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DROGAS E TRANSIÇÃO DE
PARADIGMAS
BRASÍLIA
2018
TECHNOPOLITIK
ISBN 978-85-92918-19-4
Technopolitik Editora - Conselho Editorial
Ana Lúcia Galinkin - Universidade de Brasília
Ana Raquel Rosa Torres - Universidade Federal da Paraíba
Antonio Nery Filho - Faculdade de Medicina/Universidade Federal da Bahia
Claudiene Santos - Universidade Federal de Sergipe
Eroy Aparecida da Silva - Afip/Universidade Federal de São Paulo
Marco Antônio Sperb Leite - Universidade Federal de Goiás
Maria Alves Toledo Burns - Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto
Maria Fátima Olivier Sudbrack – Universidade de Brasília
Maria Inês Gandolfo Conceição – Universidade de Brasília
Maria das Graças Torres da Paz - Universidade de Brasília
Raquel Barros - ONG Lua Nova
Telmo Ronzani – Universidade Federal de Juiz de Fora
_____________________________________________________________________
Revisão final: Maurício Galinkin/Technopolitik
Capa: Paulo Roberto Pereira Pinto/Ars Ventura Imagem & Comunicação
Projeto gráfico e diagramação: Maurício Galinkin/Technopolitik
eBook (PDF)
Vários autores e texto em português e espanhol.
ISBN: 978-85-92918-19-4
CDU 178.1
615,81
_________________________________________________________________________________________________
Editor: Maurício Galinkin/Technopolitik (MEI) CNPJ 25.211.009/0001-72
Tel: (61) 98407-8262. Correio eletrônico: editor@technopolitik.com
Sítios eletrônicos na internet: http://www.technopolitik.com.br e http://www.technopolitik.com
Presidente Presidente
Rubens Adorno Luciane Marques Raupp
Vice-Presidente Vice-Presidente
Edward MacRae Rubens Adorno
Primeiro Secretário Primeira Secretária
Murilo Battisti Sandra Regina Fergutz
Segundo Secretário
Andrea Galassi
Primeira Tesoureira Primeiro Tesoureiro
Selma Lima da Silva Jardel Fischer Loeck
Segunda Tesoureira
Segunda Tesoureira
Selma Lima da Silva
Maria Angélica de Castro
Comis
Conselho Fiscal
Conselho Fiscal
Danielle de Carvalho
Regina de Paula Medeiros
Vallim Eduardo Viana
Dartiu Xavier da Silveira Filho
Vargas Edward MacRae
Celi Cavallari
Apresentação
v
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
vi
Apresentação
vii
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
viii
Apresentação
Fiscal: Rossana Rameh, Maria Etelvina Reis de Toledo Barros, Luiz Fernando
Severo Marques.
Sexta diretoria – gestão 2016/2017 – Presidente: Rubens de Camargo
Ferreira Adorno; Vice-Presidente: Edward MacRae; Primeiro Secretário: Murilo
Battisti; Segunda Secretária: Andrea Galassi; Primeira Tesoureira: Selma Lima da
Silva; Segunda Tesoureira: Maria Angélica de Castro Comis; Conselho
Fiscal: Regina Medeiros; Dartiu Xavier e Celi Cavallari
Atual diretoria – gestão 2017/2019 – Presidente: Luciane Marques Raupp;
Vice-Presidente: Rubens de Camargo Ferreira Adorno; Primeira Secretária:
Sandra Regina Fergutz; Primeiro Tesoureiro: Jardel Fischer Loeck; Segunda
Tesoureira: Selma Lima da Silva; Conselho Fiscal: Danielle de Carvalho Vallim,
Eduardo Viana Vargas e Edward MacRae.
ix
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
x
Apresentação
xi
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
Os organizadores
xii
Sumário
Apresentação v
Marisa Feffermann
xiii
Sumário
Giovana Quaglia
xiv
Sumário
xv
Sumário
Yone Moura
xvi
Sumário
xvii
xviii
Sobre autoras e autores
xix
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
xx
Sobre autoras e autores
xxi
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
xxii
Sobre autoras e autores
xxiii
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
xxiv
Sobre autoras e autores
xxv
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
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Sobre autoras e autores
xxvii
Maria Fátima Olivier Sudbrack, Maria Inês Gandolfo Conceição, Rubens Adorno
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Regina de Paula Medeiros: doutora em Antropologia Social e cultural
(Universitat Rovira i Virgili – Tarragona – Espanha). Professora
Adjunto IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas) do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais;
Professora dos Cursos de Graduação de Ciências Sociais e Relações
Internacionais. Integrante dos grupos de pesquisa Cultura Urbana,
Modos de Vida e Identidade e de Cultura e Cidades. Membro da
diretoria da Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de
Psicoativas (Abesup). Desenvolve pesquisas na área da saúde; corpo;
álcool e drogas; antropologia urbana com enfoque na identidade,
cultura, cidades e diversidade cultural: grupos juvenis; prostituição;
violência; participação política; redes sociais, grupos vulneráveis;
espaços urbanos marginais; socioantropologia das drogas. E-mail:
repameca@pucminas.br
xxix
Rubens de Camargo Ferreira Adorno: cientista social (Universidade
Estadual de Campinas -1977), especialista em Saúde Pública
(Faculdade de Saúde Pública da USP), mestre em Saúde Pública
(USP-1989), doutor em Saúde Pública (USP-1992), professor Livre
Docente (USP-1997), professor senior da USP, presidente Abramd
(2015-2017) Vice-presidente da Abramd (2017-2019). Pesquisador no
campo das drogas lícitas e ilícitas como uma esfera do consumo das
sociedades contemporâneas, a partir do desafio de propor uma
abordagem mais complexa do que o tratamento técnico a que esses
fenômenos são relegados. E-mail: rubens.adorno@gmail.com
xxx
Communautaire ». Paris. França. Professor Titular da Universidade
Nacional de Rosário, Argentina. Formador de terapeutas sistêmicos e
de facilitadores de processos coletivos. E-mail: cocofuks@gmail.com
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Brasília. Tem experiência na área de Psicologia Familiar, atuando
principalmente nos seguintes temas: juventude, adolescência, saúde mental,
saúde e desenvolvimento psicológico. É membro do GT Juventude, Resiliência
e Vulnerabilidade. da Anpepp. Atualmente, é coordenadora do Centro de
Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep), serviço-escola da UnB e também
coordena o Laboratório de Família, Grupo e Comunidade na UnB E-mail:
srlordello@gmail.com
xxxii
PARTE 1
TRANSIÇÃO DE PARADIGMAS EM
ÁLCOOL E DROGAS
NO CENÁRIO DAS PRÁTICAS SOCIAIS
CAPÍTULO 1.1
Un “modelo” sistémico de
comprensión-acción de dinámicas
sociales:
tres dimensiones de las prácticas
sociales transformadora
Saúl Ignacio Fuks
Introducción
Existe un cierto acuerdo en considerar que lo que se denomina como
“Practica Social” hace referencia a un modo recurrente de realizar una
cierta actividad que es compartido por todos los integrantes de una
comunidad y que son válidas y legítimas localmente; son expresión y
productoras de un determinado modo de vivir de una determinada
sociedad, aunque puedan resultar inapropiadas para otras.
Las Prácticas Sociales surgen y se transforman en el curso de la vida
social de una comunidad, sea esta una comunidad profesional o de otro
tipo. Debido a los sistemas de formación formal y no formal, “sabemos
hacer cosas” en nuestra vida cotidiana y también en los campos
técnicos/profesionales específicos. Esos “saberes” están ligados a un
conjunto de prácticas sociales que producen y contienen ese
conocimiento y que también organizan los sistemas de transmisión
regulados por las normas y creencias de esa cultura. En su mayor parte,
se trata de conocimientos de los que no somos totalmente conscientes y
esto se debe a que nacemos y crecemos dentro de una cultura y el
proceso de socialización hace que muchos de esos saberes acaben siendo
__________
1. Una versión diferente del siguiente capítulo ha sido publicado en francés.
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Saúl Ignacio Fuks
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Saúl Ignacio Fuks
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Saúl Ignacio Fuks
__________
2. Una situación habitual en el proceso de un proyecto donde se pierden de vista el sentido
originario compartido y se plantean diferencias acerca de cuáles son las prioridades y urgencias.
En la dimensión pragmática estas dificultades serán comprendidas como parte de las diferencias de
modos de planificación (x ejemplo, las diferencias entre una planificación por objetivos y una
planificación estratégica) y el tipo de respuesta que se intentará será la reformulación de los
objetivos en función de lo realizado, de los recursos existentes y del cronograma propuesto.
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Saúl Ignacio Fuks
las “teorías en acto” (Schön, 1983) que son las que guían las acciones. En
los años 1980, Donald Schön, en The Reflective Practitioner (Schön, 1983),
confrontó con el supuesto de que la “racionalidad técnica” era la base
para la construcción del saber profesional. Esta “racionalidad” encarnaba
el (fracasado) intento del paradigma positivista dominante por resolver el
dilema entre el rigor y la relevancia con la que se encuentran los
profesionales en sus prácticas cotidianas.
Las nociones de reflexión-en-acción y reflexión-en-la-acción fueron centrales
en los trabajos de Donald Schön y llegaron a ser conocidas como “pensar
con/en nuestros pies”; estos tipos de reflexión suponen el proceso de
recuperación de nuestras experiencias, la conexión con nuestros
sentimientos y la atención a nuestras teorías-en-uso, de modo que – de este
proceso - puedan surgir nuevas comprensiones que aporten a nuestros
actos coherencia y sintonía con el contexto.
Para poder describir estas complejas articulaciones entre situación,
saberes, experiencias, valores, ética y visión de mundo, propusimos la
noción de “artesanía de contextos” (Fuks, 2004).
Esta noción señalaba la importancia que tiene el modo como se
diseñan los contextos, ya que serán los marcos contextuales los que darán
fluidez, encaje con la situación y coherencia a las prácticas. Dentro de
estos diseños contextuales es donde las prácticas construirán su sentido,
encajarán con la “cultura local” y obtendrán legitimidad, al tiempo que
serán vividas en sintonía con el tipo de relaciones que se organicen, todo
lo cual contribuirá a su eficacia pragmática.
Realizaremos a continuación una descripción panorámica de las
características más relevantes de estas dimensiones/contextos, destacando
tanto su pertinencia como los desafíos con los que se enfrentan cada una
de ellas.
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
Dimensión reflexiva/simbólica
Los seres humanos transitamos nuestras vidas haciendo sentido sobre
ellas; estamos en el mundo dando sentido a lo que sucede en él y, en
simultáneo, no dejamos de preguntarnos por el sentido de nosotros
mismos, por el sentido de nuestras vidas.
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Saúl Ignacio Fuks
Las cosas no tienen sentido por sí mismas, el “dar sentido” es algo que
es propio de los seres humanos, algo que estos producen con su capacidad
de preguntarse por el significado de las cosas y por su capacidad de
narrarse historias. Todo sentido es – por lo tanto - siempre un sentido
dado, una creación que los seres humanos realizamos gracias a nuestra
capacidad de lenguaje.
Sin embargo, este proceso es algo que trasciende a la razón y a la
forma en que construimos habitualmente nuestras ideas, ya que no es –
solamente - una cuestión conceptual u cognitiva; la emergencia del
“sentido de las cosas” es producto de los relatos que construimos (y que
nos construyen) acerca de nuestra historia, nuestros sistemas de creencias,
nuestras trayectorias de vida y nuestra manera de mirar el futuro.
En consecuencia, modificar el “sentido de las cosas” no es incorporar
o producir nuevas teorías o argumentos ya que, una modificación de tal
trascendencia, se produce luego de la fisura y/o ruptura de los antiguos
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Saúl Ignacio Fuks
Dimensión afectivo/relacional
La dimensión relacional es un aspecto siempre presente en la vida
social pero la racionalidad imperante en las instituciones, así como en los
modelos dominantes de planificación, gestión y evaluación, la han
considerado más como un obstáculo o un inconveniente que necesita ser
controlado, que como un motor esencial de los procesos sociales.
__________
3. http://www.mdsl-developpement-solidaire.com/doc/ateliers_avenir_mdsl.pdf
4. https://appreciativeinquiry.champlain.edu/learn/appreciative-inquiry-introduction/5-d-cycle-appreciative-inquiry/
5. http://www.artofhosting.org/es/
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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Saúl Ignacio Fuks
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
puede ser hablado y de qué forma es posible hacerlo y aquello que debe
ser silenciado o invisibilizado. Mientras nuestra vida se va desarrollando,
otras culturas contribuyen a construir nuestro perfil comunicacional y
dejan su marco de referencia y, en algunos casos, refuerzan la cultura
familiar, mientras que en otros entran en conflicto.
Las culturas profesionales o técnicas juegan un papel importante en el
tema que estamos tratando ya que muchas disciplinas socializan a los
futuros profesionales entrenando la “distancia emocional” como un rasgo
profesional muy valorado. Estos rasgos promovidos como ideales se
vuelven parte de la “identidad profesional” de tal modo que cualquier
transgresión a esos límites pasa a ser vivido como una pérdida de
identidad, convirtiendo al transgresor en un paria, alguien que no tiene
tribu propia ni territorio demarcado. Es necesario comprender la fuerza
de estas regulaciones, ya que promueven modos de actuar no conscientes
-que dejan de ser consideradas como decisiones que se toman entre varias
alternativas- y se convierten en la “manera correcta de hacer las cosas”, es
decir que, al ser naturalizadas no soportan el juicio crítico y limitan las
opciones.
Tomando en cuenta que nuestras competencias -e incompetencias- en
el dominio del lenguaje nos conducen a construir tanto como a destruir las
relaciones que mantenemos con los demás, el interrogante que surge
entonces es ¿porque este aspecto es tan poco cuidado en las formaciones y
entrenamiento?
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Saúl Ignacio Fuks
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
Dimensión racional/pragmático
Esta dimensión es la del “hacer”; la de centrar el foco en llegar a
concretar metas y objetivos y, esta característica de estar centrada en los
resultados hace que esté fuertemente impregnada de racionalidad y de una
perspectiva muy estructurada y poco flexible ante lo imprevisto. A pesar de
confluir con las dos dimensiones anteriores en la construcción de un sistema
dinámico y complejo, se diferencia de las otras en el modo en que analiza y
planifica las intervenciones en el campo de los procesos colectivos. Su lógica de
construcción del “problema” y de los pasos para su solución, frecuentemente
invisibiliza la dimensión simbólica y tiende a considerar a las relaciones
afectivas como obstáculos, o como aspectos de las estrategias para una mayor
eficacia.
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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7. Las necesidades sociales pueden hacerse visibles a los poderes políticos, administrativos tanto por
la detección de las organizaciones de la sociedad civil (formales o informales) aunque también
esas necesidades pueden haber sido detectadas por equipos técnicos y recuperadas por el poder
políticos en función de necesidades de marketing e imagen política y condicionadas por el
contexto (antes de elecciones, final de mandato, reacomodaciones internas de los equipos
gobernantes, etc.).
8. No podemos entrar en detalle acerca de este aspecto central, pero baste decir que los funcionarios
que están comprometidos con la misión institucional (y no aquellos que se refugian en la lógica
burocrática de obedecer órdenes) están permanentemente sujetos a paradojas imposibles de
resolver. Por ejemplo, un proyecto que se lanza para acallar la presión de la población ante un
tema relevante, pero que afectaría los juegos políticos del territorio donde los decisores tienen
sus alianzas. Se le pide al funcionario que el proyecto siga los lineamientos establecidos en las
metas, pero se les retacea recursos para evitar el efecto en los aliados. Entonces si el proyecto no
funciona ante la falta de apoyo o de recursos el funcionario es culpado, pero si el proyecto
avanza y los costos políticos son importantes, el funcionario es culpabilizado. Con frecuencia
encontramos funcionarios “quemados” por estos juegos que terminan refugiándose en un
cinismo ácido o un escepticismo desolador.
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Saúl Ignacio Fuks
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12. Hemos usado la palabra “modelo” en este escrito, alejándonos de la noción de “ideal” y –en
cambio- haciendo referencia a tradición sistémica de “modelizar” problemáticas complejas.
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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13. Que organiza el mapeo a partir de la detección de la ubicación del observador.
14. Que tiene prefijada una demarcación y pretende ser un reflejo de la “realidad” y es construido de
un modo tal que el lector del mapa queda por fuera de la “representación” del territorio.
15. O quien pretende intervenir en o describir las complejidades de una situación.
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Saúl Ignacio Fuks
Referencias
Bateson, G. (1998). Pasos hacia una Ecología de la Mente. Buenos Aires:
Lumen.
Davies, B. & Harré R. (1990). “Positioning: The Discursive Production of
Selves”. Journal for the Theory of Social Behaviour, 20(1), 43-63.
Duruz, L. (2014, novembro). Les cercles de conversation : un processus de
délibération réflexive par résonance. 8es, Rencontres de l’Institut Renaudot
de Santé Communautaire. Paris, 21/22 novembre.
Fuks, S. I. (2004). Craftsmanship of Contexts an as unfinished story of my
connection with CMM. KCC. Human Systems, 15, 101-114
Fuks, S. I., & Vidal Rosas, E. (2008). “La Facilitación Sistémica de
Procesos Colectivos”. Sistemas Familiares, 25(2), 21-34
Harari, Y. N. (2014) Sapiens. De animales a dioses: Una breve historia de la
humanidad. Buenos Aires: Debate.
Morin, E. (1976). Pour une Crisiologie. Communications, 25, 149-163.
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Un “modelo” sistémico de compresión-acción de dinámicas sociales
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CAPÍTULO 1.2
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Mónica Franch y Regina Medeiros
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
La entrevista
Queríamos saber, en primer lugar, cómo la antropología y el tema drogas
aparecieron en tu trayectoria intelectual.
A la antropología llegué cuando estudiaba en los años setenta. Inicié
la carrera de Filosofía y Letras, que así se llamaba entonces, en la
Universidad de Barcelona. En aquel momento, en los años 73, 74, se
puede decir que las drogas estaban en el ambiente. La cannabis formaba
parte de la cultura de una cierta juventud, muchos universitarios, y los
fumetas andábamos todos por ahí. Yo, además, estaba haciendo la
práctica en el Centro de Estudios Etnológicos, en el Consejo Superior de
Investigaciones Científicas, y allí tenían una colección de cronistas de
Indias muy interesante. Entonces, como tesis de final de carrera, se me
ocurrió juntar esas dos experiencias. Por un lado, hice una investigación
__________
5. Estancia post-doctoral en la Universitat Rovira i Virgili (URV/Tarragona), bajo supervisión de
Oriol Romaní, y con el apoyo financiero de Capes – Comissão de Aperfeiçoamento e Pesquisa de
Ensino Superior.
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Mónica Franch y Regina Medeiros
__________
6. Un resumen de la tesina se publicó posteriormente en la revista del Departamento de
Antropología de la UB por aquel entonces: Romaní, Oriol. Droga i “consensus social”,
Comentaris d'antropologia cultural, nº 1: 20-40 Barcelona: D.A.C., 1979.
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
__________
7. Romaní Oriol. Droga i subcultura. Una història cultural del “haix” a Barcelona, 1960-1980.
Barcelona, Edicions Universitat de Barcelona, 1983.
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Mónica Franch y Regina Medeiros
¿Hasta aquel momento nunca habías trabajado con heroína? ¿Sólo con hachís?
Bueno, de hecho fue el primer trabajo que hice con la heroína, fue mi
entrada, digamos que a fondo, en este mundo. Antes había hecho un
pequeño trabajo sobre el tratamiento a jóvenes drogadictos en París, por
encargo del IRES8, una proto ONG de Barcelona, en el que ya había
entrado en contacto con jóvenes que no eran fumetas. También
habíaescrito, en coautoría con Jaime Funes, “Dejar la heroína9”, que era
una serie de historias de vida con personas que habían parado de usar
heroína. Pero sin duda aquel proyecto fue mi primer trabajo en
profundidad sobre el terreno. En vez de un mes, les propuse un estudio de
un año: los primeros siete meses haciendo una etnografía básica,
conociendo el terreno, y los últimos cinco meses para pensar un
instrumento que pudiese llegar a la gente. El resultado fue “Las andanzas
del tío Elvis”, que hicimos con Miguel Gallardo, uno de los dibujantes del
Víbora10, gente del ambiente en el momento. Partiendo de las historias que
había conocido en el terreno, creamos un personaje, el tío Elvis, que se iba
enfrentando a diversas situaciones. Al final de la historia, incluíamos una serie
de direcciones y teléfonos que podrían ser útiles en situaciones como una
sobredosis o quedarse colgado en la calle. Fue un trabajo en el que
propusimos por primera vez recomendaciones de reducción de daños para
este colectivo específico.
72
Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
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Mónica Franch y Regina Medeiros
Muy bien. Pues vamos a hablar un poco del Grup IGIA. ¿Cuándo surge y con qué
intención?
El Grup IGIA se formó a mediados de los ochenta. La conferencia
inaugural la hicimos en octubre del 1984, con el entonces Fiscal
Anti-Drogas Jiménez Villarejo, en Els Quatre Gats, un bar modernista de
Barcelona. A lo largo de los años, se fueron juntando al grupo médicos,
psicólogos, trabajadores sociales, algún jurista y algún sociólogo o
antropólogo como yo. Al principio debíamos ser 15 o 20, en épocas
álgidas llegamos a ser 60 socios, y luego fuimos disminuyendo hasta el
2012, cuando decidimos cerrarlo, aunque algunas investigaciones y
programas finalizaron en 2014. En su origen, IGIA fue el fruto de
encuentros de gente con las mismas preocupaciones, con las mismas
críticas a lo que se venía haciendo en el tema drogas. Lo más interesante
era que unos éramos más de la academia y otros venían de la asistencia
directa. Llegó un momento que en IGIA se planteó convertirse en una
empresa de servicios. Algunas personas salieron del grupo y formaron
Àmbit Prevenció11, que llegó a ser una empresa muy importante del
tercer sector. La mayoría de nosotros, sin embargo, teníamos una visión
más crítica acerca de este cambio, no queríamos caminar en esa dirección.
Es lo que, a grande rasgos, explica Nikolas Rose, al hablar de las políticas
del neoliberalismo y de las nuevas formas de gestionar las crisis en él. Rose
viene a decir que esas crisis convierten a los críticos en prestadores de
servicios y, desde ese nuevo lugar, te sometes a una serie de reglas y
condiciones que, teóricamente, no nos afectan tanto en la academia
(otra cosa es que ahí también haya gente que se deja comprar...). Claro
que también nosotros dependemos de subvenciones para hacer
proyectos, pero podemos mantener nuestra visión crítica de una forma
más libre. A la larga, por unas cosas y otras, no supimos o no pudimos
hacer la transformación de mantenernos como asociación independiente,
pero profesionalizarnos como entidad.
__________
11. La Fundació Àmbit Prevenció fue fundada en 1993. Trabaja junto a poblaciones en riesgo de
exclusión social y adopta la perspectiva de reducción de daños en todas sus acciones.
http://fambitprevencio.org/
74
Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
¿Proyectos de investigación?
De investigación o de investigación con una parte de intervención.
Por ejemplo, uno de los últimos proyectos fue en relación a adolescentes,
emigrantes y alcohol. Hacíamos una investigación, siempre de tipo
etnográfico, y luego de ahí sacábamos algún tipo de producto, un folleto
para trabajar con los padres, con los profesionales, o algo igualmente
práctico.
También hacíamos evaluaciones de programas que se estaban
desarrollando en el SAPS o en otros servicios. A parte de los proyectos,
periódicamente hacíamos sesiones de discusión en torno a temas
distintos. La gente aportaba conocimiento teórico, conocimiento
bibliográfico, conocimiento de investigación y de la práctica clínica. Juntar
experiencias distintas estaba muy bien, y nos permitió ciertas
intervenciones indirectas. Recuerdo que a finales de los ochenta, en Nou
Barris13, explotó el problema de la heroína. En las asociaciones de
vecinos se creó una comisión de drogas y, gracias a las discusiones
que realizamos allí, pudimos influir para que los vecinos acabaran
pidiendo un centro de atención de drogas allí mismo. En general, la gente
no quiere ese tipo de centro en sus barrios, no quiere saber nada del
problema, hay una reacción social en contra. Pero en aquel momento, los
__________
12. Para más informaciones sobre el Grup IGIA, ver: Romaní, Oriol. La experiencia del Grup Igia:
Etnografía, educación para la salud, comunicación (1984-2014). In: Josep M. Comelles,
/Enrique Perdiguero-Gil, (coords.). Educación, comunicación y salud. Perspectivas desde las
Ciencias Humanas y Sociales. Tarragona: Publicaciones URV, 2017, pp. 139-158.
13. Distrito de Barcelona, situado en el extremo norte de la ciudad. Conocido, sobre todo en las
décadas de ochenta y noventa, por sus problemas sociales pero también por la existencia de un
activo movimiento de vecinos y por su efervescencia cultural.
75
Mónica Franch y Regina Medeiros
vecinos entendieron que el sitio más adecuado para que hubiera el centro
era donde estaba el problema. En el barrio.
La primera directora de ese centro durante muchos años fue Núria
Magrí, una médico de IGIA. De hecho, a finales de los noventa, de los
diez directores o directoras de los centros de atención y tratamiento en
Barcelona, seis o siete eran de IGIA. Eso se notaba en un cambio de
enfoque en los programas que estaban aplicando. De alguna manera,
IGIA forma parte de la influencia en lo que se llamó el modelo Barcelona
de intervención en el campo de las drogas. Planes de drogas que bastante
pronto se pusieron en sintonía con lo que sería la reducción de daños.
Aunque al principio había esa visión más rígida, que consideraba la droga
como un mal moral, y después como una dolencia psico-física, en seguida
se desarrolló una línea de trabajos epidemiológicos y, juntando con la
experiencia más etnográfica que IGIA traía, se pudo ir orientando hacia
un plan de drogas bastante sensato.
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
iniciaron los socialistas? Yo creo que ahí pasó un poco lo que se puede
observar con la reconversión industrial o el servicio militar obligatorio.
¿Quién hizo la reconversión industrial? Los socialistas, porque si lo
intentan en aquel momento los de derecha, se habría quemado España.
Con los socialistas, quemó una parte de España pero nos hicieron tragar la
reconversión industrial. ¿Qué pasó con la supresión del servicio militar
obligatorio? Lo quitó el PP porque si lo intenta hacer el PSOE, los otros le
hunden el país. En el tema de la reducción de daños, en las primeras
medidas que se intentaron implementar, la derecha armó un escándalo.
Pero más tarde, sobretodo cuando vino el Sida, vieron que algo había que
hacer. Como eran ellos los que estaban en el poder, ya no les pareció tan
malo. Es una perversión, por así decirlo, del bipartidismo.
Has hablado del Sida y justamente te quería preguntar, ya que tú tenías todo este
contacto de campo con el mundo de la heroína, cómo se vivió la irrupción del
Sida aquí.
El Sida afectó varios espacios pero yo me acuerdo, básicamente, de dos: el
del trabajo de campo, cuando vas viendo que la gente empieza a estar
mal
y se oye hablar de una epidemia; y en el ámbito de los amigos y
conocidos. Como fue una cosa transversal, no sólo ligada al tema de la
heroína sino que también tenía mucho que ver con el mundo de las
relaciones homosexuales, no sólo los “yonkis”, sino también los amigos
que estaban en ese otro mundo fueron los primeros a tener problemas.
Nuestro sentimiento de base, después de tantos años no sé si lo
recordaré bien, fue una cierta sensación de desconcierto, y luego
de abatimiento. Posteriormente, por suerte, el desconcierto se reorientó
hacia un tipo de propuestas mas pragmáticas. Creo que, en ese sentido,
se puede aplicar aquello de que “no hay mal que por bien no venga”.
Estoy convencido de que la aparición del Sida sirvió para desarrollar todas
las políticas de reducción de daños de manera más intensa y sistemática.
Siempre hubo un problema, sin embargo, en todo este ámbito, porque no
fueron políticas llevadas a cabo directamente por el Estado. Se hicieron a
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Mónica Franch y Regina Medeiros
través de ONG, o sea, que había la posibilidad de lavarse las manos si las
cosas no salían bien: “la culpa es de este grupo que hemos contratado…”
A la larga, este tipo de acción intermediada siempre por las ONG ha
servido para no desarrollar un sector profesional público, sino para
mantener siempre profesionales marginales para sectores marginales. En
todos los otros aspectos relacionados con las políticas de drogas se ha
desarrollado un sector profesional, pero en todo lo que tiene que ver con
reducción de daños, éste ha sido mucho menor. Han sido profesionales
más sujetos a contrato temporales, que hoy son comunes a todos, pero que
hace 20 años no lo eran.
El Grup IGIA fue una propuesta innovadora y tiene una historia interesante que
incluía investigadores latinoamericanos y la realización de las CLAT –
Conferencias Latinas de Reducción de Daños en Drogas. ¿Nos puedes contar
algo de esa historia?
A mediados de los noventa, ganamos un proyecto europeo de
formación de formadores de reducción de daños en el Cono Sur de
Latinoamérica. Durante varios meses, hicimos una formación por donde
pasó mucha gente que influyó posteriormente en la renovación de las
políticas en sus países, entre ellos profesionales de Chile, Uruguay y de
Argentina, y menos de Paraguay. Este fue el primer paso. Luego se hizo un
programa de visitas a centros de reducción de daños por toda Europa con
la gente de Latinoamérica que formó parte de esta formación. Fue
espectacular, porque ponías en contacto personas con experiencias
completamente diferentes.
A partir de estos contactos, se abrieron las Conferencias Latinas de
Reducción de Daños en Drogas (CLAT). Se hicieron cinco a lo largo de
diez años, una cada dos años. Eran latinas porque de Europa venía
básicamente gente de España, de Portugal, de Italia, Francia, Suiza,
minoritariamente algunos holandeses, alemanes también, además de los
compañeros de Latinoamérica. En las últimas, también pasaron a
participar países del Norte de África y del Este Europeo. Las CLAT eran
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
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Mónica Franch y Regina Medeiros
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
__________
16. Proyecto de reducción de riesgos de la ABD – Asociación de Bienestar y Desarrollo. Más
informaciones en https://energycontrol.org/
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Mónica Franch y Regina Medeiros
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Un antropólogo con sus drogas, entrevista a Oriol Romaní
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Mónica Franch y Regina Medeiros
Latinoamérica es una región inmensa y Brasil tal vez no sea el país que más
conoces, pero nos gustaría oírte. ¿Qué podrías decirnos, como últimas palabras,
sobre las políticas y programas de drogas en Brasil?
Yo Brasil lo conozco desde año 2000. En seguida me di cuenta de
que allí había experiencias de reducción de daños interesantísimas en
Bahía, en Porto Alegre, Belo Horizonte, cosas francamente interesantes,
experiencias bien continuadas en el tiempo. Por otro lado, es evidente
que si en algún lugar habría que empezar legalizando las drogas
sería en Brasil y en México, por la imbricación de la violencia social
con ese tema. Estos dos países son los dos casos contemporáneos más
clamorosos en ese sentido. Se está produciendo un daño tan terrible con
esta situación que legalizar y regularizar las drogas debería ser, en Brasil,
una emergencia nacional.
Barcelona, Belo Horizonte, João Pessoa, 31 de agosto de 2017
__________
17. En estos momentos, ya está publicada la propuesta, que se puede ver en: https://gepca.es/
González, Carlos; Funes, Jaume; González, Sergi; Mayol, Inma; Romaní, Oriol. Repensar las
drogas. Barcelona: Grup IGIA, 1989. Disponible en:
http://hemerotecadrogues.cat/docs/repensar_las_drogas.pdf
84
CAPÍTULO 1.3
Violência e Juvenicídio,
encarceramento:
das políticas de segurança à defesa dos
direitos humanos e do direito à vida
Marisa Feffermann
Introdução
As transformações da estrutura social e das relações sociais,
econômicas e culturais que ocorrem nos grandes centros urbanos têm
implicações na mudança do perfil epidemiológico brasileiro assim como
nos efeitos sobre a produção da violência, e causam intensa influência na
morbimortalidade das populações, pelo número de mortes, em especial,
de adolescentes e jovens negros pertencentes às classes subalternas.
Em 1996, a 49ª Assembleia Mundial da Saúde declara a violência
como importante problema de saúde pública e convoca a OMS para
desenvolver uma tipologia da violência que caracterizasse “os diferentes
tipos de violência e os elos que os conectariam” (WHO, 1996). Nessa
perspectiva, a saúde pública parte do princípio da necessidade da
compreensão da gênese e das formas de manifestação da violência e
especificamente dos comportamentos violentos para refletir sobre as
possibilidades de preveni-los, buscando, desta forma, compreender os
possíveis fatores que permitem a emergência de ocorrências desse tipo
de causas externas. Algumas hipóteses foram produzidas, desde a
questão de comportamentos geradores de risco, o consumo abusivo de
drogas lícitas e ilícitas e o envolvimento com o comércio ilegal de drogas
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Considerações finais
A exacerbação da violência contemporânea está relacionada com a
dominação exercida pela implementação das políticas econômicas, que ao
promover o desemprego estrutural nega a uma parte significativa da
população os direitos sociais e políticos, tornando-os supérfluos e impondo
uma política para conter e disciplinar esta população e assim justificar a
omissão do Estado. A adesão à ordem estabelecida ocorre por intermédio
do medo e da insegurança, assim a sociedade reforça uma dinâmica de
contenção e disciplina. Uma parte da população é criminalizada,
segregada e transformada, com auxílio da indústria cultural, em inimigos
do Estado, que devem ser enfrentados para garantir e manter o poder
estabelecido. No Brasil, o grupo a ser exterminado e encarcerado são os
jovens negros, empobrecidos, que vivem nas periferias, em especial aqueles
que são responsabilizados pela crescente economia de drogas ilícitas – os
pequenos traficantes. Jovens, imprescindíveis e ao mesmo tempo
descartáveis, que denunciam a barbárie civilizada que se vive hoje.
95
Marisa Feffermann
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a+e+voto:+o+munic%C3%ADpio+e+o+regime+representativo+no
+Brasil-+books.google.com.+&ots=8PNWY-4MT6&sig=bQezQ4aO
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PARTE 2
Introdução
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Maria Fátima Olivier Sudbrack
pedido/alegação - Quem pede ajuda? e qual é o pedido? para quem o uso de drogas é
problema?
Vemos que o ponto de partida é o próprio sintoma que constitui um
elemento de demanda, ou seja, revela uma comunicação do adolescente
que podemos interpretar como sua denúncia pela necessidade de
mudanças. Se entendemos que a demanda é um desejo que pode evoluir
(Eiguer, 1985), mister se faz construir este percurso, que se coloca como
uma etapa importante da intervenção. Não é apenas uma etapa
preliminar, mas se constitui a especificidade da clínica das dependências.
Através de consultas familiares proporcionamos espaço de expressão para
os diferentes membros, buscamos uma ressignificação do próprio sintoma
ou ato de drogar-se no contexto relacional sociofamiliar. Este espaço
inaugura-se com o acolhimento do adolescente em família, num processo
que denominamos de tratamento da demanda (Sudbrack, 2003a).
Cabe destacar que não se trata apenas de convencer o paciente de
que ele precisa de ajuda ou motivá-lo para o tratamento porque é
doente... Este discurso não é recomendado para o paciente adolescente
pois, além de gerar mais resistências, resulta em uma patologização
pessoal, fechando o espaço para uma leitura das dificuldades relacionais
atreladas e, assim, reveladas pela drogadição.
A perspectiva do tratamento da demanda nos remete, pois, a uma
especificidade em torno das questões profundas do processo clínico e
relacional. O novo paradigma se coloca quando, em vez de considerarmos
a falta do pedido de ajuda pelo paciente simplesmente como uma
resistência, negação do problema, ou um impeditivo pessoal para uma
relação terapêutica, nos propomos a investigar a natureza desta trama
relacional que está impedindo reunir os diferentes elementos da demanda
para que cada um consiga assumir seu sofrimento e expressá-lo com
autonomia na família. Para tanto, precisamos adentrar em processos
relacionais complexos que constituem a trama que sustenta os sistemas
aditivos (Colle, 2001). Como resultado desta trama que encobre o próprio
movimento do sujeito para buscar ajuda, as equipes vivem uma
impotência e, desestimuladas podem adotar duas posturas extremas: ou
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A clínica da drogadição no paradigma da complexidade
109
Maria Fátima Olivier Sudbrack
Vinheta clínica (1) da desconstrução do poder da droga ao resgate dos vínculos com os pais
Jovem de 17 anos (P), filho de pais divorciados que se desentendem na forma de lidar com o
filho ao descobrirem que ele usa drogas. O pai quer sua internação urgente e a mãe discorda,
mas encontra-se muito abalada e assustada, sem saber o que fazer. Na última discussão, houve
confronto familiar, resultando em enfrentamento físico do pai com o filho que, partir de então,
cortaram a comunicação. Após dois meses deste evento, a mãe procura sozinha um serviço de
dependentes químicos da Universidade, que a remete ao contexto de atendimento familiar.
Apresentamos como vinheta clínica um recorte das duas primeiras consultas familiares, no
processo de acolhimento da família, sendo a primeira com a mãe e o filho, e a segunda com mãe,
pai e filho.
Na primeira consulta, as narrativas e imagens da mãe e do filho se mostram dissonantes:
enquanto para o adolescente, o consumo de drogas se dá no contexto das festas Rave, pura
descontração e diversão, a mãe se mostra muito preocupada e imagina o filho perdido,
desprotegido e desvitalizado. Solicitados a representar as drogas com as almofadas, enquanto a
mãe escolhe uma almofada marrom, o filho escolhe almofada colorida. Fica claro o quanto a
visão da mãe contrasta com a visão do filho, que representa as drogas como sua fonte de alegria
e descontração de que precisa face ao tédio do cotidiano. Propusemos troca de papéis, utilizando
técnicas psicodramáticas: o filho, colocando-se no lugar da mãe (Como você imagina que sua
mãe está lhe vendo agora?): o adolescente se coloca deitado no chão, em posição fetal, com as
mãos na cabeça, expressando horror e sofrimento. A mãe, mostrando como o filho a percebe,
produz a seguinte imagem corporal: coloca-se de pé, andando em círculos, de braços estendidos
e chamando-o para perto, com expressão aflita, desesperada. Enquanto isso, o filho é visto pela
mãe dançando e se divertindo.
As imagens trazidas na cena psicodramática de ambos são fortes e reveladoras da trama
relacional. Se, por um lado, a percepção da mãe e do filho são antagônicas, ficou claro o que se
passa entre eles: ambos estão atribuindo imensa força e poder à droga que está gerando grande
conflito e distanciamento entre eles. Para a mãe a droga teria a força de levar seu filho ou de
destruí-lo, e para o filho a droga seria capaz de lhe proporcionar toda a felicidade e liberdade
desejada, longe da família, apenas compartilhada com os amigos. Pontuamos para o adolescente
os riscos de uma tal situação, caso se prolongasse e agravasse: a mãe com tanto sofrimento e
insegurança, pelos cuidados que inspira com o abuso de drogas, passaria a tratá-lo de forma
infantilizada, justamente quando precisa conquistar sua confiança para adquirir sua liberdade e
autonomia. O adolescente ouviu atento e se mostrou reflexivo, compreendendo esta devolutiva
provocativa de que a relação poderá regredir para uma condição infantilizada. Neste momento,
a mãe se reconhece como totalmente despreparada para cuidar o filho adolescente, com muitos
medos e inseguranças que a estão deixando doente, sem dormir, com palpitações, perdida no seu
papel ...
Introduzimos, assim, o que denominamos a ressignificação do sintoma: o tema da confiança e
do cuidado se coloca no lugar do uso de drogas e ambos se reaproximam, estimulados a
conversar sobre a reconstrução da relação mãe-filho neste novo momento do ciclo de vida da
família. O adolescente reconhece o sofrimento da mãe que foi o motivo dele ter aceito este
atendimento psicológico. Pontuamos positivamente seu desejo de cuidar da mãe, que passa a
destacar as qualidades do filho. Um novo diálogo entre ambos se inicia, compartilhando sobre a
vida de família, sobre as dificuldades na escola e com os amigos. Como o adolescente está sem
diálogo com o pai, com quem se confrontou fisicamente pela reação deste lhe proibindo o uso de
drogas, propusemos a participação do pai para a próxima sessão, aceito pelo filho e pela mãe.
(continua)
110
A clínica da drogadição no paradigma da complexidade
Vinheta clínica (1) da desconstrução do poder da droga ao resgate dos vínculos com os pais (fim)
Na segunda consulta familiar, com a presença do pai, cuja comunicação estava rompida há
dois meses, foi possível avançar na compreensão sistêmica e relacional do sintoma. O depoimento
do pai foi pesado, mostrando-se inicialmente muito bravo e decepcionado com o filho, considerando
que ele jogou fora a educação e o amor dos pais, optando em tornar-se um “bandido”. Explicou
sua reação de denunciar o filho para todos: na escola, no prédio, e também entre os amigos, pois
acredita que ele está, inclusive, vendendo drogas, o que justifica pelo fato de que encontraram até
uma balança de precisão em sua mochila. Por este motivo, argumenta que o filho deve ser
internado e fazer um tratamento urgente. Neste momento, a mãe chora muito e o filho também.
Procuramos qualificar o pai como figura de autoridade importante, mas que também estaria muito
perdido e sofrido. Pedimos ao filho que revele ao pai seu projeto de vida e de consumo ...
promovemos uma desconstrução de condição de dependência, sem minimizar os riscos presentes.
Introduzimos que seria preciso ver melhor o papel do uso da maconha no alívio de sofrimento, além
do prazer nas festas, e que esta avaliação dependeria de uma conversa individual com P. O
adolescente esclarece sobre suas vivências nas festas e no consumo de drogas. A mãe ajuda a
lembrar que ele sofreu decepção amorosa, que pode ter contribuído ... O pai se emociona e se
identifica com o filho, dizendo que ele usa a bebida como alívio ... e gosta de acompanhar o filho
nas festas, como já fizeram no Rock in Rio. Pontuamos a importância da presença do filho para o
pai. Seu discurso muda de tom e passa a falar entre lágrimas sobre o amor que tem pelo filho que
até então só trouxe alegrias para ele: “... meu menino carinhoso e companheiro ... como pode
acontecer isto? “ estou com muita saudade, você não aparece mais em minha casa ... O filho
explica que tem vergonha da família, depois que o pai o denunciou como um “maconheiro”...
Instaurado um clima de diálogo, com possibilidades de desabafo, muitas questões podem ser
vistas, destacando-se o baixo aproveitamento escolar que inquieta sobremaneira os pais. O filho
promete que vai deixar de usar drogas para recuperar suas notas. O pai pede para o filho visitá-lo
com maior frequência e conviver com sua nova irmãzinha, filha de seu novo casamento. A mãe
revela que, nesta confusão, acabou conhecendo a menina que já tem um ano.
A sessão finaliza com a pergunta do terapeuta: o que cada um tem como pedido para o outro?
O pai pede para o filho deixar dos amigos da droga e cuidar da mãe, que está cansada e
adoecida. A mãe pede para o pai prosseguir acompanhando o filho com ela. O filho pede
confiança aos pais e crédito nas suas opções, pois não é mais criança. Pontuamos como desafio
para o filho: como reconquistar a confiança dos pais? E para os pais: como cuidar do filho
adolescente, sem impedir sua autonomia? A sessão foi finalizada colocando-se como temática a
relação com os amigos: o adolescente informa que todos os seus amigos fumam maconha
diariamente. O pai diz que ele precisa deixar de viver com estes “vagabundos”. Pontuamos que a
desqualificação dos amigos do filho como “bandidos e vagabundos” não era favorável à
reaproximação necessária entre pai-filho. Foram agendadas para a semana seguinte: sessão
pai-filho, uma sessão de atendimento individual de apoio para a mãe e uma nova consulta familiar
em quinze dias.
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Vinheta clínica (2): do poder e fama no grupo delinquente ao retorno para a família
J. é uma adolescente de 15 anos, tornou-se famoso com divulgação nas suas redes sociais de
festas Rave que anunciava em sua página, via Instagram. Estas festas eram espaços de oferta de
diversas drogas, mas do LSD em especial. Reconhece que oferecia sua colaboração para o
sucesso dos eventos que bombavam, graças a sua mobilização e liderança que tinha junto à sua
galera. Com esta função, conseguiu um impressionante número de seguidores nas redes sociais,
sente-se muito prestigiado e poderoso. “... Antes eles me ignoravam. Agora eu saí da estatística,
só faço coisa diferente. A lei não existe para mim, eu enfrento a autoridade. Sigo só a lei de
Deus! Vender drogas, para mim, não é crime, é comércio. Sei que faço a diferença saindo das
regras e eles me admiram pela minha coragem. Eu sou conhecido e respeitado pela galera! Isso é
muito importante para mim – agora saí do anonimato...”
Confrontado pela família, nega que estivesse trabalhando para o tráfico, minimizando a
consequência de sua atividade na divulgação dos eventos. No entanto, percebe-se que,
paralelamente, passou a ter reconhecimento dos traficantes que lhe distribuem uma cota para uso
pessoal. A mãe encontrou uma caixa de LSD escondida em gaveta de seu armário.
Além da gratificação pela popularidade nas redes sociais gerada pela sua colaboração nas
festas, J. conquista a admiração dos colegas da escola pelo descumprimento de regras,
enfrentamento de autoridades: costumava discutir com professores, usar drogas na sala de aula ...
Seu comportamento resultou em expulsão da escola, pela segunda vez, com pedido para que os
pais providenciassem urgentemente a sua internação pois estava dependente de drogas.
Questionado sobre seu consumo, nega ser dependente, embora relate experiências diversas e
familiaridade com muitos produtos: iniciou fumando maconha aos 13 anos, que ainda consome
alternando com LSD e ecstasy nas festas Rave. Já experimentou cocaína mas não se deu bem ...
Além da expulsão da escola, a crise se agravou com a ocorrência de evento de violência
entre J. e um amigo, surpreendidos pelo seu pai, brigando, no prédio de sua residência, ambos
sob efeito de LSD. Ocorreu que o pai de J. entrou na briga para defender o filho, provocando
entrada de outro adolescente para defender o colega, com agravamento das agressões,
interrompidas pelo porteiro do prédio. Não houve registro policial do evento, a pedido da família
de J.
O evento gerou ruptura de J. com o grupo e o amigo com quem se disputou, protegido pelo
pai. Assim, seu melhor amigo tornou-se seu rival, ameaçando sua imagem, liderança e
popularidade. A perda da liderança e de poder no grupo é o aspecto de maior sofrimento de J.,
que é invadido por fortes sentimentos de vingança e de ódio. Confessa desejo em recuperar seu
espaço no grupo, fazendo justiça com as próprias mãos: “eu tenho meus meios para acabar com
ele ”. Meu grupo é tudo para mim... eles sabem que eu não sou otário...”
A intervenção com J. e a família iniciou justamente após a crise do grupo, com violência física
entre J. e seu melhor amigo H., envolvendo o pai de J.
(continua)
120
A clínica da drogadição no paradigma da complexidade
Vinheta clínica (2): do poder e fama no grupo delinquente ao retorno para a família
(cont.)
Os pais, muito desorientados, procuravam uma comunidade terapêutica, vista como única
forma de proteger o filho e a família, ainda sob ameaças do grupo, consultam serviço
universitário especializado em dependentes químicos que os remete à nossa equipe de terapia de
família. Com a participação de J., seus pais e seu irmão menor (11anos), a equipe e a família
acordam em construir, como alternativa à internação, uma rede protetiva para J. sem afastá-lo,
mas submetendo-o a limites, permanecendo em casa. Com medo do grupo e reconhecendo as
ameaças para a família, o adolescente recuou de seus ímpetos de vingança e aceitou os limites
impostos pelos seus pais: proibido de sair de casa, de encontrar com os amigos, sem celular, J.
mostra-se infeliz e inconformado com sua falta de liberdade. As sessões em família, permeadas
por atendimentos individuais diários, permitiram uma continência da revolta e raiva vividas pelo
adolescente, controlando seus ímpetos de revidar com violência a humilhação que sofrera. O
tema da liberdade e da autonomia foi trabalhado em sessões de família, sendo criado espaço
intermediário de expressão para todos. Os pais se mostraram chocados e puderam expressar
suas angústias e medos pela situação gerada. Até então, a mãe assumira todo controle do filho,
numa postura protetiva e controladora. O pai se revela decepcionado consigo mesmo e solicita
ajuda para cuidar melhor do filho, pois não percebera os perigos que este vivia.
O exercício da autoridade do pai com o filho adolescente foi trabalhado em sessões pontuais
do subsistema pai-filho. O pai se culpabiliza por ter ficado tão distante do filho, com viagens
frequentes de trabalho. Avalia que o afastamento do filho foi agravado nos dois últimos anos por
ter priorizado cuidar da esposa diagnosticada com câncer, que exigiu prolongado tratamento. Este
momento foi o fator desencadeante das fugas do adolescente para a rua, sem controle dos pais,
com apenas 13 anos, envolvendo-se com drogas e delinquência. J. revelou que, neste período,
sentia uma grande tristeza porque se via abandonado e não entendia este distanciamento dos pais,
que esconderam a doença da mãe para proteger os filhos. “Então, sem meus pais no meu pé, eu
podia fazer tudo”. Mas sentia uma tristeza, porque eles nem ligavam mais...”
Uma reaproximação e fortalecimento do vínculo de confiança pai-filho foi possível como
resultado da intervenção. O pai busca atividades para fazer com o filho e descobrem afinidades:
futebol, aviação, filmes ... Na medida em que o adolescente se sente acolhido pela família,
aceitou os limites colocados, estes sempre vistos como transitórios. Nas sessões individuais,
trabalhava-se a importância de que reconquistasse a confiança perdida de seus pais. Aos poucos,
J. inicia uma reflexão rumo ao seu amadurecimento com postura crítica de sua conduta,
reconhecendo os riscos e gravidade dos fatos e dos atos cometidos. J. escolhe um novo colégio,
que passa a frequentar, embora sem qualquer motivação para estudar.
Foi importante vislumbrar a recuperação de sua imagem e confiança na família, como base
do processo. Mas a convivência no grupo de pares lhe faz falta e se constitui o próximo desafio
dentre as negociações com os pais. Mesmo adaptado em nova escola, fazendo esforço para
passar de ano, considera os colegas atuais “uns babacas” que não são do seu nível, pois são
muito infantis ... Passa a ficar com meninas, pois tem facilidade em conquistar as garotas ... refere
que deixou de usar drogas e pensa que não precisa disso para ser feliz ... Nunca assumiu ser
dependente de drogas. Considera que usava apenas para “fazer bagunça”.
(continua)
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Maria Fátima Olivier Sudbrack
Vinheta clínica (2): do poder e fama no grupo delinquente ao retorno para a família
(fim)
Após dois meses com diversos atendimentos, permeando-se sessões de família, com
atendimentos individuais e com subsistemas (pai-filho e mãe –filho) percebe-se que o período de
“obediência” atinge seu limite para J. e ele começa a apresentar novos comportamentos de
rebeldia em casa e na escola. Em vez de estudar, escreve páginas e páginas de RAP que a mãe
critica como sendo uma cultura de bandidagem... J. diz que vai ganhar dinheiro com estas
poesias... seu projeto profissional é ser músico. Ao mesmo tempo em que temos a impressão que
tudo vai recomeçar, pontuamos no que está fazendo a diferença, destacando que, agora, J. pode
compartilhar falando para os seus pais, inclusive sobre esta necessidade de ser rebelde, o que foi
pontuado como busca de criatividade para suportar tantas restrições na sua vida. J. desabafa na
sessão de família o quanto ele está infeliz, vivendo uma rotina de vida imposta que detesta,
vendo-se obrigado a estudar e fazer sempre as mesmas coisas ... os pais mostram-se
inconformados, expressam sua decepção com o filho que não se mostra envolvido com os estudos
e pedem que ele aproveite a escola de sua própria escolha e que estão pagando com sacrifício. J.
desabafa que se surpreendeu com o nível de exigência desta escola e não sabe se será aprovado.
Os pais pedem que se dedique mais aos estudos.
Em sessão individual, J. confessa que decidiu voltar à sua vida: preciso retornar a viver com
meus amigos, não dá para ficar assim isolado. Sua maior reivindicação é recuperar seu celular, no
qual tinha acesso a toda sua rede social ... Questionado sobre como se sente para este retorno e
o que aprendeu da experiência sofrida? responde: - Descobri que lá, nada mudou, eu é que
mudei. Percebi que queria ser o melhor de todos, mas não é assim ... A gente quando erra tem
que saber pedir desculpas, sei que a galera ainda me aceita ... Trabalhamos sua crise identitária:
sua identidade depende do que você pensa de si mesmo, do que os outros pensam de você e do
que você pensa que eles pensam ... Questionamos se ele sabe o que quer para si mesmo, como
projeto de vida: - Quem é você? - Quem deseja ser? Um trabalho pessoal, em processo, se revela
com suas palavras sinceras e emocionadas: sei que estou mais fortalecido, mas ainda perdido...
O momento é precioso, com importantes questões: como reconstruir um novo espaço de
reconhecimento e gratificação positivos de que J. necessita, além da família? Como mediar seus
conflitos ainda presentes nas relações com o grupo? Quais riscos ainda apresenta de novos
envolvimentos delinquentes? Como promover novos pertencimentos de que necessita para superar
sua posição atual de isolamento, desmotivação e sentimentos de fracasso na vida social? Como se
divertir sem se colocar em risco pelo envolvimento com drogas?
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A clínica da drogadição no paradigma da complexidade
Esta vinheta, embora relatando apenas uma etapa inicial (dois meses)
do processo de intervenção sistêmica que apresentamos como uma clínica
da complexidade na drogadição de adolescentes, ilustra que o maior foco
não se coloca na relação com o produto, mas nos riscos atrelados pelos
vínculos com os pares, numa análise que se amplia para as dependências
de contexto. Entendemos que o resgate das referências familiares faz toda
a diferença, neste momento. A natureza do vínculo que o adolescente
constrói junto aos grupos de pares vai definir se as transgressões serão atos
adolescentes apenas de passagem ou se vai ter uma inserção marginal mais
definitiva, como alternativa compensatória da falta de referências
familiares estruturantes.
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129
Maria Fátima Olivier Sudbrack
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A clínica da drogadição no paradigma da complexidade
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Maria Fátima Olivier Sudbrack
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CAPÍTULO 2.2
Giovana Quaglia
Hipermodernidade e satisfação
O dogma produtivista do alto conhecimento a qualquer preço, do
consumo exagerado e da “rainha” economia não encontra mais eco
entre os jovens que se interrogam sobre seu futuro, apontam a
destruição ambiental, as humilhações escolares e as mortes por
excesso de trabalho. Entretanto, quando a sociedade dominante não
conhece outros deuses além do índice Nikkei e considera a abertura
das lojas aos domingos um avanço social, em direção a que valores
podem (os jovens) voltar-se? (Barral, 2001, p. 21)
133
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nunca se sacia, “o gozo é o tonel das Danaídes, e que uma vez que ali se
entra não se sabe aonde isso vai dar. Começa com as cócegas e termina
com a labareda de gasolina" (Lacan, 1992, p. 68).
O paradigma da toxicomania está nesse mais além das drogas que se
impõem na atualidade, essa busca do prazer que vai das “cócegas a
labaredas”. Se Freud nos indicava que uma das saídas para o mal-estar era
a intoxicação, hoje observamos uma intoxicação generalizada. Não há
nada mais atual do que ser adicto!
Referências
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mercadorias.. Rio de Janeiro: Zahar.
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CAPÍTULO 2.3
Toxicomania e adições:
a clínica viva de Olievenstein
Diva Reale
Marcelo Soares da Cruz
Fabio Carezzato
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dos direitos humanos dos usuários de drogas. Seu esforço era lhes
assegurar a melhor qualidade possível no atendimento a sua saúde, através
da implantação e aprimoramento da cadeia terapêutica que constitui o
ponto central do modelo de cura francês.
Sua relação com a psicanálise sempre intrigou aqueles que não
eram tão próximos a ele. Bebe de sua fonte com a liberdade abusada de
quem nunca se afiliou. Também nunca se entregou ao divã alheio.
Entregar-se à análise parece carregar algo tão perigoso quanto teria sido
para Ulisses ceder ao canto da sereia, correndo o risco de não cumprir
sua jornada, destino e vida.
Bebendo de fontes psicanalíticas, e adaptando-as às necessidades que
seus pacientes traziam, Olieve manteve-se livre para criar as práticas que
melhor respondessem a elas. E de fato, uma cuidadosa reconstrução de
leituras, contatos, trocas e ressonâncias mútuas entre Lacan e Winnicott
pôde enriquecer nosso entendimento das relações explícitas, implícitas, e
mesmo inconscientes deste encontro refletido no pensamento clínico de
Olieve. Isto não quer dizer que lhe faltasse rigor na sua forma de construir.
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Finalizando...
Esta crônica foi escrita reunindo alguns trechos3 escolhidos de autores
do livro Toxicomania e Adições: A Clínica Viva de Olievenstein, que
esteve em pré-lançamento no 6º Congresso da Abramd, novembro 2017.
Referência
Olievenstein, C. (1989). O não-dito. In C. Olivenstein, A clínica do
toxicômano. A falta da falta.Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
__________
3. Foram seleccionados os trechos a seguir e respectivos autores: “1971: nascimento de Marmottan”,
“Da acolhida e tratamento dos pacientes”, “Marmottan: relações humanas no trabalho”, de Zorka
Domic; “Ressonâncias do pensamento clinico de Olieve”, “Olievenstein: Amarrado Ao Mastro”,
de Diva Reale; “Uma Clínica Transicional”, de Marcelo Soares da Cruz.
152
CAPÍTULO 2.4
A adolescência
A adolescência é considerada em nossa sociedade como a passagem
da infância para a vida adulta. É reconhecida por suas transições – físicas,
psicológicas e sociais – e marcada por rupturas e novas ligações (Vitale,
2014; Zappe & Dias, 2012). A adolescência tem sido relacionada a
questões como independência e busca por uma identidade social;
preocupação em ser parte de um grupo; interesse em parceiros românticos
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risco e proteção que mais se destacam são: (a) estilos parentais; (b)
monitoramento/supervisão parental; (c) afeto/apoio; (d) aprovação e uso
de drogas pelos pais; (e) saúde mental dos pais; (f) participação dos pais no
tratamento do filho. É importante destacar, como afirmam Morais et al.
(2014), que os fatores familiares de risco e proteção, ambos, devem ser
vistos como processos. É necessário contextualizar e analisar esses fatores e
suas relações, não considerando de forma linear a relação entre sua
presença e o comportamento adolescente.
O estilo parental tem sido abordado em diversas pesquisas como um
fator de proteção e risco para adolescentes em contexto de uso de
substâncias (Calleja et al., 1996; Cerutti et al., 2015; Fuentes et al., 2015;
Morais et al., 2014; Pereyra & Bean, 2017; Schenker & Minayo, 2003). O
estilo parental é definido e associado às práticas educativas, ou seja, às
estratégias e técnicas utilizadas pelos pais para orientar o comportamento
de seus filhos. As principais dimensões para definir o estilo parental são o
controle e o afeto. Assim, podemos citá-los como sendo: (a) autoritário:
com alto controle parental – comportamento restritivo e impositivo sobre
a conduta dos filhos – e pouco envolvimento afetivo; (b) permissivo: com
pouco controle parental e alta afetividade – marcada por receptividade e
comunicação; (c) democrático: equilíbrio entre afeto e controle, no qual os
pais reconhecem e respeitam a individualidade dos filhos, mas deixam
claras as normas e os limites (Bem & Wagner, 2006).
De forma geral, autores têm apontado que estilos parentais que
encorajam independência, mas que colocam limites, estão mais associados
com um desenvolvimento positivo (Morais et al., 2014; Schenker &
Minayo, 2003), enquanto estilos caracterizados por excessiva
permissividade ou rigidez são relacionados ao aumento do uso de
substâncias (Calleja et al., 1996; Pereyra & Bean, 2017; Schenker &
Minayo, 2003). Nesse sentido, Cerutti et al. (2015), em sua pesquisa,
analisaram que o controle parental é um fator protetivo em relação ao uso
de drogas. Esse controle é apenas visto como protetivo, no entanto,
quando é percebido pelos adolescentes em um contexto afetivo. Fuentes et
al. (2015) corroboram essa ideia ao descreverem que o estilo parental
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ser cada vez maior, de forma que ficam em segundo plano as qualidades e
demais características do adolescente, assim como outras dimensões do
relacionamento familiar. O adolescente, por sua vez, tende a se sentir cada
vez mais inadequado e isolado, o que contribui para o aumento do
“comportamento problema”, reforçando a atitude familiar de, cada vez
mais, focar-se no mesmo e dando continuidade ao ciclo.
Selekman (2017) destaca que os terapeutas devem compreender que
esses comportamentos apresentados pelo adolescente podem representar
sua forma de lidar com uma situação difícil com a qual se depara em sua
vida e para a qual não encontra outras alternativas:
Tenho observado que existe uma dimensão lógica em
comportamentos provocativos, intimidantes, perturbadoramente
auto-destrutivos e destrutivos. Para muitos adolescentes, esses
comportamentos de alto-risco têm servido como recompensas,
recursos e tentativas de solução para ajudá-los a manejar estressores
individuais, familiares e sociais em suas vidas. Não é surpresa que
gravitem ao redor de comportamentos particulares que têm
funcionado para eles. (...) Isso não quer dizer que esses
comportamentos sejam benignos ou que devam ser encorajados.
Quanto mais o adolescente se engaja em comportamentos de
alto-risco, mais tende a utilizá-lo e menos medo tende a apresentar.
(Selekman, 2017, p. 04)
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Deve-se destacar, porém, que tanto o estudo de Hogue et al. (2015) como
o de Carr (2014) são estudos internacionais, de forma que não é possível
assegurar se os mesmos resultados seriam obtidos na realidade brasileira.
Na próxima seção, serão destacadas as particularidades da terapia
com família de adolescentes que usam drogas. Serão abordadas
recomendações gerais apresentadas aos terapeutas de família que atendem
essa população e os modelos manualizados de terapia familiar propostos
para uso nesse contexto.
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adolescente está abrindo mão das drogas, enquanto os pais estão lidando
com a perda da imagem que tinham de sua família (Downs et al., 2015).
O encerramento da terapia. O terapeuta costuma abordar a
chamada prevenção da recaída, em que se busca identificar os fatores de
risco – tais como exposição à droga, situações de alto estresse etc. –, bem
como os recursos de que o adolescente e a família dispõem para
enfrentá-los (Carr, 2006). No entanto, a possibilidade de que uma recaída
venha realmente a acontecer precisa ser abordada de forma explícita. É
importante que a família compreenda a importância de manter os esforços
e as habilidades desenvolvidas na terapia. Mesmo que o adolescente tenha
uma recaída, isso não significa o fracasso de todo o processo (Carr, 2006;
Downs et al., 2015).
Em um estudo conduzido com famílias atendidas em terapia familiar
sem o uso de modelos manualizados, Hogue et al. (2015) argumentam que
essa modalidade de terapia representa um recurso efetivo diante do uso de
drogas por adolescentes. Ao avaliarem os adolescentes que participaram
de terapia familiar um ano após os atendimentos, constataram que 40%
deles não usavam drogas há três meses ou mais. Entre os adolescentes que
realizaram terapias de outro tipo, essa taxa foi de 26%. Os autores
destacam, no entanto, a importância de que a prática seja baseada nas
evidências disponíveis sobre o tema e que se invista na supervisão dos
casos e no monitoramento dos resultados.
Alguns modelos manualizados de terapia familiar tiveram
corroborada sua efetividade no tratamento de adolescentes que usam
drogas. Entre eles, destacam-se a Terapia Familiar Estratégica Breve
(TFEB), a Terapia Familiar Funcional (TFF) e a Terapia Familiar
Multissistêmica (TFM; Carr, 2014, 2016). Pesquisas também evidenciam a
potencialidade desses modelos para a melhora de problemas de
comportamentos e do desempenho escolar do adolescente, bem como dos
relacionamentos familiares, como um todo (Carr, 2014). Embora a
descrição detalhada desses modelos ultrapasse o escopo deste capítulo,
abordaremos seus pontos comuns, bem como suas principais contribuições
para o atendimento de famílias com adolescentes que usam drogas. Carr
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(2016) destaca que, de forma geral, esses modelos têm em comum uma
abordagem focal, que prioriza a atuação sobre os fatores de risco
relacionados ao uso de drogas na adolescência: estratégias parentais, nível
de estresse familiar, participação em grupos de risco e baixo apoio social.
Resumindo-se, o terapeuta deve preocupar-se em “aumentar os fatores de
proteção e reduzir os fatores de risco” (Hogue et al., 2005, p. 384).
Somando-se as contribuições de cada um desses modelos, temos como
importantes características da terapia familiar nesse contexto:
(a) Identificação de padrões disfuncionais que possam estar
relacionados ao uso de drogas e o uso das sessões terapêuticas como
um espaço para questioná-las e reformulá-las (TFEB; Carr, 2014,
2016). “Espera-se que os terapeutas encorajem os membros da família
a interagirem para que possam identificar interações não adaptativas
e, quando esses padrões forem revelados, tentar mudá-los no decorrer
da sessão” (Robbins, Bachrach, & Szapoczinik, 2002, p. 125). Os
padrões comumente abordados referem-se às estratégias parentais
utilizadas, à comunicação entre pais e filhos e aos conflitos existentes
entre eles (Robbins et al., 2008);
(b) Desenvolvimento de novas habilidades relacionais e de solução de
problemas, que possam ser generalizadas para diversas situações além
da terapia (TFF; Carr, 2016);
(c) Identificação das potencialidades da família e redução da
negatividade em suas relações, ao fomentar-se uma nova perspectiva
sobre o problema (TFF; Carr, 2016);
(d) Atuação junto a outros sistemas dos quais o adolescente faz parte,
de forma que seja possível uma reflexão conjunta quanto aos fatores de
risco para esse adolescente e sobre como todos podem se envolver em
sua superação. Nesse sentido, podem ser realizados encontros com
membros da escola, do grupo de amigos do adolescente, dos serviços
de justiça etc. (TFM; Carr, 2014, 2016; Robbins et al., 2008).
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Considerações finais
A literatura revisada neste capítulo demonstra a importância de
compreender o adolescente de forma contextualizada, reconhecendo a
família como um de seus principais contextos de desenvolvimento (Lordello,
2015; Morais et al., 2014; Senna & Dessen, 2012; Vitale, 2014). Nesse
sentido, tornam-se necessárias medidas que busquem fomentar os fatores de
proteção que podem ser identificados no ambiente familiar, principalmente
no que se refere a um estilo parental caracterizado por afetividade,
confiança e limites claros (Álvarez et al., 2003; Bertrand et al., 2013; Calleja
et al., 1996; Cerutti et al., 2015; Fuentes et al., 2015; Morais et al., 2014;
Pereyra & Bean, 2017; Schenker & Minayo, 2003). O papel desempenhado
pela saúde-mental dos pais (Bertrand et al., 2013) e pelo uso de drogas destes
(Cerutti et al., 2015; Krestan & Bepko, 1995; Le Poire, 2004) na
vulnerabilidade do adolescente diante das drogas reforça a importância de
um olhar sensível às necessidades de todos os membros da família.
A terapia com famílias de adolescentes que usam drogas deve seguir os
preceitos gerais da terapia familiar com adolescentes, considerando-se as
especificidades desse contexto. Assim, o terapeuta deve estar atento às
seguintes questões: (a) Engajamento de diferentes membros da família e de
outros sistemas significativos para o adolescente (Carr, 2014, 2016; Robbins
et al., 2008; Selekman, 2017; Taibbi, 2009); (b) Necessidade de contemplar
as demandas dos diferentes membros da família e de estabelecer uma boa
aliança terapêutica com todos eles (Carr, 2006; Selekman, 2017); (c)
Reconhecimento do papel desempenhado pelos padrões interacionais
presentes na família e superação de rótulos que estabeleçam um único
“culpado” ou “problema” (Carr, 2006, 2014, 2016; Downs et al., 2015;
Micucci, 2009; Robbins et al., 2002); (d) Estilos parentais predominantes e
sua possível atuação como fator de risco ou de proteção quanto ao uso de
drogas pelo adolescente (Carr, 2014; Robbins et al., 2008); (e) Dinâmica de
uso de drogas pelo adolescente e histórico de uso de drogas pela família
(Carr, 2006; Downs et al., 2015); (f) Compreensão dos comportamentos que
se desenvolveram ao redor do uso de drogas (Carr, 2006); (g)
Desenvolvimento ou aprimoramento de habilidades relacionais e/ou de
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Referências
Álvarez, J. L. M., Martín, A. F., Vergeles, M. R., & Martín, A. H. (2003).
Consumo de drogas en la adolescencia: Importancia del afecto y la
supervisión parental. Psicothema, 15(2), 161-166.
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CAPÍTULO 2.5
Introdução
Dentro da complexidade que é a atenção à saúde, com suas
dimensões - biológica, social, cultural, econômica, política etc. –, um
aspecto que passa muitas vezes despercebido, e é de fundamental
importância para entendermos esse fenômeno, trata-se da acessibilidade.
Somado a tal conceito, pensar no acesso à saúde por parte das pessoas que
usam drogas, singularmente as que têm problemas decorrentes do abuso
do crack, traz para a discussão vários pontos que extrapolam a relação
dicotômica do processo saúde-doença.
Para tanto, precisamos definir o que estamos tomando por
acessibilidade. Travassos e Martins (2004) apontam a complexidade da
definição do termo e sua variância entre autores, enfoque, contexto e
tempo. A acessibilidade define-se, então, como um conjunto de aspectos
que influenciam na relação de prestação de um determinado serviço para
atender demandas de saúde, que passa pelas dimensões do usuário, dos
profissionais do serviço, da organização do serviço, e ainda as dimensões
sociais, política, econômica e simbólica (Assis & Jesus, 2012, Donabidean,
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Metodologia
O presente capítulo traz reflexões advindas a partir do relatório final
do projeto de pesquisa “Motivos apontados por usuários de crack como
desencadeadores de recaída e avaliação de fatores predisponentes que levam a esse
quadro”, financiado pelo CNPq de acordo com o processo 402776/2010-0
referente à chamada pública Edital 41/2010 – Faixa I (Nappo, 2010).
Neste, observa-se que o estudo teve por objetivo levantar os motivos
apontados por pessoas que usam crack no processo do fenômeno da
recaída.
No projeto de pesquisa foram selecionadas amostras de pessoas que
procuraram tratamento devido ao uso de crack em três domínios:
Comunidades Terapêuticas (CTs); Caps–AD; e Clínicas médicas de
internação, domínios estes que comumente compõem as RedesUD no
Brasil. Os três domínios totais de amostragem foram definidos nos Estados
de São Paulo e Pernambuco, considerando-se prioritariamente as capitais
e regiões metropolitanas. A pesquisa foi dividida em duas etapas. A
primeira etapa foi quantitativa, aplicação de questionário. E a segunda
etapa foi baseada em metodologia qualitativa, em que foi construído um
roteiro de entrevista, a partir dos dados da etapa quantitativa, e realizadas
entrevistas semiestruturadas com os participantes. Nas duas etapas da
pesquisa foram visitados 85 serviços, sendo 12 clínicas, 24 Caps–AD e 13
CTs, em São Paulo; e sete clínicas, 11 Caps–AD e 18 CTs, em
Pernambuco.
Durante toda a imersão no campo se fez uso do diário de campo.
Essas anotações foram realizadas com o intuito de registrar outros
elementos que apareciam no campo e que não estavam previstos no
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Resultados e discussão
Ao falarmos de acessibilidade dividimos tal categoria em duas formas:
aspectos objetivos (distância territorial, oferta de vagas, perfil de
atendimento, valores cobrados pelos serviços, descontinuidade na oferta
do tratamento pós-alta e regras e normas institucionais) e aspectos
subjetivos (modelos de tratamento, acolhimento, necessidades e demandas
das pessoas que usam drogas). Esses aspectos foram organizados dessa
maneira por questões didáticas, mas é importante destacar que em muitos
casos eles se permeiam ou se complementam. Finalmente, dizem respeito
a tudo que possa impedir ou limitar a garantia do acesso integral à saúde,
que no caso específico deste estudo, às pessoas que fazem uso prejudicial
de drogas.
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o final da década de 1970. Deste modo, como pontua Costa et al. (2015),
“no tocante ao tratamento dos usuários de drogas, permeiam discursos
religiosos, moralizantes e jurídicos fixados em um horizonte de cura ou
abstinência” (p. 4), que parece responder como apenso a este modelo.
Não foi à toa que a Federação Brasileira de Comunidades
Terapêuticas (Febract) e as Associações Religiosas de diversas
denominações, em especial as evangélicas, espíritas e católicas,
encontraram meios de tornar as CTs financiáveis pelo SUS, rompendo
uma resistência de anos ligada à Luta Antimanicomial. A já referida
Portaria nº 1.482, que “Inclui na tabela de tipos de estabelecimentos de
saúde do cadastro nacional de estabelecimentos de saúde – CNES, o tipo
83 – Polo de prevenção de Doenças e Agravos de Promoção da Saúde”,
demonstra o quanto é difícil rompermos com a lógica asilar, os estigmas e
preconceitos ligados ao cuidado das pessoas que usam drogas. Mais do
que isso, o que os dados mostram é que esses preconceitos e estigmas são
barreiras para a própria acessibilidade para as pessoas que usam drogas.
Nesta última reflexão pinçamos outras anotações dos diários de
campo que refletem o quanto a imposição religiosa é um aspecto
discrepante com o que é preconizado pelo SUS e pelos Direitos Humanos
– o direito à liberdade de expressão religiosa ou mesmo o de não ter
nenhuma afiliação ou considerar-se ateu:
A usuária afirma que já é a terceira vez que faz esse mesmo
tratamento, mas que sempre retorna para o começo porque no 12º
passo ela precisa se converter e virar crente. Ela diz que não gosta de
ser crente porque gosta de ir à praia e tomar cerveja com os amigos,
porque ela veio se tratar do crack e não da cerveja. (Diário de Campo,
nº 91 – Recife);
Eles disseram a MCDR (iniciais do entrevistado) que sem Jesus no
coração a recaída vai ser certeira e que eles só podem aceitar que ele
continue na obra se virar exemplo para os demais. (Diário de Campo,
nº 19 – Recife);
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Considerações finais
Apesar de, inicialmente, os objetivos da pesquisa que inspiraram este
estudo terem sido os fatores intrínsecos e extrínsecos que desencadeiam a
recaída, a partir da forma como o participante da pesquisa avalia o
fenômeno, o olhar a partir dos diários de campo aumentou a
compreensão das relações com a RedeUD, a partir da acessibilidade aos
serviços de saúde, em especial às comunidades terapêuticas (CTs).
O diário de campo mostrou-se uma ferramenta importante na
contextualização e aprofundamento da compreensão das práticas
estudadas. A partir deles foi possível ter acesso a elementos que não são
contemplados em instrumentos estruturados a priori, sejam eles de caráter
quantitativo ou qualitativo.
Assim, foi possível identificar que desde o acolhimento, que é visto
como barreira ao acesso, até a inadequação da área física e a
compatibilização entre a oferta e demanda por ações de saúde, há uma
série de aspectos que carecem de maior estudo e observação por parte dos
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CAPÍTULO 2.6
201
Maria Inês Galdolfo Conceição e Silvia Renata Magalhães Lordello Borba Santos
202
Uso de maconha e adolescência
203
Maria Inês Galdolfo Conceição e Silvia Renata Magalhães Lordello Borba Santos
Maconha e dependência
Apesar de algumas discussões controversas a respeito da dependência
de maconha, algumas evidências indicam que o uso da maconha a longo
prazo pode levar à dependência (Budney, Roffman, Stephens, & Walker,
2007; Volkow et al., 2014). Resultados de pesquisa mostram que
aproximadamente 9% dos que experimentam maconha, tornam-se
dependentes (Lopez-Quintero et al., 2011). Segundo a Pesquisa Nacional
de 2012 sobre uso de drogas e saúde realizada nos EUA, estima-se que 2,7
milhões de pessoas com 12 anos ou mais, reúnem os critérios para
dependência de maconha de acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), e que 5,1 milhão de pessoas
preenchiam os critérios para dependência de qualquer droga ilícita
(Lopez-Quintero et al., 2011). O número sobe para cerca de um em cada
seis daqueles que começaram a usar maconha na adolescência e 25 a 50%
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Uso de maconha e adolescência
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PARTE 3
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A Escola como uma comunidade Educativa e Protetiva
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Considerações Finais
A escola se torna protetora quando estende sua ação educativa à
comunidade e inscreve-se simbolicamente como um espaço de acolhida e
de pertencimento, bem como quando aproveita o potencial de cada
parceiro para oferecer cursos e atividades que visem à formação do
cidadão. Importa lembrar que as escolas criam civilizações, projetos de
vida, assim, na formulação e no desenvolvimento do Projeto
Político-Pedagógico a participação dos estudantes, dos familiares e da
comunidade é imprescindível.
O contexto escolar liga cognição, afeto e aprendizagem, e seu clima
pode se constituir um lugar de proteção e concorrer para a diminuição de
riscos quando os educadores recebem o suporte acadêmico e emocional
para desenvolver a sua tarefa pedagógica. Portanto, a política educacional
deve ter por direcionamento a medição detalhada e constante dessa
importante variável que, por si só, é o fator de proteção mais importante
para a prevenção de comportamentos de risco como, por exemplo, o uso
de drogas.
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CAPÍTULO 3.2
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Promoção da Saúde e prevenção do uso abusivo de drogas: caminhos e possibilidades
vista a quantidade de pessoas que são presas por esse tipo de infração
penal e a quantidade de vagas disponíveis pelo sistema prisional brasileiro.
Há que se ressaltar também o baixo número de vagas para regimes
abertos e semiabertos pelo sistema prisional brasileiro.
Mas será que o foco na punição é coerente com a aposta na
promoção da saúde?
Compreendemos a importância do avanço na legislação, entretanto,
conforme dissemos anteriormente, é fundamental que as políticas públicas
se ocupem de diferentes níveis de intervenção e que considerem que,
quanto mais investimentos forem feitos em estratégias de fortalecimento
comunitário e de promoção da saúde, menos terá que ser investido em
prisões, comunidades terapêuticas ou internações.
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271
Larissa Polejack et al
272
CAPÍTULO 3.3
Introdução
A proposta do Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de
Escolas Públicas – oferecido entre 2004 e 2014 pelo Programa de Estudos e
Atenção às Dependências Químicas da Universidade de Brasília
(Prodequi/UnB), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas do Ministério da Justiça (Senad/MJ) e a Secretaria de Educação
Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC), destacou a importância
de o educador conhecer fatores de risco e de proteção presentes na vida de
seus alunos. O que fazer quando se percebe que o aluno está vivendo uma
situação de risco? O que fazer quando um aluno procura o educador para
contar uma situação pessoal? Para ajudar o educador a lidar com
situações específicas como essas construímos um instrumento de avaliação
de redes, de aplicação individual, que possibilita ao educador visualizar
como os adolescentes estão estruturando suas relações, assim como as
funções que estas relações ocupam em sua vida. Além disso, permite o
aquecimento, a vinculação com o entrevistador e a expressão espontânea
dos adolescentes na construção das informações, tornando-se evidente a
sensibilização provocada pela sua utilização.
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Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
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Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
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Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
279
Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
281
Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
é família para você, por exemplo, pode não ser o mesmo para outra
pessoa. E já que estamos na escola, gostaria, então, de iniciar nossa
conversa por ela. Pode ser?
Escola/Trabalho
1. O que é a escola pra você? Para que serve?
2. O que fez você vir para esta escola?
3. Como tem sido sua vida escolar?
4. Você já mudou muito de escola? Por que? Quais as consequências
disso para você?
5. Você se sente parte desta escola? A escola faz parte da sua vida? De
que forma?
6. Como é sua relação com as pessoas desta escola? Você considera
que há alguém para apoiar você quando está na pior? Você tem
alguém para pedir conselhos quando está na dúvida de como agir?
7. A escola é um bom lugar para se fazer amigos? Que tipo de
amizade você encontrou nesta escola?
8. De que forma o adolescente é visto pela escola? O que poderia
mudar?
9. Você se sente protegido ou em risco na escola? O que pode ser
feito?
10. Quais são os pontos positivos da escola? E os negativos?
11. O que você espera dos professores, direção, funcionários e
colegas?
12. O que é o trabalho para você? Para que serve?
13. Você já trabalhou? Qual foi sua experiência?
14. O que pensa em exercer no futuro como trabalho?
15. Qual a relação entre seus estudos e o trabalho que deseja?
282
Acolhimento para adolescentes em situação de risco
Família
16. Com relação à família, você se sente parte de uma família? Sente
que tem uma família? Se sim, quem você considera da família? Por
que?
17. Eles consideram você parte da família?
18. Como é seu relacionamento com sua família?
19. Você gostaria que mudasse alguma coisa na sua relação com eles?
20. O que a sua família espera de você?
21. O que você espera da sua família?
Amigos
22. Agora, com relação aos amigos, o que significa um grupo de
amigos para você?
23. Você tem um grupo de amigos?
24. Como eles são? O que vocês costumam fazer juntos?
25. Como você se aproximou desse grupo? O que teve que fazer para
isso?
26. Como é a sua relação com eles? Do que você mais gosta neles? E
do que você não gosta?
27. Você gostaria que mudasse alguma coisa na sua relação com eles?
Comunidade
28. De que localidade você vem?
29. Onde você mora e onde reside sua família?
30. Você sente que faz parte de uma comunidade? Qual? Como?
31. Você mudaria alguma coisa na sua comunidade? O quê?
32. A escola faz parte da sua comunidade? De que forma?
33. Você frequenta alguma instituição na sua comunidade (como uma
igreja, por exemplo)?
283
Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
Projeto de vida
34. Como você se vê no futuro em relação à sua família, às amizades,
à escola, ao trabalho, na sociedade?
284
Acolhimento para adolescentes em situação de risco
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Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
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Acolhimento para adolescentes em situação de risco
oferece conselhos. Quando você tem que decidir alguma coisa, você
pede conselho para alguém? Quem?
Acesso às drogas: pessoa ou lugar que lhe possibilita o
envolvimento com drogas. Você conhece alguém envolvido com
drogas? Que já usou ou usa? Que vende drogas? Você já usou drogas
com estas pessoas? Já os ajudou a vendê-las? Em relação à bebida
alcoólica, você sai com pessoas que bebem? Você se encontra com
elas para beber também? Em que ocasiões? Que pessoas são essas?
Competição/gangue: pessoa com quem você estabelece uma
relação de competição, de disputa. Existem situações de competição
em sua vida? Pessoas que competem com você por algum motivo?
Você compete com alguém? Em relação a quê? Quem são as pessoas
que travam disputas com você? Como essas situações acontecem?
Apoio/ajuda: pessoa ou lugar com que você conta quando precisa
de apoio e ajuda. Você tem alguém para procurar quando está na
pior? Alguém para desabafar? Falar sobre seus sentimentos, suas
aflições? Alguém para pedir ajuda quando precisa? Quem? É a
mesma pessoa com quem você compartilha alegrias e conquistas?
Após a entrevista
Como vimos, essa entrevista permite ao educador compreender como
o adolescente está construindo suas relações nos diferentes espaços de
socialização pelos quais circula, assim como quem exerce e como estão
sendo exercidas as funções (papéis) sociais de proteção e risco (afetivas,
educativas, impositivas) na vida do adolescente.
Por isso, é muito importante que o educador marque com o
adolescente um horário para dar a devolutiva da entrevista. A devolutiva
não deve passar de uma semana da entrevista. O educador e o adolescente
devem conversar sobre os pontos levantados, a fim de confirmar ou afastar
as suspeitas. O objetivo principal da devolutiva é pensar com o
adolescente algumas estratégias para diminuir os fatores de risco e
289
Sandra Eni Fernandes Nunes Pereira et al
Referência
Pereira, S.E.F.N. Redes sociais de adolescentes em contexto de vulnerabilidade social e
sua relação com os riscos de envolvimento com o tráfico de drogas. Tese de
Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura. Instituto de Psicologia.
Brasília: Universidade de Brasília, 2009, orientada pela Professora
Dra. Maria Fátima Olivier Sudbrack.
290
PARTE 4:
O PARADIGMA DA DIVERSIDADE
CAPÍTULO 4.1
Lidiane Toledo
Carolina Coutinho
Francisco Inácio Bastos
293
Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
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Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
seu uso em casa ou em locais fechados (Karon & Wejnert, 2012; Magnani
et al., 2005; Shaghaghi et al., 2011).
Captura e Recaptura
A formulação matemática do método captura-recaptura se deu
inicialmente na França em 1783, desenvolvido originalmente por Pierre
Laplace (1749-1827) para estimar a população daquele pais (Laplace
citado por Dun & Andreoli, 1994), e desde então vem sendo utilizado no
campo da ecologia para estimar o tamanho da população de animais em
uma determinada área, mantida sua denominação original, mesmo depois
de ter “migrado” do estudo com os animais para os estudos com seres
humanos, em relação aos quais o processo de “captura” corresponde a
uma denominação simbólica, e não a uma captura efetiva.
Na área da ecologia, a metodologia acontece com a coleta de duas
amostras independentes, em dois momentos distintos. Na primeira coleta,
realiza-se a captura dos animais (amostra A), que são contados, marcados
(por exemplo, com uma anilha ou um chip) e, em seguida, libertados. Após
um certo tempo, suficientemente longo para que os animais marcados se
misturem aos animais não marcados, a segunda amostra é coletada
(amostra B). A interseção da amostra A com B define a extensão da
população de origem, no momento da recaptura, ou seja, neste segundo
momento, os animais capturados pela primeira vez e os animais
recapturados seriam identificados e contados, verificando-se se houve ou
não sobreposição (Royle et al., 2013).
Levando em consideração o pressuposto da independência entre as
amostras, poderíamos concluir que a proporção de animais recapturados
em relação ao total de capturados pela segunda amostra é igual à
proporção de animais capturados pela primeira amostra em relação ao
total da população. A partir daí, o tamanho da população seria estimado
pelo estimador de Lincoln-Petersen (LP). O estimador de LP tem sido
amplamente utilizado, inclusive em estimativas de populações humanas
ocultas. Essa estimativa pressupõe que os indivíduos apresentem
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
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Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
Network Scale-up
O Network Scale-up foi utilizado pela primeira vez para estimar o
número de vítimas de um terremoto na Cidade do México, México, em
1985, pelo antropólogo Russel Bernard, em parceria com o matemático
inglês Peter Killworth, e desde então vem sendo utilizado para atender aos
mais diferentes objetivos (Bernard, Johnsen, Killworth, & Robinson, 1991).
Este método utiliza informações coletadas em pesquisas domiciliares
com a população geral para estimar o tamanho de populações de difícil
acesso/ocultas. No entanto, ao invés de perguntar ao entrevistado sobre os
seus comportamentos e hábitos, pergunta-se sobre os comportamentos e
hábitos de conhecidos da sua rede social (Bernard et al., 2010; Bertoni &
Bastos, 2014).
Durante a entrevista são feitas perguntas sobre quantas pessoas o
entrevistado conhece, pertencentes a populações enumeráveis, ou seja,
populações que possuem tamanho previamente conhecido (por exemplo,
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Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
Considerações finais
O presente capítulo apresentou brevemente ao leitor alternativas
metodológicas para realização de pesquisa epidemiológica com
populações de difícil acesso/ocultas, especialmente a população de
usuários de drogas pesadas, cuja marginalização leva à discriminação e
estigmatização, dificultando a sua participação em pesquisas. Muito ainda
pode (e deve) ser aprofundando, sobre as potencialidades e limitações de
cada método apresentado, e para tanto, o capitulo dispõe de ampla
bibliografia, que pode servir como ponto de partida para estudos
aprofundados no tema.
O texto também versa sobre aspectos éticos e desafios operacionais de
pesquisa epidemiológica de campo, trazendo como contraponto alguns
pontos da experiência da Pesquisa Nacional sobre o Uso do Crack.
Como em qualquer pesquisa, além da pergunta à qual se quer
responder, para a escolha do método adequado deve-se levar em
consideração o processo logístico e operacional necessário para
implementação do método, além do tempo disponível para execução do
projeto e do orçamento disponível para tal. Cabe ao pesquisador ponderar
os recursos disponíveis para fundamentar a escolha do método de pesquisa
mais apropriado frente às solicitações do poder público e da sociedade.
319
Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
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Desafios da pesquisa epidemiológica com populações de difícil acesso/ocultas
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Lidiane Toledo, Carolina Coutinho e Francisco Inácio Bastos
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CAPÍTULO 4.2
O “dispositivo do crack”:
estratégia, saber e poder
329
Iara Flor Richwin
330
O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
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Iara Flor Richwin
__________
1. Valença (2013) também identificou construção narrativa semelhante, enunciada por um pastor,
líder de uma comunidade terapêutica.
332
O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
__________
2. https://www.youtube.com/watch?v=810NYv9KPdk Direção e edição do vídeo de Melles & DYG
(2016)
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O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
As Comunidades Terapêuticas
A questão das comunidades terapêuticas (CT) destinadas à
“recuperação” de usuários de drogas no Brasil é bastante complexa e
nuançada e toca delicadas e relevantes questões políticas que, no entanto,
extrapolam os objetivos deste texto. É impossível generalizar a
multiplicidade e heterogeneidade das comunidades terapêuticas existentes
atualmente, mas apresento algumas linhas e características gerais que
grande parte delas parece compartilhar. Fundamentadas principalmente
em pressupostos morais e religiosos, a maioria das comunidades
terapêuticas brasileiras são chácaras ou fazendas, situadas em áreas rurais
(Ipea, 2016) relativamente afastadas das cidades e lideradas por grupos
religiosos (Miranda, 2015).
De modo geral, elas funcionam em regime de vida comunitária e têm
como paradigma de cuidado o isolamento e retirada dos usuários de seu
espaço de consumo e de relações sociais (em geral, por um período que
pode variar de 6 a 12 meses), a recuperação de uma disciplina
supostamente perdida pelo consumo de drogas (Rui, 2014), a
espiritualidade e o trabalho. O tratamento foca na acentuação dos
sofrimentos e aspectos dolorosos da experiência com as drogas, no
reconhecimento da perda do controle sobre o uso e no desenvolvimento de uma
identidade de “adicto em recuperação” (Rui, 2014).
339
Iara Flor Richwin
340
O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
341
Iara Flor Richwin
perigo, senão mostrando que existem casos extremos em que uma loucura (...)
pode bruscamente explodir em um crime monstruoso?" (Foucault, 2016, p. 378).
Ao refletirmos sobre a construção e propagação massiva do discurso
da “epidemia do crack” na cena social brasileira, torna-se nitidamente
identificável essa dimensão estratégica do dispositivo de fazer face a uma
urgência, a um perigo. Como explicitado, tanto os meios de
comunicação, quanto as campanhas de conscientização, exploram de
forma extrema a ideia de uma epidemia incontrolável do uso de uma
substância assustadora, que não apenas destrói aquele que a consome,
mas constitui um grande risco e perigo para a sociedade como um todo.
O crack pode ser considerado como a droga mais ressaltada como
ameaça pública, como perigo à ordem social, configurando, assim, a
urgência e o pânico social e moral, o perigo a combater, o inimigo a
enfrentar, que fundamentam e condicionam a constituição das
estratégias e mecanismos que formam o “dispositivo do crack”. Essa
construção impregnou-se de forma significativa nas políticas oficiais
relacionadas ao crack, cujos títulos carregam explicitamente o
posicionamento de combate e guerra (Amarante, 2015): “Crack: é possível
vencer”; “Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack”.
Ademais de ser uma rede de elementos heterogêneos, com uma função
estratégica e concreta, é possível depreender três dimensões principais
distinguidas por Foucault em relação aos dispositivos: o saber, o poder e a
subjetivação (Deleuze, 1990). Essas três grandes instâncias não possuem
contornos definitivos, rígidos e estanques, mas constituem cadeias de variáveis
relacionadas entre si (Deleuze, 1990), que se imbricam e se interpenetram. Neste
texto, analiso de forma conjunta as dimensões do saber e do poder5 em relação
ao dispositivo do crack, pois são dimensões que se mostram bastante intrincadas.
__________
5. Ressalto que a dimensão de subjetivação do dispositivo do crack – que não foi examinada neste
texto, mas foi abordada na tese de doutorado que lhe deu origem –, também instaura um campo
fértil de reflexão e análise, assim como as dimensões do poder e do saber. Como pretendo
desenvolver em trabalhos futuros, a dimensão de subjetivação apresenta importantes ressonâncias
e grande potência para o trabalho clínico com usuários de crack, ao possibilitar uma articulação do
campo sociopolítico ao campo subjetivo e permitir compreender os efeitos e incidências do
dispositivo do crack sobre a subjetividade dos usuários.
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Iara Flor Richwin
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O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
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Iara Flor Richwin
Considerações Finais
Para concluir, considero relevante e profícuo estabelecer uma
aproximação desse cerrado entrecruzamento e cossustentação entre as
relações de saber e de poder revelado pela noção de “dispositivo do crack”
daquilo que Butler (2016) descreve como “enquadramento”. O
enquadramento é entendido por Butler (2016) como “molduras”,
categorias perceptuais e normas que atuam para diferenciar as vidas por
346
O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
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Iara Flor Richwin
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Iara Flor Richwin
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O “dispositivo do crack”: estratégia, saber e poder
351
Iara Flor Richwin
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CAPÍTULO 4.3
Introdução
A incapacidade de controlar a circulação de drogas ilegais e o
contrabando de armas consiste em um relevante problema global na
atualidade. Identifica-se a existência de um forte aparato criminal,
montado para garantir que essas substâncias circulem em diferentes
regiões com impressionante logística e eficiência. Segundo Zaluar (2007),
em países como o Brasil, a rede do narcotráfico e seu poder econômico é
uma das principais causas relacionadas à emergência da violência que
assola os territórios urbanos.
Nessa esteira, a mortalidade de adolescentes e jovens associada à
violência do tráfico de drogas constitui um grave problema de saúde
pública e representa importante demanda para as políticas protetivas. Nas
últimas décadas, pesquisadores e a sociedade em geral têm acompanhado
de forma atônita o crescimento exponencial nos índices de mortalidade
por causas externas, principalmente, entre homens na faixa dos 15 aos 29
anos. Entre 1980 e 2014, o registro de homicídios por arma de fogo entre
jovens cresceu 699,5% no país, pulando de 3.159 em 1980, para 25.255
em 2014. Porém, a escalada da violência começa antes, aos 13 anos de
idade, quando as taxas indicam uma espiral crescente, passando de 1,1 (12
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Carla Dalbosco et al
anos) para 4,0 (13 anos) mortes a cada 100 mil jovens. A partir daí, a
incidência da letalidade cresce de forma contínua até os 20 anos de idade
(67,4/100 mil) (Waiselfisz, 2016).
De acordo com o Mapa da Violência 2016 (Waiselfisz, 2016), neste
mesmo período temporal, 94,4% das vítimas de armas de fogo no país
eram do sexo masculino e morreram 2,6 vezes mais negros do que
brancos. Em 2014, os jovens de 15 a 29 anos representavam,
aproximadamente, 26% da população, mas essa faixa etária compôs 60%
das vítimas. Assim, quando comparados à população em geral, os dados
possibilitam afirmar que a principal vítima da violência homicida no
Brasil realmente é a juventude.
Zaluar (2007) refere que há um enigma no entendimento da violência
brutal que vitimiza homens jovens no Brasil, pois este fenômeno não tem
aumento correspondente entre mulheres em geral e homens de outra faixa
etária. Para a autora, entre os fatores associados, destaca-se a questão da
exclusão social, além do crime organizado em torno de drogas e armas.
Em segundo lugar, o país enfrenta uma inércia institucional ligada a
violações dos direitos civis, corrupção institucional e a ineficiência do
sistema de justiça, que cria “ilhas de impunidade”. Um terceiro aspecto a
ser levado em conta, são os processos microssociais que envolvem a
construção subjetiva de uma masculinidade pautada na demonstração de
força.
Devido à sua cronicidade, uma condição de violência pode ser
incorporada à cultura de tal forma que adquire contornos de
invisibilidade para os que vivem naquele contexto específico. Um alto
nível de violência constitui um aspecto habitual da vida de muitos grupos
sociais, permeando a relação entre seus membros e ditando
comportamentos e valores pelos quais se afirmam (Figueiredo, 1998;
Michaud, 2001). Isso ajuda a explicar por que na população juvenil,
sobretudo ao pensarmos em adolescentes que cumprem medida
socioeducativa, tantas vezes parece não haver uma fronteira rígida: os
mesmos jovens destacam-se tanto como vítimas, quanto como autores de
crimes violentos.
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vinculação afetiva que vivenciam, das quais o tráfico tira proveito (Pereira,
2009).
Em outras palavras, associar-se ao tráfico traz uma segurança
adicional. No imaginário desse grupo, as armas de fogo oferecem
proteção, e o cometimento de crimes para obter mais dinheiro e mais
armas gera um status dentro do grupo, impondo respeito e admiração. Há
um culto à virilidade e à exibição violenta de poder, o que certamente
atrai o envolvimento de muitos adolescentes, que veem sua atuação como
“soldado” da facção como uma atividade sedutora. Não se pode esquecer
que esses jovens também são vulneráveis devido a outros fatores que
dificultam sua inserção na sociedade, tais como: o contexto de pobreza e
urbanização deficitária, sistema educacional ineficiente, falta de formação
profissional e diminuição de oportunidades de emprego, o que revela o
fenômeno da violência como um fenômeno multidimensional (Zaluar,
2007, 2004).
É importante ressaltar, ainda, nesse processo de inserção do
adolescente no tráfico, o desvio da função de regulação e controle social,
isto é, de autoridade de outra instituição importante no processo de
construção identitária do adolescente em contexto de vulnerabilidade
social: a polícia. Aumenta, a cada dia, a insegurança dos adolescentes na
comunidade, diante da falta do exercício de proteção e de autoridade da
polícia. Os adolescentes se tornam invisíveis aos olhos dela e percebem
que as funções de proteção e controle social, não advindas das instituições
responsáveis, como a família, a escola, o Sistema de Garantia de Direitos
(já abordadas anteriormente), e a Segurança Pública ficam a cargo deles
mesmos, pois precisam garantir sua sobrevivência. A sociedade também
reforça a invisibilidade do adolescente quando exige a violência policial
como mecanismo legítimo de intermediação das relações sociais (Pereira,
2009).
A polícia deixa de exercer sua função de segurança e proteção para
com o adolescente, para desempenhar o controle, o poder e a ameaça.
Desenvolve um olhar estigmatizante sobre o adolescente, reproduzindo a
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Luto Solitário
Na esteira dessas falhas em diversos níveis do sistema de proteção, a
sensação de “falta de justiça” vivida pelas famílias que perdem filhos por
situação de violência é real e está atrelada ao grau de impunidade
existente no Brasil. É sabido que uma porcentagem alta dos homicídios
que ocorrem nas periferias não está sujeita à investigação policial e seus
autores nunca são identificados (Zaluar, 2007). A violência e as mortes da
periferia são invisíveis, silenciosas, passam despercebidas em nossa
sociedade e, em sua maioria, não chegam a ganhar um espaço que
dimensione seu grau de complexidade. Soares, Bill e Athayde (2005) são
duros ao falar que “cadáveres de rapazes empilhados são o lixo a varrer
para baixo do tapete da consciência nacional: alguns traficantes a menos;
vida que segue; eugenia avança.” (p. 93).
Por outro lado, é sabido que as mudanças que incidem na dinâmica
familiar afetam o desenvolvimento de crianças e adolescentes, mas há
carência de maior produção sobre as ressonâncias geradas nas famílias
desses jovens em decorrência da perda violenta. É na família que nascem e
se desenvolvem os afetos, mas é nela também podem aparecer conflitos,
sofrimento, injustiça e mesmo violência, deixando os sujeitos mais
vulneráveis. A ocorrência da violência se dá primordialmente no
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Conclusão
Para finalizar, resgatamos a visão de Bauman (2003), que considera a
impossibilidade de haver comunidade quando a solidariedade é dissolvida,
a confiança mútua destruída, só restando desintegração social. É preciso
encontrar formas de passar de paralisia, impotência e isolamento social
para a mobilização dos recursos comunitários e confiança na rede. Assim,
parte-se do pressuposto de que os vínculos sociais, os laços afetivos e as
relações de solidariedade ainda são as melhores armas contra a
disseminação da violência. Nesse sentido, as reflexões aqui apresentadas
nos levam a pressupor que essas famílias falham na proteção de seus
adolescentes porque o Sistema de Garantia de Direitos também é falho
em diferentes níveis, abrindo espaço para a apropriação dos jovens pelo
tráfico de drogas.
O enfrentamento das questões contextuais que levam ao
envolvimento com a criminalidade e a perpetração da violência não é
tarefa fácil e precisa ser repensada no âmbito de diferentes políticas
públicas. Mesmo quando os jovens e suas famílias estão mergulhados em
um contexto de violência, esse fenômeno nunca poderá ser naturalizado.
Banalizado talvez, mas sempre trará dores intensas. No universo dessas
famílias é difícil atribuir explicações lineares do tipo causa-efeito e separar
categoricamente o “bem e o mal”, quem é a vítima e quem é o algoz. As
fronteiras são tênues. Esses jovens, em sua maioria, não tiveram outras
escolhas longe do tráfico e da marginalidade, a despeito de possíveis
esforços das famílias.
Acreditamos que haja uma lacuna entre as perspectivas que abordam
a relação do jovem com a criminalidade a partir da responsabilização
social (vítimas do contexto) ou responsabilização individual (escolhas
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Carla Dalbosco et al
pessoais). É preciso também olhar para essas famílias como contexto onde
ressona a violência, reconstruindo sua trajetória, história e resgatando
sonhos e projetos comuns. Cada vez mais, é importante compreender o
significado da perda, incorporando outras dimensões além do olhar
individual sobre o sofrimento de cada família atingida.
As instituições precisam ser fortalecidas e resgatadas em sua função,
juntamente com a implementação de mais políticas públicas voltadas para
a juventude: proteção à infância, melhoria da qualidade de vida,
educação, prevenção, reconhecimento dos direitos enquanto cidadãos.
Além dessas, é preciso pensar também em políticas de acolhimento para as
famílias vítimas de crimes fatais, promovendo um espaço de expressão
para o sofrimento e para a luta pela justiça e cidadania. Muitas vezes, a
morte violenta de um dos filhos ou irmãos representa mais uma peça que
compõe um quadro de sofrimentos e vulnerabilidades mais amplo. Ou
seja, é preciso investir em uma concepção ampliada, que sustente a
pluralidade das narrativas construídas em torno da temática, buscando
recursos da comunidade que revertam o quadro, além de metodologias
específicas que possam auxiliar em um desfecho diferente, tanto no
território, quanto no âmbito dos equipamentos de saúde e assistência
social.
368
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372
CAPÍTULO 4.4
Introdução
Serão estudados neste capítulo trajetórias familiares e sociais de
jovens usuários de crack, que vivem em situação de rua e violência, a partir
da construção de suas histórias de vida. Investigar a história de vida desses
jovens justifica-se, devido ao esquema perverso instalado em nossa
sociedade, em que o jovem credenciado como sendo o “futuro” do país
perde a vida no presente. A trama é tecida da seguinte maneira: o jovem é
levado para o mundo das drogas, depois tem que ser morto, porque se
tornou um problema social.
Este estudo tem como bases teóricas a Teoria Sistêmica e a
Psicossociologia Francesa. O pensamento sistêmico tem como foco de
estudo as relações entre os membros da família e também destes com o
contexto social, considerando a família como um sistema aberto em
interação constante com o meio que a cerca. (Aun, 2005; Vasconcellos,
2002). Também considera o sistema familiar como muito importante para
a construção da identidade do sujeito (Minuchin, Wai-Yung, & Simon,
1996/2008).
A Psicossociologia Francesa, por sua vez, considera o indivíduo como
um sujeito social (Barus-Michel, Enriquez, & Lévy, 2006). Assim, é preciso
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
quadro revela. Conhecer a história de vida dessa população pode ser uma
forma de compreender melhor as complexas relações entre uso de drogas,
situação de rua e violência.
Os dados apresentados revelam um quadro preocupante que tem
levado o governo a tomar medidas como o lançamento em nível nacional
do Plano “Crack: É possível Vencer”, do Governo Federal (Decreto no.
7.426, 2010). Esse plano de enfrentamento reúne as políticas de
enfrentamento que associa saúde, assistência social, segurança pública,
bem como outras iniciativas de diversos grupos civis, como ONG’s,
formações acadêmicas e entidades religiosas, na busca de alternativas para
a problemática do uso de crack e outras drogas no Brasil. No entanto,
existe ainda uma carência de alternativas eficazes de recuperação e
ressocialização dessa população.
O uso de drogas normalmente está associado à violência,
principalmente em contextos de pobreza e exclusão social. Carreteiro
(2003) explica que existem vários tipos de violência: física e simbólica,
implícita e explícita, que fazem parte do cotidiano de todas as populações.
Contudo, mesmo fazendo parte do cotidiano da sociedade, de modo geral,
a violência explícita está ligada à vulnerabilidade social, sendo mais
notada em populações que moram em localidades consideradas perigosas e
de baixa renda.
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não é apontado uso do crack até o ano de 1989 e que as notificações sobre
as primeiras apreensões dessa droga, efetuadas pela Polícia Federal,
ocorreram somente a partir de 1990, Domanico (2006) relata que em
1988 já havia produção barata e rápida do crack em São Paulo, Para essa
autora, nessa época, em diferentes regiões do país já existiam outras
formas de preparar esse produto, sendo que esses preparados de cocaína
ou pasta-base, conhecidos como crack, passaram também a adquirir outros
nomes, como bazuko, merla, mela ou oxi.
Mesmo com o desencontro das datas sobre o surgimento e uso do
crack no Brasil, os estudos confluem na identificação do público que a
utilizou. Seu uso inicial foi feito por pessoas marginalizadas que fumavam
o crack para diminuir a fome, em função da privação de alimentação
(Oliveira & Nappo, 2008; Pereira & Sudbrack, 2008). Ribeiro e Laranjeira
(2010) relatam sobre uma das primeiras pesquisas feitas no Brasil, na
cidade de São Paulo, com um grupo de 25 usuários, composto de homens
desempregados, com menos de 30 anos de idade, ou seja, jovens, de baixa
escolaridade e sem poder aquisitivo. Portanto, desde o seu surgimento, o
crack já era consumido em ambientes de exclusão social, ou seja, por um
público que se encontrava às margens do sistema econômico e social, em
situação de rua. A trajetória do crack aponta para fatores de exclusão
sociais, capazes de produzir um esquema propício para o aumento do uso
de drogas e da violência (Oliveira & Nappo, 2008).
As motivações iniciais para o uso do crack estavam ligadas ao seu
baixo custo, sendo utilizada por uma população marginalizada, sem
recursos para aquisição de drogas mais caras. No entanto, de acordo com
Ribeiro e Laranjeira (2010), os motivos para uso do crack se alteraram ao
longo do tempo. Para estes autores em 1990, os usuários justificavam a
busca da sensação de prazer na droga. No final da mesma década, as
alegações para o consumo eram compulsão, dependência ou uma forma
de lidar com problemas familiares e carências diversas (sono, comida e
afeto).
A situação de exclusão é uma das consequências de cunho social,
sofridas pelo usuário, mas não é a única. Como já colocado
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
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Método
Esta é uma pesquisa qualitativa que, para a compreensão da trajetória
pessoal, social e familiar dos jovens, utilizou o método da história de vida
que se preocupa com o vínculo entre o pesquisador e os jovens
participantes da pesquisa, valorizando os traços históricos de cada jovem
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
Os participantes da pesquisa
Foram participantes desta pesquisa três jovens adultos do sexo
masculino, com idades entre 20 e 25 anos que estavam numa casa de
passagem. Na casa, este público que vivia em situação de rua encontrava
abrigo, alimentação e alguns profissionais que tentavam acompanhar a sua
estadia na mesma. O critério de inclusão foi que tivessem passado por
situação de rua e que fossem usuários ou já tivessem feito uso de crack.
Cada jovem teve a oportunidade de escolher um nome fictício de seu
gosto pessoal, assim ficando: Keny, Felipe e Leôncio.
Instrumentos utilizados
Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, sendo que as
entrevistas conduzidas, numa relação de respeito ao outro, baseada numa
escuta clinica proporcionando uma conversação geradora de
confiabilidade, ajudando a conhecer a trajetória de vida dos jovens
entrevistados.
Foram utilizados, ainda, desenhos com diferentes propósitos. No caso
de um dos jovens que teve dificuldade para relatar sua história de vida, o
desenho expressou o que foi dito verbalmente, confirmando, com o
desenho básico, o pouco desejo de relato. No caso de outro jovem que
manifestou talento artístico, o desenho ampliou o contexto familiar por ele
explicitado.
O diário de campo ajudou a captar a forma e os momentos da
pesquisa, que aconteciam nas relações entre os funcionários da instituição
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
jovem mostrou em falar sobre sua família de origem. Sua devolutiva foi
somente verbal, ao final da segunda entrevista, pois Laércio transferido
subitamente de instituição, antes da digitação dos relatos.
O terceiro entrevistado foi Felipe, com quem foram realizadas três
entrevistas, sendo que na segunda foi construído o genograma. Com ele,
foi feita devolutiva escrita; porém, devido à dificuldade de leitura pessoal,
foi lida sua história de vida e pedida sua apreciação. Houve
agradecimento por parte do jovem, pelo fiel relato e incentivo da equipe
de pesquisa para que ele deixasse o uso do crack e por investir em seu
projeto de vida.
Com todos os sujeitos foi solicitada, ao final de cada entrevista, a
elaboração de desenhos como uma forma alternativa para que
expressassem os sentimentos e avaliações do processo e suas conclusões
sobre a proposta apresentada pelos pesquisadores. Esse material ajudou na
composição e criatividade, e eles foram capazes de expressar situações
pessoais, traços da história de vida difíceis de serem verbalizados. O
atendimento sistêmico ajudou a estabelecer uma relação de ajuda,
entendida a partir das “relações igualitárias, fraternas e amistosas” (Prette
& Prette, 2004, p. 27), em que se evitam a indução e o direcionamento na
entrevista. Também, ao final de cada entrevista, eram realizadas pelo
pesquisador anotações no seu diário de campo sobre a sua percepção do
que tinha acontecido. É preciso salientar que, mesmo estando concluídas
as entrevistas, o contato com a instituição permaneceu aberto, implicando
em um compromisso nosso com cada jovem entrevistado.
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Resultados/discussão
Das famílias às ruas: fragilidades que geram buscas
Nesta primeira zona de sentido serão discutidas as relações familiares,
compreendidas como primeiro espaço de construção identitária e o
percurso feito pelos jovens desde suas vivências na família até a situação de
rua.
Sobre a influência das vivências familiares, foi possível constatar
situações de violência como parte integrante do cotidiano desses jovens,
desde sua infância. Laércio, quando criança, ficava sob a responsabilidade
de uma adolescente que o agredia: “Quando tinha quatro anos lembro
que minha prima me batia muito com chinela havaiana”. Keny apanhava
da tia com quem morava: “minha tia me batia muito”, “o marido da
minha mãe (padrasto), só sabia beber e bater na gente” (Felipe). A
violência vivenciada por esses jovens ao longo do ciclo de vida familiar
tornaram o ambiente familiar desfavorável, dificultando os movimentos de
crescimento e separação necessários para a constituição da autonomia e
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sistema familiar e sua ida para as ruas, pois já se sentia parte do contexto
da rua: “Minha história de vida, eu acho que é a mais diferente aqui,
porque minha mãe era moradora de rua”. O momento que marca a
ruptura de Laércio com a família e sua ida para as ruas se dá
precocemente: “Com oito anos sai de casa e comecei a ficar na rodoviária
onde fumava, cheirava cola”. Keny, por sua vez, é retirado bruscamente
do seio familiar, após a separação conjugal dos pais: “Meu pai me retirou
de minha mãe com três anos de idade”.
Dois elementos estão fortemente relacionados à saída precoce desses
jovens da família para as ruas: um é a violência muito presente no
ambiente familiar, e outro é o uso de drogas expresso nos desenhos
confeccionados, bem como nos relatos das entrevistas. Essa relação aponta
a fragilidade dos dois sistemas, o familiar e o social, pois o primeiro
deveria cuidar de seus membros e o segundo dar apoio ao primeiro para
exercer seu papel. A falha de um ocasiona uma consequente ausência de
respaldo para o jovem, deixando-o à mercê da sorte, e facilitando sua
trajetória para a margem (Selosse, 1996). No caso de Keny é nítido o uso
de drogas precocemente e com uma progressão rápida para diferentes
drogas: “Aos nove anos comecei a fumar cigarros; aos 11 iniciei com a
maconha e com 12 anos veio tudo. Ele (o pai) me dava dinheiro e comecei
a usar tudo: crack, pó, maconha e merla”. Situação semelhante é descrita
por Laércio: “Com oito anos comecei a sair de casa. Depois disso saí da
escola de vez, comecei a me drogar e a morar na rua”; “minha mãe me
buscava na rua para ajudar no bar” (Laércio). Nesses relatos observamos
que a vivência de situação de rua e o uso de drogas estão relacionados
com a sua realidade sociofamiliar, na qual, uma das atrações das ruas é a
droga, atrelada à falta de condições financeiras para sustentar o vício,
somada ao contato com bebidas e seus usuários, no bar da mãe. Tais
situações são apontadas também nos estudos de Oliveira e Nappo (2008) e
Neiva-Silva e Koller (2002).
O grupo de pares também atrai os jovens, facilitando seu
deslocamento para as ruas e, consequentemente, para o uso de drogas:
“Eu comecei a me enturmar com os meninos de rua e mudou tudo.
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
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As ruas são, neste contexto de busca por culpados, o lugar que resta
para este público excluído de oportunidades e cuidados sociais. Os
próprios jovens que vivem nesse contexto de vulnerabilidade introjetam
estes discursos, colocando as drogas como a origem de todos os problemas.
Esta passa a ser reconhecida como a principal origem da violência que
sofrem ou que comentem pelo seu envolvimento com roubos e furtos. Este
esquema perverso é exemplificado nos relatos a seguir: “Eu já vi amigo meu
morrer por causa do crack. A droga gera violência, e violência gera morte” (Felipe). “É
só beber cachaça que me envolvo em brigas, apanho e bato” (Laércio).
Além de culpabilizar as drogas pela ocorrência da violência,
socialmente, toda a responsabilidade pelo seu uso é atribuída aos jovens,
ignorando os processos sociais e econômicos que colocam parte da
população à margem da sociedade, provocando rupturas do sujeito com a
norma social em razão dos processos de marginalização (Carreteiro, 2003;
Gomes & Pereira, 2005; Minayo & Deslandes, 1998; Selosse, 1996). São
estratégias para o controle social com o objetivo de conter o que
incomoda, mantendo a “ordem social”.
Esse esquema, que faz parte do processo de exclusão, é capaz de
provocar uma desinserção desses jovens, dificultando a construção e
realização de um projeto de vida diferente dessa realidade cruel (Gaulejac,
2003/2006; Selosse, 1996).
Diante da complexidade que constitui a trajetória destes jovens, vistos
como objetos descartáveis pela lógica da exclusão/inclusão, ao estudar como
ocorre a relação entre vivência de rua e uso de drogas, é importante
conhecer sua história de vida, além da biografia. Esse conhecimento que
nos foi ofertado via relatos, desenhos e demais instrumentos utilizados na
pesquisa, pode ajudar na compreensão do percurso entre os sistemas
pessoal, familiar e social, na tentativa de ajudar esses jovens a
compreenderem e conectarem a sua trajetória e não desistirem de suas
buscas (Carreteiro, 2003; Sawaia, 2008).
Nesta segunda zona de sentido buscamos discutir como as ausências
(familiares e sociais), relatadas nas histórias de vida de Keny, Laércio e
388
Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
Considerações finais
Ao chegar ao final deste artigo, é possível perceber que não há uma
conclusão e tampouco resultados finais que atendam de forma fechada ao
objetivo proposto. Há sim, duas dimensões que fizeram parte da trajetória
destes jovens, envolvendo equívocos e pistas: a primeira diz respeito aos
equívocos na compreensão da problemática que envolve o tema sobre as
drogas, por parte dos governos, tornando ineficazes os programas
implantados; a outra revela uma beleza percebida no caminho percorrido
com indicação de pistas concretas desta pesquisa. Tentar compreender
como foi o itinerário dos jovens Keny, Felipe e Laércio, na busca por
suportes identitários, no sistema familiar e social, em contexto das ruas e
uso de crack, foi um aprendizado espetacular, para nós, enquanto
pesquisadores.
Constatamos que as histórias de vidas destes três jovens revelam
vivências particulares de sua condição pessoal e familiar. São três situações
que têm pontos comuns, como a situação de rua e o uso do crack, mas
trazem traços próprios que dizem respeito à história de cada sujeito,
mostrando que há um tipo de juventude específica que sofre as
consequências por estar nas ruas, como exclusão, marginalização, mas são
juventudes com histórias distintas e itinerários próprios que os conduziram
até essa condição (Mota, 2011; Souza, 2010).
O estudo da história de vida dos jovens Keny, Felipe e Laércio
permitiu observar como o funcionamento familiar e social pode levar às
ruas, porém não determinar o futuro desses jovens. Essa compreensão foi
389
Rubens Mota et al
390
Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
Referências
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391
Rubens Mota et al
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Trajetórias familiares e sociais, crack e situação de rua: busca por pertencimento
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Rubens Mota et al
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CAPÍTULO 4.5
Luisa Soares
Maria Aparecida Penso
Maria Eveline Cascardo Ramos
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
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Luisa Soares et al
Método
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que privilegiou a realidade
acima do método e busca conhecer ao máximo, e de forma a mais realista
possível, a vida das participantes, sem perder de vista que todo
conhecimento é sempre parcial e incompleto, e que a história contada é
apenas um pálido reflexo daquela vivida (Demo, 2001).
Participantes da pesquisa
Três mulheres adultas gestantes e usuárias de crack e outras drogas
indicadas pela equipe de saúde da unidade onde eram acompanhadas, e
que concordaram em participar voluntariamente da pesquisa. A idade
variou entre 30 e 39 anos, com nível socioeconômico baixo, oriundas de
outros estados, mas residentes do Distrito Federal desde a infância,
desempregadas no momento da pesquisa, com escolaridade entre ensino
fundamental e nível superior incompleto, tempo de gestação entre 27 a 38
semanas de gestação.
Aspectos Éticos
Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Católica de Brasília, número 338.541 e Comitê de Ética em pesquisa da
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal – SES/Fepecs, número
598.542-0
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
Instrumentos
Diário de campo para registro descritivo das atividades relativas à
pesquisa, sendo um suporte documental pessoal da pesquisadora. Roteiro
para entrevista em profundidade com foco nos seguintes temas da história
de vida das gestantes usuárias de crack e outras drogas: história de uso de
drogas pela gestante e outros membros da família, dos seus
relacionamentos amorosos e gestações; relacionamento familiar;
relacionamento mãe-filha; e genograma, diagrama esquemático da
família, no qual se inserem dados concretos dos membros e de sua história
(idade, grau de parentesco, sexo, geração), buscando visualizar aspectos
sobre o tipo de relacionamento, conflitos, alianças, triangulações e padrões
de repetição transgeracionais, auxiliando na compreensão da organização
e dinâmica familiar nos seus diferentes níveis (Carter & McGoldrick, 2001;
Penso et al., 2008). Nesta pesquisa, o genograma permitiu mapear a
estrutura relacional e a dinâmica familiar das participantes.
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Luisa Soares et al
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
Discussão
A categoria discutida neste artigo denomina-se maternidade à
“deriva” - se minha mãe não foi mãe, como posso ser filha?
Sem ser filha, como ser mãe? Nesta categoria é possível perceber o
movimento das participantes em recuperar as referências positivas que
possuíam em sua história sobre o que é ser mãe e o que significa o cuidado
e o afeto pelos filhos. Entretanto, essa busca é frustrada porque os
referenciais ficam minados pela inexistência dos vínculos afetivos que se
romperam entre elas e suas mães. Na construção dos genogramas das
mulheres e suas famílias observa-se uma sequência de rompimentos com a
linhagem materna pela impossibilidade de experimentar a proteção e o
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
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Luisa Soares et al
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Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
momento que liga a vivência atual com o passado vivido em seu lugar de
filha e como mulher. Com o nascimento do filho, são colocadas em jogo as
relações mãe-filha e mãe-bebê para a constituição deste novo papel
(Eliacheff & Heinich, 2004; Oliveira et al., 2008).
A gestação para mulheres usuárias de drogas pode ser vista como um
momento de mudança em que acabam sendo resgatadas do uso de drogas
em função da criança que está por vir. Na pesquisa, as participantes, por
meio da concepção, buscaram, de forma subjetiva, reeditar sua história
filial e social. Elas adquiriram visibilidade social perante a família, o
companheiro e a sociedade. Contudo, essa visibilidade é carregada de um
olhar de vigilância e controle para que elas não causem dano ao bebê,
sendo que qualquer deslize as faz retornarem para o lugar de exclusão e
“monstrificação” (Castilla & Lorenzo, 2012; Sawaia, 2010). Em termos de
saúde pública, como a política relacionada à saúde da mulher tem seu
foco pautado principalmente na saúde reprodutora da mulher, as
participantes são atendidas durante a gravidez, recebendo ajuda
profissional inclusive em relação à questão da dependência química.
Entretanto, após o nascimento do bebê, elas retornam para seu contexto
original, e não há um prosseguimento de acompanhamento nem para a
questão das drogas nem para a condição da maternidade. Deste modo,
não lhes são garantidos novos contextos de pertencimento que avalizem a
construção de novas relações e nem referenciais positivos que possibilitem
a mudança efetiva.
Considerações Finais
O conhecimento das trajetórias familiar e social das participantes e de
como isso influenciou na construção do seu papel materno apontou para a
presença de fragilidades e conflitos na relação com as mães. No entanto,
isso não inviabilizou a apropriação do papel materno, apesar de ter
exigido das mulheres a busca por referenciais maternos positivos em
outras relações pessoais com os quais pudessem se identificar, tais como
tias e amigas. A relação entre as mães e as participantes da pesquisa é
411
Luisa Soares et al
412
Crack e maternidade à “deriva”: sem ser filha, como ser mãe?
Referências
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416
CAPÍTULO 4.6
Introdução
O estado do Rio Grande do Sul já foi reconhecido no país como
campo importante de luta, de práticas e de emergência de atores sociais
que se destacaram a partir da década de 1990 no campo da construção de
ações, debates e práticas alinhadas a paradigmas que eram então (e para
certos segmentos, ainda são) considerados “alternativos” no vasto campo
de estudos e práticas sobre usos de substâncias psicoativas. A conquista
desse espaço ocorreu devido à presença de movimentos de luta por
espaços de discussão e ação que tinham por referência o
antiproibicionismo e a redução de danos, constituída então como principal
estratégia para a construção de caminhos possíveis que não apenas o
encarceramento e a abstinência para usuários problemáticos de drogas,
indo na esteira da luta pela garantia de seus direitos (Nardi & Rigonni,
2009).
Apesar dessa história, assiste-se na atualidade à diminuição - e mesmo
à extinção em alguns cenários regionais importantes - de programas de
redução de danos, aos quais foram gradativamente sendo destinados
menores incentivos, recursos e apoio governamental (Amaral, 2013; Nardi
e Rigonni, 2009). Esse movimento reduziu o espaço de atuação concreto
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Jardel Fischer Loeck e Luciane Raupp
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A polifonia da temática das drogas em um seminário regional: Núcleo Abramd-Sul
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Jardel Fischer Loeck e Luciane Raupp
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A polifonia da temática das drogas em um seminário regional: Núcleo Abramd-Sul
do final da década de 1970 (Loeck, 2014, Sabino & Cazenave, 2005). Estas
passarem a ser consideradas instituições complementares aos
equipamentos da rede pública. Explicitou-se, desde então, a existência de
uma rede de instituições e modelos terapêuticos que é maior do que os
componentes do Sistema Único de Saúde e Sistema Único de Assistência
Social e, apesar de terem de respeitar em alguns casos determinadas
diretrizes básicas para o seu funcionamento, as políticas públicas não
interferem especificamente nos conceitos e práticas que circulam nessas
instituições complementares como as comunidades terapêuticas ou os
grupos de Narcóticos Anônimos. Tampouco interfere nas idiossincrasias
morais e políticas de profissionais da rede pública de atenção atuando em
equipamentos como Caps, hospitais públicos etc.
Assim, além das instituições públicas pertencentes ao Sistema Único
de Saúde – pautadas pelos conceitos biomédicos – as políticas públicas de
atenção preveem a participação de instituições filantrópicas, religiosas e de
ajuda mútua. Fato que por si só torna a ideia de rede de atenção bastante
heterogênea. As políticas públicas de atenção aos usuários de substâncias
psicoativas no Brasil, ao atrelarem a criação, a manutenção e a atualização
da rede de atenção ao discurso, à pesquisa (avaliação) e à prática científica,
permitem a reprodução de tensões inerentes ao próprio campo técnico e
científico sobre o tema. Por mais que seja possível observar nesses
documentos um discurso que privilegia a redução de danos como
principal estratégia de saúde, as práticas que buscam a abstinência – e,
portanto, assimilam os usos de psicoativos sempre como potencialmente
problemáticos – são mais valorizadas, visíveis e preponderantes na
atualidade, o que parece acontecer é que existem duas vertentes de
abordagem da questão, a da abstinência e da redução de danos, se tocam
menos do que poderiam na prática. Parecem ocupar espaços e tocar
indivíduos de maneira colateral, não coincidente. Ou se está de um lado,
ou de outro. O que pode tornar a rede de atenção menos sistêmica na
prática do que no texto das políticas públicas. Se na teoria existe uma
espécie de circuito lógico, no qual os indivíduos que ingressam na rede de
atenção devem trilhar preferencialmente, ao atentarmos para seus
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Jardel Fischer Loeck e Luciane Raupp
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A polifonia da temática das drogas em um seminário regional: Núcleo Abramd-Sul
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Considerações finais
Um dos pontos mais marcantes e consensuais do I Seminário
Abramd Sul relacionou-se à necessidade de fomento a espaços como o do
I Seminário Abramd Sul/RS, visando transfor má-los em
‘trincheira’política, ou seja, dispositivo para marcar uma firme posição
para a sociedade e opinião pública, no sentido de não abrir mão de
políticas públicas voltadas para usuários de álcool e outras drogas que
sejam inclusivas, que respeitem os direitos humanos, que não privilegiem a
internação como primeiro recurso de cuidado (que esta seja a exceção,
não a regra) e que dialoguem com a redução de danos.
Desta forma, almejamos que tanto no âmbito regional quanto
nacionalmente aconteça uma maior mobilização de profissionais,
pesquisadores, usuários de álcool e outras drogas e comunidade no debate
sobre as políticas públicas neste campo, para que as necessidades dos
usuários sejam respeitadas e o consumo de tais substâncias em nossa
sociedade contemporânea seja problematizado por todos, coletivamente,
através do diálogo travado entre diferentes opiniões, com o objetivo de
construir propostas que sejam plurais, éticas e dignas.
428
A polifonia da temática das drogas em um seminário regional: Núcleo Abramd-Sul
Referências
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Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
429
Jardel Fischer Loeck e Luciane Raupp
430
CAPÍTULO 4.7
Yone Moura
431
Yone Moura
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Uso de drogas entre adolescentes em situação de rua no município de SP
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Uso de drogas entre adolescentes em situação de rua no município de SP
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Yone Moura
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Paulo: Companhia das Letras.
442
Uso de drogas entre adolescentes em situação de rua no município de SP
443
444
CAPÍTULO 4.8
Danielle Valim
445
Danielle Valim
sapatos. Sujo, descalço e muito magro, Lucas tem as pontas dos dedos
das mãos queimadas pela lata quente usada como cachimbo de
crack. O menino diz ter casa e família, mas prefere viver nas ruas.
Trêmulo e ansioso, evita muita conversa. Júnior tem aparência
melhor, mas também é de pouco falar [...]. Os efeitos do crack são
devastadores.
__________
2. Jornal O Globo. 19/12/2004.
3. Jornal O Dia. 16/10/2012. Capa. Pg. 1
4. Jornal O Globo. 07/02/2010. Caderno O País. Pg. 3
5. Jornal O Globo. 20/04/2011. Caderno O País. Pg. 3
6. Jornal O Globo. 04/12/2008. Caderno O País. Pg. 3
7. Jornal O Globo. 10/04/2009/ Caderno Rio. Pg. 15.
446
Ninguém falou sobre mim?
__________
8. Decreto nº 7.179 de 20 de maio de 2010, Presidência da República, institui o Plano Integrado.
447
Danielle Valim
448
Ninguém falou sobre mim?
__________
10. MacRae & Simões, 2000.
449
Danielle Valim
450
Ninguém falou sobre mim?
Entrevista 1
Pesquisadora: Você acha que a dependência de crack atrapalha sua
relação com sua família?
Participante: Muita coisa atrapalha a minha vida.
Entrevista 4
Pesquisadora: Você acha que o fato de você usar crack gerou
problemas na sua relação com sua família?
Participante: Eu uso drogas porque fui abandonada. Eu me
automedico com drogas porque minha família tem uma relação
abusiva comigo... A razão por eu ter uma má relação com minha
família não é porque eu uso drogas. Eu uso drogas por causa da
minha relação com minha família. Me ajuda a não ficar tão
carregada com meus sentimentos que me consomem. Eu acho que
fora das drogas, poderia me matar. Se eu não usasse drogas, eu não
estaria viva agora… Se eu não tivesse nada pra aliviar minha dor, eu
estaria consumida agora…
Entrevista 5
Participante: Eu fui criada pelo sistema. Minha mãe era doente
mental e eu fui criada em orfanato.
Pesquisadora: Porque você usa drogas?
Participante: Fui pras ruas muito cedo. Aprendi a linguagem da
rua. Eu fui estuprada. Quero esquecer que fui estuprada…
A sociedade é hipócrita. Eu gosto das “dark zones”. Eu me sinto segura
porque estas pessoas podem te entender de uma forma que outros,
não. Eles fazem o que supostamente querem fazer. Fora da “dark zone”
quando alguém te olha de banho tomado e vestida, eles te estupram.
451
Danielle Valim
Entrevista 6
Participante - Minha mãe é uma mulher perigosa.
Pesquisadora - Você tem filhos? Como é o seu relacionamento?
Participante - Sim, uma filha de 17 anos. Ela mora em Porto Rico.
Só a vi quando era bebê, depois a mãe não deixou mais eu vê-la. Ela
diz pra minha filha “seu pai usa drogas”.
Pesquisadora - Porque você não tem família?
Participante - A minha mãe usava crack e heroína e me vendeu por
$500,00 quando eu era criança.
Eu uso todas essas drogas porque eu não quero sentir a dor porque
minha mãe e meu pai me abandonaram. Por causa da minha relação
com minha filha. Eu preciso de ajuda. Tenho muita dor dentro de
mim, mas eles não me ouvem.
Entrevista 8
Participante - Meu pai veio a falecer também, eu com dez anos.
Pesquisadora: Ele faleceu quando você tinha dez anos?
Participante - Dez anos é minha mãe, eu estava com quatro.
Pesquisadora - Sua mãe, você estava com quatro anos?
Participante - E ela com vinte e três. Eu acho, assim, de lembrar-se
dela. Porque eu lembro muito devido a não aceitar a vida que nós
tínhamos, e não aceitar a que nós viemos a ter depois de ela vir a
falecer, foi muito difícil. Eu acho que começou daí tudo isso.
Pesquisadora - E ela, morreu de quê?
Participante - Ela foi assassinada.
Entrevista 9
Eu não uso drogas porque a droga é o problema, eu uso drogas
porque eu tenho problemas.
452
Ninguém falou sobre mim?
Entrevista 10
Pesquisadora - Porque você usa crack?
Participante – Porque eu fui molestado quando era criança [choro].
Eu fui molestado pelo meu treinador de baseball. Ele me pegava em
minha casa para ir aos treinos e me molestou por tantas vezes.
(Vallim, 2015, p. 263)
453
Danielle Valim
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454
CAPÍTULO 4.9
455
Selma Lima da Silva e Rubens C. F. Adorno
456
Cracolândia, Blocolândia, o outro, a imagem, as emoções e o contexto
Diz que tem fotos no seu Facebook, então me pergunta: “Você tem
celular? Coloca o meu nome no Facebook para você ver as fotos.” Apesar
de pensar que poderia ficar sem meu celular, que eu ainda estava
pagando, e saber que na condição de vida dele, eu é que estava facilitando
a situação para ser roubada, não consegui responder que não tinha. Muito
embora me passasse pela cabeça que o celular, que para mim custou caro,
para ele, muito provavelmente, a depender de sua necessidade e
capacidade de negociação poderia valer de R$ 300,00 até R$ 50,00, mas
qualquer quantia poderia ser muito dinheiro para ele também. Com todos
esses pensamentos e me sentindo muito mal por estar me sentindo
vulnerável por causa de um objeto, retirei hesitante o celular da bolsa e
tentei encontrá-lo no Facebook. Como não consegui encontrar ele me diz
para passar o celular para ele. Eu digo que vou tentar novamente, mas não
consigo. Nesse momento ele está sentado a meu lado no banco. Passo o
celular para ele e penso: “Ok, perdi meu celular.” Ele pega o celular nas
mãos, olha para mim e faz um movimento com o corpo, para começar a
correr. Eu não esboço nenhuma reação, já que já havia dado o celular por
perdido. Ele sorri e começa a digitar o seu nome na busca do Facebook.
Começa me mostrar a sua página, entrar em seus álbuns, me mostra
a casa em que vivia com o pai e seu trabalho de marcenaria nas paredes e
no teto. Me mostra as suas fotos com a antiga namorada, de quem ainda
gosta. Mostra as fotos de seu pai e irmão, as suas próprias fotos, vestido no
estilo gangsta-rap, uma foto onde se lê, escrito em letras grandes com balas
de revólver, a palavra amor. Ele queria mostrar a sua vida, falar de seus
gostos, mostrar e/ou lembrar de quem era, me mostrar que era alguém,
além de usar crack. Fiquei com uma sensação muito ruim por ter de me
preocupar com objetos. A conversa durou em torno de duas horas, por fim
eu disse que precisava ir embora e pedi meu celular de volta. Ele me
devolve o celular, levantamos e então ele me abraça demoradamente e
fala: “Obrigado, você me permitiu ver pessoas que eu não vejo há muito
tempo.”
O relato acima, ocorrido na cena de uso que se tornou icônica no
Brasil, desmonta o desfecho esperado, inclusive para a pesquisadora, como
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Selma Lima da Silva e Rubens C. F. Adorno
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Cracolândia, Blocolândia, o outro, a imagem, as emoções e o contexto
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isso. Considero mais relevante saber como ele está lá? ” (Rui, 2012, p.
199). Paradoxalmente a gestão pública apresenta diferentes formas de
lidar com este espaço e seus habitantes. Por um lado, temos um espaço
sujeito à precarização, abandono e falta de estrutura básica associada a
posturas altamente repressivas por parte da segurança pública. Por outro,
ações de atenção e cuidado oferecidas pela assistência social e saúde do
Estado além de Instituições do terceiro setor e outras de caráter religioso
que também atuam no local. Adorno e Raupp (2011) apontam um
cenário de “campo de forças”, onde diversos personagens e interesses se
interlaçam em jogos de poder políticos, institucionais, corporativos e
pessoais.
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O crack: das folhas ao ‘bloco’
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478
PARTE 5:
TRANSIÇÃO DE PARADIGMAS NA
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
C A P Í T U L O 5 .1
Resumo
O texto apresenta a proposta pedagógica construída pela equipe do
Prodequi, que fundamenta as ações de formação de educadores de escolas
públicas realizadas no Curso de Prevenção do Uso de Drogas para
Educadores de Escolas Públicas e que se denomina A ESCOLA EM REDE.
Foi resultado de uma construção coletiva entre a academia e a própria
comunidade de educadores cursistas, com a participação dos consultores
representantes dos órgão de governo que acompanharam e legitimaram a
proposta, vigente no período de uma década (2004-2014), e que marcou a
política de prevenção no âmbito da educação nacional brasileira pela sua
abrangência e territorialidade, assim como a política nacional sobre drogas,
por ser o projeto de prevenção de maior investimento da Senad/MJ para a
prevenção do uso de drogas no contexto da escola. A equipe do Prodequi-
Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas/PCL/IP/UnB,
coordenada pela autora, foi responsável técnica pela elaboração da proposta
pedagógica do curso e de sua execução, desde a sua concepção (2004) até sua
consolidação na política de formação continuada de educadores como matriz
do Programa Saúde na Escola (PSE). Trata-se de uma parceria interministerial
exitosa, entre Saúde e Educação, sob mediação da Universidade de Brasília.
Esta parceria representou uma das ações prioritárias na política de prevenção
do uso de drogas no país, consolidando-se em seis edições do curso, numa
história de dez anos.
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Introdução
A precocidade da experimentação de drogas aumenta
consideravelmente os riscos do uso abusivo, com os consequentes danos à
saúde de crianças e adolescentes, problemas de relacionamento e de
violência, queda no rendimento escolar e evasão escolar, entre outros.
Em consonância com a política nacional e também com as diretrizes
internacionais, entendemos que a escola é contexto privilegiado e
responsável para ações de prevenção e promoção da saúde, entre outros,
tais como a família e a comunidade.
O presente texto se refere ao Curso de Prevenção do Uso de Drogas para
Educadores de Escolas Públicas, desenvolvido e executado sob a nossa
responsabilidade técnica, coordenando uma equipe de profissionais junto
ao Prodequi/PCL/IP/UnB, apresentando a proposta A ESCOLA EM
REDE enquanto uma metodologia original, construída entre segmentos
do governo e a academia (UnB), com a participação genuína dos
educadores cursistas, na medida em que interagiram criticamente com a
proposta, em diferentes momentos da formação.
Com o objetivo de capacitar profissionais de escolas públicas para
trabalharem coletivamente na prevenção do uso abusivo de drogas, por
meio do fortalecimento da escola na promoção da saúde e da educação
integral, foi iniciada, em 2004, uma parceria entre os órgãos responsáveis
pela prevenção do uso de drogas do Governo Federal (Secretaria Nacional
de Políticas sobre Drogas-Senad/MJ e Secretaria de Educação Básica –
SEB/MEC) e a Universidade de Brasília (Programa de Estudos e Atenção
às Dependências Químicas/Prodequi/PCL/IP/UnB e Centro de
Educação a Distância/Cead/UnB), para oferta de uma capacitação de
extensão universitária na modalidade de educação a distância. A equipe
do Prodequi foi indicada pela Senad/MJ para a elaboração da proposta
pedagógica do curso, bem como pela sua execução.
A parceria interministerial com a Universidade de Brasília manteve
continuidade nas seis edições do curso, no período de dez anos,
consolidando-se como uma das ações prioritárias na política de prevenção
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Considerações finais
A experiência de uma década de formação continuada para
educadores de escolas públicas, através da oferta de seis edições do Curso
para a Prevenção do Uso de Drogas, representou importante experiência para
uma política intersetorial, a partir da proposta metodológica "A Escola em
Rede", que propõe o desenvolvimento de ações preventivas em parceria e
articulação das diferentes políticas públicas, envolvendo os diferentes
atores da comunidade escolar articulados, por sua vez, com a comunidade
externa.
As estratégias de prevenção ao uso de drogas na escola devem ser
diversificadas, numa perspectiva de fortalecimento da autonomia e da
criticidade do educando, em consonância com os princípios da educação
nacional.
A formação dos educadores se amplia, pois, para muito além da
prevenção do uso de drogas, constituindo instrumentalização significativa
para as transformações necessárias no sentido de que a escola assuma sua
função educacional mais ampla, em especial como contexto de promoção
de saúde.
Esta experiência, em detalhe, está registrada em publicação recente
de um livro impresso: A Escola em Rede para a Prevenção do Uso de
Drogas no Território Educativo – experiência e pesquisa do
Prodequi/PCL/IP/UnB nos dez anos de formação dee ducadores de
escolas públicas para a prevenção do uso de drogas, 2004-2014
(Sudbrack, M.F.O. et al, Campinas, SP, Armazém do IP, 2015.
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CAPÍTULO 5.2
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Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni et al
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CAPÍTULO 5.3
Introdução
A consolidação dos mestrados profissionais no Brasil ocorre no
momento em que diferentes países avaliam os rumos que a educação deve
seguir neste novo milênio. Porém, essa modalidade de curso stricto sensu
ainda gera certa desconfiança em alguns segmentos acadêmicos, o que
torna necessário contextualizar a sua importância. O mestrado
profissional (MP) surgiu com o escopo específico de responder a exigências
da realidade contemporânea pois, cada vez mais, o cenário de formação
acadêmica tem demandado abordagens focadas na atuação prática. Esses
processos levam em conta necessidades locais e estabelecem mudanças no
modo de produzir ciência, implicando em transformações individuais,
institucionais e na própria prática profissional.
Observa-se nas últimas décadas um esforço das agências de fomento e
de avaliação para a redefinição da missão dos programas de
pós-graduação, visando principalmente à expansão do conhecimento, o
caráter técnico da formação de mão de obra e o surgimento de tecnologias
inovadoras em áreas estratégicas. Há um estímulo para que as instituições
de ensino superior invistam no atendimento de demandas dos setores
produtivos e de serviços, com projetos de formação de caráter mais
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Conclusão
O Sistema de Avaliação da Pós-graduação segue buscando garantir o
padrão de qualidade dos cursos ofertados no Brasil, mas a política pública
“mestrado profissional” ainda está em construção e deve ser aprimorada.
Entende-se que a valorização desse formato de curso aumentará na medida
em que for percebido que seus egressos têm conhecimento a oferecer para
a sociedade.
Na área de drogas, o fato de existirem inúmeras demandas nacionais
e regionais para formação de recursos humanos reforça a importância da
continuidade de investimentos em programas voltados ao campo. Porém,
coloca-se como um desafio permanente a sua sustentabilidade financeira,
especialmente em um cenário econômico adverso como é o atual. A
experiência do HCPA é exitosa, com resultados que incidem diretamente
sobre as políticas públicas, mas não é suficiente para garantir sozinha a
consolidação da rede de cuidado.
Destacam-se como pontos fortes do programa a realização de
atividades teórico-práticas no âmbito do Centro Colaborador e a
oportunidade de intercâmbio cultural. O formato do curso, que reúne
alunos de diferentes regiões do país, propicia a troca de experiências,
evidenciando a complexidade de execução de políticas públicas em um
país de dimensões continentais e tão diverso como o Brasil.
É importante induzir a criação e consolidação de programas
profissionais em outras regiões estratégicas, a partir da identificação de
demandas locais e regionais. Assim, haverá mais possibilidade de atender
verdadeiramente os pressupostos da Política Nacional sobre Drogas
vigente, que prevê a descentralização das ações nos estados e municípios.
537
Carla Dalbosco et al
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538
Formação a distância em saúde: potenciais e limites do curso Supera
539
Carla Dalbosco et al
540
CAPÍTULO 5.4
Resumo
Este texto apresenta uma narrativa sobre a experiência das autoras
enquanto facilitadoras no curso de formação de Supervisores em Saúde
Mental da Escola de Supervisores Clínico-Institucionais do estado do
Maranhão. Para tal, optou-se por abordar inicialmente a conceituação
geral do que seja a supervisão clínico-institucional em Saúde Mental no
Brasil, bem como a sua inserção nos dispositivos de saúde mental, álcool e
outras drogas, e mais recentemente nas Redes de Atenção Psicossocial
(Raps). Faz o recorte para a experiência da Escola de Supervisores do
Maranhão, compreendendo este dispositivo como importante disparador
do processo de educação permanente em saúde e critica a atual
indisponibilidade de implementação do mesmo. No percurso da
experiência no processo formativo foram sendo percebidos, pelas
facilitadoras, os nós críticos com os quais se confrontam os trabalhadores
no cotidiano da assistência à saúde mental no contexto local – bastante
semelhantes nos serviços das diferentes regiões do pais –, especialmente
para os que participaram da referida formação de supervisores. Foram
escolhidos entre os temas emergentes, como pontos fortes para
aprofundamento, as temáticas da redução de danos e dos Processos
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Fernanda Penkala et al
A supervisão clínico-institucional
Instituída como ferramenta de gestão do Sistema Único de Saúde
(SUS) pela Portaria GM 1174/2005, considera-se que a supervisão
clínico-institucional é:
[...] um tempo na organização do serviço dedicado à discussão e
estudos sobre os projetos terapêuticos individuais e dos serviços, da
dinâmica de equipe, das articulações com o território, dos processos
de trabalho, da gestão e da clínica na perspectiva institucional e
intersetorial. O supervisor, necessariamente externo à instituição,
desencadeia e articula as reflexões da equipe para redirecionar as suas
ações. (São Paulo, 2012)
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A Escola de Supervisores Clínico-Institucionais do estado do Maranhão
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A Escola de Supervisores Clínico-Institucionais do estado do Maranhão
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A Escola de Supervisores Clínico-Institucionais do estado do Maranhão
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Fernanda Penkala et al
Raps. Assim sendo, o plano de ação foi elaborado com base nos dados
coletados nos seguintes instrumentos:
1 - Pesquisa em Saúde Mental – caracterização do território e
mapeamento das redes de atenção existentes;
2 - Questionário – para conhecer o perfil dos trabalhadores e
identificar os temas de seu interesse;
3 - Roteiro de indicadores – questionário respondido coletivamente
numa roda de conversa com toda equipe do serviço (Soares, 2016). As
respostas são inseridas no aplicativo Avaliar-Ação que calcula um score
por eixo indicador com base nos valores de uma escala Likert e gera
uma representação gráfica para identificar as necessidades de
reorganização do processo de trabalho;
4 - Apreciação de abordagem em Redução de danos em cena de uso
de drogas – observação participante-prática in lócus com agente
redutor de danos do município de São Luís.
548
A Escola de Supervisores Clínico-Institucionais do estado do Maranhão
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Fernanda Penkala et al
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escasso, haja vista que existem os mais diferentes conceitos sobre a mesma,
tanto quanto existem diferentes entendimentos de sua importância para a
qualificação em serviço dos nossos dispositivos de cuidado. Aparentemente
essa diversidade pode ser compreendida como positiva, mas na prática a
urgência que temos em responder às demandas de saúde mental em nosso
país acaba por nos defrontar com muitos dos problemas que por vezes não
são entendidos como problemas por alguns atores. Por exemplo: a
ambulatorização, a clínica desvitalizada, o despreparo e cronificação da
equipe, o sucateamento dos serviços e a falta de investimento da gestão,
dentre outros, que podem estar diretamente relacionadas com a
precarizacão e clientelismo de muitos desses serviços através de suas
prefeituras e políticas locais.
Como também já refletido, muitos são os temas possíveis de serem
trabalhados em um processo de supervisão clínico-institucional em que se
compreenda este dispositivo como uma das potências da EPS. A escolha
de tratarmos, neste artigo, da redução de danos e dos processos grupais
fala de uma lacuna profunda no desenvolvimento de um bom processo de
trabalho num modelo de atenção que se deseja substitutivo ao modelo
manicomial. Ou seja, sem esses pilares (e outros também importantes), a
operacionalização num novo paradigma se mostra falho e ineficiente.
Urge que ao trabalhar com grupos, os técnicos e profissionais saibam
operar com ferramentas que facilitem os processos de trabalho. Assim
também com a redução de danos que carece de ser assumida como uma
postura que reflete uma nova visão de sujeito e de mundo, e não apenas
uma estratégia utilitária.
Para finalizar, gostaríamos de apresentar alguns aspectos que sentimos
necessários como em constante debate a partir da vivência da e na Escola
de Supervisores Clínico-Institucionais do Maranhão. São questões que
foram trabalhadas pontualmente por um ou outro facilitador que se
envolveu com a Escola, mas que certamente precisam ser sempre
revisitadas no sentido de que a nossa "rede" de dispositivos não se esqueça
de pensar no diálogo com outras alternativas e possibilidades temáticas,
estimulando elementos que as pessoas que cuidamos consideram
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importante para suas vidas e que faz sentido para elas. Algumas dessas
questões:
Quais são os objetivos do serviço? Tem funcionado para
efetivamente substituir as internações em instituições totais?
O serviço tem diretrizes e/ou princípios definidos (específicos do
serviço) – como, por exemplo, um Projeto Terapêutico Institucional
revisto com frequência?
Como o serviço compõe a Raps local, a rede de saúde e as
políticas do município, intra e intersetoriais, se articula e se integra ao
território?
Como está organizado o processo de trabalho do serviço
(acolhimento, atenção e manejo de crise, fluxo do usuário e
participação dos mesmos nos processos do serviço, recursos
terapêuticos – individuais, grupais, comunitários)?
A organização dos processos de trabalho se apoia nos
pressupostos da EPS e da Política Nacional de Humanização (PNH)?
Como as propostas terapêuticas se integram para beneficiar os
processos dos usuários?
Quais as responsabilidades dos profissionais e trabalhadores
definidas pela equipe?
Quais são as principais dificuldades e obstáculos encontrados pela
equipe de trabalho para atingir os objetivos do serviço?
O que é necessário modificar no processo de trabalho para que as
dificuldades e obstáculos sejam minimizados?
As equipes são sabedoras de todos os processos e embates vividos
da Reforma Psiquiátrica, da Luta Antimanicomial, da Reforma
Sanitária, e da redução de danos?
Como estes processos influenciam o andamento das atividades
terapêuticas desenvolvidas no serviço?
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Referências
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em direitos humanos. Belo Horizonte: Recimam.
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Legislação de Saúde. Brasília-DF.
Brasil, Ministério da Saúde (2005). Portaria GM no 1.174, de 7 de julho de
2005. Brasília-DF.
Brasil, Ministério da Saúde (2012). Saúde Mental em Dados 11. Brasília- D. F.
Carvalho, G. (2014). Roda de Conversa: uma proposta metodologica para
a construção de um espaço de diálogo no Ensino Médio. Imagens Da
Educação, 4(2), 31.
Costa-Rora, A. (2013). Atenção Psicossocial além da Reforma Psiquiátrica:
contribuições a uma Clínica Crítica dos processos de subjetivação na Saúde
Coletiva. São Paulo: Editora Unesp.
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Referências
Fuks, S. I. (2018). Un “modelo” sistémico de comprensión-acción de
dinámicas sociales: três dimensiones de las prácticas sociales
transformadoras. In M. F. O. Sudbrack, M. I. G. Conceição & R.
Adorno (Orgs.), Drogas e transição de paradigmas: construindo saberes e
compartilhando fazeres. Brasília: Technopolitik. 555 p.
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