seis
de q
expostas a partir de três questões principais. A primeira é à partir
de casos, investigação sistemática...) ou tradições intelectu
evidência (história

330
ogp OS EP OBÍCIPBAY *p
A,
ul
Os investigadores
ão é encarada
avaliarem a solidão. Para a abordagem unidimensional, a solid
como um fenómeno unitário que varia sobretudo na intensidade
comuns na
experienciada. Esta abordagem pressupõe que há temas
es que afectam os
experiência da solidão, apesar das causas particular
escala geral de solidão deve ser
indivíduos. Nesta perspectiva, uma mesma
de deixar o seu
censível à solidão experienciada por um emigrante que acaba
de entrar numa
país de origem ou por um estudante universitário que acaba
dimensional
faculdade e que deixou os seus amigos. A abordagem multi
não pode ser
considera a solidão como um fenómeno multifacetado que
em vez
apreendido só por uma medida global de solidão. Esta abordagem,
solidão de
de se centrar sobretudo no que há de comum na experiência de
o. Estes
ados os indivíduos, tenta diferenciar entre várias tipos da solidã
poucos, como
diferentes tipos de solidão que têm sido propostos vão desde
pos distintos
ps dois propostos por Weiss (1973), a muitos, como os doze subti
propostos por Young (1982).
se situam
em sido utilizados diversos instrumentos para avaliar a solidão, que
s-emos
quer numa quer noutra das abordagens citadas. Referir-no
a
seguidamente ao instrumento mais utilizado na literatura para se avaliar
solidão, a Escala de Solidão da UCLA (Russell, Peplau, e Ferguson, 1978;
Russell, Peplau, e Cutrona, 1980). O exame dos métodos utilizados nos
revistas, revelou
estudos empíricos efectuados desde 1980, e publicados em
que cerca de 80% utilizaram a escala original ou revista da UCLA (Paloutzian
se
E Janigian, 1989). Após uma referência ao modo como esta escala

7
x
o

A Escala de Solidão da UCLA («University of California at los Angeles») é


encarada enquanto estado psicológico e apreendida de modo unidimensional.
$

“Os seus autores pretenderam criar um instrumento psicometricamente


adequado, de fácil administração que pudesse servir de estímulo à investigação
mpírica sobre a solidão.

Um conjunto inicial de 75 itens foi seleccionado a partir da escala de solidão


desenvolvida por Sisenwein (1964). Estes itens estavam baseados em
cia da
Julgamentos escritos por 20 psicólogos que descreveram a experiên
Solidão e também em julgamentos de uma escala prévia de Eddy (1961). A
f hostragem dos 25 itens retidos da escala de Sisenwein (1964) não foi
Sistemática, tendo tido os autores como único critério a eliminação de

335
julgamentos muito extremos (e. g. «A televisão é o meu único amigo», « =
* Paloutzian é Ellison (1982) encontraram uma correlação de .72 entre a Escala
morte será a minha única companhia»). Exemplos de itens que for abreviada da Solidão e a escala da UCLA. Foram igualmente obtidas
seleccionados são «Não posso tolerar estar tão só», e «Ninguém me conheç correlações com diversas características da personalidade e a escala UCLA.
realmente bem». Os sujeitos situavam as suas respostas numa escala en Por exemplo, Horowitz e French (1979) encontraram que os indivíduos
quatro pontos utilizada por Sisenwein, indo desde «Sinto-me muitas ve E solitários experienciavam maiores sentimentos de sociabilidade inibida.
deste modo» até «Nunca me sinto deste modo».
“A validade da escala foi também posta em evidência junto de populações
Esse conjunto inicial de itens foi administrado a dois grupos de jovens adul a «em risco». Em comparação com a pontuação média de amostras de
que frequentavam a UCLA: uma amostra clínica que incluia voluntário: astudantes universitários (M=38,6) encontrou-se que doentes psiquiátricos
recrutados para participarem numa discussão de grupo sobre a solidão adultos (M=51,8), pessoas divorciadas (M=47,7) e participantes em ateliers
uma amostra de estudantes de psicologia. Todos os participantes responder mara desenvolver as habilidades sociais (M=56,8) sentiam de modo
aos 25 itens e indicaram até que ponto se sentiam sós em comparação co ignificativo a solidão (Russell, 1978).
os outros numa escala tipo Likert em cinco pontos. Os indivíduos també
Apesar do que foi dito, que mostra que a escala de solidão da UCLA é um
descreveram o seu estado afectivo corrente através da avaliação da intensida
instrumento adequado, esta medida levanta diversos problemas potenciais.
de sentimentos como «aborrecido», «deprimido», «ansioso».
Um primeiro problema é a possibilidade de enviesamento nas respostas já
A versão final da escala consistiu em 20 itens, escolhidos com base n que todos os itens foram redigidos na mesma direcção, as pontuações elevadas
correlações item-score total. Todos os itens seleccionados tinham ob á feflectindo sentimentos de insatisfação social. Assim, a tendência a responder
correlações superiores a .50. A escala assim construída mostrou possuir & um certo modo poderia sistematicamente influenciar as pontuações de
elevada consistência interna com um coeficiente alfa de .96. A validad olidão. Um segundo problema potencial é a desejabilidade social. Se um
escala foi avaliada de três modos. Em primeiro lugar encontrou-se ur Berto estigma está ligado à solidão (Gordon, 1976), os sujeitos podem distorcer
correlação de .79 entre o score total da escala de solidão e as respostas al às respostas subvalorizando a sua experiência de solidão. Um outro problema
item de auto-avaliação da solidão. Seguidamente compararam-se diz respeito à validade discriminante. As correlações encontradas entre as
pontuações de solidão de uma amostra clínica com as de estudantes, sen ontuações de solidão e medidas de outros construtos, como à depressão e
as diferenças entre estes dois grupos estatisticamente significativas, a méd ito-estima são intuitivamente razoáveis, evidenciando a validade da Escala
da amostra clínica (60,1) foi muito maior do que a da amostra de estudar Solidão da UCLA. Todavia, simultaneamente, esses dados apontam à
(39,1). Enfim, as pontuações de solidão estavam fortemente relacionade ecessidade de se demonstrar a validade discriminante da escala pondo-se
com a intensidade de sentimentos que se poderia esperar estarem associadi evidência que a solidão é distinta de construtos que estão relacionados
com a solidão, como a depressão, a ansiedade, a insatisfação, a infelicidaç om ela.
a timidez; as pontuações não estavam relacionados com sentimentos cone
ara obviar a estes problemas potenciais, a Escala de Solidão da UCLA foi
tualmente diferentes da experiência de solidão, como sentir-se «trabalhado vista. Dois estudos que utilizam a escala revista clarificam a natureza da
ou tet «vastos interesses».
O idão (Russell et al., 1980). No primeiro estudo, uma versão revista da
Investigações posteriores confirmaram a fidelidade e a validade da esc: Scala de Solidão da UCLA é desenvolvida, que inclui 10 itens redigidos de
Assim, Solano (1980) encontrou um coeficiente alfa de .89 numa amos do positivo e 10 de modo negativo. Todos estes itens apresentam
de estudantes. Por meio da fidelidade teste-reteste Jones (cit. por Russel elações superiores a .40 com o critério estabelecido. O coeficiente alfa
al., 1980) encontrou a correlação de .73 para um período superior à de ara à escala revista foi de .94. As pontuações de solidão da escala revista
meses com estudantes universitários. Por seu lado Cutrona (in Peplai
tavam correlacionadas do modo esperado com as medidas do estado
n Scional. Foram encontradas relações com o Inventário de Depressão de
Perlman, 1982) encontrou uma correlação teste-reteste de .62 para um períoIG
superior a sete meses também com estudantes universitários. Estes resultad Eck (1=,62) e com as escalas de Ansiedade (1=.32) e de Depressão de
“RA Bstello-Comrey (r=.55). Foram igualmente encontradas relações
podem significar variações no tempo.
Nificativas entre as pontuações de solidão e o sentir-se abandonado,
A validade da escalaé evidenciada por outros estudos através de correla ç Primido, vazio, sem esperança, isolado, auto-contido e não sentir-se sociável
significativas com outras medidas da solidão. Solano (1980) obteve U atisfeito.
E correlação de .74 entre a medida de solidão de Bradley e a escala UCL

337
336
WDErIE ER

O segundo estudo confirma a validade concorrente da escala revista através Quadro 10.3 - A adaptação portuguesa da escala de solidão da UCLA
do exame das relações entre solidão e comportamento social. Além dissa
esse estudo demonstra a validade discriminante da escala revista já que
pontuações de solidão são distintas da desejabilidade social, da tomada q Indique quantas vezes se sente da forma que é descrita em cada uma das seguintes
riscos sociais, de estados emocionais negativos e da motivação afiliativa, | afirmações. Coloque um círculo à volta de um número para cada uma delas.

Algumas Muitas
Nunca Raramente
Em suma, os esforços efectuados por Russell e seus colaboradores par vezes vezes
desenvolverem uma escala de solidão adequada parecem coroados de sucesso
|
t. Sinto-me em sintonia com as 1 2 3 4

A Escala de Solidão da UCLA revista é relativamente curta, fácil de pessoas que estão à minha volta.*

administrar, altamente fidedigna, e mostra ser válida quer na avaliação d; 2. Sinto falta de camaradagem 1 2 3 4

solidão quer na discriminação entre solidão e outros construtos relacionados 3. Não há ninguém a quem possa l o 3 4

Trata-se, pois, de uma medida da solidão cuja adaptação para a populaçi recorrer.

4. Sinto que faço parte de um grupo l 2 3 4


portuguesa nos pareceu revestir-se de interesse (Neto, 1989a). Refira-se
de amigos.*
enfim, haver outras medidas alternativas da solidão com característic 2 3 4
5. Tenho muito em comum com as 1
psicométricas adequadas, muito embora se disponha a seu respeito de muit pessoas que me rodeiam,*
menos informação comparativamente com a escala da UCLA (e.g., Schmig 6. Já não sinto mais intimidade com 1 2 3 4

e Sermat, 1983). q ninguém.


7. Os meus interesses e ideias não 1 2 3 4
são partilhados por aqueles que me
rodeiam.
8. Sou uma pessoa voltada para 1 2 3 4
4.2 Adaptação portuguesa da escala de solidão da UCLA fora.*
9. Há pessoas a quem me sinto che- I 2 3 “
gado.*
Efectuou-se a tradução portuguesa da Escala da Solidão da UCLA revisk
10. Sinto-me excluído. 1 2 3 4
Os vinte itens são avaliados numa escala de escolha múltipla com quat
tl, Ninguém me conhece realmente 1 2 3 4
alternativas: «nunca», «raramente», «algumas vezes», «muitas vezes».
bem,

A ordem de apresentação dos itens da versão portuguesa foi a mesma utilizad 12. Sinto-me isotado dos outros. 1 2 3 4

na versão americana. ” 13. Consigo encontrar camaradagem 1 o 3 4


quando quero. *
os

A versão portuguesa da escala foi administrada a uma amostra de 4. Há pessoas que me compreendem l 2 3 4
estudantes dos três primeiros anos que frequentavam a Universidade do Port
realmente.*
[ 15. Souinfeliz por ser tão retraído. 1 2
em 1987. 61,2% são do sexo feminino e 38,8% do sexo masculino. À méd 3 4
| 16. As pessoas estão à minha volta
de idade é de 19,6 anos (D.P=1,8). A distribuição das idades segundo o sé 1 2 3 4
| mas não estão comigo.
não é significativamente diferente (X?=10,7,g.1.=10,p=0,38). /
| 17. Há pessoas com quem consigo fa- 1 2 3 4
lar
À versão portuguesa da escala comporta 18 itens que se apresentam no qua |
18. Há pessoas a quem posso 1 2 3 4
10.4. q recorrer.*

Efectuaram-se comparações entre os resultados médios da solidão par


sexo masculino e feminino, não se tendo encontrado diferenças significativê la: À pontuação total é a soma dos 8 itens.
í
Com o intuito de se avaliar a consistência interna utilizou-se o coefície ,
“im que deve ser invertido tie., 1=4, 2=3, 3=2, 4=1) antes de se calcular a pontuação.

alfa de Cronbach (1960). Este coeficiente na amostra do total dos 286 sujeil nte: Neto, 1989a.
q
foi de .87, o que é um valor relativamente alto.

338
A validade da versão portuguesa da escala da solidão foi examinada relati pmo se pode observar, a dimensão aceitação social do autoconceito, é o
mente a vários critérios. A correlação entre uma questão de auto-avali É
:1 o com maior contribuição para a predição da solidão, sendo também
acerca da solidão e a nota global obtida para a solidão é altamente significati os de predição significativos a ansiedade social, a satisfação com a vida
(1=.46, p<.001). Os sujeitos com pontuações altas na escala da soli
onível de ensino. As quatro variáveis explicam 40% da variância da solidão.
descrevem-se como sentindo-se mais sós que as outras pessoas,
Vote-se todavia que a variância explicada pelo nível de ensino pouco
A validade da escala da solidão é também fornecida pela ligação das pontuas
rescenta à explicada pelas variáveis psicológicas. Assim, esta análise de
soressão deixa transparecer que« são as variáveis psicológicas mais que as
da solidão com outros estados emocionais. A pontuação de solidão -E “je

significativamente correlacionado com o sentir-se abandonado (1=.3 ácio-demográficas que determinam a solidão nos professores.
aborrecido (r=.13), angustiado (r=.24), ansioso (r=.19), culpabilizado (r=,
a escala também revelou propriedades psicométricas satisfatórias com
deprimido (r=.29), desvalorizado (r=.36), frustrado (1=.38), incompreendi
tolescentes (Neto, 1992b). Neste trabalho foi proposta uma escala com seis
(r=.38), insatisfeito (1=35), insociável (r=.45), rejeitado (1=.44), triste (t= ens que representa uma alternativa quando os sujeitos não dispõem de muito
envergonhado (r=.28) e com não sentir amor (r=.23). A pontuação de soli mpo para responder.
não está correlacionada com o sentir-se encolerizado e sensível.
suma, a adaptação portuguesa da Escala de Solidão da UCLA apresenta
Abona igualmente em favor da validade da escala a existência de 1 ma boa consistência interna. A validade concorrente é mostrada através das
correlação negativa entre a solidão e o autoconceito e uma correlação posi lações entre as pontuações da escala a as auto-avaliações da solidão actual.
entre a solidão e a ansidedade social (Neto, 1989b). k correlações entre as pontuações de solidão e diversos estados emocionais
imbém abonam em favor da validade da escala. Enfim, a validade externa
Também abona em favor da validade externa da escala um estudo efectua
a amostra também pode ser mostrada.
com professores (Neto, e Barros, 1992). Pretendeu-se com ele examir
algumas variáveis de personalidade associadas à solidão nos professo
bem como pôr em evidência alguns determinantes sócio-demográfico
solidão. Para além da escala de solidão, utilizaram-se outros instrumem
para avaliar a satisfação com a vida, a ansiedade social, o auto-conceito&
atribuição de responsabilidade. A amostra era constituída por 296 professo
Utilizou-se o procedimento de regressão múltipla («stepwise») pa
determinar quais as variáveis psicológicas e socio-demográficas que prediris
melhor a solidão. Esses resultados podem ser vistos no quadro 10.4. l
LM

Quadro 10.4 — Análise de regressão múltipla para a variável solidão


Iva
2 Beta t |
Passo Variável -R
múltipla

1 Aceitação social 0,50 0,25 -0,50 «9,958


2 Ansiedade social 0,59 0,35 0,35 60,8***
3 Satisfação 0,62 0,39 -0,19 -3,9208
4 Nível de ensino 0,64 0,40 0,15 -3,0**
e.

*+p< OL; ***pe.001.


Sentir-se só é sentir-se excluído de um grupo, é não se sentir
Nota: os valores beta e t são relativos ao passo em que a varíavel entrou na equação.
amado pelas pessoas que nos rodeiam, é sentir-se incapaz de
partilhar as preocupações pessoais.
Fonte: Neto e Barros, 1992.

340 341
4SOS SEOSSAd SE OBS UIINO) *S
Ei RRESEA En NA ie
EDER)

Um certo número de estudos procuraram saber se há certos grupos de pessoas


que são mais vulneráveis à solidão que outros. De um modo geral esses
trabalhos centram-se em características demográficas facilmente identifi-cáveis,
ais como a idade, o sexo e o estado civil.

5.1 Idade

ullivan (1953) defendera que a solidão não pode ocorrer até à pré-adolescência,
tura em que os indivíduos procuram validar o seu valor através de relações
xteriores à família, em particular nas relações com os companheiros. Autores
nais recentes sugeriram que a solidão pode ocorrer muito mais cedo (e.g.,
bin, 1982), talvez na infância (Ellison, 1978). Evidência empírica disponível
ndica que a solidão pode ser medida de modo fidedigno em crianças com sete
oito anos de idade (Asher, Hymel, e Renshaw, 1984; Asher e Wheeler,
85).

iste na nossa cultura o estereótipo que as pessoas idosas são pessoas solitárias.
s pessoas jovens e idosas concordam em que são as idosas as que mais se
tem sós (Rubenstein e Shaver, 19824). Este estereótipo não se confirma
davia quando as pessoas revelam a sua própria experiência de solidão.
fendência geral que se encontra é para a solidão diminuir com a idade,
tendo as pessoas mais idosas as pontuações mais baixas de solidão (Gutek,
tamure, Gehart, Handschumacher, e Russell, 1980). Podemos observar no
dro 10.5 dados que vão nesse sentido. Rubenstein, Shaver e Peplau (1979)
ontraram as pontuações mais elevadas de solidão na faixa etária dos 18-25
S e mais baixos após os 70 anos. Parlee (1979) encontrou que 79% dos
: tos com menos de 18 anos diziam sentir-se sós algumas vezes ou muitas
és comparados com 53% dos 45 aos 54 anos e 37% das pessoas com mais
4 anos.

efeito da idade é tão forte que mesmo num leque restrito de idades
20 anos), as pessoas mais novas dizem sentir mais a solidão (Ostrov e
“À, 198 Pr

Partir de dados de inquérito há uma convergência em assinalar-se que a


ão é menos frequente nas pessoas mais idosas, não é todavia de se excluir
“la de que em idades muito avançadas a solidão já possa ser mais comum.
à (1962) encontrou níveis de solidão muito semelhantes entre pessoas
a 79 anos, mas maiores com pessoas com 80 anos ou mais.

345
Quadro 10.5 — Solidão por grupos etários

Inquérito de Rubenstein,
shaver, e Peplau (1979) | 1825 | 2630 | 31-39 | 4049 | 5059 | 6069 | +70
Idade em anos

Pontuação média de solidão | ,,59 | 495 | +89 +29 38 24 225


(máx. = +20)

em

Inquérito de Parlee (1979) | Menos | 1824 | 25.34 | 35.44 | 45.54 +55


Idade em anos de i$

Percentagem de pessoas que


disseram sentir-se sós algu- 79% 1% 69% 60% 53% 37%
mas vezes ou muitas vezes

“Fonte; Dados adaptados de Rubenstein, Shaver, e Peplau, 1979 e de Parlee , 1979.

4
,

À uito embora a associação entre a juventude e a solidão faça com que o


estereótipo de que as pessoas idosas sejam as que mais sofrem de solidão, as
“tazões da sua diminuição ao longo do ciclo vital ainda não estão bem
compreendidas. Em parte pode acontecer que os jovens queiram falar mais
dos seus sentimentos e conhecimento da solidão que as pessoas idosas. Também
É verdade que os jovens encontram muitas transições sociais, tais como deixar
a casa dos pais e viver na sua própria casa, entrada na faculdade, obtenção de
m primeiro emprego, todas elas podendo causar a solidão.
À medida que as pessoas vão avançando na idade, as suas vidas sociais podem
Ornar-se mais estáveis. A idade pode também acarretar maiores habilidades
Sociais e expectativas mais realistas acerca das relações sociais.

5.2 Sexo

Contrariamente aos estereótipos, as pessoas idosas não são o grupo Ya adaptação que fizemos para a população portuguesa da escala de solidão
etário que mais sofre da solidão. As pessoas jovens podem sentir mais le UCLA (Neto, 1989a) não se encontraram diferenças nas pontuações de
a solidão que as pessoas idosas. Olidão segundo os sexos, o que pode parecer um resultado paradoxal.
é Irequentemente assumido que as mulheres, em comparação com os homens,
dO mais emotivas e apresentam maiores taxas de certas doenças mentais
lancy e Gove, 1974). Seria pois de esperar, tendo em conta a tendência
ral para reacções emocionais negativas serem mais frequentes nas mulheres,

346 347
que estas sentissem mais frequentemente a solidão que os homens. Conty Outras características
os estudos efectuados sobre a solidão não são concludentes sobre as difere
sexuais na solidão. Por um lado, no estudo de validação da Escala de S oli solidão é mais comum entre as pessoas pobres que entre as ricas (Weiss,
da UCLA os autores (Russell, Peplau, e Cutrona, 1980) não encont 582). Boas relações podem manter-se mais facilmente quando as pessoas
diferenças segundo o sexo. Por outro lado, Weiss (1973) assinala, atravé m tempo € dinheiro para actividades de lazer. Todavia em Portugal não se
recurso ao inquérito, que as mulheres estão mais inclinadas a sentirer ntraram diferenças na solidão entre jovens de diferentes níveis socio-
sós que os homens. Esta diferença de resultados pode provavelment; turais (Neto, 1992b).
atribuída à medida utilizada. Globalmente os estudos que utilizam a es
da UCLA, e foi o nosso caso, não encontram diferenças. Esta escal; ) inquérito de Rubenstein e Shaver ( 19824) sobre a solidão aparecem
questiona directamente os sujeitos sobre se sentem sós, mas procura ay terminadas características socio-demográficas que não correlacionam com
a solidão indirectamente. A natureza indirecta desta escala permite q : nlidão. Não aparecem diferenças na solidão entre pessoas que residiam em
homens expressem muito presumivelmente a sua solidão subjacente de n nas rurais € as que residiam em zonas urbanas. Além disso as pessoas que
mais livre que em estudos de inquérito em que se recorre a questões dire daram de residência um certo número de vezes não manifestam mais solidão
Quando se recorre à avaliação directa, como é o caso das asserçõe que aquelas que só mudaram raramente. Rubenstein e Shaver encontraram
inquéritos, diferenças segundo o sexo tendem a emergir, as mulh avia que as pessoas cujos pais tinham divorciado sentiam-se mais solitárias
assinalando mais frequentemente a solidão que os homens. Ent e as pessoas cujos pais não tinham divorciado. Os sujeitos cujos pais
explicações possíveis para os homens auto-censurarem a expressão da sol otciaram antes dos 18 anos sentiam-se mais sós na idade adulta, e muito
pode-se invocar a influência social. secialmente se o divórcio ocorreu antes do sujeito ter 6 anos.
spreendentemente a morte de um dos pais durante a infância não tem esse
A reticência dos homens em assinalarem a solidão está em consonânci to duradoiro.
os estereótipos sexuais. Segundo estes estereótipos não se espera ql
homens exprimam as suas «fraquezas» emocionais (Neto, Williams, e
1991). Da conjugação de respostas negativas susceptíveis de emergii
adro 10.6 - Solidão segundo a idade do indivíduo aquando do divórcio
partir de comportamentos que não se moldem às percepções estereoti dos pais
e dos processos de aprendizagem, os homens conformam-se co
estereótipos vigentes.
Idade em anos 0-6 7-12 13-18

Pontuação média de solidão 18,0 10,8 5,4

5.3 Estado civil Fonte: Rubentein, Shaver. e Peplau. 1979.

As pessoas que não estão casadas sofrem mais da solidão que as cas
(Weiss, 1982). Todavia num estudo, quando se subdividia o grupo das pes
não casadas, a solidão era maior nas pessoas viúvas e divorciadas que
solteiras. Os valores destas não diferiam das pessoas casadas (Gubrium, |!
A solidão parece, pois, ser determinada mais pela perca de uma Té :
conjugal que pela sua ausência. :

O sexo parece interagir com o estado civil. Entre casais, as mulheres 1h


mais a solidão, mas quando se verifica uma ruptura nas relações.
separação, pela morte ou pelo divórcio os homens referem mais à sa |
(Rubenstein e Shaver, 1982b).

348 349
além de características sócio-demográficas, referidas na secção anterior,
investigadores têm referido outros factores como potenciais causas da
dão. À experiência da solidão resulta da interacção de factores situacionais
E características pessoais (Shaver, Furnam, e Buhrmester, 1985). Os
es situacionais são acontecimentos que reduzem a quantidade e a
J
“a das interacções sociais. É por isso que geralmente causam solidão.
| aracterísticas pessoais podem dispor alguns sujeitos a tornarem-se
rios ou a experienciarem a solidão durante longos lapsos de tempo.
rdaremos de seguida ambas as constelações de factores e examinaremos
hém as atribuições causais da solidão.

Influências situacionais

muitos os factores que na vida moderna contribuem para a quebra da rede


felações das pessoas e daí pode advir a solidão. Cutrona (1982) perguntou
tudantes universitários porque é que sentiam a solidão. As percentagens
posta mais frequentes foram as seguintes: a) deixar a casa dos pais para
ara a universidade, 40%; b) separações românticas, 15%; c) problemas
amigos, 119%; d) dificuldades no trabalho escolar, 11%; e) problemas
liares, 9% (e.g., divórcio dos pais); f) situações em que viviam isolados,
Apresenta-se no quadro 10.7 uma lista de categorias que reflectem o tipo
ctor externo que contribui para o desenvolvimento da solidão: menos
to social, estatuto social em disponibilidade, perca relacional, redes sociais
equadas, novas situações, barreiras indirectas ao contacto social, fracasso
Ctores temporais (Jones, Cavert, Snider, e Bruce, 1985). Nesse quadro é
sentada uma lista representativa da investigação e não tanto uma lista
Stiva. Note-se que algumas das categorias principais se sobrepõem. Por
mplo, perca relacional pode resultar em estatuto relacional em
ponibilidade. A mobilidade geográfica está incluída em duas categorias,
há uma certa evidência de que a solidão associada à mudança para outro
it deriva da perca relacional (isto é, amigos e colegas que se deixaram) €
incertezas de estar numa nova situação em que se devem desenvolver
A Ielações. O documento 10.2 ilustra até que ponto a entrada para a
fersidade é susceptível de causar solidão.

353
Quadro 10.7 — Determinantes externos da solidão melhoramento que tinha a ver com a formação de novas redes de amizade.
| r disso cerca de um quinto dos sujeitos permaneceram sós todo o ano,
Categoria/Exemplo
mais foram identificados desde o começo pela sua tendência a atribuirem
lidão mais a causas pessoais (ou internas) que situacionais (ou externas).
mor outras palavras, censuravam-se mais pela sua solidão do que pela
Contacto socia/Actividades Perca relacional'rejeição
Mais tempo passado só Divórcio
Actividades importantes/ Viuvez Fracasso isição. Enfim, encontrou-se neste trabalho que a qualidade percepcionada
tempo só (comer, estudo, Separação Ter um fracasso | mizades e de namoros era um melhor preditor da solidão que índices
fins de semana) Divórcio ou monte de pais? Perder um jogo nt itativos, tais como o número de amigos e de namorados.
Menos tempo com a família, Mobilidade geográfica Factores tempor:
os amigos, os vizinhos Rejeição dos colegas Partes do dia da trabalho posterior Shaver et al. (1985) mostraram que a transição para a
semana e estação —
Menos contacto com amigos e Redes socias
Menos amigos
idade reveste-se de stress sobretudo para os rapazes. A frequência de
família pelo telefone
Menos actividades sociais Menos relações íntimas bros nos rapazes diminuiu mais que nas raparigas. Isto pode ser o resultado
Namorar menos Menos apoio social os rapazes têm um conjunto mais pequeno de namoradas disponíveis,
Menos participação em Rede com densidade mais baixa haver a norma cultural que encoraja as raparigas (mas não os rapazes) a
organizações voluntárias,
com elementos do sexo oposto mais velhos e a declinarem pedidos
reuniões e cerimónias
religiosas Novas situações
moro de rapazes mais jovens.
Viver sozinho k para a Universidade
Estatuto relacional Mobilidade geográfica r tigas relações na terra diminuiram em número e na qualidade
Estado civil: em disponibilidade Barreiras indirectas incionada, enquanto que as novas não atingiram os níveis de satisfação
Desemprego jores à entrada na universidade. A transição para a universidade causa o
Rendimento baixo
é quase metade (46 por cento) das relações românticas do ensino
Transportes inadequados
ário e produz tensão nos restantes 54 por cento que foram avaliadas
do muito menos positivo após a entrada que antes.
Fonte: Adaptado de Jones, Cavert, Snider, e Bruce, 1985.
lo mais positivo, os caloiros foram rápidos em estabelecer novos grupos
isoas conhecidas, mas experienciavam uma grande incerteza acerca
Os seus sentimentos acerca da família tornaram-se mais positivos e
lenciavam menos conflito com os pais mesmo se os não viam muitas
4 ou talvez por causa disso. Trata-se obviamente de uma mudança
Documento 10.2 — A solidão da transição para a universidade iva pois havia pouca intreracção com a família que pudesse melhorar.
idantes sentiam-se melhor relativamenteà sua família.
A entrada na universidade representa uma transição vital de grande: 4H by;
Reveste-se especificamente de interesse para a investigação social na
em que pressupõe não só um avanço qualitativo no sistema de ensi o,
também, para muitos estudantes, o primeiro afastamento significativo o
dos pais. Tal cria perturbações nas redes sociais. Os caloiros são fon E.
construir uma nova rede de apoio social e a renegociar as suas relaçõe
família e os amigos que ficaram na terra. Os estudos de Newcomb eo estudos mostraram que a força da associação entre solidão e a condição
(Newcomb et al., 1967) apresentados no capítulo 4 confirmam que Estão era forte e duradoira. É o caso da viuvez (Lopata, 1969) e da
e mudanças de valores que se formam durante a vida universitária We um dos pais (devido a morte ou divórcio) durante a infância
perdurar ao longo do ciclo vital. Stein e Shaver, 19824).

O que acontece aos caloiros quando entram para a universidade? Oe * parte dessas condições estão relacionadas com a solidão porque são
Cutrona (1982) efectuado com caloiros evidenciou que tendiam à “os para trocas sociais satisfatórias com os outros que são ou podiam
sós no Outuno, mas a maior parte deles recompunha-se ao fim do| Piantes na vida das pessoas. Note-se todavia que, uma maior solidão

354 355
os embora
está relacionada com condições que só de modo indirecto interfere mbém realçar que a solidão e a depressão são fenómenos distint
4 as pessoas
interacções satisfatórias. O desemprego retira a uma pessoa oportuad a arte coincidentes (Russell, Peplau, e Cutrona, 1980). Nem todas
c estão deprimidas, e nem todas as pessoas deprimidas se sentem sós. Este
sociais no trabalho e tambémé susceptível de restringir oenvolvida -
devido à falta de dinheiro para certos tipos de interacção ou ao embara à altado levou Bragg (1979) a propor uma distinção entre «solidão deprimida»
os, Bragg
ter perdido o trabalho. Aliás o baixo rendimento encontra-se assi ] colidão não deprimida». Num estudo com estudantes universitári
associ ada com a
solidão mesmo entre pessoas que estão empregadas. a1 controu que a solidão deprimida estava claramente
satividade global, apreendida na insatisfação não só com as relações sociais,
s da vida. Pelo
Em suma, a lista apresentada que tem por suporte investigação end 4 mo também com a escola, o trabalho e muitas outras faceta
confirma a proposição teórica de que a solidão é, pelo menos em aj ato ni
deprimoidas asia
E infeliz
determinada por factores situacionais susceptíveis de dilacerar, 1 de impedir
po E ga Sanga
n A ário, gaàs Ro nt E dpeud necessariamente es a respei de
psp
b NtroS aspec os uas vL é
f

relação entre a solidão e O


Rouse observar em diversas investigações a
Young (1982) o
soconceito. No âmbito do trabalho levado a cabo por uma melhor
permitem
toconceito está entre as categorias propostas que
4

entar um autoconceito
mpreensão da solidão. Assim os solitários podem apres
6.2 Características pessoais ejáveis em
spativo. Devido a pensamentos automáticos, consideram-se indes
ecidos, estúpidos,
rios aspectos. Julgam-se não atractivos, não amáveis, aborr
Certas pessoas são mais susceptíveis de experienciarem a solidão de ] defeitos estão na
jos ou egoistas. Têm igualmente tendência a crer que estes
mais intenso e duradoiro que outras. Todavia, uma predisposição pa ick e Jones
ise da sua personalidade e são, por conseguinte, imutáveis. Gosw
s com elas e
solidão não causará necessariamente a experiência de solidão num mome 981) mostraram que as pessoas solitárias estavam insatisfeita
particular, mas fará com que essas pessoas sejam mais vulneráveis a fa 4 e Portugal (Neto,
ham um autoconceito negativo. Num estudo efectuado em
correlação negativa
89b) junto de estudantes universitários encontrou-se uma
situacionais. A solidão também pode levar ao desenvolvimento de ce
características pessoais o que faz com que seja extremamente difícil conhe iva era mais acentuada
tre a solidão e o autoconceito. Esta correlação negat
a ligação exacta entre características pessoais e solidão. Seja qual for a rela e rejeição social.
n relação a uma dimensão do autoconceito, à aceitação
causal, a investigação tem posto em evidência que as pessoas que dizem es da solidão.
ta dimensão permitia, só ela, predizer O essencial dos valor
solitárias descrevem-se e agem de modo diferente das que não o dizem. | onceito também
ita mesma relação negativa e significativa entre solidão autoc
Características como a depressão, o autoconceito, a auto-estima, àtimid Encontrou na Canadá (Bérubé e Joshi, 1998).
habilidades sociais e a atracção física podem afectar a solidão de divers to como se viu no
auto-estima constitui um corolário íntimo do autoconcei
modos (Perlman e Peplau, 1981): a) as características que reduze Tr petentes
ipítulo 2. As pessoas sós sentem-se muitas vezes sem valor, incom
desejabilidade social de uma pessoa podem limitar as oportunidades pa uma solidão
tão susceptíveis de serem amadas. Efectivamente a ligação entre
relações sociais; b) as características pessoais influenciam o própr s mais
Centuada e uma auto-estima fraca constitui uma das descoberta
nsistentes entre as investigações sobre a solidão (Ouellet e Toshi, 1986;
comportamento de uma pessoa em situações sociais; c) as qualidades pesso
podem determinar o modo como uma pessoa reage às mudanças nas relaç o 1980).
bucks, 1980; Peplau, Micelá, e Morash, 1982; Rubentein e Shaver,
sociais realizadas e assim influenciar a eficácia da pessoa no confronto 6 sendo indignas e
Às pessoas que se dizem solitárias tendem a olhar-se como
a solidão. lesprezíveis. Eddy (1961) encontrou uma correlação significativa entre
a
o auto-
A ligação entre solidão e depressão está bem documentada na literatura, Estudi Solidão e uma medida indirecta da auto-estima, a discrepância entre
m
que recorreram a auto-avaliações breves da depressão encontram que. onceito ideal e o actual da pessoa. Goswick e Jones (1981) encontrara
seu corpo,
pessoas que dizem que se sentem sós também dizem que se sentem deprimid; ue à solidão estava associada com percepções negativas do
s acerca deles próprios
(e.g., Periman, Gerson, e Spinner, 1978; Russell, Peplau, e Ferguson, 1978, Xualidade, saúde e aparência. Esses maus sentimento
pessoas solitárias como
Estudos que usam escalas de depressão mais longas como o Inventário d ãO aparentes para as outras pessoas, que vêem as
Depressão de Beck também encontram uma forte associação entre solidão | endo «severas para com elas» (Jones, Sansome, e Helm, 1983).
depressão (e.g., Russell et al., 1980; Young, 1982). É, no entanto, importaf |
35 7
356
idade, não respon-dentes
À ligação entre a auto-estima e a solidão é recíproca. Uma baixa auto-es a sprias e das outras pessoas, tímidas e sem assertativ
determinadas características
pode engendrar solidão, mas, simultaneamente, as pessoas com uma enconsíveis nas interacções sociais e diferentes em
constituem uma dificuldade
auto-estima podem censurar-se pelos fracassos sociais e por terem e situações sociais. Muitas destas características podem
níveis de contacto social o que reforça o seu próprio baixo auto-con a que à pessoa se envolva em relações íntimas e por essa razão

A timidez que é «uma tendência para evitar interacções sociais e para fal) pouzir E ia
participação de modo apropriado em interacções sociais» (Pilkonis, | :
pode predispor para a solidão. Zimbardo (1977) encontrou correl É
significativas entre a timidez e a solidão. Sermat (1980) mostrou q 4 Decseco cão i pias
| Atribuições causais da solidão
homens solitários têm uma pontuação mais baixa numa medida da 1
de risco social. Investigações de Cheek e Busch (1981) e de Cutrona (li tigadores e dos
indicam que a timidez pode levar à solidão. Em adolescentes portug
rocura das causas da solidão não é só apanágio dos inves
sentem a
icos de saúde mental, uma vez que as próprias pessoas que
encontrou-se que a solidão se associava também à timidez (Neto, 199 b m
dão também estão motivadas para explicar os motivos por que se sente
senta o
Tem sido sugerido que a falta de habilidades sociais pode estar asso oi Para uns e para outros compreeender as causas da solidão repre
solidão (Weiss, 1973). Um vasto leque de défices interpessoais e meiro passo para prever, controlar e aliviar a solidão.
associados à solidão. Estudantes universitários sós referiam maior dificui relevante
e os vários modelos da atribuição, o de Weiner já mostrou ser
que os não sós em apresentar-se aos outros, em telefonar para iniciar ca l da
» domínio. Como já se viu no capítulo 3, Weiner aplicou a teoria
em participar em grupos, em sentir-se bem nas festas (Horowitz, Fren ender a
buição ao domínio da realização. Este enfoque é útil para compre
ão porque as relações sociais de uma pessoa são uma indicação de sucesso
Anderson, 1982: Jones, 1982; Moore e Sermat, 1974). Num estu
interacção no laboratório, Jones, Hobbs, e Hockenbury (1982) comp ) , e
j muitas sociedades ocidentais. Peplau e a sua equipa (Peplau, Russell
os padrões de interacção de estudantes com pontuações altas de solid
n, 1979; Michela, Peplau, e Weeks, 1982) examinaram duas dimensões
estudantes com pontuações baixas. Os estudantes com pontuações al
tribuições que fazemos porque estamos descontentes com às relações
solidão fizeram menos referências ao seu companheiro durante a inte e
fais: locus de causalidade (interno ou pessoal versus externo ou situacional)
mostraram menos atenção ao companheiro, faziam-lhe menos ques!
abilidade (estável versus instável). Por exemplo, se uma pessoa verbaliza
eram menos susceptíveis de continuarem a discutir o tópico iniciado
ksinto-me sozinha, porque sou feia» representaria uma atribuição interna,
companheiro. Esses achados reflectem a intensa auto-focalização das p
vel, ao passo que se alguém diz «sinto-me só porque acabo de emigrar»
sós e a dificuldade que têm para responder de modo apropriado aos O!
sentaria uma atribuição externa e instável.
Solano, Batten, e Parish (1982) compararam estudantes solitários,
solitários e observaram que os estudantes solitários manifestavam P binação destas duas dimensões das atribuições causais permite obter
inabituais de auto-realização, pois tendiam quer a revelar muito deles pr o tipos diferentes de atribuições causais que estão assinaladas no
rapidamente quer a tonar-se reticentes. Jones, Sansome, e Helm t o 10.8.
encontraram que as pessoas solitárias são não só mais rejeitadas pelos o
mas também mais auto-rejeitadas, pois esperam que os outros os rejei E ;
a
interacções sociais. â

À investigação referente à atracção interpessoal tem posto em evidê nc:


modo consistente que a semelhança suscita o gostar. Tal sugere
semelhança entre uma pessoa e os grupos sociais em que participa afec
solidão. As pessoas que são «diferentes» em determinada situação 9
pelas características étnicas, religiosas ou outras podem sentir-se.
sós. .

Em suma, baseados na investigação descrita é possível traçar um£


compósito das pessoas solitárias. São pessoas com uma visão pessimisk
B 59
358
ESA Yo SS LAU Net?

Quadro 10.8 - Explicações da solidão estudantes sós, a depressão mais acentuada estava associada com atribuições
"de solidão à sua aparência física, personalidade e medo de rejeição.
“Finalmente, as atribuições causais podem influenciar o comportamento das
LOCUS DE CAUSALIDADE pessoas sós e as respostas para superar a solidão. Por exemplo, os estudantes
Interno Externo sós tendiam a atribuir os fracassos interpessoais mais a defeitos imutáveis do
RR “carácter (baixa habilidade, traços de personalidade) do que afactores pessoais
Estou sozinho porque não sou | As pessoas por aqui são frias e
amado.É deprimente; sinto um impessoais, nenhuma partilha os
“mutáveis (falta de esforço, uso de estratégias ineficazes) (Horowitz, French,
“e Anderson, 1982). Num segundo estudo os autores mostraram que este estilo

poapIsa
vazio. Sento-me à noite sozinho, | meus interesses ou corresponde
a beber, a comere divertindo-me | às minhas expectativas. Estou atribucional estava associado com um comportamento menos eficaz numa
a mim mesmo com a televisão. | farto deste lugar.
+ efa de persuasão interpessoal. Os estudantes que faziam atribuições à
daVArTaVESA
habilidade ou a traços apresentavam expectativas de sucesso mais baixas,
Estou sozinho agora, mas não | O meu namorado e eu separámo- | | motivação mais baixa e eram menos bem sucedidos na tarefa que os estudantes
será por muito tempo. Deixei de | nos. É o caminho que as relações | |
que faziam atribuições ao esforço ou à estratégia.
me dedicar tanto 20 trabalho e | seguem hoje em dia; algumas
poapisur

4
saio e conheço novas pessoas. | delas resultam e outras não.
Da
Começarei por telefonarà pessoa | próxima vez talvez tenha mais
que conheci na festa de um | sorte.
amigo.

Fonte: Shaver e Rubenstein, 1980,

Segundo Peplau e sua equipa os sentimentos mais severos de solidão surge


quando fazemos atribuições internas, estáveis. Sentimo-nos provavelment
de modo mais acentuado sós quando cremos que não temos relaçõe
satisfatórias por causa das nossas próprias qualidades permanentes:
indesejáveis. Quando fazemos qualquer um dos outros três tipos «
atribuições, ainda podemos ter alguns sentimentos de solidão, no en ant
esses sentimentos são muito menos susceptíveis de serem severos. Sobreti
quando fazemos atribuições internas, instáveis, somos capazes de control: 1
estado de solidão o que pode ajudar a reduzir os sentimentos de malestar. ç

Atribuições para a solidão podem ter implicações nas expectativas futura


nas emoções e no comportamento de uma pessoa. A teoria da atribuiçã
prediz que as explicações estáveis para o fracasso conduziriam a expectativa
mais baixas para a realização futura. Esta predição pode ser confirmada pê
a solidão (Michela, Peplau, e Weeks, 1982). A crença que a solidão era devié
a características imutáveis de si próprio ou da situação estava ligada ;
pessimismo e a baixas expectativas para o futuro. a
Pode igualmente ser posto em evidência que os sentimentos de depre
são mais susceptíveis de acompanhar a solidão quando as auto-atribuiçe
são estáveis e internas. Por exemplo, Bragg (1979) encontrou entre

360 361
OBPIJOS E UIOD OJUOJJUOZ) *L
RE RAA or ARA nO
Ds

Acabamos de ver que há muitos factores situacionais e pessoais que


podem suscitar a solidão. Há igualmente muitos modos de confronto com a
solidão.

71 O que fazem as pessoas quando sentem a solidão

Aonível mais básico as pessoas diferem na facilidade em reconhecer ou admitir


“solidão (Booth, 1983; Rook e Peplau, 1982). O temor de estigma, por
emplo, pode levar algumas pessoas sós a evitar a etiqueta «só» mesmo
quando procuram ajuda profissional, Fromm-Reichmann (1959) sugeriu que
ão parece ser fácil falar mesmo de estados benignos de solidão. Algumas
soas podem proteger-se do sofrimento da solidão negando a sua expe-
ência. Autores chamam a atenção que os clínicos devem estar preparados
a inferir a presença da solidão em clientes que são relutantes em admiti-la
ju que a experienciam ao nível inconsciente (Booth, 1983; Fromm-Reichmann,
959).
Para além de diferenças em querer reconhecer a sua solidão, as pessoas podem
imbém diferir nas acções específicas que realizam para se confrontar com a
lidão. No inquérito de Rubenstein e Shaver (1982a) as quatro respostas
ais comuns ao que faziam as pessoas quando se sentiam sós foram: ver
levisão (60%), ouvir música (57%), chamar um amigo (55%) e ler (50%).
S respostas dadas puderam ser condensadas em quatro tipos principais: dois
os positivos, construtivos de confronto (contacto social, solidão activa); um
O negativo, com comportamentos potencialmente auto-destruidores
Ssividade triste); o gastar dinheiro parece ser uma categoria relativamente
a que pode ser vista como um modo positivo de confronto com a solidão
a quem tem dinheiro e negativo para quem não o tem. Rubenstein e Shaver
e iram também que a solidão estava directamente correlacionada com as
tuações da passividade triste e inversamente correlacionada com contacto
cial.

m estudo semelhante com estudantes universitários, Paloutzian e Ellison


79) encontraram várias estratégias de confronto associadas à solidão:
“Spostas orientadas sensualmente (e.g. beber, drogar-se, encontros sexuais);
espostas religiosas (e.g., rezar, ler a Bíblia); c) respostas de procura (e.g., ir
gar, conduzir), d) diversões não sociais (e. g., ocupar-se, ler estudar,
alho); e) contacto íntimo (e. g., falar com um amigo íntimo sobre os seus
e ntos; passar o tempo com um amigo íntimo só para estar junto dele); e
Ssividade (e.g., dormir). Além disso esses investigadores encontraram que
Wdantes que avaliavam as suas habilidades sociais de modo mais positivo
ser menos provável enveredar por actividades sensuais ou de diversão

365
TIN
rátteix Er TD ISSA EIA

«quando sós e ser um pouco mais provável entregarem-se a actividad g fazer face à solidão e a necessidade opressiva de a negar e de evitar uma
cariz íntimo e religioso. Os sujeitos que percepcionaram as suas habil á ompleta tomada de consciência da sua dor. Se bem que esta abordagem possa
sociais de modo mais positivo viam também as reacções sensuais e de dive pedir com sucesso a dor da solidão a breve prazo, muito provavelmente não
como sendo menos eficazes para reduzir os sentimentos de solidão e as rea ; rá suficiente para tratar com a solidão a longo termo. O recurso a algum
de contacto íntimo como as mais eficazes. «tes métodos poderá levar a mais problemas.

scutindo as estratégias de auto-ajuda das pessoas sós, Rook e Peplau (1982)


Quadro 10.9 — O que fazem as pessoas quando se sentem sós zem a distinção entre estratégias cognitivas e estratégias comportamentais
confronto. No final do ano lectivo, 162 estudantes universitários
Es nonderam acerca das estratégias utilizadas quando confrontados com a
Passividade triste Solidão activa Gastar dinheiro Contactos lidão durante o ano. Os estudantes utilizaram um amplo leque de compor-
Chorar Estudar ou trabalhar Gastar dinheiro Chamar ps. :
mentos quando se sentiam sós. Tentavam habitualmente comportamentos
Dormir Escrever Fazer compras Visitar alg a
s pudessem melhorar a sua vida social, tais como ser amigável com os
Ficar só Ouvir música » tros, ajudar mais alguém, ou melhorar a sua aparência física. Os estudantes
Não fazer nada Passear
ntaram também contrariar o impacto potencialmente negativo da solidão sobre
Comer em demasia Trabalhar num passatempo y to-estima envolvendo-se em actividades não sociais em que tinham aptidões.
Tomar tranquilizantes Ler uitos estudantes disseram que quando se sentiam sós trabalhavam muito
Ver televisão Tocar música a ter êxito nalguma actividade. Os estudantes disseram que eram mais
Beber
: eptíveis de se distrairem com actividades mentais e físicas que com a
ização de drogas ou de álcool.
Fonte: Rubenstein e Shaver, 1982a.
estudantes utilizaram também estratégias cognitivas para aliviar a solidão.
estratégias cognitivas eram utilizadas para resolver o problema (e.g., pensar
Diversos estudos encontraram que as pessoas sós eram mais susceptíveis emi rca das causas da sua solidão e o que podiam fazer para a vencer), e para
o confronto com a solidão evitando os outros (Jones, Cavert, Snider, e | tracção (e.g., pensar de propósito noutras coisas). Os estudantes auxiliavam
1985), sensibilidade à rejeição (Russell et al. 1980), passividade (Dubrey e T luto-estima pensando nos seus aspectos bons e nas suas relações sociais.
1975), menor compromisso em funções sociais activas (Evans, 1983). Nãt
surpreender que as pessoas religiosas recorram a estratégias de confra três abordagens gerais de confronto com a solidão (Perlman e Peplau,
como a oração e a leitura da Bíblia (Dufton e Perlman, 1986). ] 82). Quando as pessoas se sentem sós podem reduzir a sua necessidade de
Jd itacto social, aumentar a quantidade e a qualidade de contactos sociais ou
Num estudo recente Rokach e Brock (1998) avançaram à conceaa uzir O fosso entre os níveis desejados e realizados de contacto social.
confronto com a solidão estabelecendo três agrupamentos. O prim pessoas podem mudar a sua necessidade das outras escolhendo tarefas
denominado aceitação e desenvolvimento de recursos, incluia três dime icacionais e actividades que possam ser agradáveis fazendo-as sozinhas.
reflexão e aceitação, auto-desenvolvimento e compreensão, e religião. exemplo, uma senhora cujo marido falecera recentemente pode voltar
As características salientes deste agrupamento comportam aumas Seu antigo prazer de pintar que tinha sido suspenso aquando da constituição
consciência da pessoa de pensamentos e sentimentos, e por vezes, rei família.
sobre o seu lugar no universo. Esta reflexão parece associar-se ao deseji 8
se ligar a um poder mais elevado e de encontrar o sentido de vidae a explica vez o modo mais óbvio de vencer a solidão seja estabelecer ou melhorar
de verdades universais. O segundo agrupamento, construção de ponies x | Telações sociais. Num estudo com estudantes universitários verificou-se
incluia as dimensões rede de apoio social e aumento de actividade. 2 é «encontrar um namorado/namorada» era percepcionado como sendo o
os factores sublinham o esforço para se construirem pontes sociais all 'lhor modo de vencer a solidão (Cutrona, 1982). Podem-se imaginar muitos
das quais as pessoas solitárias se possam ligar às outras. O desenvolvir dos de realizar mais contactos sociais: tornar-se mais atractivo, associar-
de uma rede de apoio social aumenta a probabilidade de se encon “EM clubes, iniciar conversas com outras pessoas, aprofundar as relações
pessoas para relacionamento e contactos mais íntimos. O terceiro agrupê lentes...
de confronto com a solidão, distanciamento e negação, denota a incapack

366 367
A terceira abordagem geral de confronto com a solidão permite reduzir
expectativas de uma pessoa para se ajustar à realidade da sua situação, .
pessoas podem desenvolver novos interesses e habilidades, uma adaptar:
positiva, ou podem voltar-se para o álcool e a droga para compensar as rela;
sociais insatisfatórias, uma adaptação negativa. Como esta estratégia nega ei
sugere, a solidão obriga a custos individuais e da sociedade,

7.2 Como ajudar as pessoas a sentirem-se menos sós

Perante a diversidade de causas que podem levar à solidão não existe só:
estratégia de cura, mas muitas estratégias (Rook e Peplau, 1982). 3

Num estudo conducente a uma tese de mestrado de Petryshen citada:


Weiss (1982), alguns dos pacientes receberam psicoterapia tradicion:
enquanto que outros receberam psicoterapia focalizada nas questõe
solidão. Aqueles cuja psicoterapia tratou de questões de solidão permanece
na terapia e muitos melhoraram. Os mais solitários entre os que receberai Para além de respostas orientadas sensualmente, há diversas estratégias
terapia tradicional desistiram do tratamento. Tal sugere que ao trabalhars de confronto associadas à solidão.
com pessoas solitárias, deve-se reconhecer a sua solidão para se poder.
útil. Importa pois antes demais que as intervenções sejam adaptacd as j
problemas específicos das pessoas sós.

Desenvolveram-se recentemente um certo número de programas


im programa de treino de habilidades sociais Gallup (1980) treinou as
tratamento da solidão crónica em vista a ajudar as pessoas a confronta
$soas sós em habilidades interaccionais como parafrasear os comentários
com a solidão, a prevenir as consequências mais sérias como depress
) companheiro, fazer um sumário das suas afirmações, dar avaliações
suicídio e ajudá-las a criar redes sociais mais satisfatórias e alargadas (Ro
itivas. As pessoas sós mediante este treino tornam-se mais habilidosas na
1984a,b). Há fundamentalmente quatro abordagens:
iversação e aumentaram a sociabilidade subjacente, reduziram a solidão e
1. Tratamento cognitivo que tem como objectivo mudar as expectz : entimentos de timidez.
das pessoas de que serão rejeitadas nos encontros sociais.
sa tratamentos cognitivos pretendem reestruturar o modo como as pessoas
2. Treino das habilidades sociais que tem como objectivo melhor pensam acerca delas próprias e dos acontecimentos interpessoais em que
habilidade das pessoas para serem eficazes nos encontros social Iticipam. As pessoas sós são geralmente muito ansiosas socialmente, tal
Mo os tímidos, e sentem-se julgadas ou ridicularizadas pelos outros.
3. Terapia de grupo que tem como objectivo aumentar a sensibilida tamentos tais como os de Young (1982) mediante a terapia cognitiva
às outras pessoas. 48 tendem mudar estas atitudes e encorajar a pessoa a envolver-se em

4. Abordagens comunitárias que têm por objectivo aumentar | lividades com outras pessoas, inclusive a revelarem os seus próprios
timentos e emoções. Nas aplicações relativas a este capítulo são referidos
oportunidades das pessoas para a interacção.
S em pormenor alguns dos modos de eliminar a solidão.
As abordagens comunitárias não são muito úteis para as pessoas com défi
em habilidades sociais. Se não se solucionar primeiro o problema subjad
ao «Sai e encontra mais pessoas», isso significa efectivamente «Sai |
rejeitada por mais pessoas» (Duck, 1983).

368 369
Rs edi a CS E E E

8. Variações Interculturais
do facto
a investigação intercultural foi levada a cabo nesta área apesar
comparações interculturais oferecerem novas perspectivas sobre os factores
ais que contribuem para os sentimentos de solidão. Mais especificamente
medida em que condições relevantes variam ao longo das culturas podem
ectir-se nas avaliações quantitativas da solidão.
só sentido.
nctual investigação intercultural disponível não converge num
ias
exemplo, encontrou-se maior solidão entre negros é outras minor
icas (e.g. Cutrona, 1982), se bem que Brennan e Auslander (1979) não
am encontrado diferenças entre negros e brancos nos Estados Unidos.
em
os poucos estudos que conhecemos apontam para uma maior solidão
uras orientais, japonesa e chinesa em particular, que noutras culturas.
em
sim, Schumaker € colaboradores (1993) encontraram maior solidão
íveis
itos japoneses que em sujeitos australianos. Entre os factores suscept
contribuir para esses resultados os autores mencionam investi gação
nbiental e/ou residencial, padrões de interacção social introvertidos e sem
nto-revelação, maiores níveis de neuroticismo, baixos níveis de identificação
as
de implicação religiosa, e práticas de socialização que podem inclinar
essoas japonesas para a solidão. Num outro estudo também se encontrou
ne estudantes japoneses sofrem mais de solidão nas suas relações românticas/
anos
xuais, familiares, de amizade e comunitárias que estudantes americ
earl, Klopf, e Ishii, 1990).
1

Por seu lado Xie (1997) encontrou maior solidão em estudantes chineses
e americanos. O autor avança como explicação para este resultado que a
ultura chinesa enfatiza a família como principal rede de apoio social. Ora
s membros da família escolhem muitas vezes resolver os seus problemas
) interior desta rede antes de procurar ajuda fora. Deixando esta rede, os
dantes podem achar difícil não contar com ela quando deixam a casa da
ja para ir estudar.

Jones, Carpenter, e Quintana (1985) avaliaram a variabilidade intercultural


de correlatos previamente referidos da solidão e determinaram as
Contribuições relativas desses preditores para a experiência da solidão em
estudantes dos Estados Unidos e de Porto Rico. A amostra de Porto Rico
idenciou maior solidão que a dos Estados Unidos e obtiveram-se diferenças
entre as amostras na maior parte das variáveis de personalidade e interpessoais
consideradas. No entanto as correlações da solidão apareceram semelhantes
em ambas as amostras. Tal parece sugerir que a organização geral das
personalidades se generaliza através das culturas, enquanto que os valores
éspecíficos dessas medidas reflectem a influência de variação cultural.

Por seu lado Neto e Barros (no prelo) examinaram se havia diferenças
interculturais na solidão entre adolescentes e jovens adultos de Cabo Verde e

3 73
ERR E

de Portugal. Os resultados não evidenciaram difer . des que nos são agradáveis. Uma outra consequência positiva de se estar
enças nas Pontuações só
solidão nas amostras de adolescentes € de jovens adultos d 3 aumento da nossa habilidade para amar os outros. O estar só
nos dois países e connosco
padrão das variáveis preditoras da solidão eram seme
lhantes nas amos E óprios é uma condição necessária para obtermos auto-conhecimento, para
de Cabo Verde e de Portugal. O neuroticismo apare
ceu como sendo o predi rescermos. Quanto mais auto-conhecimento tenhamos, melhor estamos
mais importante. Verificou-se também que os adolescent
es em ambas reparados para as relações amorosas com os outros.
PST cep preso in do aa Seja como for, se ainda subsistem muitas incertezas no nosso conhecimento
Algumas associações importantes da solidão (e.g.,
extroversão) aparecer obre a solidão (Weiss, 1989), o que é certo é que a partir do livro de Bob
semelhantes entre adolescentes brancos do sexo mascu
lino da Zâmbis eiss «Loneliness: The experience of emotional and social Ea
estudantes dos Estados Unidos (Wilson et al., 1989).
blicado em 1973, considerado por Zich Rubin como a «Bíblia « o
Uma área que recebeu muito pouca atenção nvestigador sobre a solidão» foi suscitado todo um acervo de qo ei
foi a solidão associada
experiência migratória. Tal é particularmente estra Se tradicionalmente este tópico foi evitado, o investigador sobre a solidão j
nho pois a solidão
geralmente referida como uma das consequências das ão é hoje em dia um investigador só (Gardfield, 1986), nem tem de se sentir
transições intercult
ocupando um lugar proeminente nas descrições do choque cultur baraçado ao admitir que está trilhando tais sendas do conhecimento.
al. Numes ui
recente comparou-se o nível de solidão e joven
s portugueses que nur
emigraram e de jovens de origem portuguesa resid
indo em França (Ne
1999b). Não se verificaram diferenças na solidão
segundo c sexo, a idade
participação religiosa e a identidade étnica; mas
encontrou-se um efeil
significativo das atitudes em relação à aculturação
sobre a solidão. Os Jove
de origem portuguesa em França cujas atitudes em relaç
ão à aculturação erar
favoráveis à integração mostraram menos solidão que
os que eram favoráy
à assimilação e à segregação. A solidão estava associada
de modo significati
à experiência de aculturação francesa e à satisfação com
a vida e de mo d
positivo ao stress de aculturação e à ansiedade social
. Os resultados apoiar
como explicações da solidão factores situacionais é pessoa
is. E
Num outro estudo (Neto e Ruiz, 1999) também não
se encontram diferença
estatisticamente significativas entre o nível de solidão de 400
jovens de origer
portuguesa vindos a viver para o norte de Portugal com jovens
que nunc;
emigraram. Todavia os jovens ligados à emigração mais atingidos
pela solidãc
eram aqueles que apresentavam uma identidade mais france
sa, uma menor
identidade portuguesa, que percepcionavam serem reconhecidos
como
migrantes e aqueles que perspectivavam regressar a França.
Ê

Ambos os estudos convergem em apontar que jovens multiétnicos


não se
encontram forçosamente em desvantagem psicológica pelo facto de estarem
na encruzilhada de culturas.
Ee
J
Não podemos concluir este capítulo sem referimos que a solidão nem
sempre,
é algo a ser evitado ou reduzido. Pode acontecer que a solidão se transforme,
numa experiência de crescimento para a pessoa. Um processo de transfor-
mação consiste em fazer com que um estado desagradável de solidão
se
torne um estado agradável. Podemos utilizar o tempo de solidão
como uma
oportunidade para nos darmos prazer a nós próprios enveredando por activi=

374
3 75
A PLICAÇÕES: QUEBRAR OS MUROS DO ISOLAMENTO SOCIAL

A solidão subestima a importância das outras pessoas nas nossas vidas.


Enquanto animais sociais dependemos das outras pessoas para a satisfação
ug e inúmeras necessidades psicológicas de informação. No caso dessas
A ecessidades não serem preenchidas por falta de pessoas com quem se tenham
Jacionamentos amicais ou amorosos, podemos então experienciar todo um
psário negativo de consequências psicológicas e físicas. Estudos da solidão
bém subestimam a nossa resiliência. Mesmo se podemos recorrer à ajuda
rofissional para os nossos problemas, na maior parte dos casos podemos
5)
os nossos próprios recursos para tratar o problema. Se as dificuldades
jas nossas relações podem despoletar a nossa solidão, as nossas relações
à bém podem proporcionar a cura.
Re
4

é necessário todavia um grande esforço para melhorar as nossas interacções


om os outros para ultrapassar a solidão. As pessoas sós tendem a ficar
bsorvidas pelas suas profissões ou a voltar-se para o álcool e as drogas
Revenson, 1981). Algumas pessoas recorrem à música para substituir as
elações interpessoais, mas canções de separação, de ausência de amor e de
isteza podem aumentar a solidão (Davis e Kraus, 1989). Dado que estas
tratégias de confronto podem muitas vezes piorar a situação, duas técnicas
ve têm sido utilizadas com sucesso, e muitas vezes em conjunto, são à
apia cognitiva e o treino das habilidades sociais.

s cognições das pessoas sós e não sós são diferentes. Os auto-esquemas das
Essoas sós suscitam uma atenção selectiva a informação negativa sobre nós
óprios(as), confirmando ou fortalecendo, pois, um autoconceito negativo
'rankel e Prentice-Dunn, 1990). A terapia cognitiva visa modificar essas
benições, muito especialmente em relação a situações sociais. Por exemplo,
Uma pessoa se percepciona como sendo enfadonha, o terapeuta pode
invencê-la que se trata de uma autopercepção incorrecta ou ajudá-la a
Hrigir essa falsa crença de que só as pessoas espirituosas podem fazer
migos. Do mesmo modo se uma pessoa reage a situações sociais sentindo-
embaraçada porque julga que as outras pessoas a estão sempre a avaliar,
Ode aprender que não é o centro da atenção de todas as pessoas.
is mudanças nas cognições têm de se acompanhar de mudanças comporta-
F tais. As pessoas que sentem a solidão não só têm falta de habilidades
ciais apropriadas, como também se sentem ansiosas por não possuirem
Es habilidades (Solano e Koester, 1989). Uma forma de treino de
bilidades sociais é expor as pessoas sós que desempenham papéis com

37 7
Fe Te
RPE

sucesso do ponto de vista interpessoal em vídeo.A pessoa pode também pratics


habilidades sociais numa situação não ameaçadora e ver os resultados en SUMÁRIO
vídeo. Interacções específicas, tais como iniciar uma conversa podem se e.
prescritas e ensaiadas. Por vezes as habilidades necessárias são mui
específicas, tais como falar facilmente ao telefone, cumprimentar ou melhor
“A solidão é uma experiência comum. E um sentimento penoso que se tem
a aparência física. | relações sociais que desejamos e o
quando há discrepância entre o tipo de
E à ici
rent que mostra que os participantes
Há á um corpo crescente de investigação ne ) sido avançadas diversas formas de
tipo de re lações sociais que temos. Têm
idão: ansiedade
* solidão: ansi Polo e a
-solidã i ra EEE e
: pede petrsonalidade
exercícios de treino melhoram as suas habilidades sociais e aumentam,
nível de satisfação social (Bulkeley e Cramer, 1990). Numa dessas int “estado psicológico; solidão social e emocional.
venções ensinou-se a um grupo de estudantes universitários a aumenta constelação de sentimentos associados à solidão.
sua atenção pessoal para com mulheres estranhas durante uma série
"A solidão tem sido conceptualizada de diversas maneiras. Entre elas
interacções diádicas (Jones, Hobbs, e Hockenbury, 1982). Em primeiro lug y
aos estudantes sós era-lhe dada informação sobre a importância de prest; salientam-se as abordagens psicodinâmicas, fenomenológicas, existen-
atenção às outras pessoas na conversação, e em seguida interagiam indiy cialistas, sociológicas, interaccionistas e cognitivas. Apesar desta diversidade
dualmente com quatro mulheres em conversas sucessivas de cinco minuto de abordagens parece existir um consenso sobre a sua dimensão temporal,
À seguir a estas quatro interacções diádicas, os estudantes sós eram instruído * podendo sentir-se a solidão em relação ao passado, ao presente e ao
sobre como fazer perguntas, como se referir às interlocutoras enqua nt — futuro.
falavam com elas, e como discutir tópicos de interesse para elas. O trein
“A solidão pode ser avaliada segundo uma abordagem unidimensional ou
consistiu na modelagem, na interacção prática e na retroacção. Os estudante
multidimensional. A Escala de Solidão da UCLA é encarada enquanto estado
sós, em comparação com dois grupos de controlo de estudantes sós que nã psicológico e apreendida de modo unidimensional. Esta escala tem-se
receberam instrução na atenção pessoal, que foram treinados referiram sent
mostrada altamente fidedigna e e válida para avaliar a solidão e para
menos solidão, estarem menos autoconscientes e serem menos tímidos. . discriminar entre solidão e outros construtos relacionados. A escala foi
O ênfase colocado em habilidades específicas em muitos programas de trein adaptada para a população portuguesa e as suas características psicométricas
EO...
de habilidades sociais são mais indicadas para facilitar a iniciação « são satisfatórias.
interacção de relações sociais. Mas muito embora se trate de um ponto d
Há certos grupos de pessoas que são mais vulneráveis à solidão: os jovens,
partida necessário para pessoas isoladas socialmente, é também importante
as pessoas separadas, viúvas e filhos de casais divorciados.
para essas pessoas a aprendizagem de habilidades para aprofundar as relaçõe:
e ultrapassar conflitos interpessoais. Num estudo em que as pessoas foram À solidão resulta de factores situacionais e de características pessoais. Entre
expostas a diferentes tipos de programas de treino foi mostrado que pessoas * os factores situacionais que podem contribuir para sua emergência assinale-
tímidas e que evitavam as outras que recebem uma combinação de treino -se a diminuição de contacto social, o estatuto social em disponibilidade,
habilidades sociais e de relaxamento mostraram melhoras significativas né perca relacional, redes sociais inadequadas, novas situações, barreiras
seu funcionamento social na comunidade que as que só receberam o treini indirectas ao contacto social, fracasso e factores temporais. Características
em relaxamento ou que não receberam nenhum treino (Cappe e Alden, 1986) pessoais como a depressão, o autoconceito, a auto-estima, a timidez,
Uma avaliação três meses depois indicou uma proporção maior das pessoas * habilidades sociais e a atracção física também podem suscitar a solidão.
que tinham recebido treino de habilidades sociais referindo ter havido mudanças;
sociais significativas nas suas vidas. 4 Às próprias explicações das causas da solidão podem desempenhar um papel
crítico para determinar como é que se sentem as pessoas sozinhas. À partir
Os efeitos destes esforços podem ser notáveis, mesmo num curto período de
da análise de duas dimensões das atribuições (locus de causalidade e
tempo. Uma vez que a pessoa solitária pensa sobre as situações sociais * estabilidade da causa) pode ser mostrado que a solidão mais severa surge nas
uma nova maneira, aprende a interagir melhor com as outras e muda os seu
pessoas que fazem atribuições estáveis e intemas e as pessoas que são capazes
estilos interpessoais, os êxitos interpesoais que daí resultam podem queb a de se confrontar mais activamente fazem atribuições instáveis e internas.
os muros da solidão. 4

378 379
E TE
eA TT
REINOS

Há diversos modos de confronto com a solidão. As pesso


as quando estão s
podem confrontar-se com uma passividade triste, uma solidão
gasto de dinheiro e com o contacto social.
activa, com, ARA IR MAIS LONGE
Êo
Há três abordagens gerais de confronto com a solidão: reduzir à
necessi
de contacto social, aumentar a quantidade e a qualid
ade de contactos m a JANNOUN, M.
e reduzir o fosso entre os níveis desejados e realizados de contac
to so, 1991 — Nos solitudes. Paris: Editions du Seuil.
Recentemente têm sido desenvolidos programas de tratamento da de
crónica. O treino de habilidades sociais e a reestruturação cognitiva A partir de inúmeros testemunhos o autor expõe os factores associados
pod à solidão e faz-nos descobrir as variedades de comportamento e de
aliviar de modo eficaz a solidão. À
+
reacções a este sentimento.
A escassa investigação intercultural levada a cabo não é consistente. Par
no entanto que pessoas chinesas e japonesas referem mais a solidão « ALSON
ssoas americanas. 5 i én 208 :
pe as. Também se encontra que jovens multién; icos não sof Êo 1964 Les enfants sauvages. Paris: Union Générale d' Editions.
f i da,

iron cas Esta obra chama a atenção para os efeitos do abandono e do isolamento
pi
Nem sempre a solidão é algo a ser evitado ou atenuado, pois pode proporci em «crianças selvagens». É relatado, em particular, o caso da criança
uma experiência de crescimento para a pessoa. M selvagem de Aveyron.

PLAU, L. A. e PERLMAN, D. (Fds.)


1982 Loneliness: A sourcebook of current theory, research and therapy.
New York: Willey Interscience.
É apresentado um conjunto de artigos sobre teoria, investigação €
aplicação clínica sobre a solidão.

380 381
ACTIVIDADES PROPOSTAS

Se naufragasse numa ilha deserta, até que ponto ficaria aborrecido(a) p A


ausência de companhia humana? Ke

Já se sentiu s6? Quando? O que é que suscitou este sentimento e o qu


levou a acabar? Vimos haver dois aspectos na solidão: a solidão sociz a
solidão emocional. Quando se sentiu só, experienciou solidão social
emocional? |

Tente agrupar as definições apresentadas no documento 10.1 segund C


bases téoricas em que assentam (necessidade de intimidade, process
cognitivos, reforço social insuficiente).

Indique como é que solidão pode ser medida e quando é que a solid
atinge o seu apogeu.

Porque é que a solidão ocorre?

382
SOdNAO IAH OLNHIA VLHOdINOO “TX
491
TÁBUA DE MATÉRIAS

XI. COMPORTAMENTO EM GRUPOS

|. Introdução

E A natureza dos grupos

2.1 O que é um grupo?

EE2 Diferentes tipos de grupos


E Porque é que as pessoas se juntam em grupos?
2.4 Grupos e tempo

Influência da presença de outras pessoas

3.1 A presença de outras pessoas afecta o esforço


E A presença de outras pessoas aumenta a activação
e A presença de outras pessoas pode causar distração e apreensão
da avaliação

34 Tentativa de integração

Características dos grupos

4.1 Estrutura do grupo


4.2 Coesão
4.3 Comunicação

Interacção em grupos

õ.1 Produtividade do grupo


5.1.1 Análise das tarefas de grupo
5.1.2 Preguiça social
5.2 Tomada de decisão em grupos
5.2.1 Pensamento grupal
5.2.2 Polarização da interacção grupal

493
Liderança Objectivos:

6.1 O que é a liderança? * Compreender a natureza dos grupos;


6.2 Perspectiva contingente da liderança
* Identificar os tipos de grupos que existem;
6.3 Consistência na liderança
* Descrever porque é que as pessoas se juntam em grupos, como se
6.4 Cultura e estilos de liderança
tornam seus membros e qual é o processo de socialização grupal,
+ 5 Poder
* Examinar se a mera presença de outras pessoas influencia o compor-
tamento humano;
Grupos na sociedade
« Identificar os factores que influenciam a produtividade do grupo;
71 Famílias

7.2 Grupos experienciais * Explicar o que é a preguiça social;

+ Examinar processos de tomada de decisão em grupos;


Aplicações: Equipas de trabalho
* Averiguar a natureza da liderança;
Sumário
* Compreender diferentes tipos de poder.
Para ir mais longe

Actividades propostas

494 495
ogINponuT “T |
Who built the seven gates of Thebes?
In the books are listed the names of kings.
Did the kings heave up the building blocks?

Bertoid Brecht

O nosso planeta tem não só cinço biliões de pessoas, como também tem
cerca de 200 Estados-nações, 4 milhões de comunidades locais, 20 milhões
de organismos económicos e centenas de milhares de outros grupos. Todos
nós somos membros de grupos que exercem uma influência enorme nas
nossas vidas. À maior parte de nós nasceu num grupo familiar, passou grande
parte da infância em interacções com pais e irmãos. Quando nos aventuramos
por um mundo social mais amplo inserimo-nos em novos grupos, porventura
para jogar, para a catequese ou para estudar. Já como jovens adultos podemos
ter oportunidade de aderir a grupos de trabalho, a partidos políticos ou a
outras organizações. Qual é a influência de grupos sobre os seus membros?

Imagine-se que cinco pessoas que não se conheciam previamente ficam


fechadas num ascensor entre dois andares. Começam então a comparar as
suas reacções, a partilhar histórias das suas vidas e a esboçar um plano de
acção para sair do ascensor. Neste caso os indivíduos estão inseridos num
grupo de pessoas e os seus comportamentos são influenciados pelo grupo.
Neste exemplo já não se está meramente focalizado no indivíduo, mas no
comportamento de um certo número de pessoas. Para muita gente tal
representa a essência da psicologia social. Acontece, no entanto, que muitas
vezes os psicólogos sociais preferem trabalhar ao nível do indivíduo, tendo
mais em conta as percepções de cada pessoa, as crenças e os comportamentos
e não tanto a interacção que ocorre nos grupos. Certos psicólogos sociais
foram ao ponto de considerar que os grupos não são reais. Floyd Allport
(1924) afirmara que «ninguém tropeçara alguma vez num grupo», o que
implica que os grupos são ilusórios, só existem na mente das pessoas. Para
Allport os grupos não são mais do que conjuntos partilhados de valores, de
pensamentos, de hábitos que existem simultaneamante nas mentes de várias
pessoas. Já outros autores defenderam que os grupos têm limites tangíveis
(Knowles, 1973) e que são entidades que deveriam ser tratadas como objectos
unitários no nosso meio (Warriner, 1956). Por exemplo, as investigações
experimentais de Sherif (1936) pelo recurso ao efeito autocinético não
demonstram que em grupo as pessoas fazem convergir o seu julgamento
para uma norma comum ao grupo, que esta norma orienta o comportamento
das pessoas mesmo quando já não estão na presença do grupo e que a soma
dos julgamentos individuais não permite chegar ao julgamento colectivo das
pessoas reunidas em grupo? Tocamos aqui um problema central da psicologia
Social enquanto disciplina científica. O estudo da psicologia dos grupos tem

499
necessidade de recorrer a uma abordagem teórica e metodológica diferente
da do estudo da psicologia dos indivíduos? Esta questão ainda suscita hoje.
em dia vivo debate (Brown, 1988, Steiner, 1972; Tajfel, 1972).

Há efectivamente um certo número de perspectivas que se podem adoptar


sobre a influência de mais de uma pessoa numa situação. Muito embora os
psicólogos sociais estudem os grupos há mais de 50 anos, os investigadores
ainda estão explorando activamente as influências mútuas de grupos e de
indivíduos que os formam (Visscher, 1991). Neste capítulo exploraremos a
noção de grupo, bem como as mudanças psicológicas que se produzem quando
as pessoas se encontram em grupo. Abordaremos mais as relações intragupos,
isto é, o que se passa entre os membros de um grupo social. Já as relações
entre membros de grupos diferentes (relações intergrupos) são abordadas
noutros capítulos. E

ES

2. A Natureza dos Grupos

500
21 O que é um grupo?

As definições de grupo variam e, por vezes, contradizem-se umas às outras,


ou são quase ininteligíveis, ou não se parecem nada com o que geralmente
— pensamos quando utilizamos a palavra grupo. No documento 12.1 são
apresentados alguns exemplos de definição. Nas definições aí referidas
O
transparece já uma variedade de conceptualizações de um grupo. Os grupos
são definidos muitas vezes por factores que fazem com que uma colecção de
[ indivíduos se juntem, tais como a interacção e a comunicação entre os seus
membros, e objectivos partilhados e normas.

*Porexemplo, a definição de Johnson e Johnson (1987) enfatiza sete aspectos


— principais. O grupo é:
í
A 1. Uma colecção de indivíduos que estão a interagir uns com os outros.

2. Uma unidade social que tem duas ou mais pessoas que se percepcionam
como pertencendo a um grupo.

3, Umacolecção de indivíduos que são interdependentes.

4. Uma colecção de indivíduos que se juntam para realizar um objectivo.

5. Umacolecção de indivíduos que estão a tentar satisfazer algumas das


suas necessidades através da associação conjunta.

6. Uma colecção de indivíduos cujas interacções estão estruturadas por


um conjunto de papéis e de normas.

7. Uma colecção de indivíduos que se influenciam uns aos outros.

Documento 12.1 — Definições de grupo


Smith (1945);
E «Podemos definir um grupo social como uma unidade que consiste
BE num número plural de organismos (agentes) separados tendo uma
pe percepção colectiva da sua unidade e a capacidade de agir/ou estar a
P: agir de modo unitário em relação ao seu meio.»

St erif e Sherif (1956):


«Um grupo é uma unidade social que consiste num número de
indivíduos com (mais ou menos) estatuto definido e relações de papel

503
de uns em relação aos outros estabelizadas em certo grau no tempo e
22 Diferentes tipos de grupos
que possuem um conjunto de valores ou normas do seu próprio modo
de regular o comportamento dos membros individuais, pelo menos
em assuntos com consequências para o grupo.» Os esboços de definição que se apresentaram podem aplicar-se melhor ou
pior segundo o tipo de grupo que se estuda. Existem efectivamente diferentes
Sprott (1958): tipos de grupos. A maior parte ou talvez todas as culturas têm endogrupos,
grupos a que as pessoas pertencem e exogrupos, grupos a que não pertencem.
«Um grupo, no sentido sócio-psicológico, é uma pluralidade de pessoas
János referimos a estes conceitos no capítulo 6. Mesmo durante períodos em
que interagem com as outras num dado contexto mais do que interagem
que grupos viveram em total ou quase total isolamento havia os conceitos de
com qualquer outra pessoa.»
«nós» OU «a nossa gente» e «outros».
Bass (1960):
Na literatura científica encontra-se com frequência a distinção entre grupo
«Definimos “grupo” como uma colecção de indivíduos cuja existência formal e grupo informal. O grupo formal é um grupo «que tem por função
como uma colecção é recompensadora para os indivíduos.» desempenhar um trabalho específico e bem definido» (Maillet, 1988, p. 297).
Geralmente é formado pela direcção de uma organização que estabelece as
Johnson e Johnson (1987): normas de rendimento, o objectivo e o estatuto dos seus membros. Pelo contrário,
«O grupo é constituído por dois ou mais indivíduos em interacção
o grupo informal desenvolve-se de modo natural tendo em conta preferências ou
interesses comuns. A adesão ao grupo informal é voluntária, não resultando de
face a face, cada um consciente da sua qualidade de membro do grupo,
cada um consciente de outros que pertencem ao grupo e cada um uma nomeação como no caso do grupo formal. As investigações clássicas de
consciente das suas interdependências positivas quando se empenham Elton Mayo na sociedade Western Electric de Hawthorne em Chicago que
em realizar objectivos mútuos.» começaram nos anos vinte confirmaram que os grupos informais tinham tanto,
senão mais influência que os grupos formais. Mais perto dos nossos dias são
também, entre outras coisas, a influência e o papel dos grupos informais que
distinguem as empresas americanas mais produtivas (Peters e Waterman, 1982).
Uma outra distinção relativamente importante é a que é feita entre o grupo
Nenhuma dessas definições reflecte os fenómenos intergrupais observados primário e O grupo secundário. O grupo primário é composto por pessoas
nas experiências com grupos mínimos. Nestas experiências não há interacção com quem temos contactos regulares, pessoais e íntimos, como com a nossa
entre os membros do grupo, nem interdependência, nem estrutura. Há, no família ou com os nossos amigos (Van der Zanden, 1987). Ao invés, o grupo
entanto, diferenciação intergrupal. Nenhuma das definições aí apresentadas secundário é composto por um conjunto de pessoas habitualmente maior, com
dão conta de tal. É que o paradigma do grupo mínimo suscita uma mudança contactos mais esporádicos entre eles e num contexto mais oficial e impessoal.
na conceptualização de um grupo. Já nesta via Tajfel e Turner (1986, p. 15) A universidade, a fábrica, a caserna são exemplos de grupos secundários.
conceptualizaram o grupo «como uma colecção de indivíduos que se Outra distinção, utilizada com muita frequência em psicologia social, é entre
percepcionam como membros da mesma categoria social, partilham algum Os grupos de pertença e os grupos de referência. Pensou-se durante muito
envolvimento emocional nesta definição comum deles próprios, € realizam tempo que os grupos a que pertencemos influenciam as nossas atitudes e os
algum grau de consenso social sobre a avaliação do seu grupo e dos seus nossos valores. Já pode não parecer tão óbvio considerar-se que os grupos de
membros nele.» De um modo mais sucinto e básico Brown (1988, p. 2-3) que não fazemos parte podem influenciar-nos. Os grupos de referência, con-
considera que «um grupo existe quando duas ou mais pessoas se definem ceito introduzido por Hyman em 1942, são os que uma pessoa adopta como
como membros dele ou quando a sua existência é reconhecida pelo menos
quadro de referência para os seus comportamentos, atitudes ou valores. Muitas
por algum outro.» É facilmente perceptível tratar-se de uma conceptualização Vezes, o grupo de referência de uma pessoa é também um grupo de pertença
cognitiva. Segundo esta última definição um grupo existe quando é visto
(Sherif, 1953). Por exemplo, para um padre operário que adopte o modo de vida
existir pelos seus membros, bem como pelo menos por um membro de fora do de pessoas pobres, que habite num bairro de lata e que tenha poucas condições
grupo. Mas esta definição também não é uma solução perfeita. Não abarca, económicas, os pobres constituem o seu grupo de referência e também faz parte
por exemplo, sociedades secretas que se vêm a si próprias como grupos, mas deste grupo. Pode todavia acontecer que os grupos de referência podem ser grupos
que não são reconhecidas como tais por pessoas de fora. de que não se faz parte, mas que servem de modelo e aos quais se aspira pertencer.

504 505
FEED Res

2.3 Porque é que as pessoas se juntam em grupos?

Uma das questões fundamentais no estudo da psicologia dos grupos diz respeito
a explicações da formação de grupos. Porque é que nos juntamos em grupos?
Existem dois motivos gerais. Em primeiro lugar, uma pessoa pode juntar-se a
um grupo em vista aatingir objectivos que não poderia atingir trabalhando só,
tais como projectos de amelhoramento da comunidade, perservação da defesa
nacional ou manutenção de vários serviços governamentais. Foi sugerido haver
três objectivos principais que podem ser atingidos pelos grupos (Mackie e
Goethals, 1987). Objectivos utilitários que se relacionam com necessidades
do grupo em dinheiro, realização, influência, etc. Objectivos de conhecimento
que se relacionam com a obtenção de informação, de conhecimento ou de um
consenso partilhado sobre a realidade entre os membros de um grupo (Festinger,
1950). Os grupos podem também ajudar os membros a obter uma identidade
social (Turner e Oakes, 1989). Os grupos fornecem à pessoa uma definição
reconhecida de modo consensual e uma avaliação de quem se é, como se deve
comportar e como será tratada pelos outros. Propicia assim uma redução na
Os grupos informais têm a sua razão de existir, mesmo se é para divertimento. incerteza subjectiva. Para além disso, dado que nós e os outros nos avaliamos
tendo em conta a atractividade relativa, a desejabilidade e o prestígio dos grupos
a que pertencemos, estamos motivados a juntarmo-nos a grupos que são
avaliados positivamente de modo consensual e que propiciarão uma identidade
social positiva.
Enfim, pode revestir-se de utilidade distinguir os grupos tendo em conta o seu
tamanho. Fala-se de grupo restricto no caso de um grupo relativamente bem Em segundo lugar, os grupos podem constituir modos de satisfazer
estruturado, composto por um número pequeno de pessoas com contactos necessidades humanas e de obter recompensas sociais, tais como aprovação,
face a face de modo mais ou menos regular (Anzieu e Martin, 1976). Ao pertença, prestígio, elogio, amor ou amizade. Pessoas que pertencem a grupos
invés, recorre-se ao conceito de categoria social ou de multidão para designar da Igreja, sentem-se bem em ser membros do grupo e recebem afeição de
um grupo muito grande relativamente pouco estruturado, composto por outros membros do grupo. Outros grupos também podem ser úteis como fontes
centenas ou por milhares de pessoas em que não existem interacções face a de informação ou para ajudar a reduzir o medo em contextos de stress. Nalgumas
face entre os seus diferentes membros (Anzieu e Martin, 1976; Brown, 1988). experiências relevantes em psicologia social Schachter (1959), como já se
Os migrantes, as mulheres, os ricos são categorias sociais; ao passo que à expôs, encontrou que as pessoas que estavam com medo porque pensavam
família, um grupo terapêutico, constituem grupos restrictos. que iam sofrer um doloroso choque eléctrico, preferiam esperar mais com
outras pessoas que sós. Schachter sentiu que estar com outras pessoas permitia
Não existem fronteiras nítidas entre estes tipos de grupos na prática. Por a redução da ansiedade acerca do choque aguardado.
exemplo, antropólogos que descreveram numerosas comunidades que são
organizadas em agrupamentos pequenos, instáveis e móvies com cerca de
50 pessoas, cujos membros partem regularmente para'se juntarem a outros
agrupamentos e mais tarde regressam (Murdock, 1949). Em tais comunidades
não é clara a distinção que possa ser feita entre grupos primários, secundários, 2.4 Grupos e tempo
ou de referência.

Os grupos mudam com o tempo à semelhança do que acontece com todos os


seres vivos. Novos membros aderem ao grupo e outros deixam-no. O grupo
pode tornar-se mais coeso ou começar a perder a sua unidade.

506 507
og O TE

aid
Quadro 12.1 - Cinco estádios do desenvolvimento de um grupo

Estádio Principais processos Características

Troca de informação; aumento de | Tentativa de interacções; con-


Orientação
(formação) dependência; tarefa de explo- | versas educadas; auto-revelação
ração; identificação

Desacordo nos procedimentos; | Crítica de ideias; hostilidade;


Conflito
(tempestade) expressão de insatisfação; res- | fracionamento
posta emocional; resistência

Crescimento da coesão e unidade; | Acordo nos | procedimentos;


Organização
(norma) estabelecimento de papéis, de pa- | redução da ambiguidade; aumento
drões e de relações da coesão

Tomada de decisão; solução de


Realização Realização do objectivo; elevada
orientação para a tarefa; ênfase na problemas; cooperação mútua
realização e na produção

Cessamento dos papéis; acaba- | Desintegração e afastamento;


Dissolução
Uma equipa na produção de um programa de TV, como esta, desenvolve uma (encerramento) mento das tarefas: redução da | aumento da independência
colaboração interdependente mediante prática e relação com outros técnicos. dependência

Fonte: Tuckman e Jensen, 1977.

Tais mudanças seguem no entanto um padrão previsível. Na maior parte dos


grupos, levanta-se o mesmo género de questões ao longo do tempo. Uma vez
resolvidas essas questões, o grupo pode continuar o seu desenvolvimento. O s
O processo pelo qual as pessoas progridem desde recém-chegadas até membro
desenvolvimento do grupo envolve muitas vezes cinco estádios (Tuckman é
plenos de um grupo denomina-se de socialização grupal. Este processo de
Jensen, 1977), como se pode ver no quadro 12.1. Na fase de formação, os escola,
socialização grupal foi estudado em variados contextos, tais como na
membros do grupo orientam-se uns em relação aos outros, Na fase de
na igreja, no local de trabalho. Foi proposto que este processo implica cinco
tempestade, os membros do grupo entram em conflito uns com os outros e é
fases psicológicas principais (Moreland e Levine, 1982). Em primeiro lugar,
procurada uma solução para melhorar o ambiente do grupo. Na fase da norma,
indivíduo e grupo avaliam-se mutuamente, durante um processo denominado
desenvolvem-se padrões de comportamento e papéis que regulam o
de investigação. Em resultado da avaliação, o grupo pode decidir aceitar
comportamento. Na fase de realização, o grupo atingiu o ponto em inicialmente o indivíduo como membro, no caso do indivíduo também decidir
que pode trabalhar como uma unidade para realizar os objectivos desejados. ter interesse em juntar-se ao grupo.
A fase do encerramento termina a sequência de desenvolvimento: o grupo
dissolve-se. Neste estádio o recém-chegado entrará no grupo (entrada) é começará um
período de socialização em que o grupo tenta ajudar O indivíduo a tornar-se
Os indivíduos também experienciam mudança quando passam pelo grupo.
membro pleno do grupo. Vários modos podem facilitar a aceitação dos recém-
Não nos tornamos membros completos de um grupo instantaneamente.
chegados pelo grupo (Moreland e Levine, 1989). Em primeiro lugar, o recém-
Fazemos gradualmente parte do grupo, permanecemos no grupo €
chegado deveria obter tanta informação quanta possível. O recém-chegado
eventualmente deixamos o grupo. deveria também tornar-se um membro aceitável do grupo sendo passivo,
ajuda
dependente e conformista com as normas. Deveria também procurar a
de outros membros do grupo no processo de socialização. Enfim, o recém-
que O
-chegado deveria trocar informação com outros recém-chegados para
processo de socialização se torne mais fácil.

508 509
Também há algo que o grupo pode fazer para ajudar o recém-chegado a
adaptar-se ao grupo. Em primeiro lugar, o grupo deveria tentar recrutar pessoas |
susceptíveis de serem compatíveis com o grupo. O recurso a procedimentos
de iniciação e o fornecimento de treino consistente sobre o grupo também são
métodos importantes.

Se tudo corre bem e quer o recém-chegado quer o grupo continuam a estar Membro
Prospectivo | Novo Membro | Membro pleno Membro
Marginal Ex. Membro
satisfeitos mutuamente, a aceitação plena de membro do grupo pode ser o
resultado. A pessoa é então um membro pleno do grupo e tem um forte
compromisso com o grupo (manutenção). Todavia, devido a um certo número
de motivos, uma pessoa pode perder o interesse em ser membro de um grupo,
Por exemplo, certos membros podem envolver-se em conflitos com outros
membros do grupo. Neste estádio podem ser considerados marginais ou
membros inactivos do grupo (divergência). A não ser que se efectuem

OLNIWIATOANA
tentativas durante uma fase de ressocialização pata aumentar o compromisso
do indivíduo, essa pessoa pode eventualmente sair do grupo e entrar numa
fase de aceitação do seu estatuto de ex-membro, chamada de lembrança.
Estas diferentes fases estão condensadas na figura 12. 1 que ilustra o percurso
de um indivíduo tipo em qualquer grupo. É óbvio que este percurso pode ser
muito diferente e o modelo não delineia uma ordem precisa em que os estádios
da socialização são alcançados nem a necessidade de passar pelos cinco
estádios propostos. Estas investigações apresentam, no entanto, um quadro
que permite analisar as influências recíprocas do grupo no indivíduo e do
indivíduo no grupo.

Este modelo de socialização grupal pode aplicar-se a quase toda a espécie de Investigação | Socialização | Manutenção | Ressocialização | Lembrança
grupos, desde formais a informais, desde grandes a pequenos, desde com Entrada Aceitação Divergência Saida

curta duração ou longa. Se bem que a duração dos diferentes estádios e as TEMPO 3
formas dos vários pontos de transição possam variar, o modelo apreende
aspectos importantes da socialização grupal.

Até que ponto este modelo dá conta das experiências que tem nos vários
grupos em que participa? Sem dúvida que muitas das pessoas leitoras deste Versão simplificada do modelo de socialização em pequenos grupos de
texto estão actualmente associadas a um certo número de grupos diferentes Moreland e Levine (1982). Os membros do grupo passam por
diversas fases implicando simultaneamente diferentes graus de envolvimento
e estão em diferentees fases de socialização grupal no seu seio. Um certo
e transições de papel.
número de processos psicossoais que se expuseram nas diferentes fases da
socialização grupal, tais como influência maioritária e minoritária, foram
discutidos em capítulos anteriores. Talvez tivesse notado que a dinâmica da Figura 12.1 — Estádios da socialização grupal.
“socialização grupal tem uma grande semelhança com a dinâmica das relações
românticas discutidas no capítulo 9. Efectivamente as relações românticas
constituem um tipo de grupo, a díade íntima.

510 511
ET rp oro OCT TERA REIESTECESSESO SPEA E

3. Influência da Presença de Outras Pessoas


a —
EGO E

Uma das primeiras questões levantadas pelos psicólogos sociais foi a seguinte:
qualéo efeito da presença de outras pessoas no comportamento do indivíduo?
A resposta não é simples. Por vezes as pessoas executam melhor quando
outras pessoas estão presentes, enquanto que outras vezes executam pior. À
presença de outras pessoas pode afectar a realização de três modos gerais:
mediante a quantidade de esforço desenvolvido, o aumento da activação, e a
influência de factores cognitivos, tais como a distração e a apreensão em ser
avaliado.

3.1 A presença de outras pessoas afecta o esforço

Relembre-se que Triplett (1898), um dos primeiros psicólogos sociais,


interessou-se pelas corridas de bicicleta. Viu que os corredores de bicicleta
iam geralmente mais depressa quando corriam com um adversário ou com
uma equipa que quando corriam sós em contra-relógio. Para testar
experimentalmente o efeito da presença de outras pessoas sobre a realização,
Triplett deu a crianças a tarefa de enrolar fio de pesca tão depressa quanto
possível, quer sós quer com outras crianças. Como se previa, as crianças
trabalhavam mais depressa com outras crianças (co-actores) do que quando
trabalhavam sós.

Floyd Allport (1924) sugeriu que o aumento de actividade na presença de


outros co-actores era devido a dois factores: rivalidade e facilitação social.
A rivalidade refere-se ao aumento de motivação e de esforço por causa da
competição (certamente um factor central na corrida de bicicleta) e a
facilitação social refere-se a estimulação simplesmente por se ver ou ouvir
movimentos semelhantes de outras pessoas (como pode ser o caso de correr
com uma equipa durante o treino).

Se bem que os grupos possam realizar mais que os indivíduos, por vezes os
membros de um grupo podem dispender menos esforço do que o fariam
individualmente. Latané e seus colegas (Latané et al., 1979) denominaram
este efeito de preguiça social que abordaremos mais adiante.

3.2 A presença de outras pessoas aumenta a activação

É de importância fazer a distinção entre trabalhar muito e realizar bem. A


mvestigação mostra que as pessoas trabalharão muito quando outras estão
presentes e a contribuição dos indivíduos possa ser identificada. Mas trabalhar
Pica CEpa EC ROSES

muito não garante só por si um resultado com sucesso. Zajonc (1965) propôs outrém que leva sempre ao aumento da resposta dominante, é negativo. Neste
uma teoria que explica quer os efeitos positivos quer os negativos da presença caso o rendimento piora com a presença de outrem. Por conseguinte, esta
de outras pessoas sobre o rendimento individual. Segundo esta teoria (Figura teoria explica porque é que o grupo pode levar o indivíduo a melhorar o
12.2) a presença de outras pessoas leva em primeiro lugar ao aumento do rendimento ou a deteriorá-lo.
nível de activação ou de motivação do organismo. Para Zajonc está-se perante
uma reacção inata e, por conseguinte, com uma base biológica. Por exemplo, O efeito da facilitação social encontrou-se mesmo numa situação de jogo de
os atletas de alta competição quando estão na linha de partida antes da corrida bilhar como se ilustra no documento 12.2.
sentem uma tensão particular.
Uma meta-análise de 241 estudos encontrou apoio parcial para a teoria de
Zajonc (Bond e Titus, 1983).

Quando a resposta Melhoramento


dominante é uma
do rendimento
boa resposta

: Aumento da
[ tendência
Documento 12.2— Facilitação social na sala de jogar bilhar

Já alguma vez jogou bilhar? O que lhe aconteceu quando alguém o estava a
Presença de outrem
Ativação [-—p» a dar uma resposta observar? Segundo a teoria da facilitação social, a realização melhoraria se é
(auditório ou coacção) [|
dominante um bom jogador e pioraria se é um jogador medíocre. Michaels e os seus

y
Quando a resposta
colegas testaram esta predição (Michaels, Blommel, Brokato, Linkous, e
Rowe, 1982). Durante a fase inicial deste estudo, observadores viam
discretamente a acção e identificavam pares de jogadores que estavam ou
Deterioração
dominante é uma
do rendimento acima ou abaixo da média. Durante a segunda fase, equipas com quatro
má resposta observadores ficavam perto da mesa onde um dos pares estava a jogar e
observavam o jogo. Seis pares diferentes de jogadores acima da média e seis
Figura 12.2 — A teoria da facilitação social segundo Zajonc. Adaptado de Zajonc (1965).
pares diferentes de jogadores abaixo da média eram observados deste modo.

A presença de observadores introduziu alguma diferença? A resposta é


positiva e precisamente no sentido previsto pela teoria da facilitação social.
Todavia a grande ingenuosidade da explicação situa-se ao nível das presumíveis
Os jogadores acima da média aumentaram as tacadas certas de 71% quando
consequências deste nível de activação. Apoiando-se nas investigações sobre
não estavam observados de perto para 80% quando os membros do grupo
a aprendizagem, Zajonc observou que o aumento do grau de activação aumenta
estavam ao pé. Em contraste, os jogadores abaixo da média obtiveram piores
a probabilidade de se manifestarem respostas dominantes. No reportório de
comportamentos de cada organismo há respostas dominantes, isto é, comporta- resultados, as tacadas certas descendo de 36% para 25%.
mentos com fortes probabilidades de serem adoptados numa determinada
situação. Estas respostas dominantes podem ser em certos casos boas respostas,
ou seja, respostas correctas. Mas também podem ser respostas más. Por
conseguinte, se em relação a determinada tarefa, a resposta dominante de
determinado organismo é uma boa resposta, o efeito da presença de outrem
que é de aumentar esta resposta dominante, será positivo. Neste caso o rendi-
mento melhorará com a presença de outrem. Todavia se, em relação a esta
mesma tarefa, a resposta dominante de outro organismo é um erro, o efeito de

516 57
E
3.3 A presença de outras pessoas pode causar distração e apreensão Cottrell previu que os observadores tornam-nos inquietos da avaliação que vão
da avaliação fazer de nós. Para verificar a existência desta apreensão da avaliação, Cottrell e
seus colegas (1968) repetiram a experiência de Zajonc e Sales (1966) sobre sílabas
Imagine que é um dos jogadores de bilhar descritos mais acima. Quando se desporvidas de sentido acrescentando-lhe uma terceira situação. Nesta situação de
tornou consciente de que tinha um público, poderia sentir duas tendências em «simples presença», os observadores, apresentados como estanto a preparar uma
conflito: prestar atenção à tarefa (o jogo do bilhar) ou ao público. Houve quem experiência sobre a percepção, tinham os olhos vendados para os impedir de avaliar
propusesse que a presença de outras pessoas produz facilitação social através o rendimento dos participantes. Em contraste com o efeito que produz uma
da distração (Baron, Moore, e Sanders, 1978: Sanders, 198 1). Estar na presença audiência observadora, a mera presença destas pessoas com os olhos tapados não
de outras pessoas distrai. Se é fácil ver como estar distraido pode impedir a amelhorava as respostas predominantes. Noutras experiências confirmou-se a
realização numa tarefa complexa - metade do fenómeno de facilitação social - conclusão de Cottrell de que o amelhoramento das respostas predominantes é
como é que estar distraído conduz a uma melhor realização numa tarefa mais marcado quando as pessoas pensam que são avaliadas.
simples? A resposta sugerida é que os sujeitos distraídos tentam com mais
Bond (1982) defende que as pessoas com um público executam melhor uma
firmeza (para se sobrepor à distração). Esta tentativa com firmeza tende sem
tarefa simples porque as pessoas querem dar a impressão certa, querem aumentar
dúvida a aumentar a sua realização, mas o estar distraido tende a diminui-la,
a sua estima perante os outros, uma perspectiva próxima da de Cottrell. Tal é
Nas tarefas simples o aumento de maior esforço é um efeito maior que a
suficiente para dar conta do aumento na realização de tarefas simples, e no caso da
diminuição de estar distraido, por isso há um claro ganho na realização. Nas
diminuição em tarefas complexas? Bond defende que não é por causa do aumento
tarefas complexas, por outro lado, a distração torna o trabalho mais pesad.
geral da activação, mas que é consequência do embaraço. Quando sabemos que
que pode ser feito por um esforço aumentado, por isso a realização padece,
estamos a realizar perante outras pessoas tentamos com maior firmeza. Tal aumentará
a realização. Mas se a tarefa é difícil, então podemos começar a falhar. Falhar na
presença de outras pessoas produz embaraço. Mas embaraço é uma questão de
estar autoconsciente. É por isso que a realização fracassa. Assim Bond encontrou
que a presença de outras pessoas aumentaria a realização no item difícil seestivesse
encaixado numa tarefa fácil, e inibiría a realização numa tarefa fácil se estivesse
encaixado numa tarefa difícil.

Apresentam-e no quadro 12.2 três explicações possíveis dos processos de


facilitação social.

Quadro 12.2 -- Três explicações possíveis dos processos


de facilitação social

Teoria Processos mediadores Fonte

Activação A mera presença de outras pessoas aumenta | Reacção não aprendida à


incerteza e esta incerteza engendra | incerteza
activação

Apreensão da ava- | A presença de outras pessoas engendra | Resposta aprendidaa ava-


liação apreensão da avaliação, um sentimento de | liações repetidas
ansiedade de que as outras pessoas nos
avaliem de modo negativo

Distracção Quando as pessoas estão presentes, a | Distracção € sobrecarga


atenção está dividida entre as outras | cognitiva
A presença de outras pessoas, estejam ou não em competição, intensifica a
pessoas e a tarefa. O conflito de atenção
realização de comportamentos bem aprendidos. a
aumenta a motivação o que facilita
realização enquanto a tarefa for simples

518 519
3.4 Tentativa de integração

Tem havido propostas teóricas de integração de dados dispersos sobre o esforço,


a activação e a distração (Harkins e Szymansky, 1988; Harkins, 1987). Foi
avançado que a complexidade da tarefa interage com a apreensão de avaliação
da maneira descrita na figura 12.3. Quando as pessoas sentem que a sua
realização individual pode ser avaliada, tal é susceptível de melhorar arealização
em tarefas simples (facilitação social), mas piora a realização em tarefas
complexas (devido à distração ou à apreensão da avaliação). Em contraste,
quando as contribuições individuais não podem ser avaliadas pelos outros
porque as contribuições de cada pessoa são misturadas, a realização piora nas
tarefas simples (preguiça social) mas melhora nas tarefas complexas.
Investigação inicial vem em apoio do modelo integrador apresentado na
figura 12.3, mas será ainda necessário efectuarem-se mais estudos para se
saber se achados dispersos se podem ligar.

Quando a presença dos outros:

Aumenta a probabilidade de que a Diminui a probabilidade de que a


realização individual seja avaliada realização individual seja avaliada
(várias contribuições)

Realização melhorada Realização prejudicada

Lad
Tarefas simples (facilitação social, rivalidade) (preguiça social)

DUE
ou bem aprendidas

RA
RA o
Realização prejudicada
Tarefas complexas (distracção, apreensão quanto à
á
Realização melhorada 4. Características de Grupos
Ea!
ou mal aprendidas avaliação) (desafio)
1
rt he tail dos

Figura 12.3 - O papei-chave da apreensão da avaliação na facilitação social e na preguiça


social. Quando as pessoas sentem que a sua realização individual pode ser
avaliada, pode melhorar a sua realização nas tarefas simples e piorar a
realização nas tarefas complexas (lado esquerdo da figura 12.3). Pelo
contrário, quando as contribuições individuais não podem ser identificadas
a presença de outras pessoas pode piorar a realização em tarefas simples e
melhorar em tarefas complexas.
Fonte: Harkins, 1987; Harkins e Szymanski, 1988.

520
Começámos por considerar os indivíduos numa situação relativamente simples
em que uma pessoa é observada ou acompanhada por uma ou mais pessoas.
Todavia um grupo implica algo mais do que pessoas realizando a mesma
actividade num determinado tempo e local. Os grupos implicam interacção, o
desenvolvimento de percepções partilhadas e laços afectivos e a
interdependência de papéis. Nesta secção abordaremos três modos em que
os grupos podem diferir: a estrutura, a coesão e a comunicação.

4.1 Estrutura do grupo

Quando as pessoas se reunem observam-se determinadas constantes após


algum tempo na maneira de agir dos diferentes membros do grupo. Estas
tendências relativamente constantes dos grupos são designadas por estrutura
dos grupos. Os três conceitos importantes a propósito da estrutura de todos
os grupos sociais são os papéis, o estatuto e as normas.

As pessoas ao juntarem-se num grupo, não permanecem totalmente indife-


renciadas. Desenvolvem padrões de comportamento, dividem tarefas e
adoptam diferentes papéis (Brown, 1988). A noção de papel implica uma
certa especialização das tarefas no seio do grupo. Numa perspectiva
psicológica são as expectativas consecutivas à adopção de um papel que
mais interessam. No caso de uma pessoa adoptar um determinado papel os
restantes membros do grupo esperam que actue segundo este papel e esses
membros comportam-se em relação a essa pessoa em função destas
expectativas. Por essa razão se define em geral o papel como um conjunto de
comportamentos esperados e julgados apropriados para uma pessoa que ocupa
uma certa posição no grupo (Sarbin e Allen, 1968).

Os papéis podem ser informais evoluindo gradualmente em consequência


da interacção continuada, ou podem ser organizacionais, no sentido em que
títulos particulares, tais como «secretária» ou «director do departamento»,
são atribuídos. Dois papéis informais importantes que se encontram na maior
parte dos grupos orientados para a tarefa são o de «especialista na tarefa» €
o de «especialista sócio-emocional». O primeiro papel é geralmente
preenchido pela pessoa que é percepcionada como tendo a maior competência
para orientar o grupo nos seus objectivos. Contudo, essa pessoa pode não ser
apropriada para a tarefa de guiar o grupo através de todas as perturbações
emocionais que aparecem quando o grupo se orienta para o seu objectivo.
Essa tarefa é deixada para o especialista sócio-emocional.

O estatuto é uma posição de ordem social dentro de um grupo. Cada membro


de um grupo tem um estatuto e todos os estatutos têm certas características.

523
E
Eanes

icas
criticadas. Por isso as normas determinam se essas acções e crenças específ
das pessoas são aprovadas ou desaprovadas pelo grupo.

As normas podem assumir a forma de regras explícitas que se fazem cumprir


por legislação e sanções (por exemplo, normas da sociedade relacionadas com
a propriedade privada), ou podem ser implícitas. Garfinkel ( 1967) acreditava
que estas últimas normas são escondidas porque fazem parte integrante da
vida quotidiana e dão conta de grande parte do comportamento que muitas
vezes é denominado de instintivo e inato.

4.2 Coesão

O conjunto dos factores que contribuem para que Os membros de um grupo


desejem pertencer a um determinado grupo são colectivamente referidos como
coesão. A coesão é um conceito difícil de definir e de medir (cf. Documento
12.3), mas em termos gerais, um grupo coeso mostra sentimentos de harmonia
e de solidariedade. Os membros estão comprometidos com o grupo e com a
As normas do grupo podem tocar qualquer aspecto do comportamento, tarefa do grupo (Murdock, 1989; Levine e Moreland, 1990). Quanto maior
incluindo o modo de vestir. for o número de factores que mantenham os indivíduos no grupo, e mais
pequeno o número de factores que levem a deixá-lo, mais O grupo é coeso.

Há fundamentalmente cinco factores que produzem coesão grupal: 1) atracção


Por vezes o estatuto é inerente à pessoa (por exemplo em resultado da realização dos membros entre eles como indivíduos (Davis, 1969); 2) avaliação de cada
profissional ou da classe sócio-económica) e por vezes deriva do papel da membro pelo grupo como uma fonte de identidade social (Tajfel, 1978); 3)
pessoa ou da realização no grupo. Seja qual for a fonte do estatuto, as pessoas valores e objectivos comuns partilhados (Davis, 1969; Schachter, Ellertson,
com estatuto mais elevado falam mais no grupo e são-lhe dirigidas mais McBridge, e Gregory, 1951); 4) sucesso na obtenção de objectivos ou no
comunicações (Berger, Cohen, e Zeldnich, 1972). progresso em relação a eles; e 5) ameaça comum de um inimigo exterior (Shaw,
1981: Steiner, 1972). Por exemplo, associações de pequenos comerciantes
Associada a cada posição está um conjunto particular de regras sobre o que se estavam mais interessadas em fazer reuniões quando percepcionavam uma
espera que a pessoa nessa posição faça e sobre as suas responsabilidades. ameaça de se instalarem supermercados nas suas áreas que quando não
Estas regras e expectativas denominam-se de normas sociais. As normas percepcionavam ameaça exterior (Mulder e Stemerding, 1963).A partilha de
sociais regulam as relações entre indivíduos nos grupos. São guias ou uma ameaça comum e de objectivos comuns motivou os membros a procurar
expectativas sobre o que deveria ser o comportamento e como tal permitem- mais contacto com membros de outros grupos.
nos antecipar o comportamento das outras pessoas em certas circunstâncias.
Não são necessariamente seguidas em todas as circunstâncias. A coesão pode ter efeitos positivos e negativos sobre a produtividade de grupos
orientados para a tarefa. Os membros de grupos muito coesos são em geral
Num estudo levado a cabo por Simon, Eder, e Evans (1992) estudou-se o um pouco mais influenciados pelas normas do grupo, dado que a pertença ao
desenvolvimento de normas acerca do amor romântico em adolescentes do grupo é muito importante para eles (Berkowitz, 1954, Schachter, Ellertson,
sexo feminino. Os investigadores efectuaram entrevistas em profundidade e McBride e Gregory, 1951). Assim se a norma do grupo faz apelo à
observações na escola durante três anos. Uma norma que emergiu nestas produtividade, então a coesão aumentará a produtividade, ao passo que se a
adolescentes era que as relações românticas deveriam ser importantes, mas norma do grupo apela para baixa produtividade, a coesão levará a um resultado
não são tudo na vida. As adolescentes que se desviavam desta regra eram mais baixo. Os membros do grupo com elevada coesão também podem ter

525
524
o nisi

problemas de produtividade por causa da atracção mútua que existe. Podem


gastar mais tempo na interacção social que membros de grupos menos coesos
perdendo de vista o objectivo do grupo.

Enfim, a coesão em geral leva a maior participação de cada membro nas


actividades do grupo e a maior cooperação e comunicação (Lott e Lott, 196 D.
Tal pode ter como consequência uma maior satisfação dos membros do
grupo.

Documento 12.3 — Medida da coesão

Se bem que os psicólogos sociais tenham desenvolvido a compreensão das


causas e das consequências da coesão de grupo, ainda não há acordo sobre o
Figura 12.4 — Sociograma de um grupo de cinco pessoas. Neste exemplo de um sociograma, os
modo de medir a coesão. Há investigadores que perguntam muito membros António (A), Betânia (B), Carlos (C), Diamantino (D) e Elias (E) fizeram,
simplesmente aos membros de um grupo para avaliarem a sua atracção pelo cada um, duas escolhas que estão indicadas pela direcção das setas. Duas pessoas
grupo como um todo, recorrendo, por exemplo, a uma escala em sete pontos, (António e Diamantino) escolheram pessoas for a do grupo (Raul (R) e Saul (R) respectivamente.
enquanto que outros pedem avaliações de cada indivíduo dentro do grupo e Elias é claramente o mais popular tendo sido escolhido pelos outros quatro.
consideram a média da avaliações como um indicador da coesão do grupo.
Muito embora estes dois métodos de medir a coesão estejam geralmente
correlacionados, muitas vezes não o estão (Eisman, 1959).
4.3 Comunicação
Talvez a medida mais conhecida da coesão grupal seja a escolha sociométrica
(Moreno, 1953). Por meio desta técnica pede-se aos membros de um grupo À comunicação é essencial para as actividades do grupo, seja a que ocorre numa
para nomearem o indivíduo ou indivíduos com quem prefeririam efectuar reunião do conselho de administração de uma empresa, sejam as intimidades
uma actividade relevante para o grupo. Na medida em que os indivíduos partilhadas em conversas prolongadas até altas horas da madrugada entre amigos.
escolhem outros membros do grupo, em vez de membros que não são do
grupo, considera-se como indicando o grau de coesão grupal. Os grupos em Uma das características mais notáveis da comunicação de grupo é a sua
que a maioria das escolhas são efectuadas fora do grupo seriam avaliados estrutura: Quem fala com quem?
como tendo uma coesão mais baixa que grupos em que a maior parte das
Existem várias formas de redes de comunicação dentro dos grupos. Nalguns grupos
escolhas recai em membros de outros grupos.
todos os seus membros comunicam livremente com qualquer outro membro.
Um dos modos mais claros de tratar com os dados da escolha sociométrica é Noutros grupos o chefe comunica com os seus membros e os membros podem
apresentá-los graficamente num sociograma. Um sociograma de que se comunicar directamente com o chefe. Grupos formais existentes nas organizações
apresenta um exemplo na figura 12.4, fornece-nos informações sobre a natureza têm em geral uma estrutura de rede de comunicação especificada. As redes nos
dos padrões de escolha dentro de um grupo, os membros que se escolhem grupos informais são determinadas por processos sociais dentro dos grupos. Bavelas
mutuamente, e quais os membros que são particularmente populares ou (1950) e Leavitt (1951) estudaram os efeitos de diferentes estruturas de redes sobre
isolados. O sociograma indica sobretudo em que medida as escolhas são as comunicações necessárias para resolver um problema simples. A figura 12.5
efectuadas no interior do grupo, o que dá uma indicação da coesão do mostra algumas das estruturas de comunicação que testaram. Note-se que estas
tedes estão centralizadas e descentralizadas. A roda requer que todas as
grupo.
comunicações num grupo de cinco pessoas passe pelo sujeito que está no centro.

526 527
A rede Y é a seguinte mais centralizada, permitindo comunicações para dois categorias que se aplicam a todos os grupos de resolução de problemas. Embora
membros centrais. A rede todos os canais é a mais descentralizada, pois cada o conteúdo possa diferir de grupo para grupo, qualquer acto de comunicação
membro pode comunicar directamente com qualquer outro dos quatro membros pode ser classificado numa das categorias da IPA.
do grupo. As redes cadeia e círculo são menos centralizadas que a roda, mas mais
centralizadas que a rede todos os canais. Subjacente ao sistema IPA está uma perspectiva teórica. Esta perspectiva, uma
teoria funcional, defende que os grupos devem resolver dois conjuntos de
O estudo típico nesta área consiste em formar um grupo para trabalhar sobre um problemas para manterem a sua existência. O primeiro conjunto, denominado
determinado problema e colocar limites à comunicação que se pode estabelecer problemas de tarefa, refere-e aos que um grupo encara quando tenta alcançar
entre os seus membros. Tal é feito colocando os sujeitos em salas separadas e os seus objectivos. Por exemplo, o grupo deve calcular como produzir um
- permitindo-lhes comunicar unicamente por meio de mensagens escritas ou por produto satisfatório e como negociar com pessoas € organizações no seu meio.
intercomunicadores. Os experimentadores podem então controlar quem fala com O segundo conjunto, denominado problemas sócio-emocionais, refere-se a
quem e podem impor um grande número de padrões diferentes de comunicação.

Dois conjuntos principais de achados emergiram:

a) Paraa realização da tarefa quanto mais as redes eram centralizadas


fra) ritos)
Cadeia
mais depressa resolviam os problemas e menos erros faziam. A roda
produzia o número mais elevado e mais rápido de soluções correctas,
o círculo o número menor e mais lento de soluções correctas.

AO,
b) A satisfação dos membros individuais era maior na rede mais

SS
descentralizada, todos os sujeitos no círculo expressavam maior prazer
na tarefa, enquanto que os membros periféricos da roda, cadeia e Y
gostavam menos da tarefa. Os sujeitos percepcionavam a pessoa
central nas últimas três redes serem o líder do grupo, não sendo
percepcionada a existência de nenhum líder no círculo.

Investigação posterior confirmou estes achados para tarefas relativamente simples,


Roda Círculo
tais como as utilizadas por Leavitt, todavia para problemas mais complexos as
redes mais descentralizadas produziam realização superior, o círculo sendo o melhor.
Shaw (1964) explica que tal deve-se a que tarefas mais complexas suscitam pedidos
excessivos ou muita informação na pessoa central em redes centralizadas. Redes
descentralizadas permitem uma informação mais igual da sobrecarga de trabalho
entre os membros do grupo. A satisfação para os membros em posições periféricas

| SA O E
nas redes centralizadas pode ser aumentada dando a essas pessoas informação
mais pertinente e importante que àquelas que ocupam posições mais centrais
Er
ã j
(Gilchrist, Shaw, e Walker, 1954).

À estrutura de comunicações pode ajudar ou estorvar um grupo, mas o conteúdo


das comunicações é do mesmo modo importante, Corno estudar de modo científico
o conteúdo de comunicações nos grupos? Robert Bales (1950; Bales e Cohen,

|
1979) prestou uma atenção particular ao longo dos anos a este assunto, tendo
desenvolvido sistemas de codificação do conteúdo de comunicações ou interacções.
O
Uma técnica desenvolvida por Bales (1950, 1970) foi a análise do processo Todos os canais

de interacção (IPA). Este sistema de análise utiliza um pequeno número de


Figura 12.5 — Tipos de redes de comunicação em grupos com cinco membros.

528 529
ER RO OO PE A EEPE TVRE DERCE pen “a

x
=
AR

problemas interpessoais que se levantam entre membros do grupo. O grupo


deve calcular como restringir atritos interpessoais, e como se assegurar que os Áreas sócio-emocional:
membros estão suficientemente satisfeitos para permanecer no grupo. Se o 1. Demonstra solidariedade eleva O status
dos demais, ajuda, recompensa.
grupo falha em resolver quer os problemas de tarefa quer os seus problemas
ações 2. Demonstra alívio de tensão, brinca,
sócio-emocionais, deixará eventualmente de existir. Reaçõ si demonstra satisfação.
positivas
3. Concorda, demonstra aceitação passiva,
Às categorias particulares que compreendem o sistema de codificação da IPA compreenda, coopera.

advem desta teoria. Mais especificamente, o sistema da IPA consiste em 12 . Áreas de tarefa:

Na
categorias mostradas na figura 12.6. Estas categorias podem ser distribuidas 4. Dá sugestões, direções, implicando
em autonomia dos outros.
por agrupamentos. À distinção mais ampla e mais importante é entre actos de Tentativa
de respostas 5. Dá opiniões, avaliações, aratisa,
tarefa e actos sócio-emocionais. Os actos de tarefa (categorias 4-9) são expressa sentimentos, desejas.

comportamentos instrumentais que levam um grupo à realização dos seus 6. Dá orientação, informação, repete,

el
clarífica, confirma.
objectivos. Os actos sócio-emocionais (categorias 1-3 e 10-12) são reações
Áreas de tarefa: e f
emocionais, positivas e negativas dirigidas em relação a outros membros do grupo.
7. Busca orientação, informação,
repetição, confirmação.
Uma outra classificação das categorias da IPA é indicada pelas letras a-f na
8 Busca opinião, avaliação, análise,
figura 12.6. Estas letras representam questões que são encaradas por qualquer Perguntas expressão de sentimentos.
grupo. Dentro da área de tarefas estão as questões a) de orientação, b) de 9. Busça sugestões, direções,
passíveis maneiras de agir.
avaliação e c) de controlo. As questões de orientação envolvem a análise de
uma situação; as questões de avaliação referem-se às atitudes dos membros Áreas sócio-emocional:
10, Discorda, demonstra rejeição passiva,
em relação a essa situação; e as questões de controlo referem-se a sugestões formalidade nega ajuda.
de acção dentro da situação. Dentro da área sócio-emocional estão as questões Reações 11. Demonstra tensão,
d) de decisão, e) de manipulação de tensão e f) de integração. As questões de negativas busca ajuda, foge.

decisão referem-se à aceitação ou rejeição das propostas de acção, ao passo 12. Demonstra antagonismo, rebaixa o
status dos outros, defende o seu.
que as questões de manipulção de tensão e de integração referem-se ao
establecimento das relações emocionais dentro do grupo. a. Problemas de orientação; b.Problemas de avaliação; c. Problemas de controle;
d. Problemas de decisão; e. Problemas de manipulação de tensão; f. Problemas de integração
Na prática o sistema IPA pode usar-se do seguinte modo. Imagine que um
grupo com sete pessoas se encontrou numa sala para trabalhar sobre uma Figura 12.6 — Categorias utilizadas por Bales (1950) na análise do processo de interacção
nos grupos,
tarefa. Os membros estão sentados à volta de uma mesa e um número foi
colocado em frente de cada pessoa.A sala tem uma característica fora fo normal:
está equipada com um espelho unidireccional numa parede de modo que
observadores sentados por detrás da parede podem observar a interacção entre Um resultado que emerge com regularidade nestes estudos é que os membros
membros do grupo. Os observadores registam a interacção em termos que do grupo não participam de modo igual numa discussão. Alguns membros
quem fala com quem e que tipos de actos são comunicados. Por exemplo, se uses PT
falam mais que outros. Embora possa haver variações, a pessoa que fala mais
o membro 2 se volta para o membro 5 e lhe pede a opinião sobre uma questão, num grupo de resolução de problemas inicia 40-45 por cento de todos os actos
os observadores pontuam tal escrevendo «2-5» na categoria 8 da IPA (busca de comunicação. A segunda pessoa mais activa iniciará aproximadamente
opiniões). Seguindo este procedimento durante toda a sessão de trabalho que 20-30 por cento dos actos. Este padrão é apresentado no quadro 12.3, que
RR

pode durar uma ou duas horas, os observadores podem obter um registo mostra um sumário da iniciação dos actos para grupos de três a oito pessoas.
completo da comunicação dentro do grupo segundo o sistema da IPA. Quando o tamanho do grupo aumenta, a pessoa que fala mais ainda inicia
de modo consistente uma grande percentagem de actos de comunicação
Par

O sistema IPA fomece meios de observar quem fala nos grupos e que género de (Bales, 1970).
coisas se dizem. Os investigadores têm-no usado numa ampla variedade de
resoluções de problemas e em grupos de discussão que envolvem estudantes Um outro resultado destes estudos diz respeito à estabilidade da participação:
universitários, militares, doentes em terapia, prisioneiros, etc. (Bales e Hare, 1965). o membro do grupo que inicia a maior parte da comunicação durante os

531
RR

primeiros minutos de interacção muito provavelmente continuará a fazê-lo


informações), ao passo que o menor número de actos inscreve-
durante a vida do grupo. Se um grupo de resolução de problemas se encontra
.se nas categorias 7-9 (busca informação, busca opiniões e busca sugestões).
durante várias sessões, por exemplo, o membro com a mais elevada participação
Dentro das categorias sócio-emocionais, a maior parte dos actos inscreve-se
durante a primeira sessão é susceptível de se manter nessa posição nas sessões
nas categorias positivas 1-3 (parece amigável, dramatiza e concorda), ao passo
seguintes. Em geral a ordenação do membros em termos de participação é
que o menor número de actos pertence às categorias negativas 10-12 (discorda,
estável ao longo do tempo (Fisek, 1974).
demonstra tensão e parece pouco amigável). Este padrão faz sentido para um
grupo de resolução de problemas que certamente fracassaria se houvesse mais
questões que tentativas de resolução e mais reacções emocionais negativas
que positivas.
Quadro 12.3 - Percentagem de actos iniciados por cada membro de
um grupo em função do tamanho do grupo

Número de
Quadro 12.4 — Perfil de interacção: Percentagem dos actos das
membros Tamanho do grupo categorias da IPA

l «4, 32 47 43 43 40 Tipo de acto (IPA) Percentagem média

33 29 2 19 15 17
qjeel+lanlol-!oa

1. Parece amigável 2,97


23 23 15 14 12 13 8,17
2. Dramatiza
16 10 n 10 10
3. Concorda 10,70
6 8 9
4. Dá sugestões 6,56

5, Dá opiniões 22,24

6. Dá informações 28,72

7. Busca informações 5,89

8, Busca opiniões 3,27


Nota: Os dados estão baseados num total de 134 421 actos observados por meio do sistema IPA em 167 grupos
com três a oito membros. 9. Busca sugestões 0,60

10. Discorda 4,73


Fonte: Adaptado de Bales, 1970.

11. Demonstra tensão 343

12. Parece pouco amigável 241

O sistema IPA fomece um modo de avaliar a frequência com que os vários Fonte: Adaptado de Bales e Hare, 1965.
actos ocorrem nos grupos. Como já se notou, o sistema IPA contém 12
categorias. Destas, seis pertencem a actos orientados para a tarefa (categorias
4-9), ao passo que as outras seis pertencem aos actos sócio-emocionais. Se os
grupos podem diferir, no quadro 12.4 apresenta-se a percentagem média dos
actos da IPA (calculados em muitos grupos de resolução de problemas) segundo Uma outra técnica desenvolvida por Bales após mais de duas décadas de
as 12 categorias. Como aponta o quadro cerca de dois terços dos actos numa investigação foi o SYMLOG (SFstematic Multiple Observation of Groups)
sessão estão orientados para a tarefa e cerca de um terço são socio-emocionais que permite analisar as interacções grupais. O sistema S?MLOG examina
(Bales e Hare, 1965). Dentro das categorias orientadas para a tarefa, a maior as interacções sociais por meio de três dimensões que medem a dominância
parte dos actos pertencem às categorias 4-6 ( dá sugestões, dá opiniões e dá e a submissão, a amizade e a inimizade, as comunicações controladas e

532 533
expressivas. Esta técnica foi planificada para uso geral em muitos tipos de
grupos e focaliza-se em aspectos da tarefa e sócio-emocionais da comunicação
de um grupo.

No quadro 12.5 apresenta-se uma síntese das características do grupo.

Quadro 12.5 — Características do grupo

Qualidade Definição Exemplos

Papéis Um conjunto de comportamentos Líder, secretária, brincalhão,


característicos de pessoas num seguidor, colaborador
contexto
Estatuto Prestígio no grupo Perito, inovador, irreverente

Normas Regras e expectativas do grupo O comportamento de estudantes


e de professores na Faculdade
Coesão A força das relações que unem os Camaradagem, unidade, senti-
membros uns aos outros e ao mentos de pertença
próprio grupo

Comunicação Padrões de comunicação que No grupo toda a informação é


determinam quem fala mais fre- dirigida para uma pessoa; no
quentemente a quem grupo toda a informação passa
por todos os membros

5. Interacção em Grupos

534
Ao abordarmos as características dos grupos, tais como estrutura, coesão e
comunicação, referimo-nos por vezes à realização e a resultados dos processos
grupais. Voltemo-nos agora mais particularmente para a produtividade dos
grupos e para a tomada de decisão.

41 Produtividade do grupo

Qual é a relação entre a realização de um grupo e a realização de elementos


“ individuais no grupo?A investigação sobre a facilitação social estuda o modo
como a mera presença de outras pessoas influencia a realização. Nesses estudos
as pessoas não interagem umas com as outras. Quando as pessoas trabalham
em conjunto em tarefas, o que acontece à realização individual e grupal? A
interacção nos grupos ajuda ou estorva?

5.1.1 Análise das tarefas de grupo

A produtividade tem a ver com a tarefa dos grupos. Uma tarefa de grupo
abarca um conjunto de pessoas designadas para realizar uma tarefa. Segundo
Steiner (1972) a produtividade é determinada pela interacção de três factores:

1. Pedidos da tarefa que incluem todas as exigências para realizar a


tarefa: meios necessários, modo de combinação dos meios, e
constrangimentos impostos por regras exteriores ou condições.

2. Meios que são conhecimento, capacidades e materiais que um grupo


possui.

3. Processo que consiste nos meios utilizados pelo grupo para realizar
a tarefa.

A máxima realização que se pode obter, tendo em conta os pedidos de uma


tarefa particular e os meios disponíveis, é produtividade potencial. Todavia
à produtividade actual é muitas vezes mais baixa que a potencial devido aos
problemas do processo em que os meios não são utilizados de modo tão
eficaz como seria possível. Tal pode expressar-se mediante uma fórmula:
Produtividade actual = produtividade potencial — percas devido a processos
defeituosos (Steiner, 1972).

À produtividade depende muitas vezes do tipo de tarefa que se coloca a um


Brupo, Steiner faz a distinção entre tarefas unitárias, todos os aspectos que

537
E

devem ser realizados por um só indivíduo, e tarefas divisíve:s que podem ser Quadro 12.6 — Tipos de tarefa e produtividade associada
realizadas através da divisão do trabalho. As tarefas podem também categorizar-
-se segundo os modos como os esforços dos indivíduos podem ser utilizados
para as realizar (quadro 12.6). Steiner distingue quatro tipos de tarefas e mostra Tipo de tarefa Produtividade Exemplo
que a superioridade do grupo em relação ao indivíduo varia em função da
Tarefas aditivas Soma de esforços individuais Puxar um carro enterrado na
tarefa. néve

A situação mais simples é aquela em que se adiciona o resultado de cada Tarefas comuns Os membros menos compesentes | Escalada de montanha de toda
uma equipa ligada à mesma
membro para se obter o resultado total do grupo. Neste caso Steiner fala de
corda
tarefas aditivas e nota que se pode esperar que o rendimento do grupo seja
Tarefas disjuntivas | Os membros mais competentes Resolver um problema de
superior ao rendimento de um indivíduo. Puxar um carro enterrado na neve
labirinto
ou aplaudir numa sala de espectáculos constituem exemplos do tipo de tarefa
compensa- | Esforço de grupo combinado Avaliar a temperatura da sala
em que quantas mais pessoas se dispuserem a fazê-lo, maior será a Tarefas
tórias quando o grupo decide
produtividade.
Fonte: Steiner, 1972.
As tarefas comuns constituem o segundo tipo distinguido por Steiner (1972).
Trata-se de situações em que todos os membros do grupo têm mais ou menos
a mesma função, mas em que a sorte de umas pessoas está intimamente ligada
à de outras pessoas. As tarefas efectuadas por uma equipa de alpinistas são
deste tipo. Os alpinistas não podem ir mais depressa que o membro rmais lento
da expedição. Por conseguinte, neste caso, o rendimento do grupo não é 5.1.2 Preguiça social
geralmente superior ao do indivíduo.
O sistema de classificação de Steiner pode ajudar-nos a compreender a
As tarefas disjuntivas caracterizam-se pelo facto de que se um só membro do psicologia social dos grupos de trabalho. Tomemos o caso da luta de tracção,
grupo encontra a solução para o problema, todo o grupo obtém sucesso. Ou, uma tarefa aditiva. Haverá uma adição exacta do esforço em grupos aditivos?
por outras palavras, o sucesso de um grupo depende da qualidade da melhor Cinco pessoas tendem a puxar numa luta de tracção cinco vezes mais que a
ideia ou solução proposta no grupo. Geralmente o rendimento do grupo não média individual?
ultrapassa pois o do seu melhor membro.
A resposta a esta questão é negativa. O engenheiro agrónomo francês Max
No quarto tipo de tarefas, as tarefas compensatórias, os membros do grupo Ringelmann (1913) pediu a sujeitos do sexo masculino para trabalharem sós
podem combinar os seus esforços de qualquer modo. Vamos supor que a tarefa ou em grupos com vários tamanhos para puxar uma corda tanto quanto
consiste em avaliar a temperatura da sala, Poder-se-ia fazer a média dos pudessem e então media o seu esforço. Ringelmann encontrou que quando o
julgamentos de cada membro do grupo para se chegar a uma solução ou número de trabalhadores aumentava a força média com que cada trabalhador
escolher a resposta mais frequente, etc. Neste caso o modo de repartição e de contribuia diminuia (figura 12.7). Porquê? Há duas possibilidades: os sujeitos
coordenação dos esforços determina o resultado do grupo. não estavam coordenados da melhor maneira ou os sujeitos mostravam
preguiça social, isto é, os sujeitos em grupos exerciam menos esforço
Em suma, esta tipologia mostra que é erróneo pensar que o trabalho em grupo individual (Latané, Williams, e Harkins, 1979).
constitui em geral uma perca de tempo. Em relação a certas tarefas o trabalho
em grupo é claramente vantajoso em comparação com o trabalho individual.

Numa revisão da investigação sobre a realização de grupo Hill (1982) observa


que a maior parte das conclusões de Steiner sobre a produtividade de grupo
foram confirmadas pela investigação.
fem dan
US
Aa A MAO

nos grupos era mais baixo que o esforço individual de pessoas sós demonstra
os efeitos da preguiça social.

O que é que pode explicar a preguiça social? Os esforços dos indivíduos são
muitas vezes anónimos em grupos aditivos. Dado que é a produção do grupo
70 r
Realização esperada
.õ—õ—U—Õ—
= =)
e não do indivíduo que se mede, o indivíduo pode sentir-se impune (Harkins,
1987). Para além disso, as pessoas em grupos podem assumir que os outros
50—- abrandarão e por isso em consonância com as teorias da troca e da equidade

(By) possod Jod 25104


também abrandarão (Jackson e Harkins, 1985). Também pode acontecer que
40 - quando as pessoas trabalham em grupos aditivos, não estejam tão activadas e
motivadas como as pessoas que trabalham como indivíduos (Jackson e
st Reali ização actual
ct
Williams, 1985).

20 Este último aspecto parece contradizer a investigação sobre facilitação social.


!

Note-se, contudo, que os estudos sobre preguiça social diferem dos estudos
sobre facilitação social num ponto fulcral. Os sujeitos agregam os seus esforços
nos estudos de preguiça social o que não acontece nos estudos de facilitação
social. Assim se nos estudos de preguiça social os sujeitos se podem esconder
1 2 3 4 5 6 7/8
na multidão, já não é o caso nos estudos de facilitação social. A presença de
Tamanho do grupo (pessoas)
outras pessoas pode reduzir a activação e apreensão da avaliação em estudos
de preguiça social, mas aumentar estas mesmas variáveis em estudos de
facilitação social.
Figura 12.7 — O efeito Ringelmann. Fonte: Dados de Ringelmann (1913). Ringeimann
(1913) encontrou que o esforço individual diminua quando o tamanho
Todavia estudos levados a cabo em culturas colectivistas, tais como na China,
do grupo aumentava.
mostraram que a preguiça social é menos evidente aí e que o oposto também é
possível (Karau e Williams, 1993). Em certas condições as pessoas exercem
mais esforço quando trabalham como parte de um grupo que quando trabalham
sós. Aspectos destas condições incluem uma maior ênfase na lealdade e
As experiências evidenciaram ambos os fenómenos em grupos aditivos. Num responsabilidade para com grupos. Parece, pois, que a preguiça social não
estudo, estudantes universitários foram vendados e eram-lhe colocados nos seja uma parte inevitável do comportamento, mas um fenómeno dependente
seus ouvidos auscultadores. Pedia-se então aos sujeitos para gritarem tanto de contextos culturais.
alto quanto pudessem. Algumas vezes os sujeitos estavam sós € outras vezes
combinavam os seus gritos em grupos de 2 ou 6 pessoas. Para além disso, A preguiça social é um fenómeno que pode enfraquecer a produtividade de
alguns sujeitos eram levados a crer de modo erróneo que estavam em grupos grupos em trabalhos aditivos em culturas individualistas. Uma maneira de
com 2 ou 6 pessoas quando efectivamente estavam sós. Este engano era possível reduzir a preguiça social é informar os sujeitos que as suas realizações, bem
porque os sujeitos estavam vendados e tinham auscultadores. Os resultados como as de todo o grupo estão a ser avaliadas. Nas galeras da Roma antiga
da experiência demonstraram que os sujeitos sós tendiam a gritar mais alto os escravos trabalhavam conjuntamente na esgotante tarefa aditiva de remar.
que em grupos; para além disso, os grupos mostravam uma realização Para manter os esforços individuais dos escravos, os capatazes observavam
global mais baixa que a realização somada de «pseudogrupos» de pessoas sós constantemente as suas realizações e castigavam de modo brutal os indolentes.
(que pensavam erroneamente estar em grupos) (Latané et al., 1979). Actualmente nos locais de trabalho ninguém toleraria uma solução tão cruel
para o problema da preguiça social. Contudo os supervisores podem avaliar
Quais são as implicações destes resultados? O facto dos grupos realiazarem periodicamente a realização individual de trabalhadores em tarefas aditivas
pior que os pseudogrupos ilustra que o grupo ao gritar sofria de problemas de e mantê-los ao corrente dos resultados. O simples facto dos sujeitos
coordenação; aparentemente os membros dos grupos reais não gritavam mais compararem as suas realizações individuais com padrões normativos, pode
alto no mesmo instante. O facto que o esforço individual nos pseudogrupos €
541
540
GE A EE REGE ONU OT

muitas vezes ser suficiente para eliminar a preguiça social. Por isso a avaliação faneiro de 1986 é um outro exemplo de aparente pensamento grupal
individual efectuada por si próprio ou pelos outros constitui muitas vezes um (Magnuson, 1986).
modo eficaz de reduzir a preguiça social, Não é surpreendente que a Preguiça
social seja mais susceptível de aparecer quando as tarefas do grupo são
aborrecidas e não implicativas (Wiliams e Karau, 1991). Por isso um outro.
DS
modo de combater a preguiça social nos locais de trabalho é criar trabalhos
com sentido e implicação para os trabalhadores. Documento 12.4 — A invasão de Cuba

A 4 de Abril de 1961, o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy,


e os seus conselheiros discutiram um plano de invasão de Cuba e chegaram
5.2 Tomada de decisão em grupo a um acordo. A proposta consistia em enviar um grupo de exilados cubanos
que viviam nos Estados Unidos e estavam bem treinados militarmente para
se apoderarem de uma pequena zona de terreno na Baía dos Porcos no sul da
Os grupos de trabalho muitas vezes tomam decisões. Se com frequência os
ilha. Daí seria possível conduzir ataques contra o exército de Fidel Castro e
grupos tomam decisões inteligentes, infelizmente, por vezes, tomam decisões
suscitar a revolta dos civis. O fim último da operação consistiria no derrube
estúpidas.
do regime comunista dirigido por Fidel Castro. Estava previsto que os
invasores poderiam fixar-se nas montanhas das redondezas, pois já lá se
encontravam os guerrilheiros anti-Castro. Curiosamente ninguém se lembrou
de consultar um mapa da região. Tal permitiria verificar que cerca de 200
5.2.1 Pensamento grupal
quilómetros de terrenos pantanosos separavam a região de invasão destas
montanhas e que nenhum exército do mundo poderia passar por aí.
Descreveu-se o grupo como se ele fosse algo de muito racional. Os indivíduos Efectivamente, o restante plano foi esboçado de modo tão duvidoso que os
juntam-se, procuram as melhores soluções para um determinado problema é invasores foram quase aniquilados antes mesmo de poderem perspectivar
realizam as tarefas com as melhores capacidades. Contudo a experiência ensina- uma retirada.
-nos a todos nós que tal corresponde a um estado ideal que nem sempre existe.
Os grupos tomam muitas vezes más decisões e defendem-nas com unhas e Se estes processos operam frequentmente ou não nos grupos coesos, O
dentes. Irving Janis (1972) analisou um certo número de acontecimentos e conhecimento de que podem acontecer chama a atenção dos membros para
defendeu que esses grupos foram vítimas do que ele chamou de pensamento os evitar Dezoito meses após o desastre da Baía dos Porcos o presidente
grupal. O pensamento grupal é «a deterioração da eficácia mental, do teste da Kennedy e os seus conselheiros encararam a crise dos mísseis em Cuba. Um
realidade, e do julgamento moral que resulta da pressão do endogrupo» (Janis, certo número de procedimentos foram adoptados para evitar os processos de
1972, p. 9). Janis propôs que o pensamento grupal era mais susceptível de pensamento grupal que tinha ocorrido previamente. O presidente não
ocorrer em grupos muito coesos com fortes laços interpessoais e com uma compareceu a algumas reuniões para que os conselheiros não se inibissem
imagem muito positiva. O problema é que estes grupos podem ser levados a nas suas discussões. Encorajou todos os membros a questionarem todos os
pensar que são invulneráveis na tomada de decisões por serem superiores. factos, pressupostos e opiniões e a serem advogados do diabo. Peritos externos
foram consultados e foi feito um esforço consciente para desenvolver um
Janis analisou um certo número de exemplos históricos de pensamento grupal, conjunto de alternativas possíveis. Robert Kennedy argumentou que um ataque
tais como a desastrosa decisão do presidente Kennedy de invadir Cuba na traiçoeiro contra Cuba seria imoral e comparável ao ataque de Pearl Harbor.
Baía dos Porcos (Documento 12.4), o involvimento norte-americano na A política preferida no começo das discussões não foi a política adoptada
Coreia do Norte, a escalada de guerra no Vietname, e a falta de preparação (Schlesinger, 1965).
dos Estados Unidos para o ataque de Pearl Harbor durante a Segunda Guerra
Mundial. Brown (1988) mostrou como o pensamento grupal também
caracterizava aspectos do gabinete de Thatcher nos anos 80 na Grã-Bretanha.
Mas o processo não se limita a decisões políticas. O que aconteceu à nave
espacial Challenger que explodiu pouco tempo depois do seu lançamento em
E es an

O problema do pensamento grupal surge porque os membros de um grupo


concordam todos com uma questão, mesmo sem tirar partido de uma discussão Condições antecedentes
completa do assunto. Em tais grupos os seus membros podem sentir uma pressão
para a uniformidade e colocar entre parentesis as dúvidas pessoais. Um Grupo coeso de decisores

“sa
processo de racionalização colectiva pode ocorrer, persuadindo-se os seus Isolamento do grupo de influências exteriores
membros da exactidão das suas decisões. Todo este processo é muitas vezes Líder directivo
mais susceptível de ocorrer devido à presença de um chefe forte e de certos Ausência de procedimentos que obriguem a considerar cuidadosamente
membros do grupo que Janis chama de guardas das mentes que desempenham prós e contras das ameaças externas, com pouca esperança de encontrar
soluções melhores que a do líder
o papel de manter o desacordo ao nível mínimo. O conjunto destas diferentes

v
forças podem levar a que se tome uma decisão deficiente. Na figura 12.8
apresenta-se um sumário das condições que facilitam o pensamento grupal, os :
seus sintomas e os resultados de uma má tomada de decisão.
Forte desejo de consenso grupal
O que poderá um presidente ou qualquer outro chefe político fazer para
evitar o pensamento grupal? Janis avançou várias sugestões. Em primeiro
lugar, é importante evitar o isolamento por parte dos decisores políticos. No
ç v
Simtomas de pensamento grupal
caso da Baía dos Porcos a administração de Kennedy estava tão tocada pelo
secretismo que as pessoas no governo que tinham a informação mais útil Ilusão de invulnerabilidade

ads
foram impedidas de dar a sua contribuição, para não serem colocadas ao par Crença na moralidade do grupo
do plano, Racionalizações colectivas
Estereótipos dos exogrupos

vs
Em segundo lugar, o chefe deveria delinear procedimentos e normas que
Auto-censura das dúvidas e opiniões dissidentes
assegurassem que todos os ângulos da questão fossem examinados,
NHusão de unanimidade
encorajando todas as pessoas a expressarem-se, é isto em vez de suprimir
Pressão directa sobre os dissidentes
opiniões e receios. O chefe deve ter um cuidado especial em não indicar a
sua própria opinião antes de procurar conselho. Os conselheiros que conhecem
a posição do chefe são afectados por este conhecimento. Podem ser
influenciados no seu pensamento, acreditando que o que o chefe quer é o
v v
Sintomas de má tomada de decisão
melhor (internalização), ou podem conhecer que o chefe quer está errado,
mas não se exprimem por medo de perder os favores do chefe Análise incompleta de todas as alternativas

daN
(condescendência). Análise incompleta dos objectivos de grupo
Falha no exame dos riscos da escolha preferida
Clark McCauley reexaminou o material de Janis e concluiu haver evidência
Falha na análise das alternativas rejeitadas
para ambas as espécies de influência nos registos históricos. No fiasco da
Procura insuficiente da informação relevante
Baía dos Porcos, por exemplo, há uma ampla evidência de que alguns dos
Viés selectivo no processamento de informação
conselheiros de Kennedy não soltaram a sua língua apesar das suas reservas
Falha no desenvolvimento de planos contingenciais
em privado, mas não há evidência de condescendência no caso do desastre de
Pearl Harbor (McCauley, 1989).

Muito embora seja fácil imaginar exemplos de tomada de decisão de grupos


v v
em que apareça o pensamento grupal, poucos estudos testaram algumas das Baixa probabilidade de obter um resultado bem sucedido
ideias específicas propostas por Janis (Courtright, 1978; Fowers, 1977: Leana,
1985). Nestes estudos encontrou-se apoio para o facto dos grupos com chefes
fortes, directivos aumentar o pensamento grupal, mas não se encontrou maior
pensamento grupal em grupos coesos versus menos coesos. Figura 12.8 — Uma análise do pensamento grupal. Fonte: Adaptado de Janis, 1972.

544 545
a
RE

Se bem que muitos aspectos do pensamento grupal necessitem ainda


de ser - A polarização de grupo foi confirmada em dezenas de experiências. Por
clarificados (Aldag e Fuller, 1993), este modelo fomece uma perspec
tiva exemplo, Serge Moscovici e Marisa Zavalloni (1969), após efectuarem três
fascinante sobre a tomada de decisão dos grupos. medidas: 1) a opinião dos indivíduos antes da discussão (pré-consenso), 2) à
opinião do grupo no fim da discussão (consenso), 3) a opinião dos indivíduos
no fim da discussão (pós-consenso), observaram que a discussão reforçava,
em estudantes franceses, a sua atitude inicial positiva em relação ao presidente
5.2.2 Polarização da interacção grupal
De Gaulle e a sua atitude inicial negativa em relação aos americanos.

Os grupos tendem a tomar decisões mais arriscadas ou mais cautelosas queos Uma outra estratégia de investigação consistiu em escolher problemas em que
indivíduos? Nos anos 50, a literatura sociológica sugeria que os grupos as pessoas divergiam de opinião e depois de se agruparem as pessoas que
exerciam uma influência cautelosa na tomada de decisão (White, 1956).
Mas partillhavam as mesmas opiniões. Por exempo, nesta via formaram-se grupos
esta perspectiva foi questionada num dos primeiros estudos laboratoriais sobre com alunos do ensino secundário com muitos ou poucos preconceitos e
esta questão. pediu-se-lhes para responderem — quer antes quer após a discussão — a questões
sobre atitudes raciais (Myers e Bishop, 1970). Descobriu-se que efectivamente
Stoner (1961) realizou um estudo em que se pedia a indivíduos é grupos para
as discussões entre pessoas com a mesma opinião aumentavam a separação
tomarem decisões arriscadas. Os sujeitos eram confrontados com tarefas
de inicial entre os dois grupos.
tomada de decisão em que tinham de avaliar o nível de risco que achavam
aceitável. Em seguida discutiam estes problemas num grupo, e
depois O que é que explica a polarização de grupo? Investigação focalizou-se em
realizavam de novo a tarefa individualmente. três explicações possíveis. A primeira explicação baseia-se nos processos de
comparação social, a segunda na argumentação persuasiva, e a terceira na
A maior parte das pessoas prediria que o grupo tenderia a tomar decisões mais
identificação social.
seguras que os indivíduos, todavia, de modo surpreendente, Stoner encontrou
que tal não era o caso. Os julgamentos de grupo eram muito mais arriscados 1) Comparação social. Esta interpretação do efeito de polarização
do que os efectuados pelos indivíduos, e os Julgamentos individuais obtidos refere que os indivíduos tentam ver-se e apresentar-se aos outros de
após discussão de grupo eram também mais arriscados. Este fenómeno modo tão favorável quanto possível (Sanders e Baron, 1977). Para
tomou-se conhecido sob o nome de mudança arriscada. O efeito da mudança saber quais serão as ideias ou comportamentos que serão vistos de
arriscada encontrou-se não só nos Estados Unidos e Canadá, como também modo positivo pelos outros, as pessoas podem observar metículo-
em vários países da Europa e na Nova Zelândia. samente o modo como os outros se expressam ou agem. Então, no
caso de todos ou a maior parte dos indivíduos num grupo mudarem
Wallach, Kogan e Bem (1962) sugeriram que a responsabilidade partilhada na direcção em que o grupo é percepcionado estar a inclinar-se, a
produzia um sentimento mais seguro, por isso os indivíduos membros dos
decisão do grupo será mais extrema, mas na mesma direcção da
grupos sentir-se-iam mais capazes de tomar decisões mais arriscadas por não média do grupo original (isto é, a média dos julgamentos iniciais
serem os únicos responsáveis por elas. Denominaram esta hipótese de difusão dos membros).
de responsabilidade.
2) Argumentação persuasiva. Esta explicação sugere que a discussão
Contudo a mudança em direcção ao risco é tão somente um exemplo específico de grupo é responsável pelo efeito de polarização, estando os
de um fenómeno muito mais geral: a polarização da atitude induzida pelo indivíduos expostos a argumentos a favor e contra uma determinada
grupo. Numa ampla gama de situações, encontrou-se que as decisões do grupo posição (Bumstein e Vinokur, 1977). A qualidade e a posição dos
eram mais extremas do que as decisões individuais das pessoas envolvidas e argumentos, o grau com que os indivíduos relembram subsequen-
na direcção das perspectivas da maioria, fossem elas mais arriscadas ou menos. temente os argumentos quer a favor quer contra são importantes na
Por isso nalgumas situações pode haver uma mudança afastada do risco, no determinação da extensão e da duração da mudança na posição do
caso das posições iniciais dos membros do grupo irem nessa direcção. A opinião indivíduo. Assim ocorrerá somente uma mudança num grupo se são
da maioria, e não o risco, é aqui o factor importante, uma mudança que pode apresentados os argumentos com um efeito persuasivo nos indivíduos.
ocorrer mesmo quando não haja risco envolvido. Se estes argumentos já são conhecidos pelo indivíduo, não suscitarão
nenhuma mudança. A novidade é um factor crucial. A direcção de
546 547
qualquer mudança no grupo dependerá da prep
onderância da
argumentação persuasiva e nova numa ou noutr
a direcção. No âmbito
desta explicação, no caso de se conhecer o tipo de
argumento, adirecção
e a extensão da mudança do grupo podem-se preve
r (Isenberg, 1986)
3) Identificação social. A identificação social é um
processo através do
qual os indivíduos se definem em relação
a outras pessoas, e
conformam-se às normas e estereótipos
associados com o seus
grupos. Segundo esta explicação os indivíduos
têm um estereótipo
do grupo mais extrema do que a existente na
actualidade. Como
estão motivados para conformar-se com este ester
eótipo, o efeito
de polarização de grupo está consumado. Os grupo
s tornam-se mais
extremistas porque os membros esperam que sejam
mais extremistas.
Há apoio empírico para as três explicações (Isen
berg, 1986; Mackie, 1986).
Por enquanto não existe uma afirmação clara
sobre qual dos três modelos é
o melhor. Em todo o caso tem-se encontrado
que o efeito de polarização de
grupo numa ampla variedade de contextos labor
atoriais e de campo.
O processo de pensamento grupal, juntamente
com o efeito de polarização
permitem-nos compreender melhor porque é que
um agrupamento de pessoas
aparentemente racionais e inteligentes podem
concordar com uma decisão
catastrófica.

Quadro 12.7 - Interacção em grupo

Processo Características Causas


Produtividade do A produtividade tem a ver com a à produtividade é determinada
grupo tarefa dos grupos pela interacção de três factores:
pedidos de tarefa, meios e
processo 6. Liderança
Preguiça social Às pessoas não trabalham tanto Este fenómeno depende da
em grupos como quando difusão da responsabilidade e de
trabalham sós contextos culturais
Pensamento grupal Os grupos manifestam algumas Coesão, isolamento, liderança, e
vezes um estilo de pensamento stress na decisão combinam-se
distorcido que faz com que os para causar o pensamento grupal,
membros do grupo sejam inça- se bem que a coesão seja o
pazes de tomar uma decisão elemento mais decisivo
racional]
Polarização grupal As decisões do grupo são mais A polarização ocorre porque as
extremas que as decisões indívi- pessoas querem adoptar posições
duais consistentes com as que são
valorizadas pelo seu grupo ou
cultura

548
A maior parte das tarefas em grupos são divisíveis, e em geral, subtarefas
específicas são atribuídas a diferentes pessoas. À distribuição dos deveres e
das responsabilidades a membros do grupo denomina-se de diferenciação
do papel. Num grupo pode existir uma vasta gama de papéis. Um papel
importante num grupo é o de líder. Assim nesta secção procuraremos saber o
que é a liderança, que espécie de pessoas se tornam bons líderes, quais os
traços de personalidade dos bons líderes, e como é que os bons líderes
comandam.

61 Oqueéaliderança?

Não há um acordo entre os cientistas sociais sobre a natureza da liderança. No


quadro 12.8 são apresentadas seis definições diferentes. Como se pode observar,
quer a liderança seja definida em termos de contribuições para os objectivos
dos grupos, grau de influência nos outros membros, várias espécies de
comportamentos, quer se refira a um processo de atribuição através do qual a
pessoa adquire o rótulo de líder, a definição não está isenta de algum problema.
A liderança é um fenómeno complexo que envolve alguma(s) ou todas as
características evidenciadas por essas definições. Um líder é uma pessoa que
ocupa uma posição central num grupo e ajuda 0 grupo à realizar Os seus
objectivos. O líder mantém essa posição e utiliza-a para influenciar, dirigir e
coordenar os comportamentos de outros membros do grupo.

Quadro 12.8 — Características centrais utilizadas para definir líder e


liderança

Características que definem um líder Problemas na definição de liderança

Centro de aterição O grupo focaliza muitas vezes o centro de


atenção num membro desviante ou fraco

Movimentao grupo para objectivos O objectivo nem sempre é óbvio, e um líder


forte pode desviar o grupo dos objectivos
originais

Aquisição do rótulo de líder O líder actual pode ser outra pessoa

À pessoa mais influente Uma pessoa pode influenciar o grupo levando


os membros a reagir negativamente a todas as
sugestões

Clarifica, decide; sugere alternativas Geralmente esses comportamentos são efec-


tuados por vários membros do grupo e não por
uma pessoa só

Designado por uma autoridade mais alta Pode-se obter um título, mas pode-se não
ganhar a aceitação ou a legitimação dos mem-
bros

551
1]
6.2 Perspectiva contingente da liderança Consistência na liderança
6.3
O método mais usual para se encontrarem os traços de personalidade E
dos Por valiosa que tenha sido a contribuição de Fiedler, mais pirar tia
líderes é relativamente simples. Os investigadores administram testes de perso- sr o
proposto que haveria evidência de umtraço de liderança, muro embora
nalidade a um grupo de sujeitos, e recolhem também as avaliações da eficácia Ria
não se tenha encontrado. A evidência de um traço escondido, sem
dos sujeitos como líderes. As avaliações podem ser efectuadas por subordi- A
capaz de se especificar qual será, advém de um estudo em que se junta E
nados, por supervisores, por colegas ou observadores. O investi gador observa
grupo de pessoas € dá-se-lhes uma tarefa. Observa-se quem emerge como
então as relações entre os traços medidos e a eficácia do líder. Espera-se por -se e o
líder. Muda-se então a tarefa e os membros do grupo € observa
meio de tal procedimento encontrar um só traço ou talvez uma pequena colecção como a
emerge como líder. Se acontecer que a mesma pessoa emerge
de traços que estejam de modo consistente relacionados com a liderança. ua ae
apesar da tarefa ou da composição do grupo, então há razão Ea se
algo, muito embora não se sabendo o quê, acerca destas pessoas faz com q
Às revisões dos anos 40 e 50 dos resultados de estudos que recorreram a este
método mostraram haver muitas correlações entre liderança e personalidade. de modo consistente se tornem líderes.
Efectivamente encontraram-se mesmo demasiadas correlações. Acontece que
Foi referido que através de décadas em que os autores desistiram ao ou
na maior parte dos estudos revistos encontrou-se alguma relação entre uma menos da noção de um traço de liderança porque não foram capazes de O
variável de personalidade e a eficácia da liderança. No entanto no interior de
encontrar, houve poucos estudos que recorreram a um planeamento desse
cada estudo estas relações eram fracas, e quando se efectuaram comparações
tipo (Kenny, e Zaccaro, 1983). E esses estudos encontraram que as Passa
de um estudo para outro, diferentes traços de personalidade estavam pessoas emergiam como líderes em diferentes grupos (Carter e Nixon,
É
relacionados com a liderança (Stogdill, 1958; Mann, 1959). Surgiu assim Belle French, 1950; Borgatta, Bales e Couch, 1954, Barmlund, 1962). Kenny
consenso no domínio de que não havia um só traço partilhado pelos líderes e Zaccaro concluem que seria insensato perante esta evidência a da
eficazes, mas que a liderança exigia diferentes traços em diferentes noção de que há um traço (ou talvez um conjunto de traços) que os líderes
circunstâncias. Foi essa ideia que dominou a investigação sobre a liderança têm de modo consistente.
nas três últimas décadas sob o nome de perspectiva contingente da liderança.
Esta perspectiva sugere que os traços que fazem com que um líder seja bom
são contingentes das circunstâncias com que o líder se defronta.
Quadro 12.9 — Três abordagens para a liderança
Fred Fiedler pode especificar que traços em que circunstâncias conduzem a
uma liderança eficaz. A questão fundamental em relação a que espécie de
pessoa fará um bom líder é a de se saber até que ponto a situação global lhe Abordagem Princípio orientador
é favorável. Num extremo deste continuum temos uma situação muito Traço Os traços predispõem certas pessoas a tornarem-se líderes
favorável ao líder (o líder tem muita autoridade, relações positivas com o efectivos
grupo, tarefas muito bem especificadas). No outro extremo temos uma situacionais determinam que as pessoas com certas
Situação Factores
situação que é muito adversa para qualquer líder (o líder tem pouca autoridade características surjam efectivamente como líderes
no grupo, os membros não condescendem uns com os outros ou com o líder, dos líderes,
Factores situacionais, traços ; entos,
e comportam
tsmtro
Interaccionismo
tarefas pouco especificadas). Fiedler avançou que em ambos os extremos do características e percepções dos seguidores interagem para
continuum (circunstâncias muito favoráveis ao líder ou muito desfavoráveis) determinar quem é um líder eficaz
uma determinada espécie de pessoa fará melhor como líder, enquanto que

no meio do continuum (quando as circunstâncias não são favoráveis ou


desfavoráveis) uma outra espécie de pessoa muito diferente fará melhor.
+9440

Esta teoria de Fiedler propõe mais especificamente que os líderes com boas
-—

relações interpessoais dentro de um grupo farão melhor que os com uma


scam es jet srta dá)

focalização rígida na tarefa em circunstâncias intermédias, enquanto que os


líderes focalizados nas tarefas farão melhor em circunstâncias em ambos
del: o fab

os
extremos (Fiedler, 1964; Peters, Hartke, e Pohlmann, 1985).

552 553
E
PESA y e
DES O or O EE

6.4 iderança
Cultura e estilos de lid Quadro 12.10 - Tipos, fontes e mecanismos de poder social

a
fc oa a investigaçãoo sobre a perspectiva Ê
contingente da liderança foi
e E em sociedades individualistas. Como funcionaria esta perspe Eficácia
ctiva Tipo Baseado em
ma cultura colectivista? Triandis (1993) avançou a hipótese
de que o líder Quer o seguidor esteja sob vigi-
:ideal é susceptível de ser difere
Telnte nestas duas espécies de culturas. : O mai o: Legítimo Direito a liderar
lância quer não
ea das culturas colectivistas pelas necessidades dos grupos
e ncia Somente com vigilância
fra rappers pode fomentar um meio em que os Recompensa Controlo dos recursos
líderes orientados
ções sejam mais desejados pelos m embros do grupo d ã Coercivo Controlo nos castigos Somente com vigilância
em culturas individdyualistas. - P k Pelo menos doisi estudos apoi
posam esta
ido Quer o seguidor esteja sob vigi-
s ção,
concep Referência Admiração
pda colectivista do Irão, os trabalhadores afirmavam que preço lância quer não
s
e à E = patrão» significa ser protector, como um pai (Ayman e Cheme esteja sob vigi-
rs Competência Conhecimento percepcionado | Quer O seguidor
. Na cultura colect
c ivista da Índia o líd er que éé maismai eficaz começa por lância quer não
at pi ; but sugere aos seguidores como é que o trabalho bu dd
inha, ). Em ambos os países, , àa protecção ã aparece como send Fonte: Raven e French, 1958.
uma
uma | característica altamente dese) jada na lidera i nça. Já n l pe
individualistas osos líderes
líde ori entados para a tarefa mostram -se mais i eficaz
di ges
omais variadas situações do queE os líd eres orient i ados para as relaçõ iandidf
ções. Triand is
j ança que tal pode ser específico das culturas individualitas. na medida
Nestas culturas Uma pessoa tem poder legítimo em relação a outra pessoa
s pessoas são socializadas para trabalh arem sós,Ó para se concentr: 1) a a quem
tarefa e e parapar enfatizarem a; realiz
tarefa em que tem o direito de dar ordens a essa pessoa, € à pesso
alizaçã
açã o. Tal treino
i pode| faze: Tr com quegust mo é a
individualistas sejam mais sensíveis a líderes orientados para Piá
as cultura
a s se dão ordens sente a obrigação de obedecer. O poder legíti
ibuindo
espécie de poder que Fiedler tinha em mente como contr
ncia
para uma situação favorável para O líder. É esta espécie de influê
erístico
que se exibe nas experiências de Milgram. É o poder caract
das organizações hierárquicas.
pode recom-
2) O poder de recompensa assenta em que uma pessoa
condes-
6.5 Poder pensar outra (e.g., dinheiro, aprovação, amor, etc.) para
olo de algo
cender. O poder de recompensa vem com O contr
do
ção social está obviamente relacionado com a liderança. desejável. Esta forma de poder, tal como o poder legítimo, é limita
por
uaiac Era que define uma situaçã
Uma das em alcance. Há coisas que quase todas as pessoas não fariam
ituaçã o como sendo favorável ou desfavorável
prin dinheiro ou por qualquer outra recompensa.
'o sã = a tem poder no grupo. Na sua forma mais primitiva
com o
É Iva do poder físico. O poder semprei nteressou os cientis
ienti tas sociai 3) O poder coercivo é o poder para punir. Tem em comum
com vigi-
e os filósof
a os e alguns deles chegaram mesmo a defend er que ele dever a i poder de recompensa o facto de ambos se exercerem só
limites.
co nstituir o foco das ciência
ênci s sociais
iai (Pollard e Mitchell, 1972). Apesar doo lância. O poder coercivo tem também provavelmente os seus
adas para
à oder nã o ter atingid
ingi o uma tal posiçãoiçã na teoria psicossocial, foram Há pelo menos algumas pessoas que não podem ser ameaç
coajem.
esenvolvidas várias teorias do poder social. trair o que gostam. E as pessoas não gostam muito das que
um grupo
John
in pre ' Bertram Raven deline
i aram uma concepção ampla do poder 4) Há poder de referência quando admiramos um indivíduo ou
os copiar
- Defenderam que o poder social consisi te na capaciidade de
infl i ou quando nos identificamos com ele. Nesta situação podem
o que nos
o comportamento de outra pessoa, os seus pensament os, ou sentimentos.
Rea
isa i voluntariamente os comportamentos apropriados ou fazer
p cificaram cinco bases diferentes do poder social, e discutiram grupo. Constitui
as pedem porque queremos ser como essa pessoa ou
consequências de cada uma delas (quadro 12.10). a determinada
um exemplo deste tipo de poder a pessoa que adopt

554 555
marca de cerveja porque se associa com a imagem machista suscitada
pela publicidade. Raven (1988) assinala também o poder de referência
inverso que ocorre quando uma pessoa adopta certas atitudes para se
distinguir de uma pessoa ou de um grupo que se detesta. O poder de
referência tem menos necessidade de vigilância que o poder de
recompensa e o poder coercivo.

5) Opoder de competência advém de se conhecer muitas coisas sobre


algo. O poder de competência está provavelmente limitado em alcançe
às coisas em que uma pessoa é perito. Mas as pessoas assumem que
alguém que é realmente competente em algo é também muito esperto
e por isso susceptível de ser uma fonte razoável para guiar num leque
de outros assuntos.

Estas formas de poder não são mutuamente exclusivas. O mesmo indivíduo


pode possui-lasA. lista apresentada também não é necessariamente exaustiva.
Por exemplo, Pruitt (1976) acrescenta poder recíproco à lista mencionada mais
acima. O poder recíproco refere-se à influência que uma pessoa tem sobre
outra em resultado de a ter ajudado no passado.

Stahelski e Frost (1989) mediram a frequência com que várias formas de poder
eram utilizadas em três organizações diferentes. Encontraram que em todas as
organizações o poder referente e de competência eram utilizados mais
frequentemente que o poder legítimo, de recompensa e coercivo. Contudo os
autores também observaram que quando o número de empregados
supervisonados aumentava, o recurso ao poder coercivo aumentava.

7. Grupos na Sociedade

556
a
Reveste-se de dificuldade reflectir sobre uma sociedade sem se notar
abundância de grupos que nela operam. Muito embora o fim da família já
a a
tenha sido frequentemente vaticinado acontece que essa célula continu
de grupos
formar à base da maior parte das sociedades. Diferentes tipos
e nos meios de
terapêuticos são debatidos em revistas especializadas
comunicação social. Nesta secção consideraremos alguns destes grupos.

7.1 Famílias

«Nascer é encontrar-se membro de um grupo que não se escolheu», observam


Aebischer e Oberlé (1990, p. 41). Apesar disso o grupo familiar terá uma
influência decisiva no nosso desenvolvimento psico-social. Desde sempre se
tem reconhecido que a família é o principal agente de socialização, ou seja, «O
mecanismo pelo qual uma sociedade transforma a sua cultura, isto é, o seu
sistema de valores, de normas, de papéis sociais e de sanções» (Albouy, 1976,
p. 417). É efectivamente através do grupo familiar que somos colocados pela
primeira vez perante um sistema de papéis, de normas e de estatutos.

Yvonne Castellan (1991, p. 3) define uma família como uma reunião de


indivíduos «unidos pelos laços de sangue; vivendo sob o mesmo tecto ou num
mesmo conjunto de habitações; numa comunidade de serviços.» Esta definição
pode abarcar uma multiplicidade de configurações.

Actualmente a família na sua forma mais espalhada na nossa cultura é a do


pequeno grupo denominado família nuclear. O seu núcleo é constituído pelo
casal, com base na livre escolha dos parceiros; juntam-se os descendentes
imediatos, sem excluir a presença eventual de alguns ascendentes, descen-
dentes mais longínquos ou colaterais. É este o tipo de família mais frequente
no universo industrial contemporâneo. Em todo o caso a família mostra-nos
um grupo em que os membros mantêm uma interacção extensa e à longo
termo.

A família enquanto grupo elabora no seu seio um certo número de fenómenos


psicológicos em domínios representativos, imaginários, afectivos e volitivos
(Castelian, 1991). Trata-se de fenómenos que não são desconhecidos por parte
de grupos mais efémeros. Todavia «na muito longa duração do universo
familiar, estes fenómenos são interiorizados mais profundamente, menos
acessíveis quer à expressão quer à consciência, melhor realizados e muito
mais duradoiros» (Castellan, 1991, p. 83).

Esta mecma autora esboça um balanço do pequeno grupo familiar (Castellan,


1993) que por mais normal que se considere apresenta características globais

559
E o Rana Ma Ep

positivas e outras que o não são tanto. Na vertente positiva é referida uma
7.2 Grupos experienciais
facilidade em elaborar um sonho a dois e em realizar este sonho, uma liberdade
incomparável de escolha criadora, uma grande autonomia, independência, número
No decurso das três últimas décadas asssistiu-se a um aumento do
No lado negativo ressalta-se uma família pesada para ser transportada. Os ni
de grupos experienciais onde as pessoas procuram melhorar as suas
pais são dois no seu sonho, às vezes um, para assumir todo um conjunto de ência grupa
dades participando em grupos. Através da própria experi
funções duradoiras de que só eles são responsáveis. idade desses
procuram-se mudanças pessoais (Shaw, 1981). Há uma divers
l, grupos de
Esta complexidade da dinâmica da família levou muitos investigadores a grupos: T-grupos, grupos bioenergéticos, análise transacciona
evitá-la enquanto alvo de investigação, ao passo que outros tentaram criar encontro, para só se referirem alguns (Dreyfus, 1975).
famílias «simuladas» em que se podem controlar factores específicos (Waxler ónio
O T-grupo (training group ou grupo de formação) faz parte do patrim
e Mishler, 1978). Apesar de óbvias diferenças entre uma família artificial e
da psicologia social, tendo sido originalmente desenvolvido pis Kurt Lewin
uma família real, tem-se mostrado que certos factores intervêm em ambas as ão
e seus colegas. Em 1946 Lewin e Lippitt efectuaram uma sessão de formaç
famílias. Por exemplo, Waxler e Mishler (1978) mencionam que as famílias novo
de animadores onde apareceu uma nova forma de observar grupos é um
simuladas e reais utilizam os mesmos modos gerais de resolver os problemas. efeitos
método de formação. Tratava-se de testar diversas hipóteses sobre os
Todavia as mães nas famílias reais comprometiam-se menos do que as «mães» e
comparados de conferências e de estudos de casos sobre os comportamentos
nos grupos ad hoc. grupos
as mudanças de comportamento. Os participantes eram divididos em
Outros autores voltaram-se unicamente para o estudo de famílias reais. Por de dez efectuando estudos de casos com jogos de papéis e exposições
folhas
exemplo, foram estudados os modos como variáveis demográficas afectam magistrais. Em cada grupo estava presente um observador que preenchia
o padrão da interacção familiar. Strodtbeck (1951) estudou a tomada de de observação das interacções e da evolução do grupo.
decisão marido/esposa junto de casais protestantes do Texas, Navajo e Estas observações que se destinavam às investigações da equipa de
Kurt
Mormões. Encontrou que os maridos mormões eram muito mais poderosos
Lewin não deviam ser transmitidas aos participantes. Lewin organizara sessões
que as suas esposas; as esposas Navajo eram muito mais poderosas que os
de trabalho da parte da manhã com os animadores oficiais e Os observadores
seus maridos, reflexo do matriarcado nesta sociedade; os casais protestantes
com o intuito de verificar as observações e de as discutir. Alguns participantes
do Texas mostram igualdade no processo de tomada de decisão. Passando da
que habitavam no local solicitaram para assistir a estas reuniões de trabalho
o que lhes foi concedido. Tratava-se pois de participar numa reunião em que
díade à tríade (uma mãe, um pai e um filho adolescente) e abordando duas
outras culturas (judia e italiana), Strodtbeck (1958) encontrou de novo Os
os seus próprios comportamentos eram analizados por observadores.
evidência de diferenças culturais. Os pais italianos eram muito mais poderosos participantes julgaram estas reuniões com interesse capital para eles ê.
que as esposas e os filhos; nas famílias judias, os pais partilhavam o poder e seguidamente todos os participantes tomaram parte nelas. Nasceu assim a
tinham muito mais poder que os seus filhos. ideia de substituir o conteúdo da formação centrada no «algures e um
dia»

Em Portugal Barros (1994) tem dedicado especial atenção ao estudo dos que caracteriza a formação clássica pela análise do «aqui e agora». O novo
estilos educativos parentais. Partindo das dimensões propostas por Schaefer método de formação consistia em pequenos grupos de discussão em que
(1959) e comparando-as com o modelo de Baumrind (1971) pode obter-se havia um observador e um animador. O observador comunicava de vez em
o
fundamentalmente quatro estilos educativos: democrático ou autoritativo quando as suas notas sobre a dinâmica do grupo e O animador ajudava
(autonomia com amor ou na terminologia de Baumrind (1971), respondente grupo a analisar estas observações.
e exigente), indulgente ou permissivo (controlo com amor, respondente não Neste âmbito o grupo é pois tomado quer como objecto de análise quer
exigente), autoritário ou exigente (controlo com hostilidade, não respondente como metodologia de investigação. Esta segunda vertente constitui uma
e exigente) e, por último, negligente ou rejeitador (autonomia com hostilidade; abordagem inovadora na medida em que se alia investigação e acção,
não respondente e não exigente). Cada um destes estilos caracteriza-se por observação participante e implicação dos sujeitos. E a experiência relacional
um conjunto de práticas e comportamentos parentais (Barros, 1994). vivida pelos sujeitos que é utilizada como material de estudo. Trata-se pois de
uma abordagem experiencial.
e,
O T-grupo teve uma grande repercursão nos anos 50 nos Estados Unidos
verdade iro
um pouco mais tarde, na Europa. Foi para à psicologia social um

560 561
E sbre Pit

laboratório contribuindo para compreender e elaborar fenómenos de interacção


APPLICAÇÕES: EQUIPAS DETRABALHO
s
de coesão, de liderança, de mudança, etc.

Em paralelo com este método apareceram outros voltados para a terapia e o


desenvolvimento pessoal. Relembre-se que já nos anos 30 Moreno concebeu
uma psicoterapia de grupo com base no psicodrama, técnica que teve uma
grande influência nos grupos de desenvolvimento pessoal. Nos anos 50
As equipas de trabalho constituem uma das muitas áreas em que a psicologia
surgem duas grandes influências: os grupos de encontro de inspiração
social se imbrica com o campo do comportamento organizacional. O campo
rogeriana e o movimento do potencial humano. Ambos vão influenciar o
do comportamento organizacional dedica-se a analisar e melhorar organiza-
T-grupo. A sua combinação vai despoletar diversas práticas grupais: grupos
ções tais como empresas, serviços governamentais, escolas, hospitais,
de evolução, de sensibilização, de criatividade, etc.
casernas. Precisamente na medida em que o trabalho nas organizações é
É difícil saber-se quais são os efeitos da participação em grupos experienciais levado a cabo com outras pessoas não se pode passar uma esponja sobre os
dado que esses grupos têm uma composição, duração, objectivos e processos sócio-psicológicos que aí se desenrolam, Quando se interrogam
procedimentos que variam. Shaw (1981) avançou, no entanto, quatro hipóteses gestores sobre como deveriam intervir para ajudar a que o seu grupo se tome
sobre os efeitos dos grupos experienciais: mais produtivo, não se pode passar por cima de questões de liderança. Equipas
de gestão tomam a cada passo decisões erróneas após haverem consumido
1l. A discrepância entre o self percepcionado e o selfideal diminui em muito tempo a pensar sobre as saídas talvez por estarem mergulhados no
função da participação em grupos experienciais. pensamento grupal. Se se procedem a mudanças no modo de trabalhar entre
membros de uma equipa passando-se do trabalho individual para um trabalho
2. Os participantes em grupos experienciais percepcionam mudanças
conjunto à volta de um projecto e se assiste à baixa de produtividade, pode
nos seus sentimentos e comportamento em consequência da
ser que o fenómeno da preguiça social esteja a mostrar os seus efeitos. Se o
experiência grupal.
estudo do comportamento organizacional se defronta sobretudo com questões
3, Os observadores referem mudanças percepcionadas no compor- práticas, tais questões podem ser respondidas com base em teoria é em
tamento dos membros após a participação em grupos experienciais. investigação da psicologia social. Ora precisamente um dos aspectos que
devemos compreender, antes de poder compreender a dinâmica de uma
4. Nalgumas condições a participação em grupos experienciais tem organização, é a dinâmica dos grupos nessa organização.
como resultado perturbações psicológicas graves.
Por exemplo, refira-se o impacto da equipa de trabalho naorganização
Mesmo se hoje em dia é difícil ter uma ideia válida cientificamente sobre os (Sundstrom, De Meure, e Futrell, 1990). Já lá vão uns anos que muitos peritos
efeitos exactos dos grupos experienciais, não resta dúvida que se tomaram pensavam que as interacções entre os empregados deveriam ser reduzidas ao
populares e chamam a nossa atenção para os poderosos processos grupais. mínimo. As pessoas eram vistas como sendo «auxiliares das máquinas» €
Às contribuições dos T-grupo e dos grupos de desenvolvimento foram ricas, deveriam evitar perder tempo a falar com os outros (Taylor, 1923). Todavia
contribuindo para uma abordagem metodológica original em que se alia o taylorismo levou a uma baixa na produtividade e essa perspectiva foi abalada
formação e investigação. Como observa De Visscher (1991, p. 274) «não é O pelos estudos levados a cabo por Elton Mayo e seus colaboradores na fábrica
meio de formar psicólogos sociais para quem a palavra social não seja uma Hawthorne da Western Electric Company nos nos anos 20 (Mayo, 1945;
etiqueta oca, um conceito residual?» Roethlisberger é Dickson, 1939). No início a equipa de Mayo partiu da ideia
de que a produtividade era modelada em grande medida pelas características
físicas do local de trabalho. Por isso isolaram um grupo de trabalhadores
numa sala para manipular aspectos do meio laboral, tais como a iluminação
e a temperatura. Surpreendentemente todas as mudanças efectuadas levaram a
um amelhoramento da produtividade. As pessoas trabalhavam cada vez mais
quando se aumentava a intensidade da luz, como também quando se diminuia.
Os investigadores navegavam na perplexidade até que se deram conta de que

562 563
se trabalhava mais porque as pessoas faziam parte de um pequeno grupo tratado Resolução dos problemas
de modo especial.
Os membros da equipa devem aprender a usar métodos de decisão eficazes
A descoberta da importância do grupo para a produtividade pelos estudos de para identificar problemas e soluções. Por exemplo, muitas equipas de
Hawthorne levou a que se tivessem em conta nas organizações mais diversas trabalho baseiam-se no modelo dos círculos de qualidade (Deming, 1975).
as equipas de trabalho. Efectivamente os grupos contribuiram decisivamente Trata-se de grupos pequenos centrados nos empregados a quem lhes é
para a fundação da organização moderna. dada autoridade para tomar decisões sobre a gestão. Estas equipas
encontram-se para discutir problemas no local de trabalho sobre
Especialistas das organizações recorrem muitas vezes a análises socio-
produtividade, eficácia, qualidade ou satisfação com O trabalho. Após
psicológicas dos pequenos grupc para planificar, desenvolver e melhorar
identificação das causas desses problemas o grupo leva a cabo mudanças
grupos de trabalho. Por exermp:.. » construção da equipa começa com q
para as corrigir. No caso destas mudanças se mostrarem ineficazes, então
pressuposto de que o sucesso «tos srupos de trabalho é o resultado da
o processo de resolução dos problemas começa de novo.
colaboração interdependente qu: «< «o orvo!ve mediante a prática. Geralmente
a construção da equipa requer o seguiic (Sundstrom et al., 1990):

Análise do processo imjcrpo soul Em geral as pessoas estão mais satisfeitas com o trabalho quando fazem
parte de uma equipa de trabalho coesa. Mesmo se a construção de uma equipa
Os membros da equipa podem clecmmar exercícios ou participar em de trabalho nem sempre funciona, em diferentes tipos de organizações,
discussões para a ajudar a dosenvovier a compreensão da natureza dos absentismo, o turnover e as queixas dos empregados diminuem após uma
processos grupais. (s momios estudam os padrões de comunicação e intervenção focalizada no grupo.
atracção do grupo, ox procedimentos de tomada de Cegisão, as fontes de
poder, as normas sociais iniosmals, = os upos de conlito entre eles.

Construção da coesão

A noção de equipa de trabarrio > vo)ve vos sro o» trabalho unido em


que os membros gostam uns dos outros € se ceniimuntam com o grupo. À
construção da equipa fortalece a satisfação do grupo encorajando a
confiança, a cooperação e o desenvolvimento de uma identidade de grupo.

Objectivos

Em geral os grupos funcionam de modo mais eficaz quando os seus


objectivos são explícitos, e os membros recebem regularmente retroacção
sobre o seu progresso em relação aos objectivos.

Definição do papel

Às equipas tendem a trabalhar de modo mais eficaz quando os membros


compreendem as exigências dos seus papéis. No decurso do
desenvolvimento da equipa, os membros podem identificar as fontes de
stress do papel susceptíveis de ocorrer quando as responsabilidades dos
membros são ambíguas ou quando outras pessoas no grupo compreendem
mal os deveres associados com os seus papéis.

564 565
Do
e ST as SERES EDS

maior satisfação nos seus membros e


por el e. Os grupos coesos proporcionam
SUMÁRIO geralmente tê m como resultado uma
melhor produtividade. As redes de
comun icação afectam a
realização e a satisfação, a rede mais centralizada
produz melhor realização, mas mais baixa
satisfação nos seus membros.

O estudo dos grupos constitui uma parte integrante do campo da psicologia Ei


Um certo número de factores determina a produtividade de um
social, São vários os factores que podem transformar um certo número de ial e perda no
incluindo pedidos da tarefa, meios, produtividade potenc
indivíduos heterogéneos num verdadeiro grupo: interacção entre os membros satórias)
processo. Os tipos de tarefas (aditivas, comuns, disjuntivas € compen
em que o
também são determinantes para à compreensão das condições
do grupo e as influências mútuas, a partilha de um objectivo comum,
a
interdependência, e a percepção de ser membro de um grupo. Podem-se
trabalho em grupo será superior ao trabalho individual.
distinguir vários tipos de grupos: endogrupos e exogrupos, os grupos formais
e informais, os grupos primários e secundários, os grupos de pertença e de As pessoas inseridas em grupos aditivos mostram muitas vezes preguiça social,
que
referência, o grupo restricto, a categoria social e a multidão. isto é, exercem menos esforço individual quando trabalham em grupos
a realização
quando trabalham sós. A preguiça social é reduzida quando
individual é avaliada por si próprio ou por outras pessoas.
Os psicólogos sociais estudam grupos quer na vida real quer no laboratório.
A investigação sobre os grupos focaliza-se nos processos e nos resultados do
grupo. As três principais dimensões dos grupos são actividade geral, O pensamento grupal, definido como uma tendência dos Ra
chegar
agradabilidade e capacidade para a tarefa. 57 90 procurar concordância é uma ilustração do processo pelo qual podem
ia asuscit ar
a fracas decisões. Geralmente a interacção em grupo tem tendênc
As pessoas juntam-se em grupos por variadas razões, incluindo para atingir
uma polarização de respostas: as opiniões que resultam de uma deco de
objectivos que as pessoas não podem atingir sós ou para satisfazer determinadas
grupo são mais extremas do que as opiniões de indivíduos antes da discussão
necessidades. em grupo.
Quando as pessoas se juntam passam geralmente por um processo de r
OQ corpo de investigação mais antigo sobre liderança falhou em FRReR
socialização grupal que pode descrever-se em termos de cinco períodos gerais, diferenças entre líderes e não-líderes; os factores situacionais também
po
separados por quatro pontos específicos de transição. Estes períodos e os contribuir para a emergência de líderes. Segundo o modelo contingente la
pontos de transição são investigação, entrada, socialização, aceitação, liderança proposto por Fiedler, o sucesso de um líder depende do equilíbrio
manutenção, divergência, ressocialização, saída e lembrança. Indivíduos e o entre o estilo do líder (orientado para a tarefa versus para à relação) e da
grupo comprometem-se nas actividades características em cada estádio do natureza da situação. Mais recentemente foi proposto que haveria evidênc
ia
Es
processo de socialização. de um traço de liderança, se bem que ainda não tenha sido cngonnnio:
relação com a liderança está o poder social de que há diversos tipos; oc
A mera presença de outras pessoas pode afectar a rapidez e a qualidade de
realização da tarefa por uma pessoa. A teoria da facilitação social de Zajonc
legítimo, poder de recompensa, poder coercivo, poder de referência, poder
defende que a mera presença de outras pessoas é activante e que esta activação
de competência.
facilita respostas dominantes e bem aprendidas, mas interfere com as não Exemplos da vida quotidiana de grupos em acção incluem famílias e erupos
dominantes e mal aprendidas. A apreensão da avaliação e a distracção experienciais. Se, por um lado, cada um destes tipos de grupos se reveste de
cognitiva também contribuem para a facilitação social. um conjunto de propriedades únicas, por outro lado, também mostra à

A estrutura do grupo refere-se a padrões regulares, estáveis de actividades €


possibilidade de aplicação dos princípios sócio-psicológicos.
do comportamento no grupo. Os papéis, o estatuto e as normas constituem
três conceitos importantes que se relacionam com a estrutura dos grupos.
Um aspecto da estrutura relaciona-se com um conjunto de comportamentos
da pessoa associados a uma dada posição, denominado um papel. Os papéis
variam com o estatuto num dado grupo. A coesão de grupo refere-se ao grau
em que os membros querem permanecer membros do grupo e têm atracção

567
566
piNqua <a rr
EEE SST

PARA IR MAIS LONGE


ACTIVIDADES PROPOSTAS

BROWN, R.
Refira exemplos da sua própria experiência em como os grupos podem ter
1988 Group processes: Dynamics within and between groups. Oxford: influências positivas e negativas no comportamento individual.
Blackwell.
O livro introduz as principais teorias e desenvolvimentos empíricos É de esperar que um músico toque melhor perante o público ou em privado?
no campo da dinâmica de grupo. Apresenta-se uma grande variedade
de investigação sobre o comportamento grupal,
Será uma boa coisa a coesão de um grupo?

Pode pensar nalgum exemplo para pôr em prática a perspectiva de Zajonc


CASTELLAN, Y. sobre a facilitação social?

1993 Psychologie de la famitle. Toulouse: Privat. Efectue uma reunião de um grupo de colegas e peça-lhe para trabalharem
Como funciona a família contemporânea? Quais são as forças numa tarefa comum a designar. Observe, juntamente com um colega, o
psíquicas que intervêm na sua construção?A resposta a estas questões comportamento deste grupo através da análise do processo de interacção
essenciais são abordadas nesta obra que constitui uma introdução à de grupo (IPA) de Bales.
compreensão psicológica do grupo familiar.
Relembre as suas experiências sobre preguiça social.

SHAW, M. E. Procure e faça a análise de um caso histórico de preguiça grupal.


1981 Group dynamics: The psychology of small group behavior (3rd ed.).
Pensa que as sondagens de opinião afectam a polarização? Que tipo de
New York: McGraw-Hill,
influência exerceriam?
Um dos textos clássicos sobre a dinâmica de grupo susceptível de
interessar o leitor para se orientar tecnicamente. Os avanços na tecnologia estão a mudar o modo de como grupos se
encontram. Será de esperar que o comportamento grupal e a tomada de
decisão sejam diferentes numa discussão através do computador em
VISSCHER, P.
relação a um encontro face a face?
199? Us, avatars et métamorphoses de la dynamique des groupes: Une
brêve histoire des groupes restreints. Grenoble: Presses Universitaires
de Grenoble.

O livro aborda o lugar dos grupos em psicologia social, a sua


variedade, a diferença entre o interpessoal e o intragupal, a co-presença
e a grupalidade.

WORCHEL, S., WOOD, W., e SIMPSON, J. A. (Eds.)


1992 Group process and productivity. Newbury Park, CA: Sage.
Este texto fornece um apanhado da investigação contemporânea
sobre grupos.

568
XIII. COMPORTAMENTO COLECTIVO
MEET EEE Dc PEIES ANE
ELS
TÁBUA DE MATÉRIAS
Ds

XII. COMPORTAMENTO COLECTIVO

Introdução

O que é o comportamento colectivo?

O estudo do comportamento colectivo

4. Os comportamentos das massas

4.1 Acção colectiva


4.1.1 Violências colectivas
4.1.2 Alegrias colectivas
4.2 Desagregação colectiva: pânico
4.21 Natureza do pânico
4.2.2 Simulação do pânico
4.23 Comportamento nos desastres
43 Teorias explicativas
43.1 Teoria do contágio
43.2 Desindividualização
4.3.3 Teoria da convergência
4.34 Teoria da norma emergente

5, Os comportamentos nas massas

SI Moda
5.1.1 Análise estrutural da moda
5.1.2 Porque é que a moda muda continuamente?
52 Opinião pública
A O que é a opinião pública?
2.2.9, Pesquisa da opinião pública
53 Rumores

575
5.3.1 Definição Objectivos:
5.3.2 Fenómeno colectivo de ontem e de hoje
5.3.3 Processos de transmissão da informação * Definir o comportamento colectivo;
5.3.4 Controlo dos rumores « Examinar métodos de estudo do comportamento colectivo;

5.3.5 Teorias de conspiração + Estudar a natureza das multidões;


|
Aplicações: Controlo de desordem social + Identificar a natureza do pânico e as reacções aos desastres;

« Examinar as abordagens do contágio, da desindividualização, da


Sumário convergência e da norma emergente para compreender o comporta-
mento das massas;
Para ir mais longe
e Considerar os modos como a moda se espalha e as necessidades que
| Actividades propostas satisfaz;

« Abordar o que se entende por opinião pública e o modo de a eviden-


ciar;

* Explorar o desenvolvimento e as funções dos rumores.

576 577
otônponu “I
O nosso tempo é assim. Colectivo, atravancado,
promíscuo. Superlotado em todas as horas. E
já não há lugares no mundo preservados, nem
consentimento para qualquer individualidade os
admirar. Aqui ou na Sistina, a lei é ser comum
com os outros, caminhar empurrando como os
outros, e ver pelos olhos dos outros.
Miguel Torga

guem
Além dos grupos, existem outros tipos de agrupamentos que se distin
deles. Eis uma pequena amostra de exemplos: os espectadores de um jogo
de
de futebol, os ouvintes de um programa de rádio, uma manifestação
trabalhadores, um linchamento... O Jeitor certamente que não pode deixar
de pensar na heterogeneidade dos casos mencionados.

Estamos efectivamente perante o nível mais difuso do comportamento social,


o colectivo. Este nível pode envolver muito mais pessoas do que as relações
diádicas examinadas em capítulos anteriores e estar desprovido da organização
sistemática dos grupos abordada no capítulo anterior. Donde se pode inferir
que a análise dos fenómenos colectivos exige conceitos e metodologias
diferentes.

À psicologia colectiva é frequentemente considerada «como o domínio por


excelência da psicologia social» (Stoetzel, 1963, p. 225). Em todo o caso é
um dado histórico que os primeiros estudos em psicologa social começaram
pela curiosidade a respeito do comportamento colectivo. E não foi fortuito o
interesse manifestado pela problemática das massas em finais do século
dezanove na Europa que então era palco de transformações tecnológicas e
políticas no seguimento da revolução industrial e da revolução francesa. Assim
se compreende que quando Le Bon (1895) anunciava a profecia: «a idade
em que entramos é verdadeiramente a era das massas», era já resultado de
uma constatação. Tal profecia anunciava não só um poder crescente das
multidões e dos seus chefes como a vitória de uma mentalidade colectiva
sobre uma individual. Mesmo se a profecia não se realizou em todos os seus
aspectos (Mannoni, 1985) não restam dúvidas de que hoje não se podem
evitar as massas em que o indivíduo perde o espírito crítico e descobre
angustiadamente que está sendo alvo da manipulação por forças
desconhecidas ou até hostis.

Hoje em dia os fenómenos colectivos atingem-nos através da experiência


quotidiana imediata, da representação visual das multidões que nos é fornecida
pelos mass-media, ou até através das representações sociais que temos das

581
massas e dos problemas das
massas. Os fenómenos col
omnipresentes na nossa vida ectivos estão
quotidiana.

À Psicologia Social não pode fazer a pol


ítica da avestruz em relaçã
comportamentos colectivos, o aos
pois cada vez mais colorem
Para qualquer lado que os factos humanos,
nos voltemos as massas
lancinantes nos tempos mod col oca m os Problemas.
ernos, A Psicologia Social
problemáticas tão important não pode ignorar
es e é necessário, como nos
(1981), celebrar agora «a idade convida Moscoyici
dasmuitidões»,
1)
Uma multidão é um asrupamen
to relativamente amplo de ind
estão fisicamente próximos ivíduos que
para se influenci
ar uns aos outros, muito emb
não haja relações particula ora .
res entre estes indivíduos.
desorganizada, anónima, cas Uma multidão é
ual e temporária (Milgram
tipo de agrupamento de Pes e Toc h, 1969). Este.
soas é o ideal para o desenv
comportamento colectivo, dad olvimento do
o que esse comportamento
de estrutura de um grupo e depende da falta
de normas apropriadas.
Há quem defenda a ideia de
distinguir a Psicologia colect
social, muito embora sem iva da Psicologia
fazer um corte umbilical tota
l (Mannoni, 1985),

que compõem a vida das socied


ades, quer estes mecanismos
a massas estáveis ou a multidões digam respeito
efemeramente ligadas bem com
destes conjuntos humanos com o as relações
Os seus chefes» (Mannoni,
Trata-se de um Programa assaz 198
ambicioso que as páginas que
5, pp. 11-12).
lhe podemos
2 | o que é o Comportamento Colectivo?
aqui consagrar de nenhum mod
o podem abarcar. Neste capítu
-emos a tentar saber o que lo limitar-nos-
é o comportamento colectivo
compreender de que são feitos , como é estudado,
os comportamentos colectivos.

582
o a
“0 rótulo comportamento colectivo tem geralmente sido aplicad
contrários à
acontecimentos que pelo menos num primeiro olhar, aparecem
noção de ordem social.

“São várias as características que definem o comportamento colectivo:

— 1) emerge de modo espontâneo numa colectividade de pessoas, como,


por exemplo, numa multidão, em toda uma sociedade ou cultura;

2) é relativamente desorganizado;

3) não é planificado no curso do desenvolvimento e por isso é quase


imprevisível, e

4) é produto da interestimulação entre os participantes, isto é, os


indivíduos são influenciados pelas acções dos outros, e as suas
reacções por sua vez influenciam as pessoas que as tinham influen-
ciado (Milgram e Toch, 1969).

Para ilustrar a diferença entre acontecimentos a que se aplica o rótulo de


à
comportamento colectivo e a outros acontecimentos sociais, recorremos
de
perspectiva avançada por Lofland (1981). O autor anota que no decurso
Berger
um dia normal, cada um de nós anda com uma atitude denominada por
que
e Luckmann (1967) de «atitude da vida quotidiana». Acontecimentos
ocorrem durante o dia normal podem geralmente ser descritos como «Nada
m
“está a acontecer fora do normal». Contudo, algumas vezes ocorre
experiências que, pelo menos até certo ponto, transbordam as experiências
típicas da vida quotidiana. Acontece algo fora do normal, sendo suspensa a
atitude da vida quotidiana, e o que é aceite torna-se mais problemático. Uma
tal experiência, mormente se ocorre ao nível grupal, pode ser o início de um
comportamento colectivo.

Exemplos de acontecimentos fora do habitual incluem pânicos, linchamentos,


revoluções, motins e modas. Esses acontecimentos parecem ser contrários
às expectativas tradicionais de ordem social e a maior parte deles implicam
um nível elevado de activação emocional e a realização de actividades
extraordinárias.
a
q
o
4|
O comportamento colectivo implica, por vezes, uma intensificação de
reacções que já tinham sido antecipadas. Por exemplo, quando jovens vão
=
t
4 assistir a concertos de bandas rock esperando ser excitados, a interacção que
ocorre entre os membros da assistência pode suscitar uma experiência colectiva
E AR

inais intensa do que se havia antecipado. Podemos também questionarmo-nos


porque é mais excitante assistir a um jogo de futebol num estádio repleto do
que na televisão, mesmo vendo-se melhor na televisão.

585
O estudo do comportamento colectivo é um aspecto import
ante da psicologia
social, não só em si mesmo, mas também porque é difícil que qualqu
er aspe d
do comportamento social não depare ocasionalmente com a expres
são extrem
de algum tipo de comportamento colectivo (Milgram e Toch, 1969
Estereótipos, preconceitos, agressão, obediência são facilmente percep
tíveis
nos comportamentos de linchamentos e fornecem a energia aquando d
demonstrações públicas paroxísticas, como na época hitleriana.

Sp

3. O Estudo do Comportamento Colectivo

586
e com sérios problemas
Q estudo do comportamento colectivo defronta-s
ar o comportamento
(Aguirre € Quarantelli, 1983). E efectivamente difícil estud
, O comportamento está
colectivo na vida real porque, a maior parte das vezes
seu estudo. E também difícil
em curso antes de se ter tempo para se preparar o
Talvez isso explique porque é que,
isolar e medir as variáveis pertinentes. m uma grande atenção
“apesar dos primeiros textos em psicologia social prestare
avançado recentemente na
ao comportamento colectivo, pouco se tem
compreensão deste aspecto.
do comportamento
Mas apesar das dificuldades suscitadas pelo estudo
a um certo número de abordagens
colectivo, Os investigadores têm recorrido
“(Milgram e Toch, 1969).
rito, quer sob a forma
Os cientistas sociais têm recorrido à métodos de inqué
estudar o comportamento
de questionários quer de entrevistas pessoais, para
acontecimento, pedindo-se
colectivo. Geralmente, são conduzidos após o
mentos, percepções e
aos participantes para relembrar a sua situação, senti
inquérito para estudar
observações. Há, no entanto, trabalhos que utilizam o
em curso (Mann, Nagel e
o comportamento colectivo quando este estava
Dowling, 1976).
examinar certos tipos de
São óbvios os limites do método de inquérito para
pessoas que participaram
comportamento colectivo. Por exemplo, é difícil que
ia este método tem
num linchamento se submetam a uma entrevista. Todav
desta área.
aplicações susceptíveis de contribuir para à compreensão
o acontecimento
A análise de conteúdo propicia um método de estudo após
compreensão do
que também se reveste de utilidade para aumentar a
íveis para
comportamento colectivo. São muitas as fontes secundárias dispon
comportamento
obter informação sobre acontecimentos espec íficos do
históricos
colectivo. Por exemplo, Tilly (1978) utilizou diversos documentos
para reconstituir motins.
advém, como se
Um dos problemas para estudar o comportamento colectivo
o directo
disse, da dificuldade em predizer-se a sua ocorrência para se ter acess
têm recorrido a
aos episódios. Apesar disso, um certo número de estudos
ntos. Por
técnicas de observação utilizadas no decurso dos acontecime
observadores
exemplo, Berk (1974) e vários estudantes seus foram
administradores da
participantes de um confronto entre estudantes e
universidade.
dos tipos de
Por razões práticas e éticas não é possível estudar a maior parte
engendrar algo no
comportamento colectivo no laboratório. Imagine como
rock ou a um
laboratório que fosse equivalente a um concerto de uma banda
A criação
linchamento. Apesar disso têm aparecido tentativas esporádicas.

589
EE perto TETE SE
Eos pers e PRE Ari

de uma turba foi estudada quando se convenceram sujeitos de que um crime .


terrível tinha sido cometido (Meier, Mennenga e Stoltz, 1941). O compadre
dos investigadores tentou então tornar-se o chefe de um grupo e criar um :
turba para procurar por todos os lados os perpretores. Só cerca de 12% dos
sujeitos se mostraram propensos a juntar-se à turba. Num outro estudo, French
(1944) tentou estimular um pânico para avaliar as reacções diferenciais de
grupos organizados e de grupos não organizados. Para tal fechou grupos de
sujeitos numa sala, tocando então o alarme de incêndio, enquanto que se .
fazia entrar fumo. O pânico não ocorreu entre os participantes, mas os grupos.
previamente organizados mostraram a tendência a reagir de modo mais.
ordenado do que os grupos que não tinham sido previamente organizados,
Há também referências de que investigadores nazis estudaram o pânico
utilizando prisioneiros em situações da vida real (Farago, 1942).
Mais
recentemente Gamson, Fireman e Rytina (1982) recorreram ao método
experimental para estudar a condescendência e a revolta em encontros
colectivos. Seja como for, ainda resta muito trabalho a concretizar para que se
esteja perante uma literatura plenamente convincente. Milgram e Toch afirmaram
que «não há experiência realmente satisfatória sobre o comportamento
colectivo» (1969, p. 582). Segundo os autores a melhor experiência seria a de
Mintz, a que nos referiremos mais adiante, mas que em relação ao pânico real
estaria para ele como o jogo do Monopólio em relação à alta finança.

Em suma, há diversos métodos que permitem estudar o comportamento


colectivo. Todavia é de ressaltar que esta área de estudo defronta-se com
problemas diferentes dos de outras áreas de investigação apresentadas neste
texto.

Brown (1954) propôs dois tipos de multidões: as multidões activas e as


multidões passivas por ele denominadas audiências. Se bem que a sua
taxonomia utilizasse outros critérios de classificação, o principal parece ser q

a distinção entre actividade e passividade. Inspirados nesta ideia de Brown,


para se tentar compreender de que são feitos os comportamentos colectivos, 4. Os Comportamentos das Massas
adoptar-se-á na exposição a distinção entre o que fazem as massas e 0 que se
passa nas massas.

590
anham de
Serão analisados comportamentos colectivos que se acomp
desenvolvidas
expressões comportamentais de cólera, de alegria e de medo
colectivas
paroxisticamente. Quer se trate de acções ou de desagregações
nal.
sobressai à constância de um estado passio
ismos psíquicos
* Seguidamente tentaremos interrogarmo-nos sobre os mecan
quando estão
que levam os indivíduos a assumirem determinadas atitudes
“inseridos nas massas.

“41 Acção colectiva

m o podem
Se as multidões podem estar dominadas pela violência, també
estar pelas alegrias colectivas.

4.1.1 Vioiências colectivas

ão são
As pessoas que assistiram a manifestações de violências na multid
de motins, de
unânimes em considerar que o horror é a regra quer se trate
l (1963)
revoltas, de revoluções, ou de linchamentos (Mannoni, 1985). Stoetze
vas,
pode notar que, ultrapassado o horror das descrições de violências colecti
o que surpreende é o carácter quase ritual das violências.
Um
No caso concreto do linchamento é usual distinguirem-se duas formas.
é «orden ada» e
é o «linchamento Bourbon» em que a acção colectiva
acompanhada por pessoas ricas com o intuito de castigar o culpado. O outro,
o «linchamento do proletariado», é cometido por pessoas desfavorecidas de
modo desordenado.

Miller e Dollard (1941) apontam três condições para o aparecimento do


linchamento: uma componente económica, uma componente social e um
incidente gerador. Os linchamentos nos Estados Unidos ocorriam nos anos
tornava-
em que o mercado do algodão atingia os preços mais baixos. O negro
então a
-sé O concorrente sobre o mercado de trabalho, desenvolvendo-se
estatuto do
necessidade de um bode expiatório: «É a culpa do negro». Aí o
branco por mais baixo que fosse devia permanecer superior ao do negro. É
quando o estatuto desse branco corre o risco de baixar que o ódio se
desencadeia. As componentes económicas e sociais suscitam uma forte
motivação. Neste contexto o incidente gerador não tem necessidade de ser
de
importante nem de estar em relação lógica com a situação, nem mesmo
ser real. O importante é o modo como vai ser interpretado tendo em conta as
593
expectativas e os temores. O incidente gerador desencadeia a estruturação tipo não diferiram entre si no aumento de população
dop rimeiro e do segundo
precária suficiente à multidão, aparecendo os chefes. ças de rendimento de negros
n em no número de desempregados nem nas diferen
Os diferentes papéis assumidos variam consoante a posição social do sujeito, e brancos.
Por exemplo, Cantril (1941) mostra que os desempregados e os operários
sem qualificação estão entre as pessoas mais activas e os organizadores das
violências. A classe média mostra-se prudente estando de acordo com os
linchadores, mas não participam na acção. As pessoas de classes superiores 41.2 Alegrias colectivas
estão antes em desacordo com a acção colectiva, mas não se interpõem.
alegria
Das hostilidades colectivas passamos a referir alegrias colectivas. Por
O genocídio, guiado pelo desejo de destruir todos os representantes de um ou boa sorte ou
pode-se referir «a emoção evocada por bem-estar, sucesso
grupo humano, inspira-se no mesmo impulso que o linchamento, constituindo p. 435). Trata-
pela perspectiva de possuir o que se deseja» (Lofland, 1981,
no entanto um agravamento pot generalização. É a manifestação última da
se de um estado de felicidade.
necessidade colectiva de violência exterminadora. O genocídio assenta na
o Deo aa
exacerbação de diferenças étnicas, políticas, raciais ou religiosas. As alegrias são colectivas em dois sentidos: uma emoçã
E
um conjunto disperso de pessoas que prestam atenção ao mesmo obje
Os motins também têm várias analogias com os linchamentos, se bem que, po
mais ou menos ao mesmo tempo e que estão conscientes que outras
em geral, nos motins as acções violentas sejam mais irradiadas e difusas do ão junta
também estão nesse caso ou a emoção dominante de uma multid
que dirigidas contra uma pessoa em particular. Frequentemente as fontes
num local.
são semelhantes: descontentamento de uma minoria oprimida que se ressente
do mau trato recebido de um grupo dominante injusto e suspensão temporária A corrida para «El Dorado» é um dos exemplos das alegrias das massas.
de controlo social organizado. Podem ocorrer motins, por exemplo, quando Está centrada na crença de que a riqueza pessoal rápida está à mão se uma
um Pie
estudantes se recusam a pagar as propinas. Entre os motins mais badalados pessoa quiser ir buscá-la agora (LaPiere, 1938). Implica correr para
são os que envolvem presos nas cadeias. específico para tomar posse de riqueza. A corrida ao ouro do Brasil em séculos
passados está bem patente na história de Portugal.
Um motim especialmente trágico ocorreu em 1943 em Detroit tendo estado
na base de várias investigações de cariz psicológico (Lee e Humphrey, 1943; Entre as multidões onde predominam as alegrias colectivas refiram-se as
Brown, 1954). Nasceu de uma briga entre um negro e um branco e de boatos festivas. Uma cena típica destas multidões é a demilhares de pessoas adançar
do género
de que desordeiros brancos haviam atirado de uma ponte uma criança negra. em ruas públicas horas seguidas e mesmo dias seguidos. Algo
Cerca de 5 000 pessoas envolveram-se na confusão que se prolongou por occorre por ocasião do Carnaval no Brasil.
mais de 24 horas.
Note-se, todavia, que as fronteiras entre as alegrias colectivas e La
A análise de setenta e seis motins nos Estados Unidos (Lieberson e Silverman, colectivas parecem ser bastante fluidas, podendo-se passar facilmente e
1965), entre 1913 e 1963, mostrou os seguintes acontecimentos imediatos umas às outras. Existem duas disposições mentais das pessoas, uma que vai
a
que os precipitaram: luta inter-racial (dezasseis); assassinato, prisão ou procura no sentido da socialização e a outra no sentido inverso, pulsão que procur
tâncias que
de negros por polícias brancos (quinze); direitos civis e questões de segregação ocasião de se actualizar. Será a forma que assumem as circuns
em matéria de transporte público e alojamento (catorze); assassinato € tiroteio leva à passagam ao acto ou não.
inter-racial (onze); estrupo, assassinato, ataque ou assalto à mão atmada de
mulheres brancas por homens negros (dez): outros incidentes (dez). Uma
comparação estatística entre cidades marcadas por alta incidência de motins €
cidades do mesmo tamanho e região com baixa incidência de motins mostrou 4.2 Desagregação colectiva: pânico
que nas cidades do primeiro tipo havia uma diferença menor entre negros e
brancos quanto ao trabalho, às ocupações domésticas e aos serviços. As cidades 1 um traço É e
Uma acção violenta levada a cabo em comum consegue criar
de alta incidência também tinham menos polícias negros (para cada 1 000
união entre as pessoas que a efectuam. O mesmo pode não aconteçer quan
negros) do que as de baixa incidência e distritos eleitorais maiores. não.
As cidades o medo se apodera das pessoas perante um perigo Seja ele objectivo ou

594
4.2.1 Natureza do pânico
st
asiata a primeira demonstraç âni o pode ser sus citado sem
ão de que o pânic
Fo
O termo pânico é utilizado duma env oe rumores ou multidões (Klapp, 1972).
maneira vaga na linguagem corrente
em pânico : «Entrei i o deste modo pra um
quando me dei conta que tinha perd Como é possível ue tantas pessoas tenham reagid
ido o meu anel»; «quando o: lhes
ascensor parou, entrei em pânico.» ;
ádio? à e o que
a das razões é de que estavam perant
ou terror, mesmo se algumas das prim
O pâni co é mais do que ansiedade, medo
eiras conceptualizações sublinharam
P lat a s. Então, quando muitas das pessoa s
emocional da pessoa (Cantril, 1940). o estado yare: Jí f. ”
, + me

No âmbito do comportamento colectiv tele


o pânico implica med o, | i
inutilizado as linhas
iam m inutili fónicadas.
o Quis
o e fuga e uma via de escape (Quarantelli didas de que os marcianos havia
1964). Mesmo se a fuga é um aspecto , 1957; Schultz,
fundamental do pânico, não se pode
persu =vez desencadeada a reacção de pânico é muito difícil pará-
ES E
Uma
inferir que toda a fuga seja pânico. Num i outras pessoasà que 1 am p
as pessoas come aram a fugir,i se
pânico a fuga não é social nem racional viam
(Quarantelli, 1957). O sujeito pensa . l concluiam que não estavam cientes da
na sua própria sobrevivência e não
presta dos seus assuntos; de modo norma
atenção ao facto do modo como age i i
Interpr p tamento
etar esse € ompor
poder prejudicar o bem-estar colectiv | gência e se viam alguém acorrer podiam
o, emer, 7

O pânico constitui uma das formas mais como reflectindo a necessidade de escapar.
dramáticas de comportamento colectiv
Se bem que o pânico surja tendencialmente em situ o,
ações de multidão em que as
pessoas se reforçam mutuamente umas
às outras
sobre a fuga perante o perigo,
pode também aparecer em situações
em que as pessoas não estão juntas. Pâni
económicos podem ocorrer em pess
soas que estão dispersas se elas apli
cos 422 Simulação do pânico
um conjunto de definições a uma cam
situação comum. É necessário algu têm aee pr poe das, p
sdóripara
m ânico o têm si
estímulo, como seja uma Teportagem radi
ofónica ou televisiva sobre uma Várias tentativas para simular situações de pânic
e (Mintz, q
bancarrota pendente , para suscitar a acção de pessoas disp a o da de French (1944) que já referimos previament
ersas.
etal., 1965; Schultz, 1969, Guten e Allen, 1972).
Considere-se o célebre exemplo
(Cantril, 1940): no dia 30 de Outu para testar a hipótese,
1938, o bro de i iência
posto de emissões radiofónicas da Colu
mbia Broadcasting System mia didi testação a cooperação do que
nos Estados Unidos, interrompeu brusca na o Da
memte o seu programa para difundir s
uma emissão que era apresentada aos ao Fa Efectuou uma simulação de pânico, observando sujeito
auditores como uma reportagem RE
ines perada imposta por um aconteciment
o extraordinário. A Terra havia sido o a a Reais de 15 a 20 pessoas cuja tarefa consistia em
invadida pelos habitantes do Planeta Re À E RA do gargalo apertado de uma garrafa por see já
Marte. Esta pseudo reportagem, de
depois se admirou o «realismo», foi que
tirada do romance fantástico de H. G. e E né cones. Após os cones haverem sido colocados na srs
Wells «A guerra dos mundos», e representada da pre pe sujeito um pedaço de um fio de pesca atado a só um
pela companhia teatral de j ente podiaj pas sar um cone de
Orson Welles. cones. Dizia-se então aos sujeitos que unicam
vam simulta-
cada vez através do gargalo da garrafa. Se doisÀ cones chega
Antes da emissão terminar, cont
a Hadley Cantril, pode-se ver sobr neamente ao gargalo, bloqueavam-no. Quando era dado o sinjnal s para
o começar,
território dos e todo o
Estados Unidos, pessoas que fujiam a água começava a fluir ao fundo da garrafa. Dava-se pare aee
desvairadas para escapar à
maneira de matar utilizada pelos marc tes seus cones trair' Os s em os moinar.
ianos tal como o descrevia a emissão, sujeitos para tentar ex a : ]
ou então rezar a Deus ou vociferar. Uns tos» no gargalo
precipitavam-se para tirar as pessoas Éereci a recompensas pelo sucesso não havia «engarra
es famen
i su eio
próximas do suposto perigo, outros tran
smitiam por telefone os adeus ou dE ; arrafa. Ê Todavia, E numa segunda condição, era E no RR que
conselhos às pessoas amadas, apre etam E
ssavam-se a informar os vizinhos, — 25 «centavos» pela obtenção de um cone emana e ioa nie
,
ainda proc outros
uravam ter informações mais precisas das do cone estivess
redacções dos jornais ou das um terço se maisde deum umterço
AM ou emenos terço estivesse molhado ans riaA uma DO 1
multa.
estações de emissão de rádio, ou chamavam
ambulâncias ou carros dapolícia. ICconm ,
éste dê 00s « «engarrafamentos» ocorreram em mais1 de m etade
a ad ê
Avalia-se o número dos auditores : tai
Deste número, dois milhões consider
desta emissão entre seis e doze milh
ões. Isto aconteceu quer se permitisse que os sujeitos comunic a:
aram a emissão como uma reportag
em lhes permitisse. Mintz concluiuju não ári um mM edo intenso para
nã ser necessário
real e portanto autênticos os factos cont
ados. Destes dois milhões, 70%, port
1 400 000 pessoas, foram abarcadas anto
pelas emoções que vimos mais acima. pânico.
596
597
água

Figura 13.1 — O aparato de Mintz

colectivo.
mais dramáticas de comportamento
O pânico constitui uma das formas

2) os sujeitos eram castigados com


Também na experiência de Guten e Allen (197
€ encontrou-se que intensidade das
choques eléctricos se fracassavam em escapar,
curvilinear com a possibilidade
tentativas de escape estava relacionada de modo vam
par de modo mais vigoroso se esta
: . de escape. Isto é, os sujeitos tentavam esca
Numa série ltados ajudariam a explicar porque é
ltz, 1969), : estudantes universi ) incertos de ser capazes de o fazer. Tais resu
tárias era m colo istos
Mi cada peran per s (Schu
um ntai
te rime
expe o m quando O perigo é muito alto mas à
É E go (ameaça
eléctri
oqueue eléc
de choq trico)e podia que o pânico não ocorre geralmente ados
ei esperar
ou E que o caminho da retirada ficasse desimpedido e então arco como quando os mineiros ficam fech
. probabilidade de escapar é muito baixa, go
pr ', COO a o resto do grupo; ou fugir do perigo, imediatamente numa cave (Lucas, 1968). Por outr o lado, a ambiguidade acerca do grau de peri
egas e deixando-as, , em cert a medida,i a, sob ameaça do choque. e probabilidade de escapar aumenta à prob
abiliade de pânico.
geral,eo ente
Em a RRd Ega e En quarto das estudantes mostravam disposição de do género da exposta, Fritz e
custa das colegas. . Não s e observavam dif: à oc t A partir da literatura sobre experimentaçã o
Iferenças, na incidência su ceptível de ocorrer quando
ani É
Rdesta s respostas de pânico, relativas ao tamanho do grupo :as pressões de Williams (1957) concluiram que o pânico é mais
i À existem as seguintes condições:
mpo, às
dades por falhas ) na retir ada, à ocorrência de pânico noutros
Na iros E punali e grave, como por exemplo,
cg 8 upo ou ao anonimato de cada sujeito. S Num teste de
nes 1. Aspessoas percepion am um perigo imediato
a E dentro da comunidade.
ua ça e pôs-se em evidência que as estudantes que sacrificavam outras segurança financeira ou estatut o social
a ia eram mais sensíveis, mais femininas, mais dependentes, mais
pocondríacas. As estudantes que eram primogénitas apre seita 2. As pessoas percepcionam que há só um
número limitado de vias de escape,
provisão. Se houvesse um grande número
respostas de pânico mais fi requentes e mais , rápi : A
ou algum outro item com pequena
g s rápidas do que as nasci das após O ar facilmente todas as pessoas
primeiro parto. E de vias de escape que pu desse acomod
de competição e donde de pânico.
necessitadas, não haveria necessid ade
599
598
3. As pessoas acreditam que as vias de escape existentes estão a fechar.
Do =
se, de modo que se não se sai à pressa, não haverá
nenhum escape.
Se as vias de escape não estão a fechar-se, haverá muito tempo
para Documento 13.1 — Pânico e desastre
todos escaparem, e provavelmente o pânico não ocorrerá,
Um levantamento das reacções humanas perante desastres ocorridos em tempo
4. Finalmente, ou há uma falta de informação ou os canais de como 7furacõeõ s, cheias
i e grandes exp losões,
osões, 1 levaram à seg seguintes
comunicação existentes são incapazes de conservar todas as pessoa
| de E paz,
informadas de modo adequado sobre a questão. Tal leva àambiguidad, conclusões (Fritz, 1961):
e à maior urgência. As pessoas com experiência anterior de desastre respondem de modo
mais apropriado do que as pessoas que a não têm.

9. Durante o desastre e logo após o desastre, o pânico é pequeno e quaisquer


ocorrências deste tipo são muito exageradas.

3. Geralmente o tráfego é maior em direcção ao local do desastre do que


dead a - é : E .
Por vezes a multidão pode inibir a fuga de uma situação perigosa pela recusa - entido contrário.
em tornar-se activada. Houve vários casos de fogos Es
em clubes nocturnos e
teatros em que apesar do aviso de fogo, houve recusa de
partir. Por exemplo, | | 4. Uma organização social informal, mas eficiente e muito unificada, surge
em 1927, o clube nocturno Beverly Hills em Kentucky
incendiou-se, e muito — logo após o desastre para tratar de suas consequências, à es siRaNtERiO
embora se tivesse anunciado que havia um incêncio, o públic
o assumiu que é temporária e raramente ocorre ao nível do grupo primário (por exemplo,
fazia parte do acto e muitas pessoas ignoraram o aviso. Result família).
ado: morreram |
165 pessoas.
5. Como decorrer do tempo, reaparecem gradualmente as distinções soco
Todavia as pessoas que são vítimas de desastres nem sempre bem como os conflitos sobre as pretensas injustiças no tratamento das
reagem de modo +
desorganizado, irracional. A análise de desastres em divers consequências.
os contextos culturais
mostra que a fuga desorganizada é rara. A maior parte das
pessoas consegue
abordar de modo racional situações de perigo. Por exemplo, as
pessoas reagiram 6. A preocupação com a segurança da família do sinistrado e de outras
de modo relativamente racional a seguir ao terramoto princi
pal em São pessoas íntimas é predominante, mesmo por parte das pessoas com
Francisco em 1989. Contudo também se tem mostrado que quando responsabilidades comunitárias.
as pessoas
devem evacuar uma zona por causa de algum desastre que está
para chegar (cheia,
tornado, etc.), a maioria das pessoas podem não partir (Quaran 7. A maior parte das pessoas sinistradas experiencia alguma espécie de abalo
telli, 1960).
emocional ou físico (náusea, diarreia, irritação, etc.) que sé prolonga
Estudiosos de desastres de incêndios em hotéis referem que a maior durante algum tempo após o desastre; O abalo, contudo, é essencialmente
parte das
pessoas não entram em pânico, e a maior parte das que fracas transitório e não afecta as respostas realísticas sobre o sinistro e raramente
sam em escapar
quando a ocasião se lhes apresenta, é devido a erros de Julgam suscita estados crónicos de séria perturbação mental.
ento e não tanto
a comportamento irracional (Keatinge Loftus, 1981).
O desastre permance como um acontecimento principal nas
vidas das

o
Quando ocorre um desastre um outro mito muito difundido é o do «síndr
ome vítimas.
do desaste». Uma vez passado o perigo, as pessoas ficam confund
idas e
incapazes de confronto. Observações de vítimas de desastres têm
mostrado
que o «síndrome do desastre» (apatia, choque) só afecta uma
minoria de pessoas
e durante pouco tempo. De um modo geral, as pessoas reagem imedia
tamente
e de um modo lógico à situação. O mito do «síndrome do desastre»
pode ter
sido levantado dado as pessoas parecerem correr à toa, se bem que
estejam
efectivamente à procura de amigos e parentes perdidos (Killian
, 1952).

600
601
4.3 Teorias explicativas Os ac
O próprio aplauso e riso podem ser «contagiosos». Num estudo,
do Centro de Ciência do Ontario (Canadá) viam um filme, após o qu em
O comportamento das multidões pode aparecer muitas
vezes como sendo adre aplaudia (Freedman, Birsky e Cavoukian, 1980). Observav:
bizarro e irracional, como vimos em fenómenos colectivos, tais as
como os o de pessoas que também aplaudiam e encontraram que quando
motins e o pânico. Para se compreender essa aparente Td
irracionalidade E io estavam sentadas muito perto umas das outras, O apo
referiremos quatro abordagens: a teoria do contágio, a desindividua E
lização, q maior do que quando as pessoas estavam mais espalhadas. : Ea
teoria da convergência e a teoria da norma emergente.
pessoas também teve um efeito, embora pequeno. Um grande núm:
pessoas experienciavam mais contágio do que um pequeno grupo.

Muito embora a teoria do contágio tenha certa popularidade em certos asas.


4.3.1 Teoria do contágio Tumer (1964) refere vários problemas com que se defronta o E a
Ra
abordagem geral para a compreensão do comportamento co E j :
Numa perspectiva histórica a teoria do contágio foi muito provavelment problema é a extrema dificuldade em submeter a teoria do con E E
e à Sa
abordagem mais amplamente utilizada para se compreender fenóme teste empírico. Como, por exemplo, medir o modo como pessoas esti
nos, tais E
como pânicos, motins é outras acções das multidões. As teorias basead umas às outras estados emocionais? Um outro problema tem a ver as a
as no E
contágio explicam o comportamento colectivo com base nalgun ateoria não nos diz nada acerca do desenvolvimento daliderança e E
s processos
mediante os quais humores, atitudes e comportamentos são comuni papéis na colectividade. Ainda uma outra dificuldade é que se es j :
cados
rapidamente e aceites de modo não crítico (Tumer, 1964).A teoria focaliz difundem a teoria tendem mais a referir acontecimentos ina sr
ou-
-Se em explicar como é que pessoas numa colectividade se compor dramáticos que não foram directamente observados pelos Ed
tam: 1) de te
modo uniforme, 2) intenso e 3) diferente dos seus padrões dependentes do testemunho ocular inconsistente das pessoas. a :
habituais de
comportamento. tais acontecimentos dificilmente são típicos do comportamento colectivo ,
geral, devendo-se ser precavido na generalização destes acontecimentos
A teoria do contágio teve as suas origens no trabalho clássico de Le
Bon outras formas mais usuais de comportamento colectivo.
(1895) que acreditava que nalgumas situações, uma multidão pode
desen- há algum oe
volver uma alma colectiva que é inerentemente irracional. Segund Apesar destes problemas não restam dúvidas q
o Le Bon
são vários os factores que contribuem para o desenvolvimento emocional numa multidão constituindo um factor crítico na estimulação E
desta alma
colectiva. Em primeiro lugar, o número de pessoas na colectividade produz sua acção. Todavia há também outros factores que se devem ter em con
um sentimento de poder avassalador acompanhado por uma consciência para se compreender o comportamento colectivo.
de
anonimato e por uma redução na responsabilidade individual. Isto
conduz à
liberação de «instintos selvagens» que habitualmente estão suprimi
dos. Os
elementos da multidão imitam o comportamento das pessoas que estão à volta,
43.2 Desindividualização
e, por sua vez, estimulam os outros a agirem do mesmo modo. Para Le Bon a
sugestionabilidade é o factor mais importante que produz uma vulnerabilidad
e A perspectiva de Le Bon sobre o anonimato é semelhante ao Ponteio
ao contágio, uma espécie de processo hipnótico que leva as pessoas a agirem
contemporâneo de desindividualização, isto é, uma pao temporári
Ed a na
+. =. ” ue . 4

em consonância com as acções das outras pessoas.


autoconsciência e no sentimento de responsabilidade social.
À teoria do contágio dá muito peso a ideias como as do estímulo-resposta e ão
do contágio emocional. Supõe-se que quando a multidão age e interage Atribui-se a Festinger, Pepitone e Newcomb (1952) a primeira utilizaç
, as deste conceito em psicologia social. Neste estudo os sujeitos Dag
emoções são transmitidas muito rapidamente de um indivíduo para
outro. num grupo de discussão numa dentre duas condições. cego i ta
Cada um transforma-se como se estivesse cada vez mais sob à influênc
ia do
(identidade pública), os participantes, usavam O seu próprio co cai
grupo. Esta transformação torna-se mais fácil devido à reacção circular E
, «um outra condição (desindividualização) cada pessoa vestia Luna ata À
tipo de interestimulação» (Blumer, 1951). A pessoa A reproduz a estimul are
ação Pedia-se aos membros de cada grupo para fazerem comentários ria
que adveio da pessoa B e esta, uma vez retro-reflectida para
esse indivíduo, dos seus pais. Tais comentários eram muito mais frequentes na condiçã:
reforça a estimulação original.
desindividualização.
602 603
EE

DEE Reta dio dna fee


Zimbardo (1970) descreveu a desindividua
lização como um processo
complexo em que uma série de condições
sociais antecedentes levam a
mudanças na autopercepção (a pessoa cons
egue ver-se mais como membro
de um grupo do que como indivíduo), levando por
sua vez a abaixamento no
limiar para um comportamento normalmente moderado
. Quando as condições
estão reunidas, tal pode produzir comportamento

e
antissocial. Por isso esta

A
abordagem vê o comportamento colectivo não tanto
como o resultado da
emoção se espalhar através de uma multidão, como
da perca de individualidade

LR
e do desprezo de normas sociais numa situação de
anonimato relativo, isto é,

RO
numa multidão.

é
A desindividualização é o resultado de vários

Ed
factores (Zimbardo, 1970):

dA]
1 Perca de identificação. Isto pode ocorrer numa
pessoa que está numa
multidão de estranhos ou usando uma máscara.

2) Perca de responsabilidade. Se muitas pesso

]
as enveredam pela à sentir:ir- nos ea e
ad ivados
violência, a partilha da censura de cada pesso idão tendemos
Quando estamos inseridos numa multidã
a pode parecer ser
menor, desinibidos. Tal pode suscitar comportamentos perigosos ou Simp
uma agradável atenuação de constrangimentos.
3) Presença de actividade física grupal que estim
ula e encoraja. Por
exemplo, quando alguém está a gritar num camp
o de futebol, essa
estimulação pode levar outras pessoas agritar.

4) Perspectiva temporal limitada. A pessoa vive


para o momento e
ignora as obrigações do passado e do futuro. B
Ê

5) Uma situação nova ou não estruturada. A ausência 1)

de pistas que de
outro modo restringem o comportamento podem levar a um
abaixamento de inibição.
] 1 “4 +. li 1 1
f + ] |

Vários estudos do comportamento das pessoas


em condições de anonimato
parecem apoiar a hipótese da desindividualização.
Por exemplo, Zimbardo
(1970) verificou no laboratório o efeito da desindiv « ).
idualização sobre a
agressividade. Os sujeitos participavam na
experiência em grupo. Na
condição de desindividualização usavam vestuário Enquanto que no início os sujeitos SER Es Lia a ei a a
de laboratório e cogulas
idênticas de modo que era impossível identificá-los. ituação em breve começou a -se. Os guard
Pelo contrário, na
condição individualizada usavam o seu vestuário Dra vez E abusadores e punitivos em relação aos aa UA
e tinham letreiros em
que os seus nomes estavam inscritos de modo claro. que os prisioneiros tornaram-se passivos e TROS ata LA ae pr
Durante à experiência
Os sujeitos deviam dar choques eléctricos a outro estud tais como choro, agitação, confusão e depressão. Ap S a e E
ante no âmbito de
uma tarefa de aprendizagem. Como fora previsto
e apesar do aparente experiência planificada para durar duas semanas, terminou.
sofrimento da vítima (compadre do experime tornaram-se realidade para os participantes.
ntador), os sujeitos
desindividualizados deram duas vezes mais
choques eléctricos que os i Íti
críticas (Thayer e Saami,1, 1975).
é =Os
sujeitos individualizados. Esta experiência não deixou de suscitar
sujeitos tinham assinado formulários em que concordavam ser pagos p

604 605
SCIENTI TO NNE
Ega
meposa E
p=

participar num estudo em que alguns dos seus direitos seriam protelados. Estes três processos, bem como outros, podem contribuir para sentimentos de
Por
zação é
desindividualização. Mas é de notar que nem sempre a desindividuali
isso podiam sentir a obrigação moral ou legal de continuar e podiam
ter
exagerado os seus sintomas de stress para sair das suas obrigações. Os guardas a-nos das nossas inibições
má, também pode ter um efeito positivo. Libert
podiam ter actuado como o fizeram, como «bons sujeitos», porque ção ocorrem,
se esperava pessoais o que muitas vezes é libertador. Estes efeitos de liberta
deles que tornassem o estudo mais real. Havia também algumas difere os
nças r exempl o, quando os autores recorrem à pseudónimos, ou quando
individuais, pois alguns dos prisioneiros não se tornaram apáticos exploram a sua autonomia na Faculdade. Nesses casos pode
mos gozar
nem alguns a
c
dos guardas abusadores. com a perca dos constrangimentos da nossa identidade pessoal.
Apesar disso, o estudo mostra o poder da situação, especialment
e em
instituições totais, como as prisões. Num grupo de jovens normais
que .
participavam numa experiência simulada, a perca de identidade pessoal pode
levar a mudanças dramáticas no comportamento, e isto num curto lapso
de 43.3 Teoria da convergência
tempo. Pode-se facilmente extrapolar daqui para o impacto da exposiç
ão
prolongada em instituições tais como prisões, hospitais e casernas. pc
De acordo com a teoria da convergência, a presença da multidão não
de
Este tipo de efeito não parece ser específico da cultura ocidental. Por o factor causal na explosão colectiva. Fornece simplesmente uma oia
>
uma amostra com 200 culturas espalhadas através do mundo, Watson
meio de para as pessoas fazerem o que estavam predispostas o fazer. Segundo A =
(1973) (1924, p. 295) nada de novo se acrescenta na situação de multidão «except
mostrou que a desindividualização, medida por mudanças na consciê
ncia
individual no decurso de danças colectivas ou de cantos, se associam de modo uma intensificação do sentimento já presente, e possibilidade de acção
significativo com tortuosos castigos aplicados ao inimigo aquando de combate concertada».
s
guerreiros.
As tarefas consistem em:
A desindividualização ocorre em diversos contextos e fora do laboratório. 1) identificar a tendências latentes importantes,
Mas porque é que isso ocorre? Têm sido sugeridas três possibilidades. Em
primeiro lugar, as condições de desindividualização podem levar a uma perca 2) apontar as circunstâncias que levam as pessoas a ter conjuntamente
de identidade pessoal que nos deixa livres dos nossos padrões pessoais € estados latentes semelhantes; e
inibições. O comportamento da multidão pode diminuir a autoconsciência €
interferir com o controlo das atitudes sobre as acções (Diener, 1980). O nosso 3) determinar as espécies de acontecimentos que transformaram estas
comportamento torna-se então vulnerável a padrões da multidão que muitas tendências em acção (Turner, 1964).
vezes são emotivos e impulsivos.
Tal como para a teoria do contágio, Tumer (1964) observa que ateoria da
Uma segunda possibilidade é que a busca de identidade pessoal num grupo convergência defronta-se com diversos problemas importantes. Um RT
leve as pessoas a assumirem uma nova identidade, definida pelo grupo e pela problema é a dificuldade em explicar mudanças no comportamento as
situação. Este factor foi muito provavelmente importante no estudo da prisão multidões com base nesta abordagem. Um segundo problema, partilhad o
de Zimbardo em que os estudantes assumiam identidades definidas pelos seus com a teoria do contágio, é a de fornecer pouca ajuda no estudo da QBinias
papéis de guarda e de prisioneiros. nas situações de multidão. Um terceiro problema, intimamente md o
com o primeiro, é de que se concordarmos que provavelmente os indivé uos
A terceira possibilidade é que sentindo-se a diminuição da identidade pessoal têm várias tendências latentes, e não só uma, como efectuar à predição dos
num grupo, se tente reafirmar a nossa singularidade pessoal. Sentir-se perdido estados latentes que aparecerão? Um último problema É de que se a cetnição
numa multidão pode motivar-nos a fazer algo que nos torne reconhecidos. da situação é um produto do grupo, essa definição podia ser contrária s
Por isso numa multidão podemos gritar a um árbitro, insultar a polícia, ou supostas tendências latentes desse grupo. Defrontamo-nos aqui com
pontapear uma pessoa, tudo para tentar suplantar os sentimentos desagradáveis problemas empíricos cuja resolução se reveste de extrema dificuldade.
de estar perdido na multidão.

606 607
o EE SULam NLAO fd

4.3.4 Teoria da norma emergente


| das quatro teorias acabadas de referir - contágio, desindivi-
a E a ência e norma emergente — exercem uma certa atracção
A teoria da norma emergente (Tumer e Killian, palização, cor" E tro episódio colectivo. Todavia todas as quatro suscitam
1972) propõe que para «
estudar o comportamento colectivo não é neces E E ão do comportamento colectivo. Trata-se de tortas que
sário recorrer a um nov oblemas O emente bem definidas. Tal não surpreende se tivermos
conjunto de conceitos e de instrumentos. jão estão su ície a dificuldade em estudar o comportamento
Podem-se utilizar igualmente muito colectivo. Há
dos conceitos e instrumentos básicos que
se utilizam no estudo de outros tipo
de comportamento humano. ? DO geo do comportamento colectivo, mas pd elas não o

cpa ça
sad problemas Poreempo a tcrados fogo
A putras à ja dos jogos que fornece
De acordo com a teoria da norma emergent
e, os indivíduos numa multidãe
agem de determinado modo porque têm a
percepção de que a acção é
apropriada ou necessária. As multidões são cons ; DO
Éenóm tiremamente complexos a teorias que surgem amplamente de
ideradas como sendo inicial. sos com duas pessoas (Granovetter, 1978).
mente heterogéneas em relação a objectivos J
, sentimentos e comportamentos,
Contudo uma percepção partilhada da situa
ção desenvolve-se mediante a trans-.
missão do rumor e da comunicação não verbal. Os
indivíduos começam então a.
percepcionar um consenso sobre qual é o comporta
mento apropriado, isto é, normas
emergem. Mesmo se não há concordância total,
os elementos da multidão
actuam segundo as normas emergentes por
causa da pressão à conformidade. .
A teoria da norma emergente diferencia-se
em vários aspectos importantes
das teorias apresentadas previamente. Por exem
plo, em vez de atribuir a acção
da multidão à indução espontânea da emoç
ão, coloca um maior ênfase na
conformidade ao grupo impondo uma norma
social. Para além disso, os limites -
na direccção e no grau da acção da multidão
são mais susceptíveis de ser
explicados pela teoria da norma emergent
e que pelas outras teorias.
A multidão define determinados comportamentos
como sendo apropriados à
situação, mas outros comportamentos podem
continuar a ser definidos como
sendo impróprios. O indivíduo que ultrapasse
estes limites é muitas vezes
castigado. Refira-se enfim, que para a teoria da
norma emergente o indivíduo
e o grupo são ambos importantes. A teoria da conv
ergência enfatiza o indivíduo,
pois cada participante num acontecimento colectivo
responde a uma tendência
latente pessoal. O contexto grupal da acção é tão só
função de muitos
indivíduos separados que se juntam tendo tendências laten
tes semelhantes. Já
a teoria do contágio enfatiza 0 grupo que suscita nos
seus membros determinadas
atitudes, motivações e comportamentos que não
correspondem a qualquer um
dos participantes. A teoria da norma emergente perm
ite evitar a controvérsia
sobre a primazia.A estimulação grupal pode aume
wma)

ntar emoções, levando certas


pessoas a comportar-se de modo contrário às norm
as pessoais internalizadas,
ão mesmo tempo que outros actores com medos latentes
os deitam para fora.
mWRITÉ E
sa é

Esta teoria revela-se atraente, pois generaliza


os processos grupais à situa
ção
E

colectiva aparentemente desorganizada. Contudo,


apesar das normas emergirem
na situação colectiva, a teoria da norma emer
gente não nos elucida sobre O
modo como se forma, nem porque é que uma
norma emerge numa situação,
mas não noutra semelhante.

608 609
5. Os Comportamentos nas Massas
=)
colectivo ocorre muitas vezes
acabamos de ilustrar o comportamento
são uma condição necessária para O
“Como
* nas multidões, mas as multidões não

otra
uma
ctivo. Pode emergir no âmbito de
aparecimento do comportamento cole

cm
ade física.
colectividade de pessoas sem proximid
desde tenra idade sem receber as
O ser humano não vive numa colectividade
ortamentos. O quotidiano aparece
suas influências que podem orientar os comp
susceptíveis de serem imitados
panhado no social seja através dos modelos
recem assim diferentes
seja através das informações que circulam. Apa cterísticas dife-
m, assumem cara
fenómenos que apesar de se entrecruzare
renciadas.

51 Moda

ctivo mais comum.A moda na


A moda é um dos tipos de comportamento cole
colectivo que «nos conduz o mais
expressão de Stoetzel é talvez O fenómeno
trivial, à revelação que há social
imediatamente, no seio da nossa experiência moda
245). Se quando se fala de
nos nossos comportamentos » (1963, Pp.
no vestuário, o termo aplica-se a
pode haver a tendência em focalizarmo-nos
à casa, aos móveis, ao jardim,
outros domínios. A moda também diz respeito
às próprias ciências (Kroeber,
ao automóvel, às crenças e instituições e até
complexo cuja explicação não é
1948). Trata-se de um fenómeno psicossocial
simples nem unívoca.

51.1 Análise estrutural da moda

tural da moda para quem este


Deschamps (1979) efectuou uma análise estru
numerosos vectores: valor, Sexo,
mecanismo de contágio imitativo compreende
política, economia, indústria,
mudança, norma, sociedade, luta de classes,
destes vectores corresponde a
comércio, inspiração, representação. Cada um
da moda um uso particular. Para
um dos domínios da nossa sociedade fazendo
enham um papel em cada vector.
além disso, há forças opostas que desemp
ível descrevê-la de modo
E

Sendo assim não é de admirar que seja poss


h

todo um conjunto de paradoxos.


kid

contraditório ou apresentá-la como englobando


dos seus vectores e resolvendo
Em cada meio a moda funciona enfatizando um
caso a soluções de compromisso.
as diversas oposições, chegando-se em cada
DSi

ter
SEXO. A moda no vestuário parece
Considere-se, por exemplo, o vector, órgãos
Trata-se de esconder os
como função o pudor (Deschamps, 1979).
ntos reprodutivos subordinando-
sexuais permitindo assim um domínio dos insti
613
. ep a
SS DSO

-Os à inclinação pronunciada do amor ou à influ


ência de qualquer moda em.
galantaria e adorno sexual, Todo o pudor transfor
ma-se em erotismo tendo
como papel principal a manutenção da curiosidade
desperta. Erotismo e Pudor
encontram-se assim imbricados na moda, Esta
luta de tendências contraditórias
permite considerar a moda como um sintoma neuró
tico, como o sonho (Flugel,
1930). Esta ambivalênia permite-lhe efectuar
o subtil Jogo do «erotismo púdico»,
ju
Para além do vector sexual evocado, há que
ter em conta os restantes vectores
Ora uma moda «corresponde, segundo as idades e
os lu gares, à acção sinérgica
de um conjunto destes diversos vectores
diferentemente ponderados».
(Deschamps, 1979, p. 61).

5.1.2 Porque é que a moda muda continuamente?

Apesar da indústria da moda ter uma grande influ


ência, ela não é omnipotente
para decidir o que as pessoas devem usar, A mini-saia
obteve rapidamente
uma ampla aceitação, mas saias mais cumpridas tiver
am mais dificuldade
em ser aceites, apesar da campanha da indústria da
moda.
Se a moda continua a mudar, mesmo sendo necessário Século XX.
dispender dinheiro Moda no início é no fim do
para aderir a ela e substituir roupas porventura ainda em
bom estado, é porque
deve responder a al guma função importante. Tem sido
sugerido que a moda
serve para marcar o estatuto da pessoa na sociedade e para
suavizar a banalidade
da moderna sociedade tecnológica (Klapp, 1972).

Tradicionalmente tem sido postulado que a moda é intro


duzida por pessoas
com estatuto social elevado e passa depois para pessoas i edade acer ca do estatuto social
com estatuto social Podemo-nos interrog ar se quanto maioà r ansi
inferior. Se em muitos casos isso é assim, também acont
ece que a passagem houver, tanto mais rap i R dará. Klapp (1972) defende que o
se faz no outro sentido. Por exemplo, al guns estilos de pente nto da nossa época Pp TO duz ansiedade acerca
zamen
do
ado e preferências anonimato, O desenraiiHo
alimentares são oriundas das classes sociais mais baixa ã para a mod a mudar.
s e depois passaram estatuto, o que leva a uma maioi r pressão
para as mais elevadas. Em consequência, a moda pode
servir para comunicar
mais do que indicar a classe social. Pode transmitir Para além da moda ser uma marca do e statu
to da pessoa na sociedade, ela
às outras pessoas as o
dade é um reforçador pri mári
atitudes e os valores de uma pessoa. também permite atenuar a banalidade. À novi
Parece haver em nós uma
Faz parte do espírito dos tempos enfatizar a juventude e a indivi do comportamento humano (Berlyne, 960). ção.
é por uma nova estimula
ay ada
dualidade. predisposição à curiosidade que é encor
Ora muitas pessoas podem recorrer a vestuário
que filtre que são jovens € É r uma tentativa de aliviar
, a mudança da moda pode repr senta
Sendo assim
inconformistas. Também neste caso a moda serve rmar a nossa individualidade
para marcar um estatuto, o aborrecimento perante a uniformidade em af
se bem que não seja hierárquico.
(Klapp, 1972).
ass dá y
Um caso concreto que tem sido abordado é o modo de vestir O cont ágio está impl icad o, é de crer que
das senhoras uanndo a moda se espalha, se
Qua Estar
gue competem com os homens para postos nos adoptarem uma no va moda. cab
negócios. Estudos têm maior parte das pessoas hesitam antes deç
mostrado que no «vestuário de sucesso» as senhoras as pessoas do seu próprio grupo
tradicionalmente femininos (Solomon, 1986).
devem evitar es“los na vanguarda da própira moda diferencia

614 615
Pe SIC TES Eai ER se O Pe ET TSE Caes Epstein
Ei ASR a

4% Mb
é susceptível de suscitar o ridículo ou mesmo à rejeição. No caso ões de opiniões
da moda da opinião pública é, por consequência, o estudo de colecç
al Se e E de comunicação em duas etapas (Rogers, 1962). Os a
Uma amostra de definições

individuais onde possam ser encontradas.»
ga ="
ento 13.2.
| que são as pessoas que mais conhecem acerca da
pg! específicas de opinião pública são apresentadas no docum
ndências de moda São os primeiros a vestir os novos trajos,
e o s E
comportaamento deixa transparecer às outras pessoas que essa moda É|
E scediával e
E
Empe jr a moda é um tipo
i de comportamento colectivo importante, se bem “
!
Ros Ea e trivial que outros comportamentos colectivos.
A sua análise
p e a observação de padrões de difusão através da sociedade. bem como e

Pp ender algo sobre a formaçãoã e a mudança de normas sociais ca


Documento 13.2 — Diversas definições de opinião públi
apre
e d
conformidade a essas normas.
À
do conceito de
Ao longo dos anos têm sido avançadas diversas definições
opinião pública, acentuando os seguintes aspectos específicos:
de
Formada racionalmente - A opinião pública é o julgamento social
5.2 Opinião pública importância
uma comunidade autoconsciente sobre uma questão com
geral após discusão pública racional (Young, 1923).
5.2.1 Oque éa opinião pública? esse
Bem informada - A opinião pública pode-se dizer que seja
pelas
Quase todas as pessoas ouviram falar de sondagens de opinião
pública Seja- sentimento sobre um determinado assunto que é sustentado
ne A evocação de um episódio da minha vida. Efectuava à recolha pessoas na comunidade melhor informadas, mais inteligentes e mais
Ei : e 7 em Paris com vista ao doutoramento Junto da comunidade morais (MacKinnon, 1828).

à eia, ; cet je eaVo r espont cpunaneame


taennte queque «já58 comp re
compreendi
Sustentada por um grupo secundário - Quando o grupo envolv
um público ou grupo secundário, e não tanto um primár
ido é
io, um grupo
anda a fazer sondagens de opinião , como as i É O que os membros
i face a face, temos opinião pública (Folsom, 1931).
me até perguntado para que Instituto de og ava is sentem
| as reticências então existentes na comunidade portuguesa para ser ie de qualquer grupo de contacto indirecto ou público pensam ou
j al acerca de alguma coisa e de tudo (Bernard, 1926).
tal evocação facilitava a exposição dos objectivos do estudo
a
vasto
Se efectivamente parece estar difundido o conhecimento da existên Tópico importante - As atitudes, sentimentos, OU ideias de um
(Minar,
sondagens de opinião, talvez ocasione maior surpresa saber-s
cia d conjunto de pessoas sobre questões públicas importantes
e que o t ;
de «opinião pública» tem suscitado muitas dificuldades na sua 1960).
Es a
midade
como acontece com o termo de «atitude» (Bennett, 1980)
E Extensão de acordo - ... uma maioria não é suficiente, e a unani
a
A opinião núbri
a públicarefere-se em geral a atitudes : DER IRO sados4 mettt'+ não é requerida, mas a opinião deve ser tal que enquanto a maiori
partilhadas por vastos grupos e não por
E o Som. com Gearacterí possa não a partilhar, sentem-se unidos, por convicção,
terísticas
sticas comuns (e. g., as pessoas inscritas como eleitores
+ Os patrões de empresas de construção civil, os professores do ensino medo, em aceitá-la (Lowell, 1913).
os.
BN a determinados aspectos da definição de opinião pública Intensidade - ... opinião pública é mais do que um assunto de númer
pública
NINA ebates ao longo dos anos. No primeiro número da revista A intensidade das opiniões é bastante importante. A opinião
tic Opinion Quarterly, Floyd Allport (1937) discutiu os problemas é composta de números e intensidade (Munro, 1931).
suscitados pela definição de opinião pública. Childs (1965) efectuou uma
ões das
revisão pormenorizada desses debates e problemas sendo levado a concluir Modo de resposta - A opinião pública consiste nas reacç
ções de
ses imprudentemente restritivo incluir especificações adicionais na definição pessoas a questões formuladas de modo definitivo e em condi
e «opinião pública», tais como o assunto das opiniões, a extensão do entrevista (Warner, 1939).
consenso, etc. Childs (1965) apresentou a seguinte definição ps «O estudo

616 617
a

e
isenta EPT

Influência efectiva - Opinião pública nesta discussão pode ser tomada a América Latina e os Países do Terceiro Mundo criam Institutos de
simplesmente para significar as opiniões mantidas por pessoas Sondagens.
privadas cujos governos encontram prudente prestar atenção (Key, |
às de outro
1961). As etapas de um inquérito de sondagem de opinião são idênticas
tipo de investigação:
Às fontes de todas estas definições podem ser consultadas em Childs (1965).
1º posição do problema, hipóteses, objectivos;

92 realização de um pré-inquérito junto de uma primeira amostra;

32 no decurso do inquérito propriamente dito, correcção das hipóteses,


determinação das variáveis pertinentes e do plano do inquérito;
5.2.2 Pesquisa de opinião pública 42 determinação de uma amostra representativa;

Do ponto de vista metodológico para se apreender a opinião pública não é $2 confecção de um instrumento de recolha de dados, de um modo
necessário recorrer-se a um instrumento de investigação exaustivo e profundo, geral trata-se de um questionário;
pressupondo uma administração longa, do género dos questionários
6º teste do instrumento numa amostra limitada;
pormenorizados e das entrevistas utilizadas nos inquéritos de atitude. Recorre-
se geralmente a poucas questões, administradas num curto lapso de tempo a 72 recolha de dados numa amostra representativa;
uma amostra de sujeitos bem escolhidos. O conhecimento da opinião pública
assenta no método das sondagens (Stoetzel e Girard, 1973). 8? análise estatística e conclusões.

os
A origem do método das sondagens de opinião é bastante longínqua no tempo Uma massa considerável de informação é recolhida cada dia nos domíni
estudo
(1824). Nesse ano jornais norte-americanos publicaram dois «votos-faz-de- político, social e comercial. Efectivamente se às eleições são o tema de
-conta» (straw votes), um em Delaware e outro na Carolina do Norte. Trata- da opinião pública mais popular, não são todavia o único. Esta enorme
-se de votos fictícios com a ajuda dos quais, por meio de sondagens muito proliferação tem posto em evidência diversos determinantes. Cada pessoa
empíricas se tentava prever os resultados. O procedimento consistia, por está ligada a uma pluralidade de grupos de pertença e de referência constituindo
exemplo, em colocar umas fictícias nos cruzamentos frequentados e pedir uma rede complexa, como sejam grupos naturais (sexo, idade), institucionais
aos transeuntes para votar. É interessante notar-se que em ambas as (família, classe social, religião), de afinidades (vizinhos, amigos). Tais grupos
«sondagens» ganhou Andrew Jackson, embora só em 1828 obtivesse um de pertença e de referência determinam € influenciam as opiniões. Voltando a
amplo apoio para ser eleito Presidente (Roll e Cantril, 1980). moeda do outro lado, as opiniões das pessoas dão-nos uma ideia dos grupos
de referência e de pertença. As opiniões são também modeladas pelos meios
Foi em 1934 que Gallup criou o American Institute of Public Opinion. Em
de comunicação de massas. Um mesmo acontecimento pode ser comentado
novembro de 1935, fez a previsão com sucesso da vitória de Roosevelt,
de modo muito diferente pelos jornais. Berthier e Berthier (1978) referem os
mediante o recurso a uma amostra de 4 500 pessoas, enquanto que a revista
comentários de jornais a propósito da visita de Khrouchtchev a França. O
Literary Digest tinha anunciado a vitória de Landon, após haver recolhido
Figaro referia a propósito do acolhimento que lhe foi dispensado em Paris: «a
mais de dois milhões de respostas. Estas pessoas tinham sido obtidas a partir
multidão está dispersa e silenciosa». No jornal Humanité escrevia-se: «a
da lista telefónica! É esta predição de Gallup na eleição do Presidente
multidão está densa e agita bandeiras». Isto à mesma hora e no mesmo local!
norte-americano que marca o nascimento público das sondagens de opinião.
Comenta Berthier e Berthier que «claro, o público lê os jornais que se lhes
A partir desta data o procedimento aperfeiçoou-se e não parou de se
assemelham» (1978, p. 7).
desenvolver.
As sondagens de opinião têm também suscitado acesas controvérsias (Bon,
Em França foi fundado o LF.O.P. (Institut Français d' Opinion Publique) em 1974).
1938 por Stoetzel que se desenvolverá sobretudo após a guerra. Em breve
toda a Europa e os países de Leste seguem este movimento. Desde os anos 50,

619
618
O OE SUSEP

5.3 Os rumores idou estaria gravemente doente e que não poderia chegar ao fim do seu
quer
“ns Este rumor era veiculado por meios políticos quer da maioria
Se o estudo da moda não ultrapassou o nível da observação
(Stoetzel, 1963), E asição tendo sido amplamente difundido em França. A doença do
já outro grupo de fenómenos de massa, os rumores, foi
objecto de E sident françês nunca foi confirmada oficialmente. Um ano mais tarde
experimentações o que foi um motivo que contribuiu para
se tornarem um Georges Pompidou faleceu de uma doença atroz.
domínio de grande interesse. Apesar disso o rumor constitui
ainda hoje um os na
«no man's land» ou um Mato Grosso do saber (Kapferer,
1987). Se os rumores fossem sempre «falsos» poderíamos questionar-n
e E
o motivo do interesse por este assunto, pois através da EXPRRR HIS
A e
játeria aprendido há muito tempo a desconfiar deles. B essere
podem ser exactos que perturbam em tempo de guerra como em a Fr
5.3.1 Definições paz. Não será um sintoma de preconceito contra os rumores conside
sempre como uma informação «falsa»?
Etimologicamente a palavra latina «rumor» envia-nos para
a acepção de e
rumor enquanto «ruído confuso de voz». O sentido em que esta Kapferer (1987, p. 25) propõe assim a seguinte definição de ps
palavra é a E
utilizada na psicologia social provém de uma extensão do emergência e a circulação no corpo social de informações quer o ain:
seu sentido sa ag
etimológico. foram confirmadas publicamente pelas fontes oficiais quer desmentá
ac
A veracidade não faz parte desta definição do rumor. Estaexprime umi
Os primeiros trabalhos sistemáticos efectuados neste domínio
foram definido pela sua fonte (não oficial), o seu processo (difusão em cadeia) o
e
americanos.A grande quantidade de rumores que surgiram durant
e a Segunda conteúdo (é uma notícia sobre um facto da actualidade).
Guerra Mundial e os seus efeitos negativos sobre a população
civil e militar
levou os investigadores a interessarem-se por este assunto.

Naliteratura especializada surgiram assim diversas definições


do rumor. Para
Alpport e Postman (1946/47) o rumor é uma «predisposição 53.2 Fenómeno colectivo de ontem e de hoje
ligada aos
acontecimentos do dia, destinada a ser acreditada, espalhada de pessoa
em
pessoa, habitualmente de boca em boca, sem que existam dados concre Os rumores são informações transmitidas através de uma cadeia de are
tos por cada pessoa dessa cadeia. . Tai Tais
que permitam testemunhar a sua exactidão». Para Knarp (1944), exigindo que sejam relembradas e reditas
i
trata-se de
uma «declaração destinada a ser acreditada, relacionando-se com a actuali informações são susceptíveis de polarizar a opinião pública.
dade
e espalhada sem verificação oficial.» Para Peterson e Gist (1951) o rumor
é Proliferam particularmente numa conjuntura perturbada: tempo de E
«um relato ou uma explicação não verificados, circulando de pessoa
em pessoa crise económica e política, catástrofes... Os rumores podem ser considera
e a propósito de um objecto, de um acontecimento ou de uma
questão de como adaptações a disrupções sociais e estar associados a acontecimentos
interesse público.»
importantes (Shibutani, 1966).
Estamos perante definições bastante próximas. Antes de mais o rumor é uma Allport e Postman (1947) demonstraram que aintensidade de um rumor Bora
informação ligada à actualidade que traz elementos novos sobre pessoas ou em função, por um lado, da importância do seu objecto para as ne e
acontecimentos, distinguindo-se assim da lenda que tem como objecto factos implicadas e, por ourtro lado, da ambiguidade dos dados oi que Ed isa
passados. Em segundo lugar o rumor destina-se a ser acreditado. Diferencia-se seu respeito. Quanto mais a situação seja importante eambígua, isto é, mi po
assim de contos ou de histórias engraçadas, pois em geral não se conta só as informações possuídas sejam seguras e precisas, mais O rumor t E
com a preocupação de divertimento e de evasão. probabilidades de se propagar. Esta lei básica pode expressar-se na seguin
fórmula:
Tendo por base as definições referidas os autores apresentam observações

experimentações. Mas como nota com razão Kapferer (1987) esses exemplos intensidade do rumor = f(interesse x ambiguidade)
são casos de «falsos» rumores. Há efectivamente rumores com fundamento. ae ad j o
Por exemplo, em janeiro de 1973 circulava em França o rumor de que Georges Trata-se de uma relação multiplicativa: se a sua importância é nula ou $ E
acontecimento não é nada ambíguo, não haverá rumor. Não é por acaso qu

620 621
% pio AG
VR ORE EIS FUER

Dema ir deem pia Dip da qr


recebeu dezenas de versões contraditórias sobre O vagabundo. Um araoi
necessário fazer-se publicidade no domínio do consumo.
Efectivamente à
maioria das pessoas prestam pouca atenção à pasta dentrífica ou aos detergentes. o E
escreveu o seguinte: «Os cidadãos espantados da nossa cidade
Além disso, estão desporvidos de ambiguidade, sendo totalmente transparente
s, sob os ataques repetidos de um anestesista oc sipa lançou um gaz Ei sr
mortal em treze lares, fazendo perder a consciência a vinte e sete E E
Mesmo se esta lei só foi posta em evidência nas últimas décadas,
já este Outras setenta pessoas que se tinham precipitado no bairro depois E
=
fenómeno colectivo reteve a atenção dos Anti gos. O rumor
levou Sócrates à =
cairam na última noite sob a influência do gaz» fritado por Johnson,

anda dd dd
morte, acusado de perverter os jovens atenienses e de os incitar à revolta
, Se as queixas diminuiram rapidamente, várias questões ficaram sem ea
=
Para Virgílio o rumor é o mensageiro do erro e do mal como da verdade
, A polícia não encontrou nenhuma prova de valor atestando a arrasa se
sendo a mais rápida de todas as pragas, vai espalhando o terror fortifi
ca-se vagabundo. O inquérito concluiu finalmente que o anestesista fantasm

Epmd
ic
difundindo-se.
tinha existido (Johnson, 1945).
Allport e Postman (1947) analisam o episódio do incêndio de Roma
no ano Em maio de 1969 nasce, amplifica-se e propaga-se um rumor em SER

ad dd A
64 da nossa era. A plebe admitiu e difundiu o rumor de que Nero,

AAA
próprio não tinha iniciado a conflagração, tinha pelo menos cometi
se ele estudado por Edgar Morin (1969), segundo o qual as jovens depois de Fte
aberração de deleitar-se com o bárbaro prazer de compor uma ode às
do a sido adormecidas nas lojas de moda pertencentes a comerciantes na sua en
devastadoras. De nada valeu a Nero o facto de o rumor não ter
chamas judeus, eram vítimas do «tráfico das brancas». O rumor ocupa à primeira página
fundamento. dos jornais regionais e acaba por atingir a imprensa parisiense.
Para sua própria defesa, recorreu ao «con tra-rumor», fazend
o circular a ideia
de que os cristãos tinham lançado fogo à cidade. Um acto desta natureza, A equipa de Morin pode pôr em evidência várias fases na Dad deste ui
bem
podia ser «coisa dos cristãos», desses cristãos aborrecidos e assim Numa primeira fase, o rumor aparece entre as jovens de vários ) q id A
voltou para

di
estes «bodes expiatórios» a fúria da plebe, esquecendo moment depois uma fase de propagação da notícia em grande escala, já cir a
aneamente à
sua fúria contra Nero. entre os adultos. Os professores aconselharam às suas estudantes e ne

inte
A,
Encontra-se nesta descrição a dinâmica típica do rumor. Ignorava-se a frequentarem tais lugares sozinhas, ou até acompanhadas, cuja compe ne
origem contríbuia assim para acentuar a credibilidade do rumor. Durante a
do fogo (ambiguidade); tratava-se de um acontecimento de grandeza
catastrófica para os habitantes da urbe (importância). O povo buscav culminante do rumor atribuiu-se à polícia a rede de tráfico de jovens eoseu
a uma silêncio torna-se prova evidente da sua culpabilidade. Surge então º sen
explicação procurando descarregar sobre alguém a culpa. O descontentam e
ento -ataque por parte das autoridades, dos jornais, dos grupos ERR

A
Raso
pre-existente contra o tirânico governante sugeriu uma saída. Todavia
partidos da oposição, desmentindo os factos, ridicularizando oa e dn

A
rapidamente o medo do seu poder e o hábito de uma prolongada obediên
cia
tornaram-nos mais dispostos a voltar a sua vingança sobre uma vítima mais tumor, acusando os facistas. Trata-se pura e siroplesmente de um be aee
fraca. Lançou-se assim sobre uma minoria indefesa o peso da vingança de opinião, pois não tem nenhum fundamento real como suporte: nenhum desap
uma população frustrada e enraivecida. recimento foi assinalado à polícia. Perante a denúncia do rumor, aparece um
anti-mito: os partidos da oposição teriam feito um cavalo de batalha, os aut
Durante a Idade Média, as guerras religiosas e as Cruzadas eram suscita
das teriam inventado um assunto para ocuparem as suas páginas, os comerciantes
pelo recurso a relatos exagerados de milagres, de pilhagens. Mais tarde, na Idade judeus teriam imaginado uma publicidade odiosa.
Moderna os exploradores espalharam-se pelo mundo à procura de legendárias e
riquezas ou até para verem de perto os imaginários «Gigantes Adamastores». A equipa de Morin faz ressaltar na explicação, para além da aco
semita francesa, uma análise dos mitos ligados a fantasmas e orige
Presentes no passado, não desapareceram no presente. Só daremos dois psicossexual cuja significação assenta na ambiguidade da condição rat
exemplos de rumores do século XX. actual: o desejo de liberação social e sexual acompanha-se e e
culpabilidade na educação das jovens. Finalmente, a emergência o E
Uma habitante de Mattoon, Illinois (USA), comunicou à polícia que um
em Orléans é explicado pelo desenvolvimento desta cidade de província quas
vagabundo tinha aberto a janela do seu quarto e tinha lançado sobre ela e a
nos arredores de uma grande metrópole, com todas as desorientações sociais
sua filha um gaz paralisante. A polícia fez um inquérito e ainda que não se
que podem eclodir numa sociedade em desenvolvimento.
tivesse encontrado nenhuma prova neste sentido, os vizinhos declararam
que
tinham visto um homem por essas paragens. O Jornal local anunciou o incidente ApósAllport e Postman (1947) terem passado em revista alguns rumores dos
sob o título «Vagabundo anestesista em liberdade». Nos dias seguintes, a polícia tempos passados perguntam-se: que porção da história do mundo poderia

622 623
ES RSS
EE

atribuir-se a reacções de importantes grupos


sociais perante rumores Estados Unidos mostrou que dois por cento eram de desejo, um ao, em
correntes? Os autores pensam que essa influência seria
enorme na medida em de temor ou de ansiedade e mais de dois terços eram de agrtasça (69, bo); :
que os habitantes deste planeta não dispunham
de muitos mais meios de ores de desejo tinham por temática a morte de Hitler e crises de petróleo
informação do que os chegados pelas tradicionais
vias do rumor. Antes da am ão. Entre os rumores de ansiedade havia histórias em que o desastre de
chegada da imprensa, do telefone, da rádio e da televisão S
o público dependia O ari Harbour do que estava sendo admitido pelo governo ou pel á Er
de notícias relatadas por algum Fernão Mendes Pinto ' pn
ou do pregoeiro. Ora é que a invasão da Califórnia estava iminente. Rumores de agressão
sabido, e veremos mais adiante, a deformação a que está
sujeita a repetição de ou de Católicos circulavam frequentemente na população. Aliport e pe
uma versão oral de uma descrição. «Como deveria ter sido A
inexacta a repre- (1947) a partir do exame dos rumores durante o período da ll de
sentação do mundo exterior a que se ajustaram povos E tum Es
e governantes ao longo consideram ser provável que o tema principal da maior parte
do curso da história!» ( Allport e Postman, 1964, Pp.
178). Todavia estes autores durante a guerra como em tempo de paz seja mais ou menos acalúnia, m
não defendem que o papel do rumor na vida modema
seja menor que outrora, de expressão de uma agressividade de um grupo em relação a outro.
já que «apesar das modernas invenções as nossas neces
sidades emocionais e
cognitivas não se diferenciam das dos nossos antep
assados» (Tbid., p. 178). Encontrou-se todavia que os rumores de desejo eram o tipo mais comum
durante a guerra civil na Nigéria (Nkpa, 1975). Um longo Pepita,
Se os rumores circulam tão facilmente, ontem como
hoje, é porque eles destruição tornaram os Nigerianos muito desejosos de paz. As fnspira sa
preenchem uma dupla função: em primeiro lugar expli
cam as tensões das famílias e das instituições eram muito perturbadoras e desmora izadoras.
emocionais e, em segundo lugar, aliviam-nas. Por exemp
lo, os rumores sobre As conversas reflectiam o desejo de acabar com a guerra civil.
um desastre como o de Pearl Harbour contribuiam para explic
ar à pessoa que
os propagava porque sentia tal ansiedade. Partilhand Quer na Idade Média quer em finais do segundo milénio encontram-se hove
o-a com outrem,
Justificava os próprios temores. tipos de rumores: o regresso de Satanás, O veneno escondido, a romeneação
subterrânea para tomar o poder, as penúrias artificiais (na Idade Mé F o no
A procura de alívio leva muitas vezes os rumores a assum
irem um carácter escondido, hoje a falsa penúria de petróleo), o rapto de crianças, as pre
hostil. No caso do incêndio de Roma, os cristãos aparecem A
como «bodes de personagens, O seus amores ou os seus compromissos Enade
expiatórios». O mesmo acontece no rumor de Orléan
s, segundo o qual, os corruptos (Kapferer, 1987). Note-se que a abordagem dos rumores atra Rise
comerciantes de origem judaica eram acusados de rapto pu
das clientes. uma qualquer classificação não assenta na sua significação parao sa
circula. Kapferer (1987) avança a este propógico: o seguinte exemp á pe, fe
Não tem faltado quem tenha tentado traçar uma classificação do
conteúdo dos uma companhia regressa do combate, corre aí O seguinte rumor: todos
rumores. Por exemplo, Knapp (1944) distinguiu três tipos
de rumores segundo soldados de outra companhia teriam sido mortos pelo inimigo. Trata-se num
o seu conteúdo manifesto:
primeiro relance de um rumor dramático e pessimista. Contudo, a sua função
a) Os rumores de agressão comportam uma afirmação negativa real é talvez inversa: o facto de se acreditar que outra companhia tinha sido
sobre aniquilada, a primeira considera-se feliz por apesar de tudo só ter tido graves
outrem — grupo minoritário, inimigo, desviado...-, Têm como
efeito percas.
a perturbação da coesão social e a criação de relações intergrupais
sob o signo da rivalidade.

b) Os rumores de temor ou de ansiedade de intensidade variáv


el, podem
oscilar entre a ansiedade ligeira é o pânico.
5.3.3 Processos de transmissão da informação
c) Os rumores de desejo exprimem as esperanças e os votos
de uma
população e denotam a maior parte das vezes o anúnc
io de Não foi tanto pelo conteúdo como pelos aspectos formaisj dos rumores, Rd a
acontecimentos felizes. alteração da mensagem e o movimento da difusão que se interessaram O
investigadores no domínio dos rumores (Stoetzel, 1963).
Estas três categorias de conteúdo repartem-se de modo
desigual. Assim, O
exame dos rumores efectuados por Knapp durante a II Guerr A propagação informal das informações e das opiniões pode efectuar-se maciça
a Mundial nos
e rapidamente. Relembre-se que, por exemplo, quando o presidente Kennedy

625
E TRE

foi assassinado a 22 de novembro de 1963 em Dallas, 90% da populaç


ão.
adulta dos Estados Unidos estava ao par do aconteciment
o, menos de
45 minutos após o primeiro noticiário emitido. Mais de metade tinha sabidoa
notícia por outra pessoa (Greenberg, 1964). As pessoas sentiam
uma forte
necessidade de falar do acontecimento imediatamente à sua volta.
Mesmo se
os mass-media são facilmente acessíveis, a transmissão da informação depende
|
em primeiro lugar das redes de comunicação informais, isto é, grupos que:
mantêm uns com os outros relações através do tempo e do espaço.
Com o
intuito de demonstrar o pequeno universo das redes de comunicação informais,
Stanley Milgram (1977) deu uma mensagem a uma amostra de pessoas
que
habitavam a cidade de Wichita, no Kansas e de Omaha, no Nebrask
a, pedindo-
lhe para que a transmitisse a uma pessoa alvo de Massachusset
ts que não
conheciam (ou a esposa de um estudante em Teologia de Harvard
ou um .
corretor de valores de Boston). Cada sujeito devia conhecer o alvo ou
alguém
que conhecesse o alvo. Milgram encontrou que a mensagem foi remetid
a a |
5,5 pessoas em média antes de atingir o alvo. Verificou-se uma
maior tendência
intra-sexual nos pedidos da transmissão das mensagens.

Que sucede à informação quando passa por uma rede de comunicação?


À semelhança do que aconteceu no caso de Mattoon tem tendência a deformar-
-se? O psicólogo britânico Frederic Bartlett (1932) fez o primeiro estudo
sistemático sobre a transmissão da informação nos grupos sociais. Elaboro
u
o método da reprodução serial com o intuito de explorar a distorção. Consist
ia
em fazer reproduzir um desenho ou o texto de uma história a um primeir
o

ada
A
sujeito para um segundo sujeito que devia por sua vez produzir tão fielmente

>
quanto possível a sua própria versão para o sujeito seguinte. Continuava-se
este processo até que a informação fosse recebida e reproduzida através de
uma cadeia de dimensão variável. De um modo geral, Bartlett encontrou
distorções importantes entre as reproduções efectuadas de uma pessoa para Bartlett, 1932.
Figura 13,2 — A distorção na transmissão dos rumores. Fonte:
outra.

Às transformações nas reproduções seriais apresentavam uma estrutura


unas
característica. As reproduções tendem a transformar-se à partir de formas Aliport e 1 ostman (1947) combinam o método de reprodução serial de
ambíguas em estruturas correctas ou convencionais. Assim, pode-se ver na com o uso de imagens utilizadas por Freyd (1921) para avaliar a apti E
figura 13.2, que a partir de uma forma abstracta parecida com um pássaro, para a reportagem. Um diapositivo é projectado num écran, er e
:
transforma-se na oitava reprodução numa forma próxima de um gato. em geral uma situação rica em pormenores € dramática. Seis ou sete pe
Já na décima reprodução encontramos um gato desenhado de modo claro é que não viram a imagem esperam numa sala vizinha. Um primeiro sujeito
e
distinto. introduzido e, não vendo o diapositivo, deve escutar a sua descrição feita
dá uma o
uma pessoa — podendo ser o experimentador Mp
ia aum SE E
pormenores. Pede-se então ao sujeito de reproduzir a ig
ER
sujeito que se manda então entrar na sala da experiência. A DR
desenrola-se, em geral, perante um público composto de mais de 200 pesso
por que
que vêm o diapositivo e podem deste modo avaliar as transformações
passa a descrição original.

626 627
SEEC E RT

Com base nas suas observações, Allport e Postman designaram


três processos. ções do sas peço
de alteração da informação que intervêm nos rumores. O volume da mensag 3. A assimilação diz respeito às diferentes transforma
em. levam a mo : E a
diminui (redução), depois estabiliza-se; certos elementos de conteúdo são rumor. Compreende diversos processos que
postos. ni o
em evidência (acentuação); diversas deformações ou acrescentamentos semânticas relacionadas com a organização cognitiva
fun: A Ts
intervêm (assimilação). não se trata pois, como na redução sa
an disting
de simples categorias de presença-ausência. Allport e Postm
l. A redução é o processo mais evidente e regular. Quanto mais O rumor sete tipos principais.
circula tanto mais tende a tornar-se conciso e fácil de contar é de
reter.
Todavia este processo não é linear. O tamanho da mensagem transmitida são modificados je Eira es
Através da assimilação temática os pormenores
reduz-se mais rapidamente no começo das reproduções. Assim que se tea Sen
só se correspondam à ideia dominante da história em
encontram em média 67% dos promenores na primeira reprodução, e o, E o
54% sua coerência, constituam uma «boa forma». Por
na segunda, 36% na terceira, os outros sujeitos reproduzindo cerca de Crua erme. pão ea
batalha, uma ambulância torna-se um centro da
309% da informação original. O máximo de redução aparece pois no começo. dução de novos pasta eme
tendência à redução pode no entanto haver intro
da cadeia e tudo se passa como se atingisse uma forte estabilização em ia. As imagens p
| para assegurar um «bom prolongamento» da histór
que as últimas reproduções são sensivelmente semelhantes. Os autores são sistematicamente completadas.
fazem uma aproximação entre a curva obtida e a curva de diminuição
da. ã ores podem fundir-se.ea
retenção individual posta em evidência por Ebbinghaus em
1885 e Ao invés, na assimilação por condensação os pormen
idosa, um cav E
concluem que a memória social realiza nalguns minutos uma redução Por exemplo, em vez de se dizer: «Vejo uma pessoa
. transmitem. «Há um
equivalente à efectuada pela memória individual nalgumas semanas
. . com um jornal e um outro passeando o cão» os sujeitos
A partir destes resultados não se pode reduzir os rumores a processos só grupo de pessoas».
mnésicos. O aspecto quantitativo não é o que parece ter maior importância a e dsgta
para se compreender globalmente o fenómeno: «a organização do sistema À assimilação por antecipação faz apelo a opiniões, pipeiç
a Ê Edeiqa
de representação dos indivíduos e dos grupos revela-se efectivamente
. do sujeito num quadro de referência em relação com o qual
represen A peido
sobretudo ao nível dos conteúdos
. sentido. A história é percepcionada segundo o universo
esquecidos e dos conteúdos. an vê-se p
sujeito. Por exemplo, num estudo de Aliport e de Postm
conservados» (Rouquette, 1975, p. 71).
navalha da mão de um branço para a de um negro.
À acentuação inscreve-se na complementariedade da redução. Allport e imilaç
lação ã de RE
ã pela acção SE s
átipos a verbai
Na mesma ordem de ideias a assimi
Postman definem-na como a retenção selectiva dum número limitado de representaç
refere-se às deformações da mensagem em função das
pormenores extraídos da mensagem original. Muitas vezes esses por- colectivas.
menores podem ser ampliados. À acentuação pode revestir várias formas.
ã como os que a
i rção si erade
À acentuação temporal faz ressaltar a tendência a contar os factos passados De assinalar ainda factores de disto
como se se desenvolvessem no momento presente. Verifica-se também interesses próprios aos sujeitos ou da expressão € reforço de hosti
uma acentuação numérica, como por exemplo, um personagem de tamanho relação a uma categoria social particular.
grande é descrito maior do que é ou transformado em várias pessoas. a
o pr
Objectos estáticos podem ser colocados em movimento. Observa-se do A redução, a acentuação e a assimilação foram peç
ae ço
mesmo modo o efeito de anterioridade, ou seja, o que é descrito em primeiro Postman pelas leis do esquecimento e pela teoria da gesta t.
e aa
lugar tem mais probabilidades de ser retido do que a mensagem seguinte. leis do esquecimento deve-se a uma semelhança. Ra
cada Ê rh
Muitas vezes os símbolos familiares são retidos, mesmo que não tenham que representa o número de pormenores memorizados por
a ap na
uma ligação directa com o conteúdo da comunicação. verifica-se desde os primeiros transmissores uma queda acentu
de muitos ado E
com as curvas do esquecimento. Uma pessoa lembra-se
Aa
Enfim, a acentuação pode manifestar-se pela tendência em juntar explicações no começo e com o tempo omite cada vez mais até que a recor
a
à mensagem transmitida, sobretudo para tornar verossímil uma história estabeliza. A referência à teoria da Gestalt ajuda a explicar que os porm
te, uma E é
que foi deformada e aparece como sendo incoerente. conservados ou criados tendem a construir um cenário coeren
forma». Deste modo, através do efeito do esquecimento e da procura Re
resis
«boa forma», o rumor tornar-se-ia económico € susceptível de
628 629
saco

queci
esque ci mento em consonânci
ância perfeita
Í com as opiniões, atitudes que estão na base da transmissão dos
€ preconceitos do grupo em que circula.
» , Em suma, OS mecanismos de distorção
estereótipos) ares (Rouquette, 1975, p. 75):
umores asse guram duas funções complement
«Por um lado, realiz
am uma economia para a memória abreviando a mensagem,
forma € reduzindo-a a estereótipos verbais e,
organizando-a se gundo uma boa
lado, exprimem directamente
mais amplamente a hábitos cognitivos; por outro
população e constituem assim um
as expectativas, as atitudes, as Op1 iniões da
modo essencial do pensamento social».

Controlo dos rumores


Note-se ]
$34
J ,
res

Os rumores po dem ter consequências funest


as e desmoralizadoras sobretudo
rumor, torma- se muito difícil
em tempo de guerra. Uma vez despoletado o
programas de controlo
pará-lo. Frequentemente tem sido necessário recorrer a
cendo-lhes informação
z de rumores junto das pessoas a eles expostas formn
umn dos tr. aços que definem o rumor, trata-se de um erro verdadeira.
pois todos
não conduzem a distorção. drados de modo
Es No passado empresas tem-se defrontado com rumores engen
ar dificuldades. Por
Sos
As di ENõ ocorridas
i numa transmissã
i o da informação podem ser causadas deliberado por empresas concorrentes para lhes suscit
os Unidos foi
pr s de percepção ou de- memória. - Ti Trabalhos sobre test exemplo, em 1934 a venda de cigarros Chesterfield nos Estad
emunhos oculares a que sofria de lepra
pe E a as declarações prestadas sob juramento gravemente afectada pelo rumor de que uma pesso
são frequentemente havia partido de
a gs ; ri e exactidão (Goldstein,1977). Aparecem parti encontrava-se a trabalhar na fábrica de cigarros. O rumor
comboio ou
rs S vas
cularmente
a a pessoa identificada é de outra raça (Chance, Golds uma empresa rival. Equipas de duas pessoas entrariam num
ção ao outro,
dedo e, : Jou quando o suspeito se assemelha aos estereótipos
tein autocarro cheios por lados opostos, mover-se-iam um em direc
correiiilh passageiros estavam
CORE Ee E Ra ou outras personagens do e então tinham uma conversa sobre a lepra enquanto outros
mesmo tipo (Shoemaker
A k - Frata-se de resultados inqui entre eles (Shibutani, 1966).
nquietantes se tivi
toda a consideração que é prestada aos relatórios d as cidas nos Estados
antas
testemunha SR
s ocul Mais recentemente algumas das empresas mais conhe
fi
nos E praee para assassínios. ter uma grande parte
íni As disto
i rções de informação podem també
ddm Unidos têm enfrentado rumores que as acusam quer de
esc o por Eee emocionais. As pessoas inquietam-se muitas em possuídas pelo
vezes do seu capital nas mãos da seita Moon, quer de estar
Cota nilicação de diversos acontecime ntos. Voltam-se entãão para rguers e Procter
as outras Demónio. McDonald's que lidera os restaurantes de hambu
por ço Ee Sa a pa grande consumo foram
9 que acontece realmente e assim reduzir a & Gamble, uma das maiores empresas americanas de
er & Gamble,
osnowe Fine, 1976). : Num estudo o (Jaege
(J r, Anthony, e Rosnow, dois dos alvos. Vale a pena assinalar o que aconteceu à Proct
: e E estudantes foram expostos ao rumor por um compadre o segun
do pois trata-se de um caso paradigmático.
mpac re comentava dizendo: «Eu ouvi-o. Não sei
se doradios Roi um
a cara dum velho
ma
rumor in TO dizia
izi o compadre: «O rumor é absolutamente falso € O logotipo da sociedade Procter & Gamble representa
a olhar as estrelas (em
eme “lo. Conheço os estudantes que o inv entaram.» O rumor mor foi transm
foi i i- jupeteriano com a forma de um quarto crescente
criado o logotipo,
E ir frequentemente pelos estudantes que tinham ouvid
o o comentário honra das treze colónias americanas na época em que foi
letado pela forma
a disso, os estudantes que tinham obtido resultados em finais do século XIX). O rumor começou por ser despo
o + * ”

seita Moon € ao seu


medida da ansiedade disseram maismai frequentem:
i da lua em que se encontrou uma alusão evidente à
tos do logotipo: as
:repetido o rumor que os estud antes que tiver
i am resultadà os baixo
i ssocde Ee
ansied
i ade. fundador. Em seguida, o rumor fixou-se noutros aspec
de satanás segundo
: E iso os estudantes ansiosos tinham tido uma maior neces
sidade de reduzir estrelas desenhavam o número 666, isto é, o número
ação. Este número
iguidade medindo as reacções das outras pessoas face
ao rumor. uma interpretação do capítulo 13 do Livro da Revel

630 631
og SETE
ER

a : um
encontrava-se também nas barbas do velho. Com o intui ou de J udeus é um
to de ter negócios este negra na Idade Média a conspirações de médicos
prósperos, Procter & Gamble teria um pacto com Satanás e Pp
outorgaria 10% ate O duradouro mito da «conspiração judéo-comunista»
dos seus benefícios a uma seita satânica. Esta empresa vê-se ETA
assim a braços * aquecer o sistema bancário ocidental, constituindo uma
com uma guerra de estrelas bem particular e para que denomina o n
não estava preparada, % "m o mundo é outro exemplo. Esses fenómenos têm-se
ração» ( Graumann e Moscov
, oriaj da conspiiraçã ici, 1 1987). Um conjunto de
oscovici,ici,
OU «teoria», a Rapatoie
E S soas partilham um conjunto de crenças irracionais,
E e Ê pe :
o um grupo de pessoas que estão conspirando contra
(Gron, . ig
utili m estas crenças de modo racional e lógico
ão utiliza
ntão
mg esto no gas Á
Es da conspiração é susceptível de ser acreditada
a
i de algum poder de exp licação para um grupo, dada a ambi
ovida
políticos extremos
O iecdbaa social (Kruglanski, 1987). Em movimentos
desenvolve-se muitas vezes uma teoria da conspiração.
. . me
R ;

O emblema O emblema representado


Documento 13.3 — Conspiração psicológica?
1 E , l . ] T J . +. ] 1
1 1
Figura 13.3 - O objecto do rumor satânico: o emblema de Procter ; ] I o
ersi c Ê
e Gamble pro 880 a l LK€ 3 O epartamento é S1CO ga a nt

Procter & Gamble seguiu várias etapas na luta contra


os rumores. A
companhia recolheu testemunhos de fé de proeminentes
chefes religiosos,
incluindo altos dignatários da Igreja Católica e de vários grupos
evangélicos
que eram difundidos no clero local onde circulavam os rumore 1
s. Instalaram-
-Se linhas telefónicas para tratar de assuntos dos consumidores
a esse respeito
e, no início de 1982, receberam-se cerca de 15 000 chamadas
por mês de
pessoas que procuravam saber se os rumores eram verdad E
eiros. Os rumores À +)

cessaram momentaneamente, após uma vasta campa


nha de informação
efectuada pela companhia, mas emergiram de novo em 1985.
istribui
| ia-se quando o professor distri xpli-
buiu uma carta com exp
Em 1985 Procter & Gamble decidiu suprimir o seu emblema A situação difund
de todos os
produtos para tentar pôr termo a este rumor. Tratava-se portan cações na sua comunidade.
to de um
emblema existente desde a fundação da firma há mais de um
século. ara

5.3.5 Teoria da conspiração

Com frequência os rumores são suscitados a partir de um conjunto


de crenças
que identificam determinado grupo de pessoas como sendo deliberadame (The Globe and Mail, Novembro de 1989)
nte
conspirador planeando a destruição do indivíduo ou da socieda
de. A atribuição
632 633
APLICAÇÕES: CONTROLO DE DESORDEM SOCIAL

são ordeiras € pacíficas.


Na sua grande maioria as manifestações políticas
tos, como por exemplo,
Todavia por vezes ocorrem comportamentos violen
policial
no motim de St Paul em Bristol nos anos oitenta. Uma batida
que
inesperada numa zona de St Paul proporcionou um ponto de inflamação
ístico
engendou uma violência que se generalizou. Seria demasiado simpl
ncia.
dizer que foi esse acontecimento específico que causou a violê
modelo susceptível
Waddington, Jones, e Critcher (1987) propuseram um
social. O modelo
de ser utilizado na análise de diferentes espécies de desordem
comporta seis níveis de análise:
de ser
l. Estrutural. Perspectivas mais amplas da estrutura social têm
um elevado
tomadas em conta. Por exemplo, na área de St Paul havia
ação.
desemprego entre as pessoas negras o que levava à frustr
sentir-
Político ou ideológico. Um sector específico da sociedade podia
controlos
-se desgostado com alguma legislação que lhe impusesse
recente
sociais considerados inaceitáveis. Havia então um decreto
s
que proporcionava este foco de descontentamento para grupo
«itinerantes».

ver o mundo
Cultural. As representações sociais são modos de
da
incluindo crenças acerca dos direitos. Diferentes segmentos
s do que
sociedade podem ter diferentes representações sociai
mundo
constituí um problema. Por exemplo, a polícia pode ver o
A polícia
de modo muito diferente dos jovens negros desempregados.
Paul estavam
estava preocupada com droga e os habitantes de St
preocupados com a invasão do território.
que ocorreu o
Contextual. Inclui-se aqui o momento específico em
am a um
incidente e a sequência de acontecimentos que levar
incidente específico.
ontação,
Espacial. Inclui o contexto físico em que ocorreu à confr
licas que
os espaços abertos e edifícios, e as significações simbó
s. O lugar
qualquer um desses espaços possa ter para 05 participante
naquela
onde deflagrou o incidente era o centro da comunidade negra
zona e para a polícia era um centro de tráfico de droga.
que ocorreram
Interaccional. Inclui-se aqui a natureza das interacções
entre as pessoas envolvidas.

635
RARA
TES SIPRSEe
repare ORE et
pes
ne Deer

Waddington et al. (1987) efectuou uma análise de


dois comícios que ocorreram
durante a greve dos mineiros em 1984 na Inglaterra
. Um deles foi desordeiro |
e envolveu violência entre a polícia e os manifestantes.
Os egu ndo, realizado
num contexto semelhante, foi pacífico.
dd
Os investigadores lançaram mão da observação parti O comportamento colectivo emerge espontaneamente numa
cipante enquanto os de pessoas. É relativamente desorganizado, não planif icado e é o produto da
acontecimentos se desenrolavam. Utilizaram
o modelo exposto mais acima
e chegaram à conclusão que os níveis estrutural, ideol interestimulação entre os participantes.
ógico e cultural não
npamana
eram diferentes nos dois acontecimentos. As difere
nças situavam-se aos níveis Há problemas únicos que têm de se ter em conta no estudo doSomp
situacional, contextual e interaccional. O segundo comíc ipsteu pentes e E a ease
io, pacífico, foi um colectivo. Apesar disso, há uma vasta gama de
inquéri gd
estudo que estão disponíveis. Estes incluem métodos de
acontecimento meticulosamente planificado com consu
lta à polícia local. O
contexto foi cuidadosamente organizado para canalizar que se
as respostas da multidão de conteúdo, técnicas de observação € experiências em
numa actividade pacífica. Para controlar os movimentos
da multidão sem o aspectos pertinentes do comportamento colectivo.
recurso à intervenção policial foram colocadas barreiras antec
ipadamente, O pa
controlo da multidão foi efectuado pelos próprios
organizadores, a polícia O termo multidão tem sido aplicado a diversos conjuntos de
Wi ões a
evitando qualquer confrontação. humanos que se qualificam de comportamento colectivo. Às
po sia o
sido classificadas em activas e passivas. Se as multidões
ivas.
O trabalho da equipa de Waddington concluiu que a violê
ncia na multidão dominadas pela violência, também o podem estar pelas alegrias colect
não era imprevisível. Podem-se tomar em conta accçõ
es que podem ocorrer o
em qualquer ou em todos os níveis referidos acima para
se assegurar que não O pânico constitui uma das formas mais dramáticas do conpoçimen
to, a »
ocorra. À um nível prático Waddington delineou cinco
passos que podem ser colectivo. Tende a ocorrer quando há percepções de perigo imedia
e qua om
considerados para se assegurar um controlo pacífico da
muitidão: as potenciais vias de escape são limitadas e estão a fechar-se,
para simula r situaç :
um corte na comunicação. Tem havido várias tentativas
1. Autopoliciamento. A confrontação é mais susceptível de ser evitad sen nao
a de pânico. As pessoas vítimas de desastres nem sempre
do .
se o controlo da muitidão é deixado nas mãos dos organizado
res do desorganizado e irracional, nem apresentam sempre o «síndrome
comício.
do
Têm sido desenvolvidas diversas abordagens teóricas pasa a aa
em ser
2. Ligação. Deveria haver uma cooperação e ligação entre os comportamento colectivo. As principais abordagens téoricas po
converg ência
organizadores e a polícia, e isto, antes e durante o acontecimento. condensadas nas teorias do contágio, da desindividualização, da
e das normas emergentes. O contágio comportamental refere-se à no
3. Força mínima. A polícia deveria estar preparada par usar Sri
a força rápida do comportamento através de uma multidão por meio de questo:
mínima. E ç
e imitação. A desindividualização, a perca de um sentimento de iden
e ?
4. Treino de habilidades interpessoais. As pessoas implicadas na gestão pessoal, pode levar a um abaixamento dos constrangimentos De
o
e controlo das multidões deveriam ter tido um treino apropriado. comportamento. As condições que contribuem para a psd
incluem uma perca de características identificáveis, perca de responsabili :
5. Responsabilidade. A polícia deveria ser vista como totalmente uma actividade grupal estimulante, perca de perspectiva temporal e uma nor
ncia,
responsável pelas suas acções. Esconder deliberadamente os números situação sem os constrangimentos habituais. Segundo a teoria da convergê
dos polícias para lhe garantir o anonimato não é aceitável. a multidão fornece simplesmente uma desculpa para as pessoas fazerem o que
estavam predispostas a fazer. Numa situação de multidão novas E
n
partilhadas podem emergir que podem levar a um comportame
aparentemente não controlado.

A moda constitui o tipo de comportamento colectivo mais trivial. Envolve Ea


e
processo contínuo de mudança que se reflecte no vestuário, no epa
À|
do cabelo, etc. A moda está relacionada com o estatuto social, com o
637
das pessoas se identificarem com certos grupos e se difere
nciarem de outros.
grupos. Permite taambém atenuar a banalidade da vida quotidiana.
d PARA IR MAIS LONGE
Apesar do conhecimento da existência de sondagens de opinião ——>————————
o
estar difundi
| surpreendentemeente a definição de opinião pública tem levantado
debas A
| longo dos anos. Por meio das sondagens de opinião uma massa o
q DESCHAMEPS, M. A.
de informação é recolhida nos domínios político, social e comercial es de
8 1979. La psychosociologie de la mode. Paris: Presses Universitair
Os um ores são ívei de se desenvolver em situações caracterizadas
ão maismai susceptíveis Praneg;
pela ambiguidade e pelo interesse. Passam geralmente de boca O autor começa por avançar uma definição operacional da moda.
em boca e sã
importantes na mobilização dos participantes numa multidão
para a acçã ; Ná Em seguida, «para escapar ao nó de contradições», efectua uma
transmissão dos rumores muitas vezes a informação tende a
E análise estrutural da moda. Enfim, os conceitos e análises são
É e
breve e mais simples (redução); certos aspectos são enfatizados
e por vei submetidos à prova de numerosas investigações em psicologia
exagerados (acentuação); e a mensagem é assimilada à estrutu social.
ra dos hábitos
das expectativas e dos preconceitos.

GRAUMANN, C. F., E MOSCOVICI, S.

1986 Changing conceptions of crowd mind and behavior. New York:


Springer-Verlag.
A obra consta de artigos sobre a psicologia das multidões.

MOSCOVICI, S.

1981 L'áge des foules. Paris: Fayard.


É apresentada uma densa perspectiva histórica da psicologia das
massas, dando-se relevo especial às abordagens de Le Bon, Tarde
e Freud.

SOLOMON, M. R.

1985 The psychology of fashion. New York: Lexington Books.


Examina-se neste livro o papel de factores psicológicos na escolha
de vestuário.

STOETZEL, J.; GIRARD, A.


1973 Les sondages d'opinion publique. Paris: Presses Universitaires
de France.
A obra articula-se à volta de três partes. Na primeira aborda-se o
estudo científico da opinião pública. Na segunda são apresentados os
fundamentos teóricos e práticos das sondagens de opintão. Finalmente,
na terceira parte é feito um balanço de conhecimentos proporcionados
pelas sondagens de opinião.
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ACTIVIDADES PROPOSTAS

1. As multidões são realmente «irracionais» no seu comportame


nto?
2. Relembre algum acontecimento de pânico por que tenha
passado Ou
ouvido falar e o que é que levou as pessoas ao pânico?

3. Quais são as condições para a desindividualização?

4. Mostre como noções estudadas anteriormente (atitudes, atribui


çã o,
conformidade, estereótipos, preconceitos, obediência, etc.)
podem se
relevantes no estudo do comportamento colectivo.

5. Pode-se dizer que a violência na multidão é imprevisível


e não pode ser
precavida? Que passos podem ser seguidos para evitar a sua
ocorrência?

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