Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
deposita sobre cada um. Já na infância, entraremos em contato com uma lista de
predileções, afazeres e tarefas específica construídos socialmente como “coisa de
meninos” ou “de meninas”. Eles gostam de azul, de futebol e não choram. Elas
gostam de rosa, de bonecas e são comportadas.
O conceito
Agora, discutir gênero não quer dizer que você vai ter que abordar tudo isso,
necessariamente, em todas faixas etárias. Você pode centrar as discussões no caráter
social das diferenças. A confusão é que as pessoas acham que quando estamos falando
de gênero, estamos falando necessariamente de sexualidade. Esta é a maneira como a
gente expressa nossos afetos, nossas relações afetivas, a dimensão do amor e do
prazer. E, claro, não há só uma maneira de vivenciá-los.
Ideologia de gênero
Imagine, então, o poder de um pensamento que diz que isso pode e deve ser
modificado. Isso fere violentamente uma ordem patriarcal que beneficia uma porção
de gente. Essas pessoas se colocam contra a discussão de gênero e tratam de satanizar
o discurso. Elas não entendem como uma questão de direito das meninas e mulheres a
se desenvolverem plenamente. Distorcem a discussão e ainda dizem que estão
fazendo isso em nome da família, em nome de Deus.
Aí cabem outras perguntas: que família é essa que essas pessoas estão defendendo?
Existe um único modelo de família? Elas defendem que o único modelo de família é
homem, mulher e criança, excluindo as demais formações familiares. As pessoas têm
muito medo do feminismo, dos movimentos emancipatórios das mulheres, dessa nova
ordem social em que mulheres e homens possam viver em igualdade.
Na vida das meninas isso é absurdamente danoso porque a sociedade patriarcal não só
vai dar menos oportunidade a elas, como menos valor a tudo que elas produzem. E
isso passa pelo controle do corpo e da sexualidade, com repercussão na vida adulta.
Não permitimos a esse menino dançar, pintar, cozinhar ou exercer qualquer outra
atividade que destoe do modelo masculino dominante. E, quando isso acontece,
dizemos que eles são afeminados, ou seja, que eles têm características femininas, e
que isso é ruim. É extremamente perverso.
Gênero na infância
Esse modelo estabelecido que temos do que é ser homem e ser mulher acaba
incidindo em tudo na vida de uma pessoa, desde seu modo de sentar, ao quanto se
come. Já reparou como ficamos surpresos quando uma mulher come bastante?
Por isso, a importância que, desde cedo, as crianças tenham acesso a outros
repertórios.
Se não corremos o risco dela passar a vida se culpando por não ser a menina do
vestido rosa, caso ela se reconheça fora dos discursos oficiais.
Gênero e família
Embora não seja a única responsável por essa condução, as famílias têm um
papel importante na promoção da igualdade de gênero. Quando a criança tem a
oportunidade de acessar outros discursos sobre o que é ser menino e ser menina, ela
consegue criar um autoconceito muito mais poderoso. A questão é que os discursos
hegemônicos estão em todos os lugares, na escola, na mídia, na própria família. Por
isso, a importância que essa atuação reflexiva seja constante.
Tudo o que a criança vivencia na escola tem valor muito maior do que outras
experiências e ela mesma reconhece isso quando diz: “mas a professora falou” ou “eu
li em um livro”.
Desafios da escola
Tratar de gênero é uma ação política e quando não se tem uma direção para a prática
pedagógica, apenas se reproduz as ideologias dominantes. É preciso debate e diálogo
para termos ações propositivas nas escolas nesse sentido”.
Nem todos os meninos e meninas são só isso. Essa menina tem o direito de
desenvolver sua inteligência matemática, ou ser a garota que corre e pula. Já os
meninos também podem se desenvolver para a leitura, interpretação, para atividades
de cuidado.