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“Corpo e gênero na escola”

SEFFNER, Fernando, Um bocado de sexo, pouco giz, quase nada


de apagador e muitas provas: cenas escolares envolvendo
questões de gênero e sexualidade. Revista de Estudos Feministas,
v. 19, n.2, p. 561-572. 2011.
Vídeo

O documentário apresenta as experiências e situações de


violência vivenciadas por estudantes LGBT no ambiente
escolar e propõe o debate sobre a discussão de gênero e
orientação sexual nos planos de educação.
Os próximos três slides trazem
uma comunicação por e-mail
entre uma aluna do curso de
Pedagogia da UFF-RJ e sua
professora da disciplina:
“Gênero e Sexualidades
perspectivas interseccionais na
formação de professores”
Professora,
Não sei como começar esse e-mail, mas…
Eu tenho tantas dúvidas sobre o que você quer passar para gente. Veja bem, não é sobre
você. Acho você uma ótima professora. Tem o falar sereno e é muito acolhedora.
Mas eu tenho muitas dúvidas sobre essa questão de gênero, sexualidade e educação em
relação as crianças, e não consigo expor ou perguntar nas aulas com medo de ser má
interpretada. Sabemos que esses tipos de assuntos são muitas vezes um tabu em nossa
sociedade, e eu fico com receio de falar uma coisa e ser julgada como preconceituosa ou
não sei… homofóbica?
Eu sou cristã. E mesmo que eu não concorde nunca com relações homoafetivas ou escolhas
de gênero… eu não discriminarei nem excluiria uma pessoa que seja assim. Eu respeito e
vou amá-la. Eu não tenho haver com isso. Mas eu não estou sabendo lidar com as questões
debatidas em sala de aula… não consigo entender em que ponto estamos chegando.
Eu como profissional da educação devo propor um ambiente confortável e favorável para
que uma criança tenha sua orientação sexual construída ?
Na última aula você disse que gênero não se constrói, eu concordo com isso, mas não sei
onde estamos chegando. Por ex, o livro Julian é uma sereia. Eu não creio que uma criança
que queira ser uma sereia, só porque é menino, quando crescer se tornará alguém que
goste de meninos.
Tudo que eu queria era tomar um café com você e conversar sobre tudo isso, porque eu
tenho um desejo muito grande de aprender mais e aumentar meu repertório sobre esse
tema!
Bom dia Aline, tudo bem?

O objetivo das aulas é deixar estudantes da pedagogia a par das discussões/pesquisas


que vêm sendo realizadas no Brasil a respeito de gênero e sexualidades, sobretudo
aquelas voltadas para a educação de crianças. Meu propósito é que vocês cheguem
ao final do curso conhecendo as problematizações em torno dessas questões e,
sobretudo, os marcos legais nacionais e internacionais que demonstram que todo
mundo tem direito a uma existência digna. Uma existência digna, neste caso, tem a
ver com o reconhecimento de seus direitos (sejam eles simbólicos ou materiais).
Significa também que as pessoas, em suas diferenças, podem ocupar os espaços
públicos sem se envergonharem de ser quem elas são. Mas não apenas elas não
devem se envergonhar de quem elas são. Elas precisam ter assegurado que não
sofrerão violências de qualquer tipo nos espaços institucionais que elas frequentam.
E a escola é um desses espaços. Ao invisibilizar a existência dessas pessoas, espaços
como as escolas as violentam seja porque não trazem elas como protagonistas das
histórias que são contadas ali, ignorando-as, seja porque permitem que elas sejam
trucidadas em seu cotidiano (aí falo de xingamentos e agressões físicas). A escola é
para todo mundo, um lugar de expansão de nossos repertórios e de construção de
cidadania. Para isso ela tem que se aliar às questões de direitos humanos e
compreender que as normas são construções sociais e não são verdades últimas.
Eu acho muito bonito você enviar este e-mail porque eu
compreendo que essas questões te angustiam e você não
pretende fechar o assunto dizendo "eu não concordo com nada
disso e só pretendo concluir essa disciplina". Acho que muita
gente faz isso e, ao que parece, você está preocupada em não
reproduzir violências, apesar de não concordar com a orientação
de pessoas que não se baseiam na heteronormatividade. Neste
caso, Aline, eu não tenho nenhuma receita pronta pra te dizer o
que você deve fazer. A interrogação é a única coisa que deixo
como possibilidade pra você, acho que é ela que te auxiliará
nessa trajetória.

Da minha parte estou aberta ao diálogo e sim, espero que a gente


possa tomar este café um dia.

Grande abraço.
Os trechos a seguir foram extraídos da
dissertação “Percepções de
professorer/as sobre gênero,
sexualidade e homofobia: pensando a
formação continuada a partir de relatos
da prática docente” de autoria de Liane
Kellen Rizzato sob orientação da
professora Dra. Claudia Vianna.
consiste em dizer-lhes o tempo todo que devem aceitar não
‘perturbar’ a ordem sexual vigente na esfera pública escolar e
que devem ser ‘discretas
As contradições, dissonâncias e continuidades presentes
nos relatos dos sujeitos (documentário e pesquisa) sobre
relações de gênero e diversidade sexual na escola
reportaram-me diretamente às estratégias discursivas que
se mostraram vinculadas à disputa política em torno do
saber a respeito das diferenças sexuais: aos símbolos
sociais; aos conceitos normativos baseados na binaridade
fixa entre feminino e masculino; às instituições; à
organização social; à subjetividade dos sujeitos (SCOTT,
1995); à heterossexualidade compulsória (BUTLER, 2010).
Nos relatos, foi notável a ideia do sexo como ideal
regulatório (FOUCAULT, 2010) mascarando a complexidade
de forças – classe, raça/etnia, gênero – que modelam
atitudes e comportamentos sexuais (WEEKS, 2010).
Nesse sentido, observa-se nos discursos a invisibilidade
do empenho pela produção e pela manutenção de um
dispositivo voltado para o controle dos corpos e das
vivências sexuais (FOUCAULT, 2010) em prol da
“normalidade”, do que é natural, inato e inalterável na
identidade dos sujeitos. Estabelece-se estreita
correspondência entre o corpo socialmente aceitável e a
identidade de gênero natural a esse corpo (WEEKS, 2010).
É necessário, na escola, pensar o corpo como um
aparato herdado e constitucional, que possui sim
a infraestrutura básica biológica dos seres
humanos mas também pensar nesse corpo como
possibilidade de apropriação subjetiva de toda
experiência na interação com o meio. Um corpo
atravessado pela inteligência e pelo desejo. Um
corpo que pulsa e sente pois está imiscuído em
fatores culturais que intervêm na sua construção
e percepção. Esse corpo/todo que inclui as
dimensões biológica, psicológica e social.
Na escola, ao pensarmos em corpo como
matriz da sexualidade humana pensamos
também em autocuidado, autoimagem,
autoestima, autoconceito, padrões de
beleza, regras, interdições, valorização e
desvalorização de comportamentos
sociais etc.
Como Fazer?

Na mente ecoa o:
Como?
Como?
Como, na escola, eu saio da dimensão do
preconceito e vou para a dimensão da
generosidade, da partilha, do encontro, do afeto?

Como eu saio da exclusão desse corpo muitas


vezes negro, muitas vezes homossexual, muitas
vezes fora do padrão de beleza, muitas vezes
afeminado, muitas vezes transexual, muitas vezes
travesti, muitas vezes mulher cis, muitas vezes
homem cis, todas as vezes generificado... para a
inclusão desse corpo?
• Nós professores e professoras somos
atravessados pela nossa própria sexualidade,
não nos despimos dela para entrar na escola.

• Somos atravessados pelo nosso sistema de


crença sobre “isso” que nos propomos a
abordar.

• Quais são nossos preconceitos?

• O que nós precisamos estudar mais?


• Os materiais, “bons” ou “ruins”, sempre
permitirão: (a) abordar a diversidade de
comportamento de homens e mulheres
em função da época e do local onde
vivem; (b) a relatividade das concepções
tradicionalmente associadas ao
masculino e ao feminino; (c) o respeito
pelo outro sexo, na figura das pessoas
com as quais se convive; (d) o respeito às
muitas e variadas expressões do feminino
e do masculino, etc...
mesmo materiais potencialmente
“ruins” permitirão se...

A(o) professor(a) se acreditar afetuosamente


como sujeito questionando seu sistema de
crenças/valores, questionando seu conjunto de
saberes sobre determinado tópico de
conteúdo.
Posto isto, em meio a uma gama de
possibilidades trago pra vocês corpos com
sentimentos. Fiz a escolha por essa via sempre
imaginando que trabalhar com sexualidade e
gênero com crianças e adolescentes inclui
trabalhar afetos, o brincar, a imaginação, a
expressão oral, a (re)leitura e o registro
(desenho; escrita).
“Diversidade sexual e de gênero
no contexto escolar: conceitos e
práticas”
• Conhecimento teórico e trabalho planejado e
sistematizado de professores e professoras

• Possibilidades sempre devem levar em


consideração: os objetivos; a situação social (a
escola e seu entorno); o sujeito (sua faixa
etária, seus conhecimentos, suas
características); os conteúdos que deseja
desenvolver (atitudinais, conceituais, factuais,
procedimentais); e o(a) professor(a) como
sujeito pensado
Vídeo
A História de Ana e João
Família de bonecos sexuados/ Rodas de
conversa/ Contação de histórias/ Livros
infantis/ Desenhos animados/ Jogos e
brincadeiras/ Dinâmicas/HQs/ Podcasts/
Filmes (longa metragem; curta metragem;
documentários; animações; séries; vídeos
de youtubers)/ Novelas/ Músicas/
Propagandas/etc...
Família de bonecos sexuados/
Contação de histórias/Livros infantis
• O Desafio da Escola

Esse mini documentário mostra as reflexões de um grupo


de educadores sobre o desafio de promover a igualdade
de gênero nas escolas e a tentativa de executar isso na
prática em duas escolas de Teresina, Piauí.

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