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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO
DOUTORAMENTO EM DIREITO CIVIL

NELSON DAVID BECHANE CHAPANANGA

A PROTECÇÃO JUDICIAL DOS DIREITOS


HUMANOS EM MOÇAMBIQUE FACE A QUESTÃO
DA INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS

NAMPULA
2016
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
DOUTORAMETO EM DIREITO CIVIL

NELSON DAVID BECHANE CHAPANANGA

A PROTECÇÃO JUDICIAL DOS DIREITOS


HUMANOS EM MOÇAMBIQUE FACE A QUESTÃO
DA INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS

Trabalho avaliativo do Módulo de Direitos Humanos


Leccionado na Faculdade de Direito da
Universidade Católica de Moçambique, no Curso de
Doutoramento em Direito Civil.

Docente: Prof. Doutor Jorge BACELAR GOUVEIA

NAMPULA
2016
i
Índice

Resumo ................................................................................................................................. 1
Abstract ................................................................................................................................ 1
Introdução............................................................................................................................. 2
1. Generalidades sobre o princípio de separação de poderes .............................................. 2
2. Independência do poder judicial no Ordenamento Jurídico Moçambicano ..................... 4
I. A independência institucional ou externa ..................................................................... 4
II. A independência individual ou interna ..................................................................... 6
3. Conceito de Direitos Humanos na perspectiva do Direito Moçambicano ....................... 7
4. Relação entre o poder judicial e a protecção dos direitos fundamentais .......................... 9
I. O sentido lógico-constitucional do princípio constitucional de acesso à justiça e aos
tribunais ........................................................................................................................... 10
II. O Sistema Judicial moçambicano e o direito de acesso aos tribunais ...................... 11
5. Os desafios do poder judicial face a defesa dos direitos humanos em Moçambique ..... 13
I. Independência financeira dos tribunais ...................................................................... 15
I. Independência na tomada de decisões e o processo de designação dos juízes ............. 18
II. A fraca exigibilidade judicial de certos direitos humanos ....................................... 21

Conclusões.......................................................................................................................... 24
Biobliografia ....................................................................................................................... 25

ii
A PROTECÇÃO JUDICIAL DOS DIREITOS HUMANOS EM MOÇAMBIQUE FACE
A QUESTÃO DA INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS1
Nelson David Bechane Chapananga 2

Resumo
O presente artigo fala sobre a participação do poder judicial na protecção dos direitos
humanos considerando a sua situação de independência em relação as outras autoridades a
nível nacional ou internacional. Tem como escopo primordial analisar o alcance do princípio
de independência dos juízes nas suas várias vertentes e, descobrir os desafios que os tribunais
enfrentam para a protecção dos direitos humanos em Moçambique. Para a sua efectivação
recorreu-se a pesquisa bibliográfica alicerçada na abordagem qualitativa. A téncica de análise
documental serviu como base para a recolha dos dados do estudo. Relativamente aos actos
normativos socorreu-se a técnica da hermenéutica jurídica para obter o entendimento e a
compreensão do sentido e alcance das normas. Finalmente o estudo chegou a conclusão de
que os tribunais são, formalmente, independentes em relação aos outros órgãos de soberania,
mas material e politicamente ainda continuam dependentes do Governo, na medida em que é
este órgão que aprova o seu orçamento anual e os seus dirigentes superiores são nomeados
pelo Chefe do Estado. Consequentemente, esta dependência material e política acaba
influenciando negativamente no exercício da sua tarefa constitucional de garantir o respeito
pelas leis e assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos.

Palavras-Chave: Direitos Humanos, Protecção, Poder Judicial.

Abstract
This article talks about the involvement of the judiciary in the protection of human rights
accordingly its independent status among other national or international authorities. Firstly it
arms to analyze the scope of the principle of independence of judges in its various aspects and
discover the challenges that the courts face during the protection of human rights in
Mozambique. For its implementation we resorted to literature founded on qualitative
approach. The documentary analysis technique was the basis for the collection of the study
data. With regard to legislative measures we used the technique of legal hermeneutics to
understand the meaning and scope of the rules. Finally, the study came to the conclusion that
the courts are formally independent from the other sovereignty organs, but materially and
politically they are still dependent on the government, which approves its annual budget and
its principal leaders are appointed by the Head of State. Consequently, this stuff and political
dependence ends up negatively influencing the exercise of its constitutional task of ensuring
respect for the laws and ensure the rights and freedoms of citizens.

Keywords: Human Rights Protection, Judicial Power.

1
Artigo científico de carácter avaliativo submetido a Disciplina de Direitos Humanos ministrado pelo Prof.
Doutor Jorge Bacelar Gouveia.
2
Estudante do programa de Doutoramento em Direito Civil na Faculdade de Direito da Universidade Católica de
Moçambique, em Parceria com a Universidade Nova de Lisboa.
1
Introdução

A Constituição da República de Moçambique (CRM) congrega vários direitos


inerentes aos cidadãos moçambicanos. Desde do seu preâmbulo até as grantias
constitucionais podemos perceber que o nosso legislador constituinte contemplou, protegeu e
incluiu vários mecanismos de tutela dos direitos fundamentais.
Um dos meios de proteção dos direitos acima referidos são os tribunais, daí a
constituição conteplou, no seu Art. 62, o direito de acesso aos tribunais, e atribui ao cidadão o
direito de impugnar os actos que violam os seus direitos estabelecidos na constituição ou na
lei3. Porém, o problema nasce já quando se procura apurar sobre a aplicabilidade material
desses mecaismos formais de protecção dos direitos, na medida em que os cidadãos deixam
de confiar os próprios tribunais 4.
A consagração do princípo de separação de poderes via constitucional é outro grande
ganho que a constituição trouxe para os cidadãos, mas do mesmo modo se questiona se
materialmente este princípio se efectiva como se deseja.
Em resumo, o artigo procura responder a seguinte questão problemática: será que o
poder judicial defende, como deve ser, os direitos fundamentais constitucionalmente
consagrados?
Foi com base nestes factos e reflexões que se pensou em desenvolver o presete tema,
procurando analisar o alcance do princípio de independência dos juízes nas suas várias
vertentes e, descobrir os desafios que os tribunais enfrentam para a protecção dos direitos
humanos em Moçambique.
Para a sua efectivação recomenda-se o recurso à pesquisa bibliográfica alicerçada na
abordagem qualitativa. Para a recolha de dados propõe-se o uso da téncica de análise
documental.

1. Generalidades sobre o princípio de separação de poderes


De acordo com JORGE BACELAR GOUVEIA, o princípio de separação de poderes
criou mudanças “na transição do Estado Liberal para o Estado Social, fundamentalmente
cimentadas pela progressão verificada na protecção dos direitos fundamentais” 5.

3
Cfr. Art. 69 da CRM.
4
Cfr. JOSUÉ BILA, Direitos Humanos em África. Questões Moçambicanas, São Paulo, 2013, p. 31.
5
JORGE BECELAR GOUVEIA, Manual do Direito Constitucional, Lisboa, 2011, 4ª ed. p. 811; JORGE
BACELAR GOUVEIA, Direito Constitucional de Moçambique, Lisboa-Maputo, 2015, p. 212.
2
De acordo com este autor, o princípio foi criado por JOHN LOCKE e CHARLES S.
MONTESQUIEU. Para LOCKE, o poder político devia repartir-se por quatro funções: o
poder legislativo, o poder executivo, o poder federal e a “prerrogativa”6. Ao passo que,
MONTESQUIEU defendeu a existência de três poderes, nomeadamente, poder legislativo,
poder executivo e poder judicial7.
JORGE BACELAR GOUVEIA ilustra ainda que na concepção de LOCKE, o poder
judiciário estaria dentro do poder executivo e ambos estariam encarregues ao rei e ao
governo8. Ao passo que MONTESQUIEU advoga separação de poderes na perspectiva
dinámica, que consiste numa colaboração e moderação recíprocos entre os diversos órgãos,
para o seu correcto funcionamento, distinguindo, assim, em cada poder duas faculdades,
designadamente, faculté de statuer, que respeita ao domínio de competências de cada órgão e
a faculté de empêcher que se traduz ao poder de controlo dos actos dos demais órgãos
contrários a Constituição 9.
Contudo, o princípio de separação de poderes desenvolveu-se em duas importantes
direcções, bem espelhadas por JORGE BACELAR GOUVEIA, mas todas com o mesmo fim
de defesa do estatuto dos cidadãos frente ao poder político, nomeadamente, a) o primado da
lei, pela qual só se admitiria a intervenção do Estado nos direitos dos cidadãos através da lei
prévia, geral e abstracta; b) a defesa desses direitos em face de actos antijurídicos a cargo de
tribunais independentes, os quais poderiam depreciá-los10.
Todavia, o alcance desses fins, ao nosso ver, só seria possível no Estado de Direito
Democrático, e não no Estado Social e muito menos no Estado Liberal, onde a máxima
sociedade politicamente organizada, a nível nacional, se afigurava como Guarda-Nocturno.
O Estado moçamicano, sendo um Estado de Direito Democrático 11, também a sua
Constituição garante expressamente o princípio de separação de poderes, estabelecendo que
“os órgãos de soberania12 assentam nos princípios de separação e interdependência de poderes
consagrados na Constituição e devem obediência à Constiuição e às leis” 13.

6
JOHN LOCKE, Segundo Tratado sobre el Gobierno Civil, Madrid, pp. 150 e ss.
7
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 213.
8
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, pp. 212 e 213.
9
Cfr. AMÉRICO SIMANGO, Introdução à Constituição Moçambicana, Lisboa, 1999, pp. 107 e 108; JORGE
BACELAR GOUVEIA, Direito…, pp. 2013 e 214.
10
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 214.
11
Cfr. Arts. 1 e 2 da CRM.
12
De acordo com o Art. 133 da CRM, são órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da
República, o Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional.
13
Cfr. Art. 134 da CRM.
3
2. Independência do poder judicial no Ordenamento Jurídico Moçambicano
A Constituição moçambicana, como é óbvio, não apresenta um conceito bem
elaborado do princípio de independência dos tribunais, mas sim, apresenta vários traços que
facilitam o seu entendimento. Por exemplo, baseando-se no art. 215, pode-se entender que os
tribunais não dependem de decisões ou instruções de outras autoridades e as suas deciões
prevalecem sobre as dequelas14.
Já o art. 217, que é o mais específico sobre o assunto, relaciona ao princípio de
independência dos juízes as questões de imparcialidade, irresponsabilidade 15 e
inamovibilidade16, condicionando-os apenas obediência a lei17.
O conceito mais formulado vem estabelecido na Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto, Lei
de Organização Judiciária (LOJ), quando estabece que “a independência dos juízes é
assegurada pela existência de um órgão privativo de gestão e disciplina, pela inamovibilidade
e pela não sujeição a quaisquer ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento das
decisões proferidas em via de recurso pelos tribunais superiores”18.
O mesmo conceito vem apresentado de forma pouco diferente na Lei nº 7/2009, de 11
de Março19, dispondo que “os magistrados judiciais julgam apenas segundo a Constituição, a
lei e a sua consciência, não estando sujeitos à ordens ou instruções, salvo dever de acatamento
pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais
superiores”20.
Preocupado, não pelo conceito, mas pela classificação, ANTÓNIO JOSÉ
VENTURA21 aponta dois focos que ilustram a independência do poder judicial,
nomeadamente: a) a independência institucional ou externa e b) a independência individual ou
interna. E sendo seguidores desta classificação, vamos tecer algumas considerações sobre
esses focos.

I. A independência institucional ou externa


Para o primeiro foco, ANTÓNIO JOSÉ VENTURA defende que o poder judicial tem
de ser independente dos outros poderes do Estado. Porém, esta independência não deve ser

14
JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 507, citando o Art. 215 da CRM.
15
Cfr. Art. 217, nº 2 da CRM.
16
Cfr. Art. 217, nº 3 da CRM.
17
Cfr. Art. 217, nº 1 da CRM.
18
Cfr. Art. 10, nº 2 da Lei nº 24/2007.
19
Aprova o Estatuto dos Magistrados Judiciais e foi publicado no BR., I Série, nº 10, de 11 de Março de 2009.
20
Cfr. Art. 4 da Lei nº 7/2009.
21
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência do Poder Judicial na Constituição da República de
Angola. Subsídicos para a Compreensão, Almeida, Coimbra, 2012, pp. 24 e ss.
4
vista apenas no âmbito da reserva da lei quanto a organização e competência dos tribunais e
ao Estatuto dos magistrados, mas sim, incluindo o âmbito mais importante que se traduz na
independência funcional, ou seja, a submissão do juiz à lei, ou ainda, às fontes de direito
jurídico-constitucionalmente reconhecias, assim como ensina J.J. GOMES CANOTILHO22.
ANTÓNIO JOSÉ VENTURA vai mais longe explicando que esse foco se manifesta
de várias maneiras, designadamente, i) a atonomia nas questões administrativas, ii) a
autonomia nas questões financeiras, iii) independência na tomada de decisões, iv)
independência nas questões de competências jurisdicionais e v) autonomia legislativa23.
Não é nosso objectivo seguir detalhadamente todas estas maneiras, mas para facilitar
a compreensão de todos vamos apresentar, nos parágrafos seguintes, breves considerações a
cada uma delas:
i) A autonomia nas questões administrativas. Esta tem a ver com a distribuição
dos processos aos juízes, conservação e arquivamento dos processos nos respectivos tribunias;
organizar e sustentar os seus serviços internos. Todavia, achamos nós que esta autonomia é a
que mais se nota em todos os tribunais moçambicanos e não levanta muitas questões.

ii) A autonomia nas questões financeiras. Aqui requer-se que os tribunais sejam
dotados de recursos financeiros suficientes e capazes de fazer com que cumpram eficazmente
as suas funções.
Fundamentalmente procura-se que os tribunais possam preparar e discutir seus
orçamentos, e não dependam de outro órgão de soberania, como é frequente a sua
dependência ao Governo.
ANTÓNIO JOSÉ VENTURA esclarece bem sobre as consequências da falta desta
independência quando afirma que:
O poder judicial não será capaz de desempenhar as suas funções de forma eficaz e
livrar-se das pressões externas (políticas, militares e económicas) e da corrupção, se
não estiver dotado de condições financeiras e materiais para prosseguir o seu fim:
administrar a justiça em nome do povo, com independência e com base na
Constituição24.

iii) A independência na tomada de decisões. Certamente que todas as


constituições democráticas, incluindo a moçambicana 25, estabelecem que as decisões dos

22
Cfr. JOSÉ JOAQUI M GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional – Teoria da Constituição, 7ª ed.
edições Almeida, Coimbra, 2003, p. 664.
23
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, pp.25 a 29.
24
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, p. 26.
25
Cfr. Art. 215 da CRM.
5
tribunais são de cumprimento obrigatório para todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas e
prevalecem sobre as de outras autoridades. No entanto, ANTÓNIO JOSÉ VENTURA entende
que todas as entidades ou autoridades públicas e privadas, incluindo os titulares dos órgãos
de soberania constitucionalmente previstos devem respeitar e obedecer ou cumprir as decisões
dos tribunais independemente da sua discordância 26.

iv) A independência nas questões de competência jurisdicional. Trata-se da


autonomia judicial que é dada aos tribunais e só eles possam a ter para decidir sobre todas as
questões de natureza judicial que lhes são submetidas.
Dentre as várias actividades protegidas por este tipo de independência, a constituição
moçambicana, por exemplo, destaca: garantir o respeito pelas leis; assegurar os direitos e
liberdades dos cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos e entidades
com existência legal e, penalizar as violações da legalidade e decidir pleitos de acordo com o
estabelecido na lei27.

v) A autonomia legislativa. Esta autonomia não foi acolhida pela Constituição


moçambicana. Trata-se de conceder aos tribunais a iniciativa do processo legislativo nas
questões que dizem respeito à sua gestão e que dependem de regulamentação por lei, por
decreto ou por qualquer outra forma normativa do acto28.

II. A independência individual ou interna


Relativamente ao segundo foco formulado por ANTÓNIO JOSÉ VENTURA,
alinhamos, partindo do ideal de CASTRO MENDES quando afirma que “a independência dos
tribunais pressupõe e exige a independência dos juízes…[ou seja], a independência dos
tribunais conclama a independência dos juízes” 29.
É neste contexto que ANTÓNIO JOSÉ VENTURA conclue que a “Constituição deve
prever a independência individual dos juízes pessoalmente considerados, ou seja, prever os
direitos que eles têm de gozar de independência no desempenho da sua função
jurisdicional”30.

26
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, p. 27.
27
Cfr. Art. 212 da CRM.
28
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, p. 29.
29
Cfr. CASTRO MENDES, Nótula sobre o artigo 208º da Constituição – Independência dos Juízes, pp. 654-
655, citado por JORGE MIRANDA e RUI MADEIROS, Constituição Portuguesa Anotada. Tomo III, Coimbra
editora, 2007.
30
Cfr. ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, p. 29.
6
De acordo com este autor, a independência do juiz pode ser garantida de diversas
formas, nomeadamente: na forma de designação dos juízes, na inamovibilidade dos juízes, na
sua segurança financeira, na promoção, nas formas da sua responsabilização, na garantia da
imparcialdade e na liberdade de expressão e de associação 31.
A Constituição moçambicana estabelece regras desta natureza no seu artigo 217, cujo
conteudo já foi versado acima.
Visto no sentido mais completo, ou tendencialmente completo, a independência dos
juízes consiste na “situação que se verifica quando, no momento da decisão, não pesa sobre o
decidente outros factores que não os judicialmente adequados a conduzir à legalidade e à
justiça a mesma decisão”32.
Contudo, é em volta destes focos que vamos analisar o nosso tema a seguir.

3. Conceito de Direitos Humanos na perspectiva do Direito Mocambicano

Como sugerimos neste subtítulo, aqui não vamos nos dedicar à descrição do historial
dos direitos humanos e muito menos procuramos classificar esses direitos 33, mas sim vamos
apresentar de forma resumida alguns conceitos de direitos humanos/fundamentais.
Sabemos, de antemão, que não vai nos ser fácil escolher um conceito que possa
convencer a todos, alías comungamos com a ideia de autores como CRISTINA QUEIROZ34 e
ISABEL CABRITA35 que admitem expressamente que definir os direitos fundamentais não se
apresenta como tarefa fácil.
VIEIRA DE ANDRADE, usando a perspectiva filosófica ou jusnaturalista chega a
definir os direitos fundamentais como “liberades, designadas (…) de ‘direitos, liberdades e
garantias’, possuem carácter individual, e constituem-se como ‘direitos de defesa’ (…)” e
defende que os direitos humanos foram primeiramente considerados, em primeira dimensão,
pelo direito natural, vistos, pois, como direitos de todas as pessoas humanas, em todos os

31
ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, Independência…, pp. 33 e ss.
32
CASTRO MENDES, Nótula sobre..., p. 655.
33
Para mais detalhes sobre a abordagem constitucional dos direitos fundamentais, Cfr. JORGE BACELAR
GOUVEIA, Direito…, pp. 295 a 362; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da
Constituição, 7ª Edição, 13ª Reimpressão, Almedina, Coimbra, 2003, pp. 337 a 535; ISABEL CABRITA,
Direitos Humanos: Um Conceito em Movimento, Almeida, Coimbra, 2011; JOSÉ MELO ALEXANDRINO, “A
natureza variável dos Direitos Humanos: uma perspectiva da dogmática jurídica” in Do Direito Natural aos
Direitos Humanos, (Org. ANTÓNIO PEDRO BARBAS HOMEM e CLÁUDIO BRANDÃO), Almeida,
Coimbra, 2015, pp. 107 a 132.
34
Cfr. CRISTINA QUEIROZ, Direitos Fundamentais. Teoria Geral, 2ª Edição, Coimbra Editora, 2010, p. 2.
35
Cfr. ISABEL CABRITA, Direitos Humanos: Um Conceito em Movimento, Almeida, Coimbra, 2011, p. 12.
7
tempos e em todos os lugares, sendo, portanto, absolutos, imutáveis, anespaciais e
atemporais36.
De acordo com ALCI MARCUS RIBEIRO BORGES, os direitos humanos são “um
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, buscam concretizar as
exigências da dignidade, da liberdade, da igualdade, da fraternidade e da solidariedade
humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente, em todos os níveis” 37.
J.J.GOMES CANOTILHO, distingue direitos do homem e direitos fundamentais. E
define os primeiros como sendo “direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos” e
os segundos como “direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados
espacio-temporalmente… [ou seja] os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica
concreta”38.
Para JORGE BACELAR GOUVEIA direitos fundamentais são “posições jurídicas
activas das pessoas integradas no Estado-Sociedade, exercidas por contraposição ao Estado-
Poder, positivadas na constituição”39. Ainda JORGE BACELAR GOUVEIA chega a concluir
que “olhando para a CRM, o único índice que podemos encontrar é o reconhecimento da
necessidade de um conceito material de direitos fundametais, pois que é através dele que
podemos operacionalizar a abertura do sistema constitucional de direitos fundmentais” 40.
Acreditamos nós que o referito conceito material abrage tanto os direitos civis e
políticos; económicos, sociais e culturais, conforme estabelecidos tanto na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, como nos Pactos Internacionais, bem ainda aqueles que
constam da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos41.
Como poderão ver, neste artigo não vamos seguir o prazer de distinguir as
terminologias direitos humanos das outras como direitos fundamentais, direitos do homem,
etc. Mas reconhecemos que rigorosamente falando, tratam-se de expressões distintas.
Felizmente a CRM contem várias disposições que garantem os direitos fundamentais,
desde do preâmbulo até as normas que estabelecem as grantias constitucionais.

36
Cfr. JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa,
Coimbra, Almedina, 1987. p. 11.
37
Cfr. ALCI MARCUS RIBEIRO BORGES, Direitos humanos: conceitos e preconceitos, disponível em
http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/alciborges/alci_dh_conceitos_preconceitos.pdf, acesso em 17 de
Agosto de 2016.
38
Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª Edição, 13ª Reimpressão,
Almedina, Coimbra, 2003, p. 393.
39
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 297.
40
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 309.
41
O Art. 43 da CRM estabelece que “Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundametais são
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana
dos Direitos do Homem e dos Povos”.
8
4. Relação entre o poder judicial e a protecção dos direitos fundamentais

JORGE BACELAR GOUVEIA nos alerta sobre as concequências da não


implementação de mecanismos de ordem prática destinados a defesa dos direitos humanos,
quando afimra:
Simplesmente, sem a implementação de mecanismos de ordem prática destinados à
defesa, nunca essa efectivação poderia passar do papel e penetrar na realidade
constitucional do quotidiano dos cidadãos que fossem turbados na totalidade o
exercício desses direitos.
É por isso que a proteção dos direitos fundamentais jamais se pode bastar com a sua
mera existência, por mais numeroso e rico que seja o seu elenco constitucional42.

Neste contexto, e segundo JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO “a relação entre os


tribunais e os direitos fundamentais está desde logo associada às origens dos direitos
fundamentais e à origem do Estado constitucional” 43, tendo como primeiro direito a ser
consagrado o habeas corpus44, na Inglaterra, no século XVII45. Portanto, o gozo deste e de
qualquer outro direito humano ou fundamental só pode ser objectivamente assegurado quando
houver órgão estadual com a função de garantir a aplicação imparcial das normas existentes
que consagram e protegem estes direitos46.
E em resposta desta inquietação, surgem os tribunais como órgãos constitucionais
especialmente confiados a função jurisdicional exercida por seus juízes47, cabendo apenas a
estes a tal tarefa clássica da defesa dos direitos e interesses dos cidadãos legalmente
protegidos48.
A primeira onda sobre o direito a defesa dos direitos humanos surge com as teorias
de direito ao processo equitativo baseado na constituição americana e designado por due
process of law49. Reconhece-se que as origens do due process of law são reconduzidas aos

42
JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 331.
43
JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, Os Tribunais e a Defesa dos Direitos Fundamentais: Reflexão em torno
da Experiência Cabo-Verdiana. Texto da conferência proferida no Colóquio universitário “18 Anos de Estado
Constitucional de Direito e Democrático”, organizado pelo Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais, na
Cidade da Praia, em 24 de Setembro de 2010. p. 3.
44
A garantia proporcionada pela decisão de um tribunal contra a prisão arbitrária, em defesa da liberdade física
da pessoa.
45
O dever de protecção dos direitos humanos surge em simultâneo com o reconhecimento do princípio da
separação de poderes e da independência do poder judicial.
46
NUNO PIÇARRA defende que “Os direitos fundamentais só têm real eficácia se houver um órgão do Estado
capaz de os sobrepor aos actos lesivos de outros órgãos). Cfr. NUNO PIÇARRA, A Separação de Poderes
como Doutrina e como Princípio Constitucional, Coimbra, 1989, p. 195.
47
J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional..., 7ª ed. p. 574.
48
Nº 1 do art. 212 da CRM.
49
J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almeida, Coimbra, 1998, p.
448.
9
esquemas garantísticos da Magna Carta, designadamente ao artigo 39 deste documento, que
dispõe:
Nenhum homem livre será detido ou sujeito a prisão, ou privado dos seus bens, ou
colocado fora da lei ou exilado, ou de qualquer modo molestado e nós não
procederemos ou mandaremos proceder contra ele, senão mediante um julgamento
regular pelos seus pares e de harmonia com a lei do país50.

J.J. GOMES CANOTILHO explica que o reconhecimento constitucional de um


direito de acesso aos tribunais é concebido com uma dupla dimensão: a) um direito de defesa
entre os tribunais e contra actos dos poderes públicos e; b) um direito de protecção do
particular através de tribunais do Estado no sentido de este o proteger perante a violação dos
seus direitos por terceiros (dever de protecção do Estado e direito do particular de exigir essa
protecção)51.
Desta feita, pode-se entender que os tribunais não estão apenas ao serviço da defesa
de direitos fundamentais, eles próprios, como órgãos do poder público, devem considerar-se
vinculados pelos direitos fundamentais 52. Assim, enfatiza-se a profunda ligação que existe
entre estes órgãos e o dever de protecção dos direitos fundamentais.

I. O sentido lógico-constitucional do princípio constitucional de acesso à justiça e


aos tribunais

Para sermos francos, neste ponto vamos nos orientar basicamente pela doutrina de
J.J. GOMES CANOTILHO dada a sua abordagem que subdivide o referido princípio em
vários sentidos. Para este autor, o princípio de acesso aos tribunais constitui a concretização
do princípio estruturante do Estado de Direito53, e, em termos sintéticos, significa,
fundamentalmente, direito à protecção jurídica através dos tribunais 54.
Assim, o direito de acesso aos tribunais toma as duas dimensões que são: a) de um
direito de defesa ante os tribunais e contra os actos dos poderes públicos, que de acordo com o
nosso ordenamento jurídico, pode ser garantido por via do Conselho Constitucional55 e dos

50
J. C. HOLT, Magna Charta, 2ª ed., Cambridge, 1992, p. 460.
51
Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional…, 1998, p. 451.
52
Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional…, 1998, p. 408.
53
Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional…, 1998, p. 447.
54
Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional…, 1998, p. 448.
55
Cfr. Art. 244 da CRM.
10
Tribunais Administrativos56 e; b) de um direito de protecção do particular através de tribunais
do Estado, ou seja, dos tribunais judiciais comuns 57.
Nesta perspectiva, J. J. GOMES CANOTILHO apresenta três concepções do termo
direito de acesso aos tribunais que são: a) o direito de acesso aos tribunais como direito de
acesso a uma protecção jurídica individual; b) como garantia institucional e; c) como direito a
uma protecção jurisdicional adequada 58.

II. O Sistema Judicial moçambicano e o direito de acesso aos tribunais

O Relatório da AfriMAP sobre o Sector de Justiça e o Estado Democrático em


Moçambique afirma:

O sistema de justiça em Moçambique tem sofrido grandes transformações desde a


independência nacional em 1975, decorrentes das revisões constitucionais que se
foram registando. A Constituição de 1975 consagra um Estado socialista
monopartidário, [...] sem separação de poderes. A Constituição de 1990 [...]
determina a existência de um sistema multipartidário, amplia o reconhecimento dos
direitos dos cidadãos, assim como a independência dos tribunais em relação ao
Executivo e ao controlo partidário. Ao longo do mesmo período foi adoptada nova e
importante legislação que levou a subsequentes alterações no sistema judicial. Em
2004, foi adoptada uma terceira Constituição pós-independência, que viria a
consagrar mais direitos individuais e reforçar a independência dos tribunais, embora
as reformas introduzidas não tenham sido tão amplas como alguns esperavam 59.

Contudo, entende-se que em Moçambique, a realização das garantias consagradas na


Constituição é atribuída a vários actores e instituições que fazem parte do sistema de
Administração da Justiça, nomeadamente, Tribunal Supremo e Tribunais Judiciais; Tribunal
Administrativo e tribunais administrativos “provinciais”; Conselho Constitucional;
Procuradoria-Geral da República; Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e
Religiosos; Ministério do Interior; Polícia da República de Moçambique; Provedor da Justiça
e Ordem dos Advogados de Moçambique.
Também há quem descreve cuidadosamente o sector judicial moçambicano como
sendo constituído, além das instituições acima referidas, pelo Conselho Superior da

56
Cfr. Art. 228, nº 2 e Art. 230, nº 1, alínea a), ambos da CRM.
57
Cfr. Art. 223, nº 4 da CRM conjugado com o art. 3, nº 1 da Lei nº 24/2007.
58
Para mais detalhes sobre as concepções Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional…, 1998, pp.
451-453.
59
AfriMAP, Moçambique: O Sector da Justiça e o Estado de Direito. Documento para debate. Johanesburgo.
2006, p. 3.
11
Magistratura Judicial (CSMJ) e pelo Conselho de Coordenação para a Legalidade e Justiça
(CCLJ) 60, e actualmente se integram também os Tribunais Superiores de Relação.
Dentre estas instituições merece particular realce explicativo as funções do Ministério
da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos no sistema judicial. Portanto, trata-se do
órgão central do aparelho de Estado responsável pela direcção, execução e coordenação da
área da constitucionalidade, legalidade, justiça, direitos humanos e assuntos religiosos 61.
Trata-se de um órgão executivo e que superintende os seguintes órgãos e serviços nacionais:
Registo e Notariado62; Penitenciárias (prisões)63; Assuntos Religiosos; Centro de Formação
Jurídica e Judiciária; Instituto Nacional de Patrocínio e Assistência Jurídica64.
E, dentre as diversas competências que a resolução o concede, ao Ministério de
Justiça, Assuntos Constitucionais e Religisos compete promover a correcta articulação
institucional entre o Governo, Tribunais, Conselho Constitucional e Procuradorias da
República65, criar e implementar mecanismos de articulação com as forças policiais por forma
a assegurar o respeito pelos direitos e liberdades fundamentais do cidadão 66.
Fica melhor evidenciar ainda que o Ministério de Justiça, Assuntos Constitucionais e
Religiosos tem largas competências na área de promoção de direitos humanos,
nomeadamente:
i) Promover a observância e o respeito pelos direitos humanos e o
exercício dos direitos e liberdades dos cidadãos individualmente
considerados, com o envolvimento da sociedade civil;
ii) Promover a divulgação dos direitos humanos e dos direitos e
deveres cívicos dos cidadãos;
iii) Promover as actividades necessárias à implementação dos vários
instrumentos legais em matéria dos direitos humanos;
iv) Zelar pela assinatura, ratificação, implementação e a observância
dos tratados internacionais em matéria dos direitos humanos;
v) Assegurar a permanente relação do Governo com a Comissão
Nacional dos Direitos Humanos, organizações da sociedade civil e
outros actores que intervêm no domínio da promoção e protecção
dos direitos humanos67.

60
MARCELO MOSSE, A Corrupção no Sector de Justiça em Moçambique. CIP, Maputo. 2006, p. 8.
61
Cfr. Art. 1 da Resolução nº 1/2015, de 24 de Junho, que aprova o Estatuto Orgânico do Ministério de Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos, in Boletim da República nº50, I Série de 24 de Junho de 2015.
62
Cfr. Art. 3, a línea g) da Resolução nº 1/2015.
63
Cfr. Art. 2, alínea f), da Resolução nº 1/2015. E quanto a esta função, MOSSE trata-a como teórica, ele
defende que o MJACR apenas superintende as prisões onde estão detidas as pessoas já condenadas por sentença
transitada em julgado.
64
Cfr. Art. 2, alínea i) conjugado com o Art. 3, alínea e) todos da Resolução nº 1/2015.
65
Cfr. Art. 3, alínea b)/iii) da Resolução nº 1/2015.
66
Cfr. Art. 3, alínea b) /ii) da Resolução nº 1/2015.
67
Cfr. Art. 3, alínea i) da Resolução nº 1/2015.
12
Mas recordar que o nosso estudo não propõe analisar especificamente a intervenção
do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos na defesa dos direitos
humanos, mas sim a dos tribunais.
A Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto estabelece que, a função judicial é exercida pelo
Tribunal Supremo, Tribunais Superiores de Recurso, Tribunais Judiciais de Província e
Tribunais Judiciais de Distrito. Também prevê a criação de tribunais judiciais de competência
especializada.
Mas a defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos se estende até aos Tribunais
Comunitários. Recordemos que devido a “procura que os tribunais judiciais não conseguem
satisfazer”68, alargou-se o âmbito de defesa e protecção dos direitos humanos até ao nível da
base, pela criação constitucional e legal dos Tribunais Comunitários, que sucederam aos
tribunais populares de localidade ou bairro, servindo como órgãos de conciliação de pequenos
conflitos, externos ao sistema judicial69.
Porém, apesar deste leue de instituições que poderiam facilitar a efectivação do
direito de acesso aos tribunais, o tema ainda continua a ser uma matéria que levanta
problemas sérios em Moçambique. Para tal o poder judicial enfrenta enormes desafios para a
defesa dos direitos humanos. Ora, no ponto a seguir, e por sinal o último, vamos aproveitar
demonstrar os referidos desafios, começando por apresentar as dificuldades que este poder
enfrenta.

5. Os desafios do poder judicial face a defesa dos direitos humanos em


Moçambique

Recordemos a tese de JORGE BACELAR GOUVEIA que já apresentamos acima:


“simplesmente, sem a implantação de mecanismos de ordem prática destinados à sua defesa,
nunca essa efectivação poderia passar do papel e penetrar na realidade costitucional do
quotidiano dos cidadãos que fossem turbados na titularidade e exercício desses direitos”70.
Achamos nós que não foi por simples impulso que o autor afirmou assim, mas sim,
que tem evidências concretas dos desafios que os tribunais enfrentam em Moçambiue.
Relativamente a esses desafios JOSUÉ BILA afirma:

68
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS e JOÃO CARLOS TRINDADE (organizadores), Conflito e
Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique. Vol. I, Edições Afrontamento, Porto.
2003, p. 309.
69
Cfr. Art. 223 ,nº2 da CRM, a Lei nº 4/92, de 6 de Maio (Lei Orgânica dos Tribunais Comunitários) e o Art.5
da LOJ.
70
JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito…, p. 331.
13
Maior parte dos moçambicanos dificilmente encaminha casos ao tribunal – e
rarammente se lembra de sua existência – quando órgãos estatais, sectores
empresariais privados, organizações não governamentais e pessoas singulares
violam os seus direitos humnos […] Esse comportamento dos moçambicanos é uma
provável resposta às manzelas judiciais, fraquíssimo conhecimento de direitos e ao
sentimento de frustração social, decorrentes, em parte, de negligência política e de
expectativas sociais nunca – ou quase nunca – satisfeitas71.

Acrescentando, JOSUÉ BILA aponta os salários baixos, a corrupção, os atrasos na


deliberação de casos e as omissões nos tratamentos de casos de violaçao de direitos
humanos72 como outros factores que desafiam os tribunais.
Ainda, o caso se for visto num espaço de tempo pouco recuado, principalmente antes
de 2007, verifica-se que as hipóteses relacionadas à questão das dificuldades que os tribunais
enfrentavam para a efectivação dos direitos humanos eram várias. Por exemplo o Relatório da
AfriMAP também apresenta vários aspectos que dificultam os tribunais na defesa dos direitos
humanos como é o caso da desconformidade entre a então Lei Orgânica dos Tribunais
Judiciais de 1992 com a nova realidade moçambicana; da falta de tribunais judiciais
intermediários entre os tribunais provinciais e o Tribunal Supremo de modo a contribuir de
forma significativa para reduzir o enorme volume de processo com que o Tribunal Supremo
se debate; a falta de representações do Tribunal Administrativo a nível regional ou provincial
que permitiria o recurso contra as decisões do Executivo a nível provincial; e acrescenta-se
ainda a falta da materialização da iniciativa constitucional de criação formal dos Tribunais do
Trabalho; a ausência da menção aos tribunais comunitários na LOTJ de 1992 e a falta de
apoio material e financeiro a estes órgãos73.
Todavia, estas são algumas das dificuldades que ameaçavam a melhor defesa dos
direitos humanos pelos tribunais durante o momento que o referido documento foi elaborado.
Mas a maioria destes problemas foram superados. Por exemplo, a LOTJ de 1992 foi revogada
pela Lei nº 24/2007, que já fizemos menção tantas vezes neste artigo; a nova LOTJ traz como
inovação a criação da figura dos Tribunais Superiores de Recurso de Maputo, Beira e
Nampula74; também a figura de tribunais administrativos provinciais referenciada pela LOJA
já se transformou em realidade material; enquadrou expressamente os Tribunais
Comunitários75 e atribui aos tribunais judiciais de distrito de 1ª e 2ª classe, em segunda

71
JOSUÉ BILA, Direitos Humanos em África. Questões moçambicanas, Livre Explessão editor, Rio de Janeiro,
2013, p. 31.
72
JOSUÉ BILA, Direitos Humanos …, p. 32.
73
Cfr. AfriMAP, Moçambique…, p. 3.
74
Cfr. Arts. 58 e segs e Art. 114, todos da nova LOTJ
75
Cfr. Art. 5 da LOTJ.
14
instância, a competência de “julgar os recursos interpostos das decisões proferidas pelos
tribunais comunitários”76.
Mesmo assim, alguns dos assuntos focalizados pela AfriMAP ainda constituem
desafios para os tribunais. A seguir passamos a falar sobre os desafios que o sector judicial
atravessa para a defesa dos direitos humanos. Os mesmos serão abordados e integrados nas
diversas especies de independência dos tribunais que apresentamos acima inspirando-nos em
ANTÓNIO JOSÉ VENTURA, especificamente, a) independência nas questões financeiras; b)
independência na tomada de decisões e o processo de designação dos juíses; e d) fraca
exigibilidade judicial de certos direitos humanos.

I. Independência financeira dos tribunais

Já vimos que o ponto mais almejado da independência dos tribunais seria a


possibilidade deles prepararem e discutirem seus orçamentos. Mas, bem se sabe que é um dos
pontos não previstos na Constitição moçambicana, daí que tem havido vozes que advogam o
seu enquadramento na futura revisão constitucional.
Por exemplo, o malogrado constitucionalista GILLES CISTAC defendeu, na
entrevista que concedu ao Jornal Savana em 2011, que “a vulnerabilidade do poder Judicial é
em parte culpa da própria Constituição que apesar de, o proclamar como um órgão
independente, não cria condições para o seu funcionamento sem depender do poder Executivo
em termos financeiros e materiais”77.
Na mesma entrevisa, GILLES SISTAC apresentou a sua tese, segundo a qual, o
judiciário só poderá se livrar da dependência total ao executivo, quando se abra espaço para
este órgão defender o seu próprio orçamento no parlamento 78.
Também recordar que ANTÓNIO JOSÉ VENTURA defende que uma das
consequências da falta da independência financeira dos tribunais desemboca na falta de

76
Cfr. Art. 86, nº 1, alínea a) da LOTJ.
77
RAUL SOUSA, Separação de poderes continuará uma miragem em Moçambique. Entrevista GILLES
CISTAC 2011, disponível em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/09/separa%C3%A7%C3%A3o-de-poderes-
continuar%C3%A1-uma-miragem-em-mo%C3%A7ambique.html, acesso aos 17 de Agosto de 2016.
78
O INSTITUTO DE APOIO À GOVERNAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (GDI) propôs como ponto para a
revisão da CRM, a integração da seguinte competência do Conselho Superior da Magistratura Judicial “elaborar
a proposta orçamental da magistratura judicial dentro dos parâmetros previstos na Constituição. O
encaminhamento da proposta compete ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça”. Cfr. COMISSÃO AD-
HOC PARA A REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO, Acta de Adopção do Ante-Projecto de Revisão da
Constituição da República, Maputo, 2012, disponível em http://www.oam.org.mz/wp-
content/uploads/ANTEPROJECTO-DE-REVISAO-REVISTO-VERSAO-A-IMPRIMIR.pdf, acesso em 17 de
Agosto de 2016.
15
capacidade de desempenhar as suas funções de forma eficaz e livre das pressões externas
(políticas, militares e económicas) e na corrupção.
Sobre a corrupção no sector judiciário em Moçambique, MARCELO MOSSE
afirma:
Em Moçambique, o sistema dos tribunais e do Ministério Público é não só
amplamente criticado por ser corrupto e, em particular, susceptível a pressões e
influências, mas também por não ser capaz de reagir eficazmente contra a
corrupção. Nesta última vertente, o Tribunal Administrativo tem detectado falhas
graves nas Finanças Públicas do Estado, apontando ilegalidades e irregularidades, as
quais no entanto não são seguidas de acções criminais79.

E o relatório da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, apresentado pela


Federação Internacional das Ligas de Direitos Humanos (FILDH) afirma: “O clientelismo,
resultado de 30 anos de poder exercido pela mesma força política, é omnipresente a todos os
níveis da administração”80.
Por seu turno o Relatório Final da USAID (United States Agency for Internacional
Development) de 2005 afirma que:
O sector judicial foi identificado pelos inquiridos no inquérito sobre a corrupção de
2005, assim como por muitas pessoas entrevistas pela equipa, como um dos sectores
mais problemáticos em Moçambique. Com efeito, os tribunais em Moçambique são
vistos não apenas como um local propício à corrupção, mas também como um nó de
estrangulamento significativo para os esforços com vista a punir o comportamento
corrupto81.

Este relatório especifica casos em que se verifica a grande corrupção neste sector
como, “a compra e venda de veredictos, no controlo político sobre os resultados do sector
judicial, ‘perda’ de provas ou processo, conforme o que se instituiu ou pegou para ser feito,
intimidação das testemunhas e libertação de suspeitos chave” 82.
MOSSE apresenta, por sua vez, como oportunidades para a corrupção no sector de
justiça em Moçambique: a morosidade processual, leis processuais antigas 83 e sua aplicação
desarmoniosa, remuneração inadequada de procuradores e oficiais de justiça, falta de recursos
humanos, inapropriada selecção de candidatos para profissões judiciais e deficiente educação
e treino84.

79
MARCELO MOSSE, A Corrupção…, p. 10.
80
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DAS LIGAS DE DIREITOS HUMANOS, Relatório: Programa de
Cooperação Judiciária, Moçambique Legislativas e presidenciais em 2004 :um desafio democrático, 2004, p. 7.
81
BERTRAM I. SPECTOR, at. All. Avaliação da Corrupção: Moçambique. Relatório Final. USAID,
Washington. 2005, p. 15.
82
BERTRAM I. SPECTOR, at. All. Avaliação da Corrupção…, pp.. 15 e 16.
83
Embora, as leis de processo civil já tenham sofrido grandes transformações nos últimos anos. Referimos das
alterações do Código de Processo Civil introduzidas pelo Decreto-Lei nº 1/2009, de 24 de Abril e publicada no
Boletim da República nº 16, I Série, de 2ª de Abril de 2009, 3º Suplemento.
84
MARCELO MOSSE, A Corrupção…, p. 13.
16
Ideia idêntica é apresentada no Relatório Final da USAID quando se afirma que,
A corrupção em Moçambique é amplamente sintomática da falta de controlo e
fiscalização dos três braços do governo, da transparência e acesso limitados à
informação, da responsabilidade mínima dos funcionários eleitos e de uma cultura
de impunidade em que a corrupção persiste porque é vista como sendo uma
actividade de baixo risco e de grande recompensa85.

Parecer factos antigos, mas alguns destes ainda acontecem até hoje, embora haja um
esforço significativo do Estado e do Sistema Judicial de condenar veemente a corrupção.
Exemplos deste esforço são apresetados pelo Relatório de 2014 do
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS, sobre direitos humanos em
Moçambique, na media que afirma:
Em 2013 o GCCC86 registou 876 casos de corrupção, incluindo roubos de recursos
públicos, sendo que 296 resultaram em multas e 138 em julgamentos. Em Agosto
um tribunal na Beira condenou três funcionários públicos a penas de 12 a 17 anos de
prisão pelo roubo de 1,5 milhões de meticais (US$ 48.100). O GCCC divulgou que
o grupo forjou documentos para criar pagamentos de pensões do Estado emitidos a
trabalhadores inexistentes87.

O mesmo Departamento firma, no seu relatório de 2015 que,


Em Outubro, [da 2015] o Tribunal da Cidade de Maputo condenou oito quadros do
Ministério da Educação por roubar 33 milhões meticais (US$ 1,1 milhão) do
ministério. De acordo com os meios de comunicação locais, os condenados
falsificaram documentos de folha de pagamentos para amealhar o montante entre
2008 e 201188.

Vistos os factos acima, pode-se assumir, na realidade, que a falta da independência


financeira dos tribunais contribui, de certa maneira, para a fraca protecção judicial dos direitos
humanos em Moçambique, e incrementa o índice de corrupção, tanto no sector em alusão
como em todas outras instituições que lidam com a justiça.
Conseuqentemente, esta prática quebra, basicamente, o princípio constitucional da
imparcialidade dos juízes89, na medida em que as suas decisões são vertidas a favor de quem
os tenha correspondido corruptamente, em detrimento da justiça que os cidadãos
desfavorecidos ou não corruptos merecem.

85
BERTRAM I. SPECTOR, at. All. Avaliação da Corrupção…, p.2.
86
Gabinete Central de Combate à Corrupção.
87
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS, Relatório dos Direitos Humanos em
Moçambique em 2014, p. 20 disponível em
http://photos.state.gov/libraries/mozambique/328666/portuguese_pdf/2014_human_rights_mozambique_pt.pdf,
acesso aos 20 de Junho de 2016.
88
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS, Relatório dos Direitos Humanos em
Moçambique em 2015, p. 14 disponível em
http://photos.state.gov/libraries/mozambique/19452/pdfs/MOZAMBIQUE-HRR-2015-POR-FINAL.pdf acesso
aos 20 de Junho de 2016.
89
Cfr. Art. 217, nº2 da CRM
17
E, por fim, constata-se que os problemas relativos à independência perante o
Executivo também ocorrem aos níveis mais baixos do sistema judicial. Devido à falta de
fundos e de infra-estruturas físicas, associados à fraca escolaridade, os juízes dos tribunais
distritais passam a ser mais vulneráveis a influência externas 90.

I. Independência na tomada de decisões e o processo de designação dos juízes

A Constituição moçambicana estabelece formalmente tribunais como órgãos de


soberania 91 independentes92, como vimos acima, mas materialmete dependente ao Presidente
da República, e ao Governo, na medida em que os seus Magistrados Superiores são nomeados
e podem ser exonerados pelo Presidente da República, na qualidade de Chefe do Estado 93 e o
seu orçamento é preparado e aprovado pelo Governo94, apesar da sua autonomia
administrativa95, e da prerrogativa que têm de propor o seu orçamento anual que é apreciado
pelo respectivo Conselho Judicial96.
Notar também que é da competência do Governo “promover a criação e extinção de
carreiras, categorias e funções nas magistraturas judicial, judicial administrativa, do Conselho
Constitucional e do Ministério Público”97.
De acordo com JORGE BACELAR GOUVEIA, “a separação de poderes no século
XX esteia-se, portanto, recordando a velha contraposição gobernaculum-iusrisdictio,
sobretudo entre a função decisória, de um lado, e a função de cotrolo, do outro lado, esta
ainda assumindo uma faceta de controlo da própria constitucionalidade” 98.
Assim, tudo indica que os tribunais, como órgãos de soberania, relacionam-se com os
restantes órgãos do mesmo género, observando o princípio de separacçao e interdependência
de poderes, plasmado no art. 134 da CRM, e devem apenas obediência a Constituição e às
leis99. Por isso, os tribunais exerce, basicamente, a função jurisdicional que se destina a
aplicação do Direito previamente definido, a partir de órgãos dotados de independência e de

90
Cfr. AfriMAP, Moçambique…, p. 13.
91
Cfr. Art. 133 da CRM.
92
Cfr. Art. 217 da CRM.
93
Cfr. Art. 159, alínea g) da CRM, e Art. 53, nº1 da LOJ.
94
Cfr. Art. 204, nº 1, alínea e) da CRM
95
Cfr. Art. 4 da LOJ.
96
Cfr. Art.96, alínea g) da LOJ.
97
Cfr. Art. 3, alínea b)/viii, , da Resolução nº 1/2015.
98
JORGE BACELAR GOUVEIA., Direito…, p. 217.
99
Cfr. Art. 134, in fine, da CRM.
18
imparcialidade, resolvendo litígios que são levados a sua decisão100, quer ela seja decisão
final ou despacho interlocutório, ou ainda sentença ou acórdão judicial101.
Aliás, é isso o que preve a CRM quando dispõe no seu art. 212, nº 3 que: “os
tribunais penalizam as violações da legalidade e decidem pleitos de acordo com o
estabelecido na lei”.
Então, percebe-se logo que, no exercício da sua função de assegurar os direitos e
liberdade dos cidadãos102, devem tomar decisões próprias, imparciais e de acordo com o
estabelecido na lei. Proibe-se aqui decisões recomendadas e nem se quer orquestradas por
interesses políticos e/ou sócio-económicos adversos da lei.
Acrescenta-se ainda, a estes principípios constitucionais, o princípio da
vinculabilidde das decisões acima referidas, pois elas são de cumprimento obrigatório para
todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas…103.
Todavia, todos os princípios aqui apresentados são formalmente bons, mas o
judiciário moçambicano não os goza materialmente na sua plenitude, uma vez que existe
muita interferência politica no momento de tomada das suas decisões. A referida interferência
é ainda alcerçada pelo actual modelo de designação dos magistrados tanto judiciais como do
Ministério Público.
Vários são os casos que ilustram esta influência, mas aqui vamos apresentar aguns
exemplos sobejamente conhecidos.
Casos mais evidentes que ilustram a ineficiência do sistema judiciário devido a
interferência do poder político sobre a magistratura do Ministério Público podem ser
ilustrados com os assassinatos diversos, nomeadamente, o assassinato de Carlos Cardoso104 e
António Siba-Siba Macuacua105, em Novembro de 2000 e Agosto de 2001, respectivamente,
melhor retratados no relatório da AfriMAP 106; prisões arbitrárias a membros de partidos
políticos de oposição, como são os casos do ex-comandante de guerrilha da RENAMO,

100
JORGE BACELAR GOUVEIA, Manual…, II, p. 1231.
101
Estes conceitos foram bem definidos por JORGE BACELAR GOUVEIA., Direito…, p. 393.
102
Art. 3, nº 1 da Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto.
103
Art. 215, primeira parte, da CRM.
104
Jornalista moçambicano branco assassinado apos se envolver numa investigação serrada sobre a história de
corrupção, incluindo os negócios dos membros da família do Presidente Chissano. A última história agarrada por
Cardoso foi a gigantesca fraude bancáriaque acompanhou a privatização do maior banco de Moçambique, o
Banco Comercial deMoçambique (BCM), em 1996.
105
Era o chefe da supervisão bancária no Banco de Moçambique, nomeado para investigar o colapso do
privatizado Banco Austral em Abril de 2001. Siba-Siba Macuácua tentou investigar o verdadeiro estado das
finanças do Banco Austral e recuperar as dívidas. Também cancelou contratos assinados pela direcção anterior,
incluindo com Nyimpine Chissano, que tinha sido contratado como consultor com um salário mensal de USD
3.000, apesar da sua falta deexperiência bancária. Cfr. AfriMAP, Moçambique…,p. 68.
106
Cfr. AfriMAP, Moçambique…, pp. 67 e 68
19
General Jerónimo Malagueta107 em 2013, de António Muchanga, porta-voz da RENAMO, em
2014108, ambos, sob a acusação de “incitamento à violência”; o assassinato do juiz Diniz
Silica, em 2014, que investigava as questões de raptos em Maputo; as mortes crueis de Gilles
Cistac, em Março de 2015109, do jornalista Paulo Machava, em Agosto de 2015 e do
procurador Marcelino Vilanculos, em 2016, e de vários casos de raptos e assasinos de
cidadãos por motivos políticos ou de crime organizado.
Quase todos estes casos não conheceram um desfecho por via judicial, e sem
acusações formuladas, exceptuando o caso Carlos Cardoso em que o judiciário tentou
demostrar certa seriedade, embora contando sempre com a pressão dos financiadores direitos
do Orçamento do Estado, pois todos os criminosos foram julgados e presos.
Relativamente ao assasinado de Siba-Siba Macuacua, que é o outro assassinato
mais antigo, pois já passam 15 anos do crime mas sem esclarecimento110. Sobre o caso, o
jornal O País escreveu, em 2010: “O então director da PIC, na cidade de Maputo, o agora
proeminente jurista António Frangoules, disse, uma vez, na STV, que o ministro do Interior à
época, Almerino Manhenje, impediu-o de prosseguir as investigações” 111.
Finalmente, notar que todas as atrocidades acimas relatadas têm a ver com a
violação de direitos maiores: o direito a vida e a liberdade. Casos de violação de direitos
económicos, sociais e culturais, como são os casos do direito a educação, a assistência
médica e medicamentosa, a habitacão, ao trabalho, e tantos outros, nunca chegam ao
tribunal de vez, ou se chegarem, os seus autores são ridicularizados.

107
Cfr. DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS, Relatório dos Direitos Humanos em
Moçambique em 2013, p. 10 disponível em
http://photos.state.gov/libraries/mozambique/19452/pdfs/mozambiquehrrfinal.pdf, acesso aos 20 de Junho de
2016.
108
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS, Relatório dos Direitos Humanos em
Moçambique em 2014, p. 9 disponível em
http://photos.state.gov/libraries/mozambique/328666/portuguese_pdf/2014_human_rights_mozambique_pt.pdf,
acesso aos 20 de Junho de 2016.
109
Para os detalhes do assassinato de Cistac Cfr. DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS,
Relatório dos Direitos Humanos em Moçambique em 2015, p. 2 disponível em
http://photos.state.gov/libraries/mozambique/19452/pdfs/MOZAMBIQUE-HRR-2015-POR-FINAL.pdf acesso
aos 20 de Junho de 2016.
110
Sobre o assassinato, o Jornal O PAÍS escreveu: “o Ministério Público acusou alguns indivíduos em 2009 e
mandou detê-los como co-autores materiais. São eles Benigno Parente Júnior (administrador do Banco Austral
à época); Carlos Vasco Sitoe; José Passaje, estes últimos dois agentes de segurança. Um ano depois, o Tribunal
da Cidade de Maputo rejeitou as acusações e ordenou a soltura dos três arguidos. O Ministério Público (MP)
recorreu ao Tribunal Supremo (TS), no dia 23 de Setembro de 2009, na esperança de ainda obter razão e vir a
pronunciar os acusados”. O PAÍS, Siba-Siba morreu há 9 anos, 18 de Agosto de 2010, disponível em
http://opais.sapo.mz/index.php/sociedade/45-sociedade/8553-siba-siba-morreu-ha-9-anos.html, acesso aos 17 de
Agosto de 2016.
111
O PAÍS, Siba-Siba morreu há 9 anos, 18 de Agosto de 2010, disponível em
http://opais.sapo.mz/index.php/sociedade/45-sociedade/8553-siba-siba-morreu-ha-9-anos.html, acesso aos 17 de
Agosto de 2016.
20
Reconhece-se também que os direitos económicos, sociais e culturais são
considerados de direitos cuja exigibilidade é muito fragilizada, como veremos nos
parágrafos a seguir.

II. A fraca exigibilidade judicial de certos direitos humanos

JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO afirma que “o verdadeiro valor (jurídico e


social) dos direitos fundamentais traduz-se numa palavra: efectividade (ou seja, realização e
protecção efectiva dos bens e interesses básicos da pessoa humana)”112. Ele defende que “se
esta efectividade, de facto, em primeira linha, tem de estar articulada com um conjunto de
pressupostos reais (os chamados pressupostos dos direitos humanos), ela depende em larga
medida da existência, do prestígio social efectivo e do bom funcionamento de um sistema
jurisdicional capaz de fazer garantir aquele valor.
Portanto, um dos factores que contribui para a deficiente efectivação dos direitos
humanos via judicial tem a ver com os problemas económicos. Assim o relatório da AfriMAP
defende:
Como em outros países subdesenvolvidos, constitui um desafio para Moçambique
garantir a todos os cidadãos a protecção dos seus direitos consagrados na
Constituição. Para a maioria dos moçambicanos, os tribunais judiciais são
inacessíveis, bloqueados por uma série de impedimentos, nomeadamente: custas
judiciais demasiado elevadas relativamente aos seus rendimentos, localização a
grandes distâncias e redes de transporte deficientes. Mesmo com isenção de
pagamento de custas judiciais e assistência jurídica gratuita, as despesas de
transporte para os tribunais e de alojamento fora de casa podem tornar-se obstáculos
enormes e insuperáveis113.

Aliado aos problemas económicos que são elucidados nesta citação, encontram-se
outros que têm a ver com a fraca exigibilidade dos direitos humanos, basicamente os direitos
económicos, sociais e culturais.
O problema que pretendemos elucidar aqui é de falta de aplicabilidade directa das
normas sobre os direitos, liberdades e garantias plasmadas na Constituição. Quanto ao
conceito de aplicabilidade directa, JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO ensina-nos que
significa que “as normas de direitos, liberdades e garantias vinculam juridicamente o Estado
(tanto o legislador e o juiz como o poder executivo), podendo ser invocadas directamente
pelos cidadãos contra o Estado114.

112
JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, Os tribunais…, p. 5.
113
Cfr. AfriMAP, Moçambique…, P. 19.
114
Cfr. JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, Os tribunais…, p. 7.
21
Para melhor percepção vejamos o exemplo deste autor:

...se houver uma lei reguladora de um determinado direito, liberdade e garantia


(como a lei de imprensa, a lei eleitoral, a lei do contencioso administrativo ou
qualquer outra) e se a lei ofender o(s) correspondente (s) direito(s), da aplicabilidade
directa decorre aquilo que podemos designar como um triplo efeito:
(i) Essa lei não pode ser aplicada pelo juiz e pelo tribunal na parte em que
ofenda o direito, liberdade e garantia;
(ii) Abre-se a possibilidade de anulação da própria lei pelo Tribunal
Constitucional;
(iii) Todos os poderes do Estado, mas muito em particular os tribunais, têm
o dever de aplicar essa lei em conformidade com os direitos, liberdades
e garantias (ou seja, devem afastar as interpretações da lei que se
mostrem contrárias à Constituição, escolhendo aquela interpretação
que não ponha em causa a norma constitucional)115.

Contudo, nestas situações os tribunais têm o poder/dever de aplicarem as normas de


direitos, liberdades e garantias directamente, dispondo para o efeito de uma autorização para
concretizarem o direito por via interpretativa. Lembre-se que o juiz é uma entidade adequada
não só para determinar o sentido de conceitos indeterminados, mas também, mesmo sem lei,
para decidir e resolver os conflitos entre direitos, liberdades e garantias ou entre direitos e
outros interesses que lhe sejam trazidos 116.
No entanto, discussão surge quanto aos direitos económicas, sociais e culturais.
Sobre o assunto, MARIANNE MARTINS defende:

“Diante de casos concretos de violação pelo poder público aos Direitos Humanos de
2ª Dimensão, admitir que o Juiz atue como legislador positivo se estará exatamente
cumprindo o que se desejava na Idade Média com o princípio da Separação de
Poderes, ou seja, proteger o cidadão contra o próprio Estado” 117.

Todavia reconhece-se que há direitos humanos a que o juiz sozinho não pode
conceder plena efectivação, na medida em que são direitos necessariamente carecidos de
regulação, de organização, de procedimentos e de mecanismos institucionais – os direitos
económicos, sociais e culturais.
Pior ainda àqueles Estados como Moçambique que ainda não ratificaram o
Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC), os mecanismos
de defesa judicial destes direitos são tão fragilizados, baseados em princípios meramente
programáticos.

115
Cfr. JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, Os tribunais…,pp. 7 e 8.
116
Cfr. JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, Os tribunais…, p. 9.
117
Cfr.MARIENNE RIOS MARTINS, Os limites de atuação do poder judiciário como legislador positivo para
efectivar direitos humanos de 2ª dimensão. P. 5.
22
O PIDESC trata-se de um Tratado Internacional constituindo por isso, uma obrigação
legal para os Estados-parte aos Direitos Humanos da igualdade social e amplia
substancialmente o elenco dos direitos contidos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, projectando a pessoa como ser social.
Ao ratificar o Pacto os Estados assumem o compromisso formal de assegurar
progressivamente “até o máximo dos seus recursos disponíveis, com esforços próprios ou com
recurso à cooperação internacional o pleno exercício dos direitos neles reconhecidos, sem
distinção118”.
Daí que a não ratificação do Pacto pelo Estado moçambicano levanta problemas
sérios, partindo da incoerência dos seus próprios ideais, uma vez que, apesar da não
ratificação, inclui as disposições do Pacto em vários seus documentos de protecção dos
direitos humanos, começando pela própria CRM, até ao estremecimento que se revela pela
fraquíssima clareza de comprometimento nacional e internacional do Estado moçambicano
perante os direitos económicos, sociais e culturais.
Todavia, não ratificando, o Estado foge dos seus deveres contidos neste instrumento
internacional. Lembre se que a redacção dos dispositivos do PIDESC é normativa e contém
orientações sobre a forma de implementação dos direitos nele inscritos. Uma das suas
orientações tem a ver com a obrigação que os Estados-parte têm de levar a cabo acções
tendentes a respeitar, proteger e realizar os direitos inscritos no Pacto. Assim, o Estado
assume uma obrigação positiva de, progressivamente, pôr em prática programas para garantir
o bem-estar do seu povo. Por outro lado, assume a obrigação negativa de não regredir no que
diz respeito aos passos já dados que devem constituir a base para os esforços seguintes 119.
Também impõe-se que os Estados ajam com a diligência devida para a correcta
implementação dos direitos prescritos no Pacto, mobilizando ao máximo todos os recursos
económicos e técnicos disponíveis incluindo os que estejam acessíveis por via de cooperação
internacional para o efeito necessário.
O Pacto compromete ainda os Estados-parte a garantirem os direitos reconhecidos
nele, por via da justicialização, ou seja, por via de instância judiciárias, ou outras, desde que
tenham competência de dirimir conflitos ou intervir nos assuntos relacionados à matéria dos
direitos humanos.

118
Art. 2º do PIDESC, Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Textos Fundamentais de Direito Internacional
Público, 2ª Ed., Revista e Acttualizada, Almedina, Coimbra, 2014, p. 20.
119
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Textos Fundamentais, p. 20.
23
Não obsatnte, recordar que compete ao Governo, através do Ministério de Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos, “zelar pela assinatura, ratificação, implementação e a
observância dos tratados internacionais em matéria dos direitos humanos”120.

Conclusões

Durante o desenrolar do texto que acabamos de apresentar, verificamos que a relação


entre os tribunais e os direitos fundamentais está desde logo associada às origens dos direitos
fundamentais e à origem do Estado constitucional, e que o gozo de qualquer direito humano
só pode ser objectivamente assegurando quando houver órgão estadual com a função de
garantir a aplicação imparcial das normas existentes que consagram e protegem estes direitos.
Os referidos órgãos são os tribunais que são constitucionalmente confiados a função
jurisdicional exercida por seus juízes, cabendo apenas a estes a tal tarefa clássica da defesa
dos direitos e interesses dos cidadãos legalmente protegidos.
Em Moçambique existe um leque de instituições envolvidos no processo de
protecção dos direitos humanos, desde os tribunais de divérsos níveis e natureza, à
magistratura do Ministério Público, incluíndo a Ordem dos Advogados e o IPAJ, não se
esquecendo do Ministerério de Justiça, Assuntos Constitucinais e Religiosos, que
superintende a área da justiça.
Falando concretamente do poder judicial apuramos que ele enfrenta grandes desafios,
dos quais destacamos três fundamentais: a dependência financeira ao Governo, interferência
política na tomada de decisões e o processo de designação dos juízes e a fraca exigibilidade
judicial de certos direitos humanos, incluindo o problema da não ractificação do PIDESC.
Contudo chegou-se a conclusão de que estes desafios impossibilitam, sobremaneira,
a defesa dos direitos humanos e enfraquecem a confiança dos cidadãos face aos órgãos
judiciais, pois em Moçambique o poder judicial goza apenas de uma independência formal e a
própria constituição contribui negativamente na medida em que aloca os assuntos mais
importantes da sua gestão ao Governo.
Também a intervenção política na tomada das suas decisões é frequente, facto que se
degrada cada vez mais devido as competências excessivas do Chefe do Estado de nomear os
dirigentes superiores da Magistratura Judicial e do Ministério Público.

120
Cfr. Art. 3, alínea i)/iv, da Resolução nº 1/2015.
24
Neste contexto, somos de opinião que haja reformas radicais da Constituição,
retirando certas competências do Chefe de Estado e do Governo, principalmente, aquelas que
põem em causa o funcionamento do poder judicial, e conferindo competêcias ao Conselho
Superior da Magistratura Judicial para preprar, aprovar e defender seus orçamentos anuais
junto à Assembleia da Reública.
Também reitermos aos apelos já feitos por vários autores moçambicanos defensores
dos direitos humanos de ver o PIDESC ractificado pelo Estado moçambicano.

Biobliografia

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27
II. Legislação

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de 22 de Dezembro de 2004.
Lei nº 4/92, de 6 de Maio, aprova a Lei Orgânica dos Tribunais Comunitários.
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de 24 de Junho de 2015.

28

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